CONCEITO ANTROPOLÓGICO DE CULTURA Temas: O que é Cultura/ Indivíduo e Sociedade/ Etnocentrismo e Relativismo Cultural/ Identidades e Diferenças CIÊNCIAS SOCIAIS Sociologia Poítica Antropologia ANTROPOLOGIA : conceito e objeto A Antropologia não se distingue das outras ciências humanas e sociais por um objeto de estudo que lhe seja próprio Inicio Estas sociedades não pertencem à civilização ocidental Sec. XX Estudo das sociedades simples, denominadas também primitivas, arcaicas ou frias Sociedades de dimensões estritas Pouco contato com as sociedades vizinhas Tecnologia pouco desenvolvida Pouca divisão do trabalho social Estudo das sociedades complexas, denominadas também sociedades civilizadas, modernas ou quentes. Estudo do homem inteiro. Estudo do homem e das culturas em todas as suas dimensões. Antropologia Biológica ou Física RAMOS DA ANTROPOLOGIA Arqueologia Antropologia Social(ou cultural)ou Etnologia Etnografia Antropologia cultural ou social Etnologia Estudo do homem como ser biológico, dotado de um aparato físico e uma carga genética, com um percurso evolutivo definido e relações específicas com outras ordens e espécies de seres vivos Estudo do homem no tempo, através dos monumentos, restos de moradias, documentos, armas, obras de arte e realizações técnicas que foi deixando no seu caminho enquanto civilizações dava lugar a outras no curso da História Consiste no estudo de tudo o que constitui as sociedade humanas, seus modos de produção econômica, suas descobertas e invenções, suas técnicas, sua organização política e jurídica, seus sistemas de parentesco, seus sistemas de conhecimento, suas crenças religiosas, sua língua, sua psicologia, suas criações artísticas É primeiro passo da pesquisa antropológica. Descrição de culturas concretas. O segundo passo da pesquisa. Estudo da cultura e da investigação dos problemas teóricos da analise dos costumes humanos. PONTO DE PARTIDA De qual conceito de cultura se trata? O ponto de partida será o conceito formulado por Edward Tylor (1871–1958) que parte do pressuposto de que a cultura representa um conjunto de aspectos que inclui conhecimentos, crenças, artes, normas, valores, costumes e demais hábitos e capacidades adquiridas pelos seres humanos nas relações estabelecidas como seres sociais. Para operar e circular no campo cultural, o ser humano produz uma linguagem simbólica que lhe permite interatividade. Para produzir cultura, o homem precisa da linguagem simbólica. Os símbolos são invenções humanas por meio das quais o homem pode lidar abstratamente com o mundo que o cerca. Com a linguagem simbólica o homem não está apenas presente no mundo, mas é capaz de “representá-lo”: isto é, o homem torna presente aquilo que está ausente. A linguagem introduz o homem no tempo, porque permite que ele relembre o passado e antecipe o futuro pelo pensamento. A palavra cultura deriva da natureza: lavoura – cultivo agrícola, o que cresce naturalmente; Raiz latina – colere – (cultivar, habitar/adorar, proteger) Culter (latim) = coulter (inglês) – relha do arado Ou seja, cultura está ligada à noção de atividade, trabalho. Mas há uma dicotomia no termo. A mesma origem linguística tem duas ramificações: colonus (habitar, ocupar, invadir) X cultus (culto, adoração ao transcendente). No início, o conceito de cultura designava um processo completamente material, que depois foi sendo incorporado a questões do espírito. Pela mudança no sentido da palavra é possível perceber a mudança histórica: do rural para o urbano; da atividade laboral primária à representação de Picasso; de arar a terra ao pensamento que leva à ideia da divisão do átomo. Para pensar: quem é culto? Aquele que cultiva a terra ou aquele que se dedica ao estudo? Raymond Willians (1982) apresenta três sentidos da palavra cultura: 1. Da raiz do trabalho rural, significa algo como civilidade. 2. No século XVIII, no cenário do Iluminismo, em que se verifica o culto do autodesenvolvimento secular e progressivo, cultura se torna sinônimo de civilização, no sentido de um processo geral de progresso intelectual, espiritual e material. Esta ideia de civilização, que nasceu na Europa, está ligada aos costumes e moral, conduta polida e comportamento ético: não cuspir no tapete ou não decapitar prisioneiros têm a mesma dimensão de civilização. Na França, civilização implica vida política, econômica e técnica – dimensão da sociedade. Na Alemanha, a ideia de civilização ganha dimensão religiosa, artística e intelectual – dimensão individual e grupal. Neste aspecto, a civilização minimiza diferenças nacionais e a cultura as realça. Até o século XIX, o conceito de cultura está ligado à classe média refinada pré industrial. Não basta ter cultura, é preciso ser reconhecido por isso, para não ser confundido com os trabalhadores/agricultores. Mas a Revolução Industrial mexe nesta ideia. Neste período explode o conflito porque cultura está relacionada a civilização, e o período da revolução industrial foi o da não civilização, de degradação dos trabalhadores, do fim dos direitos, da exploração humana. 3. Do Iluminismo (universalista) ao Idealismo alemão: conflito entre o eurocentrismo de uma cultura como civilização universal e o reconhecimento da diversidade de formas de vida específicas, cada uma com suas leis evolutivas próprias e peculiares. Daí nasce a ideia de cultura como modo de vida característico, mas ligado ao pendor romântico colonialista por sociedades exóticas subjulgadas. Ou seja, há o reconhecimento de que os pobres, as classes subalternas são sujeitos culturais, mas da chamada cultura popular, exótica, em contraposição à cultura de elite e das belas artes. No século XX a a ideia do exotismo ressurge no modernismo e na moderna antropologia cultural, e posteriormente no culto da cultura popular. Cultura e arte Raymond Willians também aponta o sentido de cultura associada à expressão artística. Neste conceito, cultura está ligada à atividade intelectual (cientistas, filósofos, pensadores) ou a atividades imaginativas (pintura, música, literatura, teatro). Ou seja, restrita a pequena porção de pessoas dotadas de talento ou de formação específica, traduzida em obras que devem circular. Este é o conceito de cultura como espetáculo, a ser passivamente recebido, tendo o sentido de lazer e entretenimento. INDIVÍDUO E SOCIEDADE Diferenças entre indivíduo e sociedade A visão dicotômica entre indivíduo e sociedade é fundamental nas Ciências Sociais, e faz parte dos primórdios do desenvolvimento da Sociologia, que surgiu em meio a um crescente processo de industrialização iniciado ainda no século XVIII e que levou ao surgimento de inúmeros problemas sociais no inicio do século seguinte, quando surgiu a disciplina. Podemos dizer que as transformações ocorreram pela transição de uma realidade rural para um ambiente urbano e industrial. O advento de estruturas sociais mais complexas fez com que os homens se vissem na necessidade de compreendê-las. Brota uma nova ciência que, partindo do instrumental das ciências naturais e exatas, tenta explicar a realidade, estudando sistematicamente o comportamento social dos grupos e as interações humanas. Basicamente buscou-se compreender que todas as relações sociais estão conectadas, formando um todo social, que chamamos de sociedade. A passagem de uma sociedade rural para uma sociedade urbana, com a formação de grandes cidades, abriu novos espaços de sociabilidade, em que conviveram pessoas diferentes e estranhas umas às outras, com objetivos e motivações distintas. Esses novos espaços substituíram os espaços tradicionais de relações. Essa transição é essencial para compreender a sociologia. O rápido processo de urbanização provocou a degradação do espaço urbano anterior, do meio ambiente, e a destruição dos valores tradicionais. As indústrias atraíram as populações rurais para as cidades. Conceitos de sociedade A sociedade, tal como passou a ser compreendida no inicio do século XIX, pressupunha um grupo relativamente autônomo de pessoas que ocupavam um território comum, sendo, de certa forma, constituintes de uma cultura comum. Além disso, predominava a ideia de que as pessoas compartilhavam uma identidade. As relações sociais, não só referentes às pessoas, mas, inclusive, às instituições (família, escola, religião, política, economia, mídia), moldavam as diversas sociedades. Assim, havendo uma enorme conexão entre essas relações, a mudança em uma acarretaria numa transformação em outra. A sociedade é entendida, portanto, como algo dinâmico, em permanente processo de mudança, já que as relações e instituições sociais acabam por dar continuidade à própria vida social. Torna-se claro, ademais, que existe uma profunda e inevitável relação entre os indivíduos e a sociedade. As Ciências Sociais lidaram com essa relação de diferentes modos, ora enfatizando a prevalência da sociedade sobre os individuos, ora considerando certa autonomia nas ações individuais. Para o antropólogo Ralph Linton, por exemplo, a sociedade, em vez do indivíduo, é a unidade principal, aquela onde os seres humanos vivem como membros de grupos mais ou menos organizados. Objeto de estudo A sociologia é o estudo científico da sociedade. Parte de métodos científicos (observação, análise, comparação) e possui objetos de estudo específicos. Traz para o campo das ciências a figura do cientista social. Assim, diferentes de outras ciências, a sociologia tem como parte integrante de seu objeto de estudo o próprio observador. Este, ao mesmo tempo em que observa o fenômeno, sofre influência e influencia seu objeto de estudo. Essa realidade leva a uma discussão sobre a objetividade do trabalho científico e sobre a (im)possível neutralidade do cientista social. Fato que não ocorre nas ciências físicas, por exemplo, o homem desempenha um duplo papel nas ciências sociais: é ao mesmo tempo objeto e sujeito do conhecimento. Aquele que desempenha as ações sociais e as interpreta. Por isso se busca tanto a objetividade nos casos estudados. Etnocentrismo Podemos perceber que o sufixo “centrismo” destaca algo como central, a partir de uma determinada perspectiva. O radical “etn(o)”, por sua vez, corresponde à cultura. Unindo “etno” e “centrismo”, temos uma cultura que está no centro. Trata-se de uma perspectiva de compreensão da diversidade que coloca uma cultura no centro para a compreensão do universo plural. O conceito de “etnocentrismo” parte de uma lógica de interpretar as diferenças culturais humanas, estabelecendo critérios de superioridade e inferioridade para a classificação dos povos. A questão central é a estranheza que se estabelece com o encontro de duas ou mais referências culturais. O etnocentrismo se afirma quando há algum choque entre os “diferentes”; nesse contexto, surgem as ideias de “meu grupo” e de “grupo do outro” e a definição de categorias hierárquicas. Normalmente, o “meu grupo” é visto como o melhor, o superior, enquanto os outros são vistos como menores inferiores. Para pensar: qual é a referência para considerar algo ou alguma cultura "diferente"? Nós somos "diferentes" para quem ou para que? A leitura etnocêntrica tem base nos processos históricos que pressupõem a justificativa para a dominação de um povo em relação a outro. Assim, por exemplo, encontra-se legitimidade para o discurso a ação eurocêntrica na colonização da América, da África e da Ásia. Também, com muita ênfase, o etnocentrismo está presente no imperialismo nazista alemão. A doutrina do sangue azul é a principal referência. Relativismo cultural Contrapõe-se ao Etnocentrismo; Cada manifestação cultural é compreendida como uma dimensão própria de significação. O que tem valor em um grupo ou uma comunidade ganha sentido dentro de uma lógica interna. As normas de comportamento e os valores de um determinado grupo são resultantes de um processo histórico que abrange espaço, tempo, indivíduo e sociedade. Não se pode eleger uma forma cultural específica como referência de um padrão de comportamento humano. Os sentidos das práticas culturais devem ser legitimados em uma ordem interna que congrega o grupo. Identidade A dinâmica da relação entre como nos vemos e como somos vistos, os processos de reconhecimento individual e social compõem a nossa identidade. Mas também olhamos o outro. Vivemos no espelho da interação social, no campo da alteridade. A trama social construída entre os movimentos de ver, ser e ser visto modela a teoria do reconhecimento. Os olhares, entretanto, têm significados e se colocam em uma territorialidade de poder. Diversos elementos, conjugados ou não, são traços para a definição de identidades: origem, geração, etnia, raça, gênero, orientação sexual, posição econômica, religião etc. Nesse universo, nós nos sentimos, percebemos o outro e somos percebidos. A cena instaura a trama da identidade e da alteridade. Ou seja, sentimento de pertença, reconhecimento dos outros e percepção pelos outros. Assim, a afirmação de identidade é uma dimensão de cultura essencial ao pertencimento do sujeito ou grupo a um lugar. A ausência ou a negação de reconhecimento é um mecanismo de dominação desencadeador de desigualdades. Possuir identidade significa existir, com poder e visibilidade distintivos. TEXTO COMPLEMENTAR Etnocentrismo e Relativismo Cultural Todas as diferenças existentes entre as pessoas de todo o mundo, modo de se portar, modo de falar, de se expressar, suas crenças e costumes e a forma das sociedades se organizarem, chamase Diversidade Cultural. Porém, há diversas pessoas, povos e culturas que possuem uma visão do mundo onde seu próprio grupo ou sociedade é que é a correta, negando todas as outras, somente seus modelos e valores é que são os corretos. Xenofobia (preconceito por nacionalidade, classe social e cor). Podemos inserir nesse contexto alguns exemplos atuais, o bullying, a homofobia, o preconceito racial etc., a isso damos o nome de Etnocentrismo (dificuldade de ver e tolerar as diferenças). Vemos que no Relativismo Cultural, há grande parte de verdade, pois este defende que o "bem" e o "mal" são relativos a cada cultura, os princípios morais descrevem os sentimentos em determinada sociedade e deve se basear nas normas descritas por ela. Diversidade Cultural e Etnocentrismo O etnocentrismo denota a maneira pela qual um grupo, identificado por sua particularidade cultural, constrói uma imagem do universo que favorece a si mesmo. Compõe-se de uma valorização positiva do próprio grupo, e um referência aos grupos exteriores marcada pela aplicação de normas do seu próprio grupo, ignorando, portanto, a possibilidade de o outro ser diferente. Sendo baseado numa preferência que não encontra uma validade racional, o etnocentrismo é encontrado, em diferentes graus, em todas as culturas humanas. Mas não é só o fato de preferir a própria cultura que constitui o que se convencionou chamar de etnocentrismo, e sim o preconceito acrítico em favor do próprio grupo e uma visão distorcida e preconceituosa em relação aos demais. O etnocentrismo é um fenômeno sutil, que se manifesta através de omissões, seleção de acontecimentos importantes, enunciado de um sistema de valores particular, etc. Em sua expansão, a partir do século XV, as sociedades européias se defrontaram com outras sociedades e perceberam que estas não eram feitas à sua imagem. A reação imediata do Ocidente foi o etnocentrismo. Em seu avanço, a cultura européia não só é etnocêntrica, como também etnocidária. O etnocídio é a destruição de modos de vida e de pensamentos diferentes dos compartilhados por aqueles que conduzem à prática da destruição, que reconhecem a diferença como um mal que deve ser sanado mediante a transformação do outro em algo idêntico ao modelo imposto. Resulta disso, segundo Jaulin, que o conjunto submetido a essa cultura é homogêneo, pois provém da extensão de si mesmo e da negação do outro. O outro é sempre negado pelas culturas européias, pois o universo no qual está integrado passa a depender dessas culturas. ATIVIDADES 1. Explique o que é Etnocentrismo utilizando exemplos. 2. Fale sobre a diversidade cultural em Mato Grosso do Sul, principalmente como foi constituída. 3. Como nós brasileiros entendemos o outro? Será que tratamos nossos índios como os europeus trataram os africanos? 4. Qual a diferença entre diversidade cultural e Etnocentrismo? 5.Qual o primeiro elemento "fundador" da diversidade cultural brasileira? 6. Fale sobre os elementos culturais que servem para identificar os indivíduos, seus hábitos e de onde vieram. 7. O que significa identidade cultural?