Quadro 8.1 Estrutura da análise macroeconômica

Propaganda
192
Econom ia M icro c M acro • Vasconcellos
Quadro 8.1
_________________________________
atlas
Estrutura da análise macroeconômica.
MERCADOS ; '
ParteReal
da Economia
Parte Monetária .
da Economia
^ "
d
e
m
L
Mercado de Bens e Serviços
Produto Nacional
Nível Geral de Preços
Mercado de Trabalho
Nível de Emprego
Salários Nominais
Mercado Financeiro (monetário e títulos)
Taxa de Juros
Estoque de Moeda
Mercado de Divisas
Taxa de Câmbio
Assim, ao tentar responder como tem se comportado o mercado de bens e
serviços, efetua-se uma agregação de todos os bens produzidos pela economia
durante certo período de tempo e define-se o chamado produto nacional. Esse
produto representa a agregação de todos os bens produzidos pela economia.
Seu preço, que representa uma média de todos os preços, é chamado nível geral
de preços.
De maneira semelhante, o mercado de trabalho também representa uma
agregação de todos os tipos de trabalhos existentes na economia. Nesse mercado, determinamos a taxa salarial e o nível de emprego.
Adicionalmente, discute-se o mercado monetário, pois a análise será desenvolvida numa economia cujas trocas são efetuadas utilizando-se sempre um
elemento comum. Esse elemento comum é que se conhece por moeda. No mercado monetário, determinam-se as taxas de juros e a quantidade de moeda necessária para efetuar as transações econômicas.
Numa economia, existem agentes econômicos superavitários e agentes deficitários. Agentes superavitários são aqueles que possuem um nível dc renda
superior a seus gastos e deficitários aqueles que possuem um nível de gastos superior ao de renda. Existe um mercado no qual os agentes superavitários emprestam para os deficitários. Em qualquer economia, há uma série de títulos que
fazem essa função (títulos do governo, ações, debêntures, duplicatas etc.). A
Macroeconomia, mais uma vez, agrega todos esses títulos e define um título
(tradicionalmente é representado por algum título do governo), e no mercado
de títulos procura-se determinar o preço e a quantidade de títulos.
Como a taxa de juros é determinada na realidade tanto no mercado monetário como no mercado de títulos, é bastante freqüente analisar esses dois mercados conjuntamente, constituindo o mercado financeiro.
Finalmente, um país realiza uma série de transações com o resto do mundo, que se constituem em mercadorias, serviços e transações financeiras. Para
torná-las viáveis, os preços dos diferentes países devem ser comparados e sua
moeda deve ser convertida na moeda dos outros. A taxa de câmbio permite cal-
Fu ndam entos d e T e o ria e P o lítica M acroecon ôm ica
193
cular a relação de troca, ou seja, o preço relativo entre diferentes moedas. Incorpora-se, então, no estudo macroeconômico o mercado cambial.
Os gastos do governo e a oferta da moeda, na análise macroeconômica,
não são determinados nesses mercados, mas sim de forma autônoma pelas autoridades. Dizemos que são variáveis determinadas institucionalmente. Ou
seja, os gastos públicos e a oferta de moeda não são determinadas, e sim determinam o comportamento das demais variáveis, de acordo com os objetivos do
governo. Assim, o objetivo da análise macroeconômica é estudar como são determinados os agregados econômicos, e como atuar sobre o seu comportamento, através do manejo dos instrumentos de política macroeconômica.
4 INSTRUMENTOS DE POLÍTICA MACROECONÔMICA
A política macroeconômica envolve a atuação do governo sobre a capacidade produtiva (produção agregada) e despesas planejadas (demanda agregada), com o objetivo de permitir à economia operar a pleno emprego, com
baixas taxas de inflação e distribuição justa de renda. Os principais instrumentos são:
4.1
•
política fiscal;
•
política monetária;
•
política cambial e comercial;
•
política de rendas (controle de preços e salários).
POLÍTICA FISCAL
Refere-se a todos os instrumentos de que o governo dispõe para a arrecadação de tributos (política tributária) e controle de suas despesas (política de
gastos). Além da questão do nível de tributação, a política tributária, por meio
da manipulação da estrutura e alíquotas de impostos, é utilizada para estimular
(ou inibir) os gastos do setor privado em consumo e em investimento.
Se o objetivo da política for redução da inflação, as medidas fiscais normalmente utilizadas são a diminuição de gastos públicos e/ou o aumento da carga
tributária (o que inibe o consumo e o investimento), ou seja, visam diminuir os
gastos da coletividade.
Se o objetivo for maior crescimento e emprego, as medidas fiscais seriam
no sentido inverso, para elevar a demanda agregada.
Para uma política que visa melhorar a distribuição de renda, esses instrumentos devem ser utilizados de forma seletiva, em benefício dos grupos menos
favorecidos. Por exemplo, impostos progressivos, gastos do governo em regiões
e setores mais atrasados etc.
194
Econom ia M icro e M acro • Vasconcellos
4.2
Htlffi
POLÍTICA MONETÁRIA
Refere-se à atuação do governo sobre a quantidade de moeda, de crédito e
das taxas de juros. Os instrumentos disponíveis para tal são:
•
emissões;
•
reservas compulsórias (percentual sobre os depósitos que os bancos comerciais devem reter junto ao Banco Central);
•
open market (compra e venda de títulos públicos);
•
redescontos (empréstimos do Banco Central aos bancos comerciais);
•
regulamentação sobre crédito e taxa de juros.
No Capítulo 11, O Lado Monetário da Economia, discutiremos detalhadamente esses instrumentos.
Por exemplo, se o objetivo for o controle da inflação, a medida de política
monetária seria diminuir (enxugar) o estoque monetário da Economia (por
exemplo, aumento da taxa de reserva compulsória, ou venda de títulos no open
market). Se a meta é o crescimento econômico, seria o inverso.
As políticas monetária e fiscal representam meios alternativos diferentes
para as mesmas finalidades. A política econômica deve ser executada mediante
uma combinação adequada de instrumentos fiscais e monetários.
Pode-se dizer que a política fiscal apresenta maior eficácia quando o objetivo é a melhoria da distribuição de renda; isso pode ser obtido via taxação das
rendas mais altas e aumento dos gastos do governo com destinação a setores
menos favorecidos. A política monetária é mais difusa e genérica, no aspecto
distributivo.
Uma vantagem freqüentemente apontada da política monetária sobre a
fiscal é que a primeira tem efeitos imediatos, dado que depende apenas de decisões diretas das autoridades monetárias, enquanto a implementação de políticas fiscais depende de votação do Congresso, o que aumenta a defasagem entre
a tomada de decisão e a implementação das medidas fiscais. Ademais, as políticas fiscais só podem ser efetivadas no próximo exercício fiscal (ou seja, no ano
seguinte a sua aprovação legal), conforme o chamado princípio da anteriori-
dade ou anualidade.
4.3
POLÍTICA CAMBIAL E COMERCIAL
São políticas que atuam sobre as variáveis relacionadas ao setor externo
da economia.
A política cambial refere-se ao controle do Governo sobre a taxa de câmbio (câmbio fixo, flutuante etc.). A política comercial diz respeito aos instrumentos de incentivo às exportações e/ou estímulo/desestímulo às importações,
sejam fiscais, creditícios, seja estabelecimento de cotas etc.
Fu n dam en tos de T eo ria e P o lítica M acroecon ôm ica
4.4
195
POLÍTICA DE RENDAS (CONTROLE DE PREÇOS E
SALÁRIOS)
Alguns tipos de controle exercidos pelas autoridades econômicas podem
ser considerados dentro do âmbito das políticas monetárias, fiscal ou cambial
(por exemplo, o controle das taxas de juros e da taxa de câmbio).
No entanto, os controles sobre preços e salários situam-se em categoria
própria de política econômica. A característica especial é a de que, nesses controles, os agentes econômicos ficam proibidos de levar a cabo o que fariam, em
resposta a influências econômicas normais do mercado.
Normalmente, esses controles são utilizados como política de combate à
inflação. Esses controles também são denominados “políticas de rendas” no
sentido de que influem diretamente sobre as rendas (salários, lucros, juros, aluguel).
5 DESENVOLVIMENTO DA MACROECONOMIA: BREVE RETROSPECTO
Por uma série de crenças, como “mão invisível”, flexibilidade de preços e
salários, bem como a Lei de Say, pela qual “a oferta cria sua própria procura”, os
economistas clássicos (assim rotulados por Keynes) acreditavam que o pleno
emprego da economia estivesse garantido automaticamente .2Era a filosofia do
liberalismo econômico, que acreditava que o mercado sozinho, sem intervenção
do Estado, levaria ao pleno emprego.
Entretanto, com a grande depressão, que sucedeu ao crack da Bolsa de
New York, em 1929, houve como que uma perplexidade dos economistas da
época, que não dispunham de uma teoria que explicasse o fenômeno e propusesse soluções. Afinal, de acordo com a teoria que prevalecia na época,
não deveria existir desemprego, a não ser a chamada taxa natural de desemprego que se prende à rotatividade da mão-de-obra, isto é, indivíduos
que estão mudando de cidade ou setor, e passam um pequeno período desempregados.
Justamente nesse ambiente surge o livro de Keynes e as bases da moderna
análise macroeconômica, que passam a incorporar uma atuação mais efetiva
do Estado, na busca de soluções para os problemas de flutuações do nível de
renda e emprego a curto prazo.
O desenvolvimento teórico da macroeconomia desde então tornou possível
que tais situações fossem prevenidas e forneceu instrumentos para colocar a
economia perto do pleno emprego, bem como controlar a inflação.
2
Um dos maiores pilares da teoria clássica, criada pelo francês Jean Baptiste Say, essa lei preconizava que tudo que fosse
produzido seria automaticamente demandado. Como não existia especulação financeira no modelo clássico, a produção gerava
renda (salários, lucros), que, por falta de alternativas, deveria ser toda gasta com bens e serviços.
196
Econom ia M icro c M acro • V a s c o n c e l l o s _______________________________________________________________________________________________________________________ nttai
Em 1937, J. Hicks lança o artigo “Mr. Keynes and the classics: a suggested
interpretation” , que se tornou a versão oficial do livro de Keynes, de tal sorte que
todas as análises posteriores foram efetuadas mais com base nesse artigo do
que na própria leitura do livro. A partir desse artigo, que introduz o aparato
conhecido como IS/LM, vai-se estruturando a chamada síntese neoclássicakeynesiana (ou, simplesmente, síntese neoclássica), que permite analisar a
economia tanto pela hipótese de pleno emprego (clássica ou neoclássica) como
pela de desemprego (keynesiana).
A síntese neoclássica, representada pela Análise IS/LM, gera resultados
razoáveis, mas apresentava uma dicotomia entre uma economia a pleno emprego e uma economia abaixo do pleno emprego. Como ficará claro no Capítulo
10, supõe-se que, abaixo do pleno emprego, os preços permaneçam constantes,
variando o produto e o emprego, enquanto, no pleno emprego, apenas os preços variam, permanecendo constante o produto. Outro ponto a destacar, que
também será mostrado no Capítulo 10, é a ênfase dada à demanda ou procura
agregada, conhecida como Princípio da Demanda Efetiva, pelo qual são os
movimentos da demanda que respondem pelas alterações da produção, e não o
contrário, como preconiza a Lei de Say.
Uma lacuna no modelo IS-LM é que ele negligencia o papel que as expectativas têm no comportamento dos agentes econômicos, e como isso se reflete no
próprio desempenho da economia, tal como fora enfatizado por Keynes.
Surge, nos anos 50, a Curva de Phillips, que procura incorporar movimentos da oferta agregada, pouco enfatizada em Keynes, prevendo situações
em que havia movimentos conjuntos de preços e salários e produção e emprego,
ou seja, um trade-off (relação inversa) entre taxas de inflação e taxas de desemprego. Como existe uma relação direta entre nível de atividade (produção) e
nível de emprego, a Curva de Phillips corresponde a uma oferta agregada (que
relaciona preços e produto) positivamente inclinada. Assim, aumentos de preços (inflação) estão associados a variações positivas da produção agregada e,
portanto, do emprego.
Até os anos 60, tinha-se todo o instrumental IS/LM analisando os componentes da demanda agregada acoplado à Curva de Phillips, que retratava as
condições da oferta agregada. No entanto, numa herança keynesiana, a ênfase
da política econômica ainda era calcada nos instrumentos de política fiscal,
negligenciando-se a política monetária (que era associada aos clássicos ou aos
neoclássicos).
A Teoria Monetária ressurgiu a partir da segunda metade dos anos 50,
liderada por Milton Friedman, da Universidade de Chicago. Friedman também
teve uma importante função na ênfase ao papel das expectativas inflacionárias
(taxa de inflação esperada), sobre a produção e o emprego e com isso também,
como Phillips, recuperou o papel da oferta agregada na Teoria Macroeconômica.
Com isso, os economistas voltam a dar ênfase ao papel das expectativas
dos agentes sobre a atividade econômica. Começa a desenrolar-se a noção de
que os agentes econômicos não podem ser ludibriados sistematicamente, ou
seja, que cometam erros sistemáticos de previsão. E é justamente essa idéia que
se constitui na base da Escola de Expectativas Racionais, que viria a dar susten-
Fu n dam en tos de T eo ria e Política M acroecon ôm ica
197
tação a toda uma revolução pela qual passou a Macroeconomia durante as
décadas de 70 e 80.
A Escola das Expectativas Racionais, que passou a ser conhecida como
os novos clássicos (new classical economia;), defende que os agentes econômicos, ao formarem suas expectativas sobre alguma variável econômica, acabariam por tentar verificar como aquela variável comportava-se no tempo. Admitindo que existe uma teoria econômica que explica o comportamento da variável, os agentes acabariam por formar suas expectativas com base na própria
teoria explicativa. Assim, evitar-se-iam os erros sistemáticos.
À luz de todos esses movimentos, vão configurando-se quatro escolas principais no pensamento macroeconômico: a dos keynesianos, a dos neoclássicos,
a dos novos clássicos e a dos pós-keynesianos. Freqüentemente, tanto os
neoclássicos como os novos clássicos são denominados de monetaristas.
A diferença fundamental entre os keynesianos e os neoclássicos, originária
desde o livro de Keynes, refletiria o fato de que os neoclássicos acreditavam que
as economias de mercado tendem a gerar equilíbrios em nível de pleno emprego. Por outro lado, os keynesianos procuravam mostrar que a característica
fundamental das economias capitalistas era essa incapacidade de alcançar o
nível de pleno emprego, em face de falhas estruturais do sistema de mercado.
Os keynesianos também acabaram incorporando em parte a hipótese das expectativas racionais, surgindo uma corrente denominada de novos keynesianos,
que procura justificar por que existem certos preços e salários rígidos na economia, que amplificam os efeitos das flutuações da demanda agregada sobre a
produção e o emprego.
Outro grupo de economistas, denominados pós-keynesianos, seguiu uma
trajetória teórica distinta. Igualmente insatisfeitos com os resultados que a
Macroeconomia vinha apresentando, procuraram, a partir da década de 70,
superar essas dificuldades com uma volta ao pensamento de Keynes e outros
autores do passado. O suporte para essa releitura de Keynes era a convicção de
que deficiências de demanda agregada constituem a questão mais importante
das economias capitalistas e são responsáveis pelos níveis de desemprego verificados em muitos países, pela redução da atividade econômica e desaceleração
das taxas de crescimento do produto. Voltam, assim, a privilegiar o papel da
demanda agregada, que vem sendo um tanto obscurecido pelo debate em torno
do comportamento da oferta, a partir dos anos 70.
Outra escola de pensamento relevante é a chamada teoria real do ciclo econômico, que surgiu no começo dos anos 80, propondo que o ciclo
econômico é explicado fundamentalmente pelas flutuações da oferta agregada. Por isso essa escola é também conhecida como “Economia do Lado da
Oferta” (Supply Side Economics).
Finalmente, há ainda os institucionalistas, que procuram incorporar na
análise macroeconômica a influência da estrutura das instituições do país.
Como vemos, os diferentes modelos atuais dão ênfase ora ao papel da oferta
agregada, ora ao papel da demanda agregada como fontes geradoras das flutuações econômicas.
198 Economia Micro e Macro • Vasconcellos
ntkn
QUESTÕES DE REVISÃO______________________________________________________
1.
Conceitue e aponte as principais diferenças entre os enfoques da Macroeconomia e da Microeconomia.
2.
Sintetize os objetivos de política econômica.
3.
Políticas de estabilização da inflação não são compatíveis com melhoria no
grau de distribuição de renda. Você concorda? Por quê?
4.
Comente a questão da compatibilidade (ou não) entre as metas de melhoria
no grau de distribuição de renda e a busca do crescimento econômico, à
luz da experiência brasileira no período do milagre econômico.
5.
Resuma os instrumentos de política econômica.
6.
Qual é a condição de equilíbrio e quais as variáveis macroeconômicas determinadas:
a)
No mercado de bens e serviços.
b)
No mercado monetário.
c)
No mercado de títulos.
d)
No mercado de trabalho.
e)
No mercado de divisas.
QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA____________________________
1.
2.
________
Assinale a alternativa errada:
a)
A política de rendas corresponde basicamente aos controles de preços e
salários.
b)
A política monetária tem aplicação mais imediata que a política fiscal.
c)
A política tributária é um tipo de política fiscal.
d)
A política cambial, no setor externo, refere-se a alterações na taxa de
câmbio.
e)
Todas as alternativas anteriores estão erradas.
A “política fiscal” de um governo pode ser definida como sua política relativa à (ao) (aos):
a)
Relação entre o total de suas compras de bens e serviços e o total de
seus pagamentos de pensões.
b)
Regulamentação de atividades bancárias e de crédito.
c)
Total e aos tipos de despesas e à maneira de financiar essas despesas
(tributação, levantamento de empréstimos etc.).
Fu n dam en tos de T eo ria e Política M acroecon ôm ica
3.
4.
d)
Serviços de educação, saúde e segurança nacional.
e)
Regulamentação de impostos.
199
A política monetária e a política fiscal diferem, essencialmente, pelo seguinte fato:
a)
A política monetária trata dos recursos totais arrecadados e dos gastos
pelo governo, enquanto a política fiscal trata das taxas de juros.
b)
A política fiscal procura estimular ou desestimular as despesas de investimento e de consumo, por parte das empresas e das pessoas, influenciando as taxas de juros e a disponibilidade de crédito, enquanto a política monetária funciona diretamente sobre as rendas por meio da
tributação e dos gastos públicos.
c)
A política monetária procura estimular ou desestimular as despesas de
consumo e de investimento, por parte das empresas e das pessoas, influenciando as taxas de juros e a disponibilidade de crédito, enquanto
a política fiscal funciona diretamente sobre as rendas mediante a tributação e os gastos públicos.
d)
Não há, essencialmente, diferença entre as duas, uma vez que os objetivos e as técnicas de operações são os mesmos.
e)
N.r.a.
No mercado de trabalho, são determinadas quais das seguintes variáveis
macroeconômicas?
a)
Nível de emprego e salário real.
b)
Nível de emprego e salário monetário.
c)
Nível geral de preços e salário real.
d)
Salário real e salário monetário.
e)
Nível de emprego e nível geral de preços.
9
C o n t a b il id a d e S o c ia l
1 INTRODUÇÃO
Observamos anteriormente que a macroeconomia trata da evolução de
toda a economia. O que distingue a macroeconomia da microeconomia é o fato
de a macroeconomia analisar fundamentalmente o comportamento dos grandes agregados, sem preocupar-se com questões específicas dos mercados e agentes
que compõem esses agregados. Rigorosamente, para avaliar o resultado da atividade econômica global, e aferir a riqueza de uma nação, deveríamos explicitar
o quanto foi produzido de cada uma das milhões de mercadorias, o que seria
não operacional e não ilustrativo para uma análise mais abrangente. Desse modo,
devemos buscar medidas que permitam de forma simplificada mostrar o quanto a economia produziu, consumiu, poupou, exportou etc.
A necessidade de obter cifras ordenadas que permitissem uma visão agregada dos fenômenos econômicos ficou mais patente a partir da grande Depressão dos anos 30, quando se evidenciou a necessidade da intervenção do Governo para recuperar o nível de atividade e de emprego. Foi necessário o desenvolvimento da chamada Contabilidade Social ou Contabilidade Nacional, ou
seja, um instrumental que permitisse mensurar a totalidade das atividades econômicas. Os sistemas que mais se popularizaram foram o Sistema de Contas
Nacionais e a Matriz Insumo-Produto. Ao final do capítulo, apresentaremos
uma noção desses sistemas.
Pressupostos básicos da Contabilidade Social
a)
As contas procuram medir a produção corrente. Assim, não são considerados bens de segunda mão, produzidos em período anterior.
Nas transações com esses bens, só se considera como parte da
renda nacional a remuneração do vendedor (que é remuneração
a um serviço corrente, o que independe do produto ser novo ou de
segunda mão) e não o valor da mercadoria vendida.
C on tabilid ad e Social
201
b)
As contas referem-se a um fluxo, normalmente de um ano. Assim,
os agregados correspondem a variáveis fluxo, cujos valores são
considerados ao longo de um período, isto é, têm dimensão temporal. Por exemplo: Valor das Exportações em 2005, Consumo Agregado em 2005, Produto Nacional em 2005. Elas diferem das chamadas variáveis estoque, que se referem a valores tomados em
determinado ponto de tempo, como o nível de emprego, o saldo
dos meios de pagamento, ao final de um dado mês ou ano. A Contabilidade Social só trabalha com fluxos, não apresentando um
balanço patrimonial, de estoques, como aparece na Contabilidade
privada.
c)
A moeda é neutra, no sentido de que é considerada apenas como
unidade de medida (padrão para agregação de bens e serviços fisicamente diferentes) e instrumento de trocas. A moeda tem o papel
de servir de padrão para a agregação de bens e serviços. A Contabilidade Social não registra os chamados agregados monetários,
como meios de pagamento (oferta de moeda), empréstimos, depósitos, open market, aplicações financeiras etc., mas apenas com os
agregados reais, que representam diretamente alterações da produção e da renda e são tratados neste capítulo. As transações financeiras são registradas à parte no balanço do Sistema Monetário e serão discutidas no Capítulo 11.
2 PRINCIPAIS AGREGADOS MACROECONÔMICOS - O FLUXO
CIRCULAR DE RENDA
O objetivo do estudo da Macroeconomia é a formação e a distribuição de
produto e renda gerados pela atividade econômica. É o chamado fluxo circular
de renda. A partir do fluxo circular de renda, estabelecemos os conceitos dos
principais agregados macroeconômicos. Começaremos supondo uma economia
simplificada, fechada e sem governo.
2.1
ECONOMIA A DOIS SETORES SEM FORMAÇÃO DE CAPITAL
Nessa economia simplificada, supõe-se que os únicos agentes são as empresas (que produzem bens e serviços) e as famílias (que auferem rendimentos
pela prestação de serviços). Todas as decisões partem das famílias. As empresas,
que são de propriedade de seus acionistas (que pertencem ao setor família) são
abstrações jurídicas, representando o local onde se organiza a produção.
Suporemos uma economia estacionária, que não se expande. Isso corresponde a supor que não existe o setor de formação de capital (poupança, investimentos e depreciação). Não consideramos por enquanto os setores governo e
resto do mundo.
202
Econom ia M icro e M acro • Vasconcellos
Htfett
Os bens intermediários, como matérias-primas, componentes, energia, são
insumos que entram no processamento de outros bens, ou seja, são transações
de empresas a empresas, que se compensam na agregação das unidades produtoras. Assim, só se consideram os bens finais, e os custos de produção das
empresas, no sistema agregado, não incluem o custo dos insumos intermediários. O fluxo circular da renda, para uma economia a dois setores, pode ser
ilustrado como na Figura 9.1.
MERCADO DE BENS E SERVIÇOS
V
- v ---------------- ^
Despesas de Consumo de Bens e Serviços
Ç d n = c )— ►
Fornecimento de Bens e Serviços
(PN -- Ip i
UNIDADES
PRODUTORAS
FAMÍLIAS
--------Fornecimento dos Serviços dos Fatores de Produção
Remuneração aos Serviços dos Fatores de Produção
flu x o m o n e tá rio
flu x o rea l
Figura 9.1
MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO
Fluxo circular de renda.
O fluxo monetário representa a contrapartida pelo fluxo real, pelo fornecimento de bens e serviços e serviços dos fatores de produção.
A remuneração dos fatores de produção constitui-se em quatro itens: salários (w, do inglês wages), juros ( j ) , aluguéis (a ) e lucros (/).
Salário
=
remuneração dos serviços do fator trabalho.
Aluguel
=
remuneração dos serviços do fator terra (ou Recursos Naturais),
também chamado simplesmente renda.
Lucro
=
remuneração dos serviços do fator capital físico (prédio e instalações).1
1
O lucro também pode ser entendido como remuneração da capacidade gerencial, ou seja, seria a rentabilidade dos
empresários pela organização produtiva da empresa.
C on tabilid ad e Social
Juro
=
203
remuneração dos serviços do fator capital monetário.2
Pelo ângulo das famílias, proprietárias dos fatores de produção, são vistos
como rendimentos; pelo ângulo das empresas, representam custos de produção.
Fica claro que, na Contabilidade Social, os custos de produção são o pagamento aos fatores de produção, na forma de salários, juros, aluguéis e lucros, e
não incluem o pagamento a insumos intermediários como matérias-primas,
peças, energia elétrica etc., que são pagamentos de empresas a empresas, que
acabam se anulando no agregado.
Tem-se então um fluxo circular, no sentido de que a moeda gira pelo circuito, criando renda: firmas recebem das famílias pela venda de bens e serviços
produtivos; firmas remuneram as famílias; famílias compram das firmas etc.;
ou seja, o produto gera renda, que gera consumo, que gera produto, que gera
renda etc.
Papel do lucro
Notamos que o lucro também é considerado como custo de produção (remuneração aos “donos das empresas”, que fazem parte do setor “família”). Assim, o economista vê o lucro como um custo de produção para as empresas, como
já foi mostrado na parte de microeconomia. Isso estabelece uma diferença entre
lucro contábil e lucro econômico. Como o lucro econômico também é um custo,
ele é incluído na “parte inferior” do fluxo (fluxo de rendimentos). Portanto, a
parte superior toma-se igual à parte inferior do fluxo, significando que:
fluxo de rendimentos = fluxo de produção
Exemplo: supondo
vendas = $ 1 .000.000
custos
= $ 650.000
lucro
= vendas - custos = $ 350.000
Como lucro também é considerado custo, temos que
vendas = custos = $ 1.000.000
2.1.1
Três óticas de mensuração: produto, despesa e renda
O fluxo do produto e o fluxo de rendimentos propiciam três óticas pelas
quais pode ser medida a atividade econômica e que chegam ao mesmo resultado numérico. A partir delas, podemos definir os conceitos de Produto Nacional,
Despesa Nacional e Renda Nacional.
2
Mais precisamente, ju ros são a renda do capital monetário aplicado na produção, pagos pelas empresas aos capitalistas
privados. Os juros pagos pelas empresas aos bancos não são considerados remuneração a fator de produção, mas pagamentos
de um serviço intermediário, semelhante à luz, água etc. Ou seja, eles anulam-se na consolidação das contas agregadas das
empresas.
204
Econom ia M icro e M a cro • Vasconcellos
Conceito de Produto Nacional (P N )
O Produto Nacional é o valor de todos os bens e serviços finais produzidos
em determinado período de tempo.
Valor: os preços permitem agregar bens diferentes (produção de maçãs,
com fogões, com serviços de transporte etc.). Assim, o PN é avaliado em termos monetários, e a moeda é a unidade-padrão de
agregação.
Bens e serviços finais: não se consideram os bens e serviços intermediários, como matérias-primas e componentes, que entraram na elaboração de outros produtos.3
Isso evita dupla contagem, como, por exemplo, somar como produto nacional o trigo, a farinha e o pão ao mesmo tempo.
Período de tempo: é um fluxo, definido em dado período de tempo (mês,
ano).
Portanto:
PN
2
pi qi — P sacas café ’ ^ sacas +
;= i
__ A _________
r
\
setor
primário
(agricultura,
pecuária,
pesca,
extração vegetal)
P fogão ' ^fogões
+
r_________A _
setor
secundário
(indústria,
extração
mineral)
+
Qcjmifuf!nfusõ!(
^viagens
,--------- A--------->>
setor
terciário
(serviços,
comércio,
transportes,
comunicações)
sendo i = 1, 2, 3... n bens e serviços finais.
Conceito de Despesa N acional (D N )
O Produto Nacional é uma medida do fluxo de produção, ou seja, pela ótica da produção de bens e serviços das empresas. Mas o Produto Nacional também pode ser medido pela ótica das despesas realizadas pelos agentes de despesa,
ou seja, consumidores, empresas, governo e estrangeiros. Nesse caso, é também
chamado Despesa Nacional (D N ), que é a despesa com o produto nacional.
Assim, a D N é o valor das despesas dos vários agentes na compra de bens e
serviços finais. Neste modelo simplificado,
D N = Despesas de consumo (C)
3
Os conceitos de bens intermediários e bens finais dependem da utilização que se faz do bem ou serviço, mais do que de
uma característica física. Tudo que é vendido diretamente a famílias, governo e setor externo é considerado um bem final.
Nesse sentido, a reposição de peças ou a exportação de matérias-primas também são consideradas com o bens finais. Também
são bens finais as matérias-primas que permaneceram em estoque, já que não foram utilizadas na elaboração de outros
produtos no período.
C o n ta bilid ad e Social
2 0 5
Demonstraremos mais adiante que, considerando os demais agentes, a
Despesa Nacional é a soma das despesas das famílias com bens de consumo,
despesas com investimentos das empresas, gastos do governo e gastos do setor
externo com o Produto Nacional.
Portanto, temos até agora duas formas para aferir o valor do Produto Nacional, ambas a partir do fluxo de produção (mercado de bens e serviços):
•
a partir de quem vende o produto (“por ramo de origem”), que é
o Produto Nacional propriamente dito;
•
a partir dos agentes de despesa ( “por ramo de destino”), que é a
Despesa Nacional.
Conceito de Renda Nacional (R N )
No entanto, existe ainda uma terceira ótica que também possibilita medir
a atividade econômica total do país, que é a Renda Nacional.
A Renda Nacional é a soma dos rendimentos pagos às famílias, que são
proprietárias dos fatores de produção, pela utilização de seus serviços produtivos, em determinado período de tempo.
Renda nacional ( RN) =
salários (w ) + juros (?)
+ aluguéis (a ) + lucros (í)
RN = w + j + a + l
Portanto, a medida é feita pelo fluxo de rendimento (mercado de fatores de
produção), na parte inferior do diagrama anterior. O conceito de RN mostra
como a renda é distribuída entre os proprietários dos fatores de produção (que
pertencem ao setor “ famílias”).
Identidade básica das contas nacionais: P N — D N = R N
Observamos, então, que existem três óticas que permitem medir o resultado econômico agregado de um país. São óticas conceitualmente diferentes, mas
que chegam ao mesmo valor numérico, fazendo com que PN = DN = RN. Vamos
demonstrar esse ponto.
Nesse modelo simplificado, não existem estoques, ou seja, a empresa vende
tudo o que produz. Então
Produção (PN) = Vendas (D N )
Como no agregado são excluídas as compras de bens intermediários, a
empresa gasta com pagamentos a fatores de produção tudo o que recebe pela
venda de bens e serviços ( PN = DN), que são os salários, juros, aluguéis e lucros.
Como os gastos das empresas com fatores de produção é a própria Renda Nacional, segue que:
PN = D N = RN
20 6
Econom ia M icro e M acro • Vasconcellos
Ou seja, são três óticas conceitualmente diferentes para medir a atividade
econômica, mas conduzindo ao mesmo resultado numérico.
Veremos que, mesmo removendo as hipóteses simplificadoras que fizemos,
tal identidade básica mantém-se com o modelo completo.
2.1.2 Conceito de valor adicionado
Por problemas de medição, costuma-se, na prática, medir o PN pelo valor adicionado (ou valor agregado) por setor. Consiste em calcular o que cada ramo de
atividade adicionou ao valor do produto final, em cada etapa do processo produtivo.
Valor Adicionado =
Valor Bruto de Produção - Consumo de Produtos
Intermediários (matérias-primas e componentes)
O Valor Bruto de Produção ( VBP) é o faturamento, a receita de vendas, de
cada setor produtivo. É a renda gerada por cada setor de atividade na cadeia de
produção. Retirando da receita de vendas os gastos com a compra de bens intermediários, o que sobra é a remuneração dos fatores de produção de cada setor,
mas o valor total, isto é, sem discriminar quanto foi pago em salários, ou juros,
ou aluguéis, ou lucros.
O
conceito de Valor Adicionado é uma forma alternativa e a mais operacional
para medir o produto e a renda nacional do que diretamente pela soma de produtos finais, já que a conceituação de bem final não é muito simples, pois depende do uso que se fará posteriormente, sendo difícil aferi-lo a partir do fabricante. Por exemplo, a gasolina vendida nos postos pode ser utilizada tanto como
bem final para o consumidor, como bem intermediário para uma empresa. Ademais, parte das matérias-primas e componentes pode não ser utilizada no período, ficando como estoque. Como será visto mais adiante, esses estoques serão
considerados então como produto final, pois não foram utilizados como produtos intermediários dentro do período.
Exemplo:
Trigo
Farinha
Pão
a) Receita de Vendas (VBP)
100.000
400.000
b) Compras Intermediárias
400.000
Valor adicionado (a - b)
100.000 + 300.000 + 600.000
renda paga
pelo setor de
trigo aos
fatores de
produção
(VA trigo)
Portanto:
renda paga
pelo setor de
farinha aos
fatores de
produção
(VA farinha)
PN = DN = 1.000.000
=
1.000.000 = RN
renda paga
pelo setor de
panificação aos
fatores de
produção
(VA pão)
C o n ta bilid ad e Social
2 0 7
Resumo
Observamos, assim, que existem quatro formas diferentes de medir o resultado econômico de um país, todas conduzindo a um mesmo valor numérico:
•
soma dos produtos finais das empresas produtoras (PN);
•
soma das despesas dos agentes com o Produto Nacional (DA/);
•
soma de rendimentos de salários, juros, aluguéis e lucros (R N );
•
soma de valores adicionados dos setores de atividade (RN).
Assim, os órgãos responsáveis pela medição da atividade econômica (no
Brasil, o IBGE) têm a sua disposição quatro formas alternativas de aferir o resultado econômico dos vários setores produtivos
2.2
ECONOMIA A DOIS SETORES, COM FORMAÇÃO DE
CAPITAL
Até agora, supusemos que:
•
as famílias apenas consomem;
•
as firmas só produzem bens que são consumidos pelas famílias
(bens de consumo).
Trata-se de uma economia em estado estacionário, em que apenas se reproduzem ano a ano as condições de sobrevivência. Entretanto, as famílias também poupam, e as empresas também produzem e investem em bens de capital.
Ou seja, as famílias e empresas preocupam-se também com o consumo futuro
(e não só com o consumo corrente). Com isso, o fluxo de renda pode ampliar-se,
ou diminuir, não permanecendo estacionado.
2.2.1
Conceito de poupança (S)
Poupança é a parcela da RN não consumida no período, isto é, da renda
gerada (salários, juros, aluguéis e lucros), parte não é gasta em bens de consumo.
S = R N -C
(C = Consumo Agregado)
sendo S a notação internacional derivada do inglês Saving.
2.2.2 Conceito de investimento (/)
O Produto Nacional é composto por dois tipos de bens:
a)
bens de consumo: consumidos como um fim em si mesmo;
b)
bens de investimento: não são consumidos, fazendo parte da
produção, e têm como objetivo aumentar a riqueza da nação, isto
é, sua capacidade produtiva.
208
Econom ia M icro e M acro • Vasconcellos
Nessa linha, podemos definir investimento de duas formas:
•
investimento é o gasto em bens que representam aumento da capacidade produtiva da economia, isto é, da capacidade de gerar
rendas futuras; é também chamado de Taxa de Acumulação de
Capital;
•
investimento é o gasto em bens produzidos, que não foram consumidos no próprio período e que serão utilizados para consumo
futuro, ou seja:
I = P N -C
Quais bens são produzidos e não consumidos no período?
1.
2.
máquinas e equipamentos;
3.
variação de estoques (produtos acabados e intermediários) —> AE
imóveis;
Portanto, os componentes do investimento são:
I = Ibk + AE
Assim, o investimento tem dois componentes básicos: bens de capital e
variação de estoques. No Brasil, o investimento em bens de capital é chamado
Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF). A distinção entre bens de capital e
estoques é necessária, dado que as variações de estoques podem não ser deliberadas, dependendo das oscilações de mercado, enquanto o investimento em bens
de capital já é planejado ou deliberado.
Observações sobre investimentos
1. AE = E, - E,_i, isto é, considera-se o fluxo no ano, que é a diferença entre os
estoques ao fim do ano presente com os estoques ao fim do ano anterior.
2.
Não devemos confundir investimento no sentido vulgar com investimento no sentido econômico. Assim, por exemplo, “investir em ações” não
representa aumento da capacidade produtiva, tratando-se apenas de uma
transferência financeira, que não redunda em aumento da capacidade de
produção. Agora, se a firma que colocou suas ações usar parte do dinheiro
para investir em instalações, essa parcela (essa transação) é contabilizada
como investimento. Apenas os dividendos das ações são considerados como
parte da Renda Nacional (como lucro), bem como os salários ou comissões
dos vendedores da Bolsa, mas não o volume de ações.
3.
O investimento em ativos de segunda mão (máquinas, equipamentos,
imóveis) não é contabilizado como no investimento agregado, pois, no fundo, é uma transferência de ativos, que se compensa: alguém “desinvestiu”.
Esses bens já foram computados como investimento no passado, quando
produzidos.
C on tabilid ad e Social
4.
209
Os bens de consumo duráveis, embora também não sejam consumidos no
período e gerem um fluxo de serviços no futuro, não são considerados como
investimento. O problema está na dificuldade operacional de se calcular o
fluxo de serviços gerados por TVs, geladeiras, automóveis. No caso de investimentos em máquinas, eles geram um fluxo físico de produtos, e no de
investimento em imóveis geram aluguéis, enquanto uma TV gera um fluxo
de benefícios não mensuráveis. Ou seja, a base de cálculo é complicada, e a
convenção internacional é considerá-los como bens de consumo final, não
de investimento. Trata-se de uma discussão ainda em aberto, dentro da Contabilidade Social.
2.2.3
Conceito de depreciação (d)
A depreciação é o consumo do estoque de capital físico, em dado período.
Ou seja, o bem de capital também é consumido, no sentido de que sofre um desgaste, só que, diferentemente dos bens de consumo, em parcelas, até que vire
sucata, ou se tome obsoleto. Também chamada de Investimento de reposição.
No entanto, a depreciação é um conceito complicado para ser medido, porque máquinas e equipamentos têm diferentes tipos e tempo de duração. Por
essa razão, costuma-se considerá-la como uma percentagem fixa do produto
nacional. No Brasil, era estimada até 1985 como 5% do produto (no conceito de
Produto Interno Bruto - PIB
que veremos mais adiante). Atualmente, o IBGE
não apresenta estimativas para a depreciação do ativo fixo.
2.2.4 Conceitos de investimento bruto e líquido, produto nacional
bruto e líquido
O investimento líquido, chamado também de formação líquida ou acumulação líquida de capital, é a diferença entre os novos investimentos (investimentos brutos Ib) e a depreciação do estoque de capital, num dado período:
IL = I B - d
O investimento bruto é sempre positivo, mas o investimento líquido pode
ser negativo, se a taxa de depreciação superar os novos investimentos em determinado ano.
O conceito de depreciação permite fazer uma primeira diferenciação no
conceito de Produto Nacional, que pode ser definido em termos brutos ou líquidos, assim:
PNL = PNB - d
sendo PNL o Produto Nacional Líquido e PNB o Produto Nacional Bruto.
Ou seja, pode-se considerar no produto apenas o aumento da capacidade
produtiva, em termos brutos, ou então considerar seu desgaste (depreciação),
em termos líquidos.
210
Econom ia M icro e M acro • Vasconcellos
2.2.5 A identidade
S
=
I ex post
Definimos S = RN - C
e
/ = P N -C
Como fluxo de rendimentos = fluxo de produção (visto anteriormente),
segue-se que:
PN = RN
Conclui-se, portanto, que:
S = I
Em termos contábeis, isso sempre ocorre. As identidades contábeis são ditas ex post, significando a posteriori, “após ocorridas” , “realizadas” . Essas identidades são diferentes das igualdades teóricas chamadas ex ante (planejadas,
desejadas, antecipadas, “antes de ocorrer”).
Agora, dizer que S = I não significa que toda a poupança do período destina-se ao investimento do mesmo período. O investimento do período pode ser
financiado por poupanças passadas, empréstimos etc., assim como a poupança
do período pode ir “para baixo do colchão” , ficar depositada no Banco etc., sem
ser investida.
No entanto, então, como é que conceitos diferentes, poupança e investimento apresentam o mesmo resultado? Dois exemplos mostram que isso ocorre
devido à maneira como definimos S e i .
Exemplos:
a) suponha-se que PN = RN = 100. Com a venda do produto (PN ), as
empresas remuneram as famílias (R N ). Se as famílias decidem
consumir apenas 80 (C = 80), sobra uma poupança de 20 (S = RN C = 20). Então, parte do PN = 100 não foi comprada, porque as
famílias não gastaram tudo. Sobram, então, estoques de 20. Mas
os estoques (a variação) também são investimentos. Então,
/ = AE = 20 e
S = I = 20;
b) Considere-se, agora, PN = 100, supondo produção de bens de consumo = 70 e produção de bens de capital = 30 (investimento).
A remuneração aos fatores de produção (R N ) é igual a 100. As
famílias ligadas aos setores de bens de consumo e de capital
receberam 100. Então, da RN = 100, 30 sobrarão na mão das
famílias (pois podem consumir só 70, que é o total disponível
de bens de consumo produzidos). Esses 30 correspondem à poupança, S - 30 e
S = I = 30.
C o n ta bilid ad e Social
211
Portanto, o ato de produzir bens de capital cria, por definição, uma poupança no mesmo montante.
Veremos, no próximo capítulo, que essa identidade ocorre sempre nas Contas Nacionais (ex post). Nos modelos da Teoria Econômica, em que os agregados são planejados (ou ex ante, antes de ocorrerem), essa identidade só ocorrerá
no ponto de equilíbrio macroeconômico.
Essa identidade permanecerá, como veremos, com a inclusão do governo e
do setor externo.
2.3
ECONOMIA A TRÊS SETORES: O SETOR PÚBLICO
O setor público refere-se às três esferas de governo: União, Estados e Municípios e inclui as transações realizadas pelos respectivos Tesouros. Não inclui as operações financeiras do Banco Central (depósitos, empréstimos) e mesmo a taxa de juros
e a taxa de câmbio, que são consideradas à parte, dentro do Sistema Monetário.
2.3.1
Receita fiscal do governo
A arrecadação fiscal do governo constitui-se nas seguintes receitas:
•
impostos indiretos {T i): incidem sobre bens e serviços. Exemplos: ICMS, IPI;
•
impostos diretos (T d ): incidem sobre as pessoas (físicas e jurídicas). Exemplo: Imposto de Renda, IPTU;
•
contribuições à Previdência Social: encargos trabalhistas recolhidos de empregados e empregadores;
•
outras receitas do governo: taxas (por exemplo, pedágios), multas, aluguéis etc.
2.3.2
Gastos do governo
Nas contas Nacionais, são considerados três tipos de gastos governamentais:
1. Gastos dos ministérios, secretarias e autarquias, cujas receitas provêm
de dotações orçamentárias. São os gastos do Governo propriamente ditos,
que aparecem nas Contas Nacionais e na Teoria Macroeconômica. Como os
serviços do governo (bens públicos, como justiça, segurança, diplomacia,
planejamento) não têm preço de venda, o produto gerado pelo governo é
medido por suas despesas correntes ou de custeio (salários, compras de
materiais) para a manutenção da máquina administrativa e despesas de
capital (aquisição de equipamentos, construção de estradas, hospitais, escolas, prisões).4
4
No sistema de Contas Nacionais da ONU, com o por definição, considera-se que todos os investimentos são realizados
pelas unidades produtoras (empresas), as despesas do Governo e das famílias em bens de capital são consideradas dentro da
conta das empresas. Tudo o que é comprado pelo Governo e famílias é considerado com o bens de consumo final. Mais adiante,
neste capítulo, retornaremos a esses pontos.
212
Econom ia M icro
e
M acro • V a s c o n c e l l o s _______________________________________________________________________________________________________________________ íitlffl
2.
3.
Gastos das empresas públicas e sociedades de economia mista: como
suas receitas provêm da venda de bens e serviços no mercado, atuando como
empresas privadas, são consideradas, nas Contas Nacionais, dentro do Setor
de Produção (junto com as empresas privadas). Exemplo: Cesp, Petrobrás
etc. Isso p o rq u e as Contas Nacionais consideram o tipo de atividade
econômica, e não a propriedade da empresa.
Gastos com transferências e subsídios: considerados nas Contas Nacionais como transferências. Representam apenas uma transferência financeira do setor público ao setor privado, não tendo correspondência com a renda corrente (não são uma remuneração a fator de produção). São os pagamentos a aposentados, a ex-pracinhas, bolsas de estudos às famílias, além
dos subsídios ao setor privado, com o objetivo de baratear o preço de algum
produto básico (trigo, leite) ao consumidor final.
Se os gastos superarem a arrecadação, temos o conceito de déficit fiscal;
se a arrecadação superar os gastos públicos, temos um superávit fiscal.5
2.3.3
Conceitos de Produto Nacional a preços de mercado e
Produto Nacional a custo dos fatores
Vamos apresentar agora uma segunda distinção no conceito de Produto
Nacional: PN a preços de mercado e PN a custo de fatores:
•
PN a preços de mercado (P N p m ): é o PN medido a partir dos
valores transacionados no mercado (ou seja, medido pelo preço
pago pelo consumidor final);
•
PN a custo de fatores (P N cf): PN medido a partir dos valores que
refletem os custos de produção, a remuneração aos fatores (w + j
-I- a + /). E um preço de fábrica, antes dos impostos, e não considerando preços dos insumos intermediários. Como é medido pela
ótica dos rendimentos, rigorosamente é a Renda Nacional a custo
de fatores (RNcf)
A diferença entre ambos está nos impostos indiretos (T i) e nos subsídios
(S u b), isto é:
PNpm = R N cf + Ti - Sub
Nessa diferenciação, consideramos apenas os impostos indiretos (T i), uma
vez que os impostos diretos (Td) serão descontados dos proprietários dos fatores
de produção (e não pelas empresas), após receberem a remuneração. Os impostos diretos não são encargos das empresas, mas das famílias, e nada têm a ver
com a diferença entre custos dos fatores e preços praticados no mercado.
5
Se excluirmos dos gastos ou juros nominais sobre estoque da dívida pública (interna e externa), temos o conceito de
déficit superávit primário do setor público. Se incluirmos os juros, temos o conceito mais amplo de déficit/superávit
nominal ou total. Ver Capítulo 15.
C on tabilid ad e Social
213
Quanto aos subsídios, representam uma diminuição do preço pago pelos
consumidores. Por exemplo: se o governo subsidiar o preço do leite em 30%,
com o objetivo de diminuir o custo para os consumidores, e supondo que o
custo efetivo para os produtores (custo dos fatores) é 100, o preço de mercado
será 70, sendo 30 o montante de subsídio pago pelo governo aos produtores.
Genericamente, é usual associar-se o “Produto Nacional” ao PNpm, e “Renda Nacional” à RNcf. A utilização dos conceitos de PNcf, ou RNpm, não é muito
correta, embora apareçam com freqüência (mesmo porque o resultado numérico é o mesmo), pois, rigorosamente, custo de fatores está associado à ótica de
renda (RN) e preços de mercado, à ótica de produção (PN).
2.3.4
Conceito de carga tributária bruta e carga tributária
líquida
A carga tributária bruta refere-se ao total da arrecadação fiscal do governo, que corresponde à soma dos impostos diretos e indiretos e outras receitas
correntes. A carga tributária líquida é a diferença entre a carga tributária bruta e as transferências e subsídios ao setor privado.
A partir desses conceitos, podem-se construir índices de carga tributária
bruta e líquida, em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), conceito que definiremos no item 2.4.2. Assim:
índice de Carga
Tributária Bruta
Impostos Indiretos + Impostos Diretos
PIBpm
Impostos Indiretos + Impostos Diretos - Transferências
índice de Carga
Tributária Líquida -
2.4
e Subsídios do Governo ao setor privado
^^
PIBpm
ECONOMIA A QUATRO SETORES: O SETOR EXTERNO
Finalizando, vamos incluir nas Contas Nacionais as variáveis relativas a
uma economia “aberta” para o resto do mundo.
2.4.1
Conceitos de exportações (X) e importações (M )
•
exportações (X): são as compras dos estrangeiros de nossos bens
e serviços; ou seja, os gastos do setor externo com nossas empresas;
•
importações (Aí): são nossas compras com bens do exterior, quanto gastamos com o resto do mundo. Parte da renda gerada no país
que “vaza” para fora.
sendo X e M as notações utilizadas internacionalmente.
214
Econom ia M icro e M a cro • Vasconcellos
2.4.2
H tl®
Conceitos de Renda Líquida de Fatores Externos (RLFE),
Produto Nacional Bruto (PA/B) e Produto Interno Bruto (P/B)
Precisamos incluir, nas Contas Nacionais, a renda recebida da atividade de
nossas empresas no estrangeiro; da mesma forma, para termos uma idéia do
que efetivamente nos pertence, devemos excluir a renda remetida às matrizes
das multinacionais aqui localizadas. Isso leva aos conceitos de PNB e PIB (ou
RNB e RIB).b
•
Produto Interno Bruto (P/B): é a renda devida à produção dentro
dos limites territoriais do país.
•
Renda Líquida de Fatores Externos (R LF E ): é a remuneração
dos ativos pertencentes a estrangeiros. Divide-se em:
-
Renda Enviada ao Exterior (R E ): parte do que foi produzido
internamente não pertence aos nacionais, principalmente o
capital e a tecnologia. A remuneração desses fatores vai para
fora do país, na forma de remessa de lucros, royalties, juros,
assistência técnica .7
-
Renda Recebida do Exterior (R R ): recebemos renda devido
à produção de nossas empresas operando no exterior. Assim:
RLFE = R R - R E
Com base no PIB e na RLFE, temos o conceito de:
•
Produto Nacional Bruto (P N B ): renda que pertence efetivamente
aos nacionais, incluindo a renda recebida de nossas empresas no
exterior, e excluindo a renda enviada para o exterior pelas empresas estrangeiras localizadas no Brasil. Portanto:
PNB = PIB + RLFE
Se:
R E > RR => RLFE < 0 => PNB < PIB
RE < RR=> RLFE > 0 => PNB > PIB
O Brasil, bem como a quase totalidade dos países emergentes, inclui-se no
primeiro caso, em que o PIB supera o PNB, devido a altas remessas de juros,
lucros e royalties aos estrangeiros. Aqui, como a RLFE é negativa, ela é chamada
de Renda Líquida Enviada ao Exterior.
6 Embora tenha-se popularizado a dicotomia PIB x PNB, o mais correto seria considerar em termos de renda (R1B x RNB),
pois essa diferença está associada ao conceito de renda, não do produto.
7 Juros, lucros, royalties, assistência técnica, rendas do trabalho e aluguel de equipamentos são chamados de serviços de
fatores, pois representam remuneração aos fatores de produção. Fretes, seguros, turismo, serviços de embaixadas e
representações no exterior são serviços não fatores, por se constituírem em pagamentos a empresas ou órgãos prestadores
de serviços, e não a pessoas físicas proprietárias dos fatores de produção. Retornaremos a esses conceitos no Capítulo 14
(Setor Externo).
C o n ta bilid ad e Social
215
A RLFE não deve ser confundida com a diferença entre Exportações (X) e
Importações (Aí). Os lucros recebidos pela Petrobras do exterior não representam importações; a remessa de lucros da Fiat não constitui exportações. A RLFE
representa parte da renda gerada por essas empresas, e não suas vendas ou
compras.
2.4.3
A fórmula final da Despesa Nacional (D N )
Uma vez apresentados os agregados macroeconômicos correspondentes
aos quatro setores (família, empresas, governo e setor externo), pode-se apresentar a fórmula final da Despesa Nacional:
DN=C + I + G + X -M
onde: C é a despesa das famílias com bens de consumo, / é a despesa com
bens de capital e a variação de estoques, G os gastos do governo, X as exportações e M as importações (sendo a diferença X - M as despesas líquidas do
setor externo).
Rigorosamente, com relação ao setor externo, deveriam aparecer como
componente da despesa agregada apenas as exportações. Deduzem-se, entretanto, as importações, devido ao fato de que elas estão embutidas nas demais
despesas agregadas (C, /, G, X) e pela dificuldade prática de calcular o componente importado para cada um desses agregados (seja como bem de capital,
seja como bem de consumo). Por isso, corrige-se a fórmula, deduzindo-se as
importações pelo seu total global.
O conceito de despesa agregada, assim como o de produto, é apresentado a
preços de mercado, já que são valores finais. Como no Brasil utiliza-se mais o
conceito de Despesa Interna e não o de Despesa Nacional, e não é calculada a
depreciação (com o que são utilizados os conceitos agregados em termos brutos), tem-se, então:
DIBpm = C + I + G + X - M
2.4.4
Fluxo circular de renda para uma economia a
quatro setores
O processo de form ação de renda, considerando os quatro agentes
macroeconômicos, pode ser sintetizado no diagrama a seguir.
____;__________
SETOR
FORMAÇÃO DE
------------------
SETOR
EMPRESAS
. . .
Impostos diretos
(linp. renda, IPTU)
Pagamentos ao
funcionalismo
Transferências
(Aposentadorias,
Bolsas)
SETOR
GOVERNO
Investimento
agregado
Impostos indiretos
(IPI, ICMS)
Subsídios
Compra do
bons e
serviços
lucros,
royalties)
exterior (juros,
enviada ao
Renda líquida
Exportações
Importações
Poupança e:x s m a
(Saldo do balanço de traij isações correntes)
(salários + juros + aluguéis + lucros) = RENDA NACIONAI.
Remuneração a fatores de produção
Consumo agregado de bens e serviços
_ _____________
}f§ S E T O R *
W A M IU A W l
Poupança
privada
Poupança do governo
MERCADO INTERNO
FLUXO CIRCULAR DE RENDA
MUNDO
DO
RESTO
MERCADO EXTERNO
C on tabilid ad e Social
217
Vale lembrar novamente que o sistema de contas nacionais refere-se às variáveis reais, isto é, que representam alterações no produto real da economia. Por
essa razão, não estão explicitadas as transações que envolvem o Sistema Financeiro (depósitos, empréstimos, ações etc.), que têm como principal função captar recursos dos poupadores para transferi-los aos investidores. Como já observamos, as transações relativas ao setor financeiro são detalhadas à parte do
sistema de contas nacionais.
2.5
EXERCÍCIO DE CONTAS NACIONAIS
Dados, em bilhões de reais:
salários pagos às famílias (w )
300
juros, aluguéis e lucros pagos (j + a + l)
450
depreciação de ativos fixos (d)
impostos indiretos (T i)
25
100
impostos diretos (Td )
88
subsídios do governo a empresas privadas (Sub)
10
outras receitas correntes do governo (ORec)
20
renda enviada ao exterior (RE)
7
renda recebida do exterior (RR)
2
pagamentos de aposentadoria (Tr)
40
e sabendo-se que os valores dos salários, juros, aluguéis e lucros são brutos,
no sentido de que ainda não foram descontados os impostos diretos, a depreciação e a renda enviada do exterior, e não incluída a renda recebida do exterior, pede-se:
a) A Renda Interna Bruta a custo de fatores (RIBcf).
b) A Renda Interna Líquida a custo de fatores (RILcf).
c)
A Renda Nacional Líquida a custo de fatores (RNLcf).
d) O Produto Nacional Bruto a preços de mercado (PNBpm).
e)
O Produto Interno Bruto a preços de mercado (PIBpm).
f)
O índice de Carga Tributária Bruta.
g)
O índice de Carga Tributária Líquida.
Resoluções:
a) Como os salários, juros, aluguéis e lucros estão em termos brutos, a soma
desses itens já é a própria RIBcf. Portanto:
RIBcf = w + j + a + O= 300 + 450 = 750
b) RILcf = RIBcf - depreciação — RIBcf - d = 750 - 25 = 725
218
Econom ia M icro e M acro • Vasconccllos
c) RNLcf = RILcf + Renda Líquida de fatores externos = RILcf + RR - FIE
RNLcf = 725 + 2 - 7 = 720
d) PNBpm = RNLcf + depredação + Impostos Indiretos - Subsídios = RNLcf +
d + Ti - Sub
PNBpm = 720 + 25 + 100 - 10 = 835
e) PIBpm = PNBpm - RLFE = 835 - (2 - 7) = 840
0
,cw=
________
H±M
____________, 1 0 0 =
....
PIBpm
100 + 88
840
.100
ICTB = 22,38%
g)
ICTL =
5
_
----- Tí + T d - T r - S u b ---------- 100 =
PIBpm
100 +
88-40-10
840
.
100
ICTL = 16,43%
3 VALORES REAIS E NOMINAIS
Vimos que PN = Z.p q
Então, dados, por exemplo:
P/B2004 = R$ 1,77 trilhão
PIB2005 = R$ 1,94 trilhão
isso não significa que a economia brasileira cresceu quase 10% nesse período,
já que está incluído nesse cálculo o crescimento dos preços “p.” (além do crescimento do produto “q ”).
Isso leva à distinção entre os conceitos de Produto Nacional Monetário
(Nominal) e Real.
P N Nominal (ou P N Monetário): PN a preços correntes do ano
PN2003 — £ p ,2003 . q .2003 - produto de 2003, avaliado a preços de 2003
PN2M — £ p .2004 . q 2004- produto de 2004, avaliado a preços de 2004
PN.m05 = £ p .2005 . q.200S - produto de 2005, avaliado a preços de 2005
PN Real (ou P N deflacionado): PN a preços constantes de determinado ano
(chamado ano-base). Considerando, por exemplo, 1990 como ano base, nem:
C on tabilid ad e Social
1990
ti2003
PN,RE4Í2004 :R1990
,2004
1 p 1990
,2005
PN,REAL2003 = I P
PN,fti>U,2005 =
219
os preços permaneceram constantes em 1990,
ou seja, a taxa de inflação é suposta igual a
zero enquanto as quantidades variaram, nos
três anos. Com isso, teremos apenas o crescimento real entre anos (taxa de crescimento do
produto real).
No exemplo, consideramos 1990 como ano-base, mas qualquer ano da série pode ser considerado o ano-base, ou ano cujos preços supomos que permaneçam nos demais anos. Portanto, a série do PN real supõe que a taxa de inflação é nula.
Evidentemente, apenas instituições de pesquisa, como o IBGE, têm condições de calcular o PIB real a partir da soma de preços e quantidades de
milhares de bens e serviços transacionados a cada ano. No entanto, há uma
forma mais operacional de determinar o PN real, a partir do PN nominal. Essa
passagem é conhecida como deflação ou deflacionamento, e é aplicável para
qualquer série monetária, como faturamento da empresa, salários, impostos,
depósitos etc.
PNreai —
PN nominal
100
índice de Preços
Com esse procedimento, estamos eliminando a influência dos preços, da
seguinte forma:
n\i
_
PN nominal
r A/real — -------------------------------
índice de Preços
sendo
_
=
# ■Q
-------------
p'
_ ~
=
P = índice de preços
Q = índice de quantidade
A Tabela 9.1, a seguir, apresenta o comportamento do PIB brasileiro desde
1990.
8
O índice de preços reflete o crescimento m édio dos preços agregados. Como, por convenção estatística internacional,
os índices de preços são multiplicados por 100 (denom inador), eles devem ser compensados no numerador, multiplicandoo por 100.
220
Econom ia M icro c M acro • V a s c o n c e l l o s _____________________________________________________
Tabela 9.1
PIB nominal, PIB real e deflator implícito da renda.
PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB)
Ano
PIB
a preços
correntes
(R$ 1.000.000)
(1 )
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
11,6
60,3
641,0
14.097,1
349.204,7
646.191,5
778.886,7
870.743,0
913.735,0
973.846,0
1.101.255,1
1.198.736,2
1.346.027,6
1.556.182,1
1.766.621,0
1.937.000,0
Deflator Implícito
da Renda
índice
base
1990 =100
Taxa de
inflação
(% )
(2 )
(3 )
100
516
5.516
115.626
2.705.964
4.804.405
5.640.837
6.106.206
6.393.808
6.758.255
7.325.948
7.868.069
8.670.611
9.971.203
10.778.870
11.545.568
2.596
416
969
1.996
2.240
77,5
17,4
8,3
4,7
5,7
8,4
7,4
10,2
15,0
8,1
7,1
PIB real
(a preços constantes
de 1990)
R$ 1.000
(1 )
(4 ) ---------100
(2)
11,6
11,7
11,6
12,2
12,9
13,5
13,8
14,2
14,3
14,4
15,0
15,2
15,5
15,6
16,4
16,8
PIB real
p e r capita
Taxa de
crescimento
Taxa de
crescimento
(% )
(% )
(5 )
(6 )
-4 ,3
1,0
- 0,5
4,9
5,9
4,2
2,7
3,3
0,2
0,8
4,4
1,3
1.9
0,5
4,9
2,3
-5 ,9
-0 ,6
-1 ,8
3,6
4.6
2,9
1,4
2,0
-1 ,1
-0 ,5
2,8
-0 ,1
0,4
-0 ,9
3,4
0,8
Fonte: IBGE e FGV-RJ.
O procedimento da deflação é o mesmo para qualquer série monetária,
agregada ou não.
Evidentemente, cada série exige um índice deflator específico. Por exemplo, o valor da produção agrícola deve ser deflacionado por um índice de preços
agrícolas; os custos de produção de uma fábrica de automóveis devem ser
deflacionados por um índice de preços da indústria de transporte. Os trabalhadores devem obter seu salário real (que refletirá o verdadeiro poder aquisitivo de
seu salário) a partir do índice de Preços ao Consumidor (também chamado índice de Custo de Vida), que leva em conta apenas os bens e serviços que são
diretamente utilizados pelos trabalhadores (alimentos, habitação, despesas de
saúde, educação, lazer etc.).
Como a questão dos índices de preços não faz parte diretamente do sistema
de Contas Nacionais, ela é detalhada no Apêndice a este Capítulo.
Exercício sobre Deflação
Vamos supor uma série de informações mensais sobre faturamento de uma
empresa do setor químico (Tabela 9.2).
C o n ta bilid ad e Social
Tabela 9.2
221
Faturamento de uma empresa do setor químico.
Meses
Faturamento
(em R$ mil)
( 1)
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
índice de preços por
atacado do setor químico
(base: jan. = 100)
( 2)
10.000
100
10.600
102
103
105
108
11.200
11.300
12.000
Com os dados da Tabela 9.2, pede-se:
a) A série do faturamento real do setor químico, a preços de janeiro.
b) A série do faturamento real do setor químico, a preços de abril.
c)
As taxas de crescimento reais mensais do faturamento do setor.
Resolução:
a) Basta aplicar a fórmula
.
Faturamento real =
Faturamento nominal
-------------------------------------------- • 100
índice de preços do setor químico
Como está sendo solicitado o faturamento com base no mês de janeiro, que
é o período-base do índice da tabela, basta então dividir a coluna ( 1 ) pela coluna (2) e multiplicar por 100, com o que se obtém (Tabela 9.3):
Tabela 9.3
Faturamento real.
Meses
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Faturamento real (a preços
correntes de janeiro)
10.000
10.392,2
10.873,8
10.761,9
11 .111,1
b) Para calcular a série de faturamento real, mas a preços constantes de outro
mês que não janeiro (por exemplo, abril), basta alterar a base de índice
deflator. Trata-se de uma simples aplicação da “regra de três” , dando o valor
100 para o valor do índice no mês de abril (105). Por exemplo, em fevereiro:
102 está para X assim como 105 está para 100. Posto isso, basta dividir a
série monetária original do faturamento pelo índice com nova base e multiplicar os resultados por 100 (ver Tabela 9.4).
222
Econom ia M icro c M acro • Vasconcellos
Tabela 9.4
Mudança de base de comparação.
— r~ —
Meses
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
c)
;------------------
índice de preços por
atacado do setor
químico
(base: abril = 100)
Faturamento real
do setor químico a
preços constantes
de abril
95,24
97,14
98,10
100,00
102,86
10.499,8
10.912,1
11.416,9
11.300,0
11.666,3
Para calcular a taxa de crescimento real mês a mês, podemos usar qualquer
das duas séries de faturamento real, pois a alteração da base de comparação
não modifica as variações reais mensais. Como não temos o dado de dezembro do ano anterior, não é possível calcular a taxa de crescimento para janeiro.
As taxas de crescimento mensais, em termos percentuais, são calculadas da
seguinte forma:
í V a lo re m t
- 1V
\ Valor em t - 1
)
100 (% )
Temos, então (Tabela 9.5):
Tabela 9.5
Taxas de crescimento.
Meses
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Taxa de crescimento
de faturamento real
—
3,9%
4,6%
- 1,0%
3,2%
4 IDENTIDADES BÁSICAS DA CONTABILIDADE NACIONAL
Uma vez definidas as principais variáveis macroeconômicas, vejamos algumas identidades básicas da Contabilidade Nacional, úteis para a análise
econômica. Na realidade, vamos complementar as identidades que vimos com
uma economia simplificada, com apenas dois setores, agora considerando a
economia como um todo.
a) Produto = Despesa = Renda
PIB = DIB = RIB
C on tabilid ad e Social
223
b) DIB = C + I + G + X - M (ótica da despesa)
Mostra como se distribuem os gastos pelos quatro agentes de despesas (consumidores, empresas, governo e estrangeiros).9
c) RIB = C + S + T (ótica da renda)
Mostra como a renda gerada é utilizada pelas famílias. Da renda que recebem (na forma de salários, juros, aluguéis e lucros), ou consomem (C), ou poupam (S), ou pagam impostos ( T). Observe-se que no consumo C estão incluídas
as importações M.
d) Substituindo as expressões b e c em a, vem:
I + G + X = S + T + M
que pode ser rearranjada assim:
/ =
S
+
6
Poupança
Privada
(T -G )
6
Saldo do
Governo
Poupança Interna
ou
‘ global
+
(M - X )
V
Saldo do
Setor Externo
Poupança Externa
= Sglobal
Deve ser observado que, quando as importações (M ) superam as exportações (X ), temos uma poupança externa positiva. Quando X > M, temos
uma poupança externa negativa. Para entender esse ponto, é interessante
distinguir transferência de recursos reais e transferência de recursos financeiros. Do ponto de vista real, as exportações representam parte de nosso produto real que foi para o exterior; as importações significam entrada
de recursos reais (máquinas etc.). Nesse sentido, as importações representam aumento de nossa capacidade de produção (a economia nacional absorveu uma massa de recursos reais do exterior para complementar o financiamento da formação de capital e aumentar a disponibilidade de bens de
consumo do país).
Do ponto de vista financeiro, as exportações representam evidentemente
uma entrada de divisas para o país, um aumento de nossas reservas, enquanto
as importações significam saída de divisas.
Nesse sentido, o conceito de poupança externa na Contabilidade Social é
considerado em termos reais, não financeiros.
9 A identidade já está corrigida pelas importações, conforme mostrado no tópico 2.4.3 deste capítulo.
224
Econom ia M icro c M acro • Vasconcellos
e)
______________________________________________________________________________________________________________________ Btlas
Fórmula final do PIB e DIB:
PIB = C + I + G + X - M
Acerca dessa fórmula, cabem duas observações:
1. Na Contabilidade Social, essa fórmula representa uma identidade contábil.
Na Teoria Macroeconômica, veremos que ela representa uma posição de
equilíbrio entre a oferta e a demanda agregadas de bens e serviços.
2.
Se rearranjarmos a expressão acima como
PIB + M = C + I + G + X,
o termo PIB + M também é chamado de oferta global, representando todos
os bens disponíveis para a coletividade, inclusive os importados, que estão
embutidos em C, /, G e X.
f)
A partir da fórmula do PIB, do item e:
PIB = C + I + G + X - M
podemos chamar C + / + G = E d e absorção interna de bens e serviços, ou
despesa doméstica com o PIB, e X - M d e despesa líquida externa com o PIB.
Assim:
PIB = (C + / + G) + X - M
PIB = E + X - M
PIB-E = X - M
Dessa forma, se PIB > E, significa X > M, ou seja, a produção interna
(P/B) superou a despesa doméstica (E), gerando um superávit comercial no
setor externo.
5 ALGUNS ASPECTOS CONCEITUAIS E PROBLEMAS DEMENSURAÇÃO
NAS ESTIMATIVAS DO PRODUTO NACIONAL
O objetivo de calcular-se o Produto Nacional é obter uma medida da
atividade produtiva, pressupondo que a medida do PN represente o padrão de
vida, o bem-estar da população do país.
Veremos que, na realidade, essa medida apresenta alguns problemas, tanto
para aferir adequadamente a atividade produtiva ou econômica, bem como o
real padrão de vida. Embora praticamente todos os países sigam um padrão
determinado, conforme o Manual de Contas Nacionais da ONU, cada país pode
optar pelas formas de cálculo que mais se ajustem a sua base de dados.
C on tabilid ad e Social
5.1
ATIVIDADES PRODUTIVAS (ECONÔMICAS)
GERAIS DO COTIDIANO
225
x ATIVIDADES
Para efeito de medição na Contabilidade nacional, há uma diferenciação
importante entre atividade econômica e atividade geral do cotidiano:
•
atividades econômicas: aparecem no mercado, têm uma remuneração (um preço de mercado);
•
atividade do cotidiano: não aparece no mercado, não é remunerada.
O Produto Nacional representa o valor do produto corrente da atividade
econômica, que aparece no mercado. Então:
•
barbear-se em casa: não é computado no PN;
barbear-se na barbearia: é computado no PN;
•
refeição em casa: não é computado no PN;
refeição no restaurante: é computado no PN.
Esse fato dá origem ao chamado Paradoxo de Pigou: se o patrão resolve
casar com a empregada, diminui o PN, embora não altere o bem-estar da
coletividade. Nesse sentido, o Produto Nacional não mede corretamente alterações do padrão de bem-estar. Isso representa um viés na comparação de países
com diferentes estruturas de mercado. Por exemplo, na índia, o pão é produzido
mais em residências do que em padarias, e não é computado no PN da índia.
Com esse viés, o PN pode elevar-se simplesmente pela ampliação do setor
de mercado, que não necessariamente reflita aumento do bem-estar. Assim,
embora provavelmente esse fato não represente um viés muito significativo, as
diferenças no PN, numa comparação internacional, não estariam refletindo
adequadamente o padrão de vida.
5.2
TRANSAÇÕES QUE APARECEM NO MERCADO,
MAS EXCLUÍDAS DO PRODUTO NACIONAL
Embora o PN vise medir a atividade econômica, que aparece no mercado,
existe uma série de transações que, conquanto apareçam no mercado, não são
consideradas como renda ou produto nacional.
Pagamentos de transferência
São transações que não alteram o produto e a renda nacionais. Por exemplo, pagamentos a aposentados e ex-pracinhas, bolsas de estudo, subsídios, não
são computados no PN por não representarem remuneração a fatores de produção do período corrente. Trata-se apenas de transferências do governo ao setor
privado. Também são consideradas transferências as transações financeiras,
bem como o valor das transações com bens de segunda mão, como máquinas,
226
Econom ia M icro e M acro • Vasconcellos
carros e casas usados (embora, como já observamos anteriormente, uma reforma da casa entre no PN, e a comissão recebida pelo corretor também, pelo serviço de corretagem).
Valorização e desvalorização de ativos
A valorização do estoque de imóveis ou de ações e títulos não é considerada na medição do PN, pois não se associa à produção de bens e serviços, representando apenas uma modificação no sistema de preços. Já a renda gerada por
esses ativos (aluguéis e dividendos) entra no cômputo do PN (considera-se o
fluxo gerado de renda, não o estoque patrimonial).
Atividades ilegais
Como o Produto Nacional procura medir a atividade econômica socialmente útil, atividades de contrabando e o tráfico de drogas, por exemplo, não
são computados.
5.3
ATIVIDADES QUE NÃO APARECEM NO MERCADO, MAS
SÃO COMPUTADAS NO PRODUTO NACIONAL
Referem-se às estimativas e imputações, que são consideradas no PN, embora não sejam pagamentos em moeda. As principais são as seguintes:
Pagamentos em espécie (em mercadorias ou serviços)
Para os caseiros, por exemplo, que trabalham e moram numa fazenda, é
imputado um aluguel. Da mesma forma, os militares também têm imputado
um valor para a moradia, alimentação e vestuário a que têm direito.
Autoconsumo pelo próprio produtor
É o caso de fazendeiros que consomem parte dos bens que produzem. Houve remuneração a trabalhadores, capital investido etc., o que faz com que esses
bens devam ser considerados no PN.
Imóveis ocupados pelos próprios proprietários
Todos os serviços dos fatores de produção (terra, capital, mão-de-obra)
devem ser computados no fluxo do Produto Nacional. Então, além do aluguel
pago pelos locatários, também deve ser considerado um “aluguel” do próprio
proprietário, quando mora em sua propriedade, ou a empresa que ocupa um
prédio próprio. Se assim não fosse feito, não estaríamos computando convenientemente a renda implícita do proprietário, pelo patrimônio que possui e
pelo padrão de vida que daí advém. Ademais, se não for adotado esse procedimento, o PN cairia quando o proprietário decidisse morar em seu próprio imóvel, e não mais alugá-lo.
Htl»
C o n tabilid ad e Social
5.4
2 2 7
DISTINÇÃO ENTRE PRODUTO FINAL E PRODUTO
INTERMEDIÁRIO
Trata-se de uma distinção nem sempre muito clara e ainda motivo de controvérsias no âmbito da Contabilidade Nacional. Por exemplo, a escada dos pintores, macacão dos trabalhadores, carro de propriedade dos vendedores não
deveriam ser classificados como bens intermediários, pois seriam produtos necessários às famílias, para que produzam bens e serviços finais? A atividade do
governo (construção de estradas, corpo de bombeiros, polícia etc.) não seria
uma atividade intermediária para fornecer a infra-estrutura necessária para o
funcionamento dos demais setores econômicos?
Observa-se assim como é difícil traçar a linha divisória entre bens finais e
bens intermediários. No limite, até o consumo de alimentos poderia ser considerado como produto intermediário, por dar condições para que exerçamos nossas atividades.
Além disso, há uma série de dificuldades práticas de medição para distinguir
se um bem ou serviço é intermediário ou final. Se uma empresa fornece matériasprimas para outra empresa produzir um produto acabado, se essa matéria-prima
não for utilizada até o fim de um período, deixa de ser classificada como bem
intermediário e passa a ser considerada como bem final. Como já citamos antes,
não é possível distinguir se a gasolina vendida num posto foi fornecida para consumo final das famílias ou para o consumo intermediário de empresas.
Por essa razão, a ONU recomenda como norma geral que tudo o que fo r
comprado pelas famílias, pelo governo, mesmo que sejam matérias-primas ou componentes, deve ser considerado produto final nas Contas Nacionais, já que esses
agentes não processam, não manufaturam nenhum bem. Também são considerados bens finais todas as exportações e os estoques, não importando que
sejam de produtos finais ou intermediários.
5.5
CONSUMO DE BENS DURÁVEIS
Como vimos anteriormente, o consumo de bens duráveis em rigor devia ser
incluído como investimento (e não consumo). Assim como é imputado um aluguel para os imóveis, poder-se-ia pensar em calcular o fluxo de serviços (de
bem-estar) gerado pelo carro, pela TV Mas seria complicado, pois, além de propiciarem um benefício não tangível, medido fisicamente, teríamos que descontar os gastos com eletricidade, consertos etc. Por isso, convencionou-se considerálos como bens de consumo.
5.6
MEDIÇÃO DO PRODUTO NUMA ECONOMIA
CENTRALIZADA
Nesse tipo de economia, considerava-se, numa herança marxista, que o
produto econômico relevante seria o produto material, físico. Quanto aos serviços, só entrariam aqueles empregados na produção e distribuição de bens materiais, como serviços de reparação, transporte de carga, por exemplo.
228
Economia Micro c Macro • Vasconcellos
Assim, não entrariam no cálculo do produto os seguintes serviços:
•
governo (justiça, polícia etc.);
•
diversões (lazer);
•
serviços pessoais (cabeleireiros, médicos);
•
transporte de passageiros.
Enfim, é uma interpretação da teoria marxista, no sentido de que tais
atividades não são produtivas. O que gera riqueza é o bem material. Por essa
razão, os países comunistas utilizavam até recentemente o conceito de Produto
Material Bruto, e não Produto Nacional Bruto.
Claramente, o Produto Material era subestimado em relação ao PNB, por
não considerar serviços não produtivos. Com as transformações políticas e econômicas que ocorreram, desde o final dos anos 90, os países comunistas já adaptaram sua Contabilidade Nacional ao sistema da ONU.
5.7
PRESENÇA DA ECONOMIA INFORMAL
D efine-se econom ia in form al a desob ed iên cia civil de atividades
econômicas regulares de mercado. Por exemplo:
•
trabalhadores sem registro em Carteira do Trabalho;
•
sonegação de impostos;
•
vendas sem notas;
•
serviços de autônomos sem recibo.
Se incluirmos as atividades ilegais, como contrabando, tráfico de drogas,
jogo do bicho etc., temos o conceito mais amplo de economia subterrânea ou
economia marginal.
Evidentemente, a não-inclusão desse tipo de transação no cálculo do Produto Nacional pode representar um viés razoável, dependendo do país. No Brasil, a única estatística oficial, calculada pelo IBGE para o Rio de Janeiro, é que a
economia informal é de 18% do PIB carioca.
5.8
COMPARAÇÕES INTERNACIONAIS: O CONCEITO DE
DÓLAR P P P
Para comparações internacionais, utilizamos o PIB em dólares de todos os
países.
Entretanto, o PIB em dólares correntes sofre influência da política cambial de cada país, e normalmente não reflete o real poder de compra do dólar.
Assim, uma desvalorização cambial, por exemplo, reduz o PIB em dólares de
uma hora para outra, não significando que o país ficou repentinamente mais
pobre. Por exemplo, o Brasil, com um PIB aproximado de 900 bilhões de reais
C o n tabilid ad e Social
229
no início de 1999, eqüivaleria a cerca de 750 bilhões de dólares (1 dólar valendo 1,20 real). Com a desvalorização do real (o dólar passou a valer de um dia
para o outro cerca de 1,70 real), o PIB em dólares caiu para cerca de 530
bilhões de dólares. Isso significa que ficamos cerca de 30% mais pobres de um
dia para o outro? Não, o que ocorreu a partir da desvalorização é que viajamos
menos, importamos menos, mas não perdemos renda interna, e sim poder de
compra externo, devido à alteração da política cambial.
Para sanar esse problema, utiliza-se para comparações internacionais o
conceito de dólar PPP {Purchasing Power Parity ou Paridade do Poder de Compra), que toma como referência o valor do dólar nos Estados Unidos. Isto é,
considera-se uma cesta de produtos comuns consumidos em todo o mundo, aos
preços desses produtos nos Estados Unidos, assim:
P I Bppp
= I p ü$ . q
P I B ppp
= I p US • q
P I B ppp
= I p u$ • q
USA
BRASIL
C H IN A
USA
USA
USA
USA
BRASIL
CHINA
Ao considerar um dólar comum, esse procedimento compensa as diferenças de poder de compra entre os diferentes países, tomando como base os preços
dos Estados Unidos. Seria o PIB convertido a dólar internacional, que tem o
mesmo poder de compra em todos os países, como tem nos USA.
As taxas PPP permitem uma comparação padrão dos níveis reais de preços
entre países, da mesma forma que os índices de preços (IPCA etc.) permitem
comparações de valores reais no tempo.
Assim, para compararmos o tamanho das economias dos países, utilizamos valores em termos de poder de compra. Agora, evidentemente que, para
os investidores internacionais, são relevantes os dólares correntes, que é como
auferem os resultados das aplicações financeiras e os lucros de seus investimentos.
Como recomendação, para comparar no tempo a evolução econômica do
próprio país, deve-se utilizar o PIB real, na moeda nacional. Para comparações
internacionais, utiliza-se o PIBPPP.
5.9
PRODUTO NACIONAL COMO MEDIDA DO PADRÃO DE
BEM-ESTAR
Em última análise, a medida do produto nacional procura captar alterações de bem-estar. Mas isso é praticamente impossível, porque bem-estar é um
conceito mais amplo, que envolve questões como paz, igualdade de oportunidades, não-violência urbana, bem como as condições de saúde, educação, distribuição de renda etc.
230
Economia
Micro e M acro
• Vasconcellos
Por esse motivo, devemos diferenciar o conceito de Bem -estar Social (mais
amplo) de Bem-estar Econômico, medido pelo Produto Nacional do país, que é
avaliado no mercado, tem um preço de mercado. O Produto Nacional mede
essencialmente o bem-estar no sentido econômico .10
O indicador mais utilizado para avaliar o bem-estar do ponto de vista
social é o índice de Desenvolvimento Humano (ID H ), divulgado periodicamente pelas Nações Unidas. Trata-se de um índice calculado a partir de uma
média de indicadores sociais (taxa de alfabetização, nível de escolaridade e
expectativa de vida) e econômicos (PIB real per capita):
•
índice da esperança de vida: esperança de vida ao nascer (anos);
•
índice da educação:
-
taxa de alfabetização de adultos (dois terços do índice);
-
taxa de escolaridade bruta conjunta do 1B, 2U e 3“ graus (um
terço do índice);
•
índice do PIB: PIB real per capita, em dólares PPP (dólares ajustados pelo poder de compra dos países).
Esse estudo classifica 177 países em três categorias: desenvolvimento humano elevado (IDH superior a 0,8), desenvolvimento humano médio (IDH entre
0,5 e 0,799) e desenvolvimento humano baixo (IDH inferior a 0,499). Em 2003, o
Brasil ocupava a 63u posição, ou seja, o nível médio. Os cinco países de melhor
qualidade de vida eram, pela ordem, Noruega, Austrália, Canadá, Suécia e Bélgica.
Para a grande maioria dos países, a classificação a partir do IDH apresenta
alto grau de correlação com a classificação pelo PIB per capita. Os maiores contrastes são representados pelos ricos países árabes e os empobrecidos países que
integram a extinta União Soviética. Os países árabes estão entre os mais ricos do
mundo, mas não ostentam o mesmo padrão em termos sociais. Exemplos: Oman
é o 38° no ranking do PIB, mas despenca para 71® no IDH; a Arábia Saudita tem
a 42a maior renda per capita, mas é o 68° no IDH.
Já os países da ex-URSS apresentam um IDH proporcionalmente mais elevado
que seu PIB. Quase todos estão colocados mais de 15 posições à frente na classificação pelo IDH, relativamente à renda per capita. Por exemplo, a Geórgia ocupa a 108;'
posição no PIB per capita, mas a 76a no IDH. Também alguns países socialistas,
como Cuba, e alguns países da América Latina (Costa Rica, Argentina, Chile, Uruguai) têm melhor posição no rank do IDH do que no do PIB per capita.
Nesse aspecto, o Brasil apresenta uma classificação pelo IDH (63a) praticamente igual à classificação pelo PIB (64a).
Entretanto, como a metodologia do IDH ainda não está consolidada (por
exemplo, não leva em conta o grau de distribuição de renda do país), a medida
10
Nessa linha, alguns economistas sugerem que, para aproximar mais o cálculo do PN ao conceito de bem-estar social,
deveria ser retirado do cálculo do PN o custo social causado pelo crescimento econômico (as chamadas externalidades negativas, como poluição ambiental, custos de congestionamentos urbanos etc.). Na mesma linha, poderiam ser acrescidos os
benefícios advindos do aumento do lazer, refletido no fato de que as horas trabalhadas têm diminuído ao longo dos anos,
enquanto o PN tem aumentado (eqüivale a dizer que a produtividade média do trabalho tem aumentado).
C o n ta bilid ad e Social
231
do Produto Nacional (PIB) ainda é o indicador mais operacional, tanto para
comparações internacionais, como para medir o crescimento do país ao longo
dos anos. Ela deve ser utilizada, mas sempre observando também outros indicadores socioeconômicos, como grau de distribuição de renda, analfabetismo,
mortalidade infantil, expectativa de vida, leitos hospitalares per capita, calorias
e proteínas per capita, para que tenhamos uma avaliação mais completa da real
condição de desenvolvimento econômico e social de um país.
6 SISTEMAS DE C O NTABILID AD E SOCIAL
Os Agregados macroeconômicos que discutimos neste capítulo são calculados com base em dois sistemas principais de contabilidade social: o Sistema de
Contas Nacionais e a Matriz Insumo-Produto.
O Sistema de Contas Nacionais, desenvolvido por Simon Kuznets e Richard
Stone, ambos Prêmio Nobel e publicado pela primeira vez em 1953, baseia-se no
método contábil das partidas dobradas, e tem como característica não considerar as transações com bens e serviços intermediários (que são absorvidos na
produção de outros produtos), enquanto a Matriz Insumo-Produto ou Matriz
de Relações Inter-setoriais, desenvolvida pelo russo Wassily Leontief, também
agraciado com o Prêmio Nobel, baseia-se numa matriz de dupla entrada, e
considera tanto as transações com bens e serviços finais como intermediários.
O Sistema de Contas Nacionais apresentou profunda alteração em anos recentes, conforme orientação da ONU (no Brasil, a partir de 1998), sendo inclusive
compatibilizado com a Matriz Insumo-Produto. O sistema atual, embora seja bem
mais rico e completo do que a versão original de Stone e Kuznetz, tomou-se extremamente complexo. Por esse motivo, resolvemos manter nesta edição a versão
original, e apresentar um breve resumo da nova metodologia adotada no Brasil.
Em seguida, sintetizamos a Matriz Insumo-Produto.
6.1
O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS (VERSÃO ORIGINAL)
O Sistema de Contas Nacionais da ONU é baseado em quatro contas, relativas
à produção, apropriação (ou utilização) da renda e acumulação (ou formação de
capital) dos agentes econômicos (famílias, empresas, setor público e setor externo):
•
Conta Produto Interno Bruto (produção);
•
Conta Renda Nacional Disponível Líquida (apropriação);
•
Conta Transações Correntes com o resto do mundo;
•
Conta de Capital (acumulação).
Os lançamentos das transações são feitos de acordo com o tradicional
método das partidas dobradas.
232
Econom ia M icro c M acro • V a s c o n c e l l o s ______________________________________________________________________________________________________________________ íitlíis
Como complemento, apresenta-se também a Conta Corrente das Administrações Públicas. Essa conta discrimina um pouco mais as contas do governo, que estão incluídas nas quatro contas anteriores. A seguir, apresentamos as quatro contas básicas.
i)
CONTA PRODUTO INTERNO BRUTO
Essa conta apresenta, no lado do débito, o pagamento das unidades produtivas aos fatores de produção, incluindo os impostos indiretos (menos os subsídios)
e, no lado do crédito, o que as empresas receberam dos agentes que adquiriram os
bens e serviços finais. A partir dessa conta, tem-se o conceito de Produto Interno
Bruto a preços de mercado e de Dispêndio Interno Bruto a preços de mercado.
No razonete a seguir, a numeração das transações permite verificar a
contrapartida contábil das mesmas nas outras contas do Sistema.
CONTA PRODUTO INTERNO BRUTO
(unidades produtoras)
Débitos
7.
8.
9.
10.
Salários
Excedente operacional bruto
Impostos indiretos
(-) subsídios
Produto Interno Bruto a preços
de mercado
Créditos
1. Consumo das famílias (ou consumo
pessoal)
2. Consumo do govemo
3. Investimentos em bens de capital (ou
Formação bruta de capital fixo)
4. Variação de estoques
5. Exportações CIF11
6. (-) Importações CIF11
Despesa Interna Bruta a preços de
mercado
Nessa conta, o Excedente Operacional Bruto é definido como a diferença
entre o Produto Interno Bruto a custo de fatores menos o total de salários, ou
seja, é o total de juros, aluguéis e lucros. Na prática, é obtido por diferença:
calcula-se o PIB a custo de fatores, a partir do valor adicionado por setor, e
depois subtrai-se o total de salários.
Cabe destacar que as empresas estatais são consideradas na conta de produção, pois vendem bens e serviços no mercado, como as empresas privadas.
Tudo que é atividade produtiva entra nessa conta, o que inclui também
empresas familiares (padarias, pequeno comércio etc.), bem como a atividade
de autônomos.
Todo o investimento das famílias em moradias, bem como os investimentos do governo (despesas de capital), também é contabilizado nessa conta, pois
representa uma atividade de produção.
11 Exportações e Importações CIF ( cost, insurance and freight) : incluem fretes e seguros.
Exportações e Importações FOB (free on board): custo da mercadoria, isento de fretes e seguros.
C o n ta bilid ad e Social
233
i i ) CONTA RENDA NACIONAL DISPONÍVEL LÍQUIDA
Essa conta descreve, no lado do débito, como as famílias e o governo utilizam
a renda recebida (destinada ao consumo ou à poupança) e, no lado do crédito, as
rendas recebidas pelas famílias e pelo governo mais o resultado líquido dos recebimentos e das transferências com o exterior. Os subsídios e a depreciação entram
como crédito, mas com o sinal negativo. A partir dessa conta, podemos mensurar a
utilização da Renda Nacional Disponível Líquida, bem como sua apropriação.
CONTA RENDA NACIONAL DISPONÍVEL LÍQUIDA12
(apropriação da renda)
Créditos
Débitos
1. Consumo das famílias
2. Consumo do governo
14. Saldo: poupança interna
Utilização da Renda Nacional Disponível Líquida
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
Salários
Excedente operacional bruto
Impostos indiretos
(-) Subsídios
(-) Depreciação
(-) Renda enviada ao exterior
Renda recebida do exterior
Apropriação da Renda Nacional Disponível
Líquida
•
O governo e as famílias são setores usuários e não produtores de bens e
serviços para o mundo. A atividade do governo como produtor, por meio das
empresas estatais, está considerada dentro do setor de produção, como já mencionamos.
i i i ) CONTA TRANSAÇÕES CORRENTES COM O RESTO DO M UNDO
Nessa conta, registram-se, no lado dos débitos, os gastos dos não-residentes com os bens produzidos internamente (exportações CIF), os rendimentos e
as transferências recebidos do resto do mundo (rendas e donativos), bem como
a poupança externa. No lado dos créditos, registram-se as compras realizadas
por residentes de bens e serviços produzidos no exterior (importações CIF) e os
pagamentos e as transferências pagas aos não-residentes (rendas e donativos
enviados ao exterior).
CONTA TRANSAÇÕES CORRENTES COM O RESTO DO MUNDO
Débitos
Créditos
5. Exportações CIF
13. Renda recebida do exterior
15. Saldo: Poupança externa
6. Importações CIF
12. Renda enviada ao exterior
Utilização dos Recebimentos Correntes
Recebimentos Correntes
12 No Brasil, como não tem sido calculada a depreciação, essa conta denomina-se Conta Renda Nacional Disponível Bruta.
23 4
Econom ia M icro e M acro • Vasconcellos
Os recebimentos e pagamentos indicados são considerados do ponto de
vista do resto do mundo. Assim, as importações, por exemplo, representam pagamentos aos países fornecedores, a crédito destes. Como a poupança externa é
considerada em termos reais (não financeiros), nas Contas Nacionais uma poupança externa negativa significa que saíram do país mais bens e serviços do
que entraram. O país teve um saldo negativo com o resto do mundo, em termos
de bens e serviços. Em termos financeiros, trata-se de um saldo positivo (entraram mais divisas do que saíram). Uma poupança externa positiva significa
que entraram no país mais bens e serviços do que saíram.
No Capítulo 14, mostraremos com mais detalhes que o conceito de Poupança Externa corresponde ao saldo em conta corrente do Balanço de Pagamentos.
iv ) CONTA DE CAPITAL
A conta de capital tem como objetivo consolidar o sistema de contas. Nessa
conta, são lançadas as contrapartidas de investimento e as poupanças das outras contas. Assim, no lado do débito, são lançados os gastos com a formação de
capital, incluindo a depreciação (lançada com o sinal negativo), e, no lado do
crédito, a fonte dos recursos para os investimentos, ou seja, a poupança dos
agentes econômicos (famílias, governo, empresas e setor externo), representando o saldo das contas anteriores.
CONlA DE CAPITAL
Débitos
Créditos
3. Investimentos em bens de capital
14. Poupança interna
(ou Formação bruta de capital fixo) 15. Poupança externa
4. Variação de estoques
11. (- ) Depreciação
Total da Formação de Capital
6.1.1
Financiamento da Formação de Capital
Conceitos de Poupança do Setor Privado, Renda Disponível
do Setor Privado e Renda Disponível do Setor Público
Podemos obter ainda mais três conceitos, a partir das Contas Nacionais: poupança do setor privado e renda disponível do setor privado e do
setor público.
Poupança do Setor Privado
Poupança do Setor Privado =
Poupança Interna (Poupança Bruta)
- Poupança do Governo
A Poupança Interna (ou Poupança Bruta, no Brasil) é o saldo da conta
Renda Nacional Disponível Líquida (Bruta, no Brasil). Esse saldo, entretanto,
não separa a parcela de poupança do setor privado e a do governo. Como o
C o n ta bilid ad e Social
235
saldo da conta corrente das administrações públicas é a própria Poupança do
Governo, obtém-se então por diferença a Poupança do Setor Privado.
Renda Disponível do Setor Privadou
A Renda Disponível do setor privado é o que sobra efetivamente para o
setor privado gastar (ou poupar).
RDpriv =
Renda Disponível Total + Transferências do governo ao
Setor Privado + Subsídios - Impostos Diretos - Impostos
Indiretos - Outras Receitas Correntes do Governo
A Renda Disponível Total é o total da conta “Renda Nacional Disponível
Líquida”, que eqüivale ao Produto Nacional Líquido a preços de mercado. As
transferências do governo referem-se principalmente aos pagamentos de aposentadoria.
Renda Disponível do Setor Público
É a renda que o setor público dispõe efetivamente para gastar (ou poupar).
RDpubl =
Impostos Diretos + Impostos Indiretos + Outras
Receitas Correntes do Governo - Subsídios Transferências do Governo ao Setor Privado
ou simplesmente
RDpubl =
Arrecadação Fiscal - Transferências e Subsídios
do governo ao Setor Privado
Ou seja, corresponde à diferença entre a Renda Disponível Total e a Renda
Disponível do Setor Privado.
6.2
NOÇÕES SOBRE A MATRIZ INSUMO-PRODUTO
A Matriz insumo-produto, ou Matriz de Relações Intersetoriais é o outro
sistema mais difundido para medir a atividade econômica agregada de um
país. Representa uma radiografia da estrutura da economia, pois mostra toda
a cadeia produtiva, o que cada setor de atividade compra e vende para outros
setores (por exemplo, o que o ramo de calçados vende para outros setores e
consumidores, e o que com pra); ou seja, mostra as transações com bens e
serviços intermediários. O sistema tradicional, que vimos anteriormente, não
traz esse tipo de informação, pois considera apenas as transações com bens e
serviços finais.
13
A Renda Disponível do Setor Privado também costuma ser definida com base na Renda Interna Bruta a custo de fatores,
e não com base na Renda Disponível Total. Nesse caso, temos que especificar a depreciação (d ) e a renda líquida de fatores
externos (RR - RE), assim: RDrnv = RlBf+ TR + Sub - Ti - Td - Outras Receitas do Governo - d + RR -R E .
236
irtlín
Econom ia M icro e M acro • Vasconcellos
Cada setor é relacionado duas vezes:
•
em linha (o que cada setor vende);
•
em coluna (o que cada setor compra).
A matriz permite estabelecer coeficientes técnicos de produção a. ., isto
é, quando o setor j necessita do produto i (em $). Exemplo: se o setor farinha
produz $ 100.000 e compra $ 40.000 de trigo, o coeficiente técnico será:
_
atj =
Xij
Xj
_
40.000
---------------
100.000
quanto setor j compra do setor i
valor da produção do setor j
= Assim, se houver uma expansão de, digamos, $ 60.000 na produção de
farinha, é de se esperar que esse setor demande $ 24.000 de trigo (0,4 de 60.000).
O conhecimento desses coeficientes permite fazer previsões de produção de
cada setor, fixadas algumas metas de demanda. Possibilita visão imediata dos
prováveis resultados de diversas alternativas de política econômica sobre a
atividade produtiva. Por exemplo, se as autoridades resolverem incentivar a produção agrícola, é possível estimar o impacto desse incentivo sobre os setores que
demandam produtos agrícolas como insumo e como produto final (efeitos para
a frente, ou forward linkages), bem como sobre os setores dos quais a agricultura compra insumos (efeitos para trás, ou backward linkages). Ou seja, o cálculo
desses coeficientes técnicos permite razoável previsão do impacto de alterações
na produção de um setor, sobre salários, lucros, importações etc. do próprio
setor e dos demais setores com os quais esse setor relaciona-se.
Tais coeficientes refletem a estrutura da economia e não apresentam grandes variações a curto e médio prazo, o que os torna um importante indicador
para previsões e, portanto, para o planejamento econômico.
Esses coeficientes são também chamados coeficientes de uso. Nos países
socialistas, são denominados normas técnicas de produção e, como tal, constituem importantes elementos de informação na planificação econômica.
Infelizmente, a exigência de dados mais desagregados que o sistema de Contas Nacionais torna difícil sua elaboração ano a ano. No Brasil, temos a matriz
calculada para 1960, 1970, 1975, 1980 e 1985. Em sua última versão, foi calculada para 123 setores e para mais de 1.200 produtos. O IBGE está desenvolvendo
um sistema que permitirá a elaboração parcial da matriz ano a ano. As informações completas sobre a matriz podem ser obtidas no Anuário Estatístico do IBGE.
Com o desenvolvimento crescente da Informática e da Econometria, pode-se
esperar que os sistemas de contabilidade social caminhem para uma matriz desse
tipo, que fornecem, ano a ano, informações mais completas que o sistema de Contas Nacionais.
Esquem adzação sim plificada da m a triz in sum o-prod uto
Dividimos a economia nacional em n setores de produção. Representamos
por Xj o valor da produção anual do setor). Uma parte desse produto é deman-
C o n ta bilid ad e Social
237
dada por vários setores da economia nacional como meios de produção (d emandas intersetoriais), sendo representada por Xi 1, Xi2, Xin; a outra parte da
produção é destinada diretamente ao consumo final (demanda final) Dj.
Supondo três setores de atividade, a matriz é disposta como no Quadro 9.1.
Quadro 9.1
Matriz insumo-produto.
DEMAND\S INTERMEDIÁRIAS
(OUIlMTERSETORIAIS)
Destino da
Produção
Origem da
Produção
íllllll
Agricultura
(Setor 1)
Indústria
(Setor 2)
Serviços
(Setor 3)
DEMANDA
FINAL
(C + J + G + X )*
VALOR
BRUTO DA
PRODUÇÃO
Agricultura
(Setor 1)
Xn
Xl2
Xl3
Di
Xi
Indústria
(Setor 2)
Xi\
X 22
Yj4
D2
Xi
Serviços
(Setor 3)
X»
Xil
X»
Ý4
Xi
IMPORTAÇÕES
Mi
Mi
N4
VALOR ADICIONADO
VAi
WB3
WB4
VALOR BRUTO
DA PRODUÇÃO
X\
X'2
Y4
( * ) N o Brasil, os gastos com consumo pessoal C são divididos por classes de renda; o consumo do governo G é dividido por
funções (transportes, saúde, educação, energia etc.); e os investimentos / são divididos em formação bruta de capital fixo
do governo, das empresas e das unidades familiares, e em variação de estoques. Não é calculada a depreciação.
Cálculo do p ro d u to interno e da renda interna bruta
Para calcularmos o produto/renda nacional, a partir da matriz, temos duas
alternativas :14
a) soma dos valores adicionados:
Renda Interna Bruta (RIB) = LVAj
b) soma das demandas finais, menos a soma das importações:
Produto Interno Bruto (PIB) = C + I + G + X - M = I D j - I M j
Cálculo dos coeficientes técnicos
Coeficientes intersetoriais a.
o
Como vimos:
Xij
Xi
_
quanto setor j compra do setor i
valor da produção do setor j
14
Todos os valores estão a preços de mercado, ou seja, incluem impostos indiretos e subsídios. Incluem ainda os custos de
comercialização dos produtos (basicamente custos de transportes). Com isso, o valor bruto da Produção X corresponde ao
próprio faturamento ou receita de vendas de cada setor.
Download