Marcelo Martins COMUNICAÇÃO SUBTERRÂNEA um guia para bandas independentes Rio de Janeiro, 2004 Agradecimentos Minha mãe, Monclar Valverde, Aline Granjo e Jéssica Senra pela revisão e observações. Mais uma vez, Monclar Valverde, pelo texto da “orelha”. Cláudio Cardoso, pela orientação acadêmica e pela amizade rockeira. Gina Leite, pelas pictures. Mauro Ybarros, pela capa e idéias malucas. Iassa, Maynard e Ricardo. As razões pela qual tenho vontade de escrever sobre bandas. André t, por todo o trabalho e amizade, além do texto sobre masterização. Cristiane Olivieri, por ter aceito prontamente a escrever um pouco sobre direitos autorais. ©E-papers Serviços Editoriais Ltda., 2004. Todos os direitos reservados à E-papers Serviços Editoriais Ltda. É proibida a reprodução ou transmissão desta obra, ou parte dela, por qualquer meio, sem a prévia autorização dos editores. Impresso no Brasil. ISBN: 85-7650-001-9 Projeto gráfico e diagramação Livia Krykhtine Capa Mauro Ybarros Fotos Gina Leite Revisão de texto Elisa Sankuevitz Helô Castro Ionei Martins Monclar Valverde Aline Granjo Jéssica Senra Esta publicação encontra-se à venda no site da Editora Frutos. http://www.editorafrutos.com.br E-papers Serviços Editoriais Ltda. Rua Mariz e Barros, 72, sala 202 Praça da Bandeira – Rio de Janeiro Rio de Janeiro – Brasil CEP 20.270-006 Sumário Introdução, 7 A Banda, 9 A figura do líder, 11 Mudanças de formação, 13 O frontman, 15 Comunicação interpessoal, 18 Ensaios, 19 Ensaiando corretamente, 20 Tirando o som no estúdio, 21 Cuidados com a audição, 21 Compondo Músicas, 23 Afinação, 24 Coesão, uniformidade e silêncio, 25 Estruturas, 27 Pronúncia, 29 Originalidade, 30 Shows, 33 Equipamentos, 33 Passagem de som, 34 Postura de palco, 35 Marketing, 37 Website , 38 Newsletter, 41 Cartazes, 41 Mirc e listas de discussão, 42 Press release, 43 Ser jornalisticamente relevante, 43 Fotos, 45 O Disco, 47 Demo-tape, 47 Produtores, 49 Criando expectativa, 50 Escolha do estúdio, 51 Analógico ou Digital?, 51 Plano de horas e orçamento, 52 Aluguel de equipamentos, 54 Gravando a bateria, 55 Gravando o baixo, 56 Gravando a guitarra, 56 Voz, 56 Mixagem, 57 Masterização, 58 Capa, 59 Banner de palco, 59 Prensagem, 59 Distribuição, 61 Correio, 62 Publicidade, 63 Consignação, 65 Seja acessível, 65 Clipping, 66 Mercado musical, 66 Links para os Charts, 67 7 Introdução S er independente não significa fazer tudo sozinho. Muito pelo contrário, você vai precisar cada vez mais das outras pessoas. Todo grande profissional sabe que um bom trabalho só pode ser realizado por uma boa equipe e quanto melhor a equipe, melhor o resultado final. Por mais talentoso que você e sua banda sejam, ninguém consegue gravar um disco e distribuí-lo sozinho, mesmo que você tenha dinheiro suficiente (mas se este fosse o caso você não estaria lendo esse livro, não é?). Tudo bem, eu sei que alguns artistas têm aquele ego inflado e se acham auto-suficientes. Se você é um deles, desista, ou então comece a mudar. Para se destacar como uma banda independente você vai ter que engolir muito sapo, ouvir muito desaforo e participar de intrigas novelescas. A regra número um do sucesso em qualquer coisa nesse meio: seja humilde. Ser independente é a sua oportunidade de formar uma equipe com pessoas competentes e de confiança. Achar pessoas assim não é fácil, mas pode ter certeza de que, no momento em que você achálas, elas serão extremamente fiéis. Os bons atraem os bons e todo mundo quer fazer parte de alguma coisa legal e bem-feita. Num momento de crise fonográfica, pirataria e porcaria musical, as pessoas estão procurando alternativas para trabalhos e é aí onde você e sua banda entram. O maior problema da independência é sempre o mesmo: dinheiro. Você vai gastar. Não adianta ficar achando que as coisas vão acontecer se não houver investimento. O dinheiro só vem depois de muito tempo e de muito trabalho. Por acaso você conhece alguma empresa que não precisou de investimento financeiro para crescer? Então por que você acha que com uma banda a coisa vai ser diferente? Até o Iron Maiden só começou a ganhar dinheiro a partir do terceiro disco! 8 Introdução Uma banda tem muitas características semelhantes a de uma empresa e várias dessas características vão ser destacadas neste livro. Ser independente é ser profissional. Banda é investimento, mas é um investimento no seu sonho. Eu costumo dizer que trabalho em outros lugares para poder sustentar minha banda até que um dia ela possa me sustentar. É a luta de todos, é difícil, mas não é impossível. Este livro vai falar de tudo que envolve a criação e a manutenção de uma banda underground. Desde a formação e a escolha dos músicos, passando por ensaios, gravações, shows e distribuição. Você vai ver que as coisas são bem mais simples do que parecem e que você não precisa inventar a roda, mas você precisa saber usá-la. Vamos aprender a utilizar corretamente o dinheiro da banda, sem gastos desnecessários e tentando manter a coisa “pagável”. Ser independente é um grande risco, mas se feito corretamente, pode trazer ótimos resultados. Podem até não ser financeiros, mas a sensação de ter feito algo relevante e de ter participado disso é muito mais importante do que dólares. 9 A Banda Q uase toda banda começa com um grupo de amigos que querem tirar umas músicas de bandas conhecidas, só para se divertir. Uma pequena parcela das bandas começa com um objetivo já definido e os membros se juntam não porque são amigos ou parentes, mas porque têm um foco e uma meta. Você não precisa me contar a história da sua banda, ela começa assim: Em, “coloque o ano de surgimento da sua banda”, alguns amigos se juntaram para se divertir e tocar covers de, “suas bandas favoritas”. Depois de um tempo, resolveram começar a compor músicas próprias que acabaram sendo gravadas na Demo-tape, “aqui vem o nome da demo’, lançada em, ‘ano de lançamento da demo”. Não se preocupe, 90% das bandas começaram assim. É natural que você toque com seus amigos; afinal de contas, com inimigos é que não vai tocar, não é mesmo? Aí é que entra a parte complicada da coisa. Formar uma banda é a tarefa mais difícil e penosa de todas. Isso porque depois de um certo tempo, toda banda que quer ser profissional empaca por questões que envolvem os membros, a amizade entre eles e, principalmente, os seus egos. É uma tensão natural que acontece e, provavelmente, vai acontecer com quase todas as bandas iniciantes que não se formarem com objetivos profissionais. O grande problema na formação de uma banda com amigos é que, depois de algum tempo, vocês vão querer começar a trabalhar mais sério, ganhar uma grana, gravar um CD e fazer shows, mas, para isto acontecer, serão necessários mais ensaios, dedicação e “trabalho”. E aí entra o velho dilema: nem todos gostam de trabalhar 10 A Banda e para uma banda funcionar todos têm de trabalhar. Não precisa um ficar desesperado e fazer tudo, cada participante “deve” fazer a sua parte. E deve fazer “bem”. Lembre-se que quanto melhor a equipe, melhor o trabalho. Se alguém não faz sua parte no trabalho, o todo não funcionará direito. Pensem bem, as pessoas que estão na sua banda vão ser as pessoas mais próximas de você e vão participar de todas as decisões importantes que serão tomadas. Nos próximos capítulos, vamos descobrir o quanto é importante que estas pessoas sejam boas no que fazem e que a confiança entre elas seja mútua. As figuras mais importantes da banda são os músicos. Talvez sejam mais importantes do que as músicas que serão produzidas. Certa vez, li uma entrevista de Dave Mustaine (guitarrista e vocalista da banda norte-americana Megadeth, uma das mais importantes bandas de heavy metal) na qual dizia que tocar em uma banda é a coisa mais próxima de sexo que as pessoas podem fazer, sem o praticar propriamente. Isto é a mais pura verdade. Se tudo der certo, vocês podem ficar juntos durante cinco, dez, vinte anos ou mais! É uma vida... Você já pensou nisso? Uma banda é como um casamento e a aliança é a música. Um casal já discute e briga bastante, imagine um grupo de três ou mais pessoas! Vocês vão passar momentos terríveis juntos, vão brigar, discutir, talvez se agridam, mas nos momentos bons também estarão presentes. E meu amigo(a)... os momentos bons sempre valem a pena. Por menores que sejam, sempre valem a pena. A alegria de ver um trabalho em equipe que começou do zero dar resultado é algo tão maravilhoso quanto achar o amor da sua vida. É a realização de um sonho que começa a acontecer. Mas chega de sonhar e vamos voltar ao trabalho. Estes dois parágrafos anteriores foram escritos para reforçar a importância que os membros da banda têm em tudo que será feito. Não estou falando aqui de cantores que resolvem contratar músicos para acompanhá-los nos shows. Com “din din”, todo mundo trabalha melhor e se não trabalhar, é demitido e contrata-se outro. Estamos falando de pessoas que se unem para fazer música por amor, com objetivos em comum e sem expectativa de retorno financeiro, pelo menos em curto prazo. Vamos ao que interessa: como saber se as pessoas que tocam com você são as pessoas certas? Comunicação Subterrânea 11 1. Vocês precisam ter os mesmos objetivos. E mais, precisam entender que os objetivos da banda são mais importantes do que o de cada membro individualmente. Isso inclui ego, família, amizades, namoradas e churrascos de fim-de-semana. Se cada um enxergar o conjunto como mais importante do que si próprio, os problemas serão resolvidos mais facilmente. 2. Amizade e trabalho não devem ser confundidos. Banda é trabalho. Tudo bem, é um trabalho divertido. Também não seria plausível tocar com inimigos. Mas as coisas precisam estar “muito bem” separadas. Eu acredito que durante os trabalhos da banda é muito mais importante manter uma relação de respeito do que de amizade. Claro que estas coisas se complementam, mas o respeito deve ser sempre mais destacado. Vocês podem voltar a ser amigos desrespeitosos quando forem beber num bar depois do ensaio. 3. Cada um precisa fazer a sua parte. Desde o princípio, vocês vão perceber que cada um tem aptidão para fazer certos trabalhos. Além das tarefas básicas como tocar os instrumentos, vocês terão que lidar com marketing, lojistas, fãs e com o seu rico dinheirinho. Com o tempo e com a ajuda do líder o grupo descobrirá suas tarefas. 4. A confiança terá de ser mútua. Você se casaria com alguém que não confiasse? Você abriria uma empresa com alguém desconhecido? Banda é a mesma coisa. Quanto mais tempo vocês passarem juntos, mais terão que confiar no companheiro. Estas quatro características são fundamentais e sem elas nenhuma banda dura muito tempo. Lembre-se do respeito, ele é muito importante. Às vezes não sabemos o que está acontecendo com o companheiro e pode ser coisa séria. Nunca subestime ou desvalorize seu companheiro. Se você faz isto, não deveria estar tocando junto com ele. A figura do líder Um líder é uma figura importante em uma banda. Muitos confundem o líder com um ditador ou com aquele cara chato que só faz mandar e se acha o melhor. Um líder de uma banda é como um diretor de empresa, ele precisa cuidar dos negócios e principalmente das pes- 12 A Banda soas com as quais trabalha. Um líder não deve ser “hitlerista”; não deve somente ditar regras, deve também saber ouvir. Por outro lado, o líder também não pode ser “Polyanna”, sempre bonzinho... Um bom líder é um cara moderado, que sabe ouvir bem todas as opiniões das pessoas envolvidas com a banda, antes de decidir. O líder precisa ser bastante cuidadoso com as pessoas e deve comunicar-se bem. Além disto, deve ser visto como um “porto seguro”, alguém em que todos confiam e que sempre estará lá para ajudar. Um líder é uma espécie de anjo que passa segurança para as pessoas. Tudo o que ele fala deve ser levado em consideração e, portanto, deve saber falar no momento certo. Deve sorrir mesmo quando algo não está indo bem e se preocupar quando tudo vai bem demais. O líder é o espírito motivador da equipe. Com o passar do tempo, algumas decisões terão que ser tomadas e algumas delas serão difíceis. Por exemplo: se uma banda conhecida te convida para tocar com ela em um show, mas você sabe que o show será desorganizado, o local e a data não são bons. Alguém terá de dizer não e isto é difícil. Além disto, você poderá ser chamado de esnobe e coisas do tipo. Ninguém melhor do que o líder para saber o que será melhor ou não para banda. Ele deve conversar com os membros da equipe e deixar bem claro o motivo das suas decisões. O líder deve saber identificar as qualidades e habilidades de cada integrante. Não poderá fazer tudo sozinho, por isto deve saber delegar tarefas. Se perceber que o baterista é um cara bom de matemática, ninguém melhor que o próprio para segurar a grana da banda. Se o baixista conhece muitos músicos, ele pode ser a pessoa ideal para procurar um produtor ou até mesmo um substituto caso aconteçam mudanças na formação. O papel do líder é delegar tarefas para as pessoas, porque muitas vezes elas não sabem que possuem as qualidades necessárias. Mas não é só isso, o líder deve acompanhar os trabalhos feitos por cada um, motivá-los se o trabalho estiver indo bem, corrigir o que não estiver funcionando e por fim fazer com que aquela pessoa se sinta importante na equipe. Uma banda só funciona se todos funcionam bem. O líder é o porta-voz das decisões da banda. Não toma as decisões sozinho, mas as anuncia no devido momento. Infelizmente as pessoas se confundem e direcionam para o lado pessoal. O líder Comunicação Subterrânea 13 deve tentar amenizar estas situações e conversar, deixando tudo o mais claro possível. Mas às vezes as pessoas não entendem, ou não querem entender o que se passa. Caso isto aconteça, ignore e calese. Não crie inimigos desnecessários. Um dia a raiva passa. O líder é alguém com poder de convencimento mediante bons argumentos e não pela força. Deve sempre discutir suas idéias com a banda e nunca tomar decisões sem consultar o grupo. Mas, caso seja necessário uma tomada de decisão urgente o líder deverá ser responsável pela decisão tomada. Se você acha que ser líder é legal, pode tirar o cavalinho da chuva porque o líder é quem mais trabalha, quem mais engole sapos e quem mais noites de sono perderá. O segredo do bom líder é não se abalar muito com as opiniões externas e saber usar bem as coisas que são faladas sobre sua banda. Se você se preocupa demais com as opiniões alheias, então não deverá ser líder. O líder deve ter uma boa auto-estima, mas deve ser humilde o suficiente para aproveitar o que há de melhor para sua banda e isso exige saber ouvir tudo, as coisas boas, as construtivas e as ruins. Mudanças de formação As mudanças de formação ocorrem em 95% das bandas. Conto nos dedos as bandas que nunca mudaram a sua formação. Isto tende a ser cada vez mais difícil, principalmente no começo da formação, quando as pessoas estão se conhecendo musicalmente e também aprendendo a lidar uns com os outros. Quando a banda deixa de ser somente uma diversão e começa a gerar trabalho, as coisas começam a mudar bruscamente. A primeira grande descoberta é que alguns dos seus amigos que você achou que eram perfeitos para a banda não gostam muito de trabalhar e começam a fazer corpo mole ou não fazem sua parte direito. Só existem dois motivos para algum membro não fazer sua parte direito: ele não quer ou não pode. O grupo tem que conversar com este membro e identificar onde está o problema. Primeiro tente encaixar a pessoa em um desses dois grupos – não quer ou não pode... “...Se ela não trabalha porque não quer, não há motivo para estar na banda”. Se está incluída no segundo grupo (não pode) procurem descobrir as razões do problema. Algumas razões são legítimas, como, 14 A Banda por exemplo, dificuldades financeiras ou familiares. Todo mundo tem problemas e esta é a hora em que estas dificuldades devem ser mostradas ao grupo. Ninguém melhor que os próprios componentes da banda para sugerir soluções e oferecer ajuda. Mesmo que estejamos encarando a banda de forma muito profissional, todos temos medos e inseguranças. Mas há um limite. Lembro que uma vez toquei com um guitarrista que estava há seis meses tocando na banda e não conseguiu providenciar sequer um pedal de distorção. Seis meses é tempo demais e o problema não era financeiro. Se mesmo depois de muita conversa o problema continuar e a pessoa não se enquadrar no grupo, então não haverá motivo para continuar na banda. Há ainda uma outra questão delicada que diz respeito ao grupo das pessoas que não podem trabalhar. Algumas delas não são bons músicos. Simples assim. É normal que com o tempo, a banda comece a se entrosar mais e tocar melhor e que um ou outro componente não esteja na mesma sintonia dos demais. Sendo isto observado, deve ser conversado com o componente em questão. Uma simples conversa pode resolver o problema. Outras vezes a questão se torna complicada demais por outros motivos. O problema é que ninguém gosta de ser criticado, isto é natural no ser humano. Só que quem tem humildade percebe que está sendo chamado a atenção porque os amigos querem que ele melhore. Todo crescimento no grupo tem que ser coletivo. Só que alguns não aceitam e continuam cometendo os mesmos erros. Uma coisa é certa: se alguém de sua banda não funcionar bem, ela também não funcionará. Não há necessidade de serem supermúsicos, basta que façam a sua parte bem. É um erro muito comum manter um músico “ruim” na banda somente porque ele é um amigo. Quanto mais tempo se demora para resolver esse problema, mas complicada será a mudança e a aceitação deste músico. Mas não há outro jeito, a banda precisa tomar uma decisão: ou é profissional ou não é. Ser criticado não é bom, mas ser eliminado da banda é muito pior. É uma sensação semelhante a de um término de namoro (mais uma vez a relação com o casamento) e as reações podem ser as mais diversas. Invariavelmente o líder será responsabilizado já que ele terá que dar a notícia. Não há muito o que fazer neste caso. Se a pessoa extraída for um bom amigo, ele vai entender. Se ele não Comunicação Subterrânea 15 entender hoje, um dia vai entender. Se ele não entender nunca, pode ter certeza de que não era a pessoa certa para a banda. Não adianta também colocar supermúsicos em sua banda se eles são pessoas insuportáveis. Ninguém agüenta tocar com um cara que se acha “estrela”. Mas também ninguém consegue tocar com uma pessoa que erra demais, mesmo que ela seja um bom amigo. O ideal é encontrar um bom músico, que seja uma boa pessoa. É exatamente por isso que é tão difícil conseguir formar uma banda. Não dá para achar um bom músico, legal e trabalhador em qualquer esquina. Temos de levar em conta que os músicos, também, saem espontaneamente da banda. Isto é pior porque muitas vezes acontece inesperadamente e fica difícil preencher a lacuna, principalmente, se o músico já estava integrado com os trabalhos da banda. Eu digo sempre que lidar com os membros de uma banda é muito mais difícil do que fazer as músicas. Fique atento a isto e saiba que o sucesso na escolha destas pessoas é o primeiro passo para se formar uma boa banda. O frontman O frontman ou frontwoman significa, literalmente, homem ou mulher da frente. Em uma banda, o frontman é o vocalista. Quando a banda é instrumental, o frontman passa a ser um outro músico, geralmente o guitarrista e, em alguns casos, o baixista. Claro que podem existir outras formações em que o frontman seja um outro músico, mas em 99% dos casos ele é o vocalista e é desta figura que falaremos agora. O vocalista se destaca no palco por ser ele que interage com o público. Ele é a ponte de comunicação da banda com a sua audiência. Mesmo que a banda faça músicas em idioma estrangeiro, a voz humana ainda é o instrumento mais facilmente reconhecido pelo nosso ouvido. Escolher os membros de uma banda é difícil, mas escolher um vocalista é ainda mais complicado. Primeiro porque existe um certo mito de que o vocalista não precisa estudar seu instrumento (sua voz), porque ele já nasce com o dom de cantar, ao contrário dos outros músicos que passam horas a fio se aperfeiçoando. Essa história de dom é uma bobagem e o vocalista tem que treinar tanto quanto os 16 A Banda outros. Precisa tomar aulas, aquecer sua voz antes de entrar no palco, além de cuidar muito bem da sua saúde. Eu, particularmente, não acredito em dom, acredito em trabalho e perseverança. O vocalista tem uma tarefa árdua pela frente. Além de ser um bom músico, ele tem que saber se comunicar bem, ter presença de palco, desenvoltura e carisma. Carisma para despertar a simpatia e a atenção das pessoas. Na religião cristã, o carisma é um poder divino muito forte capaz de realizar milagres. Para nós, artistas, o carisma é simplesmente aquele magnetismo inexplicável. A pessoa que tem carisma consegue chamar a atenção de todos, mesmo que esteja calada em uma sala. Esta pessoa tem um alto poder de persuasão, como um líder que é capaz de fazer com que todos ouçam a sua opinião mesmo conhecendo menos sobre o assunto do que qualquer um presente. No palco, o frontman é o rei e seus súditos são o público. Pode parecer uma coisa absurda e egocêntrica, mas não é. O frontman deve se sentir poderoso quando está no palco, pois só assim pode passar segurança para as pessoas. Mesmo que não seja um bom cantor, ele precisa fazer com que as pessoas acreditem que seja. Existem cantores que são bastante tímidos fora do palco, mas quando estão em ação, sua auto-estima se multiplica de tal forma que a pessoa brilha naturalmente. Isto é presença de palco. Existe uma linha muito tênue entre ser presente no palco e ser esnobe. Um vocalista esnobe repele a audiência. O vocalista precisa ter em mente que apesar de ser o rei do palco, quem o elege é o público e ele (o vocalista) está ali por eles (o público). Se dentro de um estúdio as músicas são feitas para satisfação dos músicos, no palco a música é reproduzida para satisfação não só da banda, mas também do seu público. E por falar em público, existe aquela velha história de que: “ah... mas eu só canto bem quando o público é bom, assim me empolgo mais”. Bem, temos aí um caminho inverso de energia. A banda é que deve começar a gerar essa energia que é repassada para o público que, por sua vez, responde com mais intensidade e aí a banda melhora. Esse ciclo continua infinitamente e deve perdurar até o fim do show. Se uma banda fica esperando que o público reaja para ela tocar bem, o público vai ficar esperando que a banda produza essa boa energia e assim vai ficar todo mundo parado e o show vai ser uma Comunicação Subterrânea 17 grande decepção. O show é uma troca de energias e a banda tem que dar o primeiro passo para que a troca de energia seja positiva. O vocalista precisa não só cantar bem, mas nos intervalos das músicas ele precisa falar com o público e esse momento é tão importante quanto as músicas. Não existe regra sobre o que falar, mas o vocalista deve respeitar ao máximo o público e fazer com que a platéia se sinta à vontade. Quantas vezes você já não viu um programa de televisão em que você sentia vergonha do apresentador? Às vezes dá vontade de trocar o canal porque não conseguimos assistir àquilo. O segredo para não causar essa sensação no público é: não tenha vergonha de si mesmo e o público não terá vergonha de você. Errar é humano e todo mundo pode falar alguma besteira no palco. Se isso acontecer, improvise e ria. Sim, rir é a melhor coisa porque uma pessoa que ri de si mesma não pode ter vergonha de mais nada neste mundo. Rir de si mesmo é um ato nobre e não deve ser suprimido em momento algum. Se o erro for muito grande, simplesmente fale: “desculpe, eu errei, não é nada disto.” Esta é uma solução muito melhor e bem mais honesta do que qualquer outra coisa que você possa fazer. Uma outra dica é: faça teatro. Música também é encenação. O bom vocalista ou frontman deve saber a hora de se ocultar. Existem momentos em que outro instrumentista irá solar, ou a música terá uma longa parte instrumental. Nestas horas o vocalista pode ficar interagindo com o público ou se retirar do palco. Só não deve ficar feito uma barata tonta no meio da banda, sem fazer nada. Deixar os outros aparecerem revela a humildade do artista, é um ato nobre que só vai reforçar o carisma e realçar o talento do vocalista. Existem casos em que o frontman acumula as funções de vocalista e instrumentista. A performance de palco será bem diferente, pois este frontman terá que ficar parado ante o microfone boa parte do tempo. Tocar e cantar ao mesmo tempo é difícil, mas não é impossível e pode conferir um status extra ao frontman, pelo fato de conseguir executar as duas tarefas ao mesmo tempo. Se você acha que ser vocalista é só cantar, veja então quantas coisas precisa ainda saber? Isto não é fácil de jeito nenhum. Achar alguém com este perfil é difícil mas não impossível. Ninguém nasce sabendo. Se o vocalista tem o mínimo de talento e o máximo de vontade de trabalhar ele vai conseguir superar as dificuldades e crescer a cada dia. 18 A Banda Comunicação interpessoal Todos os componentes têm que saber tudo que está acontecendo na banda. A falta de informação é um grande problema para qualquer grupo que trabalhe junto. Mais uma vez, cabe ao líder repassar as informações para os componentes da banda. Talvez a melhor opção para a comunicação interna de uma banda seja criar uma lista de e-mails. Existem inúmeros serviços de criação de grupos como yahoogroups.com.br, grupos.com.br etc. Há também a opção de você simplesmente escrever um e-mail e mandar cópias para os outros integrantes. O e-mail é mais prático do que o telefone porque muitas vezes as pessoas não podem ficar ao telefone porque estão no meio de um trabalho. Além disso, é mais fácil de entender a mensagem que você lê em casa do que algo dito em minutos ao telefone. Por outro lado, o telefone é bastante útil para passar recados urgentes como mudança de horário de ensaio ou passagem de som. A grande questão aqui é que não adianta nada você se comunicar se os outros não querem ouvir. Para minimizar estes “ruídos” na comunicação, as pessoas têm que estar com o e-mail funcionando e com os telefones ligados. Ou então, elas devem ligar umas para as outras para saber o que está acontecendo. Não tem coisa mais irritante do que chegar ao ensaio e descobrir que ninguém sabe de nada porque o email está com problema e o telefone caiu na piscina. O líder tem a obrigação de passar todas as informações relevantes, mas os companheiros têm que correr atrás das informações, caso os seus instrumentos de comunicação não estejam funcionando corretamente. Toda banda deveria marcar reuniões pelo menos uma vez por mês. Isto porque, muitas vezes, os músicos só têm contato durante o ensaio este é o momento de tocar e não de falar. As reuniões servem para reforçar as informações passadas por e-mail, discutir os problemas e dificuldades da banda e planejar os objetivos futuros. Antes das reuniões faça uma pauta com os assuntos a serem discutidos e passe para as pessoas com antecedência. Marque as reuniões em um lugar arejado, tranqüilo e silencioso e depois de tudo acertado, saiam para se divertir juntos porque vocês também são filhos de Deus. 19 Ensaios O s ensaios são a comsa mais valiosa da banda, depois dos próprios músicos. Ensaiar é se preparar para ser uma banda melhor e não conheço nenhuma banda profissional que não ensaie pelo menos três vezes por semana, aliás o ideal é ensaiar todo dia e descansar nos fins de semana. Como, normalmente, os componentes da banda têm outra atividade profissional, ensaiar todos os dias fica muito cansativo e também muito caro. Os ensaios precisam ser agendados pelo menos uma vez por semana. Se possível, duas vezes. Neste caso, separe os ensaios por um intervalo de tempo razoável: marque um na quarta e outro no domingo, por exemplo. Não adianta marcar o ensaio sábado e domingo e ficar a semana toda sem tocar. O bom é ter regularidade. Juntar quatro ou mais pessoas para ensaiar é uma tarefa árdua. Todos têm outras atividades e a conciliação dos horários é uma loucura. Só que se você e sua banda querem chegar em algum lugar, é preciso fazer sacrifícios e o ensaio deve ser mais importante do que o churrasco com a namorada e o casamento do seu primo. Estabeleçam dia e horário para o ensaio e sigam este cronograma com afinco. Todos os membros têm que ter uma coisa bem clara na cabeça: nada é mais importante do que o ensaio, a não ser a saúde de vocês. Então, as justificativas para faltar um ensaio marcado com antecedência não existem. Mais uma vez, esqueça os compromissos do dia, falte as aulas, dê um jeito no trabalho e se vire. Banda não é brincadeira. Claro que existem situações extremas em que você vai precisar faltar, principalmente com relação a problemas de saúde. Neste caso, os membros da banda vão entender essa situação. Afinal, uma pessoa doente vai tocar mal e o ensaio vai ser ruim. Por experiência 20 Ensaios própria, posso dizer que essas situações são muito raras e dificilmente vão atrapalhar o andamento dos trabalhos. As pessoas ainda faltam ao ensaio por preguiça e se esse for seu caso, você não está preparado para lidar com uma banda. Ensaiando corretamente Nada de ficar falando muito no ensaio. Vocês podem conversar e contar piadas depois de tocar. Geralmente os ensaios duram três horas, mas se vocês terminaram de tocar tudo e ainda sobrou tempo, dá para diminuir para duas horas. Ensaiar é simplesmente repassar as músicas prestando atenção aos detalhes. Todos devem ser muito exigentes consigo e com os outros. As pessoas devem ter serenidade para ouvir as críticas e os elogios com a mesma tranqüilidade. É importante que cada um tenha consciência e se concentre no que está tocando, para identificar e corrigir seus erros evitando que seus companheiros sejam obrigados a falar sobre as mesmas falhas a todo momento. Ser criticado o tempo todo é uma coisa chata e pode desestimular. Gravar alguns ensaios e se ouvir em casa também é uma boa opção. Talvez o músico que sofra mais no ensaio seja o vocalista. Ninguém consegue ficar cantando duas ou três horas seguidas e continuar afinado e com punch. Divida o ensaio em duas partes: na primeira o vocalista entra em ação e na segunda vocês só fazem instrumental. Isto é legal também porque dá para perceber os detalhes da parte instrumental com mais clareza. Se todos os detalhes já foram passados e repassados, vocês podem fazer um ensaio com clima de show. Desliguem as luzes, preparem o set list e toquem as músicas em blocos de três ou quatro. Nos intervalos, falem como se estivessem falando com o público, anunciando as músicas para eles. Pode parecer coisa de maluco, mas é muito útil já que por mais simples que um show seja, vocês sempre vão errar muito mais do que no ensaio. Por fim, saiba que o objetivo do ensaio é deixar a banda pronta para qualquer show. Como vocês nunca saberão quando serão convidados para um show, estejam prontos, porque a desculpa de que a banda não está pronta só é aceitável para quem não ensaia regularmente. Estejam prontos, sempre. Comunicação Subterrânea 21 Tirando o som no estúdio É bastante difícil encontrar estúdios de ensaio com um bom preço e bom equipamento. O mais comum é encontrar os amplificadores de guitarra e baixo bem surrados e o som geralmente sai muito embolado. Para complicar ainda mais, alguns estúdios contam com técnicos que não sabem mexer direito no equipamento. O baterista é o músico que mais sofre porque a bateria é o equipamento mais maltratado de um estúdio de ensaio. Imagine que por ali já passaram dezenas ou centenas de músicos que batem alucinadamente naqueles tambores. Tem gente que sabe tocar forte sem estragar o equipamento, mas a maioria toca instintivamente, sem ter a mínima noção do que está fazendo. Também em relação aos bateristas, ainda não inventaram um botão de volume para eles e isso é uma coisa muito grave. Como boa parte dos bateristas não pode tocar alto em suas casas, para não incomodar os vizinhos, é no estúdio que eles descem a madjeira. Com a bateria sendo tocada num volume absurdo, os outros músicos não vão se ouvir e elevarão o volume dos respectivos instrumentos. E aí como os amplificadores são ruins, o resultado vai ser um barulho dos infernos onde ninguém vai entender “lhufas”, sequer uma nota. Moderação é a palavra-chave na hora de ensaiar. Peça para o baterista maneirar um pouco (eu sei que é difícil, mas não custa tentar) e não aumente demais o volume do seu instrumento. Não dificulte as coisas e torça para que um dia seja inventado um botão de volume para o baterista. Cuidados com a audição Vocês já devem ter percebido que o barulho dentro de uma sala de ensaio é muito superior ao limite da nossa audição. Quando a gente é jovem, não sente dor e não percebe a perda da audição, mas se você não ficar atento a isso, poderá em 10 anos ter graves problemas de audição e até ficar surdo. Portanto, proteja os seus ouvidos. Eles são valiosos para você e se ficarem danificados não dá para comprar um novo par na loja. Uma vez instalado o processo de perda de audição, a tendência é piorar. 22 Ensaios Tudo começa com um zumbido atormentando durante o dia posterior ao ensaio ou show. Depois de um dia ou dois este zumbido passa. Com o tempo o ouvido se habitua com o zumbido e não percebemos que ele demora cada vez mais para desaparecer. É primeiro sinal da perda de audição. O processo de surdez começa, geralmente, nas freqüências agudas. Um bom indicativo é você prestar atenção se algo estranho acontece quando você atende ao telefone. Se você estiver com dificuldade de entender o que a pessoa fala, sua audição já está ficando prejudicada. Assim que perceber um destes sinais procure um especialista, um otorrinolaringologista. Só o médico pode lhe orientar a fazer os exames específicos necessários para avaliar o nível da lesão, se for o caso, ou o grau de traumatismo causado no ouvido . Existem vários testes para medir a perda de audição e um deles é a audiometria. Só depois de uma avaliação o médico poderá dizer quais os cuidados que você deverá tomar para proteger seus ouvidos. Se você não sente nada, melhor tomar cuidado. Comece a usar um protetor. Existem vários modelos, com preços variados, de protetores para os ouvidos. O uso desta proteção vai alterar um pouco a sua audição mas, com o tempo, você vai se acostumar. É melhor passar por esse incômodo do que correr o risco de perder o que um músico como você tem de mais precioso: os ouvidos. 23 Compondo Músicas O grande barato de se fazer música é que por mais que existam as teorias, fórmulas e dogmas, não há regra para se compor. Desde o princípio, use o máximo de tempo possível para criar suas músicas porque elas são muito importantes para a banda, talvez o mesmo nível de importância que têm os seus componentes. Com o tempo, sua música pode até ficar mais importante do que você, autor. A idéia é essa. Uma banda só existe com um material gravado. Eu poderia ser romântico aqui e falar sobre os shows, seu público cativo etc. Mas, a não ser que você seja o Iron Maiden no começo da década de 1980, o seu público de show ainda é muito pequeno. Com algum material gravado, mesmo que seja uma demo-tape (mais tarde veremos que não vale a pena isto ser feito), as pessoas podem ter a sua música em casa. Isto é extremamente importante. A partir do momento que sua música se torna pública, as pessoas querem ter esta música. Pelo menos as que gostam do seu estilo. Elas só podem adquirir suas músicas se estiverem gravadas em algum lugar, de preferência bem gravadas, é claro. Num show, as pessoas ouvem, interagem, mas não têm a oportunidade de ouvir de novo, no conforto do lar e na hora que quiserem. A não ser que você seja um mago da composição (e esteja tocando em um local com som excepcional), ninguém vai lembrar das suas músicas uma semana depois de ter ido ao show. Ao gravar um CD, – vamos descobrir logo mais como fácil fazer isso – qualquer banda iniciante terá um suporte fundamental para imortalizar seu trabalho, tornando-o disponível a qualquer momento, para quem quiser ouvir. Conheço bandas que existem há mais de 10 anos e gravaram seu CD somente em 2003. Se elas tivessem gravado com dois ou três 24 Compondo Músicas anos de existência, provavelmente estariam bem melhor. Portanto, a primeira coisa a se fazer é gravar um CD, só que antes vocês precisam de músicas e é disto que vamos falar: a composição. Na verdade eu tinha começado a falar sobre isto no começo do capítulo, mas resolvi abrir este pequeno parêntese para mostrar a importância de ter algum material gravado. Isto não quer dizer que não seja importante tocar ao vivo, muito pelo contrário, mas você precisa de um disco para ver a coisa começar a acontecer de forma mais consistente. Como já disse anteriormente, não existem regras para compor. Entretanto, existem algumas coisas que são básicas, das quais vamos falar agora. Afinação Uma música desafinada é terrível.Mesmo que isto seja tão básico é um erro freqüente em 99% das bandas iniciantes. Às vezes, os próprios membros da banda não sabem que estão desafinados. Outras vezes sabem, mas ficam com receio de falar para não constranger o amigo. Esta situação pode ser resolvida com senso crítico aguçado, muita atenção na hora do ensaio e com o auxílio de um bom produtor musical. O primeiro passo para não descuidar da afinação é usar um afinador (de preferência o mesmo) para afinar baixo e guitarras. Muitas pedaleiras multiefeitos já vêm com este dispositivo, mas o bom mesmo é comprar um bom afinador e mandar bala. Afine seu instrumento antes e depois do ensaio. Se a coisa estiver feia, afineo entre as músicas, mas não torne isso um hábito. Em um show, você não vai parar tudo para ficar afinando seu instrumento a toda hora. Aí você pergunta: “ah... mas e se ele desafina, eu vou deixar ele desafinado?” Caso o seu instrumento esteja assim trate de regulá-lo de três em três meses, compre cordas de boa qualidade e mantenha-o limpo. Leve-o regularmente a um luthier para fazer a limpeza e os ajustes necessários. Se mesmo assim o instrumento continuar desafinando, venda-o e compre um melhor. Resolvida a questão dos instrumentos, vamos para a voz. Essa é talvez a coisa mais difícil de afinar porque não há casas para apertar nem notas fixas. A voz é extremamente versátil e livre e, por isto mesmo, difícil de se utilizar. O vocalista precisa ter um bom ouvido Comunicação Subterrânea 25 e estar atento a pequenas sutilezas, deve estudar e saber ouvir. Precisa levar em conta as opiniões dos outros músicos porque, na hora da empolgação, nem sempre a gente percebe que está desafinado. Se o seu vocalista ou você mesmo não aceitam esse tipo de crítica, desista de fazer uma banda e monte uma lan-house. Para mais informações, leia o Capítulo 1 novamente. Existem detalhes mais sutis e não menos importantes como os solos e a própria estrutura harmônica das músicas, que muitas vezes passam desapercebidos. Aqui encaixamos o produtor. Tem que ser alguém experiente e que tenha conhecimento musical para perceber possíveis erros harmônicos nas músicas. No caso de dúvida, não tenha vergonha de perguntar e sempre que possível consulte seu professor e/ou um amigo com mais experiência. Outra questão que deve ser salientada é que a afinação é uma característica social e histórica. Em outros tempos as pessoas não utilizavam determinados intervalos por que “não soavam bem” aos ouvidos daquela época. Intervalos de terças, então, nem pensar. Hoje quase todos os arranjos de música pop são feitos com intervalos de terça. Amanhã as pessoas podem começar a usar mais sextas e por aí vai. O ouvido acostuma perceber certos intervalos e eles se tornam “padrão” para a época. Qualquer acorde que soe diferente será considerado “desafinado” e vai repelir as pessoas. Mas são justamente esses pequenos detalhes que, se utilizados corretamente, podem fazer sua música se destacar. Conheço muita gente que não gosta de Björk porque acha que ela canta estranho ou até mesmo desafinada. Bem, desafinada com certeza ela não é, estranha eu até concordo, mas é uma artista singular e vende muitos discos. Vamos nos aprofundar um pouco mais sobre isso mais adiante. Coesão, uniformidade e silêncio Banda não é um monte de gente tocando coisas diferentes. Numa banda você não está tocando sozinho, portando tem que pensar no grupo e dar atenção ao que acontece ao redor. Tocar numa banda é estar sempre atento ao que o outro está fazendo e saber “colar” seu instrumentos com os demais. O baterista deve manter um ritmo constante, não descuidando um só minuto, porque ele é a base de toda a banda. Se o ritmo estiver variando muito, use um metrônomo nos ensaios. Você pode 26 Compondo Músicas ligar o metrônomo em linha, num amplificador de guitarra ou num teclado. Tocar com metrônomo nos ensaios é chato, mas é fundamental para ter músicas com andamento constante. Se você tem uma banda de rock e quer tirar um som pesado, saiba que a coesão é a coisa mais pesada que existe. Baixo, guitarra e bateria tocando uma mesma música soam mais pesadas do que qualquer instrumento isoladamente. Exatamente, “qualquer” um. Talvez seja este o grande lance que a maioria das bandas iniciantes não percebem. No começo todos querem tocar um pouco mais, solar um pouco mais e fazer mais firulas. Mas poucos sabem fazer isso bem e com consciência. Às vezes o solo é legal mas o baterista está em outro mundo e o baixista está fazendo um slap superagudo. Alguém tem que perceber o que está acontecendo! Quem deve aparecer nesta hora? Porque todos ao mesmo tempo não vai dar certo. O segredo é saber a hora de tocar e a hora de segurar a onda. Se o guitarrista sola, a levada tem que ser simples para deixar o instrumento soar. Se o vocal está cantando não adianta solar por debaixo dele por que ninguém vai entender “lhufas”. Aliás, precisa mesmo ter solo de guitarra em todas as músicas? O silêncio é vital. Um som seguido de um silêncio causa muito mais impacto do que o som em tempo integral. Ouça Sad But True, do disco preto do Metallica. Um riff supersimples, uma levada de bateria e baixo mais simples ainda e um peso absurdo!!! Mesmo ouvindo as bandas de hoje em dia que têm acesso a recursos tecnológicos mais recentes, o peso de Sad But True continua inacreditável. E o que é que temos ali: uniformidade e silêncio. Quando todos tocam com a mesma levada, o silêncio entre os riffs faz com que cada nota seja ainda mais importante. Mesmo se levarmos em conta as bandas progressivas e com estruturas mais complexas, os músicos tocam para o conjunto e não para si mesmos. Se uma levada de bateria é complexa, a guitarra e o baixo “colam” nessa levada e tudo funciona maravilhosamente. Lembre-se que a quantidade de notas não é importante, o que importa é a qualidade com que elas são tocadas. Symphony of Destruction do Megadeth é um clássico absoluto do heavy metal e tem um riff que usa três notas. Mas eu duvido que alguém se esqueça desse riff. O importante é que sua música fique Comunicação Subterrânea 27 na cabeça das pessoas, seja audível e não um emaranhado de notas rápidas que as pessoas simplesmente não conseguem absorver. Não estou dizendo que tudo deve ser simples e com poucas notas, o que defendo é a coesão e harmonia. Se têm muitas notas, sua banda tem que tocar estas notas bem e não cada músico querer ter seu próprio arranjo. Isto é bem difícil, mas não impossível. Quando alguém diz que fazer coisas simples é mais difícil, acredite. Quando estamos compondo, é muito fácil usar toda nossa técnica e fazer coisas mirabolantes. Mas o que importa é saber se toda essa técnica é necessária para a música e se ela vai ficar melhor com toda essa parafernália harmônica e rítmica. Uma última dica para os virtuosos com memória curta: música é diversão (para quem toca e para quem ouve). Estruturas Toda música tem uma estrutura, por mais estranha que ela soe. Na hora de compor, você precisa saber decodificar esta estrutura e identificar as partes que a compõem. Vamos percorrer de forma simplificada as partes mais importantes da música pop contemporânea. ! Verso – O começo da sua música. Você está preparando o ouvinte para entrar no universo da canção. ! Bridge ou ponte – A música se torna mais excitante e o ouvinte tem a sensação de que ela vai chegar no momento mais importante que é... ! Refrão ou chorus – O clímax da música. Ele é chamado de chorus em inglês porque é geralmente neste momento em que usamos harmonias com várias vozes, para dar um destaque especial a esta parte da música. Existe uma “fórmula” básica da música pop que utiliza a seguinte ordem das partes: Verso, ponte, refrão, verso, ponte, refrão e refrão. No fim isso vai dar mais ou menos uns três minutos e meio. Isto parece uma coisa meio burocrática e mercantilista, mas 99% das músicas que você ouve têm uma estrutura muito semelhante a esta “fórmula”. Nem por isso são parecidas. O segredo aqui, mais uma vez, é simplesmente fazer o melhor que puder em cada uma das partes. Se estiver a fim de usar este esquema básico, faça um bom verso, uma boa ponte e um refrão animal. No final, a música ficará boa. 28 Compondo Músicas Mais uma vez eu repito: não existe regra para música. Você tem toda a liberdade para criar as estruturas mais alucinantes do mundo, mas saiba o que está fazendo. As pessoas já têm um ouvido predisposto a ouvir determinadas estruturas musicais, mas isso não quer dizer que você tenha que ficar preso a estas estruturas. Só não adianta tentar fazer algo completamente esdrúxulo e depois se perguntar porque ninguém gosta da sua música. Tente achar um balanço nas estruturas de forma que suas músicas não sejam muito “lugar comum” mas continuem audíveis. A repetição é algo que está presente em quase todas as canções pop. Repetir é legal porque se uma parte é boa ela deve ser realmente repetida. Mas não exagere. Repetir o refrão mais de quatro vezes pode ser um pouco cansativo, mas tudo depende de como você quer passar sua música. Por outro lado, repetir pouco pode deixar sua canção um pouco menos acessível, já que as pessoas não vão ter muita familiaridade com as partes em uma primeira audição. Mais uma vez entra a história da moderação: ache o meio-termo eficiente entre repetição e mudança e você terá uma boa música em mãos. O importante é ter músicas que conquistem o ouvido do seu público. Algumas bandas de heavy metal têm músicas com partes que se repetem muito pouco, mesmo assim não deixam de ser boas músicas. O Megadeth gravou álbuns clássicos como Peace Sells e Rust In Peace e as músicas contidas nestes álbuns não seguem um padrão clássico de estrutura musical. O que vemos ali é uma sucessão de excelentes partes que quase nunca se repetem em momentos posteriores. Por outro lado, existem bandas que fazem uma música inteira com apenas um riff de guitarra e tudo se desdobra a partir daquele daí. Um exemplo clássico é Enter Sandman, do álbum preto do Metallica. Um clássico absoluto que vendeu milhões de discos no mundo inteiro. Custou apenas um riff. Para os guitarristas, aí vai uma dica: um bom riff é muito valioso. É muito difícil criar riffs bons e originais hoje em dia e você precisa guardar todos os seus bons riffs com muito carinho. Seria muito irracional usar todos os seus bons riffs em uma só música. Afinal, você precisa criar dezenas, centenas de músicas boas e se você usar todas as suas idéias em uma música, as outras não serão tão boas. Use bem as suas idéias. Comunicação Subterrânea 29 No final das contas, o que interessa é que você conheça muito bem as pessoas que vão ouvir o seu CD. Assim você pode saber como organizar suas músicas de forma que seu público seja cativado. A forma mais fácil de fazer isso é compor algo que você goste e que se sinta orgulhoso. Se você for um fã da sua música, outras pessoas serão, mesmo que sejam poucas. Pronúncia Se a banda canta em uma idioma estrangeiro, certifique-se de que a pronúncia e a ortografia estejam corretas. Entregue as letras para um professor ou pessoa mais experiente e peça que as corrija. Não se esqueça de que você pode precisar pagar por este trabalho e não adianta fazer as revisões com “o irmão de sua namorada que saca muito”. Procure um profissional, de preferência mais de um e tenha certeza de que suas letras foram bem revisadas. Os erros no encarte são inevitáveis. Sempre vai aparecer uma besteirinha que vocês nunca tinham percebido mas quando está lá no CD se transforma num elefante e todo mundo se pergunta por que isso não foi visto antes. Para minimizar estes erros, faça com que muitas pessoas leiam as letras antes de mandar o CD para fábrica. Falar fluentemente um idioma é conseguir pensar neste idioma, sem fazer traduções. Conheço pessoas que moraram no exterior e não falam lhufas do idioma e conheço pessoas que nunca sairão do Brasil e falam maravilhosamente bem outros idiomas. Também já vi pessoas que não falam um idioma estrangeiro, mas cantam muito bem este idioma. Cantar é muito diferente de falar, a não ser que você seja um cantor de rap. A dica é ouvir muitos discos em idiomas diferentes, ao cantar vocês identificam as particularidades do idioma. Cada estilo de música tem sua própria maneira de cantar e se você não perceber isto vai soar exatamente do jeito que você não quer: um estrangeiro tentando cantar em um idioma não-nativo. Os nativos de uma língua percebem com facilidade se uma pessoa é estrangeira ou não. Se cantar em outro idioma te dá possibilidade de trabalhar com sua música fora do Brasil, lembre que é uma tarefa muito difícil porque exige um conhecimento profundo da sonoridade do idioma. Além de cantar, você terá que dar entrevistas neste idioma e falar com o público. 30 Compondo Músicas Um bom frontman deve saber se expressar bem não só no seu idioma, mas nos idiomas em que canta. Se tudo der certo, a banda vai tocar pelo mundo inteiro e mesmo que o inglês seja um idioma bem difundido, as pessoas não se comunicam no dia-a-dia somente em inglês. Na França, Japão e Alemanha, não adianta falar inglês num show. Aprenda a falar um pouco de cada idioma e comunique-se com o público falando o idioma local. Isto faz uma grande diferença. Originalidade A originalidade é uma característica importantíssima de sua música e deve ser tratada com atenção especial. Estamos numa época em que o seu CD pode estar do lado do CD do Iron Maiden numa loja de discos e as pessoas vão ter que escolher entre a sua pequenina banda e as bandas clássicas que vendem milhões. Investir em originalidade é fazer sua banda se tornar visível no oceano do mercado fonográfico. Você não precisa reinventar a roda para ser original, basta ter um pouquinho de atenção e ser honesto consigo mesmo. A primeira coisa que um bom compositor deve fazer para ser original é ouvir de tudo. Quando digo tudo, é tudo mesmo. Do pagode do rádio ao último disco de Britney Spears. Você não pode estar alheio a nada e tem que ouvir as coisas antes de dizer que não gosta. Conheço muitas pessoas que dizem que não gostam de um determinado estilo, mas quando mostro uma música sem dizer que banda é, eles gostam. Mas é só dizer que é a banda “X” que ele não gostava e lá vem aquela cara de espanto e vergonha. As pessoas dizem que não gostam de rotular sua música, mas na verdade a maioria delas não ouve música, ouve rótulos. “Eu ouço heavy metal, ouço indie, ouço alternativo.” E tudo que não pertencer a estes rótulos não presta. Isso é de certa forma compreensível porque no começo você mesmo precisa criar sua identidade e se integrar num grupo, e por isso você veste a camisa de um determinado estilo. Com o passar do tempo, não há necessidade de se afirmar sempre e você descobre que existe muita coisa boa fora do seu mundinho anterior. Ouvir de tudo é importante por dois motivos: Comunicação Subterrânea 31 1. Dá oportunidade de comparar sua música com outras. Você só saberá se está sendo original caso tenha ouvido outras músicas. Muitas vezes você pode estar se achando original mas o Led Zepellin já fez isso há 20 anos. 2. Estimula a criatividade. Ouvir diversas músicas amplia o seu vocabulário musical, mesmo que você não toque estes estilos. Você pode utilizar as coisas que ouve em outros estilos para incrementar sua própria música sem descaracterizar seu som. Marty Friedman, por exemplo, é um guitarrista de heavy metal. Já tocou no Megadeth e agora tem sua carreira solo. Marty é um viciado em música oriental e você pode perceber isso nas melodias e na estrutura das suas músicas e nos solos do Megadeth. Você pode até não gostar dele, mas não pode negar que ele soa como poucos. As influências de música oriental fizeram Marty tocar melhor heavy metal. Não vamos exagerar e deixar de ouvir o heavy metal (ou seu estilo preferido) e começar a ouvir outras coisas para deixar o som original. Não. Você tem que ouvir o seu e os outros estilos. Não deve se ater mais a nenhum dos lados e tem que estar atento a tudo. Seja original na sua busca, ou vai acabar se descaracterizando e seu público não vai mais reconhecer seu som. Se por outro lado você só ouve o seu estilo, vai ser difícil criar algo original e que seja relevante no mercado musical. Os bons compositores ouvem de tudo, mesmo que digam que só ouvem determinado estilo. Eles estão ligados a tudo e sabem que não ouvir de tudo é ser passado para trás. Você não precisa seguir tendências, mas precisa saber o que está acontecendo. Tocar um som só porque é moda é uma roubada que na maioria das vezes não dá certo. Se a moda for sertanejo, você começa a compor as músicas, grava e lança o CD. Este processo dura no mínimo uns nove meses. Se a moda for alterada, seu CD não vai vender “lhufas”. Mas se você gosta de sertanejo e deseja tocar essas músicas. Toque. Mesmo que não seja a música do momento, porque você vai estar fazendo as coisas com o coração e isto aparece no disco. Dá para sacar quando alguém está fazendo algo somente pelo dinheiro. Cada pessoa tem um estilo próprio de tocar. Estilo é a forma com a qual você apreende as músicas e o jeito como as executa. Como as pessoas são diferentes, elas têm estilos diferentes. Apren- 32 Compondo Músicas da a se conhecer e perceba seu estilo. Quando você conseguir fazer isso, vai soar original facilmente. Com o tempo, e depois do primeiro CD lançado, você terá a difícil tarefa de se reinventar. Se ficar gravando sempre o mesmo estilo de CD, seus fãs ficarão satisfeitos, mas você não ganhará novos fãs. Se a mudança for drástica, você perderá seus antigos fãs, mas ganhará novos adeptos. O segredo é mais uma vez achar o meio termo. Mude seu som um pouco de forma que ele não descaracterize seu estilo, o importante é que não seja cópia do CD anterior. Talvez esta seja a tarefa mais difícil de uma banda e poucas conseguem fazer isto bem. Se você um dia conseguir, sua banda será um sucesso. 33 Shows O s shows são tão importantes quanto os discos. É no momento do show que as pessoas têm oportunidade de conferir o som de sua banda ao vivo e avaliar se vocês são bons ou não. Sendo uma banda independente, boa parte dos seus CDs vão ser vendidos nos shows. Uma boa banda precisa tocar muito ao vivo. Por mais que vocês ensaiem e que estejam entrosados no estúdio é ao vivo que as coisas realmente acontecem. Nos shows vocês sempre erram as coisas mais banais e acontecem as coisas mais inusitadas. Em um show a Lei de Murphy está sempre presente e vocês precisam subir no palco com a maior calma possível, procurando administrar bem os eventuais problemas que surgirem. Vocês não vão resolver nada se estiverem estressados na hora do show. Mesmo que os CDs sejam uma parte importante na carreira, a importância dos shows é imensa e empata com a das gravações. No show rola mais grana, existe um contato com o público e vocês podem perceber na expressão das pessoas se elas gostaram ou não das músicas. Não custa nada repetir: como vocês são uma banda independente, não vão ter uma boa distribuição dos CDs e os shows são os locais onde venderão mais material. Quanto mais material de merchandising tiverem (camisas, bonés, palhetas), melhor será. Equipamentos Seria ingênuo vocês acharem que sempre terão bons equipamentos para tocar ao vivo, ainda mais aqui no Brasil onde as coisas ainda estão muito atrasadas. Lembra do caso do estúdio, em que vocês só tocavam com equipamento surrado? Nos shows a tendência é que aconteça a mesma coisa, a não ser que vocês estejam 34 Shows tocando em um festival de grande ou médio porte. Aliás, nem neste último caso as coisas funcionam tão bem. Nada impede que vocês aluguem ou até mesmo comprem seu próprio equipamento. Vocês precisam ter bons instrumentos e bons amplificadores. Se não tiverem, aluguem. Devem tentar conseguir os telefones de amigos que possuem bons amplificadores e boas baterias e aluguem este material. Não existe nada pior do que chegar em um show e tocar numa bateria “armengada” e em amps ridículos. Com certeza o seu show não vai ser bom e o público vai sacar isso. Não adianta culpar a produção porque isto não interessa ao público, a imagem negativa será da banda. O vocalista também precisa ter seu equipamento em ordem. Já que não gasta dinheiro com guitarras, cordas e baquetas, pode muito bem comprar um bom microfone. O Shure SM58 custa aproximadamente 100 dólares e é um investimento mínimo para qualquer vocalista que se preze. Se reclamar, diga-lhe que qualquer outro instrumentista do grupo gasta muito mais do que 100 dólares para poder tocar na banda. Passagem de som A siga PA significa Public Address. Traduzindo ao pé da letra significa endereçado ao público e são aquelas caixas de som enormes que ficam ao lado do palco. É de lá que vai sair o som dirigido ao público. Qualquer banda que queira ser profissional precisa ter um bom técnico de PA. Este técnico é aquele que comanda a mesa de som que fica à frente do palco, ele simplesmente vai deixar o seu som audível para o público. Não confiem no técnico que estará disponível na hora do show. Contratem um em que vocês confiem. Caso não conheçam um bom técnico de PA, conversem com amigos que já tocam em bandas maiores e peçam indicações. O técnico de som é parte integrante da banda, e vai auxiliá-los na hora da passagem de som. A passagem de som é a regulagem de cada instrumento separadamente. Normalmente inicia com a bateria, indo depois para o baixo, as guitarras, os teclado e o vocal. Nesta hora, os integrantes do grupo que não estiverem passando o som do seu instrumento devem ficar em silêncio. Tenham em mente que uma boa passagem de som significa a possibilidade de um melhor show. Comunicação Subterrânea 35 Além do som que vai para o público, vocês precisam cuidar do som em cima do palco e em 90% dos casos vocês não vão se ouvir direito ou não vão ouvir os outros instrumentos. Mais uma vez, peça auxílio ao seu técnico de som. Em bandas maiores, existem dois técnicos: um para PA e outro para o monitor (som do palco). Na hora de passar o som do palco, sejam bem razoáveis. Não adianta querer ouvir todos os instrumentos e mais o vocalista em toda a extensão do palco. Concentrem-se em ouvir apenas o necessário para tocar bem. Para o baixista: um pouco de guitarra, bumbo e voz. Para os guitarristas, um pouco da guitarra do outro, bumbo, caixa e voz. Para o vocal, guitarras e bateria. Isto não é uma regra, peça auxílio ao técnico de som. Lembrem-se que ninguém pode fazer milagres e vocês tocarão com um equipamento “péba”, saibam disso. Passem o som com tranqüilidade. Procurem alugar o melhor que vocês puderem e façam seu show. Postura de palco Um show é um espetáculo visual e sonoro. Vocês devem cuidar bem das músicas e da performance. Não há nada mais chato do que ver uma banda parada o tempo inteiro no palco. Vocês não precisam ser modelos fotográficos para chamar a atenção num show, basta tocarem com desenvoltura. Se vocês estiverem curtindo a música (pelo amor de Deus, se não gostarem dela, não toquem), demonstrem. Cada estilo sugere trejeitos próprios, um jeito especial de se portar palco. A regra geral é que você deve se movimentar. Para fazer isso com segurança, você precisa ter um nível de intimidade com o seu instrumento, que te permita tocar e ao mesmo tempo se movimentar, sem se atrapalhar. Treine em casa, tocando sem olhar o tempo todo para o instrumento. Toque olhando para frente, imaginado que o público está diante de você. Observem bastante as suas bandas preferidas e tentem criar algo em cima da performance deles. Peguem vídeos, de preferência piratas porque não têm muitos efeitos e cortes e observem com bastante cuidado. Filmem os shows da banda. Não se preocupem com o áudio neste tipo de filmagem, filmem apenas para observar como se portaram no palco. 37 Marketing V ocês podem fazer o seu marketing com pouco dinheiro. Marketing não é só para bandas maiores que têm contratos milionários com grandes gravadoras. Todos podem fazer marketing e vão perceber que as coisas são muito mais simples do que parecem. Em primeiro lugar, saiba que marketing não faz milagre. Conheço muita gente que acha que basta ter dinheiro e acesso à televisão para que a banda faça sucesso, como se fosse uma receita de bolo. Não dá para negar que muita coisa que a gente vê hoje em dia é armação completa das gravadoras, mas as armações não duram muito tempo. Eu prefiro acreditar que o que sustenta uma banda por muito tempo é a qualidade das músicas que ela produz. Uma banda demora muitos anos para se estabelecer no mercado, mesmo que tenha um bom suporte de marketing por trás. E, neste tempo, o público percebe quem está fazendo o que gosta e quem está ali só pela grana. Claro que existem exceções para todos os casos, mas o público não é idiota. Vocês podem até se dar bem fazendo uma “banda-armação” mas no momento em que descobrirem que não passa de uma farsa, o fracasso virá tão rápido quanto o sucesso. É bem mais vantajoso construir a carreira aos poucos e com sinceridade. Vocês têm a empatia do público e eles vão saber que podem confiar em vocês. Sejam sempre sinceros com a sua arte e o seu público. Uma banda como “Rouge” por exemplo foi um fenômeno de vendagens em 2002 e ninguém pode negar que ela foi fabricada. Mesmo assim, quero ver quem diz que as garotas não possuem talento e carisma. Talvez elas não tenham pique para conduzir a própria carreira sem auxílio de grandes mídias, mas elas já são artistas. Não foi a televisão que as transformou em artistas, elas já eram assim, só precisavam de um empurrãozinho. 38 Marketing Vocês são pessoas de talento e já estão andando com as próprias pernas. O que vier é lucro. Não esperem muito e assim nunca se decepcionarão. Website A internet é um meio de comunicação fundamental para a sobrevivência da banda. Pessoas de qualquer parte do mundo vão poder entrar no site, ouvir suas músicas e mandar comentários. Isto inclui também produtores, músicos de bandas famosas e donos de gravadoras. Por tudo isto, o site deve estar funcionando perfeitamente. A primeira dica é: contratem um webdesigner. Se querem ser profissionais, contratem um profissional. Pedir para o “primo da namorada do amigo que saca muito de webdesign” criar o site é uma roubada, a não ser que ele seja realmente um profissional da área, caso contrário, ele cometerá erros que citaremos agora. O site tem que ser visualmente agradável. Nada de colocar fonte preta com fundo cinza ou, então, fotos suas no background. Se vocês tiverem uma direção visual já definida, o site tem que seguir esta idéia. Geralmente os sites seguem um padrão de design semelhante ao das capas dos CDs. Fazer um bom design é muito importante e também muito difícil, por isto aconselho que façam com profissionais. Se o site for feio, 90% das pessoas não vão navegar mais do que 30 segundos nele. “Contrate um Designer!” Se vocês não têm dinheiro para contratar um designer, não estão preparados para criar uma banda. Uma banda não é só fazer shows e ensaiar, é gravar um CD, contratar fotógrafos, designers e jornalistas. O CD é só o começo do trabalho que vocês vão ter. Chegou a hora de reunir a galera e dividir os gastos da banda. Não precisa nem de calculadora: pegue o valor total do designer e divida pelo número de componentes da banda. Geralmente, um site custa em torno de 1.000 reais. Com uma banda de cinco componentes, cada um vai pagar 200 reais. Não adianta chorar, banda gasta dinheiro e se você quer ter resultado, invista nela. Um bom design de site não significa que ele seja cheio de gifs animados e flash. Muito pelo contrário, as pessoas querem mais informação e velocidade. Um bom designer tem que saber aliar leveza e diagramação para que seu site não vire um emaranhado de imagens sem sentido. Comunicação Subterrânea 39 O uso de flash deve ser muito cauteloso. As telas de abertura (ou splash screen) são muito populares, mas não servem para muita coisa. É muito comum que as pessoas queiram este tipo de introdução no site, porque dá um aspecto mais cinematográfico ao seu trabalho. Só que site não é cinema. Com o tempo, as pessoas que acessam o site vão se cansar de ver aquele negócio a toda hora. Mesmo que exista o botão para avançar, não faz sentido uma pessoa que acesse o site constantemente ter que ficar clicando toda hora para pular a introdução. A regra número um da web é: quanto menos cliques, melhor. Deixe as informações disponíveis de forma rápida e eficaz e evite muitas coisas que dificultam a navegação do site. Isso inclui flash, frames, popups etc. Não tem coisa mais irritante do que abrir um site e ter 200 janelas abrindo e dizendo “clique aqui para entrar”. Se eu já digitei o endereço é porque eu quero entrar imediatamente e não ficar clicando o dia inteiro esperando aparecer algo. Esse povo que acessa a web é estressado mesmo e vocês têm que saber disso. Nenhum dono de gravadora ou produtor terá paciência com um site difícil. Façam-no simples, bonito e eficaz. Por isto contratem um designer. Faça um menu de navegação simples, não inventem histórias complicadas. Já entrei em um site que não sabia em que clicar porque o título das seções eram esdrúxulos. A seção em que estavam as letras das músicas, por exemplo, chamava-se “pergaminhos do conhecimento”. Por favor, não façam isto. As pessoas não vão concluir que suas letras são “pergaminhos” e vocês vão perder audiência. Para resolver o problema, simplesmente chame a seção de “letras”. Uma boa navegação geralmente tem poucos links. A banda não é o submarino e vocês não precisam fazer submenus com milhares de categorias. Para começar, uma navegação enxuta tenha as seguintes seções: 1. Notícias – Novidades sobre a banda e a agenda de shows. 2. Banda – Biografia dos componentes e fotos. 3. Discografia – Informações sobre o CD e “como comprá-lo”. Aqui entra as letras e os MP3. 4. Contato – Endereço completo, e-mails que funcionem e telefones. É incrível como boa parte das bandas não disponibilizam o contato de forma adequada. Se o e-mail for colocado como ferra- 40 Marketing menta de contato, acesse-o todos os dias e não se esqueça de apagar a lixeira de vez em quando para não lotar a caixa postal. O endereço convencional precisa estar atualizado e, se possível, alugue uma caixa postal em uma agência dos correios. Um bom site tem que ser atualizado pelo menos uma vez por semana. Não existe nada mais frustrante do que acessar um site e perceber que ele foi alterado há um ano. As pessoas vão pensar que a banda acabou. Estejam sempre atentos para colocar notícias da banda logo na primeira página. Se acham que não têm notícias suficientes, percebam que muita coisa pode ser notícia para o site. Se vocês estão ensaiando para gravar o CD, as pessoas que acompanham a banda têm interesse em saber disto, portanto é uma notícia que deve ser colocada no site. Hoje em dia, as pessoas gostam de ler blogs pessoais. Se pensam que não tem nada para colocar no site, escrevam um pequeno texto descrevendo o dia-a-dia da banda e atualize o site. Se vocês pretendem alcançar o mercado internacional e/ou cantar em algum idioma estrangeiro, o site deverá ter uma versão em inglês ou espanhol. Não faz sentido colocar versões em muitos idiomas, por que na prática é quase impossível atualizar todas as versões do site. Concentrem-se no mais importante e nestes dois idiomas que são os mais utilizados. Corram das hospedagens gratuitas do tipo kit.net ou hpg. Elas são lentas, cheias de banners e dão pouca credibilidade ao site. Geralmente os provedores de acesso dão um espaço gratuito de hospedagem para seus assinantes. Um site ocupa muito pouco espaço, no máximo 1 MB, mas vocês vão precisar de mais alguma coisa para colocar os MP3. Aliás, se já tiverem MP3, disponibilize-os em boa qualidade. Não adianta colocar um MP3 capenga de 30 segundos que todos vão pensar que a banda é uma porcaria. Deixe de casquinhagem e libere dois ou mais MP3s do CD. Escolha as melhores músicas. Por último, comprem um domínio. Os domínios .com.br são muito baratos, mas são um pouco burocráticos. É necessário ser pessoa jurídica para obter o registro. Os domínios .com.br são registrados no site registro.Br. Os domínios .com são extremamente simples para se registrar. Basta ter um cartão de crédito internacional e dinheiro no banco. Comunicação Subterrânea 41 Custam em média 50 dólares por ano e dão um status internacional ao site. Já pensou vocês que nem a globo.com? Existem outras extensões para domínio, mas aconselho que façam estas duas, simplesmente porque são as mais conhecidas. Newsletter Newsletter é o boletim informativo no qual serão contadas as novidades da banda. Para começar, coletem os e-mails das pessoas interessadas em receber estas informações. Nunca adquira estes pacotes de e-mail que é vendido por aí. Primeiro porque isto é uma prática ilegal e segundo porque vocês precisam direcionar os e-mails para as pessoas certas. Não adianta mandar 250.000 e-mails sendo que apenas 1.000 gostam do estilo que a banda toca. O segredo é selecionar os e-mails, coletar diretamente das pessoas ou mesmo guardar os emails que as pessoas enviam para vocês. Fazendo isto, vocês terão rapidamente um banco de dados totalmente personalizado e que funciona. O melhor de tudo é que vão estar falando diretamente com o público alvo, ou seja, com quem se interessa ou poderá vir a se interessar pela banda de vocês. Um bom newsletter deve ser curto e breve citando as novidades da banda. Sempre coloque o endereço do site bem visível para que as pessoas possam ler mais se o assunto for de interesse delas. Definam uma freqüência para os newsletters. Uma vez por mês é suficiente. Mais do que isto pode afastar as pessoas pelo excesso de informações. Também não se ausentem por muito tempo, pois as pessoas vão esquecer de vocês. Sempre coloquem uma forma das pessoas saírem do newsletter e nunca as obrigue a ficar recebendo o material. Cartazes Um bom cartaz é uma mídia barata e eficiente. Se ele for bonito e bem-feito, as pessoas vão parar imediatamente e vão ler tudo. Além disso, vocês estarão divulgando a imagem da banda e imagem é quase tão importante quanto a música. Escolham lugares estratégicos para colar seus cartazes: estúdios de ensaio e gravação, bares, lanchonetes, lojas de CDs, locadoras 42 Marketing de filmes e jogos ou qualquer outro lugar onde seu público freqüenta. Vocês não precisam fazer muitos cartazes para conseguir visibilidade do seu público, basta escolherem os lugares certos. Caprichem na concepção visual e na diagramação do cartaz e se possível façam em tamanho A3 ou maior. Contratem um designer para fazer este trabalho. Para impressão, existem as gráficas rápidas que podem fazer uma baixa tiragem de cartazes, mas o preço é um pouco alto. Em compensação, a qualidade é excelente e melhor ainda se vocês escolherem o papel couché. Xerox colorida não funciona muito bem, a não ser que a máquina seja bem nova. As melhores impressões acontecem nas gráficas de grande porte, mas vocês precisariam fazer uma tiragem razoável (no mínimo 1.000) para que o trabalho seja viável. A maioria das gráficas nem aceita tiragens abaixo de 1.000 unidades. Xerox em preto e branco só serve para pequenos panfletos, sem foto e não é lá uma mídia muito atraente, mas é barata e prática. Se estiver acontecendo algum grande show na cidade, aproveitem a oportunidade para fazer uns panfletos e distribuam logo na porta. Outra tática infalível é distribuir CDs com duas ou três músicas. Ninguém rejeita um CD de graça e existe uma grande possibilidade de conquistarem mais um fã, caso a pessoa goste das músicas. Esta é uma prática muito comum na Europa. Lembrem-se que antes de comprar suas músicas as pessoas precisam ouvir para saber se gostam. No começo, vocês terão que distribuir muita coisa de graça. Isto se chama formação de público. Mirc e listas de discussão O Mirc é outra forma de divulgar a banda pela internet. É um programa de chat poderosíssimo e ainda tem a possibilidade de trocar arquivos MP3. Geralmente as pessoas se abrigam em canais específicos para cada estilo musical e basta entrar nesses canais e pedir para o OP (operador, ele tem uma @ antes do pseudônimo) colocar a banda no topic (uma espécie de título do canal). O Mirc poderá ser baixado em www.mirc.co.uk. Se vocês participam de lista de discussão por e-mail ou fórum, divulguem a banda! Aproveitem enquanto estas coisas ainda são gratuitas. Mas não sejam chatos, não precisa falar da banda a toda hora, tenham bom senso. Comunicação Subterrânea 43 Press release O press release ou simplesmente release é o texto enviado para os meios de comunicação. Muitos jornalistas sequer ouvem o disco, começam primeiro a ler o release (ou vice-versa) por isto, o texto tem que ser bem redigido. Para fazer o release contrate um jornalista ou um estudante de jornalismo, porque um release é muito fácil de fazer e é aprendido logo no começo da faculdade. O erro mais comum nos releases que vejo é o de foco. Já li releases em que as bandas só ficam se lamentando por não terem dinheiro, por não terem de apoio promocional e por tudo ser tão difícil. Entendam uma coisa, release não é o muro das lamentações. Ninguém quer saber o que não foi feito e sim das coisas que foram realizadas. Todos sabemos que no começo se erra mais do que se acerta, com todo mundo é assim! As gravadoras não ficarão com pena de vocês falarem das dificuldades. Um release escrito de maneira errada pode reforçar a imagem de amador e vai ser uma propaganda negativa para a banda. Além do que a pessoa já ouvirá o CD com uma carga negativa. A banda já fez muita coisa boa, apenas acreditem nisto. Mesmo que seja apenas um show, coloque este bendito show no release, ora bolas!! Vocês não precisam encher a folha de papel com milhares de informações. Mesmo que vocês sejam o Metallica, o release deverá ter somente uma página. O release deve trazer alegria, bem-estar, deve passar a imagem de que a banda é ótima e vocês já são rockstars. Não minta, fale das conquistas como algo importante e que vocês conseguiram com muita luta. As coisas ruins vocês não precisam dizer. O primeiro parágrafo pode ser um breve histórico da banda, com o ano de formação e os integrantes. No segundo, fala-se dos shows, das gravações e da repercussão que o trabalho obteve no cenário artístico. No último, os planos futuros. Lembre-se que vai ser necessário traduzir o release para o inglês, portanto contrate um tradutor. Ser jornalisticamente relevante A queixa mais comum de 9 entre 10 bandas iniciantes é de que a mídia (jornal, televisão e revistas) não dá espaço. Isto é parcialmen- 44 Marketing te verdade. Mas vocês já tentaram entrar em contato com o jornal da sua cidade? Mostraram o CD? Convidaram jornalistas para ir ao show? Os jornalistas adoram ganhar convites para shows. Isto não significa que a banda vá aparecer na primeira página do jornal no dia seguinte, mas pelo menos vocês tentaram. Claro que ainda existe preconceito, gente careta e chata trabalhando por aí. Mas vocês também não podem se fechar no seu mundinho e ignorar os meios de comunicação. Conheço bandas que se recusam a mandar um simples release porque acham que “a mídia não dá espaço”. Bem, se não tentarmos aí sim não teremos espaço. Muitas pessoas pensam que para aparecer no jornal, televisão ou rádio a banda precisaria pagar ou ter amigos jornalistas. Talvez em alguns casos seja verdade. Existem jornalistas descarados que cobram para a matéria sair, mas isso é uma prática criminosa, antiética e sem-vergonha. O bom jornalista procura os fatos relevantes para colocar no seu veículo de comunicação. Procurar informação interessante é o “trabalho” do jornalista e por isto vocês não precisam implorar para entrar no jornal, basta ser “jornalisticamente relevante”. Ser jornalisticamente relevante é ter realizado alguma coisa que tenha chamado a atenção de muitas pessoas. Por isso precisa produzir algo que seja novidade e que seja diferente do que geralmente acontece. Por exemplo: a banda de rock foi a primeira a lançar um CD independente na sua cidade. Pronto! Isto já é um fato relevante que pode fazer com que os jornalistas se interessem em divulgar a banda. Claro que não vai sair uma matéria de capa e sim uma notinha falando sobre isto. Com o tempo, vocês trabalharão mais os meios de comunicação e eles começarão a falar mais sobre vocês. O grande problema é saber identificar os fatos importantes e relevantes que podem interessar aos jornalistas. É aí que entra a Assessoria de Comunicação. Um assessor saberá “destacar” as informações no release da banda de forma a ser mais fácil aparecer na mídia. Nenhum jornalista resiste a um release bem escrito, com informações legais e interessantes. Contrate um assessor de comunicação. Comunicação Subterrânea 45 Fotos Não preciso dizer que vocês precisam contratar um fotógrafo, não é mesmo? Só ele sabe como utilizar bem a máquina fotográfica. Não ache que tirar fotos é “só apertar o botão e segurar”. Precisa saber a intensidade da luz, enquadramento, tipo de filme, velocidade e abertura do diafragma. Tirar foto é para profissional. A imagem da banda tem que ser uma extensão da sua música. Em alguns casos a imagem é tão explorada que não importa muito a música, mas no nosso caso elas andam bem juntas e precisam ser boas. Toda a orientação das fotos vai depender da imagem que vocês querem passar para o público. Se a banda for de metal extremo, vai querer usar os spikes e maquiagens, e tirar fotos em um cemitério. Mas se é de pop-rock, provavelmente vai querer fazer as fotos em algum outro lugar. Escolham o figurino de acordo com a proposta de banda. Já vi fotos de divulgação com músicos usando sandálias. Se quiserem passar a imagem de desleixados, tudo bem. Caso contrário, prestem atenção nos detalhes. A escolha da locação é uma tarefa muito difícil. Em primeiro lugar, é necessário saber se o local das fotos é fechado ou não. Se for num estúdio, precisarão levar iluminação, maquiagem (não é batom, nem rímel, somente um pó para tirar o excesso de oleosidade do rosto) e outros apetrechos que só o fotógrafo poderá dizer com exatidão. Se o local for aberto, como uma estação de trem, por exemplo, vocês terão que conseguir autorização da administração do local. Nem sempre é uma tarefa fácil, porque os locais têm uma rotina de trabalho e vocês estarão de certa forma quebrando a rotina. O primeiro passo é entrar em contato com a assessoria de imprensa do local (peça a seu assessor de comunicação para fazer isto) e explique o que será feito. Não adianta falar com guardas, porteiros, zeladores e similares, eles simplesmente obedecem ordens e raramente dão informações relevantes. Em alguns casos, vocês não conseguirão fazer as fotos porque a administração do local não permitirá. É a vida, mas tudo se resolve com uma boa conversa. A depender do tipo de foto que vocês querem, o fotógrafo pode escolher filmes diferentes. Os filmes preto e branco podem dar um ar bem charmoso para as fotos, mas sua revelação é mais cara. Converse com seu fotógrafo e discutam juntos a estética da banda. 47 O Disco U ma banda sem nenhum registro é praticamente inexistente, mesmo contando com o público dos shows. Isso porque a música só se torna “palpável” quando entra nas casas dos fãs e pode ser ouvida em casa, no carro e finalmente o CD é colocado ao lado dos outros ídolos. A não ser que vocês tenham excursionado pelo país inteiro, não terão alcançado um grande público nos shows e temos de levar em conta que o som dos shows não será lá “grande coisa” e as pessoas não conseguirão ouvir direito suas músicas. Note que não estamos mais no começo dos anos de 1980, naquela época não existia essa tecnologia e esse imediatismo na comunicação. As bandas começavam ao vivo e depois que estivessem maduras e com um bom público razoável passavam para a gravação do CD. Hoje em dia, apesar das facilidades tecnológicas, a tarefa é bem mais difícil. Vocês precisam ser bons ao vivo e ao mesmo tempo, já devem ter um bom material gravado. Aqui vai a dica final e, talvez, a mais importante: sejam exigentes com vocês e com os outros. Isto vale para todos: músicos, produtores e técnicos. Um disco consome quase um ano de trabalho, e se vocês não fizerem bem-feito, será um ano perdido. Não deixem passar nenhum detalhe, caso não gostem e refaçam tudo novamente. Tenham o melhor equipamento possível. Se vocês deixarem passar algo, as pessoas vão perceber isto na hora de ouvir o disco e vocês não estarão presentes para justificar os erros. A solução para esse problema é: procurem não errar. Se errar, consertem. Demo-tape Em primeiro lugar, vamos deixar bem claro que demo-tape é só uma expressão que convencionei para chamar o demo de uma forma 48 O Disco geral. Não me venha com idéias de gravar suas músicas numa fita K7 porque isso é simplesmente inaceitável. Tudo hoje em dia é feito em CD e não há nenhuma justificativa plausível para gravar em K7. As duas perguntas que vocês devem fazer ao gravar uma demo são: Precisamos fazer uma demo? Que objetivos queremos alcançar com este material? Antigamente, as demos rendiam contratos com gravadoras majors. Hoje em dia isto quase não acontece. As gravadoras já querem bandas prontas, que tenham uma boa vendagem e grande quantidade de fãs. Com a crise do mercado fonográfico, poucos investem em bandas novas aqui no Brasil. Descartada a possibilidade de contrato para CDs, só existem dois objetivos possíveis para a produção de uma demo: 1) maior visibilidade local; 2) análise externa do trabalho de vocês. O primeiro objetivo diz respeito àquilo que estávamos comentando, a banda precisa gravar algo para “aparecer”. Assim, vocês podem até ganhar uma graninha vendendo este material para as pessoas que comparecem aos seus shows. Isto dará mais visibilidade e credibilidade, ainda mais se o material estiver bem gravado e se as músicas forem boas. No quesito visibilidade, uma demo não alcança mais do que o público local e algumas cidades vizinhas. Os lojistas não gostam muito desse tipo de material porque ele simplesmente não vende tanto quanto os CDs oficiais, e olha que CD já não está vendendo como antes. Além do mais, do ponto de vista legal, as demos podem ser vistas como edições “pirata” e muitos lojistas simplesmente não querem saber delas. O mais natural e econômico seria copiar os CDs em CD-r (CDs graváveis em computador), e não fazer uma prensagem. Isto porque a prensagem só se torna financeiramente viável se for produzida pelo menos mil cópias, mas prensar esta quantidade de uma demo é suicídio. A maioria das gravadoras também pode distribuir o material, mas só se “não” for um CD-r. Por isto, por melhor que seja a demo, não circulará muito. Outro objetivo que uma demo pode obter são as críticas. A começar pela banda que pode se ouvir no conforto do lar, sem a agonia do estúdio, analisando friamente o trabalho. Isto é extremamente Comunicação Subterrânea 49 importante para o desenvolvimento da banda, desde que todos estejam preparados para ouvir opiniões esdrúxulas ou construtivas. Distribua a demo para as revistas e jornais que vocês puderem. Entreguem também para produtores e pessoas que vocês sabem que são bons conhecedores de música. Ouça tudo que for dito e guarde as críticas para que o CD “oficial” sai melhor. A grande vantagem das demos é que nelas os erros são permitidos. Por se tratar de um material para análise, uma espécie de “laboratório” das bandas, ninguém é tão severo, mas quando gravarem seu CD oficial isto não acontecerá. Aproveitem! Produtores O produtor é uma figura importante na equipe, e nem preciso dizer que deve ser uma pessoa da confiança do grupo e conhecedor profundo de música. Chegou a hora de procurar alguém para ser o produtor do grupo. Existem basicamente dois tipos de produtores em uma banda pequena: o produtor executivo e o produtor musical. O produtor executivo cuidará da parte burocrática da banda, do dinheiro (ou da falta dele); organizará os horários de ensaios, agendará o estúdio e os shows. O produtor musical ou diretor musical, cuidará da música e é desta figura que falaremos agora. O produtor deve começar acompanhando a banda nos ensaios e prestando atenção nos mínimos detalhes. Comecem com o básico, tocando somente o baixo e a bateria, percebendo se as músicas estão com um andamento constante e se a cozinha está bem coesa. Depois, passem para as guitarras separadamente, depois os teclados e por fim o vocal. Nestas horas, joguem o ego no lixo (se já não o tiver feito) e ouça todos os tipos de comentários. No fim do dia, o grupo e o produtor comentarão as observações levantadas e perceberão o que é realmente importante para a banda. Vocês não precisam seguir tudo o que for sugerido pelo produtor, mas vocês devem conversar sobre isto. Lembrem-se do foco da banda. Qual o objetivo que vocês têm com suas músicas? Vamos a um exemplo concreto: gravávamos o segundo disco da Plexus e havia uma música bem estranha, chama- 50 O Disco da “Once in a Heart”. Estava completamente fora do padrão das nossas composições, misturava uma agressividade absurda com um refrão cantado com voz sonolenta. No meio de tudo isto, existiam uns riffs estranhos e um deles foi questionado pelo nosso produtor, Martin Mendonça. Ele criou na hora uma dezena de riffs excelentes, que poderiam estar em qualquer das nossas músicas mas não especificamente naquela. A música “tinha” que ser estranha, que ter riffs esquisitos, porque aquele era o espírito da música, qualquer coisa que soasse mais “normal”, estaria ferindo este objetivo. Talvez Martin não tenha percebido isto naquele momento ou talvez nós tenhamos errado na colocação daquele riff, mas no final tudo foi discutido e acordado. A música ditou o caminho que deveríamos seguir. O produtor tem que ser sensível para perceber estas particularidades e vocês também. É importante que ele goste do som feito por vocês. Criando expectativa Antes mesmo de lançarem o CD, vocês precisam fazer com que as pessoas se interessem por ouvi-lo. Não adianta deixar para fazer isso quando o CD estiver pronto, nessa fase vocês estarão atarefados demais mandando cartas, dando entrevistas, posando para fotos etc. Quando o CD estiver pronto, as pessoas já deverão que estar afoitas para escutá-lo. O período de pré-produção é o ideal para fazer uma boa divulgação do CD, porque vocês estarão num estúdio e não estarão fazendo shows. Esta é a hora de usar sua lista de emails e contar tudo o que acontece no estúdio. A sua empolgação com as músicas passará para as outras pessoas. Se você conhece algum site local que divulgue bandas independentes, entre em contato com eles e peça que façam alguma matéria acompanhando o processo. Comente com as pessoas sobre o disco, digam como está sendo feito o trabalho, como estão sendo compostas as músicas, os arranjos e fale até mesmo dos problemas com o amplificador que vocês alugaram para a gravação. Enfim, antecipe o CD e faça com que no final do período de gravação (lembre que ainda estamos na pré-produção) as pessoas estejam loucas para ouvi-lo, até mesmo sua mãe. Comunicação Subterrânea 51 Escolha do estúdio Óbvio que é interessante escolher um estúdio onde alguma banda que vocês gostem já tenha gravado um bom trabalho. Mas isso não é uma regra, primeiro porque vocês podem não ter dinheiro para pagar um estúdio desse porte ou até mesmo pela distância. O legal é conversar com o produtor, que deve ser um cara antenado com os novos estúdios, e saber qual deles está dentro das posses do grupo. Lembre-se: estúdio não é só equipamento. O técnico (ou engenheiro de som) que fará a gravação terá que ser um cara bom e de preferência deve gostar do som da banda. Mas se não gostar, sendo competente a gravação funcionará muito bem. Os bons técnicos são profissionais que podem gravar qualquer coisa e basta mostrar um CD de sua banda preferida para ele sacar como vocês querem soar. Por outro lado, não adianta o cara ser um bom técnico e ter um estúdio com uma mesa de quatro canais. Estamos em 2004 e não é absurdamente caro montar um bom estúdio. Lembra da história do balanço? Escolher um bom estúdio, com bons equipamentos e que tenha um bom técnico é o importante. Lembrem-se que vocês devem ter afinidade com o técnico porque vão passar muitas horas estressantes juntos. Se vocês não sacam de equipamentos o suficiente para avaliar o estúdio, chamem o produtor para ir junto com vocês. Sempre converse o máximo possível com essas pessoas e deixe claro seus objetivos e também tenham em mente que o CD nunca vai soar como o Metallica porque eles são milionários e vocês não. Tenham bom senso e comparem a banda com outras nacionais do estilo e tentem fazer melhor do que elas. Para finalizar, não julguem as coisas pela aparência. Conheço estúdios na Finlândia que parecem um depósito de lixo mas dali saem pérolas sonoras. O que vale mesmo é o som que vocês vão conseguir. Analógico ou Digital? A velha discussão ainda continua, analógico ou digital, mas nós temos que ser realistas. Uma fita de rolo analógica custa uma boa grana e o gravador então nem se fala. Os estúdios menores simples- 52 O Disco mente não têm dinheiro para adquirir esse equipamento. A gravação digital está cada vez melhor e mais barata. A não ser que vocês tenham uma fortuna para gastar, não faz sentido gravar em analógico. Lembrem-se de que não é só a mídia que indica a qualidade da gravação. Tudo que vocês fizerem vai soar no resultado final. Desde a execução das músicas, passando pelo equipamento, mixagem e masterização. Ou seja, não adianta gravar em rolo se vocês vão tocar com uma guitarra ruim em um amp ruim, o resultado não será bom nunca. A gravação digital dá muita liberdade porque ninguém precisa ficar cortando fita de rolo. Com o computador, vocês podem copiar e colar as partes que ficaram mais legais e corrigir as imperfeições gravando novamente sem perder muito tempo. Os puristas dirão que isto comprova que o disco não é honesto, porque todas as imperfeições foram corrigidas e blá, blá, blá. Verdade seja dita: os discos nunca foram honestos e tudo que se ouvem é tão manipulado quanto as informações sobre a guerra do Iraque. Relaxem, vocês terão a chance de mostrar o quanto são bons quando forem tocar ao vivo. Plano de horas e orçamento A quantidade de dinheiro que vocês gastarão no estúdio depende diretamente da quantidade de horas que vocês utilizarão para fazer o CD. Então a primeira coisa que precisa ser feita é um plano dessas horas. Isto é uma coisa muito simples, vamos fazer passo a passo. Primeiro, vocês terão que decidir se a gravação será com instrumentos separados ou com a banda toda tocando junto. As duas opções têm muitas vantagens e desvantagens e só depende de como vocês estão ensaiados para saber qual a melhor opção. Evidentemente, quando todos gravam ao mesmo tempo, o tempo de permanência no estúdio será menor. Em compensação, será mais difícil corrigir os erros. Além disso, o técnico de som precisa ser muito bom, para deixar tudo soando bem sem que ocorram vazamentos excessivos nos microfones. E a banda tem que estar em cima e tocar tudo direitinho. Nesse esquema, digamos que vocês gastem umas três horas por música. Esse é um tempo ideal para gravar uma boa quantidade de takes e depois escolher as melhores performances da Comunicação Subterrânea 53 banda. Se forem gravar 10 músicas, serão 30 horas. Ainda tem a mixagem: em geral são duas músicas por dia. Se contarmos o dia do estúdio como 10 horas, sendo duas para almoço, serão mais 50 horas. Coloque mais dois dias para a masterização e um dia só para deixar uma margem de segurança. Total de 120 horas. Em Janeiro de 2004, os estúdios de médio porte cobravam algo em torno de 30 a 50 reais por hora. Às vezes o técnico cobra a parte dele separadamente. Obviamente isso não acontece quando o técnico é o próprio dono do estúdio. Enfim, o total para pagar é de 3.600 a 6.000 reais. “Calma!” Em primeiro lugar, saiba que isso não é muito, nós é que somos pobres. Em segundo lugar, tudo é negociável. Raros são os independentes que têm essa grana para pagar a gravação. Além do mais, a gravação é só o começo, tem muita coisa ainda para gastar. A dica é sempre a mesma: parcele os pagamentos. Os estúdios sabem que vocês não têm dinheiro e vocês sabem que o eles precisam dessa grana também. É uma questão de conversar. Muitos no Brasil, aliás quase a maioria das pessoas, têm problemas financeiros e por isso todo mundo quer se ajeitar. Vocês querem pagar a gravação, o dono do estúdio quer receber essa grana, só basta conversarem. Vamos supor que a gravação seja 5.000 reais. Vocês podem negociar com o dono do estúdio para pagar em cinco meses, assim serão 1.000 reais por mês. Se a sua banda tiver cinco componentes, cada um paga 200 reais por mês. Fale sério, 200 reais por mês é perfeitamente pagável. Como eu já disse, uma banda precisa de investimento e pergunte a qualquer pequeno empresário se ele só investiu 200 reais por mês na sua empresa. Então, não reclamem, comecem a trabalhar e economizem para pagar o CD. Além disso, com esse orçamento dilatado é possível negociar melhor com um pequeno selo da sua cidade para que ele financie a gravação. Existe ainda a opção de gravar com todos os instrumentos separados. Assim, tudo começa com o metrônomo com o qual vocês ensaiaram exaustivamente. Ligue-o e o baterista vai gravar as bases em cima do clique do metrônomo. É legal também colocar o guitarrista e o baixista (às vezes até o vocalista também) para fazer a guia. Ou seja, eles vão tocar só para o baterista se guiar e conduzir melhor as músicas. Este tipo de gravação é o mais comum em bandas de 54 O Disco grande porte. Só que aí vocês vão gastar um pouquinho mais de tempo para gravar. A outra opção de gravação é a mista. Alguns instrumentos serão gravados ao mesmo tempo e outros não. Vocês podem gravar todas as bases, por exemplo, depois incluir os vocais, solos e teclado. As opções são grandes e se adaptam ao tipo de som e ao orçamento. Converse com seu produtor e técnico de som. A única diferença entre os estúdios de grande porte e os de médio porte é o preço. O ideal seria que os grandes estúdios fossem mais bem equipados e os técnicos fossem mais competentes, mas isso nem sempre é verdade. Além disso, os estúdios grandes estão acostumados a receber cheques gordos das gravadoras e, por isso, não serão muito tolerantes na hora de parcelar o seu pagamento. Entretanto, isso não é uma regra. Mais uma vez, escolha o estúdio que for melhor para o seu som e para o seu bolso, independente do tamanho. Aluguel de equipamentos Há uma grande possibilidade de você precisar alugar equipamentos para fazer a gravação do disco. Procure não alugar equipamentos de estúdios de ensaio ou que são muito utilizados ao vivo. Eles certamente estarão surrados e aí seu som não vai sair tão bom. Procurem aquele amigo do seu amigo que tem aquela bateria novinha e peça para ele alugar para vocês. Pode sair um pouco mais caro, mas é o CD da banda e vocês têm e estar soando muito bem porque as pessoas não querem saber se vocês não têm dinheiro, se seu gato foi atropelado ou sei-lá-o-quê. As pessoas pagarão pelo CD quase o mesmo preço que pagam pelo de qualquer outra banda por isso seu objetivo é fazer com que esse CD valha a pena. Se lasquem, mas aluguem o melhor equipamento possível. O disco é eterno e não existe arrependimento maior do que ouvir o CD e perceber que poderia ter conseguido uma guitarra um pouco melhor. Não dá para economizar nessa hora. Se for para fazer um CD, faça o melhor já visto na sua cidade. Gravando a bateria A bateria ainda é o desafio de qualquer técnico de gravação. É um instrumento completamente acústico e tem muitas peças. Por isso, é bastante difícil tirar um som bom desses tambores. Comunicação Subterrânea 55 A primeira providência óbvia é arrumar uma boa bateria, caso o baterista da banda não tenha uma. Depois, monte-a de forma que ela não se movimente durante a execução das músicas, não tem coisa mais chata do que tocar numa bateria ambulante. Depois disso, afine os tons da melhor maneira e posicione os microfones. Quero dizer, vocês não, o técnico porque essa é a parte mais difícil e somente um técnico pode posicionar corretamente os microfones. Confie no seu técnico. Outro cuidado importantíssimo é não acertar os microfones com a baqueta. Alguns microfones podem chegar até a 10.000 reais e um prejuízo desses não é fácil num momento crítico como esse, não é mesmo? Às vezes, mesmo com todo o equipamento necessário, os timbres de algumas peças não ficam perfeitos o suficiente. Aí já está tudo gravado e a bateria já está desmontada, qual a solução para isso? Existe uma coisa chamada samples que são simplesmente sons de peças de bateria pré-gravadas que podem substituir o som da bateria do CD. “Calma!” Não precisa gritar e achar que vão falar mal de vocês porque o que está tocando no CD é um computador e não você. Em primeiro lugar, não seja tão radical, você pode ficar surpreso com a quantidade absurda de bandas que fazem isso e cujo disco vocês adoram mas nem percebem que é um sample. Às vezes, a bateria sai toda redondinha na gravação, mas a caixa ainda não tem aquele punch ou aquele brilho que vocês gostariam que estivessem presente. Em alguns casos, está tudo perfeito, mas quando entram os outros instrumentos, a bateria fica xôxa. Os samples já estão gravados, têm um som alucinante e antes colocar um som pré-gravado e bom no seu CD do que deixar o que vocês gravaram soar ruim. No final das contas, ninguém vai perceber que é sample mesmo, desde que o som não fique artificial. Discutam esta questão filosófica com o produtor e o técnico de som, mas nunca esqueça do objetivo final: o CD tem que soar bem. Gravando o baixo Nem sempre vocês precisam de um super amplificador para gravar o baixo. Ele é um dos poucos instrumentos de uma banda que funciona muito bem ligado em linha, por meio de um direct box, sansamp ou similares. Até mesmo um sansamp de guitarra funciona bem nesta hora. 56 O Disco O que precisa prestar atenção é se o baixo e a bateria estão coladinhos e fazendo a mesma coisa. Mas isso vocês já viram na pré-produção, não é mesmo? Gravando a guitarra Alugue uma Gibson e plugue num amp Marshall ou Mesa Boogie. Peça ao técnico para testar a posição do microfone em vários lugares do alto-falante e ouçam. Quando estiverem satisfeitos, apertem o botão vermelho. Para os sons limpos, aluguem uma fender e plugue num Marshall ou Mesa Boogie. Não tem mistério. Para se tirar um bom som de guitarra no rock, qualquer estilo de rock, basta ser simples. Quanto menor a extravagância, melhor. Para os solos, alugue um amp menor e plugue sua já alugada Gibson. Eu não sou muito adepto a marcas, mas em se tratando de guitarra, não vai ter nenhum problema se seguir a fórmula Gibson + Marshall. O mundo inteiro faz isso, porque você serão diferente? Claro que é possível obter sons excelentes com outros setups, portanto se você tem tempo, dinheiro e paciência, tente tudo que estiver ao alcance. Se não der certo, alugue uma Gibson e plugue no Marshall. Voz Quebre os horários na hora da gravação da voz. O ideal é gravar apenas uma música por dia, porque esse processo leva aproximadamente umas duas horas e é difícil alguém ficar cantando muito bem por mais de duas horas. Algumas vozes ficam com uma textura legal se for gravada exatamente a mesma coisa duas vezes. A sobreposição das vozes iguais produz um efeito de profundidade que muito já ouvimos e nem nos tocamos com isso. Lembrem-se que a voz é o elemento que vai chamar mais a atenção da maioria das pessoas e por isso tem que estar soando muito bem. Mixagem A mixagem é o momento em que seu CD vai deixar de soar como um monte de instrumentos juntos e vai se transformar em algo co- Comunicação Subterrânea 57 eso e bonito. Steven Spielberg já disse que a edição é o momento em que o “filme” vira filme realmente. Pois bem, mixagem é quando o “CD” vira CD. Até então, os instrumentos todos estavam lá, mas é na mixagem que eles se tornam claros e definidos. Impossível explicar o passo a passo de uma mixagem, primeiro porque não tenho competência para isto e segundo, porque é um processo muito pessoal e envolve centenas de variáveis, inclusive o estilo da banda. Nessa hora deve-se dizer ao técnico de som como vocês gostariam que a banda soasse, pode-se até trazer um CD de uma banda que vocês apreciem. Depois disso, o trabalho é do técnico. Claro que vocês podem sugerir os efeitos na hora dos solos, vocal etc. Mas no final, vocês devem confiar no técnico porque só ele sabe como atingir um bom objetivo sonoro. Uma boa dica na hora da mixagem é: não seja egoísta. Todos têm que estar aparecendo bem e o segredo de uma boa banda é justamente achar o balanço entre os instrumentos. Pode parecer fácil, mas na verdade é a coisa mais difícil de uma gravação. Os instrumentos estão sempre brigando na mesma freqüência e aumentar o volume de um pode significar a ausência do outro. Os guitarristas geralmente são os mais chiliquentos e por isso querem a guitarra mais alta do mundo, mas isso prejudica todos os outros instrumentos e ninguém ouvirá mais nada no CD. Moderação é a palavra-chave. Um bom CD deixa todos os instrumentos claros e definidos e o peso e corpo se formam com a união destes instrumentos. Nenhum deles isoladamente soa tão bem quanto o conjunto. Por fim, ouçam a opinião das outras pessoas e filtrem aquilo que vocês achem importante para a banda. Não esqueçam que é impossível agradar a todos e quem tem de escolher como a banda soa são vocês e a equipe. Masterização (colaboração de andré t – [email protected]) Masterizar é promover alguns pequenos ajustes ao som das músicas já mixadas. Vocês podem equalizar as músicas (rebalancear a proporção entre graves, médios e agudos – para que o CD soe razoável na maior parte dos sistemas de som), colocar um último efeito no final da música, cuidar dos volumes das faixas (para que o ou- 58 O Disco vinte não precise ficar mexendo no botão de volume em casa quando o CD muda de faixa) e organizar a ordem das canções no CD. Um bom CD deve ter o balanço entre volume e compressão. Para aumentar o volume, o técnico usa, entre outras coisas, a compressão. Compressão é o processo onde se atenua ou elimina os picos de volume. Em qualquer sistema de gravação, existe um teto onde o volume pode chegar; se os picos de volume (aqueles que podem alcançar esse teto) são achatados, pode-se aumentar o volume geral da música até chegar ao máximo novamente. O problema que isto causa é que gradativamente o som vai perdendo “vida” e “peso” à medida que é mais comprimido. A opção aqui seria aumentar o volume e comprimir o som ou deixá-lo mais amplo e com o volume menor. O meio-termo é a solução. Nem tão comprimido, nem tão baixo. Os grandes masterizadores (Bob Ludwig, Bernie Grundman etc.) aliados aos seus equipamentos muitas vezes feitos sob encomenda, detêm um poder mágico de comprimir absurdamente o som mas mantendo a profundidade. O resultado é um CD extremamente alto e mesmo assim “gordo”. Só que estes estúdios custam pequenas fortunas. Se o seu estúdio de gravação não tem uma masterização legal, vocês precisarão procurar um estúdio especializado. Encerrada, a masterização é realmente importante evitar aquela sensação que muitos já experimentaram de: “Ah, mas soava tão bem no estúdio, por que aqui em casa não está bom?” A mágica da masterização está em fazer com que o CD funcione nos sistemas de grande porte (aqueles que reproduzem as freqüências mais baixas fielmente), nos sistemas caseiros e até naquele alto falante ridículo que existe na televisão de sua casa. Capa A capa do CD é tão importante quanto a música que ele contém. A capa é o primeiro elemento de atração para as pessoas; mesmo antes de elas terem contato com as canções. A capa tem de ser chamativa o suficiente para destacar a banda do oceano de bandas que existem hoje em dia. Existem outras formas de chamar atenção para o CD além de uma capa bonita. Você pode criar embalagens diferentes para o seu trabalho. A mais comum delas é o Digipack, um tipo de capa de Comunicação Subterrânea 59 papelão plastificado que é considerado item de colecionador entre os fãs. O material é um pouco mais caro do que a tradicional caixinha de acrílico, mas vale a pena. Existem infinitas possibilidades para uma caixa de CD e vocês podem criar junto com o designer algo completamente novo. Que tal uma caixa triangular? Uma caixa de metal? Tudo depende do orçamento e da criatividade. O grande problema destas caixas malucas é que os lojistas não têm onde colocá-las. Elas ficarão em cima do balcão ou então em alguma gaveta. Ou seja, a exposição é “oito ou oitenta”. Vocês também precisam definir a quantidade de páginas do encarte e isso será um fator essencial na hora de orçar a prensagem. Banner de palco A hora do show é a hora de divulgar a banda, mas principalmente o CD novo e por isto aproveitem o fato de estar com a mão na massa e façam um banner ou pano de fundo para o palco. Ele pode ser feito com lona e este material aceita impressão de fotos em alta resolução. Há a possibilidade de se fazer em pano mesmo, só que vocês têm que achar um cara que seja bom nisso. No final, o valor sai muito parecido porque o trabalho com pano é personalizado e demanda muito tempo (e habilidade) do artista. Prensagem Depois do CD pronto, você vai precisar duplicá-lo e existem duas opções a serem feita: copiar CDr-s ou prensar. A primeira opção não é tão barata quanto você pensa. Primeiro você precisa comprar uma mídia de boa qualidade isso não sai por menos de um real. Além disso, você precisa imprimir a capa e o rótulo separadamente. Isso dá por baixo uns 1,5 a 2 reais por cópia. E ainda dá um trabalhão ter que ficar dias inteiros fazendo cópias no computador. A pior parte é a seguinte: nenhum selo vai querer distribuir o material em CD-r e as pessoas compram menos. A prensagem profissional pode ser feita em diversas empresas como a Sonopress e a Microservice. O processo para a prensagem é bastante simples. Você entra em contato com a empresa pelo telefone, diz o tamanho do seu encarte 60 O Disco (para exemplos de tamanho, visite os sites das empresas: www.sonopress.com.br e www.microservicedigital.com.br) e a quantidade de cores do rótulo e do encarte. Não há muito mistério aqui e seu designer vai te informar sobre isso de forma fácil, fácil. Depois, você vai receber um orçamento pelo correio ou por e-mail. No início de 2004, o valor médio para a prensagem de 1.000 CDs é 3.500 reais, com impressão de encarte já inclusa. Os preços tendem a variar de acordo com o dólar, como qualquer outro produto na nossa difícil economia. Em geral, o pagamento pode ser parcelado em duas vezes. A primeira parcela é efetuada quando o negócio é fechado e você manda a Master (o CD que será matriz para as cópias) para a fábrica, junto com os arquivos de arte da capa e rótulo. A segunda parcela deve ser paga quando os CDs ficarem prontos lá na fábrica, antes de mandarem para o grupo. Não recomendo que façam menos de 1.000 cópias. O valor fica bem mais alto e como veremos em breve, vocês usarão pelo menos uns 300 CDs para fazerem sua divulgação. Esperamos todos que vocês consigam vender os outros 700! Antes de fechar o negócio vocês vão precisar de alguns documentos que certificam que vocês são os autores das músicas. O primeiro passo é abrir firma em algum cartório da sua cidade. Abrir firma é simplesmente comprovar a sua assinatura. Acho que o Brasil é o único país do mundo em que você precisa ir a um cartório para reconhecer sua própria assinatura. Mas esse é um procedimento barato e necessário para outras ocasiões burocráticas. Depois disso, basta enviar os documentos junto com a “fita master” para a fábrica. Quando você prensa o CD numa fábrica, você está pagando impostos menores do que uma gravadora, que é pessoa jurídica. Aí está mais uma vantagem em ser independente. Você ainda tem a opção de prensar o CD por meio de agente fonográfico. O agente fonográfico nada mais é do que uma empresa que encaminha o seu material para a fábrica. Ele é o intermediário entre você e a Sonopress, por exemplo. A vantagem em fazer esse tipo de negócio é que alguns agentes fonográficos facilitam o pagamento e podem criar a arte do seu encarte, mas não recomendo que você faça isso. Afinal, para que você contratou o designer? Comunicação Subterrânea 61 Feito tudo isto, é só esperar chegar o CD em casa e chorar de emoção ao receber um monte de CDs na sua casa. Chame a banda e comemorem um pouco, mas só um pouco porque ainda tem muito trabalho pela frente. Distribuição Lembra que quando vocês estavam gravando o CD, estavam fazendo uma divulgaçãozinha? Pois bem, agora que o disco está pronto as pessoas já estão curiosas para ouvir o bicho. Isso se você fez tudo direitinho. Muita gente pensa que o trabalho termina quando o CD está prensado e isso é uma grande ilusão. O trabalho começa agora. Se você não fizer o seu CD circular, ninguém vai nem saber que ele existe por isso chegamos na parte mais complexa de todas as bandas independentes: a distribuição. Mesmo que seja muito bem articulado, o CD vai chegar em algumas lojas da sua cidade e talvez de algumas cidades vizinhas, mas não mais do que isso. A grande vantagem e a coisa mais valiosa que as majors têm para oferecer é a distribuição e a possibilidade do CD ser vendido em lojas do país inteiro. Agora que o CD está pronto, corram atrás dos selos pequenos e peçam que eles distribuam o seu material. Para eles é uma coisa interessante porque não vão pagar muito pelo CD e para você é melhor ainda porque você vai se livrar das toneladas de CD que estão ocupando espaço na sua casa. Se fosse um CD-r, você não poderia fazer isso. Inclusive esta é uma boa hora para ver o quanto a banda é unida e assim cada um pode levar algumas caixinhas para casa. É muito interessante a gente perceber que quando o CD não está pronto o que mais queremos é que ele chegue e quando ele chega o que mais queremos é que ele saia. Só que o CD não tem pernas e por isso vocês vão ter que ralar muito para vender esses 1.000 CDs. Correio A primeira providência a se tomar é fazer um banco de dados com “todas” as mídias que podem ser interessantes para divulgar o CD. Isso inclui sites, zines, revistas especializadas e não-especializadas, 62 O Disco jornal, televisão, rádio e produtores. Para conseguir esses contatos, basta procurar na internet e conversar com as pessoas. Tentem conseguir pelo menos uns 200 lugares para mandar o CD e não se contentem só com o Brasil, mandem para o mundo inteiro. Mandem para a Rolling Stone e para o New York Times. Há poucas chances de alguma coisa ser publicada, mas se vocês não mandarem as chances serão nulas. Depois de fazer esse imenso banco de dados, vocês vão precisar gerar etiquetas para colar nos envelopes porque é um trabalho fenomenal ter que escrever endereços em 200 envelopes. Sugiro que faça o banco de dados no Excel, com as seguintes colunas: Nome, Contato, Tipo, Endereço, Telefone, Website, E-mail, Observações e País. A coluna tipo é para designar se você está mandando o CD para uma mídia (rádio, TV, revista ou site) ou para um selo. No final, você pode saber quantos CDs mandou para divulgação, para tentar um contrato ou para distribuição. Criado o banco de dados, imprima as etiquetas. Não esqueça que vocês têm que imprimir as etiquetas dos remetentes. Isto significa que se vocês têm 200 contatos, serão 400 etiquetas. Existem envelopes específicos para enviar CDs pelo correio. Vocês não precisam comprar toneladas de jornal ou ficar inventan- Comunicação Subterrânea 63 do embalagens malucas para o CD não chegar quebrado. Estes envelopes são revestidos com papel-bolha e podem ser comprados na www.kalunga.com.br e custam 50 centavos. Como vocês vão comprar 200, vão gastar 100 reais com os envelopes. Coloquem mais uns 600 a 1.000 reais de despesas com o correio, dependendo dos lugares para onde será enviado o CD. Os CDs são como documentos para o correio e, por isso, o preço é bem menor do que uma encomenda normal. Vocês ainda têm a opção de mandar o material registrado ou prioritário, mas o preço quase dobra. Se for enviado pela forma econômica, mantenha contato por e-mail com as pessoas que irão receber e pergunte se chegou bem. Não tem nada mais frustrante do que esperar meses por uma resenha numa revista importante e depois descobrir que eles não receberam o material. Quando for enviar o CD, mande junto o release da banda, devidamente escrito e corrigido por um “jornalista”. Para fazer os 200 releases, tire xerox. Algumas publicações e selos pedem que você mande uma foto da banda. Entretanto, isto tem mudado pois é bem mais prático colocar a foto na Internet. Mas lembrem-se que a foto tem que estar em resolução de impressão (300 dpi). Já falamos que o site deve ter uma seção dedicada à imprensa? Pois esta é a hora desta seção estar em funcionamento e a partir daí você pode disponibilizar fotos, releases, clipping e o logotipo da banda. Nada impede que você mande foto para alguns lugares, mas então inclua mais 1.000 reais ou mais no orçamento. Publicidade Muitas bandas pensam que fazer publicidade é caro e que não terão dinheiro suficiente para isto, ou só conseguirão se tiverem um contrato com uma gravadora. Isto não é verdade. O que não falta aqui no Brasil é boa vontade e negociação por parte dos veículos de imprensa especializados. Todos querem ganhar dinheiro no final das contas, basta que vocês saibam disso e negociem tudo numa boa. Uma coisa é certa: se não fizerem anúncios, ninguém saberá que o CD saiu. Aliás, o ideal seria que vocês colocassem um comercial no intervalo do Jornal Nacional, mas isto é inviável neste momento. Não é exagero, vocês têm que anunciar o CD de todas as formas possíveis, o CD tem que estar na mídia, porque senão as vendas serão desanima- 64 O Disco doras. Em 2003, as vendas de CDs não foram tão boas, se não for anunciado, ficará encalhado nas prateleiras. Para terem o produto anunciado, comecem pelo básico: os websites. Façam uma pesquisa nos websites que divulgam o tipo de música da banda, entre em contato com eles pedindo para colocar um banner. Geralmente os sites não são veículos muito lucrativos e tenho certeza de que quase todos vão querer ter seu anúncio. Os banners são baratos e a depender do site chegam até a 300 reais. O próximo passo são as revistas especializadas. O preço da inclusão dependerá do tamanho que vocês querem veicular. A minha dica é: peguem uma página inteira. Mesmo que seja um pouco mais caro, vale muito mais a pena e percebam que um anúncio numa grande revista não é só o fortalecimento da sua marca e o contato com o público, vocês ainda vão chamar atenção das gravadoras. Elas gostam de bandas que trabalham bem. Mas não basta adquirir uma página inteira, tem que ser uma boa página. Negociem a quarta capa (o verso da revista) ou a página três. Vocês têm que ficar atento porque essas páginas são reservadas com antecedência pelos grandes anunciantes, por isso antes de começar a pré-produção, entrem em contato com as revistas e reservem o espaço do anúncio. A página inteira custa entre 1.000 e 3.000 reais. Perguntem ao marketing da revista se existe a possibilidade de parcelar, tenho certeza que chegarão a um acordo. Não se esqueçam de que os gastos serão divididos pelo grupo. Lembrem-se de que anunciar o CD é tão importante quanto gravar e prensar. Se vocês tiverem todo este trabalho e no final não anunciarem, terão desperdiçado tempo e dinheiro. Não marquem bobeira, o mundo inteiro faz isto e, se vocês fossem de um cast de uma grande gravadora, eles iriam fazer exatamente isto. Consignação Muitas lojas trabalham em consignação. Isto significa que vocês podem deixar os CDs em consignação com o dono da loja, sem intermédio do selo ou da gravadora. Basta levar os CDs até a loja, estabelecer o preço que vocês querem receber pelo CD, o lojista colocará o preço da loja e o CD será colocado à venda. Detalhe importante: vocês não podem ganhar a mesma coisa como se fosse a gravadora. Comunicação Subterrânea 65 Digamos que vocês vendam os CDs a 15 reais nos shows e em vendas diretas. Vocês podem querer que o CD esteja com um preço maior ou até mesmo igual ao que vocês vendem nas lojas. Portanto, o valor do CD em consignação será de 10 reais. O lojista então acrescentará cinco a dez reais em cima do valor consignado. Alguns lojistas pedem que você sugira o valor de venda final, outros nem perguntam sua opinião. Faça uma tabela de controle para os CDs que vocês deixaram em consignação e liguem a cada dois meses para as lojas para saber sobre a venda e a necessidade de reposição do material vendido. Mantenha sempre um recibo assinado pelo lojista do recebimento dos CDs deixados em consignação. Só colocar o CD não fará com que ele seja um sucesso de vendas. Aproveitem o lay-out do anúncio colocado nas revistas, e imprima cartazes em tamanho A3 para serem colocados nas lojas. Ter CDs em lojas nem sempre significa aumento de vendas, mas com certeza fortalece a marca da banda. Seja acessível Por mais eficaz que seja o esquema de distribuição, nada funcionará se vocês não puderem ser contatados com facilidade. Atualizem seus telefones e seus e-mail com regularidade. Muitas portas podem se fechar porque as pessoas simplesmente não conseguem entrar em contato com vocês. Agora que já foi feita a gravação do CD independente, saiba que isto é um passo importante na vida de vocês. Mas nem por isso o ego deve se inflar. O segredo de manter boas relações e obter sucesso é continuar tendo muita humildade e trabalhando com afinco. Todos precisam de um pouco de sorte para se dar bem na vida. Com uma banda, não é diferente, vocês terão que trabalhar muito e se não tiverem sorte, as coisas não vão andar bem. A sorte é atraída pelas suas atitudes. Seja honesto, sincero, trabalhador e correto que a sorte virá. Nós colhemos o que plantamos. Clipping Se vocês fizeram tudo certo, as resenhas do CD vão sair em todos os lugares e vocês precisam coletar estes dados. Isto nós chamamos 66 O Disco de clipping. Se sair alguma matéria na televisão, grave; se sair reportagem em jornal, recorte e guarde. Enfim, tudo que aparecer sobre a banda ou envolver os componentes deve ser guardado e muito bem guardado. Separem uma gaveta da casa de alguém do grupo somente para ser guardado este material. Saiba que no final das contas quem faz o sucesso da banda são os fãs. Agradeça a todos os fãs pois eles são mais que amigos, são também uma grande família para vocês. Mercado musical Mesmo depois de passar 66 páginas falando de como sobreviver sendo independente, o que na verdade todos querem é assinar com uma major. Por mais eficiente que vocês sejam, não dá para ganhar dinheiro sendo independente, mas percebam que as gravadoras também não são lá essas coisas. Em primeiro lugar, o contrato será ruim. Nenhuma banda nova tem um contrato favorável, e a justificativa é sempre a mesma, “estamos nos arriscando quando investimos em você por isto precisamos saber se vocês vão gerar lucro”. Mentira, pois as gravadoras só investem no que é rentável. Mas, hoje em dia é raro uma gravadora assinar contrato com banda pequena ou até mesmo média, geralmente o que acontece é que vocês se viram como independentes e quando o negócio começa a dar dinheiro, os convites das gravadoras começam a surgir. Quando esse momento chegar, saibam tomar suas decisões e peçam a um advogado para ler o contrato. As vendas de discos ainda são um mistério que somente os grandes empresários das gravadoras sabem (ou não!). A fabricação dos CDs é controlada pela gravadora e o artista nem sabe quantos foram produzidos. Ninguém consegue ter controle sobre os CDs vendidos. Vocês sabem que os títulos “disco de ouro e disco de platina” na verdade são relativos às vendas que as gravadoras efetuaram junto aos lojistas? Se um artista nacional ganha “disco de ouro” porque vendeu 100.000 cópias, isto significa que as gravadoras venderam 100.000 discos para os lojistas, mas não quer dizer que 100.000 pessoas tenham comprado o CD. Lindo isso, não? Comunicação Subterrânea 67 Já está entrando em vigor um código de barras que acusa a quantidade de CDs que foram vendidas para os consumidores. Mas, por enquanto, a venda de CDs é uma grande especulação. Aí vai a tabela oficial de vendagens. Artistas Nacionais: Ouro: 100.000 Platina: 250.000 2 x Platina: 500.00 3 x Platina: 750.000 Diamante: 1.000.000 Artistas Internacionais: Ouro: 50.000 Platina: 125.000 2 x Platina: 250.000 3 x Platina: 375.000 Diamante: 500.000 Links para os Charts Seguem alguns links que monitoram as supostas vendas de disco no Brasil e em outros países: http://www.hot100brasil.com/ http://www.metal-sludge.com/SludgeScanChart.htm http://www.theofficialcharts.com/html/index.shtml http://www.billboard.com/bb/charts/bb200.jsp Espero que o livro tenha ajudado. Saibam que por mais difícil que seja viver de música, algumas bandas já conseguiram isso. Nunca desista do seu sonho. Se você não conseguir viver “de música”, pelo menos viva a sua música com prazer. Se precisarem de mais ajuda, mandem e-mail para [email protected]