Anais do III Simpósio sobre Formação de Professores – SIMFOP Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus de Tubarão Tubarão, de 28 a 31 de março de 2011 FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO: A EDUCAÇÃO COMO FORMAÇÃO MORAL Rejane Schaefer Kalsing1 RESUMO: A filosofia da educação, que é uma reflexão sobre a educação, nem sempre está presente no currículo das licenciaturas. Paideia é o termo grego para a educação; compreendia a formação integral do ser humano e representava o sentido de todo o esforço humano, pois a finalidade em que se assentavam suas vidas era a formação de um elevado tipo de ser humano. Em Roma, o modelo de educação será a formação do bom cidadão, entendido como o cidadão do mundo. A formação do caráter do educando, foco principal da educação, deverá ser no sentido universal, cosmopolita, humanista, conceito que será denominado Humanitas. Já no Iluminismo, com Immanuel Kant, temos que o ser humano é o único que precisa ser educado e o primeiro esforço da educação é propiciar os fundamentos da formação do caráter, deve-se demonstrar o valor intrínseco do agir. São três modelos de educação para refletirmos um pouco. PALAVRAS-CHAVE: filosofia da educação; educação como formação moral; educação grega; educação romana; educação iluminista 1. Introdução Um tema que pensei que fosse pertinente abordar num simpósio sobre formação de professores é, dentro da perspectiva da Filosofia da Educação, a educação como formação moral. A Filosofia da Educação é uma disciplina que, infelizmente, nem sempre está presente no currículo das licenciaturas; dependendo das universidades, ela não se encontra. No entanto, eu entendo que, juntamente com outras disciplinas como História da Educação, Psicologia da Educação, Sociologia da Educação, entre outras, ela é importante para a formação do professor, do educador e, assim, deveria constar no currículo das licenciaturas. Eu optei por fazer um recorte, por assim dizer, optei por enfocar um tema específico dentro da Filosofia da Educação e que é a educação como formação moral. Como vocês sabem, ou devem saber, quem é da filosofia gosta de iniciar sempre com definições e eu, para não fugir à regra, também iniciarei fazendo definições. A primeira delas é a de filosofia da educação. Segundo Antônio Severino, ela “é uma reflexão filosófica sobre a educação” (1994, p. 28). Quer dizer, é um olhar da filosofia sobre a educação. É uma reflexão sobre a educação. Mas o que a filosofia pode dizer ou tem a dizer a respeito da educação? Ela começa por perguntar: o que é a educação? O que ela pode nos dizer? O que ela pode nos trazer? Enfim, a educação é posta como uma questão, como um questionamento, uma problematização; a educação como um problema, como um assunto da filosofia. É, enfim, uma questão filosófica. De acordo com Giles, a filosofia da educação “almeja levar à compreensão do processo educativo como tal, para que a escolha dos objetivos e meios seja a mais coerente com as necessidades fundamentais do homem” (GILES, 1983, p. 29) ou do ser humano, como prefiro denominar. Ou seja, a filosofia da educação procura levar à compreensão do processo educativo, para, a partir desta compreensão, se construir os objetivos e os meios do mesmo, para que, dessa forma, ele seja o mais coerente possível com as necessidades fundamentais do ser humano. 1 Doutora em Filosofia pela UFSC. Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense – Campus Concórdia Anais do III Simpósio sobre Formação de Professores – SIMFOP Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus de Tubarão Tubarão, de 28 a 31 de março de 2011 2. Filosofia da educação: uma reflexão filosófica sobre a educação, uma área da Filosofia Enquanto reflexão filosófica sobre a educação, isto é, enquanto uma área da Filosofia, como a Ética, como a Filosofia Política, como a Estética, como a Filosofia da Arte, como a Filosofia da Religião, e outras tantas áreas da Filosofia, ela também tem suas questões específicas. Como se vê na Ética, por exemplo, as questões que a filosofia coloca e procura responder são: o que é o bem? O que é o mal? O que devemos fazer ou como devemos agir para que este agir possa ser considerado correto? O que devemos fazer ou como devemos agir para sermos felizes? Portanto, a filosofia se orienta, se guia, digamos, por questões, ou por problemas. Então, como não poderia ser diferente, a filosofia da educação também tem algumas questões ou problemas, como já dissemos, as quais, caso vocês não tenham tido essa disciplina ou talvez o enfoque do professor tenha sido diferente, podem ser novas, e, assim, podem parecer meio estranhas ou quem sabe já tenham se deparado com elas em algum momento da vida. É que a primeira dessas questões é, por exemplo, é o ser humano educável? Parece ser uma coisa óbvia, ou pelo menos ter uma resposta óbvia. Porque, se responderia, é claro que é, é óbvio que o ser humano é educável. Mas para a filosofia não existe o óbvio. Tudo o que parece ser óbvio deve na verdade ser questionado, precisa ser problematizado. E quando se diz que algo é óbvio, na filosofia tem que se explicar porque é óbvio, porque não é exatamente assim, tudo tem de ser explicado, tem de se procurar dar uma explicação racional. Voltando, então, à questão, é o ser humano educável? Será que nós podemos educar um ser humano? Se respondermos que sim, então nós aceitamos a educabilidade do ser humano. Estamos dizendo que tal coisa é possível. Dizendo, portanto, que o ser humano é educável, entendemos que ele não nasce pronto, que ele não é um ser pronto, muito pelo contrário, que ele precisa, que ele necessita de um processo que vá desenvolvê-lo, que vá torná-lo pleno. E esse processo é, portanto, a educação. Mas, podemos nos perguntar agora, o que é Educação? O que nós podemos entender por Educação? Aqui nós também podemos entender num primeiro momento que é uma coisa óbvia, evidente. Mas, como já disse, para a filosofia não é assim. Por quê? Porque, entre outros motivos, há diferentes concepções de educação e ao analisarmos o decorrer dos séculos da nossa história, comprovaremos isso. Então, não é assim tão óbvio o que é educação. E eu coloco essas questões mas não com a intenção de respondê-las, na verdade estou lançando-as com o objetivo de suscitar a reflexão sobre elas, pois para a filosofia devemos sempre refletir, pensar, analisar. E esse pensar também não gostaria que se limitasse aqui, a esse momento, mas gostaria que acontecesse no decorrer da nossa vida, da nossa profissão enquanto professores, enquanto educadores. Também entendo que não é algo que se deve fazer apenas antes de irmos para uma sala de aula, quer dizer, antes de iniciarmos a nossa carreira, a nossa vida enquanto docentes. Não, isso é algo que pode se estender ao longo da vida e que, na verdade, deve se estender ao longo da vida, porque a filosofia entende que nós devemos refletir sempre. Nós deveríamos sempre fazer reflexões sobre a nossa vida, sobre a nossa conduta, sobre o que nós estamos fazendo. E essas reflexões devem ser feitas, tem de ser feitas por toda a vida. Voltando à questão o que é educação? Ela é formação? É instrução? É adestramento? É desenvolvimento de competências e habilidades? Além disso, o que significa educar? O que nós podemos dizer que é isso, o educar? O que significa isso? Mais ainda, por que educar? Podemos novamente dizer que a resposta é óbvia, evidente. Não, mas não é tão óbvia assim. Anais do III Simpósio sobre Formação de Professores – SIMFOP Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus de Tubarão Tubarão, de 28 a 31 de março de 2011 Há ainda outras questões: Há necessidade de educar? Por quê? Se a resposta for sim, como nós devemos educar? Como deve ser esse processo educativo? Em outras palavras, o que objetivamos com nosso ato educativo? Ou seja, quais os objetivos que nós temos com esse ato educativo ou com o processo educativo ou com a educação em si? Que modelo de ser humano almejamos com nosso ato educativo? Eu entendo que essas questões, que são questões da filosofia da educação, devem ser feitas por todos nós enquanto educadores, principalmente antes de nós iniciarmos mas também durante o nosso trabalho docente. Então, quem é aluno de licenciatura, se já é ou não professor, entendo que deveria se questionar sobre essas questões, principalmente essa última, ou seja, qual o modelo de ser humano que almejamos com nosso ato educativo. Porque às vezes pensamos que talvez o mais importante seja a transmissão de conhecimento, isto é, a instrução, ou o desenvolvimento de competências e habilidades. Mas será que a educação é só isso? Será que nós não estamos indiretamente, involuntariamente, quer dizer, meio sem querer, um tanto inconscientemente, no sentido de não nos darmos conta, formando pessoas ali, na sala de aula, quer dizer, formando seres humanos? Parece que às vezes esquecemos que estamos lidando com seres humanos, pois os entendemos muitas vezes como caixinhas ou como seres que tem suas caixinhas, suas gavetinhas e vamos colocando coisas ali, conteúdos, cada disciplina sendo vista como uma gaveta, a educação bancária, como diria Paulo Freire. Pois abrimos uma gavetinha, colocamos o conteúdo, fechamo-la. Sim, pergunto, mas e o todo daquele ser humano que está ali? É que nós comumente vimos o ser humano de forma fragmentada, e isso não se limita ao ser humano, porque nos acostumamos a ver assim, aprendemos a ver assim, tanto o conhecimento quanto a realidade de forma fragmentada e daí nós acabamos vendo o próprio ser humano dessa forma. E, em parte em função disso, muitas vezes esquecemos que estamos lidando com seres humanos e que, mesmo sem nos darmos conta, estamos formando seres humanos ali. Mesmo que seja apenas através de nossos exemplos, do que falamos, mas principalmente do que fazemos, estamos formando seres humanos. E às vezes esquecemos disso. Penso que, ao entrarmos numa sala de aula, deveríamos ter bem claro para nós mesmos, que modelo de ser humano desejamos ter, desejamos formar. Mesmo que não o alcancemos, precisamos saber que tipo de ser humano queremos que termine o ensino fundamental, o ensino médio a partir da nossa influência, do nosso trabalho. Passando um pouco para as origens da filosofia, voltemos à Grécia, não somente pelo fato de ser o berço da filosofia, mas também pela influência e pelo legado que deixou. E, na Filosofia da Educação não poderia ser diferente, pois a Grécia também tem coisas a nos dizer e, em especial, no que se refere à educação grega enquanto Paideia, a saber, o modelo grego de e para a educação, um dos modelos para a educação da humanidade. 2.1 Os gregos e a educação Paideia é o termo grego para a educação, quer dizer, traduziu-se na língua portuguesa aquele termo por educação. Ela compreendia a formação integral do ser humano. E isso significava a formação física, ou seja, a ginástica, pois eles valorizavam o corpo, e em especial, o corpo belo; a educação estética, no sentido da educação para o belo e, consequentemente para a arte, pois eles valorizavam a beleza, a formação religiosa, com o seu politeísmo, a formação moral, do caráter, da virtude, dos valores morais, que é o que, de certa forma, mais se enfatizava. A paideia incluía também a filosofia, esta entendida como “o cultivo do bom e do belo” (GILES, 1983, p. 29) e que, assim, significava o “ápice da sabedoria que visa uma existência integrada e harmoniosa” (Idem). Essa existência integrada e harmoniosa, porém, Anais do III Simpósio sobre Formação de Professores – SIMFOP Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus de Tubarão Tubarão, de 28 a 31 de março de 2011 não dizia respeito apenas às pessoas mas também destas com a natureza. Pensamos às vezes que nós, contemporâneos, é que estamos preocupados com o meio ambiente, com a natureza, com o Cosmo, mas na verdade já os gregos, e depois também os romanos, tinham essa preocupação e procuravam viver harmoniosamente com a natureza. Portanto, essa vivência integrada e harmoniosa era almejada não apenas entre as pessoas, em sociedade mas também com o meio, com a natureza. Hoje, de modo geral, não temos essa ideia de educação, ou seja, como formação integral do ser humano. Temos uma visão de educação mais no sentido de transmissão de conhecimento, de instrução, de desenvolvimento de competências e de habilidades. Mas, antigamente, estamos falando de dois mil e quatrocentos anos e de dois mil atrás, na Grécia Antiga e depois também na Roma Antiga, tinha-se uma visão integral de educação, de formação integral do ser humano. Pois visava-se o todo do ser humano, isto é, o aspecto físico, a dimensão estética, a dimensão religiosa, a dimensão moral, quer dizer, procurava-se proporcionar uma formação integral do ser humano, ao menos no sentido do que eles entendiam como integral. A educação não visava apenas um lado, um aspecto, uma parte do ser humano. 2.2 A paideia Uma obra que é referência no assunto chama-se Paideia – a formação do homem grego, do autor Werner Jaeger. Nesse famoso livro, uma importante obra na Filosofia da Educação, ele afirma que “a finalidade [do ser humano grego] em que a sua vida assentava: [era] a formação de um elevado tipo de Homem. A idéia de educação representava para ele [o homem grego,] o sentido de todo o esforço humano” (JAEGER, 1994, p. 07). Quer dizer, a educação era o aspecto mais importante para os gregos, era o anelo mais alto que eles almejavam, o que de mais alto se encontrava e ou se almejava na sua cultura, enfim, era a finalidade maior. E a educação designava portanto a formação de um elevado tipo de ser humano, de um modelo elevado de ser humano. 2.3 Paideia como cultura Com a finalidade de formar um elevado modelo de ser humano, paideia significava também cultura, já que para os gregos esta era entendida “no sentido de um ideal próprio da humanidade” (JAEGER, 1994, p. 07) e paideia significava o “ideal grego de formação humana” (Ibidem, p. 08). Assim, paideia compreendia educação mas também cultura. Pois na Grécia Antiga designava um ideal próprio da humanidade, isto é, como um ideal que se pode alcançar, como um modelo a ser perseguido. Portanto, cultura não era entendida como conhecimentos a serem transmitidos de geração a geração, ou como conhecimentos produzidos por uma determinada comunidade ou como erudição. Não, cultura era entendida no sentido de um ideal, de um modelo próprio da humanidade a ser alcançado, ao menos, buscado, como algo, enfim, que deveria ser cultivado. Portanto, paideia, ou cultura, significava o cultivo de um elevado modelo de ser humano e representava, assim, o ideal grego de formação humana. Atualmente não temos essa noção de cultura como cultivo de algo, como algo a ser cultivado. Geralmente entendemos cultura como algo já dado, como algo pronto, pois a entendemos como o conjunto de aspectos que caracterizam uma determinada comunidade, uma determinada etnia, um estado do país, um país etc. ou como sinônimo de instrução, erudição. Mas cultura também pode ter o significado de cultivo de algo. Anais do III Simpósio sobre Formação de Professores – SIMFOP Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus de Tubarão Tubarão, de 28 a 31 de março de 2011 2.4 Paideia: educação como arte Pelo exposto, pode-se afirmar que a educação para os gregos era vista como uma arte e o educador como “o oleiro [que] modela a sua argila e o escultor as suas pedras” e, desse modo, “a mais alta obra de arte que a sua aspiração se propôs foi a criação do Homem vivo” (JAEGER, 1994, p. 13). 2.5 O filósofo Sócrates Como um exemplo de filósofo grego preocupado com a educação, mas que, infelizmente, não deixou nada escrito temos Sócrates. Suas lições, ou seja, o seu legado foi registrado nas anotações de seus discípulos, e de dois deles em especial, que são Platão e Xenofonte, este não tão conhecido, ao contrário do primeiro. Sócrates compreendia-se como um parteiro de idéias, porque entendia que dava à luz novas ideias. Ele tinha um método para chegar ao conhecimento, o qual denominava de maiêutica, que significa parto em grego. Sócrates assim denominava esse método porque este consistia em perguntar e apontar as contradições das respostas do outro até que fizesse “nascer a verdade como um parto no qual ele (o mestre) era apenas o instigador e o discípulo o verdadeiro descobridor e criador” (GADOTTI, 1983, p. 15). Ou seja, ele questionava as pessoas, e ele saía perguntando para todas as pessoas a quem ele encontrasse, ele não as escolhia por classe social ou o que quer que fosse, ia andando pelo mercado, pelas ruas de Atenas e perguntando, questionando. E nesse questionar, ele procurava fazer com que a pessoa se desse conta das contradições das suas respostas, se desse conta das suas contradições e chegasse a uma resposta por ela mesma. Sócrates não dava a resposta, ele intentava através de perguntas fazer com que a pessoa descobrisse a resposta por ela mesma. Portanto, ele ia instigando, provocando e tentando captar alguma contradição nas respostas da pessoa até que essa resposta não tivesse mais nenhuma contradição. Mas nem sempre ele, Sócrates, chegava a uma resposta (conclusiva), pensamos normalmente que ele sempre chegava a uma resposta ou que sempre tivesse uma resposta, mas nem sempre isso acontecia. Era uma forma de tentar extrair da própria pessoa a resposta. Se nós compreendermos isso enquanto um método educativo é interessante. Por quê? Porque muitas vezes entendemos que transmitimos o conhecimento, quer dizer, que temos o conhecimento e que o aluno, como o nome bem diz, aliás, isto é, o sem luz, não tem conhecimento. Esquecemos, lembrando Paulo Freire, que quem ensina também aprende e que quem aprende também ensina. Se pensarmos no método de Sócrates, o quão interessante pode ser tentarmos extrair dos educandos, dos estudantes os seus conhecimentos. Claro, pode não ser aquele conhecimento, e não é mesmo, o conhecimento científico, acadêmico. Mas será que o educando não tem nenhum ou algum conhecimento sobre aquele assunto que vamos desenvolver em aula? Será que não pode ser um método interessante para pensarmos hoje, para ser aplicado em sala de aula, tentarmos ser um pouco ‘Sócrates’, no sentido de extrair do educando a resposta? 2.6 Sócrates e a educação Porém, para Sócrates, a tarefa do filósofo ou do educador ia além disso. Pois a tarefa maior era a de educar para a virtude. Relembrando, a ideia da formação do ser humano grego, ou seja, a paideia, a formação moral era aspecto mais importante, no sentido de ser o mais enfatizado. Em função disso, também ele, Sócrates, entendia que a tarefa maior da Anais do III Simpósio sobre Formação de Professores – SIMFOP Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus de Tubarão Tubarão, de 28 a 31 de março de 2011 educação era educar para a virtude. A esse respeito, o autor Thomas Ranson Giles chega a afirmar até que para Sócrates “o objetivo único do processo educativo é a formação moral do homem, fundamentando-se esta no conhecimento e na prática das virtudes” (GILES, 1983, p. 65). Vê-se, portanto, que a formação moral, a formação do caráter do ser humano ou ainda o educar para a virtude seria para Sócrates a tarefa maior da educação, de acordo com Giles. E esta formação moral deveria estar fundamentada tanto no conhecimento quanto na prática das virtudes. Porque Sócrates e depois também Platão entendem que uma pessoa é má não porque assim desejou ou escolheu propriamente, não por sua vontade, mas porque desconhece a virtude. Em outras palavras, o vício, que é o contrário da virtude, é praticado por desconhecimento. Sendo assim, em a pessoa sendo instruída, isto é, tendo acesso ao conhecimento das virtudes, conhecendo-as, ela irá, necessariamente, praticá-las. O vício, o mal é praticado por ignorância. O mal é fruto da ignorância do bem. No momento em que se conhece este, aquele deixa de ser praticado. Grosso modo, pode-se dizer que é assim que esses dois filósofos entendiam o problema do mal na humanidade. Problema esse que ainda permanece em aberto, inexplicado, como um problema mesmo, pois ainda suscita muitas reflexões e mesmo perplexidades no meio filosófico. 2.7 A Defesa de Sócrates Uma obra que considero muito interessante de ser abordada na disciplina de Filosofia da Educação, e já veremos por que, é a Apologia ou Defesa de Sócrates. Nesta obra, o seu discípulo Platão narra o julgamento que vai condená-lo à morte. Ela trata apenas desse momento da vida de Sócrates, ou seja, do seu julgamento por parte dos juízes de Atenas, em função das acusações de subversão da juventude, de indução ao ateísmo ou à crença em outros deuses que não os da cidade, entre outras. Nessa obra, segundo a narração de Platão, Sócrates diz que uma de suas incitações, provocações mais comuns era perguntar: “não te envergonhas de cuidares de adquirir o máximo de riquezas, fama e honrarias, e de não te importares nem cogitares da razão, da verdade e de melhorar quanto mais a tua alma?” (PLATÃO, s/d, p. 15). Percebe-se por aí o atrevimento dele, por assim dizer, com os questionamentos. Questionamentos esses, incitações essas que acabaram levando-o à morte. E não é para menos, já que sair perguntando para as pessoas: tu não tem vergonha de procurar, querer adquirir apenas bens materiais, se preocupar com honra, fama e não se importar com a razão, com a virtude e de cuidar da tua alma? Não te envergonhas disso? Não era, com certeza, algo que os atenienses gostassem de ouvir... 2.8 Sócrates e a virtude Interrogado sobre qual era seu ofício, pois ele não recebia nada por isso, respondeu que “outra coisa não faço senão andar por aí persuadindo-vos, moços e velhos, a não cuidar tão aferradamente do corpo e das riquezas, como de melhorar o mais possível a alma” (PLATÃO, s/d, p.15). Mais ao final do seu julgamento, Sócrates assevera “eu que me entreguei à procura de cada um de vós em particular, a fim de proporcionar-lhe o que declaro o maior dos benefícios, tentando persuadir cada um de vós a cuidar menos do que é seu que de si próprio” (PLATÃO, s/d, p. 21). Tem uma grande diferença entre cuidar do que é seu e cuidar de si próprio. Ele entendia que não se deveria dar tanta atenção aos bens materiais e sim cuidar Anais do III Simpósio sobre Formação de Professores – SIMFOP Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus de Tubarão Tubarão, de 28 a 31 de março de 2011 mais de si mesmo, procurando conhecer-se a si mesmo e assim cuidar melhor de sua alma, de se melhorar. Ele dirigia-se “sem cessar a cada um em particular, como um pai ou um irmão mais velho, para o persuadir a cuidar da virtude” (PLATÃO, s/d, p. 16). Ele se dirigia às pessoas como um pai, como uma pessoa mais velha para convencê-las a cuidar, a se preocupar com a virtude; com o intuito de despertar as pessoas para elas se tornarem virtuosas, praticarem a virtude, melhorarem a sua alma cada vez mais. Em vista disso, ele não deixa de ser um exemplo de educador grego e que ainda tem coisas a nos dizer hoje, que ainda é significativo, se pensarmos a realidade que temos hoje, seja em Tubarão, seja em Concórdia, em Santa Catarina, no Brasil, no mundo. É que muitas vezes pensamos que o Brasil é o problema, porém, se ouvirmos relatos de pessoas que são ou que moram em outros países elas dirão a mesma coisa em relação à realidade que vivem, quer dizer, que coisas que acontecem aqui também acontecem em outros países, inclusive na Europa, por exemplo, como desrespeitos entre as pessoas, ao meio ambiente etc. Enfim, em outros países, mesmo os ditos desenvolvidos, há problemas morais, éticos. 2.9 Os romanos – herdeiros dos gregos Passemos agora dos gregos para os romanos. Roma é herdeira da Grécia em vários aspectos, pois esta, apesar de “conquistada por Roma do ponto de vista militar, conquista Roma no que é mais fundamental e amplia a própria imagem-ideal, criando o conceito de processo educativo em função da humanidade universal” (GILES, 1983, p. 64). Quer dizer, apesar de o império romano ter conquistado a Grécia, essa conquista se limitou mais ao aspecto militar. Porque, na verdade, Roma é quem acaba sendo conquistada pela Grécia, no que Giles designa de o mais fundamental e, com isso, aquela acaba por ampliar a sua imagem-ideal de ser humano, criando um conceito de processo educativo em função da humanidade universal. Então, por mais que militarmente quem conquistou foi Roma, Grécia a conquista em vários aspectos como, por exemplo, cultural, filosófico, pedagógico. Em outras palavras, Grécia influencia Roma em relação ao conceito que tinham de ser humano e, por consequência, de educação. 2.10 Os romanos e a educação Em função do contato com a cultura grega, “além da dimensão prática e propriamente humana da educação romana, surge uma educação que transborda os limites de interesses puramente locais e nacionais” (GILES, 1983, p. 68). É que antes, pode-se dizer, o interesse de Roma era mais voltado ou às questões locais ou nacionais, referentes ou restringindo-se ao império romano, ao menos. Em função, porém, do contato com a cultura grega, do contágio, por assim dizer, efetuado por essa cultura, os romanos vão ampliar, expandir esses interesses. Assim, a educação passa a visar “valores que dizem respeito ao homem como ser humano, valores que transcendem os povos e os tempos individuais” (GILES, 1983, p. 68). A educação romana deixa de ser uma educação que visa apenas os interesses locais e nacionais, isto é, os interesses do império romano. Ela passa a objetivar o ser humano como um todo, a humanidade universal, quer dizer, toda a humanidade, não mais apenas aquela que está sob o império romano. Em outras palavras, as visões de ser humano e de educação são ampliadas e, consequentemente, o objetivo da educação. Com isso, os valores envolvidos na educação passam a ser aqueles que dizem respeito ao ser humano como um todo, ou seja, o ser humano enquanto ser humano, valores que não se restringem a povos e tempos individuais, mas que os transcendem, os extrapolam. O objetivo, portanto, da educação é Anais do III Simpósio sobre Formação de Professores – SIMFOP Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus de Tubarão Tubarão, de 28 a 31 de março de 2011 ampliado, dizendo respeito não só mais ao povo romano, mas sim a humanidade como um todo. Em função disso, a educação romana será chamada de humanista e esse humanismo será denominado posteriormente de humanitas latina. Mais tarde, na Idade Moderna, teremos o humanismo renascentista, porque será um renascer, um retornar aos romanos, principalmente, a esse conceito romano de ser humano. Ainda na educação romana, Giles nos diz que “o ideal imediato de todo o processo educativo é formar o bom cidadão”, em especial o aspecto cívico e “o principal valor do processo educativo será a formação do caráter do educando, em sentido universal, cosmopolita, humanista” (GILES, 1983, p. 68). E, assim, o modelo de educação será a formação do bom cidadão. Este, porém, é entendido agora não mais apenas como cidadão romano, mas como o cidadão do mundo, numa palavra, como um cosmopolita. Portanto, a educação terá em vista um caráter cosmopolita e a formação do caráter do educando, foco principal da educação, deverá ser no sentido universal, cosmopolita, humanista, que busca contemplar, abranger toda a humanidade. 2.11 O filósofo Cícero Um exemplo de filósofo romano, filósofos que nem sempre são muito estudados, infelizmente, é Marco Túlio Cícero, ou simplesmente Cícero, como é conhecido. Giles afirma que esse filósofo é “o primeiro a estabelecer as bases teóricas dessa nova educação” (GILES, 1983, p. 68), quer dizer, a educação romana sob a influência da Grécia. E para esse filósofo, “o protótipo do homem humanista é o orador, que deve ser perfeito em todos os sentidos, homem íntegro, que conhece e pratica a virtude, o cidadão que zela pelo bem comum do Estado e está sempre pronto a se sacrificar por ele” (Idem). Ou seja, para Cícero o modelo exemplar do homem humanista, o qual deve ser seguido, é o do orador, mas este não designa somente aquele que fala bem, que tem uma boa retórica, que argumenta bem mas é também um ser humano íntegro, que conhece e pratica a virtude, é o cidadão que zela pelo bem comum do Estado e que está sempre pronto a se sacrificar por ele. Percebe-se por aí que a integridade ou a honestidade, esta como um sinônimo daquela, é o valor mais importante em Roma naquele período. De fato, para Cícero a honestidade é a mãe de todas as virtudes, depois dela é que vem as demais, no sentido de abarcá-las. 2.12 O filósofo Sêneca Já Sêneca, outro importante filósofo romano, que também enfatiza a questão moral o que, por conseguinte, vai se refletir na sua concepção de educação, entende que “o processo educativo não deve visar o puro saber, e sim a vida. Todo o conhecimento deve relacionar-se com o comportamento moral do educando” (GILES, 1983, p. 69). Ele tinha, então, uma grande preocupação que o objetivo da educação não fosse o puro saber e sim a vida, no sentido do aspecto moral, de educação para a virtude, para o bem. 2.13 Um filósofo moderno: Kant Dando-se um salto agora e passando-se para a Idade Moderna, temos o filósofo Immanuel Kant. É um grande representante do Iluminismo, ou seja, do movimento que enfatizava as capacidades, as luzes da Razão. Geralmente é considerado o mais importante filósofo da Era Moderna pelas mudanças e inclusive revoluções que as obras que escreveu provocaram na filosofia em geral. Ele tem também contribuições importantes para a Filosofia da Educação, especialmente por sua obra Sobre a pedagogia. Obra que até hoje não mereceu Anais do III Simpósio sobre Formação de Professores – SIMFOP Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus de Tubarão Tubarão, de 28 a 31 de março de 2011 a atenção e as reflexões que deveria, pelo fato de ter sido fruto de uma conjunção, digamos assim, das aulas de Kant sobre o tema e de anotações de um aluno, ou discípulo, como se costumava chamar. 2.14 Kant e a educação 2.14.1 A obra Sobre a pedagogia A frase inaugural da obra Sobre a pedagogia é a seguinte “o homem é a única criatura que precisa ser educada” (KANT, 1996, p. 11) e entende por educação “o cuidado com a infância, a disciplina e a instrução, [...] a formação” (Idem). Portanto, o ser humano é o único ser que precisa passar por esse processo chamado educação. Já veremos o porquê dessa assertiva, ou seja, dessa afirmação categórica. Um animal, continua ele, “é por seu próprio instinto tudo aquilo que pode ser” (KANT, 1996, p. 11), mas o ser humano “não tem instinto, e precisa formar por si mesmo o projeto de sua conduta” (Ibidem, p. 12). Ao dizer que o ser humano não tem instinto, ele não quer dizer que nós não somos instintivos também. Porque em outras obras dele, mais ou menos da mesma época, como Ideia de uma história universal sob um ponto de vista cosmopolita, ele afirma que o ser humano não é um ser apenas instintivo, como o animal, e nem também uma criatura razoável; ele não é apenas instinto nem apenas razão. Ele possui as duas coisas, por assim dizer. Assim, ao dizer que o ser humano não tem instinto, ele quer dizer que o instinto por si só não basta, que não é suficiente ao ser humano. É que ele não dá todas as respostas à humanidade, coisa que se passa com os animais, pois, pelo instinto eles podem ser, e mesmo chegam a ser, tudo o que podem ser enquanto animais. Eles necessitam apenas do instinto para se desenvolverem plenamente. Coisa que não se passa com o ser humano, apesar de este também ser um animal. É que apenas com o instinto o ser humano não consegue ser o que pode ser enquanto ser humano, ou seja, não consegue se desenvolver plenamente. Como o instinto não lhe dá todas as respostas, e isso diz respeito também ao seu agir, em função disso, ele precisa por si mesmo formar o projeto de sua conduta. Isto é, a partir de si mesmo ele tem de dar as respostas sobre como deve se conduzir. Ninguém dará a resposta ao ser humano de como ele deve agir, ele deve por si mesmo encontrá-la. Apesar de o instinto ser necessário em alguns momentos da vida do ser humano, como o instinto de sobrevivência, o instinto de conservação, entre outros, ele não é suficiente, ele não basta a essa espécie. Em outras palavras, dirá Kant, “a espécie humana é obrigada a extrair de si mesma pouco a pouco, com suas próprias forças, todas as qualidades naturais que pertencem à humanidade” (Um animal, continua ele, “é por seu próprio instinto tudo aquilo que pode ser” (KANT, 1996, p. 12), ideia que ocorre também em outras obras, como a Ideia de uma história universal sob um ponto de vista cosmopolita, antes referida. Portanto, o ser humano deve tirar de si mesmo e de forma gradual, ou seja, não abruptamente, e ainda com as suas forças todas as qualidades, todas as capacidades que a natureza colocou em sua espécie e que se encontram nele de forma latente, isto é, em potencial. 2.15 O papel da educação em Kant Agora pode-se perguntar: mas quem vai ajudar o ser humano a fazer isso? Quem poderá ajudá-lo a se desenvolver plenamente, a chegar a ser tudo aquilo que ele pode ser? Kant responde que é a educação. E, em função disso, a educação, ou a arte de educar, é uma das tarefas mais difíceis. Por suas palavras, “o homem não pode tornar-se verdadeiro homem Anais do III Simpósio sobre Formação de Professores – SIMFOP Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus de Tubarão Tubarão, de 28 a 31 de março de 2011 senão pela educação” (Um animal, continua ele, “é por seu próprio instinto tudo aquilo que pode ser” (KANT, 1996, p. 15). Somente através dela é que ele chegará a ser um verdadeiro ser humano. É que há, no entender de Kant, “muitos germes na humanidade” (Ibidem p. 18), os quais “não se desenvolvem por si mesmos” (Ibidem, p. 21); se não forem despertados, permanecerão em estado de dormência. E, como cabe a nós desenvolvê-los, conclui que “toda educação é uma arte” (Idem). E é uma arte que vai desenvolvendo aos poucos as capacidades, que vai despertando gradualmente os germes que a natureza colocou na espécie humana. 2.16 A educação física Avançando-se um pouco na obra Sobre a pedagogia, Kant afirma quanto à educação da índole, que pode, em certo sentido, chamar-se de física, [que] é preciso sobretudo cuidar que a disciplina não trate as crianças como escravos, mas sim que faça que elas sintam sempre a sua liberdade, mas de modo que não ofendam a dos demais (KANT, 1996, p. 53). Essa educação física compreende, então, a disciplina, no entanto, esta não pode ser tão rígida que tome as crianças como se fossem escravos. Pelo contrário, a disciplina deve fazer com que as crianças percebam, se dêem conta da sua liberdade, porém de maneira a não ofender a dos demais, ou seja, sabendo até onde vai sua liberdade, quais são os seus limites, de modo que todos tenham a mesma liberdade. 2.17 A educação moral Esta deve procurar se fundamentar em princípios morais, não em disciplina. Dessa forma, não é através da disciplina que se vai educar alguém moralmente, que se vai incentivar a virtude, a conduta virtuosa. Deve-se incentivar o educando a agir por seus próprios princípios “e não por simples hábito, e que não faça simplesmente o bem, mas o faça porque é um bem em si” (KANT, 1996, p. 72). Deve-se demonstrar “o valor intrínseco do comportamento e das ações” (Ibidem, p. 103). O que significa isso? Ao dizer que a educação moral deve se basear em princípios e que se deve incentivar o educando a agir por seus próprios princípios e não por hábito, Kant quer dizer que se deve fazer o bem porque é um bem em si, porque ele tem valor em si mesmo. As crianças deveriam ser educadas de forma a perceber o valor intrínseco tanto do comportamento quanto das ações, para que não ajam por interesse ou para serem elogiadas e assim por diante. 2.18 Educação como cultura moral O primeiro esforço da educação “é lançar os fundamentos da formação do caráter” (KANT, 1996, p. 81). Portanto, a primeira preocupação da educação deveria ser a formação do caráter e, conseguintemente, o lançar os fundamentos para este. E o primeiro traço da formação do caráter é a obediência. Mas esta não é uma obediência cega. É uma obediência no sentido de respeito à autoridade. Já o segundo traço da formação do caráter, e o mais importante, é a veracidade. É o mais importante pois, para Kant, a mentira é algo que torna indigno o ser humano, ela o degrada, o rebaixa, retira a sua dignidade e, com isso, a sua própria humanidade. Assim, devese incentivar as crianças a serem verazes, a falarem a verdade e não por interesse e sim porque a verdade tem um valor intrínseco e, por isso, é um princípio moral. Anais do III Simpósio sobre Formação de Professores – SIMFOP Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus de Tubarão Tubarão, de 28 a 31 de março de 2011 Por fim, o terceiro é a sociabilidade. Deve-se incentivar as crianças a serem sociáveis, a quererem estar em companhia de outros, a não pensarem que podem bastar a si mesmas. 2.19 A educação prática É o último momento propriamente da educação. Nela Kant diz que, “para solidificar o caráter moral das crianças” [...] é preciso ensinar-lhes, da melhor maneira, através de exemplos e com regras, os deveres a cumprir” (KANT, 1996, p. 95). Estes são os “deveres para consigo mesmas” (Ibidem, p. 86) e os “deveres para com os demais” (Ibidem, p. 96). Algo aqui que pode chamar a atenção é que Kant fala em deveres para consigo mesmo, o que pode vir a ser isso? Nós não temos deveres para com os outros? Não, de acordo com Kant nós temos deveres para conosco mesmos. Em primeiro lugar, viria o respeito. Nós temos de nos respeitar. Se não nos respeitarmos, como exigir que os outros nos respeitem? O conceito do respeito irá, de certa forma, permear toda a filosofia prática de Kant, em especial então, como já se destacou, a Pedagogia, e também a Ética e o Direito. Ainda nessa obra Kant fala que se deve ensinar pelo exemplo, pois os exemplos são observados e seguidos pelas crianças. Como referi na abertura desta, mesmo que não nos demos conta, nossos educandos levam em consideração mais o que fazemos do que o que dizemos. 3. Considerações finais A partir do século XVIII, com a Revolução Industrial, principalmente, temos alterações na escola, que, “semelhante a que hoje conhecemos, é uma criação burguesa do século XVI” (ARANHA, 1989, p. 54), em função de novas exigências. Pois, “à formação acadêmica predominantemente humanística, [essa nova realidade] contrapõe a necessidade de formação técnica especializada além do estudo das ciências” (Idem). Perde-se, a partir de então, ao menos em parte, a ideia do caráter formativo, humanístico e de formação moral da educação. Passa-se a enfatizar mais a instrução, a transmissão de conhecimento e a preparação profissional e assim por diante. Podemos nos perguntar se essa mudança trouxe mais benefícios que malefícios. Enfim, espero ter provocado aqui questionamentos, reflexões, como por exemplo, sobre qual a concepção de educação e de ser humano de vocês e que buscassem por si mesmos as respostas. Lembrando que nunca teremos totalmente a verdade, por ela ‘estar reservada aos deuses’, como diria o filósofo Pitágoras. Referências ARANHA, M. L. de A. Filosofia da educação. São Paulo: Moderna, 1989. GADOTTI, M. Concepção dialética da educação: um estudo introdutório. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1983. GILES, Th. R. Filosofia da educação. São Paulo: EPU, 1983. JAEGER, W. Paidéia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1994. KANT, I.. Sobre a pedagogia. (Tradução de Francisco Cock Fontanella: Über Pädagogik). UNIMEP: Piracicaba, 1996. PLATÃO. A defesa de Sócrates. São Paulo: Nova Cultural, s/d. SEVERINO, A. J. Filosofia da educação: construindo a cidadania. São Paulo: FTD, 1994.