Números e funções Guia do professor Experimento Torres de Hanói Objetivos da unidade 1. Utilizar o jogo de estratégia para explorar o raciocínio lógico e a resolução de problemas; 2. Encontrar a relação algébrica que fornece o menor número de jogadas necessárias para resolver o jogo. licença Esta obrá está licenciada sob uma licença Creative Commons Secretaria de Educação a Distância Ministério da Ciência e Tecnologia Ministério da Educação Guia do professor Torres de Hanói Sinopse Este experimento se trata de um jogo conhecido por Torres de Hanói, o qual se constrói a partir de 3 pinos e alguns discos. Ele possui regras bem simples: os discos que, inicial­mente, formam uma torre no primeiro pino, em ordem decrescente de tamanho, devem ser transferidos para o último, movendo-se apenas um disco de cada vez e nunca colocando um disco maior sobre um menor. Neste experimento, vamos, primeiramente, pensar em uma estratégia para solucionar esse jogo usando o menor número possível de movimentos. Depois, vamos tentar encontrar a relação algébrica que fornece o menor número possível de movimentos em função do número de discos na Torre. Conteúdos Sequências, Outras Sequências; Função Exponencial, Aplicação. Objetivos 1. Utilizar o jogo de estratégia para explorar o raciocínio lógico e a reso­lução de problemas; 2. Encontrar a relação algébrica que fornece o menor número de jogadas necessárias para resolver o jogo. Duração Uma aula dupla Introdução Motivação O tema Números e Funções é de grande importância no Ensino Médio, contribuindo para a compreensão e solução de grande parte dos pro­ blemas relacionados não apenas ao cotidiano do aluno, mas a casos mais gerais. O lúdico constitui uma forma agradável de apresentação ou solidifi­ cação de conceitos para os alunos. Jogos de estratégia, por exemplo, são uma oportunidade de se aprimorar o raciocínio, a concentração, a capaci­ dade de memória, objetivando desenvolver habilidades de plane­jamento, organi­zação e solução de problemas. Além disso, desafios como esses permitem acompanhar o desenvolvimento dos alunos e auxiliam a obter um melhor diagnóstico das dificuldades que eles apresentam. Com essa intenção, foi escolhido o jogo das Torres de Hanói para estudar o tema e chegar a um procedimento dedutivo ao determinar a relação entre o número de discos e o número mínimo de movimentos necessários para resolver o problema. As Torres de Hanói são um jogo de origem oriental composto por uma base contendo três pinos, sendo que, em um deles, estão colocados discos concêntricos em ordem decrescente de diâmetros: os menores sobre os maiores. O desafio consiste em transferir os discos para o terceiro pino, de modo que fiquem dispostos como originalmente, usando o segundo pino como auxílio. Devem ser obedecidas as duas regras básicas que seguem: Torres de Hanói Apenas um disco pode ser movimentado por vez; Não se pode colocar um disco maior sobre um outro menor. Além desses, outro desafio é determinar o menor número possível de movimentos em cada jogada para se chegar ao objetivo proposto, bem como obter uma relação entre este número e o número de discos utilizados. Este jogo foi inventado em 1883 pelo matemático francês Edouard Lucas, que se inspirou em uma lenda sobre a Torre de Brahma. O nome Torres de Hanói foi inspirado na torre, que é um dos símbolos da cidade de Hanói, no Vietnã. Existem várias lendas que dizem respeito às Torres de Brahma. Uma delas conta que, no começo dos tempos, o Senhor do Universo teria criado a Torre de Brahma com três pinos de diamante alinhados. No primeiro pino colocou 64 discos de ouro maciço em ordem decrescente de tama­nho. Aos seus sacerdotes, havia ordenado que transferissem todos os discos para o terceiro pino movendo apenas um disco de cada vez e nunca colo­ cando um disco maior sobre um menor. Os sacerdotes, então, obedeceram e começaram o seu trabalho, dia e noite. Diz a lenda que, quando eles terminarem, a Torre de Brahma irá ruir e o mundo acabará. Guia do professor 2 / 8 O experimento Comentários iniciais fig. 1 Torre de Hanói (com altura de 33,4m). Fotografia por Philip Jägenstedt. Inserido no tema Números e Funções, a descoberta de padrões algébricos que regem um fato ou experimento (ou até mesmo um jogo como o que apresentamos) fica muitas vezes relegado a um segundo plano. Além disso, as argumentações referentes à validação desses padrões em geral não são desenvolvidas com os alunos, o que dificulta a participação dos alunos na construção do conhecimento. Este experimento, então, nos propicia a oportunidade de tratar esse assunto, o que pretendemos desenvolver sem muito formalismo e construir um ambiente favorável para uma aprendizagem prazerosa e desafiadora. O experimento é dividido em três etapas; vamos a elas. Etapa 1 Construção das Torres de Hanói A montagem das torres deve ser desenvolvida de acordo com o tempo disponibilizado para o experimento. Etapa 2 O jogo fig. 2 Localização do país Vietnã e da cidade Hanói. Torres de Hanói Inicialmente, o jogo deve ser colocado em prática sem muita preocupação com os registros e tabelas, porque a intenção é que os alunos se familia­ rizem com o jogo e com a resolução do problema. A seguir, devemos partir para o registro das jogadas em tabelas. A tabela 1 relaciona o número de discos na primeira torre com o número de movimentos para finalizar o jogo. A tabela 2 deve ser feita na lousa e conter o registro dos grupos, para socialização dos resultados. É importante que se faça com os alunos uma análise desses resultados. Na última coluna acrescentada à tabela devem constar os números mínimos de movimentos em cada jogada. Guia do professor 3 / 8 Fechamento Etapa 3 Investigação da relação Nesta etapa, o objetivo é levar o aluno a alcançar a solução do desafio utilizando o número mínimo de movimentos para cada número de discos escolhidos, ou seja, encontrar uma relação algébrica entre o número mínimo de jogadas e o número n de discos em cada jogada, relação esta que seja válida para qualquer quantidade de discos. É importante que, por algum tempo, os alunos sejam incentivados a tentarem encontrar essa relação, analisando a tabela na lousa e levantado discussões a respeito dela. Caso o objetivo não seja atingido após o tempo determinado para a tarefa, oriente-os com questionamentos e sugestões. Além disso, outra questão: a relação algébrica encontrada será real­ mente válida para todo número natural n? Como garantir isso? A solução dessas questões está apresentada no Fechamento. O Fechamento é uma importante ferramenta para avaliar o método de aula e promover a fixação da aprendizagem do aluno. Podemos iniciá-lo expondo na lousa a tabela 2 do experimento, a qual relaciona o número mínimo de movimentos necessários encontrados pelos grupos para trans­ ferir os discos para o último pino e o número de discos em cada jogada. Por exemplo, poderiam ser obtidos os seguintes dados: Grupo 1 n Grupo 2 … Grupo X Número mínimo de movimentos Jn 1 1 1 … 1 1 2 3 8 … 5 3 3 9 15 … 9 7 4 27 18 … 15 15 5 47 56 … 62 31 … … … … tabela 1 Depois da conclusão da tabela, é interessante promover uma discussão com a classe, questionando: Qual será o próximo número mínimo? Como determinar uma lei que relacione os termos n e o número mínimo Jn de movimentos, para qualquer número natural n? Como resolver o problema com n discos? Finalmente, o desafio é encontrar uma relação entre o número de discos e o número mínimo Jn de movimentos necessários para se transferir todos os n discos do primeiro pino para o último, obedecendo às regras básicas já mencionadas. Torres de Hanói Guia do professor 4 / 8 Pelo experimento, analisando as jogadas detalhadamente, chegamos à relação de recorrência: Jn = 2 · Jn−1 + 1. Essa expressão, como o nome sugere, relaciona o n-ésimo termo Jn da sequência com o seu antecessor Jn−1. Observando a tabela 2, podemos notar que na última coluna estão os números mínimos de movimentos necessários em cada jogada.Ou seja, aparecem os primeiros termos da seqüência (Jn) de números naturais 1, 3, 7, 15, 31, …, como na figura 2. n Jn 1 1 2 3 3 7 4 15 5 31 6 … … … tabela 2 Primeira e última colunas da TABELA 1. Na ilustração a seguir, a situação está representada em um gráfico n × Jn para os primeiros números naturais. Torres de Hanói J 30 20 10 0 0 1 2 3 4 5 n fig. 3 Gráfico contendo os 5 primeiros pares da sequência. Observamos que este gráfico pode ser visto como a restrição, aos números naturais, da função exponencial . É esperado que alguns alunos já possam encontrar a relação de recorrência Jn = 2 · Jn−1 + 1. Gostaríamos agora que os alunos chegassem à relação: Jn = 2n − 1 por meio de análise da tabela, pela observação da sequência numérica (Jn) resultada ou até mesmo pela relação de recorrência encontrada. Se necessário, sugira aos alunos que considerem a sequência na qual cada um de seus termos é dado pelo termo correspondente da 10 1 1 1 2 1 2 2 1 1 21,2ou 142seja, 142 842,84,16 84, 16 8 ,16 83216 3216 32 2e0escrevam 32 2−0 232 1−0 12−021cada 2− 2− 1−21− 1 12−212−2−1−21−1 sequência (Jn) mais o número ,…, 4 isso, 8 peça 16que escrevam 32 20 − 1 21 − um de seus termos como uma potência1 de 2. Feito Guia do professor 5/8 Princípio da Indução Matemática 0 0 4 1,8 2 16 4 328 216 − 1 32 212− − 1 1 22 2−1 1− 123 2−2 1− 124 2−3 1− 125 2−4 1− 1 25 − 1 cada um dos termos da sequência (Jn) como uma potência1de 2 menos 0 0 1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 5 N conjunto 1n+1S =números N S N , 1talnque + 11S2 = 3 4N5 6 1 21 2 2os 4 4primeiros 48 8 81616 163232como: 32202− 2−1 − 1 12, 12− 2−1 − 1, 2122− 2−1,− 1 2132− 2−1 − 1 2142− 2−1 − 1 21Dado 2−2−1um − 1 1subconjunto S do chegando a1escrever termos dos naturais 2 2 2 3 3 3 4 4 4 5 5 5 n pertence a S , N Nsempre 1 n +que 1 Sum = número N n S+ N 11Sn= +N 1S=N 2− 2−1−1 12 2− 2−1−1 12, 2− 2−1−1,12 2− 2−1− 1 isso, esperamos que os alunos consigam .1Com pertence a S e, seu1sucessor N 11 nn+ +11 SS = =N N, ou seja, todo número natural observar e conjecturar que o n-ésimo termo da sequência é dado por também pertence aSS ,N temos que pertence ao conjunto S . N 1 n + 1 S = N Jn = 2n − 1. Será que de fato o número mínimo de movimentos necessários para finalizar o jogo com uma torre de 105 discos é 2105 − 1? E com 1000 discos, quantos movimentos são necessários? Esse princípio fornece uma poderosa técnica de demonstração em Antes de responder a essas perguntas, vamos analisar uma outra matemática: a demonstração por indução. Com ele, podemos demons­ situação: trar que: Seja a seguinte sentença matemática: “n2 − n + 41 é um número primo, para todo número natural n” É fácil ver que essa sentença é verdadeira para os números naturais O número mínimo de movimentos necessários para finalizar o jogo com uma torre de n discos é Jn = 2n − 1. 111,1121222,23233334,34444545,5556566,666. Para isso, basta substituir cada um desses números em n2 − n + 41 e ver que resultam em números primos. Nconjunto 1 n + 1dos S =números N De fato, considerando S o naturais n para os n Porém, será que podemos afirmar que a sentença é verdadeira para todo quais Jn = 2 − 1, temos: n+1 1 ,∈ 11=−211 n −∈1;S n∈ S 1n ∈ + S1 ∈ S J= = 2− número natural n? 1 ∈ S Jpois n+ Jn+1 2n+1 1 −1 1 = 2 n+1 1S=J1 2 1 nn+1 n = 41 em n − n + 41 , obtemos Veja para n = 41. Substituindo Supondo 1 ∈ S J1 = 1 = 2 que − 1 n ∈ S , nisto + 1é,∈ que S Jn+1 = 22 − 1−, 1vamos provar que Jn = dizer seja, 1= 21 n−+1 1n ∈∈ SS, Jou nn+1 + 1=∈que S Jn+1 412 − 41 + 41 = 412 , que não é um número primo. Isso equivale 1 ∈a S J1 = 11 ∈=S21J− 1n ∈S 2n+1 − 1 = 2n+1 − 1. 1 = que a sentença não é verdadeira para todo n, ou seja, a sentença é falsa. Esse fato traz o seguinte alerta: será que a relação encontrada no Pela relação de recorrência já obtida, temos: experimento é válida para todo número natural? É possível testar, um por um, para todos os números naturais? Jnn = − 21 = 2 × 2n − 2 + 1 = 2n+1 − 1. Jn+1 = 2Jn + 1 = 2(2 − 21)n + Na impossibilidade de realizar o experimento e verificar que é válido para cada um dos números naturais de modo direto, precisamos é, n + 1 ∈ S . Jn+1 = 2n+1 − 1 1 ∈ S de J1 um = 1 = 21 − 1 n ∈ S n + 1 Logo, −11,nisto ∈ S J1n+1 = 1==2n+1 21 − ∈S n N 1 n + 1 S = N , ou seja, a método para argumentar e mostrar que a fórmula Jn = 2 − 1 é válida Portanto, pelo Princípio de InduçãoS Matemática, n para todo número natural n, ou seja, precisamos validar essa conjectura fór­mula Jn = 2 − 1 é válida para todo número natural n. utilizando algum método de demonstração. Neste caso é apropriado utilizar o Princípio de Indução Matemática: Sobre a sequência 2n − 1 Variando o número de discos n = 111 ,12222 , 3333,44445 ,5556,666…, obtemos o número mí= 156,31 31 31, …, respectiva1=1211, 333,7477,15 515 nimo de movimentos em cada jogada JJJnnn= mente, ou seja, obtemos a seqüência (J JJnnn) = = =(222nnn− − −111). Observe que é uma sequência que pode ser vista como sendo consequência da sequência Jn =( 2n),− 1 Torres de Hanói Guia do professor 6 / 8 Variações 2 3cada 4 5um 6 de seus termos. Assim, o conhecimento da da qual subtraímos 1 de seqüência Jn =( 2n ),−que 1 é uma progressão geométrica de primeiro termo igual 1 2 e3termo 4 5 6geral igual a 20 = 1, razão pode Jn =a 2n ,− 1 auxiliar na interpretação e entendimento do que acontece com o número mínimo de jogadas quando aumentamos o número de discos. Desse modo, esse experimento pode ser É possível trabalhar com os alunos outras relações entre dois números visto como uma motivação para o estudo de progressões geométricas. naturais, sequências, sequências especiais como a progressão aritmética e JJJnnn= = = 156,31 31 31, … são os 1 1211, 333,7477,15 515 Também, os números mínimos de movimentos a progressão geométrica. Veja, por exemplo a sequência de Fibonnacci, que x aa3 3==aa1 1+e+aa2,2aos a4 4dois ==aa2primeiros valores assumidos nos números naturais pela função f (x) = 2 − 1 , cujo é definida a partir de dois números conhecidos, 2++aa 3 3aa 5 5==aa 3 3++aa 44 domínio é o conjunto dos números reais. Assim, o conhecimento do com­ termos da sequência. A sequência de Fibonnacci é definida por uma relação f (x) = 2x,− 1 portamento e do gráfico da função exponencial e consequentemente de recorrência, como: x a3 = a1 + a2, a4 = a2 + a3 a5 = a3 + a4 an = an−2 + an−1 da função transladada verticalmente de −1, ou seja, f (x) = 2 − 1 , a3 = a1 + a2 a4 = a2 + a3, a5 = a3 + a4 an = an−2 + an−1 fornece informações importantes para uma interpretação do que acontece a3 = a1 + a2 a4 = a2 + a3 a5 = a3 + a4. an = an−2 + an−1 com o número mínimo de movimentos necessários quando aumentamos cada vez mais o número de discos na torre. a3 podem = a1 + a2 a4 = a2 + a3 a5 = a3Assim, + a4 an = an−2 + an−1. Da mesma forma, observamos que progressões geométricas ser vistas como restrições de funções exponenciais em que o domínio é o conjunto dos números naturais. Assim, é pertinente olhar este experimento como uma motivação para abordar características e comportamentos de gráficos de funções exponenciais. Bibliografia Ávila, G. Análise Matemática para Licenciatura. São Paulo: Blücher, 3ª edição, 2006 Hefez, A. Indução Matemática. Programa de Iniciação Científica da obmep, vol. 4, sbm, 2007. Lima, E. L., Carvalho, P. C. P., Wagner, E. E., Morgado, A. C. A. Matemática do Ensino Médio, vol. 1, Coleção do Professor de Matemática. sbm. 1999. Watanabe, R. Vale para um, vale para dois, vale para três, ... Vale sempre?. Revista do professor de Matemática, nº 9, sbm, 1986, p. 32–38. Torres de Hanói Guia do professor 7 / 8 Ficha técnica Autoras Claudina Izepe Rodrigues, Eliane Quelho Frota Rezende e Maria Lúcia Bontorim de Queiroz Projeto gráfico e ilustrações técnicas Preface Design Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Vice-Reitor Fernando Ferreira da Costa Revisores Matemática Antônio Carlos Patrocínio Língua Portuguesa Carolina Bonturi Grupo Gestor de Projetos Educacionais (ggpe – unicamp) Coordenador Fernando Arantes Gerente Executiva Miriam C. C. de Oliveira Matemática Multimídia Coordenador Geral Samuel Rocha de Oliveira Coordenador de Experimentos Leonardo Barichello Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (imecc – unicamp) Diretor Jayme Vaz Jr. Vice-Diretor Edmundo Capelas de Oliveira licença Esta obrá está licenciada sob uma licença Creative Commons Secretaria de Educação a Distância Ministério da Ciência e Tecnologia Ministério da Educação