<-noticia-> <-sub->Das 9 ilhas acolhedoras e belas <-titulo->ou a geografia afectiva de Teresa Tomé <-autor->Por Victor Rui Dores <-FOTO_NAME-> <-FOTO_LEGENDA-> <-FOTO_AUTOR-> <-lead->Numa co-produção Castelo Centro Cultural e RTP/AÇORES, e apresentando-se em cuidada edição bilingue (português/inglês), Açores – 9 ilhas – uma viagem íntima, de Teresa Tomé, é mais do que um filme – é uma declaração de amor às 9 ilhas dos Açores, com as quais a autora mantém uma relação fascinada e à volta das quais empreende uma “viagem íntima” – não só para ver paisagens, mas, sobretudo, para sentir atmosferas. <-corpo->Teresa Tomé não capta apenas o encanto, a beleza, a sedução, a harmonia e o fascínio dos Açores; opta por agarrar – e bem – o lado mítico, simbólico e lendário destas ilhas. E, numa linguagem quase diarística, com marcas de grande afectividade, fala-nos, na 1ª pessoa (recorrendo à excelente locução de Cristina Alves) das suas memórias, vivências e experiências ilhoas, através de uma escrita iluminada, fascinante, com apreciável frescura narrativa e boa ressonância musical. Esta “viagem íntima” (com a duração de 56 minutos) deve aqui ser entendida como revelação e como forma de procura e de (re)descoberta, numa atitude de quem parte em busca de ilhas e suas gentes. E nesta procura de “gente à parte”, Teresa Tomé está atenta à sabedoria do povo açoriano – um povo historicamente definido, dotado de um imaginário, possuidor de uma cultura e de uma identidade próprias. A propósito, chamo a atenção para o tocante depoimento da micaelense Francisca Correia, que fala com a água e que, quando chora, mistura as suas lágrimas com a água – porque tem na água a sua maior companhia… Por conseguinte, esta “viagem íntima” é a fixação de quanto a observação pessoal de Teresa Tomé soube detectar no contacto directo com gentes e terras açorianas. Mas é também o modo como a autora invoca e convoca sensações e sentimentos que ficaram enraizados na sua memória, tendo, em fundo musical, telúricas melodias de Luís Alberto Bettencourt e Luís H. Bettencourt. Não há literatura sem geografia. “Para nós, açorianos, a Geografia vale outro tanto como a História”, escreveu Vitorino Nemésio, autor paradigma da açorianidade literária. Açores – 9 ilhas – uma viagem íntima capta, de forma impressionista e contemplativa, esse “espírito do lugar” e, articulando passado com presente, ancestralidade com modernidade, sonda a alma açoriana, com alusões de natureza geográfica, factual, histórica, social, patrimonial, literária, cultural, científica e antropológica. Aliás, coloquei este DVD na minha estante destinada à literatura de viagens que tem os Açores como referente. E isto porque entendo que Teresa Tomé nos dá a ver em imagens o que muitos viajantes nos deram a ler em palavras. Alguns exemplos de célebres viajantes que “sentiram” estas ilhas: o médico norte-americano John Webster (1820); o oficial inglês captain Boid (1832); os irmãos ingleses Joseph e Henry Bullar (1838, nesse livro espantoso que dá pelo título de Um Inverno nos Açores e um Verão no Vale das Furnas); o zoólogo francês Henri Drouet (1857); o naturalista Alberto I, Príncipe de Mónaco (1879); o oficial sueco Jean Gustave Hebbe (1880); a jornalista norte-americana Alice Baker (1882); e, do século XX, temos obras incontornáveis como As Ilhas Desconhecidas (1926), de Raul Brandão; Terras de Maravilha (1927), de Oldemiro César; Primavera nas Ilhas (1935), de Hugo Rocha; Corsário das Ilhas (1956), de Vitorino Nemésio; Mulher de Porto Pim (1983), de António Tabucchi; Açores – o segredo das Ilhas (2000), de João de Melo. Creio bem que não podia o DVD de Teresa Tomé estar em melhor companhia. De resto, é a própria autora que, a rematar o filme, escreve: “Estou no fim da viagem. Levei vários anos a fazêla, creio que toda a vida, aprendendo com as pessoas, com os poetas e músicos, com os artistas e viajantes – tudo gente que se deixa atrair pela aventura e o fora do comum”. Este DVD é fora do comum porque lança visões nítidas e profundas sobre os Açores. De referir as imagens de grande beleza plástica, o cuidado com os planos, a eficácia dos ângulos de observação, a nitidez do olhar. Digo, a transparência, a harmonia, a luz prodigiosa, a beleza deste trabalho de inegável qualidade. Bem vistas as coisas, este trabalho reflecte bem o modo de ser e de estar de Teresa Tomé, jornalista de méritos firmados, documentarista de apreciáveis recursos, profissional bem documentada e informada, mulher sábia que se afasta dos “high lights”, cultiva a discrição e mantém o “low profile”. E tudo isto constitui razão mais que suficiente para nos regozijarmos com a edição de Açores – 9 ilhas – uma viagem íntima. Porque visionar este DVD é um acto de apetecível fruição. E porque este filme nos leva a gostar ainda mais destes penhascos vulcânicos.