DEFINIÇÃO DE TEORES NATURAIS DE METAIS PESADOS E AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE À CONTAMINAÇÃO EM SOLOS DE REFERÊNCIA DO ESTADO DE PERNAMBUCO Renato Lira de Sá Cavalcanti1, Clístenes Williams Araújo do Nascimento2 Introdução O metal pesado é definido como sendo um elemento com densidade atômica maior do que 6 g cm-3 [1]. Entre os metais pesados mais estudados, encontram-se elementos não essenciais para os vegetais, como o Pb, Cd, Cr e Hg; e os micronutrientes Cu, Zn, Fe, Mn e Mo. Porém, mesmo os essenciais podem tornar-se contaminantes ou poluentes de solo e água. A poluição do solo por metais pesados apresenta caráter pontual quando se dispõe resíduos agrícolas e industriais, rejeitos de mineração, lodo de esgoto e lixo urbano, e caráter mais abrangente, quando a fonte de contaminação constitui-se de corretivos de solo, fertilizantes ou outro condicionador de solo. Esse fato leva a necessidade de adoção de estratégias diferenciadas no estudo da contaminação do solo. A poluição de caráter pontual implica que a área contaminada é relativamente pequena, mas sob grande intensidade, o que aumenta a possibilidade de contaminação do lençol freático. Devido ao fato de que a presente proposta providenciará o primeiro levantamento amplo dos teores e formas de metais pesados em solos de referência de Pernambuco, o projeto é importante para a definição de valores orientadores regulatórios para suportar cientificamente a legislação ambiental por parte dos órgãos do Estados responsáveis pelo meio ambiente. Além disso, os valores de metais definidos por este trabalho servirão como um banco de dados dos teores naturais de metais pesados em um representativo grupo de classes de solo do Brasil e das regiões tropicais. Material e métodos Foram coletadas amostras, dos dois primeiros horizontes, dos 35 perfis pertencentes à coleção dos solos de Referência do Estado de Pernambuco. Nas amostras dos dois primeiros horizontes dos solos, secas e passadas em peneira de 2 mm, procedeuse extração da fração “disponível”, em triplicata, objetivando avaliar a precisão, exatidão e praticidade da aplicação desses métodos, e correlação mais estreita com as frações mais biodisponíveis da extração seqüencial. Utilizando-se os extratores Mehlich-1 [2], Mehlich-3 [3], DTPA [4] e EDTA [5], tendo este último sua concentração dimuída para 0,04 mol L-1 visando prevenir excessiva dissolução de óxidos de ferro [6,7]. A extração sequencial nas amostras de solo foi baseada no método de Shuman [8] para as frações trocável, matéria orgânica e óxido de ferro cristalino, e no procedimento descrito por Chao & Zhou [9] para a fração óxido de ferro amorfo. Essas frações foram escolhidas em função de sua potencialidade em suprir micronutrientes para as plantas a curto e longo prazos. Resultados e Discussão Altos teores de Mn foram encontrados para a soma das frações mais biodisponíveis, trocável e matéria orgânica, relativamente aos teores do elemento retido por óxidos de ferro no horizonte superficial (Tabela 2). Resultado semelhante ao observado por Nascimento et al. [7] para solos de Minas Gerais. A disponibilidade de Mn, de acordo com Sims [10], é diretamente dependente dos teores de Mn trocável, enquanto Shuman [8] destaca que, além da fração trocável, o Mn ligado à matéria orgânica também é responsável pelo fornecimento do micronutriente às plantas. Na soma das frações, o Fe apresentou concentrações mais altas em comparação ao Mn devido aos altos teores de óxidos de ferro presentes em solos (Tabela 3). No entanto, os baixos teores na fração trocável e a predominância do elemento ligado a óxidos cristalinos, demonstram a menor disponibilidade imediata para as plantas relativamente a esperada para o manganês. Os maiores teores de Fe potencialmente biodisponível estão ligados a matéria orgânica (Tabela 3). A boa correlação desta fração com os teores de carbono orgânico dos solos nos horizontes superficial ________________ 1. Primeiro Autor é o Bolsista de Iniciação Científica - PIBIC, Departamento de Agronomia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] 2. Segundo Autor é Professor Adjunto do Departamento de Agronomia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. (0,64**) e subsuperficial (0,99**) confirma essa afirmação. Dessa forma, cabe à fração matéria orgânica, independentemente da região fisiográfica do Estado, a função de suprimento imediato do elemento para a solução do solo. Os maiores teores “disponíveis” de Mn e de Fe foram extraídos pelas soluções EDTA e Mehlich-3 (Tabela 4 e 5). Esta maior recuperação para esses micronutrientes pode estar relacionada a presença de EDTA em ambos os extratores e a sua capacidade de dissolução de óxidos de ferro [11], fração responsável por grande parte da quantidade retida de ambos os elementos (Tabela 2 e 3). De forma geral, as menores correlações para os quatro extratores foram obtidas para a fração considerada mais estável (óxidos de ferro cristalino), demonstrando que os extratores apresentaram adequada capacidade na extração de formas mais disponíveis, visto que, como citado por Shuman [8], micronutrientes ligados a óxidos de ferro cristalinos encontram-se em grande parte oclusos, não acessíveis às plantas. Entretanto, os teores de Mn e Fe acessados pelos extratores Mehlich-1 e DTPA, em geral, apresentaram as melhores correlações com as frações trocável e matéria orgânica nos horizontes superficiais (Tabela 1), potenciais pools para disponibilização desses elementos para as plantas. As frações trocável e matéria orgânica foram as principais responsáveis pela retenção e disponibilidade de Mn nos solos estudados, enquanto para o Fe a fração matéria orgânica, principalmente, é responsável pelos teores disponíveis, devido aos teores muito baixos na forma trocável. Os teores disponíveis de Mn e Fe nos solos de referência de Pernambuco são considerados, no geral, Os extratores Mehlich-1 e DTPA podem ser considerados adequados para avaliação da disponibilidade desses elementos nos solos de Pernambuco por apresentarem as melhores correlações com as formas mais biodisponíveis de Mn e Fe. Referências [1] ALLOWAY, b.j. Heavy metals in soils. John Wiley & Sons, Inc. New York.339 p. 1990. [2] De FILIPPO, B.V. & RIBEIRO, A.C. Análise química do solo. Metodologia. 2. ed. Viçosa. Universidade Federal de Viçosa, 1997. 26p. [3] MEHLICH, A. MEHLICH-3 Soil test extractant: a modification of Mehlich – 2 extractant. Comm. Soil Sci. Plant. Anal., 15:14091416, 1984. 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Soil pH effects on the distribution and plant availability of manganese, copper, iron and zinc. Soil Sci. Soc. Am. J., 50: 367-373, 1986. [11] BORGGAARD, O.K. Selective extraction of amorphous iron oxides by EDTA from a Danish sandy loam. J. Soil Sci., 30:727-734, 1979. Tabela 1. Coeficientes de correlação linear entre teores de Mn e Fe por extratores e teores desses elementos em frações de Solos de Referência de Pernambuco. de médio a alto, com pouco potencial para deficiências a curto e médio prazos. Tabela 2. Concentrações de manganês nas frações trocável, matéria orgânica, óxido de ferro amorfo e óxido de ferro cristalino em 35 amostras dos horizontes superficial (Sup) e subsuperficial (Subsup) dos Solos de Referência de Pernambuco. Tabela 3. Concentrações de ferro nas frações trocável, matéria orgânica, óxido de ferro amorfo e óxido de ferro cristalino em 35 amostras dos horizontes superficial (Sup) e subsuperficial (Subsup) dos Solos de Referência de Pernambuco. Tabela 4. Manganês extraído por Mehlich-1 (M-1), Mehlich-3 (M-3), DTPA e EDTA em amostras dos 35 solos de referência de Pernambuco nos horizontes Superficial e Subsuperficial. Tabela 5. Ferro extraído por Mehlich-1 (M-1), Mehlich-3 (M3), DTPA e EDTA em amostras dos 35 Solos de Referência de Pernambuco nos horizontes superficial e subsuperficial.