11 GLOBAL SCIENCE AND TECHNOLOGY (ISSN 1984 - 3801) CRESCIMENTO DE PLANTAS, TEOR E QUALIDADE DE ÓLEO ESSENCIAL DE FOLHAS DE ORÉGANO SOB MALHAS COLORIDAS Ricardo Monteiro Corrêa1*, José Eduardo Brasil Pinto2, Érika Soares Reis2, Carolina Mariane Moreira2 Resumo: Este trabalho teve como objetivo avaliar o cultivo de orégano (Origanum vulgare L.) sob influência de malhas coloridas e pleno sol. Os parâmetros avaliados foram: o crescimento de plantas, teor e qualidade de óleo essencial de folhas de orégano. O ensaio foi conduzido em vasos plásticos com capacidade de 10 litros (L), contendo substrato na proporção de 3 partes de solo de barranco, 2 partes de esterco bovino e 1 parte de areia, contendo 1 planta por vaso. Os vasos foram distribuídos no delineamento inteiramente casualizado (DIC) com 6 repetições e 4 vasos por repetição de acordo com os seguintes tratamentos: 1) Chromatinet preto; 2) Chromatinet vermelho; 3) Chromatinet azul e 4) Pleno sol. Observou-se que as malhas coloridas influenciaram significativamente o crescimento de plantas, teor, rendimento e qualidade do óleo essencial de orégano. As malhas não influenciaram a biomassa seca total e área foliar, porém o ambiente pleno sol reduziu significativamente estas variáveis. Menor teor de óleo essencial foi obtido na tela preta. As malhas vermelha e preta são promissoras quando o objetivo for a extração dos compostos hidrato de cis-sabineno e hidrato de trans-sabineno (tela vermelha) e timol (tela preta). Palavras-chave: Origanum vulgare L., qualidade de luz, biomassa. PLANT GROWTH, ESSENTIAL OIL CONTENT AND QUALITY OF ORIGANUM VULGARE L. LEAVES UNDER COLOR NETS (CHROMATINET) Abstract: The purpose of this study was to investigate the influence of color nets and full sunlight on growth, essential oil content and chemical composition of oregano leaves (Origanum vulgare L.). The treatment was carried out in 10 liter (L) pots containing 3 parts of soil, 2 parts of cattle manure and one part of sand mixture with a plant per pot. The pots were distributed in a completely randomized design with 6 repetitions with 4 pots each as the following treatments: 1) Black chromatinet; 2) Red chromatinet; 3) Blue chromatinet and 4) Full sunlight. It was observed that the color nets influenced plant growth, essential oil content and quality of oregano leaves. The color nets had not influenced the total dry biomass and foliar area, however the full sunlight reduced significantly those variables. The red and black color nets are promising when the goal is the extraction of cis-sabinene hydrate and transsabinene hydrate (red net) and thymol (black net). Keywords: Origanum vulgare L., light quality, biomass. ____________________________________________________________________________________________________ 1. Instituto Federal Minas Gerais – Campus Bambuí. Fazenda Varginha, Estrada Bambuí-Medeiros, Km 5, Bambui (MG). CEP: 38900-000. *E-mail: [email protected]. Autor para correspondência. 2. Universidade Federal de Lavras – UFLA, Departamento de Agricultura, Caixa Postal 3037, Lavras (MG). CEP: 37200-000. Recebido em: 24/02/11. Aprovado em: 14/03/12. Gl. Sci. Technol., Rio Verde, v. 05, n. 01, p.11 – 22, jan/abr. 2012. R. M. Corrêa et al. INTRODUÇÃO Origanum vulgare L., Lamiaceae, conhecido popularmente por orégano, manjerona-silvestre e manjerona rasteira é utilizada como erva condimentar e medicinal tendo ela propriedades analgésicas, antissépticas, bactericida, antifúngica, diurética e digestiva (MARTINS et al., 1998). Vários são os fatores que influenciam as plantas como ambientais, genéticos, edafoclimáticos, sendo que dentre os ambientais a qualidade e quantidade de luz afeta consideravelmente o crescimento e o desenvolvimento do vegetal. Neste sentido, a quantidade de luz que chega ao cultivo é geralmente alta. As malhas coloridas manipulam o espectro de luz solar incidente sobre o cultivo, fragmentando a luz direta e convertendo-a em luz difusa. De acordo com LARCHER (2000) a luz é um dos fatores ambientais que influi no crescimento e desenvolvimento vegetal através da fotoestimulação de biossíntese de substâncias, do fototropismo, da fotomorfogênese ou do fotoperiodismo. As alterações na qualidade da luz incidente nas plantas estão relacionadas com o fato do desenvolvimento das plantas ser sensível às variações ambientais (ARIM & DENG, 1996), sendo que a intensidade e composição da luz incidente, influencia as plantas na taxa de crescimento celular, na acumulação e composição de pigmentação, na diferenciação dos plastídeos e em outras alterações fisiológicas dependentes da luz (ALMEIDA & MUNDSTOCK, 1998). As malhas coloridas constituem elemento novo no cultivo protegido que objetiva combinar a proteção física, juntamente com a filtragem diferenciada da radiação solar, para promover respostas fisiológicas desejáveis, reguladas pela luz. Atualmente, existem no mercado malhas coloridas de variadas cores: preta, azul, vermelha, cinza e pérola que são utilizadas para cultivo de árvores frutíferas (SHAHAK et al., 2004), hortaliças, plantas ornamentais entre outras culturas. Li (2006) relata que 12 telas de coloração vermelha transferem a luz do espectro nas ondas vermelho e vermelho distante, difundindo-a através da malha, sendo eficiente no desenvolvimento da planta, ao passo que as de coloração azul proporcionam luz do espectro em comprimento de onda de 440-490 nm, intensificando o fototropismo e a fotossíntese (RODRIGUES et al., 2002). Oren-Shamir et al. (2001) relatam que o uso comercial de malhas coloridas pode promover a redução do uso de hormônio ou maximizar sua atividade devido as malhas terem a capacidade de manipular o espectro de luz. A análise de crescimento das plantas é uma metodologia de avaliação precisa e simples que contribui para medir diferentes processos fisiológicos do crescimento vegetal, sendo útil no estudo de variações entre plantas geneticamente diferentes ou sob distintas condições ambientais. Mediante a análise de crescimento, é possível conhecer a cinética de produção de biomassa das plantas e a sua distribuição e eficiência ao longo da ontogenia (BENINCASA, 2003). Existem várias pesquisas relatando a utilização de malhas coloridas em plantas medicinais como: Ocimum selloi Benth Lamiaceae (COSTA et al, 2010); Ocimum gratissimum L. – Lamiaceae (MARTINS et al., 2009a; MARTINS et al., 2009b); Melissa officinalis L. – Lamiaceae (BRANT el al., 2009); Catharanthus roseus (L.) G. Don ‘Pacifica White’- MELO & ALVARENGA (2009); Mikania glomerata Sprengel – Asteraceae (CASTRO et al. 2003); Na bibliografia consultada, observouse a escassez de trabalhos publicados sobre o cultivo de orégano sob influência de malhas coloridas que alteram o espectro de luz incidente. O objetivo deste trabalho foi avaliar o crescimento de plantas, teor, rendimento e qualidade de óleo essencial de orégano sob influência das malhas coloridas preta, vermelha e azul e compará-las com o ambiente pleno sol. Gl. Sci. Technol., Rio Verde, v. 05, n. 01, p.11 – 22, jan/abr. 2012. Crescimento de plantas... MATERIAL E MÉTODOS O ensaio foi conduzido em malhas coloridas Chromatinet® nas cores preta, vermelha e azul instaladas no setor de Plantas Medicinais da Universidade Federal de Lavras (UFLA) situada nas coordenadas geográficas 21º14’S e 45 00 W, a 918 m de altitude. O clima da região, segundo Köppen, é tipo CWa, com características CWb, com duas estações definidas: quente e chuvosa, de outubro a março e, amena e seca, de abril a setembro. A exsicata da planta de orégano encontra-se depositada no herbário Esal sob registro nº 22.156. As mudas de orégano (Origanum vulgare L.) obtidas de estacas apicais com 20 dias de idade (6 cm de altura) foram transplantadas em vasos de plástico com capacidade de 10 litros, contendo uma planta por vaso. O substrato usado foi na proporção de 3:2:1 (subsolo horizonte B de latossolo vermelho distrófico, esterco bovino e areia). Em seguida, os vasos foram colocados sob ambiente coberto por malhas coloridas de acordo com os tratamentos: 1) Chromatinet preto; 2) Chromatinet vermelho; 3) Chromatinet azul e 4) Testemunha (pleno sol). Os vasos foram mantidos à distância de 30 cm (distância entre o ponto médio dos vasos). Os tratos culturais realizados foram controle de plantas daninhas e irrigação. A irrigação foi realizada a cada 2 dias. Não houve infecção das plantas com patógenos e ataques de pragas. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado com 4 tratamentos, 6 repetições e a parcela experimental composta de 4 vasos. As avaliações foram realizadas ao final de 90 dias para os seguintes parâmetros: biomassa seca total (BST), biomassa seca das folhas (BSF), biomassa seca do caule (BSC), biomassa seca de raiz (BSR), biomassa seca de inflorescência (BSI), área foliar (AF), razão de área foliar (RAF), área foliar específica (AFE), razão de peso foliar (RPF) e peso específico foliar (PEF), relação 13 raiz:parte aérea (R/PA), teor, rendimento e qualidade de óleo essencial. A área foliar foi obtida por meio do Medidor Eletrônico de Área Foliar, Modelo LI – 3100-LICOR. A RAF, RPF, AFE, R/PA e PEF foram determinadas a partir dos valores de AF expressos em dm², BST e BSF, ambos expressos em g, e R/PA em valores absolutos empregando-se as seguintes equações, de acordo com Benincasa (2003): RAF = AF / BST ; RPF = BSF / BST ; AFE = AF / BSF ; R / PA = BSR /( BSC + BSF + BSI ) e PEF = BSF / AFT . A obtenção do óleo essencial das folhas foi realizada pelo processo de hidrodestilação em aparelho de Clevenger (CLEVENGER, 1928), utilizando-se 40g de matéria seca em 500 mL de água destilada por 1,5 h. Posteriormente, realizou-se a partição líquido-líquido, em funil de separação, onde foram realizadas 3 partições (20 minutos de descanso cada) com 30 mL de diclorometano adicionado ao hidrolato para a purificação do óleo. À fração orgânica obtida adicionou-se sulfato de magnésio anidro em excesso para retirar possíveis resíduos de umidade. As amostras foram deixadas por um período de 24 horas em repouso, onde posteriormente a solução foi filtrada e armazenada à temperatura ambiente em frascos de vidro âmbar parcialmente tampados para permitir a evaporação do restante do solvente. Os parâmetros determinados na quantificação do óleo essencial foram o teor e o rendimento na biomassa seca das folhas (BSF). O cálculo do teor de óleo foi obtido diretamente como porcentagem (g 100 g-1 BSF) e o rendimento de óleo calculado por meio da equação calculada: (Teor x BSF)/100, ao qual o rendimento foi expresso em g planta-1. A análise da composição do óleo essencial foi realizada por meio de amostra composta juntando-se os óleos essenciais das seis repetições de cada tratamento. As temperaturas do injetor e do detector foram 250 °C e 280 °C, respectivamente. As Gl. Sci. Technol., Rio Verde, v. 05, n. 01, p.11 – 22, jan/abr. 2012. R. M. Corrêa et al. amostras foram analisadas, utilizando-se cromatografia gasosa interfaceada com espectrometria de massas (CG/EM) em equipamento Shimadzu QP5050A, utilizando coluna capilar DB-5 (30mx0,25mmx0,25µm) e detector operando em impacto eletrônico a 70 eV. O gás de arraste utilizado foi o hélio (fluxo 1 mL/min). As temperaturas do injetor e do detector foram mantidas em 250 °C e 280 °C, respectivamente. A temperatura inicial do forno foi de 80 ºC, isotérmico por 1,0 min, seguido por uma rampa de temperatura de 3 ºC/min até 180 ºC, seguido de uma rampa de 10 ºC/min até 300 ºC, mantendo uma condição isotérmica por 3,0 min. Os cálculos dos índices de retenção foram realizados por meio da co-injeção de nalcanos, na faixa de nC9-nC18. A identificação dos constituintes do óleo essencial foi efetuada com base nos índices de retenção (ADAMS, 1995) e pela comparação do espectro de massa com o banco de dados da biblioteca NIST21 e NIST107. A concentração dos constituintes foi calculada a partir da área de pico do CG e arranjado em ordem de eluição. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e submetidos ao teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade, utilizando-se o software Sisvar® (FERREIRA, 2000). RESULTADOS E DISCUSSÃO A produção vegetal de orégano foi afetada pelos ambientes de cultivo, sendo que houve desempenho produtivo de biomassa semelhante entre as malhas preta e vermelha. Observou-se que houve efeito significativo das malhas coloridas nas variáveis biomassa seca de caule (BSC), biomassa seca de raiz (BSR), biomassa seca total (BST), área foliar (AF) e razão de área foliar (RAF) (Figuras 1 e 2). As variáveis BST e BSR tiveram menor incremento de biomassa sob malha azul em relação aos demais ambientes (Figura 1). Para BSC maiores acúmulos de biomassa foram obtidos em plantas cultivadas sob malhas preta e vermelha. Nas plantas 14 cultivadas a pleno sol, foi observado menor crescimento e folhas menores em relação às plantas cultivadas sob malhas. Também foi observado que o ambiente de cultivo não influenciou a BSF. Entretanto, Melo (2006) mostrou que para Catharanthus roseus maiores incrementos de BST, BSR e BSC foram obtidos nas plantas cultivadas sob malha vermelha. Ballaré (1994) afirma que a recepção da luz vermelha em quantidade elevada leva a planta a mudar seu metabolismo para competir com as outras aumentando o comprimento do internódio ou a velocidade de florescimento, sendo que neste trabalho, as malhas influenciaram a BSC, mas não a BSI (P<0,05). Em contrapartida, para BSI as plantas cultivadas em pleno sol produziram maior biomassa em relação às plantas cultivadas sob malhas coloridas (Figura 1). Provavelmente o estresse da radiação solar induziu as plantas a florescerem mais intensamente e precocemente em relação às plantas cultivadas sob as malhas. Os resultados obtidos por Gonçalves (2000) para a espécie Ocimum selloi Benth (Lamiaceae) corroboram com o presente trabalho, onde foi observado que nas plantas cultivadas a pleno sol houve maior BSI e em tempo menor que sobre outros níveis de sombreamento utilizando malhas coloridas. Brant et al., (2009) ao estudar o desempenho produtivo de Melissa officinalis (Lamiaceae), sob malhas coloridas e ambiente pleno sol, concluíram que as plantas de melissa são insensíveis à qualidade de luz para produção de fitomassa e expansão foliar, sendo sensíveis apenas quanto à intensidade de luz, de forma que o sombreamento empregado pelas malhas (50%), independente de sua cor, foi benéfico em relação às plantas cultivadas a pleno sol. Neste presente trabalho observou-se que O. vulgare é sensível à qualidade de luz, visto que sob luz azul as plantas produziram menor BSR e BST em relação às malhas preta e vermelha (Figura 1). Kinoshita et al. (2003) afirma que a luz azul é responsável pela manutenção de um potencial elétrico nas membranas das Gl. Sci. Technol., Rio Verde, v. 05, n. 01, p.11 – 22, jan/abr. 2012. Crescimento de plantas... células guardas e pela abertura estomática resultando no aumento da concentração do CO2 dentro do mesofilo disponível para a fotossíntese e em uma produção de biomassa, o que no presente trabalho não ocorreu em virtude da redução da BST sob tela azul. Observa-se que mesmo dentro da mesma família Lamiaceae as espécies respondem de forma diferenciada. Almeida e Mundstock (2001) afirmam que a melhoria da qualidade da luz, obtida pela adição de luz vermelha em plantas de trigo, proporcionou maior emissão de afilhos e distribuição equilibrada de massa seca entre afilhos e o colmo principal; já a diminuição da qualidade da luz, obtida pela adição de luz vermelha extrema ou uso de filtro verde na entrelinha, acumulou maior biomassa no colmo principal, o que resultou em menor emissão de afilhos. A exposição à luz vermelha e vermelha distante durante o crescimento e desenvolvimento foliar influencia o desenvolvimento de cloroplastos para garantir sobrevivência mais eficiente à planta o que pode influenciar o aumento da capacidade fotossintética das plantas sem cobertura e com cobertura vermelha, quando 15 comparadas à azul e à metálica (KASPERBAUER & HAMILTON, 1984). Em contrapartida outros autores quantificaram menor densidade da radiação fotossinteticamente ativa sob a tela azul o que influenciou em menor peso fresco de frutos de Morango (COSTA et al., 2011) e menor comprimento máximo de folhas, comprimento do pecíolo e largura máxima da folha (LEITE et al., 2012) e menor produtividade de alface em peso/planta (LEITE et al., 2003). Larcher (2000) afirma que plantas crescidas sob forte radiação têm maior produção e um maior conteúdo energético de massa seca. Segundo Brant et al., (2009) esse conteúdo energético pode ter ficado alocado nas folhas de M. officinalis sob forma de amido, sem que este fosse mobilizado para a produção de fitomassa. No entanto, observouse neste trabalho que para O. vulgare houve alocação de energia para o sistema radicular sendo que maior alocação (R/PA= 0,82) foi obtida em plantas cultivadas sob pleno sol quando comparados às malhas vermelha (R/PA= 0,64), preta (R/PA= 0,60), e azul (R/PA= 0,49). Gl. Sci. Technol., Rio Verde, v. 05, n. 01, p.11 – 22, jan/abr. 2012. R. M. Corrêa et al. 80 a a 16 a* 70 60 Biomassa (g) b 50 40 a 30 a 20 a a a a b b b a 10 0 a a a b b b BST BSF BSC BSI BSR Sol 76,15 14,1 16,18 11,43 34,43 Azul 52,66 14,77 18,27 2,18 17,45 Vermelho 72,23 16,78 22,95 4,05 28,45 Preto 74,72 17,92 26,45 2,12 28,23 *As médias seguidas de mesma letra para cada variável não diferem entre si pelo teste de Tukey a nível de 5% de probabilidade. Figura 1 - Biomassa seca total (BST), biomassa seca de folhas (BSF), biomassa seca de caule (BSC), biomassa seca de inflorescência (BSI) e biomassa seca de raiz (BSR) de plantas de orégano cultivadas sob malhas coloridas e pleno sol. Em relação às análises foliares, observou-se a qualidade de luz não influenciou a área foliar (AF) e área foliar específica (AFE). Entretanto, ao comparar as malhas coloridas com o ambiente pleno sol, observou-se que plantas cultivadas em pleno sol tiveram menor área foliar que as plantas cultivadas sob as malhas (Figura 2). Kasperbauer (1995) verificou que, sob luz vermelha, a planta pode diferenciar-se através da expansão do limbo foliar para obter maior vantagem competitiva. Oliveira (2006) também verificou este padrão comportamental na espécie Artemisia vulgaris, a qual apresentou maior área foliar sob tela vermelha em relação ao cultivo sob tela preta, tela azul e sob pleno sol. Entretanto, no presente trabalho este comportamento não foi verificado em O. vulgare, com o uso de malhas coloridas, visto os valores de AF não diferirem estatisticamente entre as malhas (P<0,05). A razão de área foliar (RAF) foi influenciada pelo ambiente de cultivo, entretanto a maior RAF foi obtida em plantas cultivadas sob tela azul e menor RAF em plantas conduzidas em pleno sol. Estes resultados estão de acordo com Benincasa (2003) que relata que quanto maior a intensidade luminosa menor a RAF, ou seja, menor área foliar é necessária para produzir 1 g de matéria seca. A maior RPF verificada nas plantas cultivadas sob tela azul evidencia que houve maior retenção de fotoassimilados nas folhas destas plantas em relação às plantas cultivadas a pleno sol. A maior exportação de nutrientes para as demais partes da planta foi obtida em plantas cultivadas em pleno sol com médias de RPF=0,20 (Figura 2) e R/PA=0,82 em relação às demais malhas coloridas. Este Gl. Sci. Technol., Rio Verde, v. 05, n. 01, p.11 – 22, jan/abr. 2012. Crescimento de plantas... resultado é evidenciado pela maior produção de biomassa total nas plantas deste tratamento (Figura 1). Almeida et al. (2005) em trabalhos com Acacia mangium evidenciou maior alocação de biomassa para as raízes cultivadas em pleno sol em relação às plantas de sombra, confirmando os resultados do presente trabalho. Maior espessamento do limbo foliar, representado pelo peso específico foliar (PEF) foi obtido em plantas cultivadas em pleno sol (1,02 g/dm2) em relação às malhas coloridas. Plantas cultivadas em pleno sol desenvolvem limbos foliares com maior espessura em relação às plantas cultivadas em locais com diferentes níveis de 35 a 17 sombreamento (TAIZ & ZEIGER, 2009). No presente estudo, observou-se que a qualidade de luz não afetou o PEF (Figura 2). A redução do PEF em plantas de Ocimum gratissimum L. (Lamiaceae), cultivadas sob malhas também foi observado por Martins et al. (2009a) ao estudar a anatomia foliar desta espécie cultivada em pleno sol e sob malhas coloridas preta, vermelha e azul. Este mesmo autor atribuiu a redução na espessura das folhas de plantas sombreadas possivelmente devido à diferença na distribuição e no consumo de fotoassimilados para expansão foliar, especialmente sob as malhas vermelha e azul, em que as plantas apresentaram folhas com maior área. * a 30 a 25 20 b 15 10 5 b 0 a a a c a b ab b a ab ab a b b A F (d m 2 ) AFE (d m 2 /g ) RAF (d m 2 /g ) RPF PEF (g /d m 2 ) Sol 1 3 ,9 1 0 ,9 9 0 ,1 9 0 ,2 0 1 ,0 2 A zul V e r m e lh o 2 6 ,2 4 2 7 ,7 4 3 1 ,3 4 1 ,8 2 1 ,6 9 1 ,7 8 0 ,5 0 0 ,3 9 0 ,4 3 0 ,2 8 0 ,2 3 0 ,2 5 0 ,5 7 0 ,6 2 0 ,5 7 P r e to b *As médias seguidas de mesma letra para cada variável não diferem entre si pelo teste de Tukey a nível de 5% de probabilidade. Figura 2 - Área foliar (AF), área foliar específica (AFE), razão de área foliar (RAF), razão de peso foliar (RPF) e peso específico foliar (PEF) de folhas de orégano cultivadas sob malhas coloridas e pleno sol. Em relação à quantificação do óleo essencial de orégano, observou-se que o teor de óleo foi afetado, significativamente, pelo ambiente de cultivo, sendo que na tela preta obteve-se menor teor de óleo. Na figura 3, ao comparar o rendimento de óleo essencial em gramas por planta observa-se que este não foi afetado pelo ambiente de cultivo. A densidade do óleo não foi afetada pelo ambiente de cultivo, evidenciando que as malhas coloridas não alteraram significativamente a densidade deste óleo. Gl. Sci. Technol., Rio Verde, v. 05, n. 01, p.11 – 22, jan/abr. 2012. R. M. Corrêa et al. A quantificação do óleo essencial varia com a espécie e condições de cultivo. Oliveira (2006) trabalhando com plantas de Artemisia vulgaris L. (Asteraceae) cultivadas a pleno sol tiveram maior teor de óleo essencial em relação às plantas cultivadas sob malhas coloridas; entretanto neste trabalho 0,7 0,6 a a 18 não houve diferença de teor de óleo para plantas cultivadas sob telas azul, vermelha e o pleno sol. Sales (2006) avaliando o teor de óleo essencial da espécie Hyptis marrubioides (Lamiaceae) observou também que não há variação no teor de óleo sob diferentes níveis de irradiância. * a b 0,5 0,4 a a a a 0,3 0,2 a 0,1 0 a a a T eor (% ) Densidade (g/cm3) Rend. Ó leo (g/planta) Sol 0,51 0,31 0,07 Azul 0,58 0,35 0,08 Verm elho 0,62 0,34 0,1 Preto 0,44 0,28 0,08 *As médias seguidas de mesma para cada variável não diferem entre si pelo teste de Tukey a nível de 5% de probabilidade. Figura 3 - Teor, densidade e rendimento de óleo essencial de folhas de orégano cultivadas sob telas coloridas Chromatinet e pleno sol. A análise qualitativa do óleo essencial evidenciou a presença de vários compostos químicos, sendo que os denominados Hidrato de trans-sabineno, Terpinen-4-ol e o Timol apresentaram maior concentração neste óleo essencial (Tabela 1). Gl. Sci. Technol., Rio Verde, v. 05, n. 01, p.11 – 22, jan/abr. 2012. Crescimento de plantas... 19 Tabela 1 – Constituintes químicos e porcentagem (%) da área do pico dos componentes do óleo essencial de folhas de Origanum vulgare cultivado sob ambiente pleno sol e malhas coloridas. Ambiente de cultivo Constituinte químico (%) IK* Sol ** Chr. Azul Hidrato de cis-sabineno 1068 3,61 3,32 Chr. Vermelho 6,18 Chr.Preto Hidrato de transsabineno Terpinen-4-ol 110 36,81 51,87 60,18 44,22 1179 15,08 9,37 11,88 9,23 α -Terpineol 1194 5,74 3,98 3,58 4,36 Acetato de linalila 1248 5,00 4,48 3,52 5,19 Timol 1289 23,19 23,54 12,93 27,67 β -Cariofileno 1480 1,70 1,22 -- 1,48 ϒ-Muuroleno 1494 2,04 1,75 -- 2,39 p-Cimeno 1023 -- 1.08 -- -- 2,57 Chr = Chromatinet IK = * Índice de retenção calculado através da série n-alcano em coluna capilar DB-5MS na ordem de eluição. -- = Não detectado ** = Percentagem da área do pico dos componentes do óleo essencial. Valores em percentagem (%) Os compostos encontrados no óleo essencial de Origanum vulgare alteraram conforme o tipo de tela colorida e o ambiente pleno sol. O composto trans-sabineno, um dos encontrados em maior quantidade, apresentou maior concentração nas plantas cultivadas sob tela vermelha e a menor síntese foi observada nas folhas das plantas cultivadas a pleno sol. Resultado semelhante foi obtido para o composto hidrato de cis-sabineno. Nas plantas cultivadas sob tela preta, houve maior síntese do composto timol, evidenciando que a síntese dos diferentes compostos pode variar de acordo com a condição de cultivo das plantas. Portanto, em plantios que visem à extração de óleo de Origanum vulgare para obtenção de timol, recomenda-se o cultivo sob tela preta. Porém, se for para extração de hidrato de cis-sabineno e hidrato de trans- sabineno recomenda-se a utilização de tela vermelha. Em trabalhos de D'Antuono (2000) com Origanum vulgare foi identificado a ocorrência de 64 compostos que coincidiram com os relatados neste trabalho. De acordo com as condições de cultivo a qualidade do óleo essencial de folhas de orégano pode variar levando a síntese de diversos compostos químicos como timol, sabineno, terpineol, cariofileno, carvacrol (MARINO et al., 2001; DAFERERA et al., 2003; BAYDAR et al., 2004). GONÇALVES (2000) relatou que para a espécie Ocimum selloi (Lamiaceae) não houve efeito de diferentes níveis de irradiância testados na variação dos teores de estragol e anetol (majoritários). Em H. Marrubioides, Sales (2006), observou que a Gl. Sci. Technol., Rio Verde, v. 05, n. 01, p.11 – 22, jan/abr. 2012. R. M. Corrêa et al. qualidade do óleo essencial não depende dos níveis de irradiância. Estes estudos evidenciam respostas contrárias ao do presente trabalho, onde os compostos hidrato de cis sabineno e hidrato de trans sabineno tiveram maior síntese em plantas sob tela vermelha e menor síntese em plantas a pleno sol. Já o composto timol teve maior síntese sob malha neutra (preta). 20 competição. Ciência Rural. v.31, n.3, p. 5661. Santa Maria-RS. 2001. ALMEIDA, S.M.Z.; SOARES, A.M.; CASTRO, E.M.; VIEIRA, C.V.; GAJEGO, E.B. Alterações morfológicas e alocação de biomassa em plantas jovens de espécies florestais sob diferentes condições de sombreamento. Ciência Rural. v. 35, n. 1. p. 23-32. 2005. CONCLUSÕES O ambiente de cultivo proporcionou alteração no crescimento de plantas, rendimento e qualidade de óleo essencial de orégano. As malhas coloridas não influenciaram a biomassa seca total e área foliar, porém o ambiente pleno sol reduziu significativamente estas variáveis. Menor teor de óleo essencial foi obtido em plantas cultivadas sob tela preta. As malhas vermelha e preta são promissoras quando o objetivo for a extração dos compostos hidrato de cis-sabineno e hidrato de trans-sabineno (tela vermelha) e timol (tela preta). AGRADECIMENTOS ARIM, A.; DENG, X.W. Light control of seediing development. Annual Review Plant Physiology Molecular Biology. Stanford, v. 47. p. 215-243. 1996. BALLARÉ, C.L. Ligth gaps: sensing the light opportunities in highly dynamic canopy environments. In: Exploitation of environmental heterogeneity by plants. Academic Press. Inc. p.73-110. 1994. BAYDAR, H.; SAGDIÇI, O.; OZKAN, G.; KARADOGAN, T. Antibacterial activity and composition of essential oils from Origanum, Thymbra and Satureja species with commercial importance in Turkey. Food Control. v.15, p. 169-172, 2004. M.M.P. Análise de Os autores agradecem ao CNPq, BENINCASA, CAPES e FAPEMIG pelo apoio financeiro e crescimento de plantas (noções básicas). concessão de bolsa de estudos e a Polisack® FUNEP. Jaboticabal-SP. 41 p. 2003. pela doação das malhas coloridas. BRANT, R. S.; Pinto, J. E. B. P.; ROSAL, L. F; ALBUQUERQUE, C. J. B; FERRI, P. H.; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORRÊA, R. M. Crescimento, teor e ADAMS, R.P. Identification of essential oil composição do óleo essencial de melissa cultivada sob malhas fotoconversoras. components by gas chromatography and mass spectroscopy. Illinois : Allured Publ. Ciência Rural, Santa Maria, v.39, n.5. p. Corp., 245p. 1995. 345-354. 2009. ALMEIDA, M.L.; MUNDSTOCK, C.M. O afilhamento em comunidades de cereais de estação fria é afetado pela qualidade de luz? 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