XIV Congresso Brasileiro de Sociologia 28 a 31 de julho de 2009, Rio de Janeiro (RJ) Grupo de trabalho: "Globalização da Agricultura e dos Alimentos" A relevância sociológica das estratégias das redes de supermercados para os alimentos orgânicos Eduardo João Moro INTRODUÇÃO A partir das últimas duas décadas, frutas, legumes e verduras (FLV), bem como uma infinidade de produtos processados orgânicos, como café, sucos, achocolatados, hambúrgueres, entre vários outros, começaram a ser ofertados por grandes redes de supermercados através de significativos esforços mercadológicos. Feiras, lojas especializadas e outros canais de venda passaram a ter um papel secundário na comercialização desses produtos. O mercado de orgânicos movimentou cerca de US$ 38,6 bilhões em 2006, valor duas vezes superior ao observado em 2000 (ORGANIC MONITOR, 2008). Tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, os dois maiores mercados mundiais de orgânicos, com US$ 13,7 e US$ 13 bilhões respectivamente (IFOAM, 2007), grande parte da distribuição destes produtos é realizada através dos supermercados. Na Alemanha, por exemplo, o maior mercado europeu, importantes redes de supermercados de produtos convencionais passaram a dar espaço aos alimentos orgânicos, além da abertura de 40 novos supermercados exclusivamente orgânicos somente em 2004. Nos Estados Unidos localiza-se a sede da Whole Foods, a maior rede de lojas de alimentos orgânicos do mundo, com faturamento superior a US$ 4,7 bilhões em 2006. A empresa, além de adquirir sua principal concorrente nos EUA - a Wild Oats - tem expandido seus negócios para a Europa, comprando a Fresh Wild na Inglaterra por US$ 38 milhões de dólares (ORGANIC MONITOR, 2007). O Brasil, por sua vez, movimentou um mercado de aproximadamente R$ 300 milhões em 2004. A produção nacional é estimada em uma área de 841 mil hectares (em 2004), 300% a mais que a safra 2001/2002 (ARAÚJO, 2005). Algumas fontes, porém, colocam o país como segundo maior produtor do planeta, com mais de 6,5 milhões de hectares. Isso se deve à inclusão de uma área de 5,7 milhões de hectares de vegetação nativa que proporciona o extrativismo sustentável de castanha, açaí, pupunha, látex, frutas e outras espécies das matas tropicais, principalmente da Amazônia. Apesar da grande parte da produção nacional ser destinada à exportação (75% a 90%), e da tendência de supermercados exclusivamente orgânicos ainda estar um pouco distante, a venda de produtos orgânicos em grandes redes de supermercados é uma realidade, sobretudo nas capitais do sul e do sudeste. Diante desse contexto, surgem algumas questões importantes: 1. Como é possível mensurar a venda de alimentos orgânicos realizada nos supermercados brasileiros, ou, em outras palavras, qual é a real oferta de alimentos orgânicos nas redes de varejo do país? 2. Como é possível captar os esforços mercadológicos existentes? 3. Quais fatores devem ser considerados nesta análise? 4. Estas estratégias são homogêneas entre as redes de supermercados? 5. As grandes redes possuem uma oferta “padronizada” entre suas lojas? Partindo destas questões, apresenta-se neste artigo uma metodologia para analisar as estratégias utilizadas pelos supermercados na venda de alimentos orgânicos. Esta foi formulada como resultado de visitas a supermercados de capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis, bem como pesquisas realizadas a respeito do consumo destes alimentos nos últimos cinco anos junto ao Núcleo Interdisciplinar em Sustentabilidade e Redes Agroalimentares (NISRAUFSC). Para formulação desse método foram utilizadas ferramentas trazidas do marketing, como o “composto mercadológico”, que se popularizou como os “Quatro Ps”, o “novo composto mercadológico”, conhecido como “Quatro Cs”, e o “composto de varejo”. Estas ferramentas foram cruzadas com análises sociológicas, como as de Richter et al. (2001) e Guivant (2004), que pesquisaram a respeito do papel dos supermercados em contextos nacionais e internacionais (VER: GUIVANT, 2003). Através da aplicação da metodologia no campo de pesquisa (grandes e pequenos supermercados em qualquer parte do Brasil), acredita-se ser possível classificá-los de acordo com suas estratégias de venda. O objetivo desta metodologia é o de possibilitar tanto pesquisas restritas geograficamente em mercados locais, pequenas cidades e até mesmo bairros, quanto comparações de maior amplitude entre estados, regiões e países. 1. FERRAMENTAS DA METODOLOGIA DE ANÁLISE 1.1 MARKETING A metodologia de análise das estratégias de venda do setor varejista recebe, inicialmente, influência de ferramentas oriundas do marketing. O marketing, de maneira geral, apresenta-se como um termo ainda bastante controverso, e, para Kotler (1998), embora haja uma série de definições, todas elas oferecem apenas perspectivas parciais. Para Rocha e Christensen (1987) é possível encontrar acepções que tratam do marketing como um processo social, na qual a economia é integrada à sociedade para servir as necessidades humanas, conforme a definição de Peter Drucker; passando por uma perspectiva do processo de troca, como a de Levitt, que se restringe à atração e manutenção de clientes, até uma visão gerencial, como a de Kotler, que se refere a “uma orientação da administração no entendimento de que a tarefa primordial da organização é determinar as necessidades, desejos e valores de um mercado visando adaptar a organização para promover as satisfações desejadas de forma mais efetiva e eficiente que seus concorrentes” (ROCHA E CHRISTENSEN, 1987, p. 42). Mais do que uma falta de consenso, o marketing vem recebendo uma série de críticas por desconsiderar questões tidas como fundamentais na sociedade atual, sobretudo problemas ambientais, escassez de produtos e a fome. Diante das repreensões surgiu o “marketing ecológico” ou “ecomarketing”, originalmente promovendo debates a respeito dos aspectos positivos e negativos das atividades de marketing em relação à poluição, ao esgotamento de energia e dos recursos renováveis. Algum tempo depois Kotler também passou a discutir esta temática, considerando o movimento das empresas em produzirem e ofertarem produtos ambientalmente responsáveis ao mercado. Apesar de não haver nenhuma definição “totalmente consagrada”, e de haver uma série de críticas envolvendo questões ambientais e sociais que essa área de conhecimento não abrangeria de maneira satisfatória, para o presente artigo as ferramentas trazidas pelo marketing são de grande valia. Para Kotler (1999, p. 123), são inúmeras as ferramentas de marketing, assim como são muitos os autores que vem buscando classificá-las e torná-las mais facilmente distinguíveis. Nas palavras do autor, o conjunto das variáveis controláveis que as empresas podem utilizar para influenciar os consumidores é denominado “composto de marketing” ou “mix de marketing”. Este mix refere-se a “uma lista de possibilidades que estão ao alcance do marketing para permitir a implementação dos movimentos e ações da empresa junto ao mercado e, de certa forma, resumem todo o trabalho que a área pode fazer” (GONÇALVES E MORGADO, 1997, p. 62). Conforme dito, inúmeros foram os autores que elaboraram compostos de marketing, sendo os “Quatro Ps” possivelmente o mais conhecido. Apresentado no início da década de 60 por Mc Carthy, o composto se constitui de Product (produto), Price (preço), Place (ponto-devenda) e Promotion (promoção). Apesar da popularidade, tal classificação vem recebendo inúmeras críticas ao longo dos anos. A primeira se refere à ausência de serviços e atendimentos, como corridas de táxi, por exemplo, além de outros serviços que acompanham o produto, como a entrega, a instalação, o treinamento, etc. Diante disso, alguns autores sugerem a substituição de “produto” por um termo mais geral como “oferta”. Outra crítica refere-se à “ausência de embalagem” ou a necessidade de mais ênfase nela, embora, para muitos, esta esteja inserida no produto, sendo, portanto, um exagero a inserção de uma nova ferramenta. Por fim, tem sido questionada a ausência da categoria vendas pessoais, mas que, da mesma forma, é considerada exagerada por alguns autores por acreditarem que tal item esteja inserido em “promoção” (KOTLER, 1999, p. 123). As críticas descritas acima, somada a outras, levaram à formulação de novas ferramentas e de novos compostos de marketing, como, por exemplo, os “Sete Ps”. Dos quatro Ps já existentes adicionou-se a physical evidence (evidências físicas), process (processo) e people (pessoas). Apesar de uma postura pouco enfática com relação as críticas ao modelo de Mc Carthy, de todas elas, Kotler parece apenas avalizar a que se refere a estreita perspectiva dos “Quatro Ps”, ou melhor, uma visão de mercado partindo somente do ponto de vista do vendedor, e não do comprador. Para o autor, “um comprador, ao avaliar um produto ou serviço, pode não vê-lo da mesma maneira que o vendedor”. Portanto, os “Quatro Ps” podem ser mais bem compreendidos do ponto de vista do comprador, com os “Quatro Cs”. Segundo Lauterborn, que apresentou a idéia - também conhecida como “novo marketing mix” - mais importante que um produto ou serviço para ofertar é ter cliente para satisfazer, e, para tanto, é necessário proporcionar conveniências para torná-lo fiel. Portanto, para ele, cada ferramenta de marketing deve oferecer benefício ao consumidor. Sob esta perspectiva tem-se: consumers needs and wants (necessidades e desejos do cliente), cost to the consumer (custo para o consumidor), convenience (conveniência) e communication (comunicação). Diante deste quadro irresoluto, onde os debates acerca das ferramentas do marketing (e até mesmo sobre o próprio conceito de marketing) mantêm-se abertos, assume-se uma postura semelhante à expressa por Kotler quando afirma que “a questão não é se deveria haver quatro, seis ou dez Ps, mas qual estrutura é mais útil para projetar a estratégia de marketing”. Particularmente na temática proposta aqui, os compostos de marketing servirão como “caixas de ferramentas” que, da mesma forma que orientam o profissional de marketing em seu planejamento, direcionam o objetivo de analisar as estratégias de venda do setor varejista na venda de alimentos orgânicos. Logo, extraindo as ferramentas mais úteis dos compostos citados acima, busca-se estruturar um modelo capaz de captar satisfatoriamente as estratégias dos supermercados na venda de alimentos orgânicos. Neste primeiro momento, as ferramentas estruturadas por Mc Carthy e Lauterborn servirão de base na elaboração das estratégias dos supermercados. Kotler (1999, p. 128), visando anular algumas das críticas realizadas ao modelo dos Quatro Ps, apresenta uma análise pormenorizada de todas as ferramentas que compõem o modelo, que, para o presente artigo, torna-se de grande valia por oferecer mais orientações a respeito de cada ação que abarca os “Quatro Ps”: 1) Produto: variedade de produto, quantidade, design, características, nome de marca, embalagem, tamanhos, serviços, garantias e devoluções; 2) Preço: preço nominal, descontos, concessões, prazo para entrega, prazo para o pagamento e condições de crédito; 3) Promoção: promoção de vendas, propaganda, força de venda, relações públicas e marketing direto; 4) Praça: canais, cobertura, variedade, pontos-devenda, estoque e transporte. 1.2 VAREJO Assim como é possível extrair do marketing ferramentas que contribuem na discussão sobre as estratégias dos supermercados, o mesmo acontece restringindo o enfoque ao varejo. De maneira geral, “varejo” representa as atividades que abarcam o processo de venda de produtos e serviços para atender a uma necessidade pessoal do consumidor final (PARENTE, 2000, p. 22); diferente do atacadista, que destina suas vendas para clientes institucionais que, por sua vez, utilizam o produto para revenda ou para insumo em suas atividades industriais. O termo varejo é bastante amplo, tendo em vista que as instituições varejistas podem ser classificadas segundo: suas propriedades (independentes, redes, franquias, etc.), instituições com lojas (alimentícias, não-alimentícias e serviços) e instituições sem loja (de marketing direto, vendas diretas, máquinas de venda e varejo virtual). O importante para o presente artigo é que, assim como no marketing, os varejistas também possuem ferramentas específicas com as quais trabalham e, da mesma forma, organizam-nas em um “composto varejista”. Segundo Parente (2000, p. 31), o “composto varejista” refere-se a variáveis controláveis que o varejista articula a fim de conquistar a preferência dos consumidores, e é comumente conhecido como “Seis Ps”. Somado ao produto, preço, ponto-devenda e promoção (nomes equânimes ao composto de marketing descrito acima), são acrescentados presentation (apresentação) e people (pessoas). Quando se discute o varejo, vale apresentar a diferenciação entre produto, linhas de produtos, sortimento, variedade e profundidade, que cinde de maneira mais clara itens que comumente são tratados de maneira generalizada como “produto”. O “mix de produtos” é o conjunto de todas as mercadorias que o varejista comercializa (MORGADO E GONÇALVES, 1997, p. 129) e a “linha de produtos” é o conjunto de mercadorias que estão intimamente relacionadas, por atuarem de maneira semelhante, serem vendidas aos mesmos grupos de consumidores, serem comercializadas através de pontos-de-venda similares ou se enquadrarem nas mesmas faixas de preço (KOTLER, 1980 p. 32). O “sortimento” é o conjunto de todas as linhas e itens de produtos colocados à venda pelo varejista (MORGADO E GONÇALVES, 1997, p. 130); a “variedade” é o número de linhas de produtos com que a empresa trabalha, enquanto “profundidade” é o número de itens de cada linha de produtos. Outra questão relevante é que profundidade não está necessariamente ligada ao tamanho da loja. Segundo Morgado e Gonçalves (1997, p. 132), apesar dos hipermercados possuírem uma média de 12 mil itens, o dobro de um supermercado, não significa que o segundo possui menor profundidade, mas sim um número menor de linhas de produtos. O hipermercado possivelmente possui maior sortimento e maior variedade que o supermercado, mas não profundidade. Seguindo na descrição do composto de varejo, apresenta-se o “preço”, muito semelhante ao composto de marketing, exceção ao fato de afetar com mais rapidez a competitividade, o volume de vendas e as margens de lucratividade. Além disso, liga-se intimamente com a propaganda por estar fortemente (ou quase exclusivamente) apoiado nas ofertas de preço (PARENTE, 2000, p. 160). O ponto-de-venda diferencia-se bastante, pois se relaciona a área de influência, em outras palavras, a área geográfica na qual a loja se localiza. A promoção divide-se em três programas básicos: 1) propaganda: uma comunicação indireta e impessoal, transmitida através de uma mídia massificada fora da loja (por exemplo, jornais, revistas, televisão, Internet); 2) promoção de vendas: comunicação impessoal, direta ou indireta, que oferece algum valor extra ao consumidor (por exemplo, cupons, amostras, demonstração de produtos, etc.); e 3) publicidade: comunicação indireta e impessoal veiculada em alguma mídia com informações positivas ou negativas, sem pagamento por parte do varejista (PARENTE, 2000, p. 242). Os dois últimos itens do composto de varejo são: “pessoal” e “apresentação”. Segundo Parente (2000 p. 362), o primeiro é considerado como o item mais importante devido à constante interação entre clientes e os funcionários dos varejistas, destacando o treinamento e a motivação do “capital humano” como o patrimônio mais valioso da empresa. Por fim, “apresentação”, altamente relevante por ser justamente dentro da loja que o consumidor manifesta seu comportamento de compra e onde a apresentação é aplicada. Diante disso, as decisões sobre a loja (sua atmosfera, apresentação externa e interna, layout dos produtos, exposição dos produtos, etc.) devem visar construir uma boa imagem da loja, conquistando a preferência do público-alvo e estimulando uma maior produtividade de venda. Com a apresentação do composto de varejo se finda o primeiro tópico, de exposição e delimitação das ferramentas analíticas, e passa-se para a segunda parte do artigo - de formulação da metodologia de análise. Antes, porém, vale trazer um quadro resumido das ferramentas selecionadas para a análise pretendida. Tabela 1: Ferramentas selecionadas para a análise das estratégias dos supermercados 4 Ps do marketing • Produto • Preço • Ponto de venda • Novo composto de marketing (4 Cs) • Produto consumidor • Preço • Custo para o consumidor • Ponto de venda (ou praça) • Conveniência • Promoção Promoção • Comunicação • Apresentação • Pessoas • Necessidades e desejos do Composto de varejo (6 Ps) 2. FORMULAÇÃO DA METODOLOGIA DE ANÁLISE Diante do conjunto de ferramentas apresentadas acima e das inúmeras formas de dispô-las, passa-se a selecionar as mais indicadas e delimitar sua aplicação na elaboração do modelo de análise das estratégias dos supermercados na venda de alimentos orgânicos. 2.1 PRODUTO A primeira ferramenta a ser explorada é “produto”, presente tanto no composto de marketing como no composto de varejo. Para Kotler (1980, p. 224), produto é qualquer coisa que pode ser oferecida a um mercado para aquisição ou consumo, desde objetos físicos, serviços, lugares, até idéias. Restringindo a conceituação para a presente análise, consideraremos “produto”: todos os alimentos orgânicos dispostos na área de venda de um determinado supermercado. Partindo dessa delimitação será analisada a “variedade de produtos”, ou, mais especificamente, a profundidade, indo ao encontro da conceituação de supermercado como “um varejo generalista, que revende ao consumidor uma ampla quantidade de produtos (grifo nosso), dispostos de forma departamentalizada, no sistema de auto-serviço” (SILVEIRA E LEPSCH, 1997). Ainda referindo-se a esta ferramenta, também se contabiliza a “quantidade de marcas”, partindo da importância que estas possuem como influenciadoras no preço final dos produtos, devido à formação da concorrência, bem como a sua relação direta com a ampliação da quantidade de itens ofertados. Resumindo, a primeira ferramenta que compõe o modelo de análise das estratégias dos supermercados é “produto”, cindida em: 1) profundidade (quantidade de itens) e 2) quantidade de marcas (tanto para alimentos orgânicos processados quanto para os perecíveis1). Iniciando a análise pela profundidade, baseando-se em observações realizadas em supermercados de diversas capitais do país, as lojas dividem-se em: No referente à FLV orgânicos: No referente a processados orgânicos: • Oferta inferior a 30 itens; • Oferta inferior a 40 itens; • Oferta variando entre 31 e 50 itens; • Oferta variando entre 41 e 80 itens; • Oferta superior a 50 itens • Oferta superior a 80 itens Da mesma forma, quando analisada a quantidade de marcas, cada linha de produtos permite dividir os supermercados em: No referente à FLV orgânicos: No referente a processados orgânicos: • Oferta inferior a 5 marcas; • Oferta inferior a 5 marcas; • Variando entre 6 e 10 marcas; • Variando entre 6 e 12 marcas; • Oferta superior a 10 marcas • Oferta superior a 12 itens 2.2 PONTO DE VENDA OU PRAÇA A segunda ferramenta selecionada2 é definida como “ponto” ou “praça”, baseada no termo place presente no composto de marketing3. Esta ferramenta refere-se à própria loja, parte importante daquilo que se oferece ao cliente, 1 Vale ressaltar que no presente artigo considerou-se FLV orgânicos como uma “linha de produto”, tendo em vista que, de maneira geral, são vendidos através de pontos de venda similares e possuem uma faixa de preço análoga; e os produtos processados orgânicos outra linha de produtos pelos mesmos motivos dos FLV. 2 Ressaltando que o item “preço” não foi levado em consideração devido às negociações envolverem questões que fogem do controle dos supermercados, como relacionadas a fatores climáticos que podem modificar o preço de um estado/região para o outro (a), bem como itens produzidos somente em determinadas regiões, aumentando o custo para lojas que se encontram distantes destas regiões. 3 No novo composto de marketing o termo “conveniência” substitui “praça” e “ponto”. tendo em vista que o consumidor, estando em um ambiente confortável e acolhedor, tende a comprar mais e com maior freqüência (SHIMP, 2002, p. 342). De maneira geral, a utilização de ponto ou praça refere-se à totalidade de uma loja, ou seja, sua localização, horários de funcionamento, departamentalização, planograma, etc. Contudo, levando em consideração que a análise recai nos produtos orgânicos, a análise de ponto de venda restringese somente ao local onde estão estes produtos. No caso dos produtos orgânicos in natura compreende o setor hortifruti dos supermercados, normalmente com nítida separação frente aos demais e fazendo uso de equipamentos de exposição específicos, como gôndolas refrigeradas. Neste caso a análise compreende: 1) o espaço destinado aos FLV orgânicos: qual é o espaço destinado aos orgânicos in natura em relação aos não orgânicos (convencionais, hidropônicos, etc.); 2) separação dos FLV: observa-se se os FLV orgânicos estão acondicionados de forma que o consumidor possa diferenciá-los dos demais4; 3) condições gerais: informações relacionadas à iluminação, precificação, estado geral dos alimentos, etc. No que tange os produtos processados, os supermercados assumem estratégias variadas na exposição. Algumas lojas optam por separar os orgânicos processados dos demais, ou seja, semelhante aos FLV, expõe-nos em um espaço específico. Em contra partida, a maioria delas dispõê-los em setores variados, misturados com os produtos processados não-orgânicos (por exemplo, arroz orgânico juntamente com os demais tipos, hambúrguer orgânico no freezer de carnes, etc.). Nesse segundo caso, uma análise de ponto de venda compreenderia a totalidade da área de venda de um supermercado, podendo chegar a 16 mil metros no caso de hipermercados, pouco contribuindo na pesquisa, tendo em vista à homogeneização das estratégias no tocante a exposição dos alimentos processados, sobretudo em supermercados pertencentes a grandes redes. Portanto, a análise de ponto-de-venda restringese apenas aos FLV orgânicos. 4 Parte-se do pressuposto que a estratégia de separar os orgânicos dos não-orgânicos favorece o consumidor no ato da compra, portanto sendo esta desejável, contudo, vale ressaltar, que esta é uma questão em aberto, embora a grande maioria dos supermercados opte pela separação. Diante dos padrões encontrados em supermercados de diversas capitais do país, foram divididos da seguinte forma: • Supermercados sem espaço específico destinado aos alimentos orgânicos, misturando-os com os demais e dificultando a visibilidade por parte do consumidor; • Supermercados que, apesar de destinarem espaço para os orgânicos, não separam todos os produtos, deixando itens orgânicos misturados com os demais; • Supermercados que destinam espaço exclusivo aos orgânicos e tornam claro ao consumidor se estão ou não comprando FLV orgânicos. 2.3 PROMOÇÃO A última ferramenta de marketing analisada é a “promoção”. Para Shimp (2002, p. 364) tal item é “absolutamente crucial para a criação de uma consciência de marca”, bem como para “tirar os produtos dos depósitos dos distribuidores e prateleiras das lojas”. Complementando tal idéia, Kotler (1987, p. 380) afirma que atualmente uma empresa não pode restringir-se a desenvolver um bom produto ou ter bons preços, mas deve possuir um eficiente programa de comunicação e promoção, pois “toda empresa é forçada, pela própria natureza dos clientes e da concorrência, a adotar o papel de comunicador”. Esse “papel de comunicador” pode ser realizado de inúmeras formas, ou melhor, através de inúmeros instrumentos do composto promocional, que tem variado conceitualmente nos últimos anos de autor para autor. Para Shimp (2002, p. 364), os instrumentos são: 1) Venda pessoal: comunicação cujo vendedor informa e educa buscando influenciar nas opções de compra do consumidor (2002, p. 365); 2) Publicidade e Propaganda: comunicação paga por um patrocinador envolvendo meios de comunicação de massa; 3) Relações Públicas: comunicação feita assim como a publicidade, porém com o espaço não sendo pago diretamente pela empresa; 4) Promoção de vendas: atividade que procura estimular ações rápidas dos compradores, ou seja, promover vendas imediatas; 5) Marketing de patrocínio: promover interesses da empresa associando-a a um evento específico (por exemplo, um campeonato ou uma causa caritativa); 6) Comunicação de ponto-de-venda: inclui toda sinalização para influenciar a decisão de compra no ponto-de-venda. Diante da gama de instrumentos disponíveis no item “promoção”, sugere-se um recorte que permite acompanhar o nível de análise a partir das demais ferramentas destacadas ao longo do artigo. A venda pessoal não é aplicada por não ser uma ação passível de ser encontrada em todos os supermercados pesquisados. Raras são as lojas que fazem uso de funcionários (vendedores) no setor hortifruti, sobretudo com a colocação das balanças junto aos check-outs (caixas) mais recentemente. A publicidade e as relações públicas extrapolam os limites do “ponto de venda” (delimitado acima no item 2.2). Ambas geralmente utilizam meios de comunicação de massa, externos a loja, enquanto que o marketing de patrocínio, por sua vez, está relacionado a associações que, da mesma forma, se dão fora do ponto-devenda. Diante desse quadro, são utilizados os dois instrumentos restantes: comunicação de ponto-de-venda e promoção de vendas. O primeiro ligado a pôsteres, displays, quadros, cartões e outros materiais visuais colocados no ponto-de-venda, e o segundo referindo-se a ações como: oferta de preço no aniversário da loja, promoções do tipo “compre um produto e receba outro grátis”, dentre outras (somente ações dispostas no local onde estão os produtos). Considerando os dois instrumentos de promoção presentes no ponto-devenda, os supermercados foram divididos da seguinte forma: • Lojas que desconsideram totalmente a promoção de ponto-de-venda; • Lojas com peças no ponto-de-venda, contudo, problemáticas no que tange a sinalização e comunicação; • Lojas que utilizam ferramentas de promoção e conseguem sinalizar o consumidor quanto à presença de alimentos orgânicos; • Lojas com peças de comunicação eficientes que, além de sinalizar, comunicam o consumidor a respeito de algo específico a respeito dos orgânicos. 2.4 ESTRATÉGIAS NA VENDA DE ALIMENTOS ORGÂNICOS – MÍNIMA, BÁSICA E MÁXIMA Outras contribuições no intuito de analisar as estratégias dos supermercados são trazidas por Richter et al. (2001) e Guivant (2004). Richter et al. (2001) identificam três estratégias de venda a partir de pesquisas realizadas em supermercados dos Estados Unidos e da Europa Ocidental no ano de 2000. A primeira - denominada estratégia “mínima” - é encontrada em supermercados cuja quantidade de produtos orgânicos é limitada, não havendo anúncios destes produtos separadamente e não sendo visualmente dominantes na loja. Mais do que isso, a empresa não possui marca própria de produtos orgânicos, nem apresenta um perfil orgânico ou ambientalista. A segunda estratégia – “básica” - envolve uma quantidade maior de produtos naturais e/ou orgânicos. Embora haja comunicação ressaltando o compromisso com tais produtos, a seleção destes se dá somente através de critérios de lucro, sem nenhum tipo de subsídio. Por fim, a terceira estratégia, denominada “máxima”, enquadra-se em empresas onde há maior valorização dos produtos naturais e orgânicos, somado ao apoio aos produtores, com intuito de manter ou aumentar a oferta, e ao treinamento dos funcionários a fim de orientar os consumidores a respeito dos benefícios do consumo de tais produtos. Guivant (2004), por sua vez, reelabora as estratégias descritas por Richter et al., acreditando serem limitadas quando se analisa os supermercados no Brasil, deixando muitos deles concentrados em uma mesma categoria da classificação e, conseqüentemente, homogeneizando práticas que são diferentes e difusas quando vistas mais profundamente. A autora, dentre outras modificações, subdivide as estratégias em fraca e forte, apresentandoas da seguinte maneira: • Estratégia mínima fraca: menos de 50 produtos, compostos principalmente por produtos secos; • Estratégia mínima forte: menos de 50, porém com a presença de produtos frescos; • Estratégia básica fraca: de 50 a 200 produtos orgânicos, principalmente produtos secos; • Estratégia básica forte: de 50 a 200 produtos, incluindo produtos frescos; • Estratégia máxima fraca: refere-se a supermercados que oferecem até 400 artigos orgânicos, predominantemente frescos, e com exposição de destaque em refrigeradores. Mais do que isso há uma preocupação do supermercado com a qualidade e com a certificação dos produtos, além de uma clara separação entre orgânicos, convencionais e hidropônicos, com alguma sinalização referente ao tipo de produto. Nesse caso, não há nenhuma publicidade especial em torno dos orgânicos e as negociações ocorrem diretamente com os produtores. • Estratégia máxima forte: compromisso especial com os orgânicos, além de uma equipe treinada, motivada e educada, somada às outras características da “estratégia máxima fraca”. A classificação proposta por Guivant (2004), de fato, leva em consideração a realidade encontrada no mercado brasileiro, porém, não elimina completamente a possibilidade de que o mesmo supermercado tenha ações em diferentes estratégias. Por exemplo, apesar de possuir uma equipe bem treinada, o supermercado pode possuir uma oferta pequena de orgânicos, menor que 50 itens, portanto máxima em um aspecto e mínima noutro. Pensando nisso, a fim de promover a autonomia dos itens levados em consideração, propõe-se realizar uma somatória de pontos em cada uma das categorias propostas. Ou seja, cada item individualmente recebe uma pontuação independentemente dos demais, possibilitando abarcar todas as estratégias dos supermercados, por mais heterogenias que sejam. Portanto, apresentando todos os itens que são levados em análise com sua respectiva pontuação tem-se: Tabela 2: Quadro de análise das estratégias dos supermercados Profundidade FLV orgânicos: Pontos Processados orgânicos Pontos Oferta inferior a 30 itens 5 Oferta inferior a 40 itens 5 Oferta variando entre 31 e 50 itens 10 Oferta variando entre 41 e 80 itens 10 Oferta superior a 51 itens 20 Oferta superior a 81 itens 20 Marcas FLV orgânicos: Pontos Processados orgânicos Pontos Oferta inferior a 5 marcas 0 Oferta inferior a 5 marcas 0 Variando entre 6 e 10 marcas 5 Variando entre 6 e 12 marcas 5 Oferta superior a 11 marcas 10 Oferta superior a 12 itens 10 FLV orgânicos Ponto-de-venda Supermercados sem espaço Pontos Promoção Lojas que desconsideram Pontos específico destinado aos alimentos orgânicos, misturando-os com os totalmente a comunicação de ponto0 0 de-venda; demais e dificultando a visibilidade por parte do consumidor; Supermercados que, apesar de destinarem espaço para os Lojas com peça de sinalização no 5 ponto-de-venda, contudo, orgânicos, não separam todos os problemáticas no que tanga a produtos, deixando itens orgânicos sinalização e comunicação; 5 misturados com os demais; Supermercados que destinam espaço exclusivo aos orgânicos e Lojas que utilizam ferramentas de 15 promoção e conseguem sinalizar o tornam claro ao consumidor se consumidor quanto à presença de estão comprando FLV orgânicos ou alimentos orgânicos. 10 não. Lojas com peças de comunicação eficientes que, além de sinalizar, comunicam o consumidor a respeito 15 de algo específico a respeito dos orgânicos. A soma de pontos se dá levando em consideração apenas a análise de FLV orgânicos ou somados aos processados orgânicos. No primeiro caso, os supermercados que somarem entre 01 e 14 pontos são considerados detentores de uma estratégia fraca, enquanto os que obtiveram de 15 a 29 pontos enquadraram-se em uma estratégia denominada média / fraca. Já os supermercados que somarem de 30 a 44 pontos são inseridos na estratégia média, enquanto uma pontuação entre 45 a 59 pontos evidencia uma estratégia média / forte. Por fim, os que obtiveram 60 pontos, ou seja, soma máxima em todos os itens, classificam-se como detentores de uma estratégia forte. No segundo caso, abarcando tanto produtos orgânicos in natura quando os processados, os supermercados que somarem até 29 pontos são considerados detentores de uma estratégia fraca5, enquanto os que obtiveram de 30 a 49 pontos enquadraram-se em uma estratégia denominada média / 5 Tanto no caso da análise de FLV como na análise de FLV e processados, os supermercados que não somarem pontos são considerados “sem estratégia”. fraca. Já os supermercados que somarem de 50 a 69 pontos são inseridos na estratégia média, enquanto uma pontuação entre 70 a 89 pontos demonstra uma estratégia média / forte. Concluindo, os que obtiveram 90 pontos, ou seja, soma máxima em todos os itens, classificam-se como detentores de uma estratégia forte. Abaixo segue uma tabela que resume a pontuação e as estratégias possíveis nas duas análises: Tabela 3: Pontuação geral das estratégias de venda FLV orgânicos FLV + processados orgânicos Pontuação Estratégia Pontuação Estratégia 0 – 14 Fraca 0 – 29 Fraca 15 – 29 Média/Fraca 30 - 49 Média/Fraca 30 – 44 Média 50 – 69 Média 45 – 59 Média/Forte 70 – 89 Média/Forte 60 Forte 90 Forte 3. CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS Na terceira parte do artigo faz-se necessário discorrer a respeito de como se dá a coleta dos dados e o porquê de tais escolhas. As informações referentes ao número de itens, número de marcas, ponto de venda e propaganda são obtidas diretamente na gôndola dos supermercados, sem a necessidade de agendar entrevistas ou solicitar documentos dos supermercados. Esta técnica nas Ciências Sociais é chamada de “Observação Direta” onde, nas palavras de Quivy e Campenhoudt (1998, p. 164), “(...) o próprio investigador procede diretamente a recolha das informações (...). Apela diretamente ao seu sentido de observação”. Segundo Yin (2001, p. 115), as observações podem ser informais ou formais. No primeiro caso a observação é realizada ao longo da visita de campo, incluindo os momentos em que estão sendo coletadas outras evidências, enquanto que no segundo, os dados são coletados com mais rigor através de “protocolos de observação”. No presente artigo utiliza-se o método de observação direta formal, tendo em vista limitações observadas em alguns outros métodos. Segundo Silva (2003, p. 38), um supermercado por ela pesquisado, aqui denominado como supermercado A, possuía na época 700 produtos orgânicos cadastrados (dados obtidos através de análise de documentação); enquanto que outro supermercado, aqui B, contava com 543 produtos orgânicos na lista. Entretanto, segundo a mesma autora, dos 543 produtos orgânicos cadastrados pelo supermercado B, 319 eram do setor hortifruti e somente 108 estavam presentes na oferta semanal. Da mesma forma o supermercado A, cujo cadastro possuía 700 produtos, 249 do setor hortifruti, apenas 111 estavam presentes na oferta da semana. Esse exemplo mostra que o número de cadastro ou estoque pode esconder informações importantes devido à dificuldade do pesquisador na conferência dos dados. Além disso, quando se trata de redes, torna-se difícil saber como se dá a divisão dos produtos cadastrados dentre as diferentes lojas. Assim, um grande número de produtos e marcas cadastradas ou no estoque não representa, necessariamente, acesso aos mesmos por parte dos consumidores. Outra questão que pode gerar enganos parte das informações obtidas dos representantes do setor de orgânicos nos supermercados (através de entrevistas). Muitas vezes há discrepâncias entre as informações fornecidas por eles e a realidade observável na gôndola. Como exemplo pode-se citar um supermercado pesquisado em Florianópolis-SC, denominado aqui de supermercado C, que, segundo o chefe do departamento de hortifruti, possuía 35 a 40 itens dispostos nas gôndolas, de 5 marcas diferentes, quando na realidade encontraram-se apenas 24 itens de 2 marcas; e outro, denominado supermercado D, cujo responsável afirmou haver 30 itens, enquanto foram observados 14. Portanto, devido às limitações e possíveis falhas que possam vir a ocorrer na análise de estoque ou cadastro, bem como em entrevistas com funcionários, surge a necessidade da conferência direta na gôndola através de uma “guia de observação”, ou seja, assumindo a perspectiva semelhante a de um consumidor. 4. CONCLUSÃO Na primeira parte do artigo pode-se observar que a produção e o consumo de alimentos orgânicos apresentam uma trajetória de crescimento, sobretudo a partir da década de noventa. O mercado atualmente movimenta US$ 36,8 bilhões, valor duas vezes superior ao registrado no ano de 2000, enquanto que a produção ultrapassa os 30 milhões de hectares em mais de 120 países (IFOAM, 2008). Vale ressaltar que o aumento do consumo de alimentos orgânicos está inserido em um contexto mais amplo de grandes transformações nos hábitos alimentares ocorridas na sociedade. Tais transformações podem ser discutidas através de algumas teorias advindas da Sociologia Ambiental, como a Teoria da Sociedade de Risco do autor alemão Ulrich Beck, que possibilita inserir os orgânicos no centro da discussão a respeito da problemática da sensibilização social para os riscos alimentares, dentro de um debate maior sobre riscos incertos de grandes conseqüências para o meio ambiente e a sociedade. A doença da vaca-louca (encefalopatia espongiforme bovina), polêmicas a respeito dos alimentos geneticamente modificados, a gripe aviária, doenças ligadas a ingestão de alimentos cuja produção é realizada com uso intensivo de insumos químicos (pesticidas, herbicidas e fungicidas) são exemplos de riscos ligados à alimentação que tem transformado o consumo e despertado desconfiança por parte da população dos países onde as organizações de consumidores são mais fortes. Com o crescimento do mercado de alimentos orgânicos como uma resposta às questões apresentadas acima, os supermercados passaram a vislumbrar tais alimentos como parte importante num grupo de alimentos considerados seguros, que fomentou o crescimento do consumo ligado a um “estilo de vida saudável” e que se apresenta altamente lucrativo. Nesse contexto os supermercados assumem o papel de principais fornecedores de alimentos orgânicos no Brasil e no mundo. Redes tradicionais dos Estados Unidos e da Europa, como a Safeway, Albertson´s, Kroger, Rewe, etc., têm aumentado gradativamente a oferta de orgânicos, além da abertura de novos supermercados exclusivamente orgânicos, sobretudo na Alemanha, e de lojas das redes já conhecidas, como a gigante Whole Foods, por exemplo. No Brasil, apesar de 70 a 90% de a produção ser destinada à exportação, o mercado interno depende basicamente da venda em supermercados. Particularmente no mercado brasileiro esse processo se deu, inicialmente, devido à adoção de diferentes estratégias para a venda de alimentos orgânicos por parte de algumas grandes redes nas principais capitais do país; enquanto que atualmente notase que tal tendência se espalha, encontrando-se tais alimentos também em supermercados de menor porte em diversos bairros das grandes cidades. Apesar da importância crescente dos supermercados, pesquisas referentes ao tema apresentamse - em muitos casos – rudimentares, pouco avançando nas implicações sociais, políticas e econômicas que a entrada do setor varejista representa no consumo de alimentos “verdes”. Nesse caso, os supermercados transformaram notadamente as relações entre os atores sociais envolvidos na produção e venda de orgânicos, tornando-as mais complexas com a substituição da venda direta – baseada na confiabilidade entre produtor e consumidor – por uma venda menos pessoal e de maiores proporções. Tais transformações oportunizaram aos produtos orgânicos competir verdadeiramente com os não orgânicos, inserindo-os definitivamente como parte importante de um novo estilo de vida – atento à saúde e/ou ao meio ambiente. Portanto, compreender as estratégias dos supermercados é compreender o consumo de maneira geral, partindo do pressuposto que a relação entre consumidor e supermercado se dá numa “via de mão dupla”, numa troca de necessidades, desejos e interesses. O método de análise das estratégias de venda dos alimentos orgânicos no Brasil proposto no presente artigo contribui mapeando estratégias e, conseqüentemente, parte importante da venda de orgânicos em contextos variados, partindo de pequenas lojas, até grandes redes em espaços geográficos variados. 5. Bibliografia ARAÚJO, C. A irresistível onda dos orgânicos. ISTO É DINHEIRO. Disponível em: http://www.terra.com.br/istoedinheiro/rural/capa07.htm CZINKOTA, M. et al. Marketing: as melhores práticas. Porto Alegre: Bookman, 2001. DUNNE, P. In: CZINKOTA, M. et al. Marketing: As melhores práticas. Porto Alegre: Bookman, 2001 GUIVANT, J. S. Os supermercados na oferta de alimentos orgânicos: apelando ao estilo de vida ego-trip. Ambiente & sociedade. Campinas, Unicamp: v.VI, n.2, p.63 - 82, 2003. _____________. Supermarkets, organics and the ego-trip consumer. Paper presented at the Seminar on Organic Consumption: Kuala Lumpur, Malaysia, 2004. KOTLER, P. Marketing. São Paulo: Atlas, 1980. KOTLER, P. Marketing para o século XXI. São Paulo: Editora Futura, 1999 MORGADO, M. G. GONÇALVES, M. N. Varejo: Administração de Empresas Comerciais. São Paulo: Editora Senac, 1997. ORGANIC MONITOR. Disponível em http://www.organicmonitor.com/ PARENTE, J. Varejo no Brasil. São Paulo: Editora Atlas Sa, 2000 QUIVY, R. e CAMPENHOUDT, Manual de investigação em ciências sociais. Lisboa: Gradiva, 1998 RICHTER, T. et al. Marketing approaches for organic products in supermarkets: case studies from Western Europe and the United States of America conducted in 2000. Basel: Research Institute of Organic Agriculture. 2001. ROCHA, A. da. CHRISTENSEN, C. Marketing: teoria e prática na Brasil. São Paulo: Altas, 1987. SILVEIRA, J. A. G.; LEPSCH, S. L. Preferências do consumidor como determinantes das estratégias dos supermercados brasileiros. FACEF Pesquisa, v. 6, p. 43-55, 2003. SILVA, A. T. Riscos Alimentares e Produtos Orgânicos: o papel dos supermercados na construção social dos consumidores de alimentos orgânicos em Florianópolis. 2003. Graduação em Ciências Sociais. UFSC. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis SHIMP, T A. In: CZINKOTA, M. et al. Marketing: As melhores práticas. Porto Alegre: Bookman, 2001 URBANY, J. E. In: CZINKOTA, M. et al. Marketing: As melhores práticas. Porto Alegre: Bookman, 2001 WILLER, H.; YUSSEFI, M..(eds) The World of Organic Agriculture 2007. Disponível em: http://www.organic-world.net/2007.asp WILLER, H.; YUSSEFI, M..(eds) The World of Organic Agriculture Statistics and Emerging Trends 2008. Disponível em: http://shop.ifoam.org/bookstore/download_preview/statistics2008_preview.pdf YIN, ROBERT. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2001.