A QUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: OLHAR SOBRE A PRÁTICA DOCENTE NETO, Alberto Gimenez [email protected] HOÇA, Liliamar [email protected] Eixo Temático: Didática: Educação da Infância Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este artigo apresenta uma análise sobre a prática do docente na Educação Infantil em relação aspectos pedagógicos e sociais, utilizando dados coletados na pesquisa de caráter exploratório realizada em um centro municipal de Educação Infantil, situada no município de Curitiba, durante a prática de estágio. A metodologia de pesquisa utilizada foi a observação das atividades pedagógicas planejadas e realizadas pelo professor, que possibilitou a constatação inicial de que determinadas práticas na Educação Infantil ainda se encontram entre o caráter pedagógico/educacional e o caráter assistencialista, prevalecendo muitas vezes o segundo, em virtude da concepção do professor em relação ao processo de aprendizagem das crianças. Este texto apresenta discussões sobre as concepções da Educação Infantil, seu processo histórico, as principais correntes filosóficas que alicerçam esta etapa da escolarização, além de informações sobre o desenvolvimento atual desta. A fundamentação teórica está baseada em autores como: Hoffmann e Kamii, Ferreiro, além de elementos considerados significativos das teorias de Vygotsky, Wallon, a fim de possibilitar a realização de uma comparação sobre a teoria educacional difundida para a Educação Infantil e sua prática efetivada. Pretende-se refletir sobre a importância da Educação Infantil para o processo de desenvolvimento e aprendizagem de um sujeito com características biológicas, sociais, cognitivas, psicológicas e afetivas, em constante modificação do ponto de vista de formação de estruturas. Para que isto ocorra é preciso ultrapassar as atitudes assistencialistas, solidificando as preposições pedagógicas, explorando-se o aspecto cognitivo e afetivo que estão relacionadas com ao carinho, a acolhida, a avaliação cuidadosa dos aspectos relativos ao desenvolvimento e cuidados com a saúde, alimentação e higiene, para que as crianças alcancem o pleno desenvolvimento de suas habilidades cognitivas, físicas e sensoriais. Palavras-chave: Educação Infantil. Prática Pedagógica. Desenvolvimento. Aprendizagem 14113 Introdução O presente artigo trata de um tema muito discutido na Educação Infantil brasileira na atualidade, que é: Os fazeres pedagógicos e sociais da Educação Infantil. Buscou-se investigar na literatura sobre o assunto, os referenciais que sustentam a concepção do cuidar e do educar na Educação Infantil, apresentada pelos Referenciais Nacionais Curriculares de Educação Infantil (1998) e se os processos de desenvolvimento infantil estão ou não sendo respeitados pelas Instituições de Educação Infantil e seus agentes educativos, realizando uma análise entre a teoria e a prática da Educação Infantil. O presente artigo foi construído tomando como embasamento teórico ideias representativas de: Vygotsky, Wallon, Hoffmann e Kamii, Ferreiro, na busca do entendimento das situações presenciadas em um Centro Municipal de Educação Infantil do município de Curitiba. A divisão deste trabalho se dá em tópicos, onde se realiza um breve histórico da Educação Infantil no Brasil, uma explicação das teorias sociointeracionistas, passando pela concepção de Educação Infantil na atualidade e por seus processos de desenvolvimento, chegando aos relatos sobre as observações do campo de pesquisa. Breve histórico da educação infantil no brasil Na discussão e reflexão sobre o papel da Educação Infantil na sociedade brasileira, observa-se que a partir das últimas décadas do século XX, este período educacional e social que abrange crianças de zero a seis anos de idade teve sua importância valorizada na rede social nacional. Antes a sociedade via as instituições de Educação Infantil, as chamadas creches, como um verdadeiro ‘depósito” de crianças, e entendia que cabia a estas instituições o dever de cuidar literalmente da saúde, alimentação e higienização das crianças, enquanto seus pais ou responsáveis trabalhavam, não objetivando o caráter educativo e social destas instituições. As educadoras dessas creches eram tratadas e em algumas regiões do país como cuidadoras de crianças, eram na realidade vistas como babás coletivas, pagas para cuidar, alimentar e fazer várias crianças dormir de uma só vez. Nos dias atuais, uma parte considerável de pessoas já não vê as Instituições de Educação Infantil e seus educadores como via até alguns anos atrás. Isso se deve muito ao 14114 estudo de alguns teóricos da educação atual, tendo como referência, pensadores dos séculos XIX e XX, como: Piaget, Vygotsky e Wallon. Tendo por base a teoria interacionista, as Instituições Educacionais que atendem crianças de zero à cinco anos de idade, tornaram-se verdadeiramente Instituições Escolares, que tem como princípios desenvolver os aspectos cognitivo, psicológico, motor e afetivo das crianças. Para Piaget, Vygotsky e Wallon, as crianças nesta idade não podem ser consideradas como passivas ou meras receptoras de informação, precisam ser vistas como agentes da sociedade, uma vez comprovado que o aprendizado em suas várias instâncias ocorre por meio das diversas trocas e vivências entre o sujeito que no caso é cada criança com o meio que ela convive: família, escola e demais grupos sociais. Teorias interacionistas e a educação infantil Para Piaget, Vygotsky e Wallon o processo de aprendizagem ocorre por meio de trocas entre o sujeito e o meio, ou seja, a criança só aprenderá algo quando socializar-se com o meio e com as pessoas que a rodeiam. Para estes pensadores as crianças não são passivas em relação ao processo de aprendizado, sendo então co–produtoras do conhecimento conforme suas relações com o meio. Sendo assim, as articulações dos variados níveis de desenvolvimento (motor, afetivo e cognitivo) ocorrem de forma integrada e simultânea, abandonando o pensamento de criança que predominava na sociedade antes do século XX. Mas é necessário levar em consideração que essas teorias não são necessariamente leis, mas sim bases para a compreensão sobre o desenvolvimento infantil, é preciso saber que cada teoria teve em seu surgimento uma condição política, econômica e cultural, que favoreceram sua difusão, que com o tempo provocaram mudanças em suas concepções. A teoria de Henri Wallon destaca que o desenvolvimento da inteligência depende das experiências oferecidas pelo meio e do grau de apropriação que o sujeito, no caso a criança faz delas, portanto acontece de forma descontinua, sendo marcado por rupturas e retrocessos. Para Wallon a criança de até três anos de idade é agente de exploração do mundo físico, em que predominam as relações cognitivas com o meio, neste estágio de desenvolvimento o sujeito desenvolve uma inteligência prática e a capacidade de simbolizar. Já a criança acima 14115 de três anos começam a construir uma consciência de si, por meio das interações sociais, dirigindo seu interesse para as pessoas, predominando assim as relações afetivas. Lev Semenovich Vygotsky pela sua formação em história, filosofia, literatura e psicologia, tem uma concepção mais educacional da criança, onde destaca que o funcionamento psicológico da mesma organiza-se a partir das relações sociais estabelecidas entre o individuo e o mundo exterior. Tais relações ocorrem dentro de um contexto histórico e social, no qual a cultura desempenha um papel fundamental fornecendo ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade. As relações dos indivíduos com o mundo não é direta, mas mediada por sistemas simbólicos, nos quais prevalece a linguagem. Para Vygotsky a criança apresenta em seu processo de desenvolvimento um nível real e um potencial, que se entrelaçam durante toda a primeira infância, sendo o real ligado às etapas já alcançadas pela criança, onde ela já consegue realizar sozinha muitas coisas, e o potencial, que está ligado à capacidade que a criança tem de desempenhar tarefas acompanhada de outras pessoas. Seguindo o pensamento vygotskyano, cabe a escola fazer a criança avançar na sua compreensão de mundo a partir do desenvolvimento já consolidado. Tendo como meta etapas posteriores, ainda não alcançadas. Para que esse desenvolvimento aconteça na primeira infância, este teórico enfatiza que os brinquedos e as brincadeiras de faz-de-conta são importantes, pois para essa concepção educacional, a imitação é uma aprendizagem informal, onde ao imitar a criança se reconstrói ao observar os outros e o que ocorre ao seu redor. A concepção de educação infantil na atualidade Às crianças de nossas creches não é dado o direito de pedir colo, sujar-se, brincar na água (porque dá bronquite), brincar na areia (porque dá alergia), acordar antes do tempo, quebrar brinquedos, fazer barulho. O que elas podem ou não fazer é definido pelo adulto e essas decisões estão a serviço da rotina e do conforto das pessoas que aí trabalham, mesmo que inconscientes do seu significado e do autoritarismo nelas subjacentes. (Bujes e Hoffmann, 1991, p. 112). Com a Constituição de 1988, as crianças de zero a seis anos tiveram seus direitos garantidos. Mas será que depois dessa promulgação e de vários estudos sobre o desenvolvimento infantil, as Instituições Educacionais e a sociedade respeitam os direitos e o 14116 processo de desenvolvimento das crianças? O que significa respeitar a criança em seus direitos e processo de desenvolvimento? Respeitar a criança é garantir a criação de espaços de atendimento à infância, que incluam propostas que atingindo os campos cognitivo, psicológico, afetivo e motor da criança. Porém, muitas Instituições brasileiras seguem ainda em pleno século XXI, a visão assistencialista, como relatam Bujes e Hoffmann: O que se observa na maioria das instituições é que: se vigia a criança para que cresça, guardada, alimentada, protegida... Uma vigilância, entretanto que não lhe permite crescer de fato, porque a limita nas suas possibilidades. Limita o presente, modela o seu futuro... (Bujes e Hoffmann, 1991, p.124). Ainda segundo Bujes e Hoffmann (1991, p. 125), há instituições onde as crianças de até 2 anos não saem da sala para a parte externa, isto acontece segundo alguns professores porque algumas mães temem que os filhos adoeçam. Porém as autoras vão além, indicando que esta explicação é um álibi, que procura esconder os verdadeiros motivos que são: ausência de preparo profissional, falta de profissionais nas turmas e comodismo das educadoras e educadores que ali trabalham. Situações como a citada acima continuam acontecendo por causa do pensamento que muitos educadores tem de uma Instituição de Educação Infantil ideal, a qual engloba segundo Bujes e Hoffmann (1991, p. 124): 1- Planos de trabalhos anuais, apresentados aos pais de início, com unidades temáticas variadas e cronograma estabelecido; 2- Ambientes limpos e organizados, decorados com painéis artísticos e coloridos; 3- Amplos espaços ao ar livre desprovidos de equipamentos que ofereçam perigo as crianças; 4- Prioridade dos profissionais aos cuidados com o sono, higiene e segurança das crianças; 5- Oferecimento de refeições e lanches fartos várias vezes ao dia; 6- Crianças calmas e organizadas, desenvolvendo muitos “trabalhinhos” preparados pelos professores; 14117 Mas visões desse tipo embora pareçam positivas, são restritivas em relação as situações que possibilitem desenvolvimento da autonomia, espontaneidade e desenvolvimento moral e intelectual das crianças. Tomando como exemplo cada um dos pensamentos que englobam um Instituição de Educação Infantil ideal, é possível verificar que todos eles possuem suas limitações. O primeiro que se refere as unidades temáticas propostas pela instituição, pode acarretar com o surgimento de temas sem significado para as crianças de zero à cinco anos, como: Dia do Índio, da Árvore e Semana da Pátria. Não que estas datas não sejam importantes, mas para esta faixa etária é muito mais produtivo para as crianças trabalharem temas relacionados com o seu dia-a-dia, como: brincadeiras, jogos e histórias, o simbólico predominando suas ações. Em relação a parte da limpeza, percebe-se que na maior parte das Instituições a preocupação da manutenção desse quesito, impede as crianças de transitarem em determinados locais que já foram limpos ou manusearem materiais que possam provocar danos para com a limpeza do ambiente. Isso ocorre segundo Bujjes e Hoffmann (1991, p. 126), pelo motivo de os profissionais da educação principalmente os professores procuram evitar preocupações com a limpeza e com o aborrecimento dos funcionários no outro dia. Já na parte referente aos ambientes coloridos e com painéis artísticos, percebe-se que os painéis são realizados e pensados pelos educadores, não tendo na maioria das vezes, a colaboração das crianças, que nesses casos são tratados como meros espectadores juntamente com seus familiares. Tal situação é um desperdício de oportunidades de desenvolver a autonomia, imaginação e socialização das crianças, fazendo com que estas percam o interesse nos painéis e em muitos casos, como observado, os mesmos são realizados durante uma brincadeira “livre” da turma, onde o educador dá um brinquedo para que as crianças se distraiam enquanto o trabalho é feito. No quesito segurança, muitas instituições preferem abrir mão de deixar as crianças transitarem em alguns locais considerados perigosos do que incentivá-las a desenvolver o cuidar de si e dos demais colegas da turma. Muitas vezes o excesso de cuidado acaba prejudicando a criança em vários aspectos em sua vida. Nos momentos da alimentação, descanso e higiene das crianças muitos professores acabam adotando certa rigidez, quando estas horas não são devidamente cumpridas pelas crianças, sendo assim, acabam desrespeitando o seu tempo de comer, beber, dormir e 14118 principalmente o tempo do brincar, que em muitos casos é interrompido, pois para os adultos o brincar é uma recreação e não está contido no processo pedagógico, como é bem explicitado na citação abaixo: Dentro das instituições de Educação Infantil, são consideradas atividade pedagógicas: desenho, pintura, colagem, recorte, contação de história sem participação das crianças, repetir gestos e músicas decoradas. Porém atividades como: correr, pular, empilhar objetos, jogar bola, brincar de casinha e mexer na água representam atividades não pedagógicas, pois para os educadores são situações de bagunça e agitação. Por este motivo é que essas ações acontecem nos intervalos entre uma atividade e outra. (Bujes e Hoffmann, 1991. p. 125) Segundo Kamii (1991): “as ações educativas devem promover nas crianças: a autonomia em relação aos adultos, resolução de conflitos com os colegas, independência, curiosidade, iniciativa, confiança e habilidades para a formação de ideias” (KAMII, 1991. p. ). A Educação Infantil então não deve limitar as crianças em suas descobertas e sim buscar conhecê-las, para que então lhes dê oportunidades de possuir experiências desafiadoras e ricas. Um bom professor de crianças desta faixa etária é aquele que segundo Bujes e Hoffmann (1991), auxilia a criança a encontrar meios de realizar o que deseja, deixando-a ser realmente criança e não um robô que só realiza por meio de ordens. Ser educador infantil é respeitar a criança e oferecer-lhe um espaço livre de tensões, pressões, regras impostas pelo adulto e deixar com que os pequenos se expressem da maneira que lhes convém, para que assim o educador entenda o significado de cada ato realizado por cada criança. Desenvolvimento na educação infantil Ao se analisar o desenvolvimento infantil dentro das Instituições de Educação Infantil, perceber-se que este acontece mais rapidamente e de forma contínua nos três primeiros anos de vida, por isso é que estas Instituições devem se preocupar em oferecer para as crianças materiais lúdicos e pedagógicos que estimulem sua imaginação e suas expressões nas mais variadas formas, além de um currículo que lhes proporcione uma vasta aprendizagem, social, afetiva, física e cognitiva. O currículo da Educação Infantil de toda Instituição deverá conter sete eixos, que contribuem para o desenvolvimento da aprendizagem por meio da socialização com os colegas e professores, das ações pedagógicas que os educadores propõem, seja interna ou 14119 externamente, dos momentos lúdicos e demais fazeres da rotina diária. Estes eixos correspondem à: Exploração dos objetos; brincadeiras; Linguagem Oral e comunicação; Desafios corporais; Exploração do ambiente; Identidade e autonomia; Exploração e linguagem plástica; Linguagem musical e Expressão corporal. Sendo que na hora das brincadeiras de qualquer tipo, é necessário permitir que as crianças manipulem vários objetos e explorem variados ambientes, para assim garantir que o seu aprendizado seja prazeroso. Dentro do Eixo de brincadeiras o conteúdo principal e base para todo o processo de aprendizagem é o faz de conta, que insere a criança no mundo das regras, da imaginação, das emoções e das ações. Como afirma Winnicott: A liberdade que o brincar proporciona é fundamental para o desenvolvimento da criança por levá-la a conciliar o mundo objetivo e a imaginação. A ausência de brincadeiras na infância se relaciona com os problemas emocionais durante a vida. (WINNICOTT, 1975. p. 35). Já no Eixo de Linguagem Oral e Comunicação, pode-se trabalhar com as crianças por meio de diversas formas de interação, as quais deverão levar as crianças a expressarem e desenvolverem seus desejos, emoções e necessidades, sendo que outro fator importante encontrado nesse Eixo é o contato com a Linguagem escrita, o qual é realizado por meio da contação de história e com o contato com livros diversificados. Este primeiro contato é considerado essencial para o desenvolvimento. Pois segundo Ferreiro: “mesmo não alfabetizadas, as crianças devem ter contato com a escrita, para o pleno desenvolvimento de sua linguagem tanto oral como escrita.” (FERREIRO, 1985. p. 69). O eixo que trabalha os desafios corporais é importante para o desenvolvimento da experiência humana e da cultura. A expressão corporal deve ser encarada como meio de expressão e simbologia de si, do outro e do meio o qual a criança convive. É por meio destes desafios e exercícios motores, que as crianças começa a medir sua força e seus limites. É por este motivo que Wallon define que: “a motricidade tem um caráter pedagógico tanto por sua qualidade gestual como por sua representação.” (WALLON, 1975. p. 56). A Exploração do meio permite que a criança por meio de seus cinco sentidos fisiológicos desenvolva o entendimento sobre as coisas que a rodeiam. Além de utilizar os 14120 sentidos a criança deverá ter curiosidade, saber observar e questionar, para assim entender o mundo em que está inserida, construindo assim sua autonomia. No eixo que aborda a Identidade e Autonomia, a criança deverá desenvolver sua independência. Porém esse processo é custoso, demorando um longo tempo para desenvolverse, pois nos primeiros anos de vida a criança se considera dependente do meio em que vive. Cabe ao adulto responsável pela mesma mostrar-lhe por meio das atividades com o meio, que ela é separada do meio, levando-a a realizar tarefas sozinhas sem o auxílio, mas com acompanhamento de um adulto. Dentro do eixo que engloba a Exploração e Linguagem plástica, podemos colocar todas as formas de arte produzidas pelas crianças, desde suas pinturas e rabiscos até o inicio da linguagem escrita, que se dá por meio das famosas garatujas. No último Eixo que trata da Linguagem musical e da Expressão corporal, vemos sua contribuição para o desenvolvimento cognitivo, afetivo, motor e social das crianças, pois conforme Gardner: “o homem é dotado de múltiplas inteligências, dentre elas a musical e a físico-cinestésica” (GARDNER, 1976. p. 75). Dados de pesquisa Ao longo do presente trabalho, foi pesquisada uma Instituição Pública de Educação Infantil do município de Curitiba com a finalidade de realizar comparação entre a teoria referendada para a Educação Infantil e a pratica, nos seguintes aspectos: prática do docente, relação adulto – criança, atividades de aprendizagem, o brincar; a gestão e a avaliação. A Instituição pesquisada possui doze turmas, divididas da seguinte forma: duas turmas de Berçário; duas de Maternal 1; duas de Maternal 2; duas de Maternal 3; duas de Pré 1 e duas de Pré 2. Sendo que cada turma contêm em torno de 25 crianças, com exceção dos berçários que contêm 16 crianças cada turma. Para atender a demanda de turmas e crianças a Instituição conta com um número de quatro professores (um para cada turma de Pré) e 36 educadores (três por turma), de tal maneira que os professores trabalham somente meio período e os educadores período integral tendo intervalos para o almoço e lanche da manhã e tarde. Referente ao primeiro quesito da pesquisa que trata da prática docente na Educação Infantil foi possível verificar que ainda está muito presente nas atitudes dos professores e educadores principalmente, o aspecto do assistencialismo, ou seja, não há preocupação ou 14121 relevância, na maior parte das turmas observadas, primeiramente com o processo de ensino e aprendizagem, e sim com o cuidar. Constatou-se tal questão com a falta de rotina da maioria das turmas, onde o professor ou educador não preparam muitas atividades, deixando as crianças brincarem na maioria das vezes e até ficarem dormindo quando querem. A partir desse pode-se perceber que a relação adulto – criança é uma relação que visa na maior parte dos momentos o cuidado do adulto para com a criança, deixando de lado a interatividade e as relações de afeto, fatos que segundo Hoffmann: “São importantíssimos para o desenvolvimento da criança” (HOFFMANN, 1991. p. 67) Não basta que só cuidar das crianças, faz-se necessário que as mobilizar estruturas cognitivas e proporcionar situações de afetivamente, a fim de que sejam sujeitos que adquiram conhecimento, personalidade e autonomia durante sua estadia nos Centros de Educação Infantil. Outros tópicos importantes que foram observados durante a pesquisa, dizem respeito aos momentos que englobavam atividades pedagógicas/dirigidas e lúdicas. Na maior parte do tempo as crianças de todas as turmas brincavam na sala, no parque ou no solário, sendo poucos os momentos em que os professores ou educadores intervinham com algum tipo de atividade com caráter pedagógico, e mesmo nos momentos do brincar as crianças ficavam soltas pela sala, sem o olhar do adulto, que nestes momentos se ocupava com os seus afazeres e com a organização da sala. Acerca do item relatado acima, Kamii (1991), afirma que para se ter uma Educação Infantil de qualidade é necessário que o professor assim como todo agente educacional, faça de todos os fazeres do cotidiano uma pesquisa com caráter avaliativo e diagnóstico, pois segundo a mesma autora “um simples ato de brincar, pode revelar muito mais do que as palavras” (KAMII, 1991. p. 92). Porém, todos os atos falhos e positivos de uma instituição educacional, segundo Hoffmann (1991) passam pela equipe gestora, que é responsável pela gestão tanto pedagógica, quanto administrativa da Instituição. Diante do exposto, constatou-se que na Instituição pesquisada, que a Diretora raramente estava presente na Escola, deixando na maior parte das vezes a responsabilidade com a pedagoga. Por fim, no quesito da avaliação na Educação Infantil, se via poucas ações avaliativas, que visassem olhar a criança como alguém capaz de produzir algo a mais do que desenhos 14122 livres. Um exemplo forte foi constatado durante a observação na turma de Maternal 2, na qual os professores realizaram a atividade de recorte e colagem para as crianças, não deixando à elas nenhuma atividade, que não seja somente pintura e desenho. Já em uma das turmas de Pré 2, a professora passava um texto no quadro para que as crianças copiarem, porém as mesmas em sua maioria não eram nem alfabetizadas, ou seja, não sabiam o que estavam escrevendo e nem o porquê daquela atividade. Portanto quando se trata de qualidade na Educação Infantil, é preciso perceber que avanços existem, porém faz-se necessário que avançar ainda mais e rápido, pois muitas práticas estão descontextualizadas em relação a teoria, que vê a criança de 0 à 5 anos como sujeito dotado de certos conhecimentos e capaz de adquirir outros, por meio da aprendizagem. Considerações finais Considerando o avanço no tempo e no espaço da Educação Infantil pode-se considerar que há crescimento em relação a qualidade, porém é necessário um olhar atento, pois ainda ocorrem práticas totalmente voltadas ao assistencialismo, que vêm as crianças como seres frágeis e sem perspectiva de aprendizagem. Mas para que isso aconteça, é necessário um esforço conjunto entre Município, as Organizações de Educação, as Instituições, as Equipes Gestoras, os docentes e até mesmo os pais, para que vejam a Educação Infantil com um olhar pedagógico e educacional, esquecendo do simples assistir a criança, preocupando-se com sua formação biológica, cognitiva, afetiva e social. Conforme a pesquisas teóricas e observadoras, é de suma importância considerar as crianças como sujeitos individuais, dotados de conhecimentos prévios e capazes de aprender, e além de tudo precisamos enxergá-la como agente transformador do meio onde vive. REFERENCIAS BUJES, Maria Isabel, HOFFMANN, Jussara M. L. A creche à espera do pedagógico. Florianópolis: Perspectiva, 1991. FERREIRO, Emilia; TEBEROSK, Ana. A Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Medicas, 1985. 14123 GARDNER, H.; HATCB, T. Multiple intelligences go to school: educational implications of the theory of Multiple Intelligences. Educational Researcher, 1976. KAMII, Constance & DEVRIES, Rheta. Jogos em grupo na educação infantil: implicações da teoria de Piaget. Trad. Marina Célia Dias Carrasqueira. São Paulo: Trajetória Cultural, 1991. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1996. ............................... Pensamento e Linguagem. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1998. WALLON, H. Psicología e educação da infância. In: WALLON, H. Psicologia e educação da infância. Lisboa: Editorial Estampa, 1975. WINNICOTT, D. W. O brincar & a realidade. Trad. J. O. A. Abreu e V. Nobre. Rio de Janeiro: Imago, 1975