1 VEGETARIANISMO VEGANO: razões éticas e saudáveis GT10 PRÁTICAS INVESTIGATIVAS NA EDUCAÇÃO SUPERIOR Clarice da Cruz Silva (Unit/[email protected]) Jesska Maria Farias Machado Valentino (Unit/[email protected]) Kayte Barbosa de Santana (Unit/[email protected]) Mercedes Crisanto Leão Cruz Montijano (Unit/[email protected]) Romy Gleyse Chagas Barros (Unit/[email protected]) Maria Balbina de Carvalho Menezes (Orientadora/Unit [email protected]) RESUMO É crescente o número de seguidores do veganismo no mundo e grande parte dos adeptos deste regime alimentar se inicia devido às questões relacionadas ao ambiente, saúde, economia, ética e religião. A influência de ênfase é a ética, pois consiste em defender os direitos animais, considerando a tortura e matança infligidas desnecessárias e responsáveis pela destruição da natureza. Destarte, vários estudos indicam que uma dieta equilibrada onívora não se difere tanto em prós e contras de uma estritamente vegetariana. O presente trabalho faz parte de um estudo que objetiva o levantamento bibliográfico de dados nutricionais e éticos, para a elaboração de discussões teóricas que possibilitem a descoberta da relação entre o vegetarianismo vegano e a saúde. Dessa maneira, a metodologia utilizada baseou-se na leitura, análise e interpretação de livros, periódicos, artigos, monografias e revistas. A pesquisa foi dividida em quatro partes, onde foram descritas: as discussões teóricas sobre o vegetarianismo; os fundamentos veganos; a pirâmide alimentar vegana e o veganismo e a saúde. Por fim, diante do tema pesquisado, concluiu-se que a dieta vegana pode ser benéfica à saúde desde que a vitamina B12 seja suplementada, pois a mesma é predominantemente encontrada em alimentos de origem animal, principalmente na carne. PALAVRAS-CHAVE: Dieta; ética; saúde; veganismo; vegetarianismo. ABSTRACT A growing number of followers in the world of veganism and many of the adherents of this diet starts because of issues related to environment, health, economics, ethics and religion. The emphasis is the influence of ethics, for it consists in defending animal rights, considering the torture and killing inflicted unnecessary and responsible for the destruction of nature. Thus, several studies indicate that a balanced omnivorous diet did not differ in both pros and cons of a strict vegetarian. This work is part of a study that aims to bibliographic data nutritional and ethical for the development of theoretical discussions that enable the discovery of the relationship between vegetarianism and vegan health. Thus, the methodology used was based on the reading, analysis and interpretation of books, periodicals, articles, monographs and magazines. The research was divided into four parts, which have been described: the theoretical discussions about vegetarianism, vegan fundamentals, the vegan food pyramid and health and veganism. Finally, in front of the research topic, it was concluded that a vegan diet can be beneficial to health since vitamin B12 is supplemented, because it is predominantly found in foods of animal origin, especially in the meat. KEYWORDS: Diet; ethics; health; veganism; vegetarianism. 2 1 INTRODUÇÃO Este artigo tem por finalidade discutir sobre uma filosofia bastante conhecida e difundida mundialmente; o vegetarianismo vegano. Vegetarianismo é um regime alimentar baseado unicamente na ingestão de vegetais, ou seja, consiste na eliminação do consumo de todo e qualquer tipo de carne, de origem bovina, suína, de frango, de peixes, de frutos do mar. Os motivos que levam um indivíduo a adotar essa dieta são diversos e normalmente encontram-se relacionados à saúde, meio ambiente, economia, ética e religião. A razão que possui maior destaque para a adesão ao vegetarianismo é a ética, afinal seus adeptos são defensores dos direitos animais e declaram ser injusta e cruel a matança e o sofrimento de animais para consumo humano, em função da violência que esse processo envolve. Assim, não colaboram com uma indústria que mata e tortura milhares de animais dia após dia. A idéia principal parte do princípio que o homem não tem direito de manipular e destruir a natureza para satisfazer sua ganância. Existem três principais formas de dietas vegetarianas, classificadas de acordo com os alimentos presentes no cardápio, são elas: ovolactovegetarianismo, vegetarianismo semiestrito e o vegetarianismo estrito. O ovolactovegetarianismo é uma dieta composta por alimentos de origem vegetal, ovos, leite e derivados deles, abstendo-se de todos os tipos de carne. O vegetarianismo semiestrito exclui quase todos os alimentos de origem animal, abrangendo somente o mel, ovos ou leite. Já o vegetarianismo estrito, também conhecido como veganismo, é uma dieta em que se baseiam os hábitos alimentares daqueles que não consomem nem utilizam nada que advenha da exploração, do padecimento ou da morte de qualquer animal. Cientificamente muito se discute sobre os benefícios e implicações inerentes ao vegetarianismo, porém a mais controversa das pesquisas encontra-se relacionada ao veganismo, visto que, os hábitos alimentares veganos são considerados, por alguns estudiosos, demasiadamente radicais e privados de nutrientes essenciais ao equilíbrio do organismo. Assim, na tentativa de compreender de forma mais efetiva a discussão envolvendo o veganismo, considerando a importância do assunto para os 3 profissionais de nutrição, levanta-se um questionamento, o qual se apresenta pertinente no contexto desse estudo: Uma dieta vegetariana vegana adequada é capaz de atender as necessidades nutricionais do ser humano e ser benéfica a saúde? As informações que venham a estabelecer o aprofundamento dessa questão é um dos propósitos desse estudo, que permitiu a formulação das hipóteses: a) A dieta vegana, por não conter produtos de origem animal é isenta de colesterol, baixa em gordura (especialmente gordura saturada) e rica em fibras, vitaminas e minerais. Isto significa uma provável diminuição no risco de doenças como arteriosclerose, infarto, derrame, diabetes, câncer, constipação. Ainda, por eliminar alimentos altamente contaminados por antibióticos, hormônios, pesticidas, além de alimentos alergênicos como o leite, este estilo alimentar também evita o surgimento de diversos tipos de alergias e intolerâncias; b) Existe um componente dos produtos de origem animal que não é encontrado em nenhum outro alimento, a vitamina B-12 ou cobalamina. A cobalamina é sintetizada por bactérias. Os animais herbívoros têm sua própria fonte bacteriana em câmaras do sistema digestório como o rúmen (vacas) e a ceco (cavalos). A falta desta vitamina, muito recorrente em veganos, é responsável por doenças sanguíneas e nervosas, podendo causar irritação, depressão, amnésia e consequentemente sendo prejudicial a saúde. Assim, objetiva-se fazer um discernimento sobre os conceitos de vegetarianismo e veganismo; pontuar e analisar as questões econômicas, religiosas, ideológicas e éticas que fundamentam o vegetarianismo vegano; apresentar e discutir a pirâmide alimentar de uma dieta vegana balanceada e por fim, aproximar as informações sobre os efeitos decorrentes do veganismo para a saúde. A possibilidade de descoberta da relação entre o vegetarianismo vegano e a saúde, é uma das questões que justificam o estudo, podendo-se através do entendimento das discussões, influências, vertentes e razões ideológicas, compreender essa prática considerada uma das mais discutidas e aglutinadoras de adeptos do mundo. A American Dietetic Association (ADA) informa que dietas vegetarianas planejadas de forma apropriada são saudáveis, adequadas nutricionalmente e promovem benefícios na prevenção e no tratamento de certas doenças. Entre as vantagens nutricionais de uma dieta vegetariana, incluem-se o menores níveis de 4 gorduras saturadas, colesterol e proteína animal, bem como maiores níveis de carboidratos, fibras, magnésio, potássio, ácido fólico e antioxidantes como vitaminas C e E. Já a Deutsche Gesellschaft für Ernährung e.V. (DGE, Sociedade Alemã de Nutrição) mantém posição mais conservadora ao afirmar que a alimentação (ovo) lacto-vegetariana pode ser apropriada. Para crianças, especial precaução na escolha dos alimentos deve ser tomada. Aponta também que a dieta vegetariana estrita não é recomendável para nenhuma faixa etária, devido a seus riscos (de falta de alguns nutrientes). A DGE não a recomenda de forma alguma a bebês, crianças e adolescentes. Além disso, foi observada uma necessidade de desenvolvimento de um trabalho acadêmico acerca do tema, já que poucos são os estudos dentro desse campo metodológico. A metodologia utilizada foi à pesquisa bibliográfica, que abrange a leitura, análise e interpretação de livros, periódicos, artigos, monografias, revistas. Essa pesquisa tem por finalidade conhecer as diferentes contribuições científicas disponíveis sobre o determinado tema, dando suporte a todas as fases de qualquer tipo de pesquisa, uma vez que auxilia na definição do problema, na determinação dos objetivos, na construção de hipóteses, na sustentação da justificativa da escolha do tema e na elaboração do relatório final. Assim, como se trata de um estudo de revisão de literatura, o ponto alto da metodologia deu-se pelo estado da arte, na identificação de autores e obras que permitam o alcance dos objetivos. 2 ALIMENTAÇÃO VEGETARIANA Nessa sessão, onde se pretende desenvolver a construção teórica do objeto de estudo, buscaram-se pressupostos teóricos que possam ampliar e contribuir para a elucidação do problema. A pesquisa foi dividida em quatro partes, onde foram descritas: as discussões teóricas sobre o vegetarianismo, que abrangerá desde sua história, conceito, tipos existentes e principais diferenças com o veganismo; os fundamentos veganos, o qual trará as questões econômicas, religiosas, ecológicas e éticas que 5 justificam o vegetarianismo vegano; a pirâmide alimentar vegana, que mostrará os principais grupos que compõem uma dieta vegana equilibrada; e o veganismo e saúde, cujo escopo será discutir os reais benefícios e malefícios desse regime a saúde. 3 ENTENDENDO O VEGETARIANISMO O vegetarianismo surgiu há cerca de 5 milhões de anos atrás. O antepassado mais antigo do homem, o Australopithecus Anamensis, alimentava-se somente de frutas, folhas e sementes, vivendo em perfeita harmonia com os menores animais, que poderia facilmente apanhar para se alimentar. O domínio do fogo e o desenvolvimento das armas vêm mudar essa realidade, onde o Homo Neanderthalensis, caçava, em grupos de 10 a 15, animais de grande porte como os mamutes e outros de pequeno porte como os veados, dos quais tudo era meticulosamente aproveitado. Mais tarde, as populações humanas foram criando culturas de vegetais fixas, que começaram a atrair animais como porcos selvagens, ovelhas, cães, cabras, aves, ratos e pequenos felinos, que foram sendo domesticados. Alguns animais começaram a ser mortos para consumo. Foi então que o homem se tornou sedentário e começou a encarar os animais como alimentos (RODRIGUES, 2005). Para entender a origem do vegetarianismo, Couceiro et al. (2008, p.365) diz que “ o vegetarianismo tem suas origens desde os primórdios da criação do homem e um de seus registros mais amplamente reconhecidos é encontrado no Velho Testamento, na passagem em que Deus diz a Adão e Eva qual deveria ser seu alimento.” Compreendendo o raciocínio de Couceiro, na Bíblia (GÊNESIS, 1:29) pode ser encontrado “Tenho-vos dado todas as ervas que produzem semente e se acham sobre a face de toda a terra, bem como todas as árvores em que há fruto que dá semente. Servos-á para mantimento.” Ainda sobre a origem do vegetarianismo Greif (2002, p.27) registra que “provém principalmente de fundamentos de religiões orientais, do hinduísmo e algumas outras religiões não permitem em seus pressupostos o consumo de carne, 6 como forma de manter puro o corpo. A prática também é em grande parte remetida ao filósofo Platão e outros filósofos gregos como Pitágoras que adotavam a prática vegetariana.” Souza et al. (2010, p.16) também faz referência a concepção do vegetarianismo “na Roma Antiga e na Grécia, foi iniciado por Pitágoras que tinha como seu argumento se manter em uma dieta sem carne por três motivos: veneração religiosa, saúde física e responsabilidade ecológica.” René Descartes, em suas Meditações, no século XVII, defendeu a idéia de que animais não-humanos não possuem alma nem razão, e apenas respondem a estímulos como autômatos. Embora há séculos rejeitada e desacreditada pelas evidências científicas, a concepção mecanicista de Descartes sobre os animais permanece forte no senso comum ocidental até os dias de hoje (SCHULTE, 2001). No século XVIII, Benjamim Franklin, talvez, tenha sido o mais famoso, entre os cientistas, médicos e filósofos a apoiar as dietas vegetarianas. O movimento vegetariano só expandiu de maneira considerável no século XIX com a formação de sociedades, o estabelecimento de centros de saúdes, a publicação de livros e a abertura de restaurantes, todos promovendo as dietas vegetarianas. O século XX testemunhou uma expansão ainda maior do interesse e do conhecimento acerca do assunto (JOHNSTON, 2003). Com a expansão do conhecimento sobre os benefícios dos vegetais à saúde, as pessoas passaram a ver a dieta vegetariana de outro ângulo, o que antes era feito por questões religiosas hoje passou a ser aderido devido à melhoria da qualidade de vida, ou seja, pela busca da vida saudável. Atualmente é normal encontrar restaurantes especializados em comida vegetariana, livros de receitas para que as pessoas possam cozinhar em suas casas e livros que mostram os nutrientes de vários vegetais. Dessa forma, as pessoas têm fácil acesso a esse tipo de dieta. Não há uma definição constante de vegetariano nos estudos científicos, embora os pesquisadores possam classificar os indivíduos conforme a ingestão dietética relatada, em vez de como as pessoas se denomina ou denominam suas dietas (JOHNSTON, 2003). O termo vegetariano abrange uma ampla variedade de práticas dietéticas com implicações potencialmente diferentes para a saúde, não é incomum que 7 indivíduos que se dizem vegetarianos consumam carne. As variedades práticas dietéticas resultam em diferentes ingestões nutricionais e tornam necessário que os profissionais de saúde averigúem o que na realidade é ingerido, em vez de depender do que as pessoas denominaram suas dietas (JOHMSTON, 2003). Dieta vegetariana é aquela que não contém carne, peixe ou ave. Se devidamente planejadas, podem ser saudáveis e adequadas nutricionalmente, auxiliando no tratamento e prevenção de algumas doenças. Se as dietas vegetarianas não restringirem alguns alimentos derivados da proteína animal, tais como ovos, leite ou ambos, são denominados, respectivamente, de ovovegetariana, lactovegetariana e ovolactovegetariana (AMAYA-FARFAN et al., 2006). Os tipos de produtos animais incluídos são usados freqüentemente para identificar o tipo de dieta vegetariana, os ovolactovegetarianos e os lactovegetarianos são os maiores subgrupos. Ambos excluem carne, ave, peixe e outros frutos do mar. Aqueles que incluem peixe podem ser chamados pescovegetarianos, e aqueles que incluem ave podem ser chamados polovegetarianos. As pessoas que excluem todos os produtos animais podem ser chamados vegetarianos estritos, totais ou puros, o termo vegano é explicitamente usado para definir indivíduos que não usam qualquer produto animal. Alguns veganos também se abstêm de usar mel e produtos animais tais como couro ou lã (JOHMSTON, 2003). Os vegetarianos consomem menor quantidade calórica alimentar, devido ao fato da sua dieta ser composta de menor quantidade total de gordura e proteínas (ao invés de maior quantidade de hidratos de carbono complexos). A dieta vegetariana é também, comparativamente à dieta não vegetariana, menos rica em colesterol e gordura saturada, possui um maior ratio de ácidos gordos não saturados e possui maior quantidade de fibras alimentares (PEDRO, 2010). A diversidade de dietas vegetarianas provém da necessidade do equilíbrio nutricional. Muitos optam por consumir produtos derivados de animais como ovo, leite e mel, para suprir sua necessidade nutricional, sem comer qualquer tipo de carne. Essa diversidade chama atenção das pessoas por elas poderem substituir alimentos que faziam parte de seu dia-a-dia, diminuindo, assim, os riscos de doenças cardiovasculares. 8 3.1 Fundamentos Veganos A existência de vegetarianos no mundo vem desde a antiguidade com Pitágoras; Leonardo da Vinci; Voltaire; Gandhi; Tolstoy e Benjamin Franklin; entre outros, que defendiam o vegetarianismo. Com a descoberta de um fóssil humano mais antigo na África Ocidental, em 1994, pesquisas revelaram que ele era um vegetariano restrito, ou seja, se alimentava de grãos, nozes e vegetais, confirmando que essa pratica é antiga (CURCELLI, 2008). De acordo com Souza et al. (2010, p.5) “ muitas religiões adotam a dieta vegetariana com o propósito de almejarem a ascensão espiritual e o respeito pela vida dos animais.” Mestres antigos pregam que a carne transferem energias carregadas para aqueles que a consomem. Podemos citar como exemplo as religiões, como: Upanishades (1000 a.C.) que acreditavam em reencarnação e afirmavam que a mesma só ocorreria se tivesse a abstenção da carne; Buda ensinava a compaixão por todas as criaturas capazes de ter sensações; o Jainismo pregava a não-violência a qualquer ser vivo. No livro de Gênesis há uma sugestão de que os primeiros seres humanos eram vegetarianos e que a ingestão de carne só começou a partir do dilúvio (SINGER apud SHULTE et al.,2011). A escolha de aderir à dieta vegana também está relacionada com a saúde, pois estudos mostram que os veganos correm pouco risco de desenvolverem doenças como diabetes, hipertensão arterial, doenças cardíacas, obesidade, entre outras; isso é devido à ingestão aumentada de frutas e vegetais, principais contribuintes de fatores fotoquímicos e fibras, esses fatores auxiliam o nosso corpo a diminuir o risco dessas doenças (SIZER e WHITNEY, 2003). Ainda na linha saudável Rodrigues (2005, p.19) afirma que “os vegetarianos escolhem uma dieta menos poluída com toxinas e, também, em venenos como o mercúrio, que polui as águas do mar e dos rios.” Dessa forma eles não correm o risco de se infectar por alguma doença transmitida pela carne como a febre aftosa, com o alto teor de hormônios nas galinhas, entre outros. Para Souza et al. (2010, p.5) existem pessoas que “se tornam vegetarianos por questões éticas, em resposta a um forte sentimento de que os animais não devem ser maltratados em fazendas industriais, ou simplesmente não deveriam ser 9 mortos para se tornar alimento.” Os veganos não ingerem nenhum tipo de alimento de origem animal por entenderem que na produção de leite e ovos existem aspectos industriais e químicos, alterando assim seu processo natural. Complementado o que já foi citado, Rodrigues (2005, p.19) diz que “as condições em que os animais são criados são cada vez piores: espaços minúsculos, condições estressantes, más condições de transportes, as crias retiradas da mãe,” revoltando ainda mais os vegetarianos veganos, pois ser vegetariano está associado ao respeito pelas pessoas e animais. As questões ambientais remetem ao ideal de que metade das florestas tropicais foram dizimadas e transformadas em pastos para gado. Caso estas tivessem sido destinadas apenas a cultura de vegetais e cereais, as áreas férteis alimentariam, na mesma proporção, mais seres humanos. Dessa maneira, cada 100 acres de terra produzem carne para alimentar 20 pessoas; mas se fosse plantado trigo, poderia ser produzido o suficiente para nutrir 240. Além disso, os produtores de carne estão entre os maiores poluidores de água do planeta (GONZAGA, 2006). O fator econômico está relacionado às quantidades de terras que são utilizadas para pastagem, sendo que boa parte dessas terras poderiam ser utilizadas para lavoura, aumentando a produção de alimentos saudáveis à saúde e contribuindo para a diminuição da fome dos indivíduos. Podemos ressaltar que boa parte dos nutrientes necessários para a sobrevivência é encontrada nos alimentos naturais da terra (SOUZA et al., 2010). Percebe-se que sempre houveram muitos motivos para se envergar ao veganismo, não sendo diferente nos dias atuais. Mas a idéia principal é que o homem não tem direito de manipular e destruir a natureza para satisfazer a sua ganância. E a forma que muitos encontraram para se posicionar a favor dessa idéia é o veganismo. 3.2 Pirâmide Alimentar Vegana A primeira pirâmide alimentar foi desenvolvida pelo Departamento de Agricultura Norte-americano (USDA) em 1916. De representação prática, flexível e de simples compreensão, tinha por objetivo orientar sobre uma alimentação 10 saudável e equilibrada. Entretanto, esse guia não incluía informações suficientes para um planejamento de dietas veganas (COUCEIRO et al, 2008). Com o passar das décadas, têm sido desenvolvidos inúmeros instrumentos para o planejamento de refeições específicas para os veganos. Um desses instrumentos é o guia vegetariano concebido por Kapler, que discute a necessidade de utilização de suprimentos que contenham nutrientes essenciais como: os carboidratos (produtor básico de energia calorífica), os óleos e gorduras, as proteínas, as vitaminas, os minerais e a água (KLAPER, 1999). Ao considerar cada grupo separadamente a maior parte da energia que o corpo precisa, é encontrada através do grupo dos acetatos de carbono. Este alimenta o ciclo de Krebs. A energia que é acumulada como trifosfato adenosina (ATP), "combustível da célula", pode ser obtida nos amidos, nos açúcares, óleos, cereais, batatas, frutas, nozes e sementes (KLAPER, 1999). Todos os aminoácidos essenciais necessários para o metabolismo das proteínas humanas são encontrados nas proteínas de alta qualidade, derivado dos grãos e leguminosas como: feijões, sementes, oleaginosas e vegetais verdes. Logo, não há nenhuma necessidade de combinações protéicas (BERNINI, 2005). As vitaminas e minerais essenciais são encontrados nos vegetais verdes, amarelos e nas frutas. Somente em casos individuais, um determinado tipo de vitamina ou mineral, necessita ser suplementado como a vitamina B12 e o Cálcio (GONZAGA, 2006). Para um regime balanceado os veganos devem consumir ferro, através de vegetais verdes escuros e leguminosas. Vitamina C, alimentos integrais ricos em zinco. Vitamina D por meio de alimentos fortificados ou exposição moderada ao sol e o mais importante um suplemento de vitamina B12, obtida em comprimidos, injetáveis e alimentos enriquecidos (MOYLE, 2003). Segundo Curcelli (2008, p.22) “A pirâmide serve para visualizar a necessidade diária média (para adultos) de cada grupo alimentar.” Esses serão melhor descritos abaixo: Grupo dos grãos e cereais: farinhas e batatas, arroz integral, milho, painço, cevada, trigo integral, trigo sarraceno, sêmola, misturas de cereais picados, aveia integral, farinha integral, farinha de aveia, granula e outros cereais incluindo as massas e pães integrais. Neste grupo encontram-se nutrientes essenciais, energia, 11 proteínas, óleos, vitaminas e fibras (para uma função normal dos intestinos). Quantidade: de 5 a 10 porções, sendo a porção uma fatia de pão ou meia xícara de cereal ou grão cozido. Grupo das verduras: Os verdes- couve brócolos, a couve manteiga, a couve mineira, a couve de bruxelas, acelga, chicória, alface, agrião ,bertalha, espinafre, repolhos, mostarda, taioba, cerralha, salsa, cebolinha, aipo, chuchu, pepino, quiabo, alcachofras, alho porró, pimentão. Os amarelos - cenouras, abóboras, batatas inglesa, doce, barôa, pimentão amarelo. Os nutrientes essenciais encontrados nestes alimentos são as vitaminas, os minerais, e proteínas. Quantidades: de 3 a 6 porções, sendo uma porção representada por uma xícara de vegetais crus ou meia de vegetais cozidos. Grupo das Leguminosas e Substitutos da Proteína Animal: Ervilhas, lentilhas, grão de bico, feijão preto, feijão mulatinho, feijão manteiga, feijão fradinho, feijão azuki, soja. No caso da soja, inclui-se todos os seus derivados como: o leite, o queijo tofú, a carne, o tenphe, o missô, o shoyu. Amendoim e seus derivados e todos os brotos como: alfafa, soja, azuki e todas as vagens. As amêndoas, castanhas de caju, castanhas do Pará, nozes, avelãs, noz macadâmia, as sementes de abóboras, de girassol, de gergelim. Neste grupo de alimentos são encontrados os seguintes nutrientes: concentrado de proteínas vegetais, óleos, cálcio, e traços de outros minerais. Quantidades: de 2 a 3 porções, sendo uma porção uma xícara de leite de soja ou meia xícara de feijões cozidos. Grupo das frutas: As bananas, laranjas, abacates, uvas, pêras, maçãs, ameixas, pêssegos, morangos, amoras, cerejas, jabuticabas, melancias, melões, mamãos, abacaxis, açaís, caquis, cocos, figos, jacas, mangas, maracujás, tomates. Neste grupo de alimentos encontramos os seguintes nutrientes: Calorias (energias), vitaminas, e minerais. Quantidades: de 2 a 4 porções, sendo a porção uma maça média, meia banana ou meia xícara de suco. Grupo especial: Alimentos contendo vitamina B12 e minerais, como vegetais de raízes (cenouras, beterrabas, o nabo, assim como os cogumelos), vegetais marinhos (algas arami, algas kombu, algas mori, algas pirulina). Uma fonte segura de vitamina B12 deverá ser incluída numa dieta balanceada vegan. Angelis (2005, p.72) diz que: “a base da pirâmide alimentar da dieta vegana é composta de pão, cereais, arroz e massas; no segundo patamar, colocam-se 12 frutas e verduras; no terceiro patamar os substitutos de ovos e carne e no topo estão os doces e as gorduras.” Nota-se que a pirâmide alimentar vegana auxilia de uma forma simples e clara a quantidade e a diversidade dos mais variados grupos existentes na dieta vegana, tornando-se, dessa forma, uma base de dados importante não apenas para o estudo, como também na aplicação de sua prática. 4 VEGANISMO E SAÚDE A saúde é a principal razão, fora do Brasil, pela qual a pessoa se torna vegetariana. Há um forte consenso de que a dieta vegetariana é mais saudável do que a dieta que inclui alimentos de origem animal. (MELINA et.al apud COURCEIRO et.al, 2008) Em uma dieta vegana existe uma ingestão aumentada de frutas e vegetais, principais contribuintes de fitoquímicos, e de fibras que auxiliam na diminuição do risco de doenças. Normalmente as pessoas adeptas a essa dieta não fumam, ingerem pouca ou nenhuma bebida alcoólica e praticam mais atividades físicas que os demais. Podemos dizer que essas características são essenciais para uma vida saudável. (SIZER; WHITNEY, 2003) O não consumo de carnes melhora a manutenção do peso corporal, regula a pressão sanguínea, reduz as doenças cardíacas, diminui as desordens do trato gastrointestinal e reduz a prevalência de certos tipos de cânceres. Porém essa não ingestão pode acarretar algumas deficiências nutricionais como a insuficiência da vitamina B12, vitamina D, minerais como ferro e zinco, e no caso dos vegetarianos veganos que não consomem leite, a falta de cálcio. (ANGELIS, 2005) Para Curcelli (2008) com uma orientação nutricional e uma dieta equilibrada, os veganos conseguem ingerir todos os nutrientes, sem excesso nem deficiência. Com relação à vitamina B12, que só é encontrada em alimentos de origem animal, a mesma poderá ser substituída por produtos industrializados fortificados como cereais matinais e leite de soja enriquecido, ou por pílulas. O cálcio também pode ser substituído por esses produtos. Ainda sobre a vitamina B12 Amaral (2011, p. s/n) diz que “a deficiência dessa vitamina no organismo pode causar anemia. Por isso é indicado a todos os 13 veganos que façam acompanhamento nutricional.” O diagnóstico desse problema é realizado através de exames bioquímicos. O médico ou nutricionista é quem vai definir a quantidade de suplementação de B12, que pode ser ingerida por via oral ou injetável. Alguns estudos comprovam que os veganos possuem maior freqüência de peso ideal, valores inferiores de pressão sanguínea, de gordura no sangue e de acido úrico, além de melhor função renal. A dieta vegana também está relacionada a uma menor incidência de diabetes tipo 2, além de ser indicada como auxilio no tratamento desta doença. (MOYLE, 2003) Os vegetarianos veganos podem adoecer devido a muitas outras razões além da alimentação. Porém pesquisas científicas comprovam que os vegetarianos estão menos propensos a doenças relacionadas ao excesso de consumo de proteínas animais e gorduras saturadas como ataques do coração, câncer de mama e osteoporose. Como na dieta vegana não há ingestão de leite, pessoas com intolerância a lactose podem se beneficiar com esse tipo de dieta. (CURCELLI, 2008) A proteína de origem vegetal atua no corpo de forma diferente da proteína de origem animal. Em relação aos rins a proteína vegetal produz uma maior quantidade de uréia, pois fornecem mais aminoácidos não-essenciais. Dessa forma pessoas que sofrem de doença renal se beneficiam com a dieta vegana. (JOHNTON, 2003) Mesmo sendo adepto de uma dieta estrita como a vegana, é possível obter o equilíbrio dos nutrientes do organismo. É imprescindível que os veganos tenham o mínimo de conhecimento sobre a função de cada alimento consumido para poder combiná-los, com o intuito de suprir a falta da ingestão de proteína animal. A prática de atividades físicas deve está associada a qualquer dieta, para que o corpo funcione perfeitamente. 5 CONCLUSÕES O veganismo é uma filosofia difundida e apreciada em todo o mundo. Suas ideologias surgiram no período da antiguidade e ainda hoje são seguidas levando em consideração os mais diversos tipos de motivações. 14 O presente trabalho buscou descrever todos os aspectos relacionados ao vegetarianismo vegano, desde a sua história e desenvolvimento, principais fundamentos, alimentos que constituem a base da alimentação vegana, até os seus benefícios e possíveis implicações a saúde. Foi possível também identificar os principais tipos de vegetarianismo, as diferentes definições existentes e suas inúmeras restrições. Diante do tema pesquisado concluiu-se que ambas as hipóteses suscitadas, como forma de aprofundamento ao questionamento edificado, provam-se verdadeiras, pois a dieta vegana pode ser benéfica à saúde, desde que a vitamina B12 seja suplementada. Afinal, a mesma só é encontrada em alimentos de origem animal e sua deficiência nutricional pode gerar malefícios ao organismo. Por fim, a suplementação e toda a prática alimentar vegana deve ser acompanhada por um médico ou nutricionista para que não haja excesso nem a falta de vitaminas. Outros nutrientes como Ferrro, Zinco e Cálcio também devem ser monitorados por um profissional com o propósito de obter informações sobre os alimentos que podem ser utilizados na dieta e suas porções ideais. SOBRE O TRABALHO Este artigo foi produzido por meio da disciplina Práticas Investigativas II do período 2011/2. Contato eletrônico com os autores do trabalho: [email protected]. Clarice da Cruz, Jesska Farias, Kayte Barbosa, Mercedes Montijano e Romy Barros são alunas do 3° período do curso de Nutrição. Maria Balbina de Carvalho Menezes [email protected]. REFERÊNCIAS AMAYA-FARFAN, Jaime; QUINTAIS, Késia Diego. Avaliação do estado nutricional em ferro de jovens estudantes em regime de alimentação ovolactovegetariana. Disponível em: <http://www.puccampinas.edu.br/centros/ccv/revcienciasmedicas/artigos/906.pdf>. 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