Actividade 1 Tema: Sonho, Liberdade e Ascensão – a simbólica do voo em Memorial do Convento Para a realização de uma ilustração que representasse o voo simbólico na obra de José Saramago, iniciei uma pesquisa breve para que as “bases” da minha ilustração depressa se formassem na minha cabeça. Esta pesquisa começou com a releitura do XVI capítulo da obra, como me foi aconselhado pelo professor. Neste capítulo, ocorrem eventos como: o medo da Inquisição sentido pelo padre Bartolomeu (o Santo Ofício entende a Passarola como arte demoníaca); a vontade do padre Bartolomeu de experimentar a sua invenção; a destruição da abegoaria, para que a Passarola pudesse levantar voo; o voo da máquina, transportando nela Baltasar, Blimunda e o padre Bartolomeu; a tentativa de destruição da máquina por Bartolomeu Lourenço, através do uso de fogo, tendo sido impedido por Baltasar e Blimunda. Estes foram os principais eventos que me orientaram na criação da ilustração. Na minha ilustração, pode-se facilmente observar a importância que o fogo teve na minha representação. Depois de uma pesquisa um pouco mais aprofundada, descobri, ou “tropecei”, num facto que considerei deveras interessante. Descortinei que a história da passarola na obra de José Saramago encontra um paralelo com a mitologia grega: Faetonte, filho de Apolo (deus do Sol), querendo imitar seu pai, conseguiu persuadi-lo a deixá-lo conduzir o seu carro do sol durante um dia. Porém, Faetonte, incapaz de manter o carro a voar pelos céus, rapidamente se despenhou e, dessa queda, morreu tragicamente no incêndio que se seguiu à queda. Esta comparação com a mitologia grega inspirou-me na criação da minha ilustração, pois decidi focar-me, não no voo físico que as três personagens empreendem, mas antes na sua “perda de asas”, ou seja, após terem “sentido”, mesmo que apenas por breves momentos, a sensação de liberdade associada ao voo que, até àquele momento, era algo desconhecido ao homem. Essa liberdade foi-lhes negada, não simultaneamente, mas até ao final da obra. Cada uma dessas personagens sofre um trágico destino, tal como o filho de Apolo. A passarola representa então o desejo de voar e, quando a tríade (padre Bartolomeu, Blimunda e Baltasar) consegue finalmente levantar voo, essa acção representa, a meu ver, a concretização dum sonho. A invenção de Bartolomeu Lourenço, quando concretizada, é também a razão para a concretização da Trindade Terrestre, que é também o motivo da sua dissolução. Em suma, tentei representar, nesta ilustração, a punição infligida à tríade através do fogo pelo atrevimento de concretizar um sonho num universo altamente controlado e vigiado que impede a realização do indivíduo.