UVV CENTRO UNIVERSITÁRIO VILA VELHA PROGRAMA DE MESTRADO EM CIENCIA ANIMAL ESTUDO DOS EFEITOS CARDIORRESPIRATÓRIOS E ANALGÉSICO DA ANESTESIA COM INFUSÃO DE XILAZINA ISOLADAMENTE OU EM ASSOCIAÇÃO À LIDOCAÍNA EM EQUINOS EM POSIÇÃO QUADRUPEDAL Juliano Ferreira Fernandes de Souza VILA VELHA – ES Junho de 2011 UVV CENTRO UNIVERSITÁRIO VILA VELHA PROGRAMA DE MESTRADO EM CIENCIA ANIMAL ESTUDO DOS EFEITOS CARDIORRESPIRATÓRIOS E ANALGÉSICO DA ANESTESIA COM INFUSÃO DE XILAZINA ISOLADAMENTE OU EM ASSOCIAÇÃO À LIDOCAÍNA EM EQUINOS EM POSIÇÃO QUADRUPEDAL Juliano Ferreira Fernandes de Souza Orientador: Prof. Dr. Eduardo Raposo Monteiro Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Ciência Animal do Centro Universitário Vila Velha, para obtenção do título de Mestre em Ciência Animal. VILA VELHA - ES Junho de 2011 UVV CENTRO UNIVERSITÁRIO VILA VELHA CERTIFICADO DE APROVAÇÃO Estudo dos efeitos cardiorrespiratórios e analgésico da anestesia com infusão de xilazina isoladamente ou em associação à lidocaína em equinos em posição quadrupedal Autor: Juliano Ferreira Fernandes de Souza Orientador: Prof.Dr. Eduardo Raposo Monteiro APROVADO como parte das exigências do Programa de Mestrado em Ciência Animal para obtenção do título de MESTRE em CIÊNCIA ANIMAL Vila Velha, 30 de Junho 2011 Banca Examinadora PROF. DR. Eduardo Raposo Monteiro PROFA. DRA. Daniela Campagnol PROFA. DRA. Fernanda Antunes AGRADECIMENTOS Á Deus por iluminar sempre meu caminho e por ter a oportunidade de realizar o mestrado. Á minha família e amigos por terem me apoiado para realização deste trabalho. Agradeço aos meus amigos que ganhei durante a realização do Mestrado, aos meus amigos colaboradores. Ao meu Orientador Eduardo Raposo Monteiro que foi de fundamental importância para elaboração deste trabalho, e também às Médicas Veterinárias Renata Conti e Daniela Campagnol. Agradeço também aos animais utilizados no experimento e aos funcionários da fazenda onde foi realizado este trabalho, pela paciência e compreensão. A todos que me apoiaram. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Eletrodos adesivos fixados à pele tricotomizada no aspecto lateral da região distal do metacarpo e aparelho de TENS.................................... Figura 2: 23 Valores médios (± DP) da frequência cardíaca (FC), altura da cabeça, frequência respiratória (f R ) e concentração expirada de dióxido de carbono (ETCO 2 ) em seis equinos que receberam a administração de xilazina (bolus de 0,55 mg/kg seguido de infusão de 1,1 mg/kg/h) associada à solução salina (Controle) ou lidocaína................................ Figura 3: 27 Representação gráfica dos escores de sedação em seis equinos que receberam a administração de xilazina (bolus de 0,55 mg/kg seguido de infusão de 1,1 mg/kg/h) associada à solução salina (Controle) ou lidocaína.................................................................................................... Figura 4: 29 Representação gráfica dos escores de ataxia em seis equinos que receberam a administração de xilazina (bolus de 0,55 mg/kg seguido de infusão de 1,1 mg/kg/h) associada à solução salina (Controle) ou lidocaína..................................................................................................... Figura 5: 30 Representação gráfica do limiar nociceptivo em seis equinos que receberam a administração de xilazina (bolus de 0,55 mg/kg seguido de infusão de 1,1 mg/kg/h) associada à solução salina (Controle) ou lidocaína...................................................................................................... Figura 6: 31 Representação gráfica dos valores reais (crus) do limiar nociceptivo no momento basal em seis equinos que receberam a administração de xilazina (bolus de 0,55 mg/kg seguido de infusão de 1,1 mg/kg/h) associada à solução salina (Controle) ou lidocaína................................. 33 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Representação em escala numérica descritiva (END) para mensuração dos graus de sedação e ataxia................................................................... Tabela 2: 22 Valores médios (± DP) da frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (f R ), concentração expirada de dióxido de carbono (ETCO 2 ), altura da cabeça e temperatura retal (Temp) em seis equinos que receberam a administração de xilazina (bolus de 0,55 mg/kg seguido de infusão de 1,1 mg/kg/h) associada à solução salina (Controle) ou lidocaína............................................................................. Tabela 3: 28 Medianas (intervalos interquartis) dos escores de sedação e ataxia e do limiar nociceptivo em seis equinos que receberam a administração de xilazina (bolus de 0,55 mg/kg seguido de infusão de 1,1 mg/kg/h) associada à solução salina (Controle) ou lidocaína................................ 32 SUMÁRIO Página 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 9 2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................ 11 2.1 Neuroleptoanalgesia em equinos .................................................................................... 11 2.2 Agonistas alfa-2 adrenérgicos ......................................................................................... 12 2.3 Lidocaína ........................................................................................................................ 17 2.4 Modelos de estímulos para avaliação nociceptiva em equinos ....................................... 18 3. OBJETIVOS ......................................................................................................................... 20 3.1 Gerais ........................................................................................................................... 20 3.2 Específicos.................................................................................................................... 20 4. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................. 21 4.1 Animais ........................................................................................................................... 21 4.2 Instrumentação e variáveis mensuradas .......................................................................... 21 4.3 Procedimento experimental ............................................................................................ 23 4.4 Análise estatística ........................................................................................................... 25 5. RESULTADOS .................................................................................................................... 25 6. DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 34 7. CONCLUSÕES .................................................................................................................... 40 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 41 De Souza, JFF. Estudo dos efeitos cardiorrespiratórios e analgésico da anestesia com infusão de xilazina isoladamente ou em associação à lidocaína em equinos em posição quadrupedal. [Dissertação de Mestrado]. Vila Velha: Pós-Graduação em Ciência Animal, UVV – Centro Universitário Vila Velha, 2011. RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos da xilazina isoladamente ou em associação com a lidocaína sobre a nocicepção, sedação e variáveis fisiológicas em equinos. Neste estudo foram utilizados 6 equinos hígidos com peso médio de 307 ± 49 kg. Os animais foram submetidos a três tratamentos com intervalo de uma semana entre cada experimento. Todos os animais receberam a administração intravenosa de xilazina em bolus inicial de 0,55 mg/kg (ao longo de 1 min) seguido de infusão contínua na dose de 1,1 mg/kg/hora, por meio de uma bomba de infusão de seringa. No tratamento controle, foi administrado bolus de solução fisiológica (0,125 mL/kg) + infusão (1 mL/kg/hora); no tratamento LDB, foi administrado bolus de lidocaína (1,3 mg/kg) + infusão (1,5 mg/kg/hora); no tratamento LDA, foi administrado bolus de lidocaína (1,3 mg/kg) + infusão (3 mg/kg/hora). Em todos os tratamentos, o bolus de solução salina ou lidocaína foi administrado em 5 minutos. As variáveis estudadas foram avaliadas durante o período de infusão e por 60 minutos após o término das infusões. Dentre as variáveis fisiológicas estudadas, temos FC, FR, ETCO2, Altura de cabeça (%), Temperatura (C), Sedação, Ataxia e Limiar nociceptivo (%).No tratamento Controle, o grau de ataxia foi significativamente maior do que o basal somente no momento XIL e aos 10 minutos. Nos tratamentos LDB e LDA, o grau de ataxia foi maior do que o basal durante a maior parte do período de infusão. Ataxia mais intensa foi observada no tratamento LDA do que no Controle aos 20 minutos. Após a interrupção das infusões, não foram observadas diferenças significativas entre tratamentos ou em relação ao basal no grau de ataxia em nenhum dos tratamentos. Não houve diferença significativa entre os tratamentos nos valores basais de FC, f R , ETCO 2 , temperatura, altura da cabeça e limiar nociceptivo. Houve diminuição significativa da f R em relação aos valores basais em todos os tratamentos após a administração da xilazina. Os valores da altura da cabeça permaneceram mais baixos do que os basais em todos os tratamentos durante as infusões (dos 10 aos 50 minutos). Comparado ao valor basal, houve elevação significativa no limiar nociceptivo do momento XIL até os 50 minutos, no tratamento Controle, e dos 10 aos 50 minutos nos tratamentos LDB e LDA. As maiores porcentagens de aumento nas medianas, em relação ao basal, foram 53% no Controle (aos 30 minutos), 91% no tratamento LDB (aos 50 minutos) e 115% no tratamento LDA (aos 20 minutos). Valores de limiar nociceptivo significativamente maiores do que no Controle foram observados nos tratamentos LDB (aos 50 minutos) e LDA (dos 30 aos 50 minutos). Nas condições do presente estudo, foi evidenciado que a administração da xilazina, sob a forma de infusão contínua, produz sedação moderada à intensa e eleva o limiar nociceptivo ao estímulo elétrico, sendo acompanhada de leve ataxia, redução na FC e elevação na ETCO 2 . A associação da lidocaína utilizada em infusão contínua, resultou em maior elevação no limiar nociceptivo (aumento de até 115% na mediana) não sendo esse efeito influenciado pela dose de lidocaína. Os efeitos sobre a FC e ETCO 2 não foram intensificados pela administração da lidocaína, mas o grau de ataxia foi maior, especialmente com o uso da dose mais elevada deste fármaco. Palavras-chave: agonistas alfa-2; cavalos; analgesia; sedação; nocicepção. De Souza, JFF. Evaluation of nociception, sedation and cardiorespiratory effects of a constant rate infusion of xylazine alone or in combination with lidocaine in horses. [Dissertação de Mestrado]. Vila Velha: Pós-Graduação em Ciência Animal, UVV – Centro Universitário Vila Velha, 2011. ABSTRACT The effects of xylazine alone or in combination with lidocaine on nociception, sedation and physiological variables were studied in six healthy horses weighing 307 ± 49 kg. The animals underwent three treatments with one week intervals between each experiment. All horses were given intravenous administration of 0.55 mg/kg of xylazine followed by a constant rate infusion (CRI) at a dose of 1.1 mg/kg/hour. Ten minutes after initiation of the xylazine infusion, the animals were randomly assigned to receive one of three treatments as follows: a bolus followed by a CRI of physiologic saline (Control); a bolus of lidocaine (1.3 mg/kg) followed by a CRI at a dose of 1.5 mg/kg/hour (LLD); a bolus of lidocaine (1.3 mg/kg) followed by a CRI at a dose of 3.0 mg/kg/hour (LHD). All treatments were administered intravenously and the infusions of xylazine and the experimental treatment were discontinued simultaneously 50 minutes after initiation of the infusion of the experimental treatment. The variables were evaluated during the infusion period and for 60 minutes after discontinuation of the infusions. There was no difference among treatments in heart rate (HR), respiratory rate (f R ) and end-tidal carbon dioxide (ETCO 2 ), but f R and HR decreased whereas ETCO 2 increased in all treatments during the infusions. Significant lowering of the head was observed in all treatments, returning to baseline at 60 minutes after discontinuation of the infusions. Moderate to intense sedation (scores of 2-3 on a scale ranging from 0 to 3) was observed in all treatments, but no significant difference among treatments was observed in this variable. Ataxia scores were numerically higher in treatments LLD and LHD, but a significant difference compared to the Control treatment was observed only between LHD and Control at 20 minutes of infusion. Compared with baseline, there was a significant increase in nociceptive threshold in all treatments during the infusions. The highest percentage of increase in the medians, compared with baseline, were 53% in the Control (at 30 minutes), 91% in LLD (at 50 min) and 115% in LHD (at 20 minutes). Nociceptive threshold was significantly higher in LLD (at 50 minutes) and in LHD (from 30 to 50 minutes) than in the Control treatment. Under the conditions of this study, administration of a CRI of xylazine results in moderate to intense sedation and increases the nociceptive threshold to electric stimulation, which were followed by mild ataxia, decreased HR and increased ETCO 2 . The combination of xylazine with a CRI of lidocaine resulted in greater increases in nociceptive threshold (increases up to 115% in median) but this effect was not influenced by the dose of lidocaine. The effects on HR and ETCO 2 were not enhanced by administration of lidocaine, but the degree of ataxia was higher, especially with the use of the higher dose of this drug. Keywords: alpha-2 antinociception. adrenoceptor agonists; equine; analgesia; sedative effects; 9 1. INTRODUÇÃO As particularidades anatômicas e fisiológicas bem como o peso e o temperamento do equino fazem com que os procedimentos anestésicos nessa espécie sejam potencialmente perigosos tanto para o animal quanto para o médico veterinário. Indução rápida e suave, relaxamento muscular e analgesia adequados, estabilidade cardiopulmonar e por fim, proporcionar recuperação livre de excitação, são fatores de extrema importância que devem ser levados em consideração durante o procedimento anestésico (Duke, 2008). Devido ao elevado risco anestésico-cirúrgico, procedimentos cirúrgicos e diagnósticos são frequentemente realizados em equinos em posição quadrupedal. Nos casos onde a anestesia geral é considerada um fator de risco ou desnecessária, a depender do procedimento, a sedação pode ser indicada (Donaldson, 2008). Entre as vantagens da sedação com o equino em posição quadrupedal, em relação à anestesia geral, destacam-se o menor risco de complicações relacionadas aos anestésicos e o decúbito, como as miopatias e neuropatias, menor depressão cardiorrespiratória, havendo mortalidade e morbidade reduzidas, e menor custo (Donaldson, 2008). Por outro lado, a realização de procedimentos em equinos na posição quadrupedal também apresenta desvantagens. A sedação excessiva pode resultar em ataxia intensa e queda do animal, pode ser acompanhado por analgesia insuficiente para a realização do procedimento e a movimentação do animal pode gerar condições cirúrgicas inadequadas, colocando em risco o animal e equipe envolvida (Donaldson, 2008). As classes de fármacos mais frequentemente empregadas na sedação de equinos são os fenotiazínicos, os agonistas alfa-2 e os opióides. Entre os fármacos citados, os agonistas alfa-2 são aqueles que proporcionam grau de sedação mais intenso, além de proporcionarem analgesia e relaxamento muscular. Os opióides proporcionam analgesia, mas podem estar associados à excitação e redução da motilidade intestinal (Boscan et al., 2006) e sua eficácia em equinos permanece discutível. Outro fármaco cujo interesse na anestesia de equinos vem crescendo é a lidocaína. Esse fármaco sendo utilizado sob a forma de infusão contínua como pró-cinético em equinos 10 com síndrome cólica (Malone et al., 2006). Adicionalmente, a administração da lidocaína demonstrou reduzir a concentração alveolar mínima dos anestésicos halogenados em equinos (Doherty & Frazier, 1998) e cães (Valverde et al., 2004), redução essa que parece estar relacionada ao efeito analgésico e sedativo proporcionado por este fármaco (Valverde et al., 2004). Os efeitos da lidocaína sobre a nocicepção foram estudados em cavalos conscientes (Robertson et al., 2005). No referido estudo, a administração da lidocaína sob a forma de infusão contínua causou elevação do limiar térmico, sugerindo analgesia somática, mas não demonstrou analgesia visceral. Apesar do efeito da lidocaína sobre a nocicepção ter sido estudado em equinos em posição quadrupedal, seu uso associado a outros fármacos com propriedade analgésica e/ou sedativa não foi encontrado na literatura consultada. 11 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Neuroleptoanalgesia em equinos A associação de fármacos com propriedade tranquilizante/sedativa a fármacos com ação analgésica é denominada neuroleptoanalgesia (Taylor, 1985). A associação desses fármacos parece resultar em sinergismo de forma que os efeitos sedativo e analgésico da associação são mais acentuados do que aqueles observados após a administração isolada de cada fármaco (Monteiro et al., 2008). Como resultado, observa-se um estado de depressão do sistema nervoso central, acompanhado de analgesia e relaxamento muscular (Taylor, 1985). A neuroleptoanalgesia é uma modalidade anestésica em que utilizam-se fármacos que bloqueiam seletivamente mecanismos celulares autonômicos e endócrinos, mecanismos esses ativados pelo estresse. Essa modalidade de anestesia pode ser também definida como estado de intensa analgesia associada à tranquilização, sem perda da consciência, diferindo-se assim da anestesia geral onde se tem o estado de hipnose (Massone, 1999a). Em equinos, os principais fármacos utilizados em protocolos de neuroleptoanalgesia são os fenotiazínicos, os agonistas alfa-2 e os analgésicos opióides (Lamont, 2008). Os fenotiazínicos têm sido amplamente substituídos por alfa-2 agonistas. Os fármacos da classe dos fenotiazínicos possuem efeito tranquilizante suave, ação anti-histamínica e causam exposição peniana em cavalos, sendo esse último efeito dose-dependente (Lamont, 2008). Os fármacos da classe dos opióides são amplamente utilizados na anestesia devido a seu efeito analgésico. A analgesia mediada por esses fármacos resulta de sua ação agonista em três tipos de receptores opióides: Mu (OP3), Kappa (OP2) e Delta (OP1). Todos esses receptores possuem a capacidade de induzir analgesia, apesar de possuírem propriedades farmacológicas diferentes (Lamont, 2008). Existem diversos relatos sobre o uso de opióides como o butorfanol e a buprenorfina em equinos em posição quadrupedal (Kalpravidh et al., 1984; Skarda & Muir, 2003; Carregaro et al., 2007). Entretanto, o uso dos analgésicos opióides em equinos resulta em efeitos adversos importantes, os quais ainda tornam muitos médicos veterinários resistentes ao 12 uso desses fármacos nesta espécie. Os fármacos dessa classe, quando usados isoladamente, podem causar excitação, especialmente em animais que não estejam passando por algum processo doloroso. Por essa razão, em equinos os opióides são geralmente administrados em associação a fármacos tranquilizantes/sedativos (Lamont, 2008). Outro efeito importante dos opióides em equinos é a redução da motilidade gastrointestinal a qual pode persistir por várias horas (Boscan et al., 2006). A redução da motilidade gastrointestinal resulta em diminuição do conteúdo hídrico e na eliminação das fezes (Boscan et al., 2006), podendo causar compactação e sinais de síndrome cólica. 2.2 Agonistas alfa-2 adrenérgicos Os fármacos pertencentes ao grupo dos agonistas alfa-2 são utilizados com muita frequência com intuito de produzir sedação, analgesia e relaxamento muscular em equinos em posição quadrupedal e como medicação pré-anestésica previamente à realização de procedimentos sob anestesia geral (Muir & Hubbell, 2001; Lamont, 2008). Os agonistas alfa-2 são fármacos sintéticos que interagem com adrenoceptores do tipo alfa-2, os quais se encontram amplamente distribuídos em todos os tecidos corporais (Nannarone et al., 2007). Os receptores alfa-2 são encontrados nas principais vias aferentes periféricas, nas terminações nervosas ao nível das lâminas superficiais do corno dorsal da medula espinhal e no tronco encefálico. Portanto, a administração de fármacos agonistas alfa2 em qualquer uma dessas regiões oferece a possibilidade de ação analgésica, que também pode ser sinérgica ou aditiva com outras classes de medicamentos (Valverde, 2010). As diferenças entre os fármacos da mesma classe no que se refere à potência, eficácia e duração de efeito podem ser devido a sua seletividade variável para os receptores alfa-2 e alfa-1 adrenérgicos (relação alfa-2: alfa-1): xilazina (160:1), romifidina (200:1) e detomidina (260:1) (Virtanen, 1989). Outros fatores que podem influenciar o efeito desses fármacos são a dose, velocidade e via de administração, bem como o temperamento do animal, já que animais mais estressados liberam uma quantidade maior de adrenalina, diminuindo o efeito do fármaco (Hubbell, 2007). 13 Existem três subtipos principais de receptores alfa-2 adrenérgicos: alfa-2A, alfa-2B e alfa-2C (Valverde, 2010). O receptor alfa-2A é o principal receptor envolvido na mediação da analgesia espinhal. A ativação dos receptores alfa-2 por um agonista induz esse receptor a interagir com um tipo de proteína G (receptores acoplados a proteínas G) resultando em diminuição na excitabilidade neuronal através da abertura dos canais de potássio, diminuição do influxo de íons cálcio e inibição da adenil-ciclase. Além de causar analgesia, a estimulação de receptores alfa-2A promove sedação, hipnose e inibição da secreção de insulina (Valverde, 2010). Os receptores alfa-2B estão envolvidos também na analgesia, além de promoverem vasoconstrição de artérias periféricas. Os receptores alfa-2C estão envolvidos na modulação da dor, humor e atividade locomotora induzidas por algum estímulo e também regulam a liberação de adrenalina pela glândula adrenal (Valverde, 2010). Os agonistas alfa-2 produzem depressão do sistema nervoso central por estimulação de receptores alfa-2 adrenérgicos pré-sinápticos no sistema nervoso central e perifericamente. Como resultado, ocorre redução na liberação de norepinefrina central e periférica, havendo diminuição nas concentrações plasmáticas de catecolaminas (Muir & Hubbell, 2001). Os efeitos sedativos dos fármacos dessa classe são resultantes da diminuição da atividade noradrenérgica em uma determinada área no cérebro denominada Locus coeruleus, área responsável pelo controle do estresse. Já o efeito analgésico/antinociceptivo resulta da modulação das projeções noradrenérgicas descendentes na transmissão da dor no corno dorsal da medula espinhal (Stenberg, 1986). Estudos eletrofisiológicos demonstraram que tanto os mecanismos pré como pós-sinápticos fazem parte da ação antinociceptiva dos agonistas alfa2. Pré-sinapticamente, a liberação de norepinefrina é inibida e pós-sinapticamente, há uma hiperpolarização da membrana celular impedindo a transmissão de estímulos (Yaksh, 1985). Os fármacos agonistas alfa-2 adrenérgicos possuem um efeito quase imediato após sua administração intravenosa (IV); isso se dá devido ao seu elevado caráter lipofílico, resultando em uma rápida ação no cérebro (Muir, 2009). Em um equino que é submetido à sedação com um alfa-2 agonista, a cabeça ficará mais baixa, facilitando a capacidade de se equilibrar nos apêndices torácicos e escoicear violentamente com ambos os apêndices pélvicos (Lamont, 2008). Isso pode ser mostrado até mesmo em animais que receberam elevadas doses desses fármacos (Daunt & Steffey, 2002). 14 Foi relatado anteriormente que os efeitos analgésico e sedativo proporcionado pelos agonistas alfa-2 são dose-dependentes, ou seja, a administração de doses maiores resulta em maior intensidade de analgesia e sedação (Rohrbach et al., 2009). Adicionalmente, foi sugerido que o efeito antinociceptivo tem aproximadamente metade da duração do efeito sedativo (Rohrbach et al., 2009). Considerando que a analgesia e sedação mediadas pelos agonistas alfa-2 são dependentes da dose administrada (Jochle & Hamm, 1986), diferentes doses do mesmo fármaco podem produzir diferentes intensidade e duração de ação analgésica e sedativa, podendo afetar em diferentes graus os padrões comportamentais, diminuindo ou inibindo completamente as respostas aos estímulos externos (Stenberg, 1986; Virtanen, 1986). Os agonistas alfa-2 são fármacos eficazes para tratar a dor visceral, incluindo dores de origem no trato digestório (como em equinos com síndrome cólica), ainda que esse efeito possa mascarar a gravidade da doença ou até mesmo retardar a indicação da resolução cirúrgica (Muir & Hubbell, 2001). De acordo com Jochle et al (1989), a xilazina e detomidina foram utilizados em equinos com dor abdominal grave, com a detomidina demostrando um efeito sedativo/analgésico mais acentuado e duradouro do que a xilazina. Um estudo clínico comparativo entre detomidina, xilazina, butorfanol e flunixim meglumine em equinos com cólica mostrou que a detomidina possui um efeito analgésico mais eficaz e não foi associado a aumento de morbidade ou mortalidade (Jochle et al., 1989). Apesar do uso difundido dos agonistas alfa-2 em equinos, sua administração resulta em uma grande variedade de efeitos adversos. Portanto, o uso desses fármacos deve ser cauteloso em pacientes de risco aumentado. Um dos efeitos indesejáveis causados pela administração dos agonistas alfa-2 é a ataxia, a qual varia conforme o fármaco e a dose administrada. A ataxia é dose-dependente, sendo mais grave após a administração da detomidina ou xilazina do que após a romifidina (Lamont, 2008). Foi demonstrado através de estudos que os agonistas alfa-2 podem exercer diversos efeitos sobre o trato digestório no equino. De acordo com Merritt et al (1989), a xilazina pode não perturbar seriamente a motilidade do trato gastrointestinal proximal dos equinos. Segundo (Stick et al., 1987), demonstraram através de um estudo utilizando o jejuno de equinos que os agonistas alfa-2 podem reduzir a motilidade intestinal in vitro. Um estudo relacionado ao intestino grosso em equinos demonstrou que a xilazina reduziu atividade mecânica cecal por 15 cerca de duas horas (Rutkowski et al., 1991). A atuação dessa classe de fármacos demonstrou ocasionar um relaxamento periférico da musculatura intestinal através da inibição de suas atividades tônicas (Valverde, 2010). Os efeitos cardiovasculares mais comumente causados pelos agonistas alfa-2 são diminuição da freqüência cardíaca, diminuição do débito cardíaco (podendo chegar a 50%), aumento da resistência vascular sistêmica e aumento inicial da pressão arterial seguida de redução da mesma (Valverde, 2010). Aparentemente, os efeitos hemodinâmicos são bem tolerados sem conseqüências notáveis em equinos hígidos, mas contribuem potencialmente para a deterioração da função cardiovascular nos equinos com função cardíaca comprometida (Muir, 1991). Por essa razão, o uso dos fármacos agonistas alfa-2 em equinos com comprometimento significativo da função circulatória deve ser cauteloso (Wagner et al., 1991). Os fármacos dessa classe também podem ocasionar bloqueio átrio-ventricular de segundo grau. Estudos demonstraram que o bloqueio átrio-ventricular foi mais persistente nos animais que receberam detomidina, especialmente quando administradas em doses elevadas (Yamashita et al., 2000). Muitos dos efeitos cardiovasculares mediados pelos agonistas alfa-2, como a redução na frequência e débito cardíacos e bloqueio atrioventricular, parecem resultar da redução do tônus simpático no sistema nervoso central e ao aumento da atividade parassimpática (Muir & Hubbell, 2001). O efeito bifásico sobre a pressão arterial é causado pelo aumento inicial da resistência vascular sistêmica, resultante da estimulação de receptores alfa-2 pós-sinápticos periféricos. Subsequentemente, ocorre diminuição do tônus simpático a partir da estimulação de receptores pré-sinápticos do tipo alfa-2A, reduzindo a liberação de noradrenalina e também a estimulação de receptores pré-sinápticos alfa-2C, que reduz a liberação de adrenalina, resultando em uma diminuição da resistência vascular e conseqüentemente da pressão arterial (Valverde, 2010). A duração da depressão cardiovascular causada por doses elevadas desses fármacos foi mais pronunciada e prolongada com a administração de detomidina e com menor efeito após o uso da xilazina (Yamashita et al., 2000). Estudos anteriores demonstraram que a meiavida da detomidina após aplicação intravenosa é mais longa do que a da xilazina (detomidina: 16 1.19 horas versus xilazina: 50 minutos) (Garacia et al.,1981; Salonen et al., 1989), sugerindo assim; que a meia-vida de eliminação da detomidina pode ser uma das causas da sua depressão cardiovascular mais prolongada. Um estudo utilizando medetomidina, detomidina e xilazina 7,5µg/kg, 40µg/kg e 1mg/kg, respectivamente demonstrou depressão cardiovascular semelhante em eqüinos. Porém, a xilazina induziu hipertensão arterial inicial menos acentuada com aumento mínimo na resistência vascular periférica. Isto sugere que a vasoconstricão produzida pela xilazina é mais branda do que com a detomidina e a medetomidina (Skirbic & Chiba, 1993; Elliot, 1997; Iida et al., 1999). Outro efeito importante dessa classe de fármacos está relacionado à produção de urina. Os fármacos agonistas alfa-2 administrados para produzir sedação ou durante a anestesia geral podem aumentar a produção de urina devido a sua ação hiperglicemiante mediado por receptores alfa-2A e alfa-2C (Valverde, 2010). Isso se dá devido à estimulação de receptores alfa-2-adrenérgicos localizados nas células beta do pâncreas, fazendo com que a secreção de insulina seja inibida (Thurmon et al., 1982). Apesar da hiperglicemia, a glicose não é normalmente detectada em grandes quantidades na urina dos equinos. Isto indica que o aumento do fluxo urinário nos equinos após o uso dessa drogas não é causado por um efeito diurético osmótico da glicose (Thurmon et al., 1984). O efeito sobre a diurese parece estar relacionado à inibição da liberação do hormônio antidiurético e inibição da resposta hormonal nos túbulos renais (Maze & Tranquilli, 1991). Com o uso tanto da xilazina quanto da detomidina, pode-se observar nos equinos movimentos laríngeos anormais, fora de sincronia e também o relaxamento dos músculos que compõe a cartilagem alar e outros músculos do trato respiratório superior, podendo causar ronco e obstrução respiratória (Muir, 1991). Um aumento da pressão intra-uterina também foi identificado nos animais que recebem esses fármacos. Um estudo anterior demonstrou que éguas que recebiam agonistas alfa-2 no último trimestre da gestação reduziram a atividade elétrica miometrial por aproximadamente uma hora, não sendo contudo, associada com parto prematuro ou aborto (Jedruch et al., 1989). Em contrapartida alguns autores recomendam evitar o uso desses 17 fármacos em éguas gestantes, especialmente nas fases mais tardias da gestação (Daunt & Steffey, 2002). 2.3 Lidocaína Os anestésicos locais são fármacos que se difundem através da membrana da célula nervosa, penetrando nos canais de sódio, inibindo o influxo de íons de sódio para o interior da célula nervosa, interrompendo assim a geração e transmissão da condução nervosa (Strichartz, 1976). A lidocaína é um anestésico local do tipo amida (Milligan et al., 2006), que possui moderada solubilidade, com potência e ação moderadas, com alto poder de penetração e de ação tópica pouco eficaz (Massone, 1999b). As características funcionais de um anestésico local são determinadas pelo pKa, lipossolubilidade e taxa de ligação às proteínas. O pH no qual a solução permanece em equilíbrio denomina-se pKa. Em meio ácido, a formação de base livre é reduzida, levando à perda de difusibilidade através das barreiras lipídicas. Exemplo típico é a anestesia local não agir em uma regiões inflamadas, onde o meio é ácido (Massone, 1999b). A lidocaína é um anestésico local que é utilizado para diversas finalidades. Algumas delas são analgesia local, efeito anti-arritmogênico, redução da concentração alveolar mínima (CAM) dos anestésicos voláteis, analgésico na dor neuropática periférica e como pró-cinético em equinos com distúrbios do trato digestório (Martinez, 2008). Quando a lidocaína é administrada por via intravenosa, ocorre aumento da concentração do neurotransmissor acetilcolina no líquor, que atua aumentando as vias descendentes inibitórias da dor, resultando em analgesia, provavelmente pela ligação no receptor muscarínico do subtipo M3, por meio de receptores para glicina e liberação de opióides endógenos, levando ao efeito analgésico final (Lauretti, 2008). A lidocaína tem sido utilizada sob a forma de infusão contínua intravenosa no período intra-operatório em equinos como um adjuvante da anestesia geral. Em um estudo realizado 18 em pôneis, a administração da lidocaína em infusão de 0,05 a 0,10 mg/kg/min, precedidas de bolus de 2,5 ou 5,0 mg/kg, respectivamente, causou redução dose dependente sobre a CAM do halotano (Doherty & Frazier, 1998). Em outro estudo realizado em equinos submetidos a cirurgias de rotina, a administração intravenosa de lidocaína (2,5 mg/kg) por 15 minutos, seguido por uma infusão contínua de velocidade (0,05 mg/kg/min) resultou em redução de 25% na concentração de isoflurano necessária à manutenção da anestesia, com efeitos cardiovasculares mínimos (Dzikiti et al., 2003). O uso da lidocaína como analgésico também foi descrito em equinos em posição quadrupedal. Em um estudo realizado com eqüinos nessas condições por Robertson et al (2005), utilizando o limiar térmico como modelo de avaliação nociceptiva, observou-se depressão significativa na nocicepção térmica com concentrações plasmáticas de lidocaína variando de 0,9 a 1,0 μg/ml, sugerindo analgesia somática. Além do uso durante a anestesia, a lidocaína também vem sendo empregada com o intuito de promover analgesia e aumento da motilidade intestinal em equinos com cólica em doses variando de 0,025 a 0,10 mg/kg/min, administrada sob a forma de infusão intravenosa contínua, precedidas de bolus de 1,3 mg/kg. Nesse regime terapêutico, os efeitos adversos foram mínimos mesmo após infusões com duração igual ou superior a 24 horas (Malone et al., 2006; Dickey et al., 2008). 2.4 Modelos de estímulos para avaliação nociceptiva em equinos Diversos tipos de estímulos vem sendo empregados para se estudar o efeito antinociceptivo de fármacos em equinos (Kamerling et al., 1985; Natalini et al., 2000; Schatzmann et al., 2001; Lizarraga et al., 2004; Carregaro et al., 2007; Sanchez et al., 2008). Os dispositivos usados para exercer estímulo de natureza mecânica consistem em um pistão conectado a um pino de aço afiado ou com ponta romba, o qual é pressionado contra o membro do animal na região do terceiro metacarpiano ou da quartela. O pistão é impulsionado por gás oxigênio proveniente de um cilindro ou por uma seringa de 60 mL conectada ao sistema tubular. A pressão exercida pelo pino de aço é elevada progressivamente 19 até que uma resposta positiva clara (retirada do membro) seja evidenciada (Schatzmann et al., 2001; Lizarraga et al., 2004). O uso do estímulo térmico utilizando uma lâmpada que direciona calor para a região da cernelha ou da região da falange proximal foi relatado em estudos anteriores (Kamerling et al., 1985; Carregaro et al., 2007), sendo a resposta considerada mais confiável quando o estímulo térmico foi realizado no membro do que na cernelha (Carregaro et al., 2007). Outro método utilizado para exercer o estímulo térmico consiste de uma placa térmica com sensor de temperatura a qual é posicionada sobre a superfície da pele na região da cernelha, sendo a temperatura da placa elevada gradativamente até a observação de uma resposta positiva, definida como a ocorrência de fasciculações musculares ou quando o animal vira a cabeça em direção à placa térmica (Sanchez et al., 2008). Além dos estímulos de natureza mecânica e térmica, diversos estudos relatam o uso do estímulo elétrico. O modelo utilizado por Schatzmann et al (2001) utiliza um gerador de corrente contínua que é transmitida a eletrodos de metal posicionados sobre a pele tricotomizada após prévia aplicação de gel condutor. Nesse estudo, os eletrodos foram fixados por meio de fita adesiva, com distância de 3 cm entre si, na região acima da banda coronária do casco. A corrente elétrica foi aumentada gradualmente até a observação de uma resposta positiva, após o qual o estímulo era interrompido e a intensidade da corrente elétrica (em mA) registrada. Em outro estudo no qual foi utilizando o estímulo elétrico, os autores relataram a elevação da intensidade do estímulo pelo incremento da voltagem ao invés da amperagem (Natalini & Robinson, 2000). Nesse estudo, os autores utilizaram uma corrente contínua com frequência de 50 Hz, duração de 10 ms e a voltagem aumentada em incrementos de 10 V. Para evitar danos aos tecidos, a intensidade máxima da corrente elétrica utilizada nesses estudos foi limitada em 30 mA ou 80V (Natalini & Robinson, 2000; Schatzmann et al., 2001). 20 3. OBJETIVOS 3.1 Gerais • Estudar os efeitos de infusões de xilazina e xilazina associada à lidocaína sobre a nocicepção, sedação e variáveis fisiológicas em equinos em posição quadrupedal. 3.2 Específicos • Verificar se a associação da lidocaína intensifica os efeitos sedativo e antinociceptivo proporcionados pela xilazina; • Em caso de potencialização dos efeitos da xilazina pela lidocaína, estudar a influência da dose de lidocaína (1,5 e 3,0 mg/kg/h) sobre esses efeitos; • Avaliar a ocorrência de efeitos adversos 21 4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Animais O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética, Bioética e Bem Estar Animal da UVV (protocolo 103/2010). Foram utilizados seis equinos adultos hígidos (5 fêmeas e 1 macho), de raças mestiças e peso médio de 307 ± 49 kg (média ± DP). Os animais foram de procedência da fazenda experimental do Centro Universitário Vila Velha. O manejo desses animais consistiu em permanência em piquetes em período integral. Os animais foram alimentados com ração comercial para equinos, silagem, feno e pasto. A higidez dos animais foi avaliada previamente através de exame físico e exames laboratoriais (hemograma completo, uréia, creatinina, FA, AST e GGT). Somente animais com resultados dos exames dentro de valores considerados normais para a espécie foram incluídos no estudo. 4.2 Instrumentação e variáveis mensuradas Antes da realização de cada experimento, os animais foram submetidos a jejum alimentar de 12 horas, mas não foram privados de água. Um cateter 14 G foi introduzido por punção percutânea na veia jugular esquerda para administração de fármacos. O cateter foi conectado a uma torneira de três vias e fixados à pele por meio de sutura. Os valores basais das variáveis estudadas foram mensurados com os animais no interior de um tronco de contenção, onde permaneceram durante todo o experimento. A frequência cardíaca (FC) foi mensurada por auscultação com estetoscópio na região do sexto espaço intercostal esquerdo; a frequência respiratória (f R ) e a concentração expirada de dióxido de carbono (ETCO 2 ) foram mensuradas utilizando um oxicapnógrafo 1, cuja amostragem foi realizada no interior da narina do animal; a temperatura retal foi aferida utilizando um termômetro clínico digital. 1 Oxicapnógrafo modelo M2000, J.G. Moriya, São Paulo - SP. 22 A altura de cabeça foi medida através de um bastão graduado em centímetros, fixado em posição vertical no tronco de contenção. O grau de sedação e ataxia foi avaliado por meio de uma escala numérica descritiva (END) na qual: Tabela 1 - Representação em escala numérica descritiva (END) para mensuração dos graus de sedação e ataxia. Variável Grau Descrição 0 nenhuma sedação aparente 1 sedação leve, com abaixamento de cabeça discreto (não abaixo do manúbrio) e resposta normal ao estímulo auditivo (bater palmas 3 vezes) Sedação 2 sedação moderada, com abaixamento de cabeça abaixo do manúbrio e resposta normal ou reduzida ao estímulo auditivo 3 sedação intensa, com abaixamento de cabeça abaixo do manúbrio e mínima ou nenhuma resposta ao estímulo auditivo Variável Grau Descrição 0 nenhuma ataxia aparente 1 ataxia leve, animal estável, mas balança discretamente 2 ataxia moderada, o animal balança e se apóia frequentemente no tronco de Ataxia contenção 3 ataxia intensa, o animal balança e se apóia no tronco constantemente, cruza membros torácicos e/ou pélvicos podendo flexioná-los na articulação do carpo ou tarso Para avaliação do limiar nociceptivo, dois eletrodos adesivos foram fixados à pele tricotomizada, a uma distância de 3 cm entre si, na região lateral da extremidade distal do metacarpo, após aplicação de gel condutor. Os eletrodos foram conectados a um aparelho de TENS 2 (Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation) para a administração do estímulo elétrico. O estímulo teve duração de 0,3 ms, frequência de 50 Hz e a intensidade da corrente elétrica foi aumentada progressivamente (a cada 5 segundos) até a observação de uma resposta motora positiva, sendo esta considerada a retirada brusca do membro estimulado. 2 Physiotonus four, Bioset, Rio Claro – SP. 23 Figura 1 - Eletrodos adesivos fixados à pele tricotomizada no aspecto lateral da região distal do metacarpo e aparelho de TENS 4.3 Procedimento experimental Os valores basais das variáveis estudadas foram mensurados após um período mínimo de 15 minutos depois de terminada a instrumentação dos animais, com os animais posicionados em um tronco de contenção. Para se evitar possível interferência com outras variáveis, a avaliação nociceptiva e o estímulo auditivo foram sempre as últimas variáveis avaliadas. Os equinos receberam aleatoriamente a administração de três tratamentos experimentais, em ocasiões diferentes, com intervalo mínimo de uma semana entre cada experimento. Todos os animais receberam a administração intravenosa de xilazina 3 em bolus inicial de 0,55 mg/kg (ao longo de 1 min) seguido de infusão contínua na dose de 1,1 mg/kg/hora, por meio de uma bomba de infusão de seringa 4. Para a administração de xilazina por infusão contínua, 4,8 mL de xilazina 10% foram diluídos em solução fisiológica de NaCl 3 Sedazine, Fortdodge, Campinas – SP. 4 Bomba de Infusão modelo ST 670, Samtronic, São Paulo – SP. 24 até atingir um volume final de 60 mL, obtendo-se solução com concentração final de 8 mg/mL de xilazina. Decorridos 10 minutos após o início do bolus de xilazina, as variáveis estudadas foram novamente registradas (momento XIL). Subsequentemente, os animais receberam a administração intravenosa de um dos 3 tratamentos a seguir: tratamento Controle, bolus de solução fisiológica (0,125 mL/kg) + infusão (1 mL/kg/hora); tratamento lidocaína dose baixa (LDB), bolus de lidocaína (1,3 mg/kg) + infusão (1,5 mg/kg/hora); e tratamento lidocaína dose alta (LDA), bolus de lidocaína (1,3 mg/kg) + infusão (3 mg/kg/hora). Em todos os tratamentos, o bolus foi administrado em 5 minutos e o volume final foi padronizado em 0,125 mL/kg, sendo obtido (nos tratamentos LDB e LDA) através da diluição de lidocaína 2% sem vasoconstritor 5 em solução fisiológica. A infusão contínua teve início imediatamente após o fim do bolus. As soluções utilizadas para infusão nos tratamentos LDB e LDA foram preparadas da seguinte forma: 750 mg e 1500 mg de lidocaína 2% sem vasoconstritor foram adicionadas a um frasco de 500 mL de solução fisiológica, sendo removido igual volume de salina, obtendo-se soluções com concentrações finais de 1,5 mg/mL e 3 mg/mL de lidocaína, respectivamente. Utilizando essas soluções, a velocidade de infusão foi a mesma (1 mL/kg/h) em todos os tratamentos e as soluções foram administradas por meio de uma bomba de infusão peristáltica 6. As variáveis estudadas foram novamente registradas decorridos 10, 20, 30, 40 e 50 minutos do início do bolus do tratamento (salina ou lidocaína). Após registro das variáveis aos 50 minutos de infusão, a administração das infusões (de xilazina e do tratamento experimental) foram interrompidas e as variáveis foram novamente registradas decorridos 15, 30 e 60 minutos do término das infusões (momentos 65, 80 e 110). Em todas as ocasiões, um observador que desconhecia o tratamento experimental administrado foi responsável pela avaliação das variáveis estudadas. 4.4 Análise estatística Para comparação entre os grupos em cada momento nas variáveis cardiorrespiratórias e altura de cabeça, foi utilizada a analise de variância (ANOVA) bifatorial para amostras 5 Cloridrato de lidocaína, Hipolabor, Sabará – MG. 6 Bomba de infusão modelo Nutrimat II, B-Braun, São Gonçalo – RJ. 25 repetidas seguida pela correção de Bonferoni. Comparações ao longo do tempo dentro de cada grupo em relação aos valores basais foram analisadas pela ANOVA para amostras repetidas seguida pelo teste de Dunnet. Para as variáveis não paramétricas (grau de sedação, ataxia e limiar nociceptivo), foi utilizado o teste de Friedman seguido do teste de Dunn para comparações entre grupos e ao longo do tempo. Para todas as análises, foram consideradas diferenças significativas quando P < 0,05. 26 5. RESULTADOS Não houve diferença significativa entre os tratamentos nos valores basais de FC, f R , ETCO 2 , temperatura, altura da cabeça e limiar nociceptivo. No momento basal, foi atribuído o valor de zero a todos os animais nos escores de sedação e ataxia. Os animais de todos os tratamentos apresentaram diminuição significativa da FC no momento XIL. No tratamento controle, os valores de FC permaneceram menores do que o valor basal até os 50 minutos. No tratamento LDB, houve diferença significativa em relação ao basal aos 20 e 30 minutos e no tratamento LDA, essa diferença ocorreu somente aos 10 minutos. Não houve diferença significativa na FC entre os tratamentos durante as infusões. Entretanto, os valores médios de FC foram significativamente maiores no Controle em relação ao tratamento LDA aos 80 minutos (figura 2, tabela 2). Houve diminuição significativa da f R em relação aos valores basais em todos os tratamentos após a administração da xilazina (momento XIL). Os valores de f R permaneceram significativamente menores dos que os basais durante todo o período de avaliação (durante as infusões e após o término destas). Não ocorreu diferença significativa entre os tratamentos na f R em nenhum dos momentos estudados. Valores de ETCO 2 significativamente maiores do que o basal foram observados no Controle do momento XIL até o final do estudo. Nos tratamentos LDA e LDB, os valores de ETCO 2 foram maiores do que os basais dos 10 minutos até o final do estudo. Não houve diferença significativa entre os tratamentos na ETCO 2 em nenhum dos momentos (figura 2, tabela 2). Houve redução discreta (até 0,5 oC) na temperatura retal nos animais dos tratamentos Controle e LDA aos 50 minutos, mas diferença significativa entre os tratamentos não foi observada durante todo o estudo (tabela 2). Em todos os tratamentos, houve abaixamento significativo da cabeça após a administração da xilazina (momento XIL). Os valores da altura da cabeça permaneceram mais baixos do que os basais em todos os tratamentos durante as infusões (dos 10 aos 50 minutos) e durante 30 minutos após o término destas (de 65 a 80 minutos). Aos 110 minutos, os valores da altura da cabeça retornaram a valores não significativamente diferentes dos valores basais 27 em todos os tratamentos. Não houve diferença significativa entre os tratamentos na altura da cabeça (figura 2, tabela 2). Do momento XIL até os 50 minutos, o grau de sedação foi significativamente maior em relação aos valores basais em todos os tratamentos. Exceções a esta regra ocorreram no tratamento LDB (momento XIL) e tratamento LDA (aos 40 minutos). Em todos os tratamentos, o grau de sedação não diferiu significativamente dos valores basais após o término das infusões (dos 65 aos 110 minutos). Não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos no grau de sedação (figura 3, tabela 3). No tratamento Controle, o grau de ataxia foi significativamente maior do que o basal somente no momento XIL e aos 10 minutos. Nos tratamentos LDB e LDA, o grau de ataxia foi maior do que o basal durante a maior parte do período de infusão. Ataxia mais intensa foi observada no tratamento LDA do que no Controle aos 20 minutos. Após a interrupção das infusões, não foram observadas diferenças significativas entre tratamentos ou em relação ao basal no grau de ataxia em nenhum dos tratamentos (figura 4, tabela 3). Os valores reais do limiar nociceptivo encontram-se na figura 6. Não houve diferença significativa entre os tratamentos nos valores basais do limiar nociceptivo. Comparado ao valor basal, houve elevação significativa no limiar nociceptivo do momento XIL até os 50 minutos, no tratamento Controle, e dos 10 aos 50 minutos nos tratamentos LDB e LDA. As maiores porcentagens de aumento nas medianas, em relação ao basal, foram 53% no Controle (aos 30 minutos), 91% no tratamento LDB (aos 50 minutos) e 115% no tratamento LDA (aos 20 minutos). Valores de limiar nociceptivo significativamente maiores do que no Controle foram observados nos tratamentos LDB (aos 50 minutos) e LDA (dos 30 aos 50 minutos) (figura 5, tabela 2). 28 60 Altura de cabeça (% do basal) 150 † 50 FC (bpm) 40 100 30 20 10 0 * * * 125 * * * Basal XIL 75 50 25 0 10 20 30 40 50 65 80 110 Basal XIL 10 50 65 80 110 50 65 80 110 60 * * * 50 ETCO2 (mmHg) fR (mrpm/min) 40 Tempo (min) 25 20 30 20 Tempo (min) 15 10 5 40 30 20 * 10 0 0 Basal XIL 10 20 30 40 50 65 80 110 Basal XIL * * 10 30 20 40 Tempo (min) Tempo (min) Controle LDB LDA Figura 2 - Valores médios (± DP) da frequência cardíaca (FC), altura da cabeça, frequência respiratória (f R ) e concentração expirada de dióxido de carbono (ETCO 2 ) em seis equinos que receberam a administração de xilazina (bolus de 0,55 mg/kg seguido de infusão de 1,1 mg/kg/h) associada à solução salina (Controle) ou lidocaína. Nos tratamentos LDB e LDA, os animais receberam bolus de lidocaína de 1,3 mg/kg seguido de infusão de 1,5 e 3,0 mg/kg/h, respectivamente. As variáveis no momento XIL foram mensuradas 10 minutos após o início da infusão de xilazina. As variáveis nos momentos 10 a 50 minutos foram mensuradas durante as infusões de xilazina e lidocaína; nos momentos 65, 80 e 110 minutos, as variáveis foram avaliadas respectivamente 15, 30 e 60 minutos após o término das infusões. †: diferença significativa entre os tratamentos Controle e LDA; ao longo do tempo, dentro de cada tratamento, as linhas ao lado do símbolo (*) indicam os momentos que diferem significativamente do Basal (P < 0,05). 29 Tabela 2 - Valores médios (± DP) da frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (f R ), concentração expirada de dióxido de carbono (ETCO 2 ), altura da cabeça e temperatura retal (Temp) em seis equinos que receberam a administração de xilazina (bolus de 0,55 mg/kg seguido de infusão de 1,1 mg/kg/h) associada à solução salina (Controle) ou lidocaína. Nos tratamentos LDB e LDA, os animais receberam bolus de lidocaína de 1,3 mg/kg seguido de infusão de 1,5 e 3,0 mg/kg/h, respectivamente. Ver legenda da Figura 2 para maiores detalhes Momento / Tempo (minutos) Basal XIL 10 20 30 40 50 65 80 110 FC (bpm) C LDB LDA 40 ± 8 39 ± 6 37 ± 6 34 ± 6* 33 ± 5* 30 ± 6* 34 ± 5* 35 ± 4 32 ± 5* 34 ± 6* 34 ± 4* 34 ± 5 35 ± 6* 34 ± 5* 33 ± 5 35 ± 5* 35 ± 4 34 ± 4 35 ± 5* 35 ± 6 33 ± 5 38 ± 6 35 ± 7 34 ± 5 42 ± 6 38 ± 8 36 ± 7† 42 ± 8 40 ± 7 38 ± 8 FR (mrpm) C LDB LDA 15 ± 5 14 ± 5 12 ± 6 8 ± 2* 8 ± 2* 7 ± 1* 8 ± 2* 8 ± 1* 7 ± 1* 8 ± 2* 7 ± 1* 7 ± 1* 7 ± 2* 7 ± 1* 6 ± 1* 7 ± 3* 7 ± 1* 6 ± 1* 7 ± 2* 7 ± 1* 6 ± 1* 6 ± 1* 6 ± 1* 6 ± 1* 6 ± 2* 7 ± 2* 6 ± 1* 6 ± 1* 7 ±1* 6 ± 1* ETCO2 (mmHg) C LDB LDA 38 ± 4 39 ± 2 40 ± 2 43 ± 3* 42 ± 2 43 ± 5 45 ± 3* 42 ± 2* 45 ± 3* 44 ± 4* 43 ± 3* 46 ± 4* 44 ± 4* 43 ± 1* 46 ± 4* 45 ± 4* 43 ± 3* 47 ± 3* 46 ± 3* 44 ± 3* 46 ± 3* 46 ± 3* 45 ± 3* 47 ± 3* 44 ± 3* 45 ± 3* 46 ± 2* 43 ± 4* 42 ± 2* 44 ± 3* 100 100 100 39 ± 13* 36 ± 11* 34 ± 20* 37 ± 14* 34 ± 12* 35 ± 12* 40 ± 19* 29 ± 7* 34 ± 14* 39 ± 13* 33 ± 7* 36 ± 12* 37 ± 15* 36 ± 12* 35 ± 15* 36 ± 14* 34 ± 6* 39 ± 16* 53 ± 25* 48 ± 11* 42 ± 10* 76 ± 14* 65 ± 18* 76 ± 18* 93 ± 11 90 ± 9 93 ± 12 Altura da Cabeça (% do Basal) C LDB LDA C 37,5 ± 0,6 NM NM NM NM NM 37,1 ± 0,6 NM NM LDB 37,6 ± 1,0 NM NM NM NM NM 37,6 ± 0,8 NM NM LDA 37,4 ± 0,5 NM NM NM NM NM 37,0 ± 0,5 NM NM NM: não mensurado; †: diferença significativa em relação ao grupo Controle*: diferença significativa em relação ao basal (P < 0,05). Temp (°C ) NM NM NM 30 Controle LDB LDA * 3 * * * * * 2 1 0 4 * 3 * * * Escore de Sedação (END) 4 Escore de Sedação (END) Escore de Sedação (END) 4 * 2 1 0 Basal XIL 10 20 30 40 50 Tempo (minutos) 65 80 110 3 * * * * XIL 10 20 30 * 2 1 0 Basal XIL 10 20 30 40 50 Tempo (minutos) 65 80 110 Basal 40 50 65 80 110 Tempo (minutos) Figura 3 - Representação gráfica dos escores de sedação em seis equinos que receberam a administração de xilazina (bolus de 0,55 mg/kg seguido de infusão de 1,1 mg/kg/h) associada à solução salina (Controle) ou lidocaína. Nos tratamentos LDB e LDA, os animais receberam bolus de lidocaína de 1,3 mg/kg seguido de infusão de 1,5 e 3,0 mg/kg/h, respectivamente. As medianas são representadas pelas linhas horizontais no interior de cada caixa. As caixas representam os intervalos interquartis e contém 50% dos valores. As linhas verticais acima e abaixo das caixas representam os valores máximo e mínimo. No momento basal foi atribuído escore de sedação igual a zero a todos os animais. *: diferença significativa em relação ao basal (P < 0,05) Ver legenda da Figura 2 para maiores detalhes. 31 Figura 4 - Representação gráfica dos escores de ataxia em seis equinos que receberam a administração de xilazina (bolus de 0,55 mg/kg seguido de infusão de 1,1 mg/kg/h) associada à solução salina (Controle) ou lidocaína. Nos tratamentos LDB e LDA, os animais receberam bolus de lidocaína de 1,3 mg/kg seguido de infusão de 1,5 e 3,0 mg/kg/h, respectivamente. As medianas são representadas pelas linhas horizontais no interior de cada caixa. As caixas representam os intervalos interquartis e contém 50% dos valores. As linhas verticais acima e abaixo das caixas representam os valores máximo e mínimo. No momento basal foi atribuído escore de sedação igual a zero a todos os animais. *: diferença significativa em relação ao basal; †: diferença significativa em relação ao tratamento Controle (P < 0,05) Ver legenda da Figura 2 para maiores detalhes. 32 Controle LDB LDA 600 600 500 400 300 200 * * * * 100 0 * 500 *† Limiar nociceptivo (% do basal) Limiar nociceptivo (% do basal) Limiar nociceptivo (% do basal) 600 * 400 * 300 * 200 100 0 XIL 10 20 30 40 50 Tempo (min) 65 80 110 500 400 * 300 *† *† *† * 200 100 0 XIL 10 20 30 40 50 Tempo (min) 65 80 110 XIL 10 20 30 40 50 65 80 110 Tempo (min) Figura 5 - Representação gráfica do limiar nociceptivo em seis equinos que receberam a administração de xilazina (bolus de 0,55 mg/kg seguido de infusão de 1,1 mg/kg/h) associada à solução salina (Controle) ou lidocaína. Nos tratamentos LDB e LDA, os animais receberam bolus de lidocaína de 1,3 mg/kg seguido de infusão de 1,5 e 3,0 mg/kg/h, respectivamente. As medianas são representadas pelas linhas horizontais no interior de cada caixa. As caixas representam os intervalos interquartis e contém 50% dos valores. As linhas verticais acima e abaixo das caixas representam os valores máximo e mínimo. *: diferença significativa em relação ao basal (100%); †: diferença significativa em relação ao tratamento Controle (P < 0,05) Ver legenda da Figura 2 para maiores detalhes. 33 Tabela 3 - Medianas (intervalos interquartis) dos escores de sedação e ataxia e do limiar nociceptivo em seis equinos que receberam a administração de xilazina (bolus de 0,55 mg/kg seguido de infusão de 1,1 mg/kg/h) associada à solução salina (Controle) ou lidocaína. Nos tratamentos LDB e LDA, os animais receberam bolus de lidocaína de 1,3 mg/kg seguido de infusão de 1,5 e 3,0 mg/kg/h, respectivamente Ver legenda da Figura 2 para maiores detalhes Momentos / Tempo (minutos) Basal XIL 10 20 30 40 50 65 80 110 C 0,0 (0,0- 2,0 (1,75- 2,0 (2,0- 1,75 (2,0- 2,0 (1,75- 2,0 (1,75- 2,0 (1,75- 1,5 (0,75- 1,0 (0,75- 0,0 (0,00,0) 2,25)* 3,0)* 3,0)* 3,0)* 3,0)* 3,0)* 2,0) 1,0) 0,25) LDB 0,0 (0,02,0 (2,02,0 (2,02,0 (2,02,0 (2,02,0 (2,02,0 (2,02,0 (1,01,0 (0,00,0 (0,00,0) 2,0) 2,25)* 3,0)* 2,3)* 2,3)* 3,0)* 2,0) 2,0) 0,3) Sedação LDA 0,0 (0,02,0 (2,02,0 (2,02,0 (2,02,5 (2,02,0 (2,02,0 (2,02,0 (2,0- 1,0 (0,75- 0,0 (0,00,0) 3,0)* 2,25)* 3,0)* 3,0)* 2,0) 2,25)* 2,0 1,25) 0,25) C 0,0 (0,01,0 (1,01,0 (1,01,0 (1,01,0 (0,0- 1,0 (0,75- 1,0 (0,75- 0,5 (0,00,0 (0,00,0 (0,00,0) 1,25)* 1,25)* 1,0) 1,0) 1,0) 1,0) 1,0) 0,25) 0,0) LDB 0,0 (0,01,0 (1,02,0 (1,02,0 (1,02,0 (1,01,0 (1,01,5 (1,00,5 (0,00,0 (0,00,0 (0,0Ataxia 0,0) 1,0) 2,25)* 2,25)* 2,0)* 1,25) 2,0)* 1,0) 0,25) 0,0) LDA 0,0 (0,01,5 (1,0- 2,5 (1,75- 2,0 (2,02,0 (1,0- 2,0 (1,75- 2,0 (1,75- 1,0 (1,00,5 (0,00,0 (0,00,0) 2,0) 3,0)* 2,25)*† 2,25)* 2,0)* 2,0)* 1,25) 1,0) 0,25) C 130 (116- 141 (115- 147 (111- 153 (111- 140 (111- 127 (108- 117 (100- 107 (98107 (98100 148) 154)* 170)* 170)* 172)* 168) 154) 127) 120) Limiar LDB 124 (118- 174 (125- 175 (128- 169 (137- 177 (147- 191 (157- 142 (107- 112 (95112 (91(% do 100 138) 261)* 261)* 239)* 344)* 342)*† 191) 168) 146) Basal) LDA 124 (112- 188 (145- 215 (158- 175 (160- 196 (148- 210 (167- 140 (110- 130 (110- 112 (100100 169) 245)* 259)* 297)*† 318)*† 311)*† 160) 151) 131) *: diferença significativa em relação ao basal; †: diferença significativa em relação ao Controle (P < 0,05). 34 Figura 6 - Representação gráfica dos valores reais (brutos) do limiar nociceptivo no momento basal em seis equinos que receberam a administração de xilazina (bolus de 0,55 mg/kg seguido de infusão de 1,1 mg/kg/h) associada à solução salina (Controle) ou lidocaína. Nos tratamentos LDB e LDA, os animais receberam bolus de lidocaína de 1,3 mg/kg seguido de infusão de 1,5 e 3,0 mg/kg/h, respectivamente. As medianas são representadas pelas linhas horizontais no interior de cada caixa. As caixas representam os intervalos interquartis e contém 50% dos valores. As linhas verticais acima e abaixo das caixas representam os valores máximo e mínimo 35 6. DISCUSSÃO Nas condições do presente estudo, foi evidenciado que a administração da xilazina, sob a forma de infusão contínua, produz sedação moderada à intensa e eleva o limiar nociceptivo ao estímulo elétrico (aumento de até 53% na mediana), sendo acompanhada de ataxia leve, redução na FC, FR e elevação na ETCO 2 . A associação da lidocaína ao regime de infusão resultou em maior elevação no limiar nociceptivo (aumento de até 115% na mediana) não sendo esse efeito influenciado pela dose de lidocaína. Os efeitos sobre a FC e ETCO 2 não foram intensificados pela administração da lidocaína, mas o grau de ataxia foi maior, especialmente com o uso da dose mais elevada deste fármaco. Uma das limitações do presente estudo é que as concentrações séricas de lidocaína não foram mensuradas. Em um estudo anterior, o qual empregou a mesma taxa de infusão de lidocaína usada neste estudo durante 96 horas, sem a administração de bolus previamente à infusão, foi relatado que as concentrações séricas de lidocaína atingiram o equilíbrio decorridas três horas de infusão (Dickey et al., 2008). Em outro estudo empregando o mesmo regime de infusão do tratamento LDA neste estudo (bolus de 1,3 mg/kg e infusão de 0,05 mg/kg/min), os autores relataram concentrações séricas mais elevadas de 4 a 12 horas do que de 1 a 3 horas de infusão (Milligan et al., 2006). No presente estudo, é improvável que as concentrações séricas de lidocaína tenham atingido o equilíbrio durante o período de infusão de 50 minutos. É possível que, durante infusões mais prolongadas (acima de 50 minutos), concentrações maiores de lidocaína possam ser atingidas, resultando em elevação no limiar nociceptivo podendo ou não serem acompanhados de maior intensidade de ataxia ou outros efeitos adversos. O uso de uma dose maior em bolus poderia reduzir o tempo necessário para se atingir concentrações plasmáticas em equilíbrio. Entretanto, em um estudo piloto utilizando dois animais, nas mesmas condições do tratamento LDA, mas empregando-se bolus de lidocaína na dose de 2,5 mg/kg, os dois animais vieram ao decúbito sendo um cavalo durante a administração do bolus e o outro imediatamente após o bolus. Esses animais permaneceram em decúbito durante poucos minutos, aparentando estar intensamente sedados, após o qual assumiram a posição quadrupedal. O estímulo utilizado para a avaliação nociceptiva no presente estudo não foi relatado anteriormente na literatura consultada. Em estudos anteriores, o estímulo elétrico empregado 36 foi constituído de pulsos com frequência de 50 Hz (Natalini & Robinson, 2000), duração de 0,5 a 10 ms e a voltagem foi aumentada progressivamente em incrementos de 10 V (Skarda & Muir 1996; Natalini & Robinson, 2000). No presente estudo, foi utilizado um estímulo elétrico com frequência de 50 Hz, duração de 0,3 ms e a intensidade do estímulo foi aumentada gradativamente. Entretanto, o aparelho de TENS utilizado permite a elevação gradual e repetitiva da intensidade do estímulo, mas não permite o conhecimento da voltagem da corrente enviada. Apesar do uso do TENS na avaliação nociceptiva não ter sido validado ou relatado anteriormente, o seu emprego nesse estudo demonstrou proporcionar respostas claras e repetitivas ao estímulo, similares àquelas relatadas como sendo positivas em estudos anteriores que empregaram a estimulação elétrica no membro de equinos (Natalini & Robinson, 2000; Schatzmann et al., 2001). O fato de não ter havido diferença entre os tratamentos nos valores basais do limiar nociceptivo sugere que, quando um mesmo animal é submetido ao estímulo pelo TENS, em ocasiões diferentes, a intensidade de estímulo que resulta em resposta positiva será semelhante em todas as ocasiões. No presente estudo, houve redução em 15 a 20% na frequência cardíaca em todos os tratamentos após a administração da xilazina. Os fármacos da classe dos agonistas alfa-2, como a xilazina, causam redução da frequência cardíaca (Muir et al., 1979; Moore & Trim, 1992). Adicionalmente, causam redução acentuada no débito cardíaco (Muir et al., 1979) a qual está relacionada à redução na frequência cardíaca (Muir, 2009). Seus efeitos sobre a pressão arterial são caracterizados por hipertensão inicial seguida de redução para valores próximos aos basais ou discretamente abaixo destes (Muir et al., 1979; Moore & Trim, 1992). Embora não completamente esclarecido o mecanismo, os efeitos cardiovasculares causados pela administração dos agonistas alfa-2 parecem resultar da redução do tônus simpático e aumento do tônus parassimpático (Muir, 2009). A redução do tônus simpático se deve à redução na concentração de catecolaminas circulantes (Muir & Hubbell, 2001). Já o aumento na atividade parassimpática parece ocorrer de origem reflexa, em resposta ao aumento inicial da pressão arterial, o qual resulta da ação do fármaco sobre receptores alfa-1 e alfa-2 vasculares causando vasoconstrição e aumento na resistência vascular sistêmica, bem como ao aumento da sensibilidade dos barorreceptores (Muir, 2009). Apesar de significativos, os efeitos cardiovasculares causados pela administração de agonistas alfa-2 são bem tolerados por animais saudáveis (Muir, 2009). A pressão arterial não foi mensurada nos animais do presente estudo, mas todos os animais foram considerados saudáveis e nenhuma complicação cardiovascular foi observada durante o estudo ou após o seu término. 37 A lidocaína vem sendo empregada sob a forma de infusão contínua, na dose de 50 µg/kg/min (3 mg/kg/h), após bolus inicial variando de 2,0 a 2,5 mg/kg, para proporcionar analgesia no período intra-operatório em equinos anestesiados com isoflurano (Dzikiti et al., 2003; Valverde et al., 2005; Valverde et al., 2010). Na dose utilizada, os autores não relataram a ocorrência de efeitos adversos cardiovasculares. Em outro estudo, os efeitos da lidocaína sobre o eletrocardiograma, a frequência cardíaca e a pressão arterial foram estudados em equinos conscientes (Meyer et al., 2001). Os autores relataram que, em concentrações séricas inferiores às que causam sinais de intoxicação - definida como o surgimento de tremores musculares – a lidocaína não causou alterações na frequência cardíaca e pressão arterial e, embora tenham sido evidenciadas alterações significativas no eletrocardiograma, todas as variáveis permaneceram dentro de valores considerados normais para a espécie. No presente estudo, utilizando um regime constituído por bolus de 1,3 mg/kg seguido de 1,5 ou 3,0 mg/kg/h, nos tratamentos LDB e LDA, respectivamente, não foram observadas diferenças na FC dos tratamentos LDB e LDA em relação ao tratamento Controle. Esses resultados sugerem que a associação da lidocaína à xilazina, nas doses utilizadas, não intensifica o efeito da xilazina sobre a FC. Após o término das infusões, a FC pareceu retornar mais rapidamente aos valores basais no tratamento Controle do que nos tratamentos LDB e LDA, sendo o valor de FC significativamente mais elevado no Controle em relação ao tratamento LDA aos 80 minutos (30 minutos após o término das infusões). Apesar de significativa, a diferença não pode ser considerada como clinicamente relevante. No tratamento Controle, a administração de xilazina resultou em redução significativa da f R a qual foi acompanhada da elevação na ETCO 2 . Foi relatado em estudos anteriores que os fármacos da classe dos agonistas alfa-2 causam redução da f R (Muir et al., 1979), no volume corrente e volume minuto, os quais resultam em redução discreta na PaO 2 e elevação na PaCO 2 (Reitemeyer et al., 1986;Wagner et al., 1991; Muir, 2009). Apesar de causar efeitos significativos sobre o sistema respiratório, a depressão respiratória observada após a administração da xilazina a cavalos foi considerada irrelevante em equinos conscientes (Muir, 2009). Os valores médios de ETCO 2 em todos os tratamentos atingiram o máximo de 45 a 47 mmHg, os quais estão ligeiramente acima dos valores considerados normais em equinos conscientes (Hubbell & Muir, 2009) . Em cavalos anestesiados, a hipercapnia leve a moderada pode ser considerada benéfica, pois resulta em estimulação simpática e maior 38 estabilidade hemodinâmica (Kalchofner et al., 2009). Assim como ocorreu com a FC, a administração da lidocaína não resultou em valores menores de f R ou maior intensidade de hipercapnia. Por outro lado, diferente do que ocorreu com a FC, os valores médios de f R e ETCO 2 permaneceram significativamente diferentes dos valores basais durante o período de 60 minutos de avaliação após o término das infusões (momentos 65, 80 e 110 minutos) sugerindo que os efeitos respiratórios de infusões de xilazina ou xilazina/lidocaína, embora de pouca importância clínica, são persistentes durante pelo menos 60 minutos após a interrupção da administração dos fármacos. Os fármacos da classe dos agonistas alfa-2 se ligam a receptores pós-sinapticos e présinápticos presentes em neurônios do sistema nervoso central e periférico. A ativação de receptores alfa-2 pré-sinápticos centrais resulta em inibição da síntese e liberação de norepinefrina resultando em diminuição na taxa de descarga desses neurônios e, consequentemente, sedação (Muir, 1991). O receptor alfa-2A parece ser o principal subtipo relacionado à sedação (Doherty & Valverde, 2008) e o locus coeruleus foi a região identificada no SNC como sendo a responsável pelo efeito sedativo resultante da administração dos fármacos desta classe (Lemke, 2007). A administração intravenosa de xilazina ou detomidina resulta em rápido início de efeito, sendo observados sinais de sedação decorridos 3 a 5 minutos da injeção. Ocorre abaixamento acentuado da cabeça e ataxia, de forma que alguns animais se apóiam no tronco de contenção ou na parede podendo flexionar os joelhos ou membros pélvicos (Muir, 1991). A intensidade desses efeitos e principalmente, a sua duração, são dependentes da dose administrada, sendo prolongados com o uso de doses elevadas (Muir, 1991). Corroborando com relatos anteriores, no presente estudo a administração da xilazina resultou em rápido início de efeito, havendo abaixamento da cabeça e sedação moderada a intensa em todos os tratamentos no momento XIL. Esses resultados mantiveram-se constantes durante todo o período de infusão. Após a interrupção das infusões, os valores do escore de sedação e da altura da cabeça retornaram gradualmente em direção aos valores basais, assumindo valores similares aos basais aos 110 minutos (60 minutos após as infusões). Esses resultados sugerem que a administração de infusão de xilazina isoladamente ou associada à lidocaína, por até 60 minutos, resulta em sedação moderada a intensa, a qual se mantém estável ao longo do tempo, sendo rapidamente revertida após a interrupção da infusão. 39 Em um estudo anterior realizado em cães anestesiados com isoflurano, foi relatado que os animais que receberam a administração da lidocaína, em infusão variando de 50 a 200 µg/kg/min (3 a 12 mg/kg/h), precedida de bolus de 2 mg/kg, apresentaram recuperação mais tranquila, devido a um possível efeito sedativo causado pela lidocaína (Valverde et al., 2004). Em cavalos anestesiados com isoflurano ou sevoflurano, foi relatado que a recuperação foi mais longa e associada a maior intensidade de ataxia nos animais que receberam a administração de 2 mg/kg de lidocaína (em bolus) seguido de infusão de 3 mg/kg/h (Valverde et al., 2005). Em outro estudo, foi relatado que a infusão de lidocaína causou sedação leve em cavalos conscientes (Meyer et al., 2001). Os resultados desses estudos anteriores sugerem que a administração da lidocaína por infusão contínua possa apresentar propriedade sedativa. Nas condições do presente estudo, a associação da lidocaína (tratamentos LDB e LDA) não resultou em escores de sedação significativamente mais elevados do que no tratamento Controle. É possível que um efeito sinérgico sobre a sedação não ocorra em equinos com as doses de xilazina e lidocaína usadas ou que a escala utilizada para avaliação do grau de sedação nesse estudo não tenha sido suficientemente sensível para detectar diferenças entre os tratamentos. A administração da lidocaína foi associada à ocorrência de tremores musculares em cavalos conscientes (Brianceau et al., 2002; Malone et al., 2006; Milligan et al., 2006) e esse efeito foi considerado como um sinal de toxicidade do fármaco (Meyer et al., 2001; Brianceau et al., 2002; Malone et al., 2006; Milligan et al., 2006). A ocorrência de tremores musculares poderia intensificar o grau de ataxia causado pelo agonista alfa-2. No presente estudo, as medianas dos escores de ataxia foram numericamente maiores nos tratamentos LDB e LDA do que no Controle durante a maior parte do período de infusão, havendo diferença significativa entre os tratamentos LDA e Controle aos 20 minutos. Apesar de não terem sido observados tremores musculares nesse estudo, esses resultados sugerem que a infusão da lidocaína intensificou o grau de ataxia causado pela xilazina. No presente estudo, a administração da xilazina isoladamente elevou o limiar nociceptivo elétrico dos 10 aos 40 minutos. Esses resultados corroboram com estudos anteriores que relataram que os fármacos agonistas alfa-2 causam antinocicepção em equinos (Schatzmann et al., 2001; Moens et al., 2003; Rohrbach et al., 2009). Após a administração em bolus, o efeito antinociceptivo máximo dos agonistas alfa-2 parece ocorrer aos 15 minutos a partir do qual o limiar nociceptivo reduz gradualmente (Schatzmann et al., 2001; Moens et 40 al., 2003). Diferente do que ocorre com a administração em bolus, no presente estudo a elevação no limiar nociceptivo se manteve constante durante a maior parte do período de infusão (aumentos de 40 a 53% nas medianas dos 10 aos 40 minutos). Esses resultados demonstram que a administração da xilazina, sob a forma de infusão contínua, proporciona efeito analgésico estável em comparação à administração de bolus. A administração da lidocaína por infusão intravenosa contínua causou antinocicepção térmica (somática), mas não visceral, em equinos conscientes (Robertson et al., 2005) sugerindo que a lidocaína possa ser utilizada para produzir analgesia não só em equinos submetidos à anestesia geral, mas também em animais conscientes. No presente estudo, a elevação no limiar nociceptivo elétrico foi significativamente maior durante a administração da associação xilazina/lidocaína do que com o uso da xilazina isoladamente. Assim como ocorreu com o limiar antinociceptivo térmico, a lidocaína também parece elevar o limiar nociceptivo elétrico em cavalos. Como nesse estudo o efeito da lidocaína não foi avaliado isoladamente, não é possível afirmar se a associação xilazina/lidocaína apresentou efeito aditivo ou sinérgico. A administração da lidocaína sob a forma de infusão contínua vem sendo utilizada para reduzir o requerimento dos anestésicos halogenados necessário à manutenção da anestesia em equinos (Doherty & Frazier, 1998; Dzikiti et al., 2003). Embora o efeito da dose não tenha sido relatado em equinos, a redução na concentração alveolar mínima do isoflurano foi dose dependente em cães (Valverde et al., 2004). No presente estudo, não houve diferença significativa no limiar nociceptivo entre os tratamentos LDB e LDA. Entretanto, durante o período de infusão, as medianas do limiar nociceptivo foram numericamente maiores no tratamento LDA do que no LDB durante todo o período de infusão. Adicionalmente, o limiar nociceptivo foi significativamente maior no tratamento LDA do que no Controle dos 30 aos 50 minutos enquanto diferença significativa entre os tratamentos LDB e Controle foi observada somente aos 50 minutos. Tendo em vista a grande variabilidade nos valores do limiar nociceptivo nos animais após o início das infusões, um número maior de animais seria necessário para evidenciar uma possível diferença entre os tratamentos LDB e LDA. 41 7. CONCLUSÕES Nas condições em que foi realizado o presente estudo, os resultados permitem concluir que: 1. A associação da lidocaína intensifica o efeito antinociceptivo, mas não o efeito sedativo, proporcionado pela administração da xilazina em infusão intravenosa contínua; 2. A administração da lidocaína na dose de 3 mg/kg/h não resulta em efeito antinociceptivo mais acentuado do que a dose de 1,5 mg/kg/h e intensifica o grau de ataxia causado pela administração da xilazina; 3. A administração da xilazina, nas doses empregadas neste estudo, resulta em redução na frequência cardíaca e frequência respiratória e eleva a concentração expirada de CO 2 . Esses efeitos não são intensificados pela associação da lidocaína. 42 8. 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