reflexões acerca do ensino de língua materna

Propaganda
Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins
ISBN: 978-85-63526-36-6
305
11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO
REFLEXÕES ACERCA DO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA:
ABORDAGEM GRAMATICAL E MATERIAL DIDÁTICO
Layssa de Jesus Alves Duarte (UFT/CNPq)
[email protected]
Luiz Roberto Peel Furtado de Oliveira (UFT)
[email protected]
RESUMO: Este trabalho busca evidenciar questões acerca do ensino de língua materna,
especialmente no tocante à abordagem gramatical. Inicialmente serão focalizadas as
críticas mais frequentes ao ensino de gramática, já que a abordagem gramatical tem
sido, comumente, considerada problemática. O ensino de gramática é visto por muitos
estudiosos e professores como desvinculado do uso prático da língua, além de
improdutivo no sentido de não proporcionar ou contribuir para o desenvolvimento de
habilidades linguísticas importantes, como a interpretação e a produção textuais. Em
seguida serão abordadas questões sobre o ensino de língua materna, especialmente sobre
a importância das aulas de gramática para as aulas de língua portuguesa e a importância
de não se dissociar o estudo do texto e dos sentidos do estudo de gramática. Por fim
algumas breves questões sobre o uso de materiais didáticos no ensino de língua materna
e gramática serão abordadas, a intenção será evidenciar algumas críticas feitas por
professores e estudiosos da linguagem em relação ao material didático utilizado nas
aulas de língua portuguesa. O foco principal deste trabalho será refletir sobre como tem
se dado o ensino de gramática dentro das aulas de língua portuguesa nas séries do
ensino básico, e através desta reflexão argumentar sobre a importância do ensino de
gramática para o ensino de língua materna, reafirmando não a sua exclusão, mas a
transformação desse ensino a fim de propiciar ao aluno o aprimoramento de suas
competências comunicativas.
Palavras Chave: Língua Materna, Gramática, Abordagem, Material Didático.
ABSTRACT: This work aims highlight issues about the teaching of the mother tongue,
regarding to the grammatical approach. Firstly it will be focused on the most frequent
criticisms of grammar teaching, since grammar approach has been commonly
considered problematic. The teaching of grammar is seen by many scholars and teachers
as detached from the practical use of the language, and unproductive not to provide or
contribute to the development of important language skills, such as interpretation and
textual production. Then this work will discuss questions about the mother tongue
teaching, especially about the importance of grammar lessons for Portuguese language
classes and the importance of not dissociate the study of the text and the senses of the
study of grammar. Finally some brief questions about the use of didactic materials in the
teaching of mother tongue and grammar will be discussed, the intent is to highlight
some criticisms made by teachers and scholars in relation to teaching materials used in
Realização
Apoio
Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins
ISBN: 978-85-63526-36-6
306
11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO
the Portuguese language classes .The main focus of this paper will reflect about the
grammar teaching within the Portuguese language classes in basic education series and
through this reflection debate the importance of teaching grammar to the mother tongue
teaching reaffirming not it exclusion but the transformation of this teaching in order to
provide the student improve their communication skills.
Keywords: Mother Language, Grammar , Approach , Didactic Material.
INTRODUÇÃO
Muito se tem discutido a respeito do ensino de gramática nas séries de nível
básico. Tais discussões giram em torno das contribuições do ensino gramatical para a
apreensão dos processos sígnicos e consequentemente de seu sucesso para aperfeiçoar
as habilidades linguísticas dos estudantes, principalmente interpretação, compreensão e
produção textuais.
Como afirma Irandé Antunes (2012, p. 109), “o debate sobre o ensino da
gramática na escola tem polarizado muitas das discussões relativas ao ensino de línguas,
sobretudo em relação ao ensino de língua materna.” Nesse sentido alguns
questionamentos – de professores, ou mesmo de estudiosos da linguagem – se
estendem, segundo Neves (2007), na direção de desconsiderar o ensino de gramática,
excluindo-o das grades escolares. Porém há quem se posicione de forma contrária a essa
tendência, atribuindo ao estudo da gramática um papel importante dentro dos elementos
que visam, através do ensino da língua, educar cidadãos críticos e capazes de fazerem
uso adequado de suas potencialidades linguísticas.
Este trabalho evidenciará primeiramente alguns dos questionamentos que
envolvem o ensino de gramática, bem como o que se concebe como efetivo ou
improdutivo no que diz respeito ao ensino de língua materna. Trataremos também sobre
a inserção da gramática nas aulas de língua materna, e a importância de não dissociá-la
do estudo do texto e dos sentidos. Por último serão feitas algumas reflexões sobre o uso
Realização
Apoio
Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins
ISBN: 978-85-63526-36-6
307
11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO
de materiais didáticos no ensino de língua materna e a importância da formação do
professor no momento de lidar com tais materiais.
A intenção principal será refletir sobre o ensino de gramática e sobre a forma
como tal ensino vem se desenvolvendo, destacando a ideia de que ele não deve ser
excluído, mas sim reformulado com intenção de proporcionar ao estudante o
aprimoramento de suas competências linguísticas.
QUESTIONAMENTOS ACERCA DA ABORDAGEM GRAMATICAL
Não é raro ver a disciplina gramatical ser criticada, seja por professores de
língua materna, alunos ou estudiosos da linguagem. Segundo Franchi (2006, p. 34)
“tem sido um lugar comum entre professores, educadores e mesmo estudiosos da
linguagem, uma atitude negativa em relação à gramática.” O mesmo autor enumera
alguns dos motivos que tornam o ensino de gramática tão problemático e criticado:
A insuficiência das noções e procedimentos da gramática tradicional;
a inadequação dos métodos de ‘ensino’ da gramática; o fato de que
essa gramática não é relacionada a um melhor entendimento dos
processos de produção e compreensão de textos; o esquecimento da
oralidade; o normativismo renitente etc. (FRANCHI, 2006, p. 34).
Neves (2009, p. 18) também reforça a crítica promovida por estudiosos e
professores ao ensino de gramática, designando a abordagem como reduzida à
“taxonomia” e à “nomenclatura em si e por si”, sobre isso, a estudiosa argumenta que
“nenhuma ‘competência’ e nenhuma ‘ciência’ advirão da atividade de reter termos e
decorar definições.” Oliveira (2011, p. 57) afirma, por sua vez, que a “adoção constante
de sistemas classificatórios para o ensino da língua fez com que o homem se sujeitasse
cada vez mais à ‘forma certa’ de dizer as coisas, em vez de se preocupar com o uso
preciso das potencialidades linguísticas.” Nota-se, portanto, que a crítica à gramática
faz-se por meio de argumentos que evidenciam principalmente o fato de sua abordagem
estar desvinculada do uso prático da língua.
Realização
Apoio
Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins
ISBN: 978-85-63526-36-6
308
11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO
Não há como negar a validade desses argumentos, afinal, o que se nota nas aulas
de língua portuguesa é que a gramática, apresentando-se sob uma abordagem
improdutiva, tem realmente se reduzido a um estudo desvinculado de aplicação prática,
como constatou Neves (2007) em pesquisa realizada com professores de língua materna
da rede pública de São Paulo. Além da crítica aos procedimentos de ensino de
gramática, outra crítica, desta vez relacionada ao caráter “elitista” da disciplina, tem se
destacado.
Muitos autores vêem a gramática normativa como uma forma de reforçar a
soberania da elite sobre as classes dominantes através da linguagem. Para Lyons (1979
apud SILVA, 2002, p. 12) “a precedência da língua escrita e a seleção de uma
determinada variedade, como a melhor, de uma língua (...) constituem o ‘erro clássico’
da gramática”. Para Silva (2002, p. 13) a norma padrão reforça o ‘dialeto da elite’, e seu
ensino (quer bem ou mal feito) faz “silenciar os outros usos”. Antunes dá ênfase ao
mesmo argumento, reforçando que
À superioridade humana da elite foi vinculada outra: a superioridade
da língua falada por essa elite (...) à essa humanidade superior estava
destinado o dom da produção da arte pela palavra, no que resultaria,
historicamente, a percepção da língua apenas na sua versão culta e
literária (ANTUNES, 2012, p. 110).
Da mesma forma, Oliveira (2011, p. 57) caracteriza o “poder” como um
“parasita” da linguagem, que transforma o aprendizado da língua num “momento fatal
de alienação”. Neves (2009, p. 20) designa a “norma padrão” como um conceito “de
estatuto não apenas linguístico, mas também sociopoliticocultural” e sobre isso
argumenta que “é ilegítimo desconsiderar a interferência mútua das variantes e conceber
rigidamente um padrão linguístico modelar”. Para a autora, a variação linguística não
pode, dentro da escola, ser vista como defeito ou desvio e a mudança não pode ser tida
como degeneração ou decadência (Neves, 2009).Tais críticas à abordagem gramatical
mostram o quanto o ensino de língua materna está mais vinculado ao prestígio social da
linguagem considerada padrão do que ao interesse em desenvolver no aluno habilidades
críticas e interpretativas.
Realização
Apoio
Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins
ISBN: 978-85-63526-36-6
309
11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO
Apesar de tantos questionamentos, não há como desconsiderar a disciplina
gramatical das grades escolares, é importante ressaltar que a questão problemática não
consiste no ensino de gramática em si, mas em como a abordagem gramatical tem se
dado no ensino básico, segundo Neves (2009, p. 18) o fato de a gramática se tornar
“algo mecânico e distante do funcionamento da linguagem” faz com que “as aulas de
língua materna só façam sentido se a gramática for eliminada”. Mesmo assim, o que se
nota, segundo Neves (2007, p. 11) é que em muitos casos o ensino é feito com a simples
intenção de “cumprir o programa ”, “mesmo que não se aponte necessidade real para o
ensino de gramática”.
A disciplina gramatical se constrói, portanto,sob uma abordagem vazia de
aplicação prática, objetivando, na maioria dos casos, apenas o cumprimento do
programa ou o preenchimento de uma carga horária, sem trazer benefícios ao
aprendizado da língua. Tudo isso resulta em críticas que reforçam a improdutividade do
ensino de gramática, mas que não resolvem os problemas da abordagem, como afirma
Franchi (2006, p. 35): “Não se renova a concepção de gramática. A consequência não
pode deixar de ser ou a rejeição do estudo gramatical ou a inconsequência de uma
prática ‘envergonhada’ dos mesmos exercícios antigos sob outras capas.” Nesse sentido,
Oliveira argumenta sobre os danos de uma abordagem de língua materna que
desconsidere totalmente as questões gramaticais:
A adoção da variante falada como objeto de ensino e o grave
desconhecimento da normatividade gramatical pelos docentes de
língua materna trouxeram um quadro caótico e incapaz de possibilitar
a atividade criativa eficiente, seja artística, científica, ou simplesmente
informativa (OLIVEIRA, 2011, p. 57).
Reafirma-se, portanto a necessidade, não de exclusão, mas de reformulação do
ensino de gramática, visto que este tem se dado de forma improdutiva devido a seu
distanciamento do uso prático da língua. O ensino de língua materna deve privilegiar o
texto e a apreensão dos sentidos como fator primordial, onde é preciso incluir a
prerrogativa de que nenhum enunciado se constrói sem organização gramatical, e que de
que a forma como elementos da língua se estruturam para formar textos também são
Realização
Apoio
Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins
ISBN: 978-85-63526-36-6
310
11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO
indicativos de sentido, sendo por fim, o estudo de gramática indissociável do estudo do
texto e dos sentidos, ideia que será mais aprofundada no próximo tópico.
A DISCIPLINA GRAMATICAL E O ENSINO DE LÍNGUA MATERNA
Na década de 70, segundo Rojo (2007, p. 10), com a “virada pragmática ou
comunicativa” e com as mudanças relacionadas à industrialização, modernização da
economia e comunicações, a nova LDB (5692/71) reconfigura a disciplina Língua
Portuguesa, passando a chamá-la “Comunicação e expressão”, indicando assim “um
deslocamento de interesse do estudo da língua (gramática) para o uso da língua em
processos comunicativos”. Isso representou uma queda acentuada no interesse pela
gramática e incentivou a ênfase na perspectiva textual. Na mesma época em que a
educação passou a ser “acessível” às camadas mais populares, a mudança de abordagem
não tornou o ensino mais produtivo, segundo Rojo:
Interessava menos estudar a gramática da língua e mais formar, ainda
que minimamente e de maneira acrítica, leitores e produtores de texto
dentre os membros das camadas mais despossuídas, que possam lidar
com textos de uma certa maneira, seja nos postos mais especializados
de trabalho, que passam a exigir maior escolaridade, seja no consumo
de textos de informação e publicidade (ROJO, 2007, p. 10).
Com relação ao que restou de gramática nas aulas de língua portuguesa, Rojo
(2007, p. 10) argumenta que “nas décadas de 70-80 a gramática reduziu-se a um terço
do currículo de LP, passando a dividir espaço com aulas de leitura e de redação, que
constituíram os eixos procedimentais do ensino de língua durante 25 anos”. No entanto,
a perspectiva textual era, como é até hoje, utilizada na maioria dos casos como meio de
estudar gramática – de forma questionável –baseando-se na apreensão de regras e
classificação de termos, e ignorando-se os processos de produção de sentido. Para Rojo
(2007, p.12) “as práticas didáticas gramaticais resistem. O texto também se torna, ao
mesmo
tempo,
pretexto
para
análises
gramaticais
e
termina,
ele
próprio
gramaticalizado.” Essa realidade não deixou de existir, desde os anos 70 até hoje o que
Realização
Apoio
Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins
ISBN: 978-85-63526-36-6
311
11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO
se nota é um apego pela abordagem textual, ao mesmo tempo em que o texto é utilizado
de forma vazia para ensinar gramática de forma irrelevante.
Neves (2007), na já referida pesquisa com professores de língua portuguesa da
rede pública de São Paulo, traz um quadro recente da abordagem realizada em língua
materna, e constata a preferência pelos textos para o ensino de gramática, segundo ela,
Uma das preocupações dos professores, ao responder à questão dos
procedimentos no ensino da gramática, é afirmar a opção pelos textos,
como ponto de partida da exercitação gramatical (...) o que se
verificou, porém, nas Entrevistas, foi que, ‘partir do texto’ nada mais
representa que ‘retirar de textos’ unidades (frases ou palavras) para
análise e catalogação (NEVES, 2007, p.18).
O ensino de língua materna que se diz produtivo deve, porém, considerar a
perspectiva textual no sentido de estabelecer a apreensão dos sentidos como elemento
básico para o desenvolvimento de capacidades linguísticas relevantes, principalmente a
interpretação e a compreensão textuais. Tal perspectiva deve também, contemplar a
gramática como parte indissociável do texto. Para Travaglia,
É preciso questionar a dicotomia posta quando se diz: ‘aspectos
gramaticais e textuais da fala/escrita’, pois dizer assim faz pensar que
o que é textual não é gramatical e o que é gramatical não é textual,
posição com a qual não podemos concordar. Tal crença põe um
problema para o que se faz em sala de aula, pois faz supor uma
separação entre as atividades de ensino de gramática e de
produção/compreensão de textos (TRAVAGLIA, 2011, p. 40).
Como já mencionado anteriormente, sabe-se que a disciplina gramatical é
arduamente criticada por não contribuir para o aperfeiçoamento das capacidades de
interpretação e produção textuais, por exemplo. Todavia, por outro lado, há a
necessidade de trazer ao aluno o conhecimento da norma considerada padrão, e é válido
ressaltar que tal conhecimento não pode ser repassado simplesmente por meio da
apreensão de regras e termos, já que é essencial mostrar que o modo como certas
estruturas se organizam dentro de um texto, sejam elas sintáticas, morfológicas ou
fonológicas, também contribui para a construção dos sentidos, como afirma Travaglia:
Realização
Apoio
Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins
ISBN: 978-85-63526-36-6
312
11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO
Todos os recursos da língua (...) em termos de unidades e estruturas
(sejam elas fonológicas, morfológicas, sintáticas, textuais) funcionam
como pistas e instruções de sentidos que são coadjuvados nesta função
por mecanismos, fatores e princípios. Dessa ação conjunta surgem os
efeitos de sentido possíveis para uma dada sequência linguística usada
como texto numa dada situação de interação (TRAVAGLIA 2011, p.
41).
Nota-se assim a necessidade de agregar, de forma efetiva, o ensino de gramática
ao ensino de língua materna, não como um meio de levar o aluno a reconhecer
elementos gramaticais em enunciados isolados de contexto, mas como forma de
complementar o estudo dos sentidos e de tornar acessível o conhecimento da norma
considerada padrão, sem desconsiderar a existência de outras variedades linguísticas.
MATERIAL DIDÁTICO E ABORDAGEM GRAMATICAL
Outras críticas ao ensino de língua materna se referem à abordagem feita pelos
materiais didáticos. O ensino, nessa perspectiva, também tem sido considerado
problemático. Considera-se que tais materiais muitas vezes reforçam o caráter
improdutivo do ensino de língua abordado pelos professores. Franchi critica a
superficialidade encontrada em muitos desses materiais:
Caiu-se na improvisação dos manuais que (salvo raríssimas exceções)
causam maior dano aos estudos da linguagem que os compêndios
antigos. Atividades de linguagem reduzidas ao preenchimento de
espaços em branco, a reprodução mecânica de “modelos’, a
interpretação de passagens de texto pela escolha entre alternativas
triviais, informações gramaticais fisgadas aqui e ali, tudo está bem
‘sincronizado’ para a satisfação dos editores e dos professores que já
não precisam pensar ”(FRANCHI, 2006, p. 37).
Segundo Neves (2007) em sua pesquisa com professores da rede pública de São
Paulo, quase a totalidade dos professores tinham alguma insatisfação em relação ao
livro didático que deveriam utilizar em sala. As críticas aos livros são, em geral,
Realização
Apoio
Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins
ISBN: 978-85-63526-36-6
313
11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO
relacionadas “à abrangência e profundidade da matéria apresentada, considerada
incompleta, resumida, superficial ou com insuficiente exercitação”, além disso, muitos
professores questionaram ainda fatores como “a má compartimentação, a ilogicidade e a
falta de embasamento para exercícios propostos” (NEVES, 2007, p. 27).
Nota-se, porém, que em alguns casos o livro didático apresenta-se sob uma
perspectiva de ensino mais voltada aos gêneros textuais do que ao ensino de língua
restrito à normatividade gramatical, tal fato foi percebido em pesquisa realizada entre os
anos 2012 e 2013, com apoio do CNPq, na cidade de Araguaína. Por meio da pesquisa
foi possível analisar as aulas de língua materna e o material didático empregado nessas
aulas, e constatou-se que embora os livros didáticos apresentassem conteúdos
considerados como importantes para a interpretação e produção textuais, nem sempre o
professor trabalhava de forma a contemplar tais conteúdos, voltando-se, em muitos
casos, para o ensino de gramática desvinculado do uso prático da língua.
É importante ressaltar que a produção e o uso de bons materiais didáticos não
resolvem por completo o problema da abordagem gramatical em língua materna. As
mudanças necessárias para tornar o ensino de língua materna mais produtivo fazem
parte de um contexto que não se restringe apenas à formação do professor, nem ao
material didático empregado em sala. Muito se tem debatido a respeito do que se deve
fazer ao ensinar língua materna, porém ainda há pouco consenso, o que destaca a
necessidade em manter tais discussões e gerar investigações que tenham como meta
aperfeiçoar o ensino.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devido à forma como é abordado, o ensino de gramática tem se distanciado do
uso prático da língua, o que gera certo desconforto entre aqueles que ensinam língua
materna, o que os leva, em muitos casos a adotarem uma perspectiva textual, que, no
entanto, ainda é paradoxalmente utilizada para exercitação mecânica da gramática.
Realização
Apoio
Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins
ISBN: 978-85-63526-36-6
314
11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO
Ainda que a abordagem gramatical não seja considerada satisfatória, o ensino da
norma tida como culta é um dos objetos de interesse da aula de português, já que por
meio dela o aluno terá acesso à língua “de prestígio” das “camadas cultas” da sociedade.
O grande erro consiste em ensinar uma língua que nasce da norma para chegar aos usos,
o que a torna, de certa forma, inalcançável, não porque não exista, mas porque seu
ensino não parece tratá-la como língua. Para Neves,
À escola particularmente cabe o papel de oferecer ao usuário da língua
materna, o que, fora dela, ele não tem: o bom exercício da língua
escrita e da norma padrão. E o que significa isso? Significa,
especialmente, que à escola cabe capacitar o aluno a produzir
enunciados adequados, eficientes, ‘melhores’, nas diversas situações
de discurso, enfim, nas diversas modalidades de uso. (NEVES, 2009
p.94).
Nesse sentido cabe reafirmar não apenas a importância do ensino da norma
padrão nas aulas de língua materna, porém seu ensino atrelado à perspectiva textual, de
modo a ser útil não só aos processos de produção e interpretação textuais, mas também
à formação pessoal e crítica do sujeito que a aprende.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Irandé. “Conexão entre vocabulário e gramática na expressão dos sentidos de um
texto”. In: ______. Território das palavras: estudo do léxico em sala de aula. São Paulo:
Parábola Editorial, 2012, p. 105 a 118.
DUARTE, Layssa de Jesus Alves. Terminologia gramatical – história, usos e ensino: Relatório
parcial apresentado aoPrograma Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – Pibic/CNPQ,
2013.
FRANCHI, Carlos. Mas o que é mesmo gramática?/ Carlos Franchi; [com] Esmeralda Vailati
Negrão e Ana Lúcia Müller. – São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
NEVES, Maria Helena Moura de. Gramática na escola. 8ª Ed., São Paulo: Contexto, 2007.
NEVES, Maria Helena de Moura. Que gramática estudar na escola? 3ª. Ed, São Paulo:
Contexto, 2009.
Realização
Apoio
Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins
ISBN: 978-85-63526-36-6
315
11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática ensino plural. 5ª Ed, São Paulo: Cortez, 2011.
OLIVEIRA, Luiz Roberto Peel Furtado de. A gramática de Dionísio Trácio e seus contrapontos
semânticos. Campo Grande, MS: Ed. Oeste, 2011.
ROJO, Rosane. “O texto no ensino-aprendizagem de línguas hoje: desafios da
contemporaneidade”. In: TRAVAGLIA, Luiz Carlos; FINOTTI, Luisa Helena Borges; MESQUITA,
Elisete Maria Carvalho (Org.). Gêneros de texto: caracterização e ensino. Uberlândia, MG:
EDUFU, 2007, p. 09 a 43.
SILVA, Rosa Virgínia Mattos e. Tradição Gramatical e Gramática Tradicional. 5ª Ed, São Paulo:
Contexto, 2002.
Realização
Apoio
Download