JAQUELINE GARCIA BONILHA INFECÇÕES ODONTOGÊNICAS DE ORIGEM ENDODÔNTICA: Estudo retrospectivo de 24 meses. Londrina 2014 JAQUELINE GARCIA BONILHA INFECÇÕES ODONTOGÊNICAS DE ORIGEM ENDODÔNTICA: Estudo retrospectivo de 24 meses. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Medicina Oral e Odontologia Infantil da Universidade Estadual de Londrina. Orientador: Prof. Dr. Glaykon Alex Vitti Stabile. Londrina 2014 JAQUELINE GARCIA BONILHA INFECÇÕES ODONTOGÊNICAS DE ORIGEM ENDODÔNTICA: Estudo retrospectivo de 24 meses. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Medicina Oral e Odontologia Infantil da Universidade Estadual de Londrina. BANCA EXAMINADORA ____________________________________ Prof. Dr. Glaykon Alex Vitti Stabile Universidade Estadual de Londrina ____________________________________ Prof. Prof. Dr.Cecilia Luiz Pereira Stabile Universidade Estadual de Londrina Londrina, 14 de Novembro de 2014. DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais Erval Bonilha e Sueli Garcia Bonilha, pois sem o apoio e incentivo deles não chegaria até aqui. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à Deus por me proporcionar essa incrível experiência da Universidade e por ter sido tão fiel, permanecendo todo tempo ao meu lado me dando forças. Agradeço aos meus pais, à quem dedico este trabalho, por todo investimento, financiamento e por terem sonhado esse sonho juntamente comigo. Pai e mãe, obrigada por acreditar em mim e por não medirem esforços pra que eu chegasse até aqui. Vocês foram meu referencial e meu porto seguro. Foram também incansáveis na tarefa de animar, apoiar, incentivar e orar. Obrigada porque vocês viram em mim algo que eu nem mesma consigo ver e por acreditar num futuro cheio de conquistas. Eu amo vocês! Agradeço ao meu orientador, não só pela constante orientação neste trabalho, mas sobretudo pela sua amizade e apoio que me fizeram crecer e aprender a fazer meu trabalho com excelência. Aos familiares e amigos próximos que sempre oraram, me animaram e torceram pelo meu sucesso. Jamais me esquecerei! Ao meu namorado Aron Mello e sua família por terem me acolhido de uma forma tão especial. Obrigado por me amarem, por se preocurarem com meu bem-estar e por todas as orações. Vocês são a minha família aqui. Amo vocês! Gostaria de agradecer também algumas pessoas que contribuíram para que esse seonho se concretizasse: Ao Dr. Rogério Bittencourt e família que me recebiam em seu consultório nas férias para me ensinar com tanto zelo um pouco mais da nossa profissão; Ao Carlos A. Camargo e família pelos incontáveis remédios e ânimo dados à mim; Ao Dr. Alcides Silva e família por serem meus fiadores e amigos durante esses cinco anos; Meus tios Gilmar e Cristina, minha prima Emili e seu esposo Prates que são minha segunda casa. Obrigada por estarem presentes mesmo estando longe; À minha dupla de clínica Rômulo Marcato pelos inúmeros desabafos e por compartilhar cada passo dessa caminhada. Cada um tem um espaço especial em meu coração. “Não tenho palavras pra agradecer Tua bondade; dia após dia me cercas com fidelidade. Nunca me deixes esquecer que tudo que tenho, tudo que sou e o que vier a ser, vem de Ti, Senhor.” Ana Paula Valadão/Diante do Trono BONILHA, Jaqueline Garcia; STABILE, Glaykon Alex Vitti. Infecções odontogênicas de origem endodôntica: Estudo retrospectivo de 24 meses. 2014. 25 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Odontologia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2014. RESUMO Infecções odontogênicas são condições clínicas caracterizadas pela disseminação do processo infecioso aos tecidos adjacentes e espaços fasciais da região de cabeça e pescoço a partir de um foco dentário. Dentre estas se destaca a de origem endodôntica. O objetivo deste trabalho foi traçar um perfil epidemiológico dos pacientes acometidos pelo referido quadro clínico que deram entrada em um hospital de nível terciário, atendidos no período de abril de 2012 a março de 2014. Foram identificados 40 pacientes, dos quais, 90% recebeu atendimento prévio em outros serviços, 60% eram do sexo feminino e a faixa de etária mais acometida foi entre 10 a 19 anos. A região posterior da mandíbula foi principalmente afetada com ligeira preferência pelo lado direito. Relatos de doenças sistêmicas concomitantes estavam presentes em 40% das entrevistas e vícios foram relatados em 25% dos casos, porém ambas as situações não interferiram na permanência hospitalar (p=0,820 e p=0,964 respectivamente). O tratamento instituído consistiu em drenagem cirúrgica imediata em 93% dos pacientes, associada a antibioticoterapia endovenosa empírica em 92,5% dos casos e a remoção imediata do elemento causal em 77,5% dos casos ou encaminhamento para tratamento endodôntico do mesmo nos casos restantes após alta hospitalar. A média de internação hospitalar foi de 6 dias, houve necessidade de reintervenção em apenas 1 paciente (2,5%) e nenhum caso evoluiu para óbito Palavras-chave: Cárie dentária. Celulite. Infecção focal dentária. BONILHA, Jaqueline Garcia; STABILE, Glaykon Alex Vitti. Dental infections of endodontic origin: a retrospective study of 24 months. 25 pages. Completion of course work (Undergraduate Dentistry) - State University of Londrina, Londrina, 2014. ABSTRACT Odontogenic infections are clinical conditions characterized by the spread of infectious adjacent tissues and fascial spaces of the head and neck from a dental focus process. The objective of this study was to establish an epidemiological profile of patients affected by such clinical lodged in a tertiary care hospital, treated between April 2012 to March 2014. 40 patients, of whom 90% received prior service in other services, 60% were female and the most affected age group was between 10-19 years were identified. The posterior mandible was primarily affected with slight preference for the right side. Reports of concomitant systemic diseases were present in 40% of interviews and vices were reported in 25% of cases, but both situations did not affect hospital stay (p = 0.820 and p = 0.964 respectively). The treatment consisted of immediate surgical drainage in 93% of patients, associated with empirical intravenous antibiotic therapy in 92.5% of cases and the immediate removal of the causative factor in 77.5% of cases referral to endodontic treatment or the same in all other cases after hospital discharge. The mean hospital stay was 6 days, there was need for reintervention in only 1 patient (2.5%) and no patient died. Key-words: Tooth decay. Cellulite. Dental focal infection. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Gráfico 1 – Distribuição do gênero por faixa etária de pacientes diagnosticados com infecção odontogênica ............................................................................................. 20 Gráfico 2 – Prevalência de sinais e sintomas de pacientes diagnosticados com infecção odontogênica ............................................................................................. 21 LISTA DE TABELAS Quadro 1 – Antibioticoterapia empírica adorata ...................................................... 22 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CTBMF – Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial EV – Endovenoso HURNP – Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná PCR – Proteína C Reativa PSO – Pronto Socorro Odontológico UEL – Universidade Estadual de Londrina UTI – Unidade de Terapia Intensiva SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12 2 DESENVOLVIMENTO ........................................................................................... 14 2.1 METODOLOGIA....................................................................................................... 14 2.1 RESULTADOS......................................................................................................... 14 2.1 DISCUSSÃO............... ............................................................................................ 17 3 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 23 4 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 24 12 1 INTRODUÇÃO As infecções odontogênicas são um importante problema de saúde pública (WANG, 2005; TOPAZIAN, 2009; MARTINI 2010; JUNDT, 2012). Elas derivam dos elementos dentários e podem se disseminar para os processos alveolares e para os tecidos profundos da face, da cavidade oral, da cabeça e do pescoço, colocando a vida em risco ao envolver espaços fasciais profundos e comprometendo vias aéreas (HUPP, 2009; NETO 2009). Dentre as causas como doenças periodontais, fraturas, pós-cirurgias e pericoronarites, se destacam as de origem endodôntica (WANG, 2005; MARTINI, 2010; DIAS, 2010; NOLASCO, 2012). Estudos sobre a microbiologia dessas infecções têm demonstrado uma composição polimicrobiana, ou seja, envolvem bactérias aeróbias e anaeróbias que fazem parte da flora normal da cavidade oral que, quando obtêm acesso aos tecidos mais profundos, causam infecções odontogênicas (HUPP, 2009). Quanto maior a virulência dos microrganismos causadores deste processo, ou quanto menos eficientes os mecanismos de defesa do hospedeiro, maior a probabilidade de que o paciente desenvolva uma infecção grave (DIAS, 2010; AZENHA et al. 2012). Outros fatores também influenciam esse processo tais como a anatomia local, demora na busca por atendimento, conduta e antibioticoterapia iniciais inadequados. (SENNES et al. 2002; AZENHA et al. 2012; JUNDT, 2012). A disseminação da infecção poderá ocorrer em várias direções, contudo caminha ao longo das linhas de menor resistência da face podendo se propagar por continuidade (angina de Ludwig, mediastinite) ou a distancia, sendo as mais frequentes a trombose do seio cavernoso, o abscesso cerebral, meningite e sepse, podendo evoluir para óbito (SENNES et al. 2002; WANG 2005; NETO 2009; MATHEW, 2012). A descoberta da penicilina mudou significativamente o tratamento e a morbidade das infecções odontogênicas e, desde então, vem sendo descrita e usada pelos profissionais principalmente associada à intervenção cirúrgica (drenagem) e remoção da causa (TOPAZIAN, 2006; DIAS, 2010; VELASCO & SOTO, 2012). Estudos amplos e relatos sobre 13 infecções em estágios avançados ainda são escassos no Brasil (MARTINI, DIAS 2010). Essa pesquisa tem por objetivo traçar um perfil epidemiológico dos pacientes atendidos no Hospital Universitário Regional Norte do Paraná (HURNP). Esse perfil permitirá a identificação de fatores comuns que propiciam o aparecimento do quadro clínico em questão, fatores agravantes, avaliação da eficácia do protocolo de tratamento adotado, além de nos possibilitar uma previsão de futuros resultados. 14 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 METODOLOGIA O projeto de pesquisa foi encaminhado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina (UEL). O presente estudo se baseia em uma análise retrospectiva de 24 meses, período de abril de 2012 a março de 2014, dos pacientes atendidos pela equipe de Residência em Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial (CTBMF) no Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná (HURNP), que deram entrada a este serviço com diagnóstico de infecção odontogênica e que receberam atendimento da referida equipe. Durante o período de coleta, 78 pacientes deram entrada no serviço, sendo excluídos os que apresentavam foco infeccioso de origem nãoendodôntica, prontuários que não estavam completamente preenchidos e pacientes que não foram atendidos pela referida equipe de residentes, somando 38 exclusões. As infecções de origem endodôntica somaram 51,3% da amostra inicial e 40 pacientes foram admitidos no estudo (n=40). Para a coleta de dados foi realizada uma busca ativa destes prontuários e suas informações foram organizadas em uma tabela no Programa Microsoft Excel 2010. Para a análise utilizamos a técnica estatística para verificação dos resultados através do teste t-Student e ANOVA pelo Programa IBM SPSS Statistics 20 com Significância estabelecida em P<0,05. 2.2 RESULTADOS Dos 40 pacientes incluídos na pesquisa, 60% eram do sexo feminino, a faixa de idade prevalente foi dos 10 aos 19 anos (média de idade de aproximadamente 28 anos), 55% eram solteiros, 42,5% eram casados e 2,5% declarou viuvez. Quanto à condição de saúde geral, 39% afirmaram fazer uso regular de drogas lícitas ou ilícitas e 60% (24 pacientes) relataram problemas sistêmicos, sendo que 75% deles estavam sob acompanhamento médico e 15 compensados sistemicamente. Os relatos mais comuns eram de hipertensão arterial (15%), diabetes mellitos (10%) e pacientes com necessidades especiais (10%). Apenas 2 pacientes (5%) relataram ser soro positivo e ambos estavam compensados sistemicamente. Aproximadamente 90% dos pacientes procuraram atendimento prévio em diferentes níveis de atenção à saúde, destes, 72% passaram por um serviço, 15% por 2 serviços e 3% por 3 serviços antes de dar entrada no HURNP. Os serviços mais procurados foram o Pronto Socorro Odontológico (PSO) com 21 atendimentos prévios, Unidade Básica de Saúde com 9 atendimentos, consultório particular com 5, Centro de Especialidades Odontológicas com 3 atendimentos e a Clínica Odontológica Universitária realizou 2 consultas prévias. Santa Casa de Saúde de Londrina, Hospital Evangélico, Hospital Zona Norte, Hospital de Tamarana e a Bebê Clínica registraram 1 atendimento prévio cada. Do total, 26 pacientes (65%) faziam uso de alguma medicação decorrente das consultas prévias, 3 pacientes (7%) se automedicavam e o restante não relatou o uso de medicações para combater o quadro infeccioso. Os antimicrobianos eram os mais consumidos com 61% dos casos, seguido pelos analgésicos (26%), anti-inflamatórios não esteroides (10%) e antiinflamatórios esteroides (3%). Dentre os antimicrobianos, o mais prescrito foi a amoxicilina (71,4%); clavulin, cefalexina e penicilina G-benzatina acumularam cada um 8,4% das prescrições; metronidazol, clindamicina e ceftriaxona são os menos prescritos, cada um com 4,2% dos relatos. Dois pacientes faziam uso de 2 antimicrobianos simultaneamente. Em média, a sintomatologia persistia há 6,1 dias e a dor estava presente em todos os casos. Outros sinais e sintomas descritos envolvem o edema (92,5%), trismo (67,5%), eritema (45%), disfagia (42,5%), febre e dispneia (30%), taquipnéia e taquicardia (20%) e face tóxica (10%). A drenagem de secreção purulenta espontânea estava presente em apenas 12,5% dos casos e o dor fétido foi presenciado em 2,5%. A principal região acometida foi a posterior de mandíbula com ligeira preferência pelo lado direito (42,5%). O quadrante esquerdo da mandíbula registrou 27,5% dos focos das infecções e a região anterior da mandíbula teve o menor índice, com 2,5% dos casos. A maxila foi acometida 16 em 22,5% dos atendimentos com igual proporção entre os quadrantes anterior, posterior direito e posterior esquerdo (7,5% cada). O dente 37 foi o mais incidente com 17,5% dos casos e em 2 pacientes (5%) não foi possível identificar o dente foco, um devido ao péssimo estado geral de conservação dos dentes e o outro por ausência de sinais clínicos e radiográficos que pudessem auxiliar no diagnóstico. Em 4 pessoas (10%) o diagnóstico quando ao dente foco não foi conclusivo e, nesses casos, a possibilidade de haver mais de 1 elemento dentário causador da infecção foi considerada. Cárie em estágio avançado de destruição coronária e com exposição pulpar foi registrada em 50,5% dos casos, 29,5% estavam em tratamento endodôntico (entre as trocas de curativo), 10% já haviam finalizado a endodontia, 5% se apresentavam fraturados com exposição da polpa e raiz residual sem tratamento endodôntico ficou com 2,5% dos achados. Os 2,5% restantes corresponde ao dente hígido sem sinais clínicos e radiográficos que possibilitassem o diagnóstico. Quanto aos espaços fasciais anatômicos envolvidos pela infecção, foi realizada uma contagem numérica e obtivemos uma soma de 29 espaços submandibulares, 22 bucais, 8 submentonianos, 7 sublinguais, 5 cervicais, 4 caninos, 2 mediastinos e a região periorbitária e supraclavicular foram envolvidas 1 vez cada. Três pacientes (7,5%) foram diagnosticados com Angina de Ludwing. Quanto ao protocolo de tratamento adotado, 7% dos casos foram resolvidos apenas com antibioticoterapia empírica dispensando procedimentos cirúrgicos e administração de soluções anestésicas; 55% com antibioticoterapia empírica associada à drenagem intra-bucal e 37,5% com antibioticoterapia empírica associada à drenagem intra e extra-bucal. O dente foco da infecção foi extraído imediatamente em 77,5% das intervenções e 52,5% dos procedimentos foram realizados sob anestesia local à nível ambulatorial. A anestesia geral foi necessária em 43% das intervenções. O uso de drenos foi empregado em 82,5% dos casos, sendo prevalente o de penrose (85% do uso total do dispositivo) e a associação deste com drenos rígidos foi efetuada em 12%. Sobre a antibioticoterapia hospitalar, 27,5% foi usado uma associação de clindamicina e ceftriaxona endovenosa, 20% apenas clavulin 17 endovenoso e 17,5% clindamicina endovenosa. A relação completa das associações de antimicrobianos pode ser observada no quadro 1. Exames laboratoriais (leucograma, plaquetas, glicemia e PCR) foram realizados em todos os pacientes que permaneceram internados no serviço (87,5%) e sobre os exames de imagem, 50% realizaram a tomografia computadorizada, 27% radiografias de diferenciadas incidências, 5% associaram a radiografia à tomografia e em 18% não foi realizado nenhum exame imaginológico. A tomografia computadorizada foi realizada com a finalidade de verificar o comprometimento das vias aéreas previamente ao ato cirúrgico em pacientes com estágio mais avançado da infecção. Apenas 5 pessoas (12,5%) não permaneceram internadas no serviço e 4 pessoas (10%) foram para a UTI onde permaneceram por 14 dias, o dobro do tempo que os internados na enfermaria (média de 7,7 dias). Uma nova intervenção cirúrgica foi necessária em 7% dos casos e apenas 1 paciente evoluiu para sepse devido à pneumonia nosocomial. Os 2 relatos de mediastinite não são decorrentes de complicações pós-operatórias, mas sim devido ao diagnóstico tardio do quadro infeccioso, ou seja, esses pacientes já deram entrada no serviço terciário com o mediastino envolvido pela infecção. Todos os pacientes foram curados e receberam alta do serviço. 2.2 DISCUSSÃO Com tabelas e gráficos elaborados a partir dos resultados, comparamos essas informações no Programa IBM SPSS Statistics 20 de análise estatística e também a resultados de estudos do gênero que foram desenvolvidos anteriormente. Em toda a amostra, o gênero feminino foi o mais acometido com 60%, porém na faixa etária mais afetada, houve uma ligeira predominância do sexo masculino. Achados da literatura também relatam pouca diferença entre os sexos e não chegam a um consenso quanto a isso, no entanto, nosso estudo destoa no quesito idade. Estudos relataram que infecções odontogênicas são mais comuns em adultos acima dos 50 anos, e na nossa amostra, adolescentes e adultos jovens foram os mais acometidos. 18 Relatos de doenças sistêmicas concomitantes estavam presentes em 40% das entrevistas e vícios foram relatados em 25% dos casos, porém ambas as situações não interferiram na permanência hospitalar (p=0,820 e p=0,964 respectivamente) e nem na disseminação da doença (p=0,482 e 0,326, respectivamente), embora estudos anteriores tenham publicado resultados diferentes, como no caso de pacientes alcoolistas, publicado por Mariano et al. em 2007 que relacionou o álcool com maior grau de severidade e disseminação da doença. Uma hipótese para a diferença de pacientes com comorbidades se dá ao fato de que 75% dos pacientes que relataram patologias sistêmicas estavam sob acompanhamento médico e compensados sistemicamente. Dentre os três pacientes que foram diagnosticados com angina de Ludwing, apenas um relatou comprometimento sistêmico (hipertensão arterial, diabetes mellitos, esquizofrenia e depressão, todos sem acompanhamento médico) e um paciente admitiu fazer uso regular de tabaco e bebidas alcóolicas; o terceiro nega vícios e comorbidades. Todos os três permaneceram hospitalizados por mais tempo que a média e necessitaram de internação na UTI. Outro achado interessante é que a grande maioria já tinha recebido atendimento por profissionais da saúde e até mesmo cirurgiõesdentistas (90%) e, mesmo assim, a sintomatologia persistia há seis dias em média. Isso nos revela que o diagnóstico precoce de infecções de origem dentária e a intervenção inicial são deficientes. O prognóstico desse quadro é mais favorável se for tratado em estágios iniciais. Segundo Dias (2010, p.17) „Se o processo infeccioso não é tratado em sua fase inicial, o organismo desencadeia uma série de respostas fisiológicas, na tentativa de minimizar a ação das bactérias e favorecer a chegada dos elementos de defesa.” Quanto mais o tempo é decorrido, mais disseminada a infecção se torna e mais estruturas vitais são envolvidas, colocando a vida em risco. Esta tese é amplamente sustentada pela literatura (WANG, 2005; HUPP, SATO, 2009; JUNDT, VELASCO&SOTO, 2012; dentre outros) e, além disso, também notamos que houve um esforço por parte desses profissionais em eliminar a sintomatologia e não a causa, por isso se dá a persistência e complicação do quadro. 19 Quanto à prescrição farmacológica prévia, também detectamos dificuldade por parte dos profissionais. Essa medicação prévia mostrou pouca relação com a disseminação da doença e com a permanência hospitalar (sig. 0,583 e 0,537 respectivamente). Classes farmacológicas que não são indicadas para o tratamento de infecções foram receitadas, como analgésicos e anti-inflamatórios e, em casos de prescrição de antimicrobianos, por vezes a posologia estava inadequada. Isso trás consequências diretas sobre a antibioticoterapia administrada a nível hospitalar, pois a prescrição inadequada, de alguma forma, induziu uma seleção hiatrogênica dos microrganismos, e antibióticos de amplo espectro necessitaram ser administrados. Quanto à intervenção cirúrgica, 52% dos casos foram realizados sob anestesia local a nível ambulatorial. Esse dado se deve ao fato do HURNP possuir uma estrutura de consultório odontológico no ambulatório da equipe de residência em CTBMF. Isso viabiliza que casos mais simples sejam resolvidos sem a necessidade de anestesia geral, como é na maioria dos hospitais de nível terciário e, como consequência, têm-se a diminuição dos dias de internação e dos riscos decorrentes deste procedimento. Em hospitais que não são contemplados com essa infraestrutura, exodontias e drenagens são realizadas sob anestesia geral, dando a falsa impressão de casos com alto grau de severidade ou muito disseminados. A prevenção é um fator determinante nesse processo. Manter uma boa higiene bucal e consultas periódicas a um cirurgião-dentista evita que bactérias comuns da boca entrem em contato com tecidos mais profundos (JARDIM et al. 2011). Se a cárie tivesse sido tratada no seu início, 50% da nossa amostra não teria evoluído para um quadro de infecção e, se a higienização fosse realmente eficaz, um número ainda maior teria sido poupado dessa situação. 20 Ilustrações Gráfico 1 - Distribuição do gênero por faixa etária de pacientes diagnosticados com infecção odontogênica. 7 6 5 4 Masculino 3 Feminino 2 1 0 0-9 anos 10-19 anos 20-29 anos Fonte: o próprio autor. 30-39 anos 40-49 anos 50-59 anos 60 ou mais 21 Ilustrações Gráfico 2 – Prevalência de sinais e sintomas em pacientes diagnosticados com infecção odontogênica. 100% 92,5% 67,5% 45% 42,5% 30% Fonte: o próprio autor. 30% 20% 20% 12,5% 10% 2,5% 22 Ilustrações Quadro 1 – Antibioticoterapia empírica adotada. Drogas Via de Quantidade (em administração porcentagem) Clindamicina e ceftriaxona E.V. 27,5% Clavulin E.V. 20% Clindamicina. E.V. 17,5% Amoxicilina e clindamicina E.V. 5% Amoxicilina e clavulin E.V. 5% Clavulin, ceftriaxona e clindamicina E.V. 5% Amoxicilina V.O. 2,5% Clindamicina e azitromicina E.V. 2,5% Ceftriaxona e metronidazol E.V. 2,5% Penicilina cristalina e metronidazol E.V. 2,5% Clindamicina e oxacilina E.V. 2,5% Clindamicina, ceftriaxona e amoxicilina E.V. 2,5% Clindamicina, ceftriaxona e vancomicina E.V. 2,5% Clindamicina, ceftriaxona, amoxicilina e E.V. 2,5% metronidazol Fonte: o próprio autor. 23 3 CONCLUSÃO Com este estudo concluímos que a população prevalentemente atendida é de mulheres adolescentes e adultos jovens. Os pacientes já haviam recebido atendimento prévio em diferentes níveis de atenção à saúde e foram medicados, entretanto, o quadro sintomatológico persiste há aproximadamente seis dias. O provável foco infeccioso se localiza na região posterior de mandíbula e envolve preferencialmente os espaços bucal e submandibular. O protocolo adotado de antibioticoterapia empírica, exodontia imediata e drenagem cirúrgica tem se mostrado eficaz no tratamento, já que todos os pacientes foram tidos como curados na alta do serviço, apesar da diferença de gravidade da infecção na admissão. 24 4 REFERÊNCIAS TOPAZIAN, Richard G. Infecções orais e maxilofaciais. 4ª edição. São Paulo: Santos Editora, 2004. HUPP, James R. Cirurgia oral e maxilofacial contemporânea. 5ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda, 2009. 291-335. AZENHA, M. R. et al. Celulite fascial de origem endodôntica: Apresentação de 5 casos. Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac., Camaragibe v.12, n.3, p. 4148, jul./set. 2012 GEORGE, C.M. Odontogenic maxillofacial space infections at a tertiary care center in North India: a five-year retrospective study. International Journal of Infectious Diseases 16, Ottawa, Canadá, 296–302, ago. 2011/jan 2012. JARDIM E.C.G. et al. Infecções odontogênicas: relato de caso e Implicações terapêuticas. 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