Guia - Facom-UFBA

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Marcelo Martins
COMUNICAÇÃO SUBTERRÂNEA
um guia para bandas independentes
Rio de Janeiro, 2004
Agradecimentos
Minha mãe, Monclar Valverde, Aline Granjo e Jéssica
Senra pela revisão e observações.
Mais uma vez, Monclar Valverde, pelo texto da “orelha”.
Cláudio Cardoso, pela orientação acadêmica e pela
amizade rockeira.
Gina Leite, pelas pictures.
Mauro Ybarros, pela capa e idéias malucas.
Iassa, Maynard e Ricardo. As razões pela qual tenho
vontade de escrever sobre bandas.
André t, por todo o trabalho e amizade, além do texto
sobre masterização.
Cristiane Olivieri, por ter aceito prontamente a escrever um pouco sobre direitos autorais.
©E-papers Serviços Editoriais Ltda., 2004.
Todos os direitos reservados à E-papers Serviços Editoriais
Ltda. É proibida a reprodução ou transmissão desta obra, ou
parte dela, por qualquer meio, sem a prévia autorização dos
editores.
Impresso no Brasil.
ISBN: 85-7650-001-9
Projeto gráfico e diagramação
Livia Krykhtine
Capa
Mauro Ybarros
Fotos
Gina Leite
Revisão de texto
Elisa Sankuevitz
Helô Castro
Ionei Martins
Monclar Valverde
Aline Granjo
Jéssica Senra
Esta publicação encontra-se à venda no site da
Editora Frutos.
http://www.editorafrutos.com.br
E-papers Serviços Editoriais Ltda.
Rua Mariz e Barros, 72, sala 202
Praça da Bandeira – Rio de Janeiro
Rio de Janeiro – Brasil
CEP 20.270-006
Sumário
Introdução, 7
A Banda, 9
A figura do líder, 11
Mudanças de formação, 13
O frontman, 15
Comunicação interpessoal, 18
Ensaios, 19
Ensaiando corretamente, 20
Tirando o som no estúdio, 21
Cuidados com a audição, 21
Compondo Músicas, 23
Afinação, 24
Coesão, uniformidade e silêncio, 25
Estruturas, 27
Pronúncia, 29
Originalidade, 30
Shows, 33
Equipamentos, 33
Passagem de som, 34
Postura de palco, 35
Marketing, 37
Website , 38
Newsletter, 41
Cartazes, 41
Mirc e listas de discussão, 42
Press release, 43
Ser jornalisticamente relevante, 43
Fotos, 45
O Disco, 47
Demo-tape, 47
Produtores, 49
Criando expectativa, 50
Escolha do estúdio, 51
Analógico ou Digital?, 51
Plano de horas e orçamento, 52
Aluguel de equipamentos, 54
Gravando a bateria, 55
Gravando o baixo, 56
Gravando a guitarra, 56
Voz, 56
Mixagem, 57
Masterização, 58
Capa, 59
Banner de palco, 59
Prensagem, 59
Distribuição, 61
Correio, 62
Publicidade, 63
Consignação, 65
Seja acessível, 65
Clipping, 66
Mercado musical, 66
Links para os Charts, 67
7
Introdução
S
er independente não significa fazer tudo sozinho. Muito pelo contrário, você vai precisar cada vez mais das outras pessoas. Todo
grande profissional sabe que um bom trabalho só pode ser realizado por uma boa equipe e quanto melhor a equipe, melhor o resultado final. Por mais talentoso que você e sua banda sejam, ninguém
consegue gravar um disco e distribuí-lo sozinho, mesmo que você
tenha dinheiro suficiente (mas se este fosse o caso você não estaria
lendo esse livro, não é?). Tudo bem, eu sei que alguns artistas têm
aquele ego inflado e se acham auto-suficientes. Se você é um deles,
desista, ou então comece a mudar. Para se destacar como uma banda independente você vai ter que engolir muito sapo, ouvir muito
desaforo e participar de intrigas novelescas. A regra número um do
sucesso em qualquer coisa nesse meio: seja humilde.
Ser independente é a sua oportunidade de formar uma equipe
com pessoas competentes e de confiança. Achar pessoas assim não
é fácil, mas pode ter certeza de que, no momento em que você achálas, elas serão extremamente fiéis. Os bons atraem os bons e todo
mundo quer fazer parte de alguma coisa legal e bem-feita. Num
momento de crise fonográfica, pirataria e porcaria musical, as pessoas estão procurando alternativas para trabalhos e é aí onde você
e sua banda entram.
O maior problema da independência é sempre o mesmo: dinheiro. Você vai gastar. Não adianta ficar achando que as coisas vão
acontecer se não houver investimento. O dinheiro só vem depois de
muito tempo e de muito trabalho. Por acaso você conhece alguma
empresa que não precisou de investimento financeiro para crescer?
Então por que você acha que com uma banda a coisa vai ser diferente? Até o Iron Maiden só começou a ganhar dinheiro a partir do
terceiro disco!
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Introdução
Uma banda tem muitas características semelhantes a de uma
empresa e várias dessas características vão ser destacadas neste
livro. Ser independente é ser profissional. Banda é investimento,
mas é um investimento no seu sonho. Eu costumo dizer que trabalho em outros lugares para poder sustentar minha banda até que
um dia ela possa me sustentar. É a luta de todos, é difícil, mas não é
impossível.
Este livro vai falar de tudo que envolve a criação e a manutenção de uma banda underground. Desde a formação e a escolha dos
músicos, passando por ensaios, gravações, shows e distribuição. Você
vai ver que as coisas são bem mais simples do que parecem e que
você não precisa inventar a roda, mas você precisa saber usá-la.
Vamos aprender a utilizar corretamente o dinheiro da banda, sem
gastos desnecessários e tentando manter a coisa “pagável”.
Ser independente é um grande risco, mas se feito corretamente,
pode trazer ótimos resultados. Podem até não ser financeiros, mas
a sensação de ter feito algo relevante e de ter participado disso é
muito mais importante do que dólares.
9
A Banda
Q
uase toda banda começa com um grupo de amigos que querem
tirar umas músicas de bandas conhecidas, só para se divertir.
Uma pequena parcela das bandas começa com um objetivo já definido e os membros se juntam não porque são amigos ou parentes,
mas porque têm um foco e uma meta.
Você não precisa me contar a história da sua banda, ela começa
assim:
Em, “coloque o ano de surgimento da sua banda”, alguns amigos se juntaram para se divertir e tocar covers de, “suas bandas favoritas”. Depois de um tempo, resolveram começar a
compor músicas próprias que acabaram sendo gravadas na
Demo-tape, “aqui vem o nome da demo’, lançada em, ‘ano de
lançamento da demo”.
Não se preocupe, 90% das bandas começaram assim. É natural
que você toque com seus amigos; afinal de contas, com inimigos é
que não vai tocar, não é mesmo?
Aí é que entra a parte complicada da coisa. Formar uma banda
é a tarefa mais difícil e penosa de todas. Isso porque depois de um
certo tempo, toda banda que quer ser profissional empaca por questões que envolvem os membros, a amizade entre eles e, principalmente, os seus egos. É uma tensão natural que acontece e, provavelmente, vai acontecer com quase todas as bandas iniciantes que
não se formarem com objetivos profissionais.
O grande problema na formação de uma banda com amigos é
que, depois de algum tempo, vocês vão querer começar a trabalhar
mais sério, ganhar uma grana, gravar um CD e fazer shows, mas,
para isto acontecer, serão necessários mais ensaios, dedicação e
“trabalho”. E aí entra o velho dilema: nem todos gostam de trabalhar
10
A Banda
e para uma banda funcionar todos têm de trabalhar. Não precisa um
ficar desesperado e fazer tudo, cada participante “deve” fazer a sua
parte. E deve fazer “bem”. Lembre-se que quanto melhor a equipe,
melhor o trabalho. Se alguém não faz sua parte no trabalho, o todo
não funcionará direito.
Pensem bem, as pessoas que estão na sua banda vão ser as pessoas mais próximas de você e vão participar de todas as decisões
importantes que serão tomadas. Nos próximos capítulos, vamos descobrir o quanto é importante que estas pessoas sejam boas no que
fazem e que a confiança entre elas seja mútua. As figuras mais importantes da banda são os músicos. Talvez sejam mais importantes do
que as músicas que serão produzidas. Certa vez, li uma entrevista de
Dave Mustaine (guitarrista e vocalista da banda norte-americana
Megadeth, uma das mais importantes bandas de heavy metal) na qual
dizia que tocar em uma banda é a coisa mais próxima de sexo que as
pessoas podem fazer, sem o praticar propriamente. Isto é a mais pura
verdade. Se tudo der certo, vocês podem ficar juntos durante cinco,
dez, vinte anos ou mais! É uma vida... Você já pensou nisso?
Uma banda é como um casamento e a aliança é a música. Um
casal já discute e briga bastante, imagine um grupo de três ou mais
pessoas! Vocês vão passar momentos terríveis juntos, vão brigar,
discutir, talvez se agridam, mas nos momentos bons também estarão presentes. E meu amigo(a)... os momentos bons sempre valem
a pena. Por menores que sejam, sempre valem a pena. A alegria de
ver um trabalho em equipe que começou do zero dar resultado é
algo tão maravilhoso quanto achar o amor da sua vida. É a realização de um sonho que começa a acontecer.
Mas chega de sonhar e vamos voltar ao trabalho. Estes dois
parágrafos anteriores foram escritos para reforçar a importância que
os membros da banda têm em tudo que será feito. Não estou falando aqui de cantores que resolvem contratar músicos para acompanhá-los nos shows. Com “din din”, todo mundo trabalha melhor e
se não trabalhar, é demitido e contrata-se outro. Estamos falando de
pessoas que se unem para fazer música por amor, com objetivos em
comum e sem expectativa de retorno financeiro, pelo menos em
curto prazo.
Vamos ao que interessa: como saber se as pessoas que tocam
com você são as pessoas certas?
Comunicação Subterrânea
11
1.
Vocês precisam ter os mesmos objetivos. E mais, precisam entender que os objetivos da banda são mais importantes do que
o de cada membro individualmente. Isso inclui ego, família,
amizades, namoradas e churrascos de fim-de-semana. Se cada
um enxergar o conjunto como mais importante do que si próprio, os problemas serão resolvidos mais facilmente.
2.
Amizade e trabalho não devem ser confundidos. Banda é trabalho. Tudo bem, é um trabalho divertido. Também não seria plausível tocar com inimigos. Mas as coisas precisam estar “muito
bem” separadas. Eu acredito que durante os trabalhos da banda é muito mais importante manter uma relação de respeito do
que de amizade. Claro que estas coisas se complementam, mas
o respeito deve ser sempre mais destacado. Vocês podem voltar
a ser amigos desrespeitosos quando forem beber num bar depois do ensaio.
3.
Cada um precisa fazer a sua parte. Desde o princípio, vocês vão
perceber que cada um tem aptidão para fazer certos trabalhos.
Além das tarefas básicas como tocar os instrumentos, vocês
terão que lidar com marketing, lojistas, fãs e com o seu rico
dinheirinho. Com o tempo e com a ajuda do líder o grupo descobrirá suas tarefas.
4.
A confiança terá de ser mútua. Você se casaria com alguém que
não confiasse? Você abriria uma empresa com alguém desconhecido? Banda é a mesma coisa. Quanto mais tempo vocês
passarem juntos, mais terão que confiar no companheiro.
Estas quatro características são fundamentais e sem elas nenhuma banda dura muito tempo. Lembre-se do respeito, ele é muito importante. Às vezes não sabemos o que está acontecendo com o
companheiro e pode ser coisa séria. Nunca subestime ou desvalorize seu companheiro. Se você faz isto, não deveria estar tocando junto com ele.
A figura do líder
Um líder é uma figura importante em uma banda. Muitos confundem
o líder com um ditador ou com aquele cara chato que só faz mandar
e se acha o melhor. Um líder de uma banda é como um diretor de
empresa, ele precisa cuidar dos negócios e principalmente das pes-
12
A Banda
soas com as quais trabalha. Um líder não deve ser “hitlerista”; não
deve somente ditar regras, deve também saber ouvir. Por outro lado,
o líder também não pode ser “Polyanna”, sempre bonzinho... Um bom
líder é um cara moderado, que sabe ouvir bem todas as opiniões das
pessoas envolvidas com a banda, antes de decidir.
O líder precisa ser bastante cuidadoso com as pessoas e deve
comunicar-se bem. Além disto, deve ser visto como um “porto seguro”, alguém em que todos confiam e que sempre estará lá para ajudar. Um líder é uma espécie de anjo que passa segurança para as
pessoas. Tudo o que ele fala deve ser levado em consideração e,
portanto, deve saber falar no momento certo. Deve sorrir mesmo
quando algo não está indo bem e se preocupar quando tudo vai
bem demais. O líder é o espírito motivador da equipe.
Com o passar do tempo, algumas decisões terão que ser tomadas e algumas delas serão difíceis. Por exemplo: se uma banda conhecida te convida para tocar com ela em um show, mas você sabe
que o show será desorganizado, o local e a data não são bons. Alguém terá de dizer não e isto é difícil. Além disto, você poderá ser
chamado de esnobe e coisas do tipo. Ninguém melhor do que o
líder para saber o que será melhor ou não para banda. Ele deve
conversar com os membros da equipe e deixar bem claro o motivo
das suas decisões.
O líder deve saber identificar as qualidades e habilidades de
cada integrante. Não poderá fazer tudo sozinho, por isto deve saber
delegar tarefas. Se perceber que o baterista é um cara bom de matemática, ninguém melhor que o próprio para segurar a grana da banda. Se o baixista conhece muitos músicos, ele pode ser a pessoa
ideal para procurar um produtor ou até mesmo um substituto caso
aconteçam mudanças na formação. O papel do líder é delegar tarefas para as pessoas, porque muitas vezes elas não sabem que possuem as qualidades necessárias. Mas não é só isso, o líder deve
acompanhar os trabalhos feitos por cada um, motivá-los se o trabalho estiver indo bem, corrigir o que não estiver funcionando e por
fim fazer com que aquela pessoa se sinta importante na equipe.
Uma banda só funciona se todos funcionam bem.
O líder é o porta-voz das decisões da banda. Não toma as decisões sozinho, mas as anuncia no devido momento. Infelizmente as
pessoas se confundem e direcionam para o lado pessoal. O líder
Comunicação Subterrânea
13
deve tentar amenizar estas situações e conversar, deixando tudo o
mais claro possível. Mas às vezes as pessoas não entendem, ou não
querem entender o que se passa. Caso isto aconteça, ignore e calese. Não crie inimigos desnecessários. Um dia a raiva passa.
O líder é alguém com poder de convencimento mediante bons
argumentos e não pela força. Deve sempre discutir suas idéias com
a banda e nunca tomar decisões sem consultar o grupo. Mas, caso
seja necessário uma tomada de decisão urgente o líder deverá ser
responsável pela decisão tomada.
Se você acha que ser líder é legal, pode tirar o cavalinho da
chuva porque o líder é quem mais trabalha, quem mais engole sapos e quem mais noites de sono perderá. O segredo do bom líder é
não se abalar muito com as opiniões externas e saber usar bem as
coisas que são faladas sobre sua banda. Se você se preocupa demais com as opiniões alheias, então não deverá ser líder. O líder
deve ter uma boa auto-estima, mas deve ser humilde o suficiente
para aproveitar o que há de melhor para sua banda e isso exige
saber ouvir tudo, as coisas boas, as construtivas e as ruins.
Mudanças de formação
As mudanças de formação ocorrem em 95% das bandas. Conto nos
dedos as bandas que nunca mudaram a sua formação. Isto tende a
ser cada vez mais difícil, principalmente no começo da formação,
quando as pessoas estão se conhecendo musicalmente e também
aprendendo a lidar uns com os outros.
Quando a banda deixa de ser somente uma diversão e começa
a gerar trabalho, as coisas começam a mudar bruscamente. A primeira grande descoberta é que alguns dos seus amigos que você
achou que eram perfeitos para a banda não gostam muito de trabalhar e começam a fazer corpo mole ou não fazem sua parte direito.
Só existem dois motivos para algum membro não fazer sua parte
direito: ele não quer ou não pode. O grupo tem que conversar com
este membro e identificar onde está o problema. Primeiro tente
encaixar a pessoa em um desses dois grupos – não quer ou não
pode... “...Se ela não trabalha porque não quer, não há motivo para
estar na banda”.
Se está incluída no segundo grupo (não pode) procurem descobrir as razões do problema. Algumas razões são legítimas, como,
14
A Banda
por exemplo, dificuldades financeiras ou familiares. Todo mundo
tem problemas e esta é a hora em que estas dificuldades devem ser
mostradas ao grupo. Ninguém melhor que os próprios componentes da banda para sugerir soluções e oferecer ajuda. Mesmo que
estejamos encarando a banda de forma muito profissional, todos
temos medos e inseguranças.
Mas há um limite. Lembro que uma vez toquei com um guitarrista que estava há seis meses tocando na banda e não conseguiu
providenciar sequer um pedal de distorção. Seis meses é tempo
demais e o problema não era financeiro. Se mesmo depois de muita
conversa o problema continuar e a pessoa não se enquadrar no
grupo, então não haverá motivo para continuar na banda.
Há ainda uma outra questão delicada que diz respeito ao grupo
das pessoas que não podem trabalhar. Algumas delas não são bons
músicos. Simples assim. É normal que com o tempo, a banda comece a se entrosar mais e tocar melhor e que um ou outro componente
não esteja na mesma sintonia dos demais. Sendo isto observado,
deve ser conversado com o componente em questão. Uma simples
conversa pode resolver o problema. Outras vezes a questão se torna complicada demais por outros motivos.
O problema é que ninguém gosta de ser criticado, isto é natural
no ser humano. Só que quem tem humildade percebe que está sendo chamado a atenção porque os amigos querem que ele melhore.
Todo crescimento no grupo tem que ser coletivo. Só que alguns não
aceitam e continuam cometendo os mesmos erros. Uma coisa é
certa: se alguém de sua banda não funcionar bem, ela também não
funcionará. Não há necessidade de serem supermúsicos, basta que
façam a sua parte bem. É um erro muito comum manter um músico
“ruim” na banda somente porque ele é um amigo. Quanto mais
tempo se demora para resolver esse problema, mas complicada
será a mudança e a aceitação deste músico. Mas não há outro jeito,
a banda precisa tomar uma decisão: ou é profissional ou não é.
Ser criticado não é bom, mas ser eliminado da banda é muito
pior. É uma sensação semelhante a de um término de namoro (mais
uma vez a relação com o casamento) e as reações podem ser as
mais diversas. Invariavelmente o líder será responsabilizado já que
ele terá que dar a notícia. Não há muito o que fazer neste caso. Se a
pessoa extraída for um bom amigo, ele vai entender. Se ele não
Comunicação Subterrânea
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entender hoje, um dia vai entender. Se ele não entender nunca, pode
ter certeza de que não era a pessoa certa para a banda.
Não adianta também colocar supermúsicos em sua banda se
eles são pessoas insuportáveis. Ninguém agüenta tocar com um
cara que se acha “estrela”. Mas também ninguém consegue tocar
com uma pessoa que erra demais, mesmo que ela seja um bom
amigo. O ideal é encontrar um bom músico, que seja uma boa pessoa. É exatamente por isso que é tão difícil conseguir formar uma
banda. Não dá para achar um bom músico, legal e trabalhador em
qualquer esquina.
Temos de levar em conta que os músicos, também, saem espontaneamente da banda. Isto é pior porque muitas vezes acontece
inesperadamente e fica difícil preencher a lacuna, principalmente,
se o músico já estava integrado com os trabalhos da banda.
Eu digo sempre que lidar com os membros de uma banda é
muito mais difícil do que fazer as músicas. Fique atento a isto e
saiba que o sucesso na escolha destas pessoas é o primeiro passo
para se formar uma boa banda.
O frontman
O frontman ou frontwoman significa, literalmente, homem ou mulher da frente. Em uma banda, o frontman é o vocalista. Quando a
banda é instrumental, o frontman passa a ser um outro músico, geralmente o guitarrista e, em alguns casos, o baixista. Claro que podem existir outras formações em que o frontman seja um outro
músico, mas em 99% dos casos ele é o vocalista e é desta figura que
falaremos agora.
O vocalista se destaca no palco por ser ele que interage com o
público. Ele é a ponte de comunicação da banda com a sua audiência. Mesmo que a banda faça músicas em idioma estrangeiro, a voz
humana ainda é o instrumento mais facilmente reconhecido pelo
nosso ouvido.
Escolher os membros de uma banda é difícil, mas escolher um
vocalista é ainda mais complicado. Primeiro porque existe um certo
mito de que o vocalista não precisa estudar seu instrumento (sua
voz), porque ele já nasce com o dom de cantar, ao contrário dos outros músicos que passam horas a fio se aperfeiçoando. Essa história
de dom é uma bobagem e o vocalista tem que treinar tanto quanto os
16
A Banda
outros. Precisa tomar aulas, aquecer sua voz antes de entrar no palco,
além de cuidar muito bem da sua saúde. Eu, particularmente, não
acredito em dom, acredito em trabalho e perseverança.
O vocalista tem uma tarefa árdua pela frente. Além de ser um
bom músico, ele tem que saber se comunicar bem, ter presença de
palco, desenvoltura e carisma. Carisma para despertar a simpatia e
a atenção das pessoas. Na religião cristã, o carisma é um poder
divino muito forte capaz de realizar milagres. Para nós, artistas, o
carisma é simplesmente aquele magnetismo inexplicável. A pessoa
que tem carisma consegue chamar a atenção de todos, mesmo que
esteja calada em uma sala. Esta pessoa tem um alto poder de persuasão, como um líder que é capaz de fazer com que todos ouçam a
sua opinião mesmo conhecendo menos sobre o assunto do que
qualquer um presente.
No palco, o frontman é o rei e seus súditos são o público. Pode
parecer uma coisa absurda e egocêntrica, mas não é. O frontman
deve se sentir poderoso quando está no palco, pois só assim pode
passar segurança para as pessoas. Mesmo que não seja um bom
cantor, ele precisa fazer com que as pessoas acreditem que seja.
Existem cantores que são bastante tímidos fora do palco, mas quando estão em ação, sua auto-estima se multiplica de tal forma que a
pessoa brilha naturalmente. Isto é presença de palco.
Existe uma linha muito tênue entre ser presente no palco e ser
esnobe. Um vocalista esnobe repele a audiência. O vocalista precisa
ter em mente que apesar de ser o rei do palco, quem o elege é o
público e ele (o vocalista) está ali por eles (o público). Se dentro de
um estúdio as músicas são feitas para satisfação dos músicos, no
palco a música é reproduzida para satisfação não só da banda, mas
também do seu público.
E por falar em público, existe aquela velha história de que: “ah...
mas eu só canto bem quando o público é bom, assim me empolgo
mais”. Bem, temos aí um caminho inverso de energia. A banda é que
deve começar a gerar essa energia que é repassada para o público
que, por sua vez, responde com mais intensidade e aí a banda melhora. Esse ciclo continua infinitamente e deve perdurar até o fim do
show. Se uma banda fica esperando que o público reaja para ela tocar
bem, o público vai ficar esperando que a banda produza essa boa
energia e assim vai ficar todo mundo parado e o show vai ser uma
Comunicação Subterrânea
17
grande decepção. O show é uma troca de energias e a banda tem que
dar o primeiro passo para que a troca de energia seja positiva.
O vocalista precisa não só cantar bem, mas nos intervalos das
músicas ele precisa falar com o público e esse momento é tão importante quanto as músicas. Não existe regra sobre o que falar, mas
o vocalista deve respeitar ao máximo o público e fazer com que a
platéia se sinta à vontade. Quantas vezes você já não viu um programa de televisão em que você sentia vergonha do apresentador? Às
vezes dá vontade de trocar o canal porque não conseguimos assistir
àquilo. O segredo para não causar essa sensação no público é: não
tenha vergonha de si mesmo e o público não terá vergonha de você.
Errar é humano e todo mundo pode falar alguma besteira no palco. Se isso acontecer, improvise e ria. Sim, rir é a melhor coisa porque
uma pessoa que ri de si mesma não pode ter vergonha de mais nada
neste mundo. Rir de si mesmo é um ato nobre e não deve ser suprimido em momento algum. Se o erro for muito grande, simplesmente fale:
“desculpe, eu errei, não é nada disto.” Esta é uma solução muito melhor e bem mais honesta do que qualquer outra coisa que você possa
fazer. Uma outra dica é: faça teatro. Música também é encenação.
O bom vocalista ou frontman deve saber a hora de se ocultar.
Existem momentos em que outro instrumentista irá solar, ou a música terá uma longa parte instrumental. Nestas horas o vocalista pode
ficar interagindo com o público ou se retirar do palco. Só não deve
ficar feito uma barata tonta no meio da banda, sem fazer nada. Deixar
os outros aparecerem revela a humildade do artista, é um ato nobre
que só vai reforçar o carisma e realçar o talento do vocalista.
Existem casos em que o frontman acumula as funções de
vocalista e instrumentista. A performance de palco será bem diferente, pois este frontman terá que ficar parado ante o microfone boa
parte do tempo. Tocar e cantar ao mesmo tempo é difícil, mas não é
impossível e pode conferir um status extra ao frontman, pelo fato de
conseguir executar as duas tarefas ao mesmo tempo.
Se você acha que ser vocalista é só cantar, veja então quantas
coisas precisa ainda saber? Isto não é fácil de jeito nenhum. Achar
alguém com este perfil é difícil mas não impossível. Ninguém nasce
sabendo. Se o vocalista tem o mínimo de talento e o máximo de
vontade de trabalhar ele vai conseguir superar as dificuldades e
crescer a cada dia.
18
A Banda
Comunicação interpessoal
Todos os componentes têm que saber tudo que está acontecendo
na banda. A falta de informação é um grande problema para qualquer grupo que trabalhe junto. Mais uma vez, cabe ao líder repassar
as informações para os componentes da banda.
Talvez a melhor opção para a comunicação interna de uma banda seja criar uma lista de e-mails. Existem inúmeros serviços de
criação de grupos como yahoogroups.com.br, grupos.com.br etc. Há
também a opção de você simplesmente escrever um e-mail e mandar cópias para os outros integrantes.
O e-mail é mais prático do que o telefone porque muitas vezes
as pessoas não podem ficar ao telefone porque estão no meio de
um trabalho. Além disso, é mais fácil de entender a mensagem que
você lê em casa do que algo dito em minutos ao telefone. Por outro
lado, o telefone é bastante útil para passar recados urgentes como
mudança de horário de ensaio ou passagem de som.
A grande questão aqui é que não adianta nada você se comunicar
se os outros não querem ouvir. Para minimizar estes “ruídos” na comunicação, as pessoas têm que estar com o e-mail funcionando e com os
telefones ligados. Ou então, elas devem ligar umas para as outras para
saber o que está acontecendo. Não tem coisa mais irritante do que
chegar ao ensaio e descobrir que ninguém sabe de nada porque o email está com problema e o telefone caiu na piscina. O líder tem a
obrigação de passar todas as informações relevantes, mas os companheiros têm que correr atrás das informações, caso os seus instrumentos de comunicação não estejam funcionando corretamente.
Toda banda deveria marcar reuniões pelo menos uma vez por
mês. Isto porque, muitas vezes, os músicos só têm contato durante o
ensaio este é o momento de tocar e não de falar. As reuniões servem
para reforçar as informações passadas por e-mail, discutir os problemas e dificuldades da banda e planejar os objetivos futuros. Antes das
reuniões faça uma pauta com os assuntos a serem discutidos e passe
para as pessoas com antecedência. Marque as reuniões em um lugar
arejado, tranqüilo e silencioso e depois de tudo acertado, saiam para se
divertir juntos porque vocês também são filhos de Deus.
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Ensaios
O
s ensaios são a comsa mais valiosa da banda, depois dos próprios músicos. Ensaiar é se preparar para ser uma banda melhor e
não conheço nenhuma banda profissional que não ensaie pelo
menos três vezes por semana, aliás o ideal é ensaiar todo dia e
descansar nos fins de semana.
Como, normalmente, os componentes da banda têm outra
atividade profissional, ensaiar todos os dias fica muito cansativo
e também muito caro. Os ensaios precisam ser agendados pelo
menos uma vez por semana. Se possível, duas vezes. Neste caso,
separe os ensaios por um intervalo de tempo razoável: marque
um na quarta e outro no domingo, por exemplo. Não adianta
marcar o ensaio sábado e domingo e ficar a semana toda sem
tocar. O bom é ter regularidade.
Juntar quatro ou mais pessoas para ensaiar é uma tarefa árdua.
Todos têm outras atividades e a conciliação dos horários é uma
loucura. Só que se você e sua banda querem chegar em algum lugar,
é preciso fazer sacrifícios e o ensaio deve ser mais importante do
que o churrasco com a namorada e o casamento do seu primo. Estabeleçam dia e horário para o ensaio e sigam este cronograma com
afinco. Todos os membros têm que ter uma coisa bem clara na cabeça: nada é mais importante do que o ensaio, a não ser a saúde de
vocês. Então, as justificativas para faltar um ensaio marcado com
antecedência não existem. Mais uma vez, esqueça os compromissos do dia, falte as aulas, dê um jeito no trabalho e se vire. Banda
não é brincadeira.
Claro que existem situações extremas em que você vai precisar
faltar, principalmente com relação a problemas de saúde. Neste caso,
os membros da banda vão entender essa situação. Afinal, uma pessoa doente vai tocar mal e o ensaio vai ser ruim. Por experiência
20
Ensaios
própria, posso dizer que essas situações são muito raras e dificilmente vão atrapalhar o andamento dos trabalhos. As pessoas ainda
faltam ao ensaio por preguiça e se esse for seu caso, você não está
preparado para lidar com uma banda.
Ensaiando corretamente
Nada de ficar falando muito no ensaio. Vocês podem conversar e
contar piadas depois de tocar. Geralmente os ensaios duram três
horas, mas se vocês terminaram de tocar tudo e ainda sobrou tempo, dá para diminuir para duas horas.
Ensaiar é simplesmente repassar as músicas prestando atenção aos detalhes. Todos devem ser muito exigentes consigo e com
os outros. As pessoas devem ter serenidade para ouvir as críticas e
os elogios com a mesma tranqüilidade. É importante que cada um
tenha consciência e se concentre no que está tocando, para identificar e corrigir seus erros evitando que seus companheiros sejam
obrigados a falar sobre as mesmas falhas a todo momento. Ser criticado o tempo todo é uma coisa chata e pode desestimular. Gravar
alguns ensaios e se ouvir em casa também é uma boa opção.
Talvez o músico que sofra mais no ensaio seja o vocalista. Ninguém consegue ficar cantando duas ou três horas seguidas e continuar afinado e com punch. Divida o ensaio em duas partes: na primeira o vocalista entra em ação e na segunda vocês só fazem instrumental. Isto é legal também porque dá para perceber os detalhes da
parte instrumental com mais clareza.
Se todos os detalhes já foram passados e repassados, vocês
podem fazer um ensaio com clima de show. Desliguem as luzes,
preparem o set list e toquem as músicas em blocos de três ou quatro.
Nos intervalos, falem como se estivessem falando com o público,
anunciando as músicas para eles. Pode parecer coisa de maluco,
mas é muito útil já que por mais simples que um show seja, vocês
sempre vão errar muito mais do que no ensaio.
Por fim, saiba que o objetivo do ensaio é deixar a banda pronta para qualquer show. Como vocês nunca saberão quando serão
convidados para um show, estejam prontos, porque a desculpa de
que a banda não está pronta só é aceitável para quem não ensaia
regularmente. Estejam prontos, sempre.
Comunicação Subterrânea
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Tirando o som no estúdio
É bastante difícil encontrar estúdios de ensaio com um bom preço e
bom equipamento. O mais comum é encontrar os amplificadores
de guitarra e baixo bem surrados e o som geralmente sai muito
embolado. Para complicar ainda mais, alguns estúdios contam com
técnicos que não sabem mexer direito no equipamento.
O baterista é o músico que mais sofre porque a bateria é o
equipamento mais maltratado de um estúdio de ensaio. Imagine
que por ali já passaram dezenas ou centenas de músicos que batem
alucinadamente naqueles tambores. Tem gente que sabe tocar forte
sem estragar o equipamento, mas a maioria toca instintivamente,
sem ter a mínima noção do que está fazendo.
Também em relação aos bateristas, ainda não inventaram um
botão de volume para eles e isso é uma coisa muito grave. Como
boa parte dos bateristas não pode tocar alto em suas casas, para não
incomodar os vizinhos, é no estúdio que eles descem a madjeira.
Com a bateria sendo tocada num volume absurdo, os outros músicos não vão se ouvir e elevarão o volume dos respectivos instrumentos. E aí como os amplificadores são ruins, o resultado vai ser
um barulho dos infernos onde ninguém vai entender “lhufas”, sequer uma nota.
Moderação é a palavra-chave na hora de ensaiar. Peça para o
baterista maneirar um pouco (eu sei que é difícil, mas não custa
tentar) e não aumente demais o volume do seu instrumento. Não
dificulte as coisas e torça para que um dia seja inventado um botão
de volume para o baterista.
Cuidados com a audição
Vocês já devem ter percebido que o barulho dentro de uma sala de
ensaio é muito superior ao limite da nossa audição. Quando a gente
é jovem, não sente dor e não percebe a perda da audição, mas se
você não ficar atento a isso, poderá em 10 anos ter graves problemas de audição e até ficar surdo. Portanto, proteja os seus ouvidos.
Eles são valiosos para você e se ficarem danificados não dá para
comprar um novo par na loja. Uma vez instalado o processo de
perda de audição, a tendência é piorar.
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Ensaios
Tudo começa com um zumbido atormentando durante o dia
posterior ao ensaio ou show. Depois de um dia ou dois este zumbido passa. Com o tempo o ouvido se habitua com o zumbido e não
percebemos que ele demora cada vez mais para desaparecer. É primeiro sinal da perda de audição. O processo de surdez começa,
geralmente, nas freqüências agudas. Um bom indicativo é você prestar atenção se algo estranho acontece quando você atende ao telefone. Se você estiver com dificuldade de entender o que a pessoa
fala, sua audição já está ficando prejudicada. Assim que perceber
um destes sinais procure um especialista, um otorrinolaringologista.
Só o médico pode lhe orientar a fazer os exames específicos necessários para avaliar o nível da lesão, se for o caso, ou o grau de
traumatismo causado no ouvido . Existem vários testes para medir
a perda de audição e um deles é a audiometria. Só depois de uma
avaliação o médico poderá dizer quais os cuidados que você deverá tomar para proteger seus ouvidos. Se você não sente nada, melhor tomar cuidado. Comece a usar um protetor.
Existem vários modelos, com preços variados, de protetores
para os ouvidos. O uso desta proteção vai alterar um pouco a sua
audição mas, com o tempo, você vai se acostumar. É melhor passar
por esse incômodo do que correr o risco de perder o que um músico como você tem de mais precioso: os ouvidos.
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Compondo Músicas
O
grande barato de se fazer música é que por mais que existam as
teorias, fórmulas e dogmas, não há regra para se compor. Desde
o princípio, use o máximo de tempo possível para criar suas músicas porque elas são muito importantes para a banda, talvez o mesmo nível de importância que têm os seus componentes. Com o
tempo, sua música pode até ficar mais importante do que você,
autor. A idéia é essa.
Uma banda só existe com um material gravado. Eu poderia ser
romântico aqui e falar sobre os shows, seu público cativo etc. Mas, a
não ser que você seja o Iron Maiden no começo da década de 1980,
o seu público de show ainda é muito pequeno. Com algum material
gravado, mesmo que seja uma demo-tape (mais tarde veremos que
não vale a pena isto ser feito), as pessoas podem ter a sua música
em casa. Isto é extremamente importante. A partir do momento que
sua música se torna pública, as pessoas querem ter esta música.
Pelo menos as que gostam do seu estilo. Elas só podem adquirir
suas músicas se estiverem gravadas em algum lugar, de preferência
bem gravadas, é claro.
Num show, as pessoas ouvem, interagem, mas não têm a oportunidade de ouvir de novo, no conforto do lar e na hora que quiserem. A não ser que você seja um mago da composição (e esteja
tocando em um local com som excepcional), ninguém vai lembrar
das suas músicas uma semana depois de ter ido ao show. Ao gravar
um CD, – vamos descobrir logo mais como fácil fazer isso – qualquer banda iniciante terá um suporte fundamental para imortalizar
seu trabalho, tornando-o disponível a qualquer momento, para
quem quiser ouvir.
Conheço bandas que existem há mais de 10 anos e gravaram
seu CD somente em 2003. Se elas tivessem gravado com dois ou três
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Compondo Músicas
anos de existência, provavelmente estariam bem melhor. Portanto,
a primeira coisa a se fazer é gravar um CD, só que antes vocês precisam de músicas e é disto que vamos falar: a composição.
Na verdade eu tinha começado a falar sobre isto no começo do
capítulo, mas resolvi abrir este pequeno parêntese para mostrar a
importância de ter algum material gravado. Isto não quer dizer que
não seja importante tocar ao vivo, muito pelo contrário, mas você
precisa de um disco para ver a coisa começar a acontecer de forma
mais consistente.
Como já disse anteriormente, não existem regras para compor.
Entretanto, existem algumas coisas que são básicas, das quais vamos falar agora.
Afinação
Uma música desafinada é terrível.Mesmo que isto seja tão básico é
um erro freqüente em 99% das bandas iniciantes. Às vezes, os próprios membros da banda não sabem que estão desafinados. Outras
vezes sabem, mas ficam com receio de falar para não constranger o
amigo. Esta situação pode ser resolvida com senso crítico aguçado,
muita atenção na hora do ensaio e com o auxílio de um bom produtor musical.
O primeiro passo para não descuidar da afinação é usar um
afinador (de preferência o mesmo) para afinar baixo e guitarras.
Muitas pedaleiras multiefeitos já vêm com este dispositivo, mas o
bom mesmo é comprar um bom afinador e mandar bala. Afine seu
instrumento antes e depois do ensaio. Se a coisa estiver feia, afineo entre as músicas, mas não torne isso um hábito. Em um show, você
não vai parar tudo para ficar afinando seu instrumento a toda hora.
Aí você pergunta: “ah... mas e se ele desafina, eu vou deixar ele
desafinado?” Caso o seu instrumento esteja assim trate de regulá-lo
de três em três meses, compre cordas de boa qualidade e mantenha-o limpo. Leve-o regularmente a um luthier para fazer a limpeza
e os ajustes necessários. Se mesmo assim o instrumento continuar
desafinando, venda-o e compre um melhor.
Resolvida a questão dos instrumentos, vamos para a voz. Essa
é talvez a coisa mais difícil de afinar porque não há casas para apertar nem notas fixas. A voz é extremamente versátil e livre e, por isto
mesmo, difícil de se utilizar. O vocalista precisa ter um bom ouvido
Comunicação Subterrânea
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e estar atento a pequenas sutilezas, deve estudar e saber ouvir. Precisa levar em conta as opiniões dos outros músicos porque, na hora
da empolgação, nem sempre a gente percebe que está desafinado.
Se o seu vocalista ou você mesmo não aceitam esse tipo de crítica,
desista de fazer uma banda e monte uma lan-house. Para mais informações, leia o Capítulo 1 novamente.
Existem detalhes mais sutis e não menos importantes como os
solos e a própria estrutura harmônica das músicas, que muitas vezes passam desapercebidos. Aqui encaixamos o produtor. Tem que
ser alguém experiente e que tenha conhecimento musical para perceber possíveis erros harmônicos nas músicas. No caso de dúvida,
não tenha vergonha de perguntar e sempre que possível consulte
seu professor e/ou um amigo com mais experiência.
Outra questão que deve ser salientada é que a afinação é uma
característica social e histórica. Em outros tempos as pessoas não
utilizavam determinados intervalos por que “não soavam bem” aos
ouvidos daquela época. Intervalos de terças, então, nem pensar.
Hoje quase todos os arranjos de música pop são feitos com intervalos de terça. Amanhã as pessoas podem começar a usar mais sextas
e por aí vai. O ouvido acostuma perceber certos intervalos e eles se
tornam “padrão” para a época. Qualquer acorde que soe diferente
será considerado “desafinado” e vai repelir as pessoas. Mas são justamente esses pequenos detalhes que, se utilizados corretamente,
podem fazer sua música se destacar. Conheço muita gente que não
gosta de Björk porque acha que ela canta estranho ou até mesmo
desafinada. Bem, desafinada com certeza ela não é, estranha eu até
concordo, mas é uma artista singular e vende muitos discos. Vamos
nos aprofundar um pouco mais sobre isso mais adiante.
Coesão, uniformidade e silêncio
Banda não é um monte de gente tocando coisas diferentes. Numa
banda você não está tocando sozinho, portando tem que pensar no
grupo e dar atenção ao que acontece ao redor. Tocar numa banda é
estar sempre atento ao que o outro está fazendo e saber “colar” seu
instrumentos com os demais.
O baterista deve manter um ritmo constante, não descuidando
um só minuto, porque ele é a base de toda a banda. Se o ritmo
estiver variando muito, use um metrônomo nos ensaios. Você pode
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Compondo Músicas
ligar o metrônomo em linha, num amplificador de guitarra ou num
teclado. Tocar com metrônomo nos ensaios é chato, mas é fundamental para ter músicas com andamento constante.
Se você tem uma banda de rock e quer tirar um som pesado,
saiba que a coesão é a coisa mais pesada que existe. Baixo, guitarra e bateria tocando uma mesma música soam mais pesadas
do que qualquer instrumento isoladamente. Exatamente, “qualquer” um. Talvez seja este o grande lance que a maioria das bandas iniciantes não percebem. No começo todos querem tocar um
pouco mais, solar um pouco mais e fazer mais firulas. Mas poucos sabem fazer isso bem e com consciência. Às vezes o solo é
legal mas o baterista está em outro mundo e o baixista está fazendo um slap superagudo. Alguém tem que perceber o que está
acontecendo! Quem deve aparecer nesta hora? Porque todos ao
mesmo tempo não vai dar certo. O segredo é saber a hora de
tocar e a hora de segurar a onda. Se o guitarrista sola, a levada
tem que ser simples para deixar o instrumento soar. Se o vocal
está cantando não adianta solar por debaixo dele por que ninguém vai entender “lhufas”. Aliás, precisa mesmo ter solo de guitarra em todas as músicas?
O silêncio é vital. Um som seguido de um silêncio causa muito
mais impacto do que o som em tempo integral. Ouça Sad But True,
do disco preto do Metallica. Um riff supersimples, uma levada de
bateria e baixo mais simples ainda e um peso absurdo!!! Mesmo
ouvindo as bandas de hoje em dia que têm acesso a recursos
tecnológicos mais recentes, o peso de Sad But True continua
inacreditável. E o que é que temos ali: uniformidade e silêncio. Quando todos tocam com a mesma levada, o silêncio entre os riffs faz
com que cada nota seja ainda mais importante.
Mesmo se levarmos em conta as bandas progressivas e com
estruturas mais complexas, os músicos tocam para o conjunto e não
para si mesmos. Se uma levada de bateria é complexa, a guitarra e o
baixo “colam” nessa levada e tudo funciona maravilhosamente. Lembre-se que a quantidade de notas não é importante, o que importa
é a qualidade com que elas são tocadas.
Symphony of Destruction do Megadeth é um clássico absoluto
do heavy metal e tem um riff que usa três notas. Mas eu duvido que
alguém se esqueça desse riff. O importante é que sua música fique
Comunicação Subterrânea
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na cabeça das pessoas, seja audível e não um emaranhado de notas
rápidas que as pessoas simplesmente não conseguem absorver.
Não estou dizendo que tudo deve ser simples e com poucas
notas, o que defendo é a coesão e harmonia. Se têm muitas notas,
sua banda tem que tocar estas notas bem e não cada músico querer
ter seu próprio arranjo. Isto é bem difícil, mas não impossível.
Quando alguém diz que fazer coisas simples é mais difícil, acredite. Quando estamos compondo, é muito fácil usar toda nossa técnica e fazer coisas mirabolantes. Mas o que importa é saber se toda
essa técnica é necessária para a música e se ela vai ficar melhor com
toda essa parafernália harmônica e rítmica. Uma última dica para os
virtuosos com memória curta: música é diversão (para quem toca e
para quem ouve).
Estruturas
Toda música tem uma estrutura, por mais estranha que ela soe. Na
hora de compor, você precisa saber decodificar esta estrutura e identificar as partes que a compõem. Vamos percorrer de forma simplificada
as partes mais importantes da música pop contemporânea.
! Verso – O começo da sua música. Você está preparando o ouvinte para entrar no universo da canção.
!
Bridge ou ponte – A música se torna mais excitante e o ouvinte
tem a sensação de que ela vai chegar no momento mais importante que é...
!
Refrão ou chorus – O clímax da música. Ele é chamado de chorus
em inglês porque é geralmente neste momento em que usamos harmonias com várias vozes, para dar um destaque especial a esta parte da música.
Existe uma “fórmula” básica da música pop que utiliza a seguinte ordem das partes: Verso, ponte, refrão, verso, ponte, refrão e refrão. No fim isso vai dar mais ou menos uns três minutos e meio.
Isto parece uma coisa meio burocrática e mercantilista, mas 99%
das músicas que você ouve têm uma estrutura muito semelhante a
esta “fórmula”. Nem por isso são parecidas. O segredo aqui, mais uma
vez, é simplesmente fazer o melhor que puder em cada uma das partes. Se estiver a fim de usar este esquema básico, faça um bom verso,
uma boa ponte e um refrão animal. No final, a música ficará boa.
28
Compondo Músicas
Mais uma vez eu repito: não existe regra para música. Você tem
toda a liberdade para criar as estruturas mais alucinantes do mundo, mas saiba o que está fazendo. As pessoas já têm um ouvido
predisposto a ouvir determinadas estruturas musicais, mas isso não
quer dizer que você tenha que ficar preso a estas estruturas. Só não
adianta tentar fazer algo completamente esdrúxulo e depois se perguntar porque ninguém gosta da sua música. Tente achar um balanço nas estruturas de forma que suas músicas não sejam muito “lugar comum” mas continuem audíveis.
A repetição é algo que está presente em quase todas as canções
pop. Repetir é legal porque se uma parte é boa ela deve ser realmente
repetida. Mas não exagere. Repetir o refrão mais de quatro vezes pode
ser um pouco cansativo, mas tudo depende de como você quer passar sua música. Por outro lado, repetir pouco pode deixar sua canção
um pouco menos acessível, já que as pessoas não vão ter muita familiaridade com as partes em uma primeira audição. Mais uma vez entra a história da moderação: ache o meio-termo eficiente entre repetição e mudança e você terá uma boa música em mãos. O importante
é ter músicas que conquistem o ouvido do seu público.
Algumas bandas de heavy metal têm músicas com partes que se
repetem muito pouco, mesmo assim não deixam de ser boas músicas. O Megadeth gravou álbuns clássicos como Peace Sells e Rust In
Peace e as músicas contidas nestes álbuns não seguem um padrão
clássico de estrutura musical. O que vemos ali é uma sucessão de
excelentes partes que quase nunca se repetem em momentos posteriores.
Por outro lado, existem bandas que fazem uma música inteira
com apenas um riff de guitarra e tudo se desdobra a partir daquele
daí. Um exemplo clássico é Enter Sandman, do álbum preto do
Metallica. Um clássico absoluto que vendeu milhões de discos no
mundo inteiro. Custou apenas um riff.
Para os guitarristas, aí vai uma dica: um bom riff é muito valioso. É muito difícil criar riffs bons e originais hoje em dia e você
precisa guardar todos os seus bons riffs com muito carinho. Seria
muito irracional usar todos os seus bons riffs em uma só música.
Afinal, você precisa criar dezenas, centenas de músicas boas e se
você usar todas as suas idéias em uma música, as outras não serão
tão boas. Use bem as suas idéias.
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No final das contas, o que interessa é que você conheça muito
bem as pessoas que vão ouvir o seu CD. Assim você pode saber
como organizar suas músicas de forma que seu público seja cativado. A forma mais fácil de fazer isso é compor algo que você goste e
que se sinta orgulhoso. Se você for um fã da sua música, outras
pessoas serão, mesmo que sejam poucas.
Pronúncia
Se a banda canta em uma idioma estrangeiro, certifique-se de que a
pronúncia e a ortografia estejam corretas. Entregue as letras para
um professor ou pessoa mais experiente e peça que as corrija. Não
se esqueça de que você pode precisar pagar por este trabalho e não
adianta fazer as revisões com “o irmão de sua namorada que saca
muito”. Procure um profissional, de preferência mais de um e tenha
certeza de que suas letras foram bem revisadas.
Os erros no encarte são inevitáveis. Sempre vai aparecer uma
besteirinha que vocês nunca tinham percebido mas quando está lá
no CD se transforma num elefante e todo mundo se pergunta por que
isso não foi visto antes. Para minimizar estes erros, faça com que
muitas pessoas leiam as letras antes de mandar o CD para fábrica.
Falar fluentemente um idioma é conseguir pensar neste idioma, sem fazer traduções. Conheço pessoas que moraram no exterior e não falam lhufas do idioma e conheço pessoas que nunca sairão do Brasil e falam maravilhosamente bem outros idiomas. Também já vi pessoas que não falam um idioma estrangeiro, mas cantam muito bem este idioma.
Cantar é muito diferente de falar, a não ser que você seja um
cantor de rap. A dica é ouvir muitos discos em idiomas diferentes,
ao cantar vocês identificam as particularidades do idioma. Cada
estilo de música tem sua própria maneira de cantar e se você não
perceber isto vai soar exatamente do jeito que você não quer: um
estrangeiro tentando cantar em um idioma não-nativo.
Os nativos de uma língua percebem com facilidade se uma pessoa é estrangeira ou não. Se cantar em outro idioma te dá possibilidade de trabalhar com sua música fora do Brasil, lembre que é uma
tarefa muito difícil porque exige um conhecimento profundo da
sonoridade do idioma. Além de cantar, você terá que dar entrevistas
neste idioma e falar com o público.
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Compondo Músicas
Um bom frontman deve saber se expressar bem não só no seu
idioma, mas nos idiomas em que canta. Se tudo der certo, a banda vai
tocar pelo mundo inteiro e mesmo que o inglês seja um idioma bem
difundido, as pessoas não se comunicam no dia-a-dia somente em
inglês. Na França, Japão e Alemanha, não adianta falar inglês num
show. Aprenda a falar um pouco de cada idioma e comunique-se
com o público falando o idioma local. Isto faz uma grande diferença.
Originalidade
A originalidade é uma característica importantíssima de sua música
e deve ser tratada com atenção especial. Estamos numa época em
que o seu CD pode estar do lado do CD do Iron Maiden numa loja
de discos e as pessoas vão ter que escolher entre a sua pequenina
banda e as bandas clássicas que vendem milhões.
Investir em originalidade é fazer sua banda se tornar visível no
oceano do mercado fonográfico. Você não precisa reinventar a roda
para ser original, basta ter um pouquinho de atenção e ser honesto
consigo mesmo.
A primeira coisa que um bom compositor deve fazer para ser
original é ouvir de tudo. Quando digo tudo, é tudo mesmo. Do pagode do rádio ao último disco de Britney Spears. Você não pode estar
alheio a nada e tem que ouvir as coisas antes de dizer que não gosta.
Conheço muitas pessoas que dizem que não gostam de um determinado estilo, mas quando mostro uma música sem dizer que banda é, eles gostam. Mas é só dizer que é a banda “X” que ele não
gostava e lá vem aquela cara de espanto e vergonha.
As pessoas dizem que não gostam de rotular sua música, mas
na verdade a maioria delas não ouve música, ouve rótulos. “Eu ouço
heavy metal, ouço indie, ouço alternativo.” E tudo que não pertencer
a estes rótulos não presta. Isso é de certa forma compreensível porque no começo você mesmo precisa criar sua identidade e se integrar num grupo, e por isso você veste a camisa de um determinado
estilo.
Com o passar do tempo, não há necessidade de se afirmar sempre e você descobre que existe muita coisa boa fora do seu mundinho
anterior.
Ouvir de tudo é importante por dois motivos:
Comunicação Subterrânea
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1.
Dá oportunidade de comparar sua música com outras. Você só
saberá se está sendo original caso tenha ouvido outras músicas. Muitas vezes você pode estar se achando original mas o
Led Zepellin já fez isso há 20 anos.
2.
Estimula a criatividade. Ouvir diversas músicas amplia o seu
vocabulário musical, mesmo que você não toque estes estilos.
Você pode utilizar as coisas que ouve em outros estilos para
incrementar sua própria música sem descaracterizar seu som. Marty
Friedman, por exemplo, é um guitarrista de heavy metal. Já tocou no
Megadeth e agora tem sua carreira solo. Marty é um viciado em
música oriental e você pode perceber isso nas melodias e na estrutura das suas músicas e nos solos do Megadeth. Você pode até não
gostar dele, mas não pode negar que ele soa como poucos. As influências de música oriental fizeram Marty tocar melhor heavy metal.
Não vamos exagerar e deixar de ouvir o heavy metal (ou seu
estilo preferido) e começar a ouvir outras coisas para deixar o som
original. Não. Você tem que ouvir o seu e os outros estilos. Não deve
se ater mais a nenhum dos lados e tem que estar atento a tudo. Seja
original na sua busca, ou vai acabar se descaracterizando e seu público não vai mais reconhecer seu som. Se por outro lado você só
ouve o seu estilo, vai ser difícil criar algo original e que seja relevante no mercado musical.
Os bons compositores ouvem de tudo, mesmo que digam que
só ouvem determinado estilo. Eles estão ligados a tudo e sabem
que não ouvir de tudo é ser passado para trás. Você não precisa
seguir tendências, mas precisa saber o que está acontecendo. Tocar
um som só porque é moda é uma roubada que na maioria das vezes
não dá certo. Se a moda for sertanejo, você começa a compor as
músicas, grava e lança o CD. Este processo dura no mínimo uns
nove meses. Se a moda for alterada, seu CD não vai vender “lhufas”.
Mas se você gosta de sertanejo e deseja tocar essas músicas.
Toque. Mesmo que não seja a música do momento, porque você vai
estar fazendo as coisas com o coração e isto aparece no disco. Dá para
sacar quando alguém está fazendo algo somente pelo dinheiro.
Cada pessoa tem um estilo próprio de tocar. Estilo é a forma
com a qual você apreende as músicas e o jeito como as executa.
Como as pessoas são diferentes, elas têm estilos diferentes. Apren-
32
Compondo Músicas
da a se conhecer e perceba seu estilo. Quando você conseguir fazer
isso, vai soar original facilmente.
Com o tempo, e depois do primeiro CD lançado, você terá a
difícil tarefa de se reinventar. Se ficar gravando sempre o mesmo
estilo de CD, seus fãs ficarão satisfeitos, mas você não ganhará novos fãs. Se a mudança for drástica, você perderá seus antigos fãs,
mas ganhará novos adeptos. O segredo é mais uma vez achar o
meio termo. Mude seu som um pouco de forma que ele não descaracterize seu estilo, o importante é que não seja cópia do CD anterior. Talvez esta seja a tarefa mais difícil de uma banda e poucas conseguem fazer isto bem. Se você um dia conseguir, sua banda será
um sucesso.
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Shows
O
s shows são tão importantes quanto os discos. É no momento
do show que as pessoas têm oportunidade de conferir o som de
sua banda ao vivo e avaliar se vocês são bons ou não. Sendo uma
banda independente, boa parte dos seus CDs vão ser vendidos
nos shows.
Uma boa banda precisa tocar muito ao vivo. Por mais que vocês
ensaiem e que estejam entrosados no estúdio é ao vivo que as coisas realmente acontecem. Nos shows vocês sempre erram as coisas
mais banais e acontecem as coisas mais inusitadas. Em um show a
Lei de Murphy está sempre presente e vocês precisam subir no palco com a maior calma possível, procurando administrar bem os
eventuais problemas que surgirem. Vocês não vão resolver nada se
estiverem estressados na hora do show.
Mesmo que os CDs sejam uma parte importante na carreira, a
importância dos shows é imensa e empata com a das gravações. No
show rola mais grana, existe um contato com o público e vocês podem perceber na expressão das pessoas se elas gostaram ou não
das músicas.
Não custa nada repetir: como vocês são uma banda independente, não vão ter uma boa distribuição dos CDs e os shows são os
locais onde venderão mais material. Quanto mais material de
merchandising tiverem (camisas, bonés, palhetas), melhor será.
Equipamentos
Seria ingênuo vocês acharem que sempre terão bons equipamentos para tocar ao vivo, ainda mais aqui no Brasil onde as coisas
ainda estão muito atrasadas. Lembra do caso do estúdio, em que
vocês só tocavam com equipamento surrado? Nos shows a tendência é que aconteça a mesma coisa, a não ser que vocês estejam
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Shows
tocando em um festival de grande ou médio porte. Aliás, nem neste
último caso as coisas funcionam tão bem.
Nada impede que vocês aluguem ou até mesmo comprem seu
próprio equipamento. Vocês precisam ter bons instrumentos e bons
amplificadores. Se não tiverem, aluguem. Devem tentar conseguir
os telefones de amigos que possuem bons amplificadores e boas
baterias e aluguem este material. Não existe nada pior do que chegar em um show e tocar numa bateria “armengada” e em amps ridículos. Com certeza o seu show não vai ser bom e o público vai sacar
isso. Não adianta culpar a produção porque isto não interessa ao
público, a imagem negativa será da banda.
O vocalista também precisa ter seu equipamento em ordem. Já
que não gasta dinheiro com guitarras, cordas e baquetas, pode muito
bem comprar um bom microfone. O Shure SM58 custa aproximadamente 100 dólares e é um investimento mínimo para qualquer
vocalista que se preze. Se reclamar, diga-lhe que qualquer outro
instrumentista do grupo gasta muito mais do que 100 dólares para
poder tocar na banda.
Passagem de som
A siga PA significa Public Address. Traduzindo ao pé da letra significa
endereçado ao público e são aquelas caixas de som enormes que
ficam ao lado do palco. É de lá que vai sair o som dirigido ao público.
Qualquer banda que queira ser profissional precisa ter um bom
técnico de PA. Este técnico é aquele que comanda a mesa de som
que fica à frente do palco, ele simplesmente vai deixar o seu som
audível para o público. Não confiem no técnico que estará disponível na hora do show. Contratem um em que vocês confiem. Caso
não conheçam um bom técnico de PA, conversem com amigos que
já tocam em bandas maiores e peçam indicações.
O técnico de som é parte integrante da banda, e vai auxiliá-los na
hora da passagem de som. A passagem de som é a regulagem de cada
instrumento separadamente. Normalmente inicia com a bateria, indo
depois para o baixo, as guitarras, os teclado e o vocal. Nesta hora, os
integrantes do grupo que não estiverem passando o som do seu instrumento devem ficar em silêncio. Tenham em mente que uma boa
passagem de som significa a possibilidade de um melhor show.
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Além do som que vai para o público, vocês precisam cuidar do
som em cima do palco e em 90% dos casos vocês não vão se ouvir
direito ou não vão ouvir os outros instrumentos. Mais uma vez,
peça auxílio ao seu técnico de som. Em bandas maiores, existem
dois técnicos: um para PA e outro para o monitor (som do palco).
Na hora de passar o som do palco, sejam bem razoáveis. Não
adianta querer ouvir todos os instrumentos e mais o vocalista em
toda a extensão do palco. Concentrem-se em ouvir apenas o necessário para tocar bem. Para o baixista: um pouco de guitarra, bumbo
e voz. Para os guitarristas, um pouco da guitarra do outro, bumbo,
caixa e voz. Para o vocal, guitarras e bateria. Isto não é uma regra,
peça auxílio ao técnico de som.
Lembrem-se que ninguém pode fazer milagres e vocês tocarão
com um equipamento “péba”, saibam disso. Passem o som com tranqüilidade. Procurem alugar o melhor que vocês puderem e façam
seu show.
Postura de palco
Um show é um espetáculo visual e sonoro. Vocês devem cuidar bem
das músicas e da performance. Não há nada mais chato do que ver
uma banda parada o tempo inteiro no palco.
Vocês não precisam ser modelos fotográficos para chamar a
atenção num show, basta tocarem com desenvoltura. Se vocês estiverem curtindo a música (pelo amor de Deus, se não gostarem dela,
não toquem), demonstrem.
Cada estilo sugere trejeitos próprios, um jeito especial de se
portar palco. A regra geral é que você deve se movimentar. Para
fazer isso com segurança, você precisa ter um nível de intimidade
com o seu instrumento, que te permita tocar e ao mesmo tempo se
movimentar, sem se atrapalhar. Treine em casa, tocando sem olhar
o tempo todo para o instrumento. Toque olhando para frente, imaginado que o público está diante de você.
Observem bastante as suas bandas preferidas e tentem criar
algo em cima da performance deles. Peguem vídeos, de preferência
piratas porque não têm muitos efeitos e cortes e observem com
bastante cuidado. Filmem os shows da banda. Não se preocupem
com o áudio neste tipo de filmagem, filmem apenas para observar
como se portaram no palco.
37
Marketing
V
ocês podem fazer o seu marketing com pouco dinheiro. Marketing
não é só para bandas maiores que têm contratos milionários
com grandes gravadoras. Todos podem fazer marketing e vão perceber que as coisas são muito mais simples do que parecem.
Em primeiro lugar, saiba que marketing não faz milagre. Conheço
muita gente que acha que basta ter dinheiro e acesso à televisão para
que a banda faça sucesso, como se fosse uma receita de bolo. Não dá
para negar que muita coisa que a gente vê hoje em dia é armação
completa das gravadoras, mas as armações não duram muito tempo.
Eu prefiro acreditar que o que sustenta uma banda por muito
tempo é a qualidade das músicas que ela produz. Uma banda demora muitos anos para se estabelecer no mercado, mesmo que tenha um bom suporte de marketing por trás. E, neste tempo, o público percebe quem está fazendo o que gosta e quem está ali só pela
grana. Claro que existem exceções para todos os casos, mas o público não é idiota.
Vocês podem até se dar bem fazendo uma “banda-armação”
mas no momento em que descobrirem que não passa de uma farsa,
o fracasso virá tão rápido quanto o sucesso. É bem mais vantajoso
construir a carreira aos poucos e com sinceridade. Vocês têm a
empatia do público e eles vão saber que podem confiar em vocês.
Sejam sempre sinceros com a sua arte e o seu público.
Uma banda como “Rouge” por exemplo foi um fenômeno de
vendagens em 2002 e ninguém pode negar que ela foi fabricada.
Mesmo assim, quero ver quem diz que as garotas não possuem
talento e carisma. Talvez elas não tenham pique para conduzir a
própria carreira sem auxílio de grandes mídias, mas elas já são artistas. Não foi a televisão que as transformou em artistas, elas já
eram assim, só precisavam de um empurrãozinho.
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Marketing
Vocês são pessoas de talento e já estão andando com as próprias pernas. O que vier é lucro. Não esperem muito e assim nunca se
decepcionarão.
Website
A internet é um meio de comunicação fundamental para a sobrevivência da banda. Pessoas de qualquer parte do mundo vão poder
entrar no site, ouvir suas músicas e mandar comentários. Isto inclui
também produtores, músicos de bandas famosas e donos de gravadoras. Por tudo isto, o site deve estar funcionando perfeitamente.
A primeira dica é: contratem um webdesigner. Se querem ser
profissionais, contratem um profissional. Pedir para o “primo da
namorada do amigo que saca muito de webdesign” criar o site é uma
roubada, a não ser que ele seja realmente um profissional da área,
caso contrário, ele cometerá erros que citaremos agora.
O site tem que ser visualmente agradável. Nada de colocar fonte preta com fundo cinza ou, então, fotos suas no background. Se
vocês tiverem uma direção visual já definida, o site tem que seguir
esta idéia. Geralmente os sites seguem um padrão de design semelhante ao das capas dos CDs. Fazer um bom design é muito importante e também muito difícil, por isto aconselho que façam com
profissionais. Se o site for feio, 90% das pessoas não vão navegar
mais do que 30 segundos nele. “Contrate um Designer!”
Se vocês não têm dinheiro para contratar um designer, não estão preparados para criar uma banda. Uma banda não é só fazer
shows e ensaiar, é gravar um CD, contratar fotógrafos, designers e
jornalistas. O CD é só o começo do trabalho que vocês vão ter.
Chegou a hora de reunir a galera e dividir os gastos da banda.
Não precisa nem de calculadora: pegue o valor total do designer e
divida pelo número de componentes da banda. Geralmente, um
site custa em torno de 1.000 reais. Com uma banda de cinco componentes, cada um vai pagar 200 reais. Não adianta chorar, banda gasta dinheiro e se você quer ter resultado, invista nela.
Um bom design de site não significa que ele seja cheio de gifs
animados e flash. Muito pelo contrário, as pessoas querem mais
informação e velocidade. Um bom designer tem que saber aliar leveza e diagramação para que seu site não vire um emaranhado de
imagens sem sentido.
Comunicação Subterrânea
39
O uso de flash deve ser muito cauteloso. As telas de abertura
(ou splash screen) são muito populares, mas não servem para muita
coisa. É muito comum que as pessoas queiram este tipo de introdução no site, porque dá um aspecto mais cinematográfico ao seu trabalho. Só que site não é cinema. Com o tempo, as pessoas que
acessam o site vão se cansar de ver aquele negócio a toda hora.
Mesmo que exista o botão para avançar, não faz sentido uma
pessoa que acesse o site constantemente ter que ficar clicando toda
hora para pular a introdução. A regra número um da web é: quanto
menos cliques, melhor. Deixe as informações disponíveis de forma
rápida e eficaz e evite muitas coisas que dificultam a navegação do
site. Isso inclui flash, frames, popups etc.
Não tem coisa mais irritante do que abrir um site e ter 200 janelas abrindo e dizendo “clique aqui para entrar”. Se eu já digitei o
endereço é porque eu quero entrar imediatamente e não ficar
clicando o dia inteiro esperando aparecer algo. Esse povo que acessa
a web é estressado mesmo e vocês têm que saber disso. Nenhum
dono de gravadora ou produtor terá paciência com um site difícil.
Façam-no simples, bonito e eficaz. Por isto contratem um designer.
Faça um menu de navegação simples, não inventem histórias
complicadas. Já entrei em um site que não sabia em que clicar porque o título das seções eram esdrúxulos. A seção em que estavam as
letras das músicas, por exemplo, chamava-se “pergaminhos do conhecimento”. Por favor, não façam isto. As pessoas não vão concluir
que suas letras são “pergaminhos” e vocês vão perder audiência.
Para resolver o problema, simplesmente chame a seção de “letras”.
Uma boa navegação geralmente tem poucos links. A banda não
é o submarino e vocês não precisam fazer submenus com milhares
de categorias. Para começar, uma navegação enxuta tenha as seguintes seções:
1. Notícias – Novidades sobre a banda e a agenda de shows.
2.
Banda – Biografia dos componentes e fotos.
3.
Discografia – Informações sobre o CD e “como comprá-lo”. Aqui
entra as letras e os MP3.
4.
Contato – Endereço completo, e-mails que funcionem e telefones.
É incrível como boa parte das bandas não disponibilizam o
contato de forma adequada. Se o e-mail for colocado como ferra-
40
Marketing
menta de contato, acesse-o todos os dias e não se esqueça de apagar a lixeira de vez em quando para não lotar a caixa postal. O endereço convencional precisa estar atualizado e, se possível, alugue
uma caixa postal em uma agência dos correios.
Um bom site tem que ser atualizado pelo menos uma vez por
semana. Não existe nada mais frustrante do que acessar um site e
perceber que ele foi alterado há um ano. As pessoas vão pensar que
a banda acabou. Estejam sempre atentos para colocar notícias da
banda logo na primeira página.
Se acham que não têm notícias suficientes, percebam que muita coisa pode ser notícia para o site. Se vocês estão ensaiando para
gravar o CD, as pessoas que acompanham a banda têm interesse
em saber disto, portanto é uma notícia que deve ser colocada no
site. Hoje em dia, as pessoas gostam de ler blogs pessoais. Se pensam que não tem nada para colocar no site, escrevam um pequeno
texto descrevendo o dia-a-dia da banda e atualize o site.
Se vocês pretendem alcançar o mercado internacional e/ou
cantar em algum idioma estrangeiro, o site deverá ter uma versão
em inglês ou espanhol. Não faz sentido colocar versões em muitos
idiomas, por que na prática é quase impossível atualizar todas as
versões do site. Concentrem-se no mais importante e nestes dois
idiomas que são os mais utilizados.
Corram das hospedagens gratuitas do tipo kit.net ou hpg. Elas
são lentas, cheias de banners e dão pouca credibilidade ao site. Geralmente os provedores de acesso dão um espaço gratuito de hospedagem para seus assinantes. Um site ocupa muito pouco espaço,
no máximo 1 MB, mas vocês vão precisar de mais alguma coisa para
colocar os MP3.
Aliás, se já tiverem MP3, disponibilize-os em boa qualidade.
Não adianta colocar um MP3 capenga de 30 segundos que todos
vão pensar que a banda é uma porcaria. Deixe de casquinhagem e
libere dois ou mais MP3s do CD. Escolha as melhores músicas.
Por último, comprem um domínio. Os domínios .com.br são
muito baratos, mas são um pouco burocráticos. É necessário ser
pessoa jurídica para obter o registro. Os domínios .com.br são
registrados no site registro.Br.
Os domínios .com são extremamente simples para se registrar.
Basta ter um cartão de crédito internacional e dinheiro no banco.
Comunicação Subterrânea
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Custam em média 50 dólares por ano e dão um status internacional
ao site. Já pensou vocês que nem a globo.com?
Existem outras extensões para domínio, mas aconselho que façam estas duas, simplesmente porque são as mais conhecidas.
Newsletter
Newsletter é o boletim informativo no qual serão contadas as novidades da banda.
Para começar, coletem os e-mails das pessoas interessadas em
receber estas informações. Nunca adquira estes pacotes de e-mail
que é vendido por aí. Primeiro porque isto é uma prática ilegal e
segundo porque vocês precisam direcionar os e-mails para as pessoas certas. Não adianta mandar 250.000 e-mails sendo que apenas
1.000 gostam do estilo que a banda toca. O segredo é selecionar os
e-mails, coletar diretamente das pessoas ou mesmo guardar os emails que as pessoas enviam para vocês. Fazendo isto, vocês terão
rapidamente um banco de dados totalmente personalizado e que
funciona. O melhor de tudo é que vão estar falando diretamente
com o público alvo, ou seja, com quem se interessa ou poderá vir a
se interessar pela banda de vocês.
Um bom newsletter deve ser curto e breve citando as novidades
da banda. Sempre coloque o endereço do site bem visível para que
as pessoas possam ler mais se o assunto for de interesse delas.
Definam uma freqüência para os newsletters. Uma vez por mês
é suficiente. Mais do que isto pode afastar as pessoas pelo excesso
de informações. Também não se ausentem por muito tempo, pois
as pessoas vão esquecer de vocês. Sempre coloquem uma forma
das pessoas saírem do newsletter e nunca as obrigue a ficar recebendo o material.
Cartazes
Um bom cartaz é uma mídia barata e eficiente. Se ele for bonito e
bem-feito, as pessoas vão parar imediatamente e vão ler tudo. Além
disso, vocês estarão divulgando a imagem da banda e imagem é
quase tão importante quanto a música.
Escolham lugares estratégicos para colar seus cartazes: estúdios de ensaio e gravação, bares, lanchonetes, lojas de CDs, locadoras
42
Marketing
de filmes e jogos ou qualquer outro lugar onde seu público freqüenta. Vocês não precisam fazer muitos cartazes para conseguir
visibilidade do seu público, basta escolherem os lugares certos.
Caprichem na concepção visual e na diagramação do cartaz e se
possível façam em tamanho A3 ou maior. Contratem um designer
para fazer este trabalho.
Para impressão, existem as gráficas rápidas que podem fazer uma
baixa tiragem de cartazes, mas o preço é um pouco alto. Em compensação, a qualidade é excelente e melhor ainda se vocês escolherem o
papel couché. Xerox colorida não funciona muito bem, a não ser que
a máquina seja bem nova. As melhores impressões acontecem nas
gráficas de grande porte, mas vocês precisariam fazer uma tiragem
razoável (no mínimo 1.000) para que o trabalho seja viável. A maioria
das gráficas nem aceita tiragens abaixo de 1.000 unidades.
Xerox em preto e branco só serve para pequenos panfletos,
sem foto e não é lá uma mídia muito atraente, mas é barata e prática.
Se estiver acontecendo algum grande show na cidade, aproveitem a
oportunidade para fazer uns panfletos e distribuam logo na porta.
Outra tática infalível é distribuir CDs com duas ou três músicas.
Ninguém rejeita um CD de graça e existe uma grande possibilidade
de conquistarem mais um fã, caso a pessoa goste das músicas. Esta
é uma prática muito comum na Europa. Lembrem-se que antes de
comprar suas músicas as pessoas precisam ouvir para saber se gostam. No começo, vocês terão que distribuir muita coisa de graça.
Isto se chama formação de público.
Mirc e listas de discussão
O Mirc é outra forma de divulgar a banda pela internet. É um programa de chat poderosíssimo e ainda tem a possibilidade de trocar
arquivos MP3. Geralmente as pessoas se abrigam em canais específicos para cada estilo musical e basta entrar nesses canais e pedir
para o OP (operador, ele tem uma @ antes do pseudônimo) colocar
a banda no topic (uma espécie de título do canal). O Mirc poderá ser
baixado em www.mirc.co.uk.
Se vocês participam de lista de discussão por e-mail ou fórum,
divulguem a banda! Aproveitem enquanto estas coisas ainda são
gratuitas. Mas não sejam chatos, não precisa falar da banda a toda
hora, tenham bom senso.
Comunicação Subterrânea
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Press release
O press release ou simplesmente release é o texto enviado para os
meios de comunicação. Muitos jornalistas sequer ouvem o disco,
começam primeiro a ler o release (ou vice-versa) por isto, o texto
tem que ser bem redigido. Para fazer o release contrate um jornalista
ou um estudante de jornalismo, porque um release é muito fácil de
fazer e é aprendido logo no começo da faculdade.
O erro mais comum nos releases que vejo é o de foco. Já li releases
em que as bandas só ficam se lamentando por não terem dinheiro,
por não terem de apoio promocional e por tudo ser tão difícil. Entendam uma coisa, release não é o muro das lamentações. Ninguém
quer saber o que não foi feito e sim das coisas que foram realizadas.
Todos sabemos que no começo se erra mais do que se acerta, com
todo mundo é assim!
As gravadoras não ficarão com pena de vocês falarem das dificuldades. Um release escrito de maneira errada pode reforçar a imagem de amador e vai ser uma propaganda negativa para a banda.
Além do que a pessoa já ouvirá o CD com uma carga negativa.
A banda já fez muita coisa boa, apenas acreditem nisto. Mesmo
que seja apenas um show, coloque este bendito show no release, ora
bolas!! Vocês não precisam encher a folha de papel com milhares de
informações. Mesmo que vocês sejam o Metallica, o release deverá
ter somente uma página.
O release deve trazer alegria, bem-estar, deve passar a imagem
de que a banda é ótima e vocês já são rockstars. Não minta, fale das
conquistas como algo importante e que vocês conseguiram com
muita luta. As coisas ruins vocês não precisam dizer.
O primeiro parágrafo pode ser um breve histórico da banda,
com o ano de formação e os integrantes. No segundo, fala-se dos
shows, das gravações e da repercussão que o trabalho obteve no
cenário artístico. No último, os planos futuros. Lembre-se que vai
ser necessário traduzir o release para o inglês, portanto contrate um
tradutor.
Ser jornalisticamente relevante
A queixa mais comum de 9 entre 10 bandas iniciantes é de que a
mídia (jornal, televisão e revistas) não dá espaço. Isto é parcialmen-
44
Marketing
te verdade. Mas vocês já tentaram entrar em contato com o jornal da
sua cidade? Mostraram o CD? Convidaram jornalistas para ir ao
show? Os jornalistas adoram ganhar convites para shows. Isto não
significa que a banda vá aparecer na primeira página do jornal no
dia seguinte, mas pelo menos vocês tentaram.
Claro que ainda existe preconceito, gente careta e chata trabalhando por aí. Mas vocês também não podem se fechar no seu
mundinho e ignorar os meios de comunicação. Conheço bandas
que se recusam a mandar um simples release porque acham que “a
mídia não dá espaço”. Bem, se não tentarmos aí sim não teremos
espaço.
Muitas pessoas pensam que para aparecer no jornal, televisão
ou rádio a banda precisaria pagar ou ter amigos jornalistas. Talvez
em alguns casos seja verdade. Existem jornalistas descarados que
cobram para a matéria sair, mas isso é uma prática criminosa,
antiética e sem-vergonha. O bom jornalista procura os fatos relevantes para colocar no seu veículo de comunicação. Procurar informação interessante é o “trabalho” do jornalista e por isto vocês não
precisam implorar para entrar no jornal, basta ser “jornalisticamente
relevante”.
Ser jornalisticamente relevante é ter realizado alguma coisa
que tenha chamado a atenção de muitas pessoas. Por isso precisa
produzir algo que seja novidade e que seja diferente do que geralmente acontece. Por exemplo: a banda de rock foi a primeira a
lançar um CD independente na sua cidade. Pronto! Isto já é um
fato relevante que pode fazer com que os jornalistas se interessem
em divulgar a banda. Claro que não vai sair uma matéria de capa e
sim uma notinha falando sobre isto. Com o tempo, vocês trabalharão mais os meios de comunicação e eles começarão a falar mais
sobre vocês.
O grande problema é saber identificar os fatos importantes e
relevantes que podem interessar aos jornalistas. É aí que entra a
Assessoria de Comunicação. Um assessor saberá “destacar” as informações no release da banda de forma a ser mais fácil aparecer na
mídia. Nenhum jornalista resiste a um release bem escrito, com informações legais e interessantes.
Contrate um assessor de comunicação.
Comunicação Subterrânea
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Fotos
Não preciso dizer que vocês precisam contratar um fotógrafo, não é
mesmo? Só ele sabe como utilizar bem a máquina fotográfica. Não
ache que tirar fotos é “só apertar o botão e segurar”. Precisa saber a
intensidade da luz, enquadramento, tipo de filme, velocidade e abertura do diafragma. Tirar foto é para profissional.
A imagem da banda tem que ser uma extensão da sua música. Em
alguns casos a imagem é tão explorada que não importa muito a música, mas no nosso caso elas andam bem juntas e precisam ser boas.
Toda a orientação das fotos vai depender da imagem que vocês
querem passar para o público. Se a banda for de metal extremo, vai
querer usar os spikes e maquiagens, e tirar fotos em um cemitério.
Mas se é de pop-rock, provavelmente vai querer fazer as fotos em
algum outro lugar.
Escolham o figurino de acordo com a proposta de banda. Já vi
fotos de divulgação com músicos usando sandálias. Se quiserem
passar a imagem de desleixados, tudo bem. Caso contrário, prestem
atenção nos detalhes.
A escolha da locação é uma tarefa muito difícil. Em primeiro lugar,
é necessário saber se o local das fotos é fechado ou não. Se for num
estúdio, precisarão levar iluminação, maquiagem (não é batom, nem
rímel, somente um pó para tirar o excesso de oleosidade do rosto) e
outros apetrechos que só o fotógrafo poderá dizer com exatidão.
Se o local for aberto, como uma estação de trem, por exemplo,
vocês terão que conseguir autorização da administração do local.
Nem sempre é uma tarefa fácil, porque os locais têm uma rotina de
trabalho e vocês estarão de certa forma quebrando a rotina. O primeiro passo é entrar em contato com a assessoria de imprensa do
local (peça a seu assessor de comunicação para fazer isto) e explique o que será feito. Não adianta falar com guardas, porteiros, zeladores e similares, eles simplesmente obedecem ordens e raramente dão informações relevantes. Em alguns casos, vocês não conseguirão fazer as fotos porque a administração do local não permitirá.
É a vida, mas tudo se resolve com uma boa conversa.
A depender do tipo de foto que vocês querem, o fotógrafo pode
escolher filmes diferentes. Os filmes preto e branco podem dar um
ar bem charmoso para as fotos, mas sua revelação é mais cara. Converse com seu fotógrafo e discutam juntos a estética da banda.
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O Disco
U
ma banda sem nenhum registro é praticamente inexistente, mesmo contando com o público dos shows. Isso porque a música só
se torna “palpável” quando entra nas casas dos fãs e pode ser ouvida em casa, no carro e finalmente o CD é colocado ao lado dos
outros ídolos. A não ser que vocês tenham excursionado pelo país
inteiro, não terão alcançado um grande público nos shows e temos
de levar em conta que o som dos shows não será lá “grande coisa” e
as pessoas não conseguirão ouvir direito suas músicas.
Note que não estamos mais no começo dos anos de 1980, naquela
época não existia essa tecnologia e esse imediatismo na comunicação.
As bandas começavam ao vivo e depois que estivessem maduras e
com um bom público razoável passavam para a gravação do CD.
Hoje em dia, apesar das facilidades tecnológicas, a tarefa é bem
mais difícil. Vocês precisam ser bons ao vivo e ao mesmo tempo, já
devem ter um bom material gravado.
Aqui vai a dica final e, talvez, a mais importante: sejam exigentes com vocês e com os outros. Isto vale para todos: músicos, produtores e técnicos. Um disco consome quase um ano de trabalho, e
se vocês não fizerem bem-feito, será um ano perdido. Não deixem
passar nenhum detalhe, caso não gostem e refaçam tudo novamente. Tenham o melhor equipamento possível. Se vocês deixarem passar algo, as pessoas vão perceber isto na hora de ouvir o disco e
vocês não estarão presentes para justificar os erros. A solução para
esse problema é: procurem não errar. Se errar, consertem.
Demo-tape
Em primeiro lugar, vamos deixar bem claro que demo-tape é só uma
expressão que convencionei para chamar o demo de uma forma
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O Disco
geral. Não me venha com idéias de gravar suas músicas numa fita
K7 porque isso é simplesmente inaceitável. Tudo hoje em dia é feito
em CD e não há nenhuma justificativa plausível para gravar em K7.
As duas perguntas que vocês devem fazer ao gravar uma demo
são: Precisamos fazer uma demo? Que objetivos queremos alcançar
com este material?
Antigamente, as demos rendiam contratos com gravadoras
majors. Hoje em dia isto quase não acontece. As gravadoras já querem bandas prontas, que tenham uma boa vendagem e grande quantidade de fãs. Com a crise do mercado fonográfico, poucos investem
em bandas novas aqui no Brasil.
Descartada a possibilidade de contrato para CDs, só existem
dois objetivos possíveis para a produção de uma demo: 1) maior
visibilidade local; 2) análise externa do trabalho de vocês.
O primeiro objetivo diz respeito àquilo que estávamos comentando, a banda precisa gravar algo para “aparecer”. Assim, vocês
podem até ganhar uma graninha vendendo este material para as
pessoas que comparecem aos seus shows. Isto dará mais visibilidade e credibilidade, ainda mais se o material estiver bem gravado e
se as músicas forem boas.
No quesito visibilidade, uma demo não alcança mais do que o
público local e algumas cidades vizinhas. Os lojistas não gostam
muito desse tipo de material porque ele simplesmente não vende
tanto quanto os CDs oficiais, e olha que CD já não está vendendo
como antes. Além do mais, do ponto de vista legal, as demos podem
ser vistas como edições “pirata” e muitos lojistas simplesmente não
querem saber delas.
O mais natural e econômico seria copiar os CDs em CD-r (CDs
graváveis em computador), e não fazer uma prensagem. Isto porque a prensagem só se torna financeiramente viável se for produzida pelo menos mil cópias, mas prensar esta quantidade de uma
demo é suicídio.
A maioria das gravadoras também pode distribuir o material,
mas só se “não” for um CD-r. Por isto, por melhor que seja a demo,
não circulará muito.
Outro objetivo que uma demo pode obter são as críticas. A começar pela banda que pode se ouvir no conforto do lar, sem a agonia
do estúdio, analisando friamente o trabalho. Isto é extremamente
Comunicação Subterrânea
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importante para o desenvolvimento da banda, desde que todos estejam preparados para ouvir opiniões esdrúxulas ou construtivas.
Distribua a demo para as revistas e jornais que vocês puderem.
Entreguem também para produtores e pessoas que vocês sabem
que são bons conhecedores de música. Ouça tudo que for dito e
guarde as críticas para que o CD “oficial” sai melhor.
A grande vantagem das demos é que nelas os erros são permitidos. Por se tratar de um material para análise, uma espécie de “laboratório” das bandas, ninguém é tão severo, mas quando gravarem seu CD oficial isto não acontecerá. Aproveitem!
Produtores
O produtor é uma figura importante na equipe, e nem preciso dizer
que deve ser uma pessoa da confiança do grupo e conhecedor profundo de música. Chegou a hora de procurar alguém para ser o
produtor do grupo.
Existem basicamente dois tipos de produtores em uma banda
pequena: o produtor executivo e o produtor musical. O produtor
executivo cuidará da parte burocrática da banda, do dinheiro (ou da
falta dele); organizará os horários de ensaios, agendará o estúdio e
os shows. O produtor musical ou diretor musical, cuidará da música
e é desta figura que falaremos agora.
O produtor deve começar acompanhando a banda nos ensaios
e prestando atenção nos mínimos detalhes. Comecem com o básico, tocando somente o baixo e a bateria, percebendo se as músicas
estão com um andamento constante e se a cozinha está bem coesa.
Depois, passem para as guitarras separadamente, depois os teclados e por fim o vocal.
Nestas horas, joguem o ego no lixo (se já não o tiver feito) e
ouça todos os tipos de comentários. No fim do dia, o grupo e o
produtor comentarão as observações levantadas e perceberão o
que é realmente importante para a banda. Vocês não precisam seguir tudo o que for sugerido pelo produtor, mas vocês devem conversar sobre isto.
Lembrem-se do foco da banda. Qual o objetivo que vocês têm
com suas músicas? Vamos a um exemplo concreto: gravávamos o
segundo disco da Plexus e havia uma música bem estranha, chama-
50
O Disco
da “Once in a Heart”. Estava completamente fora do padrão das
nossas composições, misturava uma agressividade absurda com
um refrão cantado com voz sonolenta. No meio de tudo isto, existiam uns riffs estranhos e um deles foi questionado pelo nosso produtor, Martin Mendonça. Ele criou na hora uma dezena de riffs excelentes, que poderiam estar em qualquer das nossas músicas mas
não especificamente naquela. A música “tinha” que ser estranha,
que ter riffs esquisitos, porque aquele era o espírito da música, qualquer coisa que soasse mais “normal”, estaria ferindo este objetivo.
Talvez Martin não tenha percebido isto naquele momento ou talvez
nós tenhamos errado na colocação daquele riff, mas no final tudo
foi discutido e acordado. A música ditou o caminho que deveríamos
seguir.
O produtor tem que ser sensível para perceber estas particularidades e vocês também. É importante que ele goste do som feito
por vocês.
Criando expectativa
Antes mesmo de lançarem o CD, vocês precisam fazer com que as
pessoas se interessem por ouvi-lo. Não adianta deixar para fazer
isso quando o CD estiver pronto, nessa fase vocês estarão atarefados demais mandando cartas, dando entrevistas, posando para fotos etc. Quando o CD estiver pronto, as pessoas já deverão que estar
afoitas para escutá-lo. O período de pré-produção é o ideal para
fazer uma boa divulgação do CD, porque vocês estarão num estúdio e não estarão fazendo shows. Esta é a hora de usar sua lista de emails e contar tudo o que acontece no estúdio. A sua empolgação
com as músicas passará para as outras pessoas.
Se você conhece algum site local que divulgue bandas independentes, entre em contato com eles e peça que façam alguma
matéria acompanhando o processo. Comente com as pessoas sobre o disco, digam como está sendo feito o trabalho, como estão
sendo compostas as músicas, os arranjos e fale até mesmo dos problemas com o amplificador que vocês alugaram para a gravação.
Enfim, antecipe o CD e faça com que no final do período de gravação (lembre que ainda estamos na pré-produção) as pessoas estejam loucas para ouvi-lo, até mesmo sua mãe.
Comunicação Subterrânea
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Escolha do estúdio
Óbvio que é interessante escolher um estúdio onde alguma banda
que vocês gostem já tenha gravado um bom trabalho. Mas isso não
é uma regra, primeiro porque vocês podem não ter dinheiro para
pagar um estúdio desse porte ou até mesmo pela distância. O legal
é conversar com o produtor, que deve ser um cara antenado com os
novos estúdios, e saber qual deles está dentro das posses do grupo.
Lembre-se: estúdio não é só equipamento. O técnico (ou engenheiro de som) que fará a gravação terá que ser um cara bom e de
preferência deve gostar do som da banda. Mas se não gostar, sendo
competente a gravação funcionará muito bem. Os bons técnicos
são profissionais que podem gravar qualquer coisa e basta mostrar
um CD de sua banda preferida para ele sacar como vocês querem
soar.
Por outro lado, não adianta o cara ser um bom técnico e ter um
estúdio com uma mesa de quatro canais. Estamos em 2004 e não é
absurdamente caro montar um bom estúdio. Lembra da história do
balanço? Escolher um bom estúdio, com bons equipamentos e que
tenha um bom técnico é o importante. Lembrem-se que vocês devem ter afinidade com o técnico porque vão passar muitas horas
estressantes juntos.
Se vocês não sacam de equipamentos o suficiente para avaliar
o estúdio, chamem o produtor para ir junto com vocês. Sempre converse o máximo possível com essas pessoas e deixe claro seus objetivos e também tenham em mente que o CD nunca vai soar como o
Metallica porque eles são milionários e vocês não. Tenham bom
senso e comparem a banda com outras nacionais do estilo e tentem
fazer melhor do que elas.
Para finalizar, não julguem as coisas pela aparência. Conheço
estúdios na Finlândia que parecem um depósito de lixo mas dali
saem pérolas sonoras. O que vale mesmo é o som que vocês vão
conseguir.
Analógico ou Digital?
A velha discussão ainda continua, analógico ou digital, mas nós
temos que ser realistas. Uma fita de rolo analógica custa uma boa
grana e o gravador então nem se fala. Os estúdios menores simples-
52
O Disco
mente não têm dinheiro para adquirir esse equipamento. A gravação digital está cada vez melhor e mais barata. A não ser que vocês
tenham uma fortuna para gastar, não faz sentido gravar em analógico.
Lembrem-se de que não é só a mídia que indica a qualidade da
gravação. Tudo que vocês fizerem vai soar no resultado final. Desde
a execução das músicas, passando pelo equipamento, mixagem e
masterização. Ou seja, não adianta gravar em rolo se vocês vão tocar com uma guitarra ruim em um amp ruim, o resultado não será
bom nunca.
A gravação digital dá muita liberdade porque ninguém precisa
ficar cortando fita de rolo. Com o computador, vocês podem copiar
e colar as partes que ficaram mais legais e corrigir as imperfeições
gravando novamente sem perder muito tempo. Os puristas dirão
que isto comprova que o disco não é honesto, porque todas as imperfeições foram corrigidas e blá, blá, blá. Verdade seja dita: os discos nunca foram honestos e tudo que se ouvem é tão manipulado
quanto as informações sobre a guerra do Iraque. Relaxem, vocês
terão a chance de mostrar o quanto são bons quando forem tocar ao
vivo.
Plano de horas e orçamento
A quantidade de dinheiro que vocês gastarão no estúdio depende
diretamente da quantidade de horas que vocês utilizarão para fazer
o CD. Então a primeira coisa que precisa ser feita é um plano dessas
horas. Isto é uma coisa muito simples, vamos fazer passo a passo.
Primeiro, vocês terão que decidir se a gravação será com instrumentos separados ou com a banda toda tocando junto. As duas
opções têm muitas vantagens e desvantagens e só depende de como
vocês estão ensaiados para saber qual a melhor opção. Evidentemente, quando todos gravam ao mesmo tempo, o tempo de permanência no estúdio será menor. Em compensação, será mais difícil
corrigir os erros. Além disso, o técnico de som precisa ser muito
bom, para deixar tudo soando bem sem que ocorram vazamentos
excessivos nos microfones. E a banda tem que estar em cima e tocar
tudo direitinho. Nesse esquema, digamos que vocês gastem umas
três horas por música. Esse é um tempo ideal para gravar uma boa
quantidade de takes e depois escolher as melhores performances da
Comunicação Subterrânea
53
banda. Se forem gravar 10 músicas, serão 30 horas. Ainda tem a
mixagem: em geral são duas músicas por dia. Se contarmos o dia do
estúdio como 10 horas, sendo duas para almoço, serão mais 50 horas. Coloque mais dois dias para a masterização e um dia só para
deixar uma margem de segurança. Total de 120 horas.
Em Janeiro de 2004, os estúdios de médio porte cobravam algo
em torno de 30 a 50 reais por hora. Às vezes o técnico cobra a parte
dele separadamente. Obviamente isso não acontece quando o técnico é o próprio dono do estúdio. Enfim, o total para pagar é de
3.600 a 6.000 reais. “Calma!” Em primeiro lugar, saiba que isso não é
muito, nós é que somos pobres. Em segundo lugar, tudo é negociável. Raros são os independentes que têm essa grana para pagar a
gravação. Além do mais, a gravação é só o começo, tem muita coisa
ainda para gastar.
A dica é sempre a mesma: parcele os pagamentos. Os estúdios
sabem que vocês não têm dinheiro e vocês sabem que o eles precisam dessa grana também. É uma questão de conversar. Muitos no
Brasil, aliás quase a maioria das pessoas, têm problemas financeiros e por isso todo mundo quer se ajeitar. Vocês querem pagar a
gravação, o dono do estúdio quer receber essa grana, só basta conversarem.
Vamos supor que a gravação seja 5.000 reais. Vocês podem negociar com o dono do estúdio para pagar em cinco meses, assim
serão 1.000 reais por mês. Se a sua banda tiver cinco componentes,
cada um paga 200 reais por mês. Fale sério, 200 reais por mês é
perfeitamente pagável. Como eu já disse, uma banda precisa de
investimento e pergunte a qualquer pequeno empresário se ele só
investiu 200 reais por mês na sua empresa. Então, não reclamem,
comecem a trabalhar e economizem para pagar o CD. Além disso,
com esse orçamento dilatado é possível negociar melhor com um
pequeno selo da sua cidade para que ele financie a gravação.
Existe ainda a opção de gravar com todos os instrumentos separados. Assim, tudo começa com o metrônomo com o qual vocês
ensaiaram exaustivamente. Ligue-o e o baterista vai gravar as bases
em cima do clique do metrônomo. É legal também colocar o guitarrista e o baixista (às vezes até o vocalista também) para fazer a guia.
Ou seja, eles vão tocar só para o baterista se guiar e conduzir melhor
as músicas. Este tipo de gravação é o mais comum em bandas de
54
O Disco
grande porte. Só que aí vocês vão gastar um pouquinho mais de
tempo para gravar.
A outra opção de gravação é a mista. Alguns instrumentos serão
gravados ao mesmo tempo e outros não. Vocês podem gravar todas
as bases, por exemplo, depois incluir os vocais, solos e teclado. As
opções são grandes e se adaptam ao tipo de som e ao orçamento.
Converse com seu produtor e técnico de som.
A única diferença entre os estúdios de grande porte e os de médio
porte é o preço. O ideal seria que os grandes estúdios fossem mais bem
equipados e os técnicos fossem mais competentes, mas isso nem sempre é verdade. Além disso, os estúdios grandes estão acostumados a
receber cheques gordos das gravadoras e, por isso, não serão muito
tolerantes na hora de parcelar o seu pagamento. Entretanto, isso não é
uma regra. Mais uma vez, escolha o estúdio que for melhor para o seu
som e para o seu bolso, independente do tamanho.
Aluguel de equipamentos
Há uma grande possibilidade de você precisar alugar equipamentos para fazer a gravação do disco. Procure não alugar equipamentos de estúdios de ensaio ou que são muito utilizados ao vivo. Eles
certamente estarão surrados e aí seu som não vai sair tão bom.
Procurem aquele amigo do seu amigo que tem aquela bateria
novinha e peça para ele alugar para vocês. Pode sair um pouco mais
caro, mas é o CD da banda e vocês têm e estar soando muito bem
porque as pessoas não querem saber se vocês não têm dinheiro, se
seu gato foi atropelado ou sei-lá-o-quê. As pessoas pagarão pelo
CD quase o mesmo preço que pagam pelo de qualquer outra banda
por isso seu objetivo é fazer com que esse CD valha a pena.
Se lasquem, mas aluguem o melhor equipamento possível. O
disco é eterno e não existe arrependimento maior do que ouvir o
CD e perceber que poderia ter conseguido uma guitarra um pouco
melhor. Não dá para economizar nessa hora. Se for para fazer um
CD, faça o melhor já visto na sua cidade.
Gravando a bateria
A bateria ainda é o desafio de qualquer técnico de gravação. É um
instrumento completamente acústico e tem muitas peças. Por isso,
é bastante difícil tirar um som bom desses tambores.
Comunicação Subterrânea
55
A primeira providência óbvia é arrumar uma boa bateria, caso
o baterista da banda não tenha uma. Depois, monte-a de forma que
ela não se movimente durante a execução das músicas, não tem
coisa mais chata do que tocar numa bateria ambulante. Depois disso, afine os tons da melhor maneira e posicione os microfones. Quero
dizer, vocês não, o técnico porque essa é a parte mais difícil e somente um técnico pode posicionar corretamente os microfones.
Confie no seu técnico.
Outro cuidado importantíssimo é não acertar os microfones
com a baqueta. Alguns microfones podem chegar até a 10.000 reais
e um prejuízo desses não é fácil num momento crítico como esse,
não é mesmo?
Às vezes, mesmo com todo o equipamento necessário, os timbres de algumas peças não ficam perfeitos o suficiente. Aí já está
tudo gravado e a bateria já está desmontada, qual a solução para
isso? Existe uma coisa chamada samples que são simplesmente sons
de peças de bateria pré-gravadas que podem substituir o som da
bateria do CD. “Calma!” Não precisa gritar e achar que vão falar mal
de vocês porque o que está tocando no CD é um computador e não
você. Em primeiro lugar, não seja tão radical, você pode ficar surpreso com a quantidade absurda de bandas que fazem isso e cujo
disco vocês adoram mas nem percebem que é um sample. Às vezes,
a bateria sai toda redondinha na gravação, mas a caixa ainda não
tem aquele punch ou aquele brilho que vocês gostariam que estivessem presente. Em alguns casos, está tudo perfeito, mas quando
entram os outros instrumentos, a bateria fica xôxa. Os samples já
estão gravados, têm um som alucinante e antes colocar um som
pré-gravado e bom no seu CD do que deixar o que vocês gravaram
soar ruim. No final das contas, ninguém vai perceber que é sample
mesmo, desde que o som não fique artificial. Discutam esta questão
filosófica com o produtor e o técnico de som, mas nunca esqueça do
objetivo final: o CD tem que soar bem.
Gravando o baixo
Nem sempre vocês precisam de um super amplificador para gravar o
baixo. Ele é um dos poucos instrumentos de uma banda que funciona
muito bem ligado em linha, por meio de um direct box, sansamp ou
similares. Até mesmo um sansamp de guitarra funciona bem nesta hora.
56
O Disco
O que precisa prestar atenção é se o baixo e a bateria estão
coladinhos e fazendo a mesma coisa. Mas isso vocês já viram na
pré-produção, não é mesmo?
Gravando a guitarra
Alugue uma Gibson e plugue num amp Marshall ou Mesa Boogie.
Peça ao técnico para testar a posição do microfone em vários lugares do alto-falante e ouçam. Quando estiverem satisfeitos, apertem
o botão vermelho. Para os sons limpos, aluguem uma fender e plugue
num Marshall ou Mesa Boogie. Não tem mistério. Para se tirar um
bom som de guitarra no rock, qualquer estilo de rock, basta ser simples. Quanto menor a extravagância, melhor.
Para os solos, alugue um amp menor e plugue sua já alugada
Gibson.
Eu não sou muito adepto a marcas, mas em se tratando de guitarra, não vai ter nenhum problema se seguir a fórmula Gibson +
Marshall. O mundo inteiro faz isso, porque você serão diferente?
Claro que é possível obter sons excelentes com outros setups,
portanto se você tem tempo, dinheiro e paciência, tente tudo que
estiver ao alcance. Se não der certo, alugue uma Gibson e plugue no
Marshall.
Voz
Quebre os horários na hora da gravação da voz. O ideal é gravar
apenas uma música por dia, porque esse processo leva aproximadamente umas duas horas e é difícil alguém ficar cantando muito
bem por mais de duas horas.
Algumas vozes ficam com uma textura legal se for gravada exatamente a mesma coisa duas vezes. A sobreposição das vozes iguais
produz um efeito de profundidade que muito já ouvimos e nem nos
tocamos com isso. Lembrem-se que a voz é o elemento que vai
chamar mais a atenção da maioria das pessoas e por isso tem que
estar soando muito bem.
Mixagem
A mixagem é o momento em que seu CD vai deixar de soar como
um monte de instrumentos juntos e vai se transformar em algo co-
Comunicação Subterrânea
57
eso e bonito. Steven Spielberg já disse que a edição é o momento
em que o “filme” vira filme realmente. Pois bem, mixagem é quando
o “CD” vira CD. Até então, os instrumentos todos estavam lá, mas é
na mixagem que eles se tornam claros e definidos.
Impossível explicar o passo a passo de uma mixagem, primeiro
porque não tenho competência para isto e segundo, porque é um
processo muito pessoal e envolve centenas de variáveis, inclusive o
estilo da banda. Nessa hora deve-se dizer ao técnico de som como
vocês gostariam que a banda soasse, pode-se até trazer um CD de
uma banda que vocês apreciem. Depois disso, o trabalho é do técnico. Claro que vocês podem sugerir os efeitos na hora dos solos,
vocal etc. Mas no final, vocês devem confiar no técnico porque só
ele sabe como atingir um bom objetivo sonoro.
Uma boa dica na hora da mixagem é: não seja egoísta. Todos têm
que estar aparecendo bem e o segredo de uma boa banda é justamente achar o balanço entre os instrumentos. Pode parecer fácil, mas
na verdade é a coisa mais difícil de uma gravação. Os instrumentos
estão sempre brigando na mesma freqüência e aumentar o volume
de um pode significar a ausência do outro. Os guitarristas geralmente
são os mais chiliquentos e por isso querem a guitarra mais alta do
mundo, mas isso prejudica todos os outros instrumentos e ninguém
ouvirá mais nada no CD. Moderação é a palavra-chave. Um bom CD
deixa todos os instrumentos claros e definidos e o peso e corpo se
formam com a união destes instrumentos. Nenhum deles isoladamente soa tão bem quanto o conjunto.
Por fim, ouçam a opinião das outras pessoas e filtrem aquilo
que vocês achem importante para a banda. Não esqueçam que é
impossível agradar a todos e quem tem de escolher como a banda
soa são vocês e a equipe.
Masterização
(colaboração de andré t – [email protected])
Masterizar é promover alguns pequenos ajustes ao som das músicas já mixadas. Vocês podem equalizar as músicas (rebalancear a
proporção entre graves, médios e agudos – para que o CD soe razoável na maior parte dos sistemas de som), colocar um último efeito
no final da música, cuidar dos volumes das faixas (para que o ou-
58
O Disco
vinte não precise ficar mexendo no botão de volume em casa quando o CD muda de faixa) e organizar a ordem das canções no CD.
Um bom CD deve ter o balanço entre volume e compressão.
Para aumentar o volume, o técnico usa, entre outras coisas, a compressão. Compressão é o processo onde se atenua ou elimina os
picos de volume. Em qualquer sistema de gravação, existe um teto
onde o volume pode chegar; se os picos de volume (aqueles que
podem alcançar esse teto) são achatados, pode-se aumentar o volume geral da música até chegar ao máximo novamente. O problema que isto causa é que gradativamente o som vai perdendo “vida”
e “peso” à medida que é mais comprimido. A opção aqui seria aumentar o volume e comprimir o som ou deixá-lo mais amplo e com
o volume menor. O meio-termo é a solução. Nem tão comprimido,
nem tão baixo.
Os grandes masterizadores (Bob Ludwig, Bernie Grundman etc.)
aliados aos seus equipamentos muitas vezes feitos sob encomenda, detêm um poder mágico de comprimir absurdamente o som
mas mantendo a profundidade. O resultado é um CD extremamente alto e mesmo assim “gordo”. Só que estes estúdios custam pequenas fortunas. Se o seu estúdio de gravação não tem uma masterização
legal, vocês precisarão procurar um estúdio especializado.
Encerrada, a masterização é realmente importante evitar aquela sensação que muitos já experimentaram de: “Ah, mas soava tão
bem no estúdio, por que aqui em casa não está bom?” A mágica da
masterização está em fazer com que o CD funcione nos sistemas de
grande porte (aqueles que reproduzem as freqüências mais baixas
fielmente), nos sistemas caseiros e até naquele alto falante ridículo
que existe na televisão de sua casa.
Capa
A capa do CD é tão importante quanto a música que ele contém. A
capa é o primeiro elemento de atração para as pessoas; mesmo
antes de elas terem contato com as canções. A capa tem de ser
chamativa o suficiente para destacar a banda do oceano de bandas
que existem hoje em dia.
Existem outras formas de chamar atenção para o CD além de
uma capa bonita. Você pode criar embalagens diferentes para o seu
trabalho. A mais comum delas é o Digipack, um tipo de capa de
Comunicação Subterrânea
59
papelão plastificado que é considerado item de colecionador entre
os fãs. O material é um pouco mais caro do que a tradicional caixinha
de acrílico, mas vale a pena.
Existem infinitas possibilidades para uma caixa de CD e vocês
podem criar junto com o designer algo completamente novo. Que
tal uma caixa triangular? Uma caixa de metal? Tudo depende do
orçamento e da criatividade. O grande problema destas caixas malucas é que os lojistas não têm onde colocá-las. Elas ficarão em
cima do balcão ou então em alguma gaveta. Ou seja, a exposição é
“oito ou oitenta”.
Vocês também precisam definir a quantidade de páginas do
encarte e isso será um fator essencial na hora de orçar a prensagem.
Banner de palco
A hora do show é a hora de divulgar a banda, mas principalmente o
CD novo e por isto aproveitem o fato de estar com a mão na massa
e façam um banner ou pano de fundo para o palco. Ele pode ser feito
com lona e este material aceita impressão de fotos em alta resolução. Há a possibilidade de se fazer em pano mesmo, só que vocês
têm que achar um cara que seja bom nisso. No final, o valor sai
muito parecido porque o trabalho com pano é personalizado e demanda muito tempo (e habilidade) do artista.
Prensagem
Depois do CD pronto, você vai precisar duplicá-lo e existem duas
opções a serem feita: copiar CDr-s ou prensar. A primeira opção não
é tão barata quanto você pensa. Primeiro você precisa comprar uma
mídia de boa qualidade isso não sai por menos de um real. Além
disso, você precisa imprimir a capa e o rótulo separadamente. Isso
dá por baixo uns 1,5 a 2 reais por cópia. E ainda dá um trabalhão ter
que ficar dias inteiros fazendo cópias no computador. A pior parte é
a seguinte: nenhum selo vai querer distribuir o material em CD-r e
as pessoas compram menos.
A prensagem profissional pode ser feita em diversas empresas
como a Sonopress e a Microservice.
O processo para a prensagem é bastante simples. Você entra em
contato com a empresa pelo telefone, diz o tamanho do seu encarte
60
O Disco
(para exemplos de tamanho, visite os sites das empresas:
www.sonopress.com.br e www.microservicedigital.com.br) e a quantidade de cores do rótulo e do encarte. Não há muito mistério aqui e
seu designer vai te informar sobre isso de forma fácil, fácil.
Depois, você vai receber um orçamento pelo correio ou por
e-mail. No início de 2004, o valor médio para a prensagem de
1.000 CDs é 3.500 reais, com impressão de encarte já inclusa. Os
preços tendem a variar de acordo com o dólar, como qualquer
outro produto na nossa difícil economia. Em geral, o pagamento
pode ser parcelado em duas vezes. A primeira parcela é efetuada
quando o negócio é fechado e você manda a Master (o CD que
será matriz para as cópias) para a fábrica, junto com os arquivos
de arte da capa e rótulo. A segunda parcela deve ser paga quando
os CDs ficarem prontos lá na fábrica, antes de mandarem para o
grupo.
Não recomendo que façam menos de 1.000 cópias. O valor fica
bem mais alto e como veremos em breve, vocês usarão pelo menos
uns 300 CDs para fazerem sua divulgação. Esperamos todos que
vocês consigam vender os outros 700!
Antes de fechar o negócio vocês vão precisar de alguns documentos que certificam que vocês são os autores das músicas. O
primeiro passo é abrir firma em algum cartório da sua cidade. Abrir
firma é simplesmente comprovar a sua assinatura. Acho que o Brasil é o único país do mundo em que você precisa ir a um cartório
para reconhecer sua própria assinatura. Mas esse é um procedimento barato e necessário para outras ocasiões burocráticas. Depois disso, basta enviar os documentos junto com a “fita master”
para a fábrica.
Quando você prensa o CD numa fábrica, você está pagando
impostos menores do que uma gravadora, que é pessoa jurídica. Aí
está mais uma vantagem em ser independente.
Você ainda tem a opção de prensar o CD por meio de agente
fonográfico. O agente fonográfico nada mais é do que uma empresa
que encaminha o seu material para a fábrica. Ele é o intermediário
entre você e a Sonopress, por exemplo. A vantagem em fazer esse
tipo de negócio é que alguns agentes fonográficos facilitam o pagamento e podem criar a arte do seu encarte, mas não recomendo que
você faça isso. Afinal, para que você contratou o designer?
Comunicação Subterrânea
61
Feito tudo isto, é só esperar chegar o CD em casa e chorar de
emoção ao receber um monte de CDs na sua casa. Chame a banda e
comemorem um pouco, mas só um pouco porque ainda tem muito
trabalho pela frente.
Distribuição
Lembra que quando vocês estavam gravando o CD, estavam fazendo uma divulgaçãozinha? Pois bem, agora que o disco está pronto
as pessoas já estão curiosas para ouvir o bicho. Isso se você fez tudo
direitinho.
Muita gente pensa que o trabalho termina quando o CD está
prensado e isso é uma grande ilusão. O trabalho começa agora. Se
você não fizer o seu CD circular, ninguém vai nem saber que ele
existe por isso chegamos na parte mais complexa de todas as bandas independentes: a distribuição.
Mesmo que seja muito bem articulado, o CD vai chegar em
algumas lojas da sua cidade e talvez de algumas cidades vizinhas,
mas não mais do que isso. A grande vantagem e a coisa mais valiosa
que as majors têm para oferecer é a distribuição e a possibilidade
do CD ser vendido em lojas do país inteiro.
Agora que o CD está pronto, corram atrás dos selos pequenos e
peçam que eles distribuam o seu material. Para eles é uma coisa
interessante porque não vão pagar muito pelo CD e para você é
melhor ainda porque você vai se livrar das toneladas de CD que
estão ocupando espaço na sua casa. Se fosse um CD-r, você não
poderia fazer isso. Inclusive esta é uma boa hora para ver o quanto
a banda é unida e assim cada um pode levar algumas caixinhas para
casa. É muito interessante a gente perceber que quando o CD não
está pronto o que mais queremos é que ele chegue e quando ele
chega o que mais queremos é que ele saia.
Só que o CD não tem pernas e por isso vocês vão ter que ralar
muito para vender esses 1.000 CDs.
Correio
A primeira providência a se tomar é fazer um banco de dados com
“todas” as mídias que podem ser interessantes para divulgar o CD.
Isso inclui sites, zines, revistas especializadas e não-especializadas,
62
O Disco
jornal, televisão, rádio e produtores. Para conseguir esses contatos,
basta procurar na internet e conversar com as pessoas. Tentem conseguir pelo menos uns 200 lugares para mandar o CD e não se contentem só com o Brasil, mandem para o mundo inteiro. Mandem
para a Rolling Stone e para o New York Times. Há poucas chances de
alguma coisa ser publicada, mas se vocês não mandarem as chances
serão nulas.
Depois de fazer esse imenso banco de dados, vocês vão precisar gerar etiquetas para colar nos envelopes porque é um trabalho
fenomenal ter que escrever endereços em 200 envelopes. Sugiro
que faça o banco de dados no Excel, com as seguintes colunas: Nome,
Contato, Tipo, Endereço, Telefone, Website, E-mail, Observações e
País. A coluna tipo é para designar se você está mandando o CD
para uma mídia (rádio, TV, revista ou site) ou para um selo. No final,
você pode saber quantos CDs mandou para divulgação, para tentar
um contrato ou para distribuição.
Criado o banco de dados, imprima as etiquetas. Não esqueça
que vocês têm que imprimir as etiquetas dos remetentes. Isto significa que se vocês têm 200 contatos, serão 400 etiquetas.
Existem envelopes específicos para enviar CDs pelo correio.
Vocês não precisam comprar toneladas de jornal ou ficar inventan-
Comunicação Subterrânea
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do embalagens malucas para o CD não chegar quebrado. Estes envelopes são revestidos com papel-bolha e podem ser comprados
na www.kalunga.com.br e custam 50 centavos. Como vocês vão comprar 200, vão gastar 100 reais com os envelopes. Coloquem mais
uns 600 a 1.000 reais de despesas com o correio, dependendo dos
lugares para onde será enviado o CD. Os CDs são como documentos para o correio e, por isso, o preço é bem menor do que uma
encomenda normal. Vocês ainda têm a opção de mandar o material
registrado ou prioritário, mas o preço quase dobra. Se for enviado
pela forma econômica, mantenha contato por e-mail com as pessoas que irão receber e pergunte se chegou bem. Não tem nada mais
frustrante do que esperar meses por uma resenha numa revista
importante e depois descobrir que eles não receberam o material.
Quando for enviar o CD, mande junto o release da banda, devidamente escrito e corrigido por um “jornalista”. Para fazer os 200
releases, tire xerox. Algumas publicações e selos pedem que você
mande uma foto da banda. Entretanto, isto tem mudado pois é bem
mais prático colocar a foto na Internet. Mas lembrem-se que a foto
tem que estar em resolução de impressão (300 dpi). Já falamos que
o site deve ter uma seção dedicada à imprensa? Pois esta é a hora
desta seção estar em funcionamento e a partir daí você pode
disponibilizar fotos, releases, clipping e o logotipo da banda. Nada
impede que você mande foto para alguns lugares, mas então inclua
mais 1.000 reais ou mais no orçamento.
Publicidade
Muitas bandas pensam que fazer publicidade é caro e que não terão
dinheiro suficiente para isto, ou só conseguirão se tiverem um contrato com uma gravadora. Isto não é verdade. O que não falta aqui no
Brasil é boa vontade e negociação por parte dos veículos de imprensa especializados. Todos querem ganhar dinheiro no final das contas, basta que vocês saibam disso e negociem tudo numa boa.
Uma coisa é certa: se não fizerem anúncios, ninguém saberá que
o CD saiu. Aliás, o ideal seria que vocês colocassem um comercial no
intervalo do Jornal Nacional, mas isto é inviável neste momento. Não
é exagero, vocês têm que anunciar o CD de todas as formas possíveis,
o CD tem que estar na mídia, porque senão as vendas serão desanima-
64
O Disco
doras. Em 2003, as vendas de CDs não foram tão boas, se não for
anunciado, ficará encalhado nas prateleiras.
Para terem o produto anunciado, comecem pelo básico: os
websites. Façam uma pesquisa nos websites que divulgam o tipo de
música da banda, entre em contato com eles pedindo para colocar
um banner. Geralmente os sites não são veículos muito lucrativos e
tenho certeza de que quase todos vão querer ter seu anúncio. Os
banners são baratos e a depender do site chegam até a 300 reais.
O próximo passo são as revistas especializadas. O preço da inclusão dependerá do tamanho que vocês querem veicular. A minha
dica é: peguem uma página inteira. Mesmo que seja um pouco mais
caro, vale muito mais a pena e percebam que um anúncio numa
grande revista não é só o fortalecimento da sua marca e o contato
com o público, vocês ainda vão chamar atenção das gravadoras.
Elas gostam de bandas que trabalham bem.
Mas não basta adquirir uma página inteira, tem que ser uma
boa página. Negociem a quarta capa (o verso da revista) ou a página
três. Vocês têm que ficar atento porque essas páginas são reservadas com antecedência pelos grandes anunciantes, por isso antes de
começar a pré-produção, entrem em contato com as revistas e reservem o espaço do anúncio. A página inteira custa entre 1.000 e
3.000 reais. Perguntem ao marketing da revista se existe a possibilidade de parcelar, tenho certeza que chegarão a um acordo. Não se
esqueçam de que os gastos serão divididos pelo grupo.
Lembrem-se de que anunciar o CD é tão importante quanto
gravar e prensar. Se vocês tiverem todo este trabalho e no final não
anunciarem, terão desperdiçado tempo e dinheiro. Não marquem
bobeira, o mundo inteiro faz isto e, se vocês fossem de um cast de
uma grande gravadora, eles iriam fazer exatamente isto.
Consignação
Muitas lojas trabalham em consignação. Isto significa que vocês
podem deixar os CDs em consignação com o dono da loja, sem
intermédio do selo ou da gravadora. Basta levar os CDs até a loja,
estabelecer o preço que vocês querem receber pelo CD, o lojista
colocará o preço da loja e o CD será colocado à venda. Detalhe
importante: vocês não podem ganhar a mesma coisa como se fosse
a gravadora.
Comunicação Subterrânea
65
Digamos que vocês vendam os CDs a 15 reais nos shows e em
vendas diretas. Vocês podem querer que o CD esteja com um preço
maior ou até mesmo igual ao que vocês vendem nas lojas. Portanto,
o valor do CD em consignação será de 10 reais. O lojista então acrescentará cinco a dez reais em cima do valor consignado. Alguns lojistas pedem que você sugira o valor de venda final, outros nem perguntam sua opinião.
Faça uma tabela de controle para os CDs que vocês deixaram
em consignação e liguem a cada dois meses para as lojas para saber
sobre a venda e a necessidade de reposição do material vendido.
Mantenha sempre um recibo assinado pelo lojista do recebimento
dos CDs deixados em consignação.
Só colocar o CD não fará com que ele seja um sucesso de vendas. Aproveitem o lay-out do anúncio colocado nas revistas, e imprima cartazes em tamanho A3 para serem colocados nas lojas. Ter
CDs em lojas nem sempre significa aumento de vendas, mas com
certeza fortalece a marca da banda.
Seja acessível
Por mais eficaz que seja o esquema de distribuição, nada funcionará se vocês não puderem ser contatados com facilidade. Atualizem
seus telefones e seus e-mail com regularidade. Muitas portas podem se fechar porque as pessoas simplesmente não conseguem
entrar em contato com vocês.
Agora que já foi feita a gravação do CD independente, saiba
que isto é um passo importante na vida de vocês. Mas nem por isso
o ego deve se inflar. O segredo de manter boas relações e obter
sucesso é continuar tendo muita humildade e trabalhando com afinco. Todos precisam de um pouco de sorte para se dar bem na vida.
Com uma banda, não é diferente, vocês terão que trabalhar muito e
se não tiverem sorte, as coisas não vão andar bem. A sorte é atraída
pelas suas atitudes. Seja honesto, sincero, trabalhador e correto que
a sorte virá. Nós colhemos o que plantamos.
Clipping
Se vocês fizeram tudo certo, as resenhas do CD vão sair em todos os
lugares e vocês precisam coletar estes dados. Isto nós chamamos
66
O Disco
de clipping. Se sair alguma matéria na televisão, grave; se sair reportagem em jornal, recorte e guarde. Enfim, tudo que aparecer sobre a
banda ou envolver os componentes deve ser guardado e muito bem
guardado. Separem uma gaveta da casa de alguém do grupo somente para ser guardado este material.
Saiba que no final das contas quem faz o sucesso da banda são
os fãs. Agradeça a todos os fãs pois eles são mais que amigos, são
também uma grande família para vocês.
Mercado musical
Mesmo depois de passar 66 páginas falando de como sobreviver
sendo independente, o que na verdade todos querem é assinar com
uma major. Por mais eficiente que vocês sejam, não dá para ganhar
dinheiro sendo independente, mas percebam que as gravadoras
também não são lá essas coisas.
Em primeiro lugar, o contrato será ruim. Nenhuma banda nova
tem um contrato favorável, e a justificativa é sempre a mesma,
“estamos nos arriscando quando investimos em você por isto precisamos saber se vocês vão gerar lucro”. Mentira, pois as gravadoras
só investem no que é rentável.
Mas, hoje em dia é raro uma gravadora assinar contrato com
banda pequena ou até mesmo média, geralmente o que acontece é
que vocês se viram como independentes e quando o negócio começa a dar dinheiro, os convites das gravadoras começam a surgir.
Quando esse momento chegar, saibam tomar suas decisões e peçam a um advogado para ler o contrato.
As vendas de discos ainda são um mistério que somente os
grandes empresários das gravadoras sabem (ou não!). A fabricação
dos CDs é controlada pela gravadora e o artista nem sabe quantos
foram produzidos. Ninguém consegue ter controle sobre os CDs
vendidos.
Vocês sabem que os títulos “disco de ouro e disco de platina” na
verdade são relativos às vendas que as gravadoras efetuaram junto
aos lojistas? Se um artista nacional ganha “disco de ouro” porque
vendeu 100.000 cópias, isto significa que as gravadoras venderam
100.000 discos para os lojistas, mas não quer dizer que 100.000 pessoas tenham comprado o CD. Lindo isso, não?
Comunicação Subterrânea
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Já está entrando em vigor um código de barras que acusa a
quantidade de CDs que foram vendidas para os consumidores. Mas,
por enquanto, a venda de CDs é uma grande especulação.
Aí vai a tabela oficial de vendagens.
Artistas Nacionais:
Ouro: 100.000
Platina: 250.000
2 x Platina: 500.00
3 x Platina: 750.000
Diamante: 1.000.000
Artistas Internacionais:
Ouro: 50.000
Platina: 125.000
2 x Platina: 250.000
3 x Platina: 375.000
Diamante: 500.000
Links para os Charts
Seguem alguns links que monitoram as supostas vendas de disco
no Brasil e em outros países:
http://www.hot100brasil.com/
http://www.metal-sludge.com/SludgeScanChart.htm
http://www.theofficialcharts.com/html/index.shtml
http://www.billboard.com/bb/charts/bb200.jsp
Espero que o livro tenha ajudado. Saibam que
por mais difícil que seja viver de música, algumas bandas já conseguiram isso. Nunca desista
do seu sonho. Se você não conseguir viver “de
música”, pelo menos viva a sua música com prazer. Se precisarem de mais ajuda, mandem e-mail
para [email protected]
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