IAS 2010 – Instrumentação e Aquisição de Sinais Projecto final Lisboa, Portugal, 16 Dezembro 2010 Interface Homem Máquina Controlo de um Computador Utilizando um Acelerómetro e Electromiografia Luís Pereira, Bruno Santos, Rui Pinto, Marta Farracho, João Costa, e Mafalda Gonçalves Resumo – Este projecto teve como objectivo a implementação de uma Interface Homem-Máquina (IHM) que possibilite o controlo do cursor de um computador por indivíduos incapacitados ou profissionais de saúde. A interface implementada assenta na medição do biopotencial de contracção muscular (electromiografia) e no registo do movimento de um acelerómetro triaxial. O conjunto acelerómetro e eléctrodos pode ser incorporado numa luva, sendo utilizado na mão, por indivíduos saudáveis, ou noutros locais, como, por exemplo, na cabeça, por indivíduos incapacitados. Verificou-se que, tendo o acelerómetro fixo na cabeça, o controlo da posição do cursor é bastante fácil. Quanto à miografia, esta pode ser feita com outros grupos musculares que não o abdutor do polegar, dependendo da necessidade do indivíduo. O controlo do rato de um computador permite o acesso a todas as suas potencialidades, já que pode ser utilizado um teclado no ecrã para introduzir dados. A IHM implementada permitiu controlar o rato de forma bastante intuitiva e sem grandes falhas. Indexação – Interface Homem-Máquina, Acelerómetro, Electromiografia, Computador, Rato, MatLab®, Biopotencial. I. MONOGRAFIA A Interface Homem-Máquina tem inúmeras vertentes de aplicação. Vários sinais biológicos podem ser adquiridos, implicando diferentes implementações tecnológicas. Independentemente do método escolhido, o utilizador deve conseguir interagir com a máquina de forma intuitiva e a aquisição do sinal tem de ser realizada de forma eficiente e quase instantânea. Esta interface pode ser entendida como bidireccional, ou seja, tanto pode ser Interface HomemMáquina como Interface Computador-Homem (gerar um sinal num computador e a partir dele conseguir uma resposta do corpo humano). Um exemplo concreto de interface Computador-Homem são os sistemas de realidade virtual, que têm como principal aplicação prática a possibilidade de criar próteses virtuais que permitam a recém-amputados treinarem o funcionamento de futuras próteses, conseguindo-se deste modo diminuir o tempo de recuperação do doente. [8] Este trabalho teve como principal foco de interesse as Interfaces Homem-Máquina (IHM), que têm como principal objectivo a obtenção de uma resposta de uma máquina, partindo de um estímulo produzido por um indivíduo (utilizador). Um dos exemplos de desenvolvimento das IHM é a evolução dos controladores nos videojogos. O primeiro aparelho deste género foi desenvolvido em 1958 para o videojogo Tennis for Two, um jogo simples de ténis, numa perspectiva lateral, que funcionava através de um circuito específico e de um osciloscópio. O comando, composto por uma alavanca e um botão, encontrava-se ligado por um cabo a um computador. Rodando a alavanca, o jogo ajustava o ângulo de retorno da bola. Fig. 1 - Jogo de “Tennis for Two”, à esquerda, e commandos da PsMove©, à direita. Actualmente, existem os comandos desenvolvidos pela Sony e pela Nintendo: o PS Move© e o Wii Remote©. O comando da Nintendo é constituído por um conjunto de acelerómetros que registam os movimentos e permitem interagir com as várias plataformas de jogos. Por sua vez, o comando da Sony funciona através do reconhecimento de luzes emitidas por LED’s, captadas por uma webcam própria, um acelerómetro triaxial, um par de sensores de inércia, um magnetómetro que serve para calibrar a orientação do comando com o campo magnético da Terra e um sensor de movimento angular de três eixos. Paralelamente a todas as inovações que têm surgido no campo dos videojogos, as IHMs têm especial interesse na área das aplicações biomédicas. A sua utilização revela-se bastante promissora no que diz respeito à substituição de funções básicas do dia-a-dia em indivíduos incapacitados. Por outro lado, durante a realização de cirurgias, é frequente que os profissionais de saúde tenham necessidade de recorrer a computadores. Uma dos interesses das IHMs seria permitir o controlo sobre um computador, sem ter que interromper o procedimento cirúrgico. Tanto na área dos videojogos como das aplicações clínicas, é importante que o sistema reconheça de forma exacta o comando do utilizador para desencadear a resposta pretendida. A interface entre homem e máquina é feita através de biopotenciais, sinais biológicos cuja aquisição é um procedimento comummente utilizado na prática médica, nomeadamente no diagnóstico de doenças. Os biopotenciais são gerados pela actividade eléctrica de, essencialmente, dois tipos de células, as musculares e as neuronais, e devem-se ao movimento selectivo de iões através da membrana, gerando potenciais eléctricos cuja variação pode ser registada. [9] As técnicas utilizadas podem ser realizadas de forma não invasiva e têm o seu nome de acordo com o tecido celular a que dizem respeito: a medição da actividade eléctrica do músculo cardíaco é feita através de um electrocardiograma (ECG), a actividade cerebral através de um electroencefalograma (EEG), a actividade eléctrica gerada pelos movimentos oculares através de um electrooculograma (EOG) e a actividade eléctrica muscular através de um electromiograma (EMG). O ECG, por exemplo, permite uma interpretação transtoráxica da actividade eléctrica desencadeada pelas células cardíacas, que é medida através de eléctrodos colocados na pele. [9] Porém, este sinal não é utilizado no desenvolvimento de IHMs, por não poder ser controlado intencionalmente por um indivíduo. Já os restantes, por corresponderem a estímulos voluntários, são passíveis de utilização. O recurso ao EEG no desenvolvimento de IHMs tem-se revelado de especial interesse para indivíduos com deficiências motoras severas que não tenham controlo neuromuscular. Disto são exemplo as Brain-Computer Interfaces, que fazem uso dos sinais eléctricos cerebrais para controlo de dispositivos. [17] O EOG, já foi utilizado como forma de controlar uma cadeira de rodas para pessoas tetraplégicas. [10] A sua escolha é a mais indicada, por exemplo, no desenvolvimento de IHMs pensadas para indivíduos com Síndrome de Locked-in, uma condição rara, na qual os movimentos do corpo inteiro se encontram paralisados com excepção dos olhos, mantendo-se as faculdades mentais inalteradas. [11] No desenvolvimento de uma IHM, são fundamentais vários aspectos. O utilizador tem que aprender de que forma deve controlar a amplitude da sua actividade, seja ela cerebral ou muscular, de modo a controlar a interface. É importante que o comando possa ser feito de forma natural e intuitiva, sem que seja necessário um período de treino. Quanto ao sinal adquirido, é necessário um processamento adequado de modo a eliminar o ruído associado, e o número de eléctrodos utilizados, dependente do tipo de actividade em questão, deverá permitir o registo de informação suficiente, não sendo demasiado elevado, para não comprometer a análise em tempo real do sinal pretendido. Neste trabalho optou-se por desenvolver uma aplicação utilizando como biopotencial a actividade eléctrica muscular. Dada a facilidade que existe em amplificar e registar as tensões resultantes da contracção voluntária de músculos esqueléticos, decidiu-se recorrer à electromiografia (EMG), uma técnica não invasiva em que o sinal pode ser adquirido por eléctrodos à superfície da pele. Os sinais provenientes da actividade muscular têm sido amplamente utilizados no desenvolvimento de IHMs [12]. Muitos grupos de investigação têm utilizado a discriminação de sinais de EMG como forma natural de controlo de uma prótese de membros inferiores ou de controlo computacional dinâmico [12]. O controlo deste tipo de aparelhos requer uma aquisição fidedigna e em tempo real do sinal EMG. Desta forma, é necessário existir um sistema adequado de hardware e um processamento computacional rápido. Uma das aplicações habituais para o EMG baseia-se no sistema de interruptor on/off, que ainda que ofereça boa resolução, apenas permite um grau de liberdade. Para tentar colmatar esta lacuna, tem-se estudado a implementação de sistemas multifuncionais que requerem múltiplos eléctrodos mas que permitem um maior número de graus de liberdade. Devido à variabilidade dos sinais que são obtidos à superfície da pele, a análise de dados do EMG deve seguir uma análise por processos estocásticos. O atraso na aquisição do sinal pode ser contornado com recurso a microprocessadores que melhoram a discriminação do sistema EMG. A. Contextualização da técnica A interface computacional habitual, seja o teclado ou o rato, resulta do contacto físico por pressão, devido aos movimentos do utilizador. Estas interacções físicas requerem movimentos coordenados de todo o membro superior, incluindo o pulso, a palma e os dedos. Pessoas com alguns tipos de incapacidades, como lesões da medula espinal, paralisia ou membros superiores amputados, não conseguem utilizar estas interfaces, já que estas são desenvolvidas pensando unicamente no indivíduo saudável. [14] Se o acesso ao computador pudesse ser facilitado, para que pessoas com este tipo de dificuldades pudessem realizar tarefas como a leitura ou escrita de documentos e a comunicação a longa distância, utilizando a Internet, a sua autonomia aumentaria. Existem já métodos alternativos que permitem o acesso a computadores a este tipo de indivíduos, que incluem aparelhos de contacto directo com teclados físicos, como mouth-sticks e head-sticks. Contudo, este tipo de aparelhos é pouco eficiente e inconveniente. [14] Fig. 2 – Mouth-stick [5] Outro exemplo são os eye movement tracking systems, que medem ou o ponto para onde o utilizador está a olhar ou o movimento do olho relativamente à cabeça [6] e cuja utilização é tão rápida quanto o cursor clássico de um computador. Este tipo de tecnologia é, no entanto, demasiado sensível respondendo mesmo a movimentos involuntários. [14] Em indivíduos amputados ou parcialmente paralisados, é possível tirar partido do sinal proveniente de um músculo funcional. Foi demonstrado que em indivíduos que perderam a mão, os músculos do antebraço produzem sinais semelhantes aos de um membro completo. [13] Os sinais de EMG podem ser utilizados para reabilitar algumas das funções motoras destes indivíduos, desde que exista musculatura saudável no antebraço, controlando, em tempo real, um braço robótico. [13] Este tipo de métodos, devido à especificidade de cada amputação, tem que ser adaptado caso a caso. Existem menos IHMs desenvolvidas com base em EMG do que em EEG, sendo que, das existentes, a maioria recolhe o sinal do movimento do maxilar e das pálpebras. Este tipo de movimentos pode ser importante em casos de deficiências severas. No entanto, se os movimentos corporais não corresponderem aos comandos desejados, o utilizador poderá não ser capaz de controlar o computador de forma natural e intuitiva. Assim, muita da investigação que tem sido feita tem-se focado no desenvolvimento de aplicações que combinem mais do que uma técnica de aquisição de sinal para a correcta interpretação da intenção do utilizador. B. Electromiografia e actividade eléctrica muscular A electromiografia é uma técnica que consiste na medição da actividade eléctrica do músculo esquelético, gerada pela contracção e relaxamento das fibras musculares. As fibras apresentam, em geral, um diâmetro de 10 a 80 μm, sendo cada uma delas enervada por uma única terminação nervosa, localizada numa região próxima do seu centro. Cada fibra apresenta filamentos adjacentes de actina e miosina que são responsáveis pela contracção do músculo. Os filamentos de miosina apresentam pequenas projecções, chamadas cross-bridges, que, ao interagirem com os filamentos de actina, desencadeiam a contracção muscular. Nas terminações dos filamentos de actina existem os chamados discos Z, entre os quais existe a região ocupada pelo sarcómero. Quando as fibras musculares contraem, o comprimento do sarcómero aproxima-se dos 2 μm e os filamentos de actina e miosina sobrepõem-se completamente. Nestas condições, o músculo produz a força máxima de contracção. O mecanismo de contracção começa com um potencial de acção que percorre um nervo motor e se propaga até à sua porção terminal nas fibras musculares. O nervo liberta uma substância chamada acetilcolina, um neurotransmissor, que provoca a abertura de vários canais, desencadeando a difusão de iões sódio para o interior da membrana da fibra muscular. Segue-se um potencial de acção que se distribui ao longo de toda a membrana da fibra muscular, que é despolarizada, causando a libertação em quantidades apreciáveis de iões cálcio que estavam armazenados nas fibras. Os iões cálcio estabelecem forças atractivas entre os filamentos de actina e miosina, fazendo com que estes deslizem um sobre o outro, ocorrendo o processo de contracção muscular. Após um curto intervalo de tempo, os iões de cálcio são de novo armazenados no retículo sarcoplasmático até que surja um novo estímulo. Fig. 3 – Esquema Ilustrativo do sarcómero, a unidade funcional do músculo esquelético [7] As contracções musculares podem ser isométricas, quando o músculo mantém o seu comprimento constante durante o processo de contracção, ou isotónicas, quando o comprimento do músculo diminui e a tensão gerada no músculo se mantém constante. [9] De modo a gerar mais força, um maior número de fibras musculares terá que ser mobilizadas por acção neuronal. [13] O sinal registado numa EMG depende da força que o músculo é capaz de produzir, consoante do número de fibras envolvidas e o comprimento total do músculo. O sinal adquirido pode não corresponder unicamente ao músculo de interesse, mas sim a um conjunto de vários músculos, tanto próximos da superfície da pele como músculos mais profundos. As diferenças de potencial geradas pelos músculos alteram-se significativamente de acordo com a sua condição, nomeadamente, o seu estado de fadiga ou de contracção. C. Introdução à metodologia utilizada A aplicação desenvolvida neste projecto tem como objectivo o controlo do cursor do rato do computador, e assenta no uso de um acelerómetro triaxial e na aquisição de um sinal de EMG. O sinal adquirido por EMG requer o uso de eléctrodos que devem ser aplicados à superfície da pele, posicionados na direcção de um músculo. É captada a diferença de potencial entre os dois eléctrodos, a qual vai ser encaminhada para o circuito acoplado. O potencial evocado é proporcional ao número de unidades motoras despolarizadas e reflecte a activação que ocorreu nas fibras musculares. Os eléctrodos utilizados possuem um gel condutor constituído por Ag/AgCl para melhorar a transmissão do sinal. II. DESENVOLVIMENTO DO PROTÓTIPO Os circuitos do protótipo foram montados em breadboards, uma para o circuito de amplificação do sinal da miografia, e outra para o circuito de filtragem dos sinais provenientes dos vários canais do acelerómetro. Nas subsecções seguintes serão descritos os circuitos e respectiva implementação para o acelerómetro e EMG. Os esquemas eléctricos apresentados na secção Apêndices foram desenhados com o auxílio do software Eagle, da CadSoft. A. Acelerómetro Fig. 4 – Eléctrodos Spesmedica Os acelerómetros apresentam várias aplicações, entre as quais a análise do movimento do corpo em estudos de análise de marcha, análise da postura em diversas situações (como no casos de indivíduos que utilizem bastante o computador), detecção de tiques [15], entre outros. O acelerómetro apresenta-se como o método mais objectivo para verificar a actividade física de um indivíduo, tendo sido desenvolvidos acelerómetros uniaxiais e triaxiais portáteis que conseguem quantificar o movimento do corpo. Estes aparelhos permitem fazer estimativas da energia que foi despendida durante o movimento e são capazes de detectar pequenos movimentos da cabeça, impossíveis de identificar por meios de observação directa. Existem diversos tipos de acelerómetro, tais como acelerómetros capacitivos, piezoeléctricos, piezoresistivos, magnetoresistivos ou dependentes de transferências de calor, com funcionamentos intrínsecos distintos. [16] Na interface desenvolvida, o clique do rato é actuado através do sinal da EMG. O sinal pode ser adquirido a partir da contracção de inúmeros músculos entre os quais os músculos da mastigação (masséter, temporal e pterigóideo). O acelerómetro regista os movimentos efectuados pelo utilizador, os quais definem o movimento do rato no ecrã, e pode ser anexado a qualquer parte do corpo. A nível clínico, esta implementação torna possível a interacção com um computador para pessoas que, por limitações, não consigam fazer uso de um comum rato. O efeito combinado do acelerómetro, se posicionado na cabeça do indivíduo, com a aquisição do sinal da EMG nos músculos mastigatórios, representa um caso especialmente interessante para doentes tetraplégicos que apenas consigam efectuar movimentos com a cabeça. Como ferramenta de software, utilizou-se o MatLab®, por conter uma toolbox de aquisição que, com a devida implementação, permite aquisição em tempo real de sinais. Para além disso, apresenta uma total compatibilidade com a placa de aquisição utilizada e a possibilidade de efectuar cálculos numéricos com elevada eficiência e rapidez, assim como a possibilidade de importar funções (neste caso em linguagem JAVA) que permitem o controlo do cursor do computador. O controlo da posição do cursor do rato é feito com base na inclinação da mão, tendo o acelerómetro fixo numa luva. O acelerómetro de três eixos utilizado é o MMA7260QT, da Freescale Semiconductor. Apesar de triaxial, são apenas considerados dois eixos, já que o movimento do cursor é apenas bidimensional. Assim, é feita a medição da projecção da aceleração da gravidade em dois eixos paralelos à superfície da mão, desprezandose o terceiro. Quando a mão está na horizontal, essas projecções são nulas, e o cursor permanece imóvel. Por outro lado, quando se inclina a mão segundo um ou ambos os eixos, as projecções da gravidade deixam de ser nulas, produzindo um sinal nas saídas do acelerómetro, proporcional à inclinação da mão. Quanto maior a inclinação, maior será a velocidade do rato no ecrã. Foram propostas duas alternativas ao uso do acelerómetro para controlar o cursor. Uma consistia em posicionar o cursor de acordo com a diferença de potencial do sinal de entrada, enquanto que a outra consistia em proporcionar-lhe uma velocidade de acordo com essa diferença de potencial. A primeira abordagem apresentou bastantes problemas ao nível da maneabilidade, tendo-se optado pela segunda. O acelerómetro está montado numa placa e é alimentado por uma pilha de lítio CR2032, de 3 V. Essa placa tem um cabo com 4 condutores (3 para o sinal de cada um dos eixos e um quarto para a massa). Esse cabo é ligado à breadboard para se fazer uma filtragem das frequências acima de 8 Hz, que não contêm informação relevante face ao objectivo. Este limite foi identificado colocando o acelerómetro na mão e movimentando-o com a máxima frequência possível. Fig. 5 – Acelerómetro: Face superior e inferior da placa a que está soldado, juntamente com a pilha de lítio para a sua alimentação. Na figura 6 apresenta-se um fotografia da breadborad, na qual é possível identificar o vários componentes do circuito. Ampops Filtro passa-baixo para o canal X Filtro passa-baixo para o canal Y Fig. 6 – Breadboard com o protótipo dos filtros passa-baixo activos, para filtrar os sinais provenientes do acelerómetro O circuito na breadboard é constituído por dois filtros passa baixo, um para cada canal (ver figura 27, Apêndices, contendo o esquema eléctrico dos filtros). Cada um destes filtros é constituído por dois filtros passa baixo, um com frequência de corte de 10 Hz e outro de 5 Hz. Estes foram implementados utilizando a sua realização activa, com ampops (LM741CN, identificados no esquema com IC1 a IC4), dado que as elevadas resistências de saída do filtro passivo aliadas ao grande comprimento do cabo do acelerómetro para o filtro levariam à sobreposição excessiva do ruído de 50 Hz da rede eléctrica. dB 0 -10 1 10 100 Fig. 8 – Imagem do osciloscópio, ilustrando a eficácia do filtro passa-baixo na eliminação de frequências elevadas, indesejadas para a nossa aplicação, em que se pretendem variações lentas dos sinais provenientes do acelerómetro. A amarelo: a entrada do filtro. A azul: a saída do filtro, pronta para aquisição. Note-se ainda um atraso de cerca de 25ms na saída do filtro relativamente à entrada. B. Electromiografia O circuito implementado para a EMG tem como objectivo proporcionar uma saída inequívoca quanto à actuação do clique do rato, ou seja, num dado instante, deverá ser possível distinguir sem dúvida se o “botão” do rato está ou não premido. O esquema eléctrico é apresentado em anexo, na figura 26. As figuras 9 e 10 dizem respeito ao protótipo, sendo possível identificar os diversos componentes na breadboard. 1000 -20 Condensadores de desacoplamento -30 Saída com LED -40 -50 -60 -70 f/Hz Fig. 7 – Resposta em frequência dos filtros passa-baixo que filtram as frequências mais elevadas dos sinais provenientes do acelerómetro. Amplificador de Instrumentação Amplificador de Isolamento Comparador Fig. 9 – Breadboard com a identificação dos componentes principais. diferencial, de 2 pF, o que garante uma boa linearidade e 50 kHz de largura de banda. [2] Uma vez que não há interesse em variações rápidas que possam ocorrer no sinal da miografia, o sinal proveniente da saída do amplificador de isolamento é filtrado num filtro passa baixo, com frequência de corte de 10 Hz, cuja resposta em frequência se pode ver na figura 11. dB Fig. 10 – Eléctrodos Ag-AgCl, à esquerda, e breadboard com o protótipo do circuito para EMG e detecção de contracção muscular, à direita. Este circuito é constituído por duas partes distintas, do ponto de vista de alimentação. Uma primeira parte, constituída pelo amplificador de instrumentação e pelo andar de entrada de um amplificador de isolamento, é alimentada por duas pilhas de 9V. Esta parte do circuito está isolada galvanicamente do circuito detector de contracção muscular, placa de aquisição e computador, alimentados por uma fonte de alimentação ligada à rede eléctrica e à terra de serviço. Os condensadores C1-C4 são condensadores de desacoplamento, recomendados pelo fabricante do amplificador de instrumentação e de isolamento. A diferença de potencial aos terminais dos eléctrodos é injectada na entrada do amplificador de instrumentação (IC1), um INA126P, da Burr Brown. As suas principais características são o baixo consumo, baixo ruído, baixa corrente de entrada (25 nA, no máximo), elevado ganho (regulável de 5 a 10000) e uma excelente rejeição de modo comum (80 dB, no mínimo) [1]. Estas características tornam-no um excelente amplificador para amplificação de sinais fisiológicos. Para regular o ganho do amplificador de um modo contínuo e prático, ajustável a cada indivíduo, utiliza-se um potenciómetro (P1) de 470 Ohm. O amplificador de instrumentação é alimentado por -9 V e +9 V. A sua saída passa por um díodo rectificador, pois em geral, na ausência de contracção muscular, a tensão atinge valores negativos, o que, para esta aplicação, não tem significado. Aquando da contracção do polegar, esta tensão é positiva, e é o aumento de tensão que se pretende detectar, para actuar o clique do rato. De seguida, o sinal é introduzido na entrada de um amplificador de isolamento (IC2), neste caso o ISO122JU, também da Burr Brown. Este circuito integrado tem duas partes distintas, cada uma com a sua alimentação, havendo isolamento galvânico entre as duas, até um máximo de 1500 Vrms [2]. A primeira, na qual é injectado o sinal, é alimentada pelas duas pilhas de 9V referidas, e a segunda por uma fonte de alimentação de bancada. O sinal é transmitido digitalmente através de uma barreira capacitiva 0 -5 -10 -15 -20 -25 -30 -35 -40 -45 1 10 100 1000 f/Hz Fig. 11 – Resposta em frequência do filtro passa baixo aplicado no circuito de detecção da contracção do músculo abdutor do polegar. Finalmente, dado que se pretende estabelecer um limiar para a tensão proveniente da miografia a partir da qual se tem a actuação do clique do rato, utiliza-se um comparador (IC3), neste caso o MAX922, da MAXIM. Este componente contém dois comparadores, sendo que apenas é utilizado um deles, e, para além disso, possui um consumo negligenciável e velocidades de resposta na ordem dos µs. [3] O sinal de interesse, depois de filtrado, é injectado numa das entradas do comparador. Na outra entrada, tem-se a tensão de limiar, definida pelo ajuste de dois potenciómetros que constituem um divisor de tensão, o que permite obter tensões de referência entre 0 e 9 V. Quando o sinal excede o limiar definido, a saída do comparador passa de 0 a 9 V, sendo trivial, a partir deste ponto, a detecção do clique do rato. Na figura 12, é possível observar a transição do sistema da situação de repouso para a de contracção do polegar. Fig. 12 – Comportamento do circuito detector da contracção do abdutor do polegar. À esquerda, a situação de repouso, e à direita o estado das entradas e da saída após contracção. A amarelo: entrada do comparador, proveniente da miografia. A azul: o limiar de tensão. A roxo: a saída do comparador. Quando o sinal da miografia (amarelo) ultrapassa o limiar (azul), a saída do comparador (roxo) passa a 1. Desde que os eléctrodos se mantenham na devida posição e não se descolem da pele, é possível realizar cliques muito rápidos do rato com este sistema, como ilustra a figura 13. consideravelmente longa, de cerca de 6 dias (com o circuito sempre ligado), para pilhas de 9V com uma capacidade de 600mAh (típica de pilhas de 9V recarregáveis). As pilhas alcalinas têm uma capacidade superior e, portanto, a duração da descarga seria substancialmente superior. O circuito com os filtros passa-baixo do acelerómetro tem um consumo de 36mW, que é, à semelhança do consumo dos outros circuitos, um valor pequeno que qualquer fonte de alimentação de 9V pode fornecer. D. Segurança Eléctrica Fig. 13 – Comportamento do circuito detector da contracção do abdutor do polegar aquando da realização de contracções repetidas e de curta duração. Note-se a rapidez com que o comparador passa de 0 a 1 (e vice versa). A amarelo: entrada do comparador, proveniente da miografia. A azul: o limiar de tensão. A roxo: a saída do comparador. Para facilidade de ajuste do ganho do amplificador de instrumentação e do limiar, sem a utilização do computador ou osciloscópio, ligou-se à saída do comparador um LED, que acende quando o sinal excede o limiar, ou seja, quando é detectada uma contracção muscular. Fig. 14 – Saída do comparador ligada a um LED, que acende aquando da detecção da contracção do abdutor do polegar. C. Consumo de Energia O consumo de energia eléctrica de todos os circuitos utilizados nas breadboards é muito baixo, como seria de esperar, dado que não se trata de circuitos de potência. O circuito da miografia tem um consumo de 72mW a partir das pilhas de 9V e 100mW (666mW quando há a detecção da contracção do polegar, devido ao LED acender) a partir da fonte de alimentação. Assim, é esperado que as pilhas tenham uma duração Apesar da simplicidade do protótipo produzido, a segurança deve ser um dos factores mais importantes a ter em consideração. A norma que regulamenta as questões relacionadas com o risco de choque, queimaduras, fogo, descargas electrostáticas e outros perigos que podem advir da utilização de dispositivos médicos electrónicos é a IEC601, adoptada na Europa com o nome EN-60601. Segundo a IEC-601, há risco de choque eléctrico quando o técnico pode entrar em contacto com alguma parte do dispositivo que imponha uma queda de tensão superior a 25 VRMS ou 60 V DC [4]. Por outro lado, os circuitos eléctricos em contacto com o doente devem ter em conta os limites de corrente de fuga impostos pela legislação. A primeira barreira entre o utilizador e os circuitos é a caixa dos diversos dispositivos do sistema (fontes de alimentação, sistema de medida, de aquisição, etc.). Neste contexto, a fonte de alimentação utilizada pode não cumprir com estas normas, pois é um modelo idealizado para ser utilizado num laboratório de electrónica e não num ambiente hospitalar. Por outro lado, os protótipos dos circuitos estão montados em breadboards que não têm qualquer tipo de caixa, mas as tensões envolvidas são iguais ou inferiores a 9 V, pelo que não constituem um risco de electrocussão. A placa de aquisição e computador não constituem um problema, uma vez que apenas devem ser tocadas pelo operador e têm as suas caixas ligadas à terra de serviço, para protecção. Assim, a parte acessível do protótipo tem um nível de segurança aceitável, embora pudesse ser melhorado com a utilização de caixas isoladoras e resistentes ao impacto para limitar o acesso aos circuitos das breadboards. A parte do protótipo crítica em termos de segurança é a parte aplicada, que entra deliberadamente em contacto com o doente. No caso da miografia, o nível de protecção contra choque eléctrico pode ser classificado como Tipo BF (A parte aplicada está isolada do resto dos circuitos). O circuito a que estão ligados os eléctrodos deve ter em conta os limites de corrente auxiliar (corrente na entrada do amplificador de instrumentação) para o doente. Durante o funcionamento normal, este limite é de 0,01 mA, e, em caso de falha, é de 0,05 mA[4]. Tendo em conta as especificações do amplificador de instrumentação, esta corrente é, no máximo, de 25 nA, o que é muito inferior a este limite. Em caso de falha, dado que a parte isolada do circuito é alimentada por pilhas, a tensão máxima a que o doente pode ficar exposto é 9 V, o que não constitui risco de electrocussão. Por outro lado, os eléctrodos estão colocados, em princípio, num membro, e o trajecto da corrente não deve atravessar o coração, que é o órgão mais sensível neste aspecto. Na breadboard é difícil ter em conta a separação entre pistas e assim manter a distância mínima de 12mm [4] entre a parte aplicada e a parte de aquisição de sinal, com vista a prevenir a passagem de corrente da parte não isolada para a isolada em caso de descarga electrostática ou falha. No entanto, a parte aplicada aparenta ser segura. Quanto ao acelerómetro, a sua fixação é feita utilizando materiais isoladores. Para além disto, a alimentação do acelerómetro é feita com 3V, que não constituem uma tensão perigosa. Poderiam existir correntes de fuga para a terra, dado que o circuito do acelerómetro não está isolado da placa de aquisição e fonte de alimentação, mas são utilizados materiais isoladores na fixação, pelo que o doente não entra em contacto físico com nenhuma parte condutora do circuito do acelerómetro. Fig. 15 – Placa de terminais com identificação das ligações. III. AQUISIÇÃO E PROCESSAMENTO DO SINAL Para aquisição do sinal, foi utilizada uma placa de aquisição NI PCI-6220 da National Instruments, que permite uma frequência de amostragem de até 250 kAps para 16 canais, valores estes que superam em larga escala os necessários à realização deste projecto. O sinal adquirido é tratado, utilizando o software MatLab®, de forma a simular um processamento em tempo real. Idealmente, isto corresponderia a definir a frequência de amostragem como infinita e a processar instantaneamente cada amostra. Não sendo possível, é escolhida uma frequência de amostragem elevada e definido um procedimento que ao fim de um número de amostras é chamado e as avalia. A frequência de amostragem e o número de amostras a analisar ao mesmo tempo foram escolhidos de forma a maximizar a maneabilidade do cursor e a minimizar o efeito de “saltos” no seu movimento. Esta escolha consistiu em definir o intervalo de tempo a que correspondem as amostras em análise em cada procedimento (a função teste3), que corresponde à divisão do número dessas amostras pela frequência de amostragem, como igual ao tempo de execução do procedimento (à volta de 0,02 segundos). Porém, alterações nos processos em curso no computador, ou a utilização de outro computador, podem levar a uma variação dos resultados obtidos. Um período maior a correr o procedimento poderá levar à perda de maneabilidade, enquanto que um valor menor introduzirá um efeito de salto, já que o cursor é movido e pára em cada posição à espera que o procedimento seja de novo chamado. Em laboratório, os valores escolhidos para a frequência de amostragem e para o número de amostras avaliadas em simultâneo foram de 3000 Aps e 80 amostras. O procedimento utilizado começa por adquirir as amostras através da placa de terminais, correspondentes aos quatro primeiros canais, com a excepção do terceiro (na placa, este corresponde ao valor devolvido pelo acelerómetro em relação à aceleração na vertical, que não é utilizado). Cada canal é composto por três entradas, sendo que o sinal em si é a diferença entre as duas primeiras, enquanto a terceira corresponde à massa. Na prática, ligouse a segunda entrada à massa. Inicialmente, foi implementado um filtro de média. Porém, optou-se por utilizar unicamente o filtro analógico que filtra o sinal antes da sua aquisição, reduzindo assim o consumo dos recursos do processador durante o processamento do sinal. Além disso, um filtro por médias seria mais indicado para um maior número de amostras analisadas ao mesmo tempo, o que, neste caso, diminuiria a maneabilidade do cursor. Para cada amostra, a diferença entre os dois primeiros canais e os valores de referência é multiplicada por um factor de peso e arredondada, e o cursor é movido segundo este vector. Existe um vector auxiliar que vai sendo actualizado com a diferença entre os dois primeiros canais e valores de referência multiplicados por um factor de peso, e é esse que é arredondado e a partir do qual é coordenado o movimento do cursor, permitindo assim registar “velocidades” mais curtas. Para determinar os valores de referência, partiu-se dos valores devolvidos pelo acelerómetro numa posição neutra e estes foram sendo adaptados para compensar as diferentes dificuldades de movimento da mão (o movimento de pronação é mais difícil do que o de supinação, quando a mão se encontra com a palma para baixo). De forma a facilitar o manuseamento do cursor, foram introduzidos valores tampão, abaixo dos quais a diferença entre o sinal e os valores de referência não produz movimento, facilitando assim a estabilização do cursor e permitindo a redução dos efeitos de algum do ruído que o sinal apresenta. De seguida apresentam-se alguns gráficos exemplificativos dos sinais adquiridos com 80 amostras dos sinais adquiridos. O gráfico azul corresponde ao eixo vertical, o verde ao eixo horizontal e o vermelho ao sinal da miografia. Fig. 16 – Acelerómetro em posição de mover o cursor para a direita. A vermelho o sinal da electromiografia, correspondendo ao estado de não-pressionar o botão esquerdo. Fig. 17 - Acelerómetro em posição de mover o cursor para a esquerda. A vermelho o sinal da electromiografia, correspondendo ao estado de não-pressionar o botão esquerdo. Fig. 18 - Acelerómetro em posição de mover o cursor para baixo. A vermelho o sinal da electromiografia, correspondendo ao estado de não-pressionar o botão esquerdo. Fig. 19 - Acelerómetro em posição de mover o cursor para cima. A vermelho o sinal da electromiografia, correspondendo ao estado de não-pressionar o botão esquerdo. Fig. 20 - Acelerómetro em posição de mover o cursor para baixo. A vermelho: o sinal da electromiografia correspondendo ao estado de pressionar o botão esquerdo. Fig. 21 - Sinais adquiridos durante um largo período de tempo, ilustrando os extremos de tensão provenientes do acelerómetro. A azul: oscilação no sinal que coordena o movimento horizontal. A verde: oscilação no sinal que coordena o movimento vertical. Para o clique do rato recorreu-se à linguagem de programação JAVA, que pode ser chamada a partir do software MatLab. Para comandar os cliques esquerdos do cursor, é utilizado o sinal devolvido proveniente da EMG. Um valor de 9 V define o estado “botão pressionado”, enquanto que um valor abaixo de 1 V define o estado “botão não-pressionado”. Na prática, o botão é carregado e largado quando o sinal dá uma indicação consistente (mais de 60 amostras) da alteração de estado. Isto corresponde a um intervalo na ordem das centésimas de segundo, o que não influi no controlo do botão. Entre o processamento de cada amostra, a informação do estado do botão e da posição “fina” do cursor são guardados de forma a poderem ser utilizados quando o procedimento de avaliação for de novo chamado. IV. CONCRETIZAÇÃO No que diz respeito à interface desenvolvida, discutemse de seguida alguns pontos relativos à sua utilização. Durante o seu desenvolvimento, todas as experiências realizadas foram feitas colocando os eléctrodos e acelerómetro na mão, por ser a forma mais fácil e intuitiva de a testar. Utilizam-se dois eléctrodos para a EMG, entre os quais se vai medir uma queda de tensão. Estão colocados segundo a direcção de contracção do músculo. Um deles (na fotografia, preto) encontra-se ligado à entrada positiva (pino 3) do amplificador de instrumentação, e o outro (na fotografia, amarelo) à entrada negativa (pino 2) do amplificador de instrumentação. Este posicionamento dos eléctrodos provoca uma leitura de tensão positiva, aquando da contracção do músculo em questão. Fig. 23 – Colocação dos eléctrodos com adesivos. Após a colocação dos eléctrodos é posta uma luva à qual é preso o acelerómetro, ficando este o mais imobilizado possível relativamente à mão. Para isso foi utilizado um elástico ajustável. Fig. 24 – Luva com acelerómetro. Fig. 22 – Colocação dos eléctrodos na mão. Para uma melhor fixação, já que os eléctrodos se descolam facilmente devido ao suor, aos movimentos da mão, ou por já terem sido excessivamente utilizados, foram utilizados adesivos. Na execução do projecto teve-se como principal preocupação garantir que seria possível controlar os cliques do rato com o sinal da EMG. Porém, sendo utilizada na mão, esta aplicação teria utilidade apenas em indivíduos saudáveis, com total controlo sobre os movimentos dos membros superiores. Tendo em vista uma aplicação clínica, decidiu-se posicionar o acelerómetro na cabeça de um dos elementos do grupo, tendo-se verificado que o controle do rato era até mais fácil do que colocando o acelerómetro na mão. Com a cabeça, é possível imobilizar o cursor muito mais facilmente, já que não está sujeito ao tremor natural das mãos de qualquer pessoa, saudável ou não. Para além disso, é possível controlar o acelerómetro mantendo uma postura correcta e descontraída, sendo apenas necessário inclinar a cabeça para a frente, para trás, rodá-la para a esquerda ou para a direita, consoante a direcção segundo a qual se pretende mover o cursor. Fig. 25 – Acelerómetro (ainda sem isolamento) colocado na cabeça. Uma vez que o local em que são colocados os eléctrodos para a EMG é independente do posicionamento do acelerómetro, é possível escolher qualquer grupo muscular para coordenação do clique do rato. Num indivíduo tetraplégico, sem qualquer controle sobre os membros, os eléctrodos poderão, por exemplo, ser colocados num dos músculos faciais. Não tendo sido experimentado no laboratório, pensa-se que seja possível utilizar o músculo da mastigação ou músculos do queixo, podendo estes últimos ter uma utilização mais confortável já que não implicam forçar os dentes para mastigar com a boca fechada, de modo a contrair o masséter. Esta interface não constitui, como é óbvio, um modelo perfeito. Uma das possíveis melhorias, excluindo as relacionadas com a ergonomia dos componentes, seria o aumento da sensibilidade da miografia para detectar a contracção de músculos mais pequenos, ou desenvolver um algoritmo que permita um processamento de sinal mais eficiente, melhorando a maneabilidade do cursor. Para além disso, dever-se-iam utilizar caixas para os componentes do protótipo e fazer uma placa de circuito impresso para garantir que são satisfeitos os espaçamentos mínimos entre pistas e componentes, por motivos de segurança eléctrica. V. CONCLUSÕES Tendo em conta o tempo e recursos disponíveis, a aplicação de IHM desenvolvida permite o controlo do rato do computador de forma simples e bastante intuitiva. Ainda assim, poderiam ser introduzidos alguns melhoramentos neste modelo, para tornar possível o seu uso generalizado. Por exemplo, a electromiografia revela alguns problemas em termos de colocação dos eléctrodos, já que se descolam facilmente, exigindo a utilização de adesivos para fixação. No caso da mão, este problema poderia ser minimizado trocando o posicionamento escolhido por um que, com os movimentos, não tivesse tanta influência no posicionamento dos eléctrodos, embora a localização actual seja a mais intuitiva. O uso de uma luva com um enchimento seria outra solução, porém, esta teria de ser adaptada a cada utilizador. Outro problema é que tanto o acelerómetro como a miografia exigem o uso de fios para a ligação à placa de terminais, o que limita os movimentos do utilizador. Poder-se-ia estudar a inclusão de um sistema de tecnologia sem fios. A fluidez do movimento do cursor está dependente da disponibilidade do processador a cada momento, e exige a instalação do software MatLab®, o que não facilita a sua generalização. A criação de drivers no sistema operativo poderia resolver ambos os problemas, funcionando como um rato plug-and-play. Além disso, só foi feita uma plataforma para o botão esquerdo do rato, podendo ser estudadas alternativas para o implementar, tais como miografia num outro músculo, ou o uso do terceiro canal do acelerómetro.. Por fim, a experimentação foi limitada, tanto em tempo como em número e heterogeneidade de utilizadores. Assim, não foi possível concluir se a visualização do movimento do cursor pode ou não tornar-se incomodativa para o utilizador. Pode ser necessária a definição de outros parâmetros que controlem a frequência de movimento ou velocidade máxima de deslocamento do cursor. VI. APÊNDICES Fig. 26 - Esquema eléctrico do sistema de amplificação do sinal miográfico e detecção da contracção muscular. Fig. 27 - Esquema eléctrico do sistema de filtragem dos sinais provenientes dos dois canais do acelerómetro. VII. REFERENCES [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8] [9] [10] [11] [12] [13] [14] [15] [16] [17] Burr Brown, Power Instrumentation Amplifier, INA126 Datasheet Burr Brown, Precision Lowest Cost Isolation Amplifier, ISO122JU Datasheet MAXIM, Ultra Low-Power, Single/Dual-Supply Comparators, MAX922 Datasheet Design and Development of Medical Electronic Instrumentation, Prutchi, David; Norris, Michael; John Wiley & Sons, Inc.; 2005 http://www.wellsphere.com/physical-mental-disabilitiesarticle/assistive-technology-friday/564486 http://en.wikipedia.org/wiki/Eye_tracking http://www.exrx.net/ExInfo/Muscle.html Edgard Lamounier, Jr et al,, On the Use of Virtual and Augmented Reality for Upper Limb Prostheses Training and Simulation, Faculty of Electrical Engineering, Federal University of Uberlandia, Brazil Guyton A.C, Hall J.E, Textbook of Medical Physiology, 11 edição Antti T. et al, Wireless Head Cap for EOG and Facial EMG Measurements, IEEE, 2005 http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADndrome_do_encarceramento Chang, G. et al, Real-time implementation of electromyogram pattern recognition as a control command of man-machine interface, Med. Eng. Phys, 1995 Pradeep Shenoy et al, Online Electromyographic Control of a Robotic Prosthesis, IEEE TRANSACTIONS ON BIOMEDICAL ENGINEERING, VOL. 55, NO. 3, March 2008 Development and Quantitative Performance Evaluation of a Noninvasive EMG Computer Interface, Changmok Choi, Student Member, IEEE, Silvestro Micera, Senior Member, IEEE, Jacopo Carpaneto, and Jung Kim, Member, IEEE Michel Bernabei et al, Automatic Detection of tic activity in the Tourette yndrome, IEEE TRANSACTIONS ON BIOMEDICAL ENGINEERING, VOL. 56, NO. 1, Jan 2009 Practical guide to Accelerometers http://www.sensr.com/pdf/practical-guide-to-accelerometers.pdf A. Kbler and N. Neumann, “Brain-computer interfaces–the key for the conscious brain locked into a paralyzed body,” Prog. Brain Res., vol. 150, pp. 513–525, 2005.