A Importância dos estudos gramaticais para o

Propaganda
ISBN 978-85-8015-080-3
Cadernos PDE
I
Versão Online
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS GRAMATICAIS PARA O DESENVOLVIMENTO
DA COMPETÊNCIA LINGUÍSTICA
Maria Lúcia Fernandes Teixeira (PDE)1
Jacqueline Ortelan Maia Botassini (UEM)2
Resumo
Este estudo objetiva contribuir com o desenvolvimento da competência linguística do aluno do Ensino
Básico por meio do ensino de aspectos gramaticais da língua portuguesa, pois ela desenvolve o
desempenho do aluno nas atividades de leitura, de compreensão e de produção de texto. A prática
de análise linguística constitui um trabalho de reflexão sobre a organização do texto escrito e/ou
falado, no qual o aluno percebe o texto/discurso como resultado de opções temáticas e estruturais
feitas pelo autor, visando ao seu interlocutor. A escolha do assunto “classes de palavras” e, no
escopo dessas, o substantivo, o adjetivo e o pronome, ocorreu por se verificar o grande tempo
utilizado para seu ensino em sala de aula e, ainda assim, muitas vezes, os alunos continuam sem
compreendê-las. Parte do problema está na forma como esses conteúdos são expostos nos livros
didáticos e nas gramáticas tradicionais, frequentemente desvinculados do uso real da língua. Outro
problema diz respeito a inconsistências teóricas e a conceituações inadequadas que resultam em
incompreensão do conteúdo gramatical. Assim, deseja-se examinar as conceituações apresentadas
por autores de gramáticas e de livros didáticos sobre o assunto e refletir a respeito delas, para, a
partir disso, trabalhar os referidos conteúdos de forma mais adequada, visando a um ensino coerente
e de uso efetivo e real desses aspectos.
Palavras-chave: Análise Linguística. Substantivo. Adjetivo. Pronome.
1 Introdução
O interesse pelo tema
deste trabalho surgiu de reflexões a respeito das
minhas práticas de ensino de gramática em sala de aula, nos últimos anos, bem
como de outros colegas professores de Língua Portuguesa que manifestavam
grande insatisfação e frustração quanto ao baixo rendimento dos alunos nas
produções de texto. Assim, com a oportunidade de participação no PDE, em 2014,
visualizei a possibilidade de estudar um tema que fosse produtivo, objetivando
ensinar novas habilidades linguísticas para ajudar o aluno a entender questões
linguísticas importantes para a compreensão e a produção de textos.
O projeto apresentou uma proposta de estudo sobre análise e descrição
linguística de aspectos morfológicos da língua portuguesa, visando ao ensino
coerente e de uso efetivo e real desses aspectos, com alunos do ensino básico.
1
Professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná. Graduada em Letras-Anglo. Especialista em
Didática e Metodologia de Ensino. Especialista em Educação de Jovens e Adultos.
2
Orientadora. Professora do Departamento de Língua Portuguesa da Universidade Estadual de
Maringá. Doutora em Estudos da Linguagem.
O questionamento de ensinar ou não gramática na escola tem-se
apresentado, nas últimas décadas, como uma questão polêmica. Há correntes de
estudiosos que defendem que esse estudo é desnecessário, já que os indivíduos
dominam a língua sem que, para isso, seja necessário estudar regras específicas.
Outros, porém, acreditam que se devem estudar essas regras para que se tenha
domínio da língua.
É evidente que não se ensina a língua para aqueles que já a dominam.
Ensinar com esse objetivo seria uma perda de tempo. Tome-se, como exemplo, o
caso de pessoas analfabetas, que nunca frequentaram os bancos escolares, e que,
ainda assim, são capazes de fazer uso da língua, comunicando-se sem maiores
problemas. O que se deve ensinar são as regras que contribuem para que o usuário
da língua leia com compreensão, interprete justificando a adequação da
interpretação, escreva textos compatíveis com a série cursada e “aceitos” como
adequados.
Segundo o dicionário Aurélio (2009), o termo “Língua” deve ser entendido
como um “sistema de signos que permite a comunicação entre os indivíduos de uma
comunidade linguística”. Ou, ainda, como o “contínuo de variedades linguísticas
que, por razões culturais, políticas, históricas, geográficas, é considerado como
entidade única que delimita uma comunidade linguística”.
Já o termo “Gramática”,
de acordo com Trask (2011), “refere-se às regras para construir palavras e
sentenças numa língua particular, ou o ramo da linguística que estuda esse tema”.
Assim, a proposta deste estudo é descrever e analisar alguns aspectos
gramaticais da
língua
portuguesa,
mais especificamente, alguns aspectos
morfológicos, entendendo que o ensino gramatical (e não o ensino da língua
materna) é indispensável para o bom desempenho do aluno nas atividades de
leitura, de compreensão e de produção de texto.
Este estudo justifica-se, ainda, por ser um meio de discutir/apresentar/retomar
um tema que está praticamente “abandonado” no ensino de língua portuguesa da
maioria das escolas públicas do país e cujas consequências têm mostrado alunos
cada vez mais limitados, inseguros em suas produções textuais, sem conhecimentos
mínimos de regras gramaticais básicas, apresentando dificuldades linguísticas
mesmo depois de concluir os ensinos básico e médio e chegado ao ensino superior.
Prova disso são os últimos dados obtidos pelos alunos brasileiros nas diferentes
avaliações nacionais (SAEB, SARESP, Prova Brasil, Enem) e internacional (PISA),
que não têm sido satisfatórios, nos últimos anos (ROJO, 2009).
Sabe-se que o aluno é fruto de seu tempo histórico, das relações sociais em
que está inserido, mas é, também, um ser singular, que atua no mundo a partir do
modo como o compreende e como lhe é possível participar. A escola contribui para
determinar o tipo de participação que lhe caberá na sociedade. É importante que o
ensino da gramática seja conhecido também dos que já são tão excluídos de
conhecimentos científicos e tão manipulados.
Soares (1989) afirma que uma escola transformadora é aquela que é
consciente de seu papel político na luta contra as desigualdades sociais e
econômicas, assumindo, assim, a função de proporcionar às camadas mais
necessitadas um ensino eficiente que lhes permita conquistar melhores condições
de participação cultural e política, conquistando a sua cidadania.
Foucambert (2004) assevera que a linguagem pode ser um instrumento tanto
de opressão quanto de emancipação. Quando são negados ao aluno o acesso e o
domínio à linguagem formal, contribui-se para que o indivíduo viva em um mundo de
opressão, porque é por meio dessa linguagem que ele se “encontra” dentro da
sociedade em que vive. Sem o acesso a ela, inviabiliza-se a construção de sujeito
autônomo, capaz de se constituir enquanto sujeito ativo do seu processo de
emancipação. O uso da linguagem como meio de emancipação possibilita um olhar
diferente, dando-lhe condição de compreender o universo; ajuda a ler as múltiplas
linguagens que permeiam o contexto social. O relacionamento ativo com a
linguagem colabora para a autonomia do indivíduo e para que ele seja protagonista
de sua própria história.
Antunes (2000) diz que é no campo do uso linguístico que, concretamente,
costuma acontecer a exclusão social dos sujeitos, principalmente daqueles que
pertencem às classes sociais e econômicas mais baixas da população. Isso se dá
pelo fato de as pessoas não saberem intervir em situações mais formais de
comunicação pública e por não saberem escrever textos bem elaborados.
Possenti (1996) diz que é papel da escola criar condições para que o ensino
de português padrão seja aprendido. Ele destaca que alguns estudiosos afirmam ser
uma injustiça obrigar um grupo social a adquirir valores de outro grupo, como, por
exemplo, obrigar os menos favorecidos a usarem a língua padrão como se fosse o
único dialeto correto. Para ele, isso seria uma violência cultural e implicaria destruir
valores populares. Não se trata, entretanto, de “obrigar” os alunos a usarem a norma
padrão. Trata-se, na verdade, de possibilitar o conhecimento de uma variedade da
língua importante para que tenham ascensão social.
Possenti (1996) também diz que, quando optam por não ensinar o dialeto
padrão para os alunos que usam dialetos não padrão, os professores se baseiam na
ideia de que dificilmente esses alunos irão aprender o padrão. Ao afirmarem a falta
de capacidade dos alunos e a complexidade do dialeto padrão, estão justificando
valores dominantes embutidos e práticas escolares inadequadas. Ele defende que é
um erro pensar assim, pois os menos favorecidos socialmente só ganharão se
puderem ter o domínio de outra forma de falar e de escrever. O contrário seria não
aceitar que a língua possa servir a mais de uma ideologia, ter mais de uma função.
O que parece, com esse pensamento, é a falta de interesse da classe dominante de
que isso aconteça.
O autor diz ainda que, com essa ideia, está-se defendendo que cada falante
ou grupo de falantes só pode aprender e falar um dialeto. Isso seria dizer que o povo
(a classe menos favorecida) só seria capaz de falar formas populares, e a língua
padrão seria utilizada somente pelos grupos dominantes.
Possenti (1996) defende também, do ponto de vista da escola, em especial,
da aquisição de determinado grau de domínio da escrita e da leitura, que não se
devem determinar limites mínimos satisfatórios que os alunos deveriam atingir, mas
que a escola proponha objetivos que evitem um ensino da gramática com traumas e
com memorização de regras.
Os motivos que me levaram a optar pela análise linguística foram por
considerar que o trabalho com a língua aconteça de forma dinâmica e produtiva
apenas quando se viabiliza o tripé leitura, produção textual e análise linguística. A
escolha do assunto específico, classes de palavras, e, no escopo dessas, o
substantivo, o adjetivo e o pronome, ocorreu por se verificar o grande tempo
utilizado no estudo dessas classes nas salas de aula de Português pelos alunos do
Ensino Fundamental e Médio e, ainda assim, a maioria dos alunos continua sem
compreendê-las.
Uma das razões para que isso aconteça relaciona-se com o fato de os
conteúdos dos livros didáticos e das gramáticas tradicionais apresentarem-se, em
sua grande maioria, vinculados a textos clássicos, desligados do uso efetivo da
língua, longe da realidade dos alunos. Outro problema diz respeito a algumas
inconsistências teóricas e a conceituações inadequadas que resultam em
incompreensão do conteúdo gramatical por parte dos alunos. Pode-se dar como
exemplo a forma como as classes de palavras são definidas, observando-se,
geralmente, apenas o critério semântico, quando deveriam ser considerados três
aspectos linguísticos: o morfológico, o semântico e o funcional. O que se tem notado
é que os autores privilegiam ora um aspecto, ora outro, ficando a conceituação
incompleta. Assim, as definições tornam-se confusas e, consequentemente,
provocam um desinteresse dos alunos em estudar as questões gramaticais.
2 Fundamentação Teórica/Revisão Bibliográfica
Há muitos anos se estudam e se dividem as palavras em classes. Mattos e
Silva (1989) destaca que, desde a Antiguidade, no âmbito filosófico, Platão e
Aristóteles já se preocupavam com essa questão. Para Platão (V-IV a. C.), a
denominação é a questão central da linguagem, e, para seu mestre, Sócrates, falar
correto era denominar corretamente. Platão separou as partes do discurso em nome
e verbo, como elementos básicos para constituição de uma proposição.
Com Aristóteles, estabeleceu-se a tradição gramatical. Ele acrescentou ao
nome e ao verbo uma classe nova, a das conjunções, e determinou também a
proposição que afirma ou nega um predicado ao sujeito.
Dentre os filósofos gregos, foram os estoicos que começaram a delinear a
fundamentação da gramática tradicional, a partir do que chamaram etimologia.
Nessa época, discutiam o problema filosófico da origem da linguagem e das
regularidades na língua ou, na metalinguagem da época, da analogia. Porém a
gramática ainda não se distinguia da filosofia e da lógica.
Os continuadores históricos foram os filósofos de Alexandria que fixaram na
tradição gramatical o “erro clássico”: privilegiar a língua escrita dos grandes
escritores, em detrimento dos outros usos, negativamente avaliados.
O período alexandrino se destacou dos períodos anteriores porque sua
preocupação com a língua era literária e não filosófica. Consequentemente, seu
interesse pelo estudo linguístico era parte de seu estudo literário. Os estudiosos
desse período desejavam tornar acessíveis aos contemporâneos as obras de
Homero e preocupavam-se com o “uso correto” da língua (pronúncia e gramática) a
fim de preservar o grego clássico de “corrupções”.
Com Dionísio da Trácia, século II – I a. C., é que se tem a primeira descrição
ampla e sistemática de uma língua publicada no mundo ocidental: o grego da África,
ou grego ático. Dionísio define a gramática como a “arte de escrever”
e como saber empírico da linguagem dos poetas e dos prosadores. Na primeira
gramática do ocidente, identificou oito partes do discurso: nome, verbo, particípio,
artigo, pronome, preposição, advérbio, conjunção. A sintaxe não é estudada em sua
obra, apenas a fonética e a morfologia.
Apolônio Díscolo (século II d. C.) foi quem mais escreveu sobre sintaxe ao
estudar a língua grega. Para ele, a sintaxe referia-se à combinação dos elementos.
Sua descrição sintática baseava-se nas relações entre substantivos e verbo e entre
as demais classes de palavras e os substantivos e os verbos.
A tradição gramatical grega foi herdada pelos romanos. Varrão (século I a. C.)
foi discípulo direto de gramáticos da escola alexandrina. Sua contribuição está em
aplicar a gramática grega à outra língua, o latim. Esse autor dividiu o estudo da
língua latina em etimologia, morfologia e sintaxe e atribuía a esse estudo um objetivo
literário. A morfologia foi o cerne de sua obra, apresentava distinções fundamentais
que perduram, como palavras variáveis e invariáveis, e estabeleceu categorias
secundárias para analisar as partes do discurso: a voz e o tempo para o verbo.
Conforme se pode verificar, os estudos referentes às classes de palavras
remetem à Antiguidade Clássica. A nomenclatura para referir-se a essas classes
sofreu alterações, mas o que se estuda modernamente como classes de palavras
não é algo recente.
A nomenclatura oficial brasileira de 1957 reconhece dez classes de palavras:
substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição,
conjunção e interjeição. Não há, no entanto, uma explicação clara dos critérios
utilizados pela Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) para a distribuição das
palavras em dez classes. Além disso, essas classes não trazem conceitos claros e
completos, o que resulta em dificuldades de compreender melhor a classificação das
palavras. É difícil, todavia, formular outras classificações ou conceitos que
substituam o que existe atualmente. O principal problema é que a tarefa de
classificação não é do âmbito restrito da morfologia. Se o vocábulo apresenta forma,
função e significado, é evidente que os critérios mórfico, sintático e semântico se
conflitam em uma classificação.
Enquanto as teorias linguísticas dominantes nas duas metades do século
XX – estruturalismo/gerativismo – são explícitas nos seus objetivos e nos seus
passos metodológicos, a tradição gramatical, base da gramática escolar até hoje,
traz em si vinte e três séculos de tradição e de contradição, a que se acumulam as
contradições da atualidade, decorrentes de tentar adaptar à tradição secular as
construções da Linguística Moderna (MATTOS e SILVA, 1989, p. 15-30).
Um trabalho de análise linguística mais adequado pode ser realizado por meio
de reflexão voltada para a produção de sentido e para a compreensão mais ampla
dos usos e do sistema linguístico, a fim de se contribuir, eficazmente, para a
formação de leitores e de escritores da Língua Portuguesa.
Desse modo, o trabalho com a gramática deixa de ser visto a partir de
exemplos tradicionais, descontextualizados, e passa a implicar que o aluno
compreenda o que é um bom texto, como é organizado, como os elementos
gramaticais ligam palavras, frases, parágrafos, relacionando ou avançando ideias
defendidas pelo autor. Além disso, a análise dos recursos linguísticos utilizados no
texto pode levar o aluno a refletir e a analisar a adequação do discurso considerando
o locutor, o contexto de produção e os efeitos de sentidos provocados por eles.
Em uma perspectiva sociointeracionista de língua, a Análise Linguística
constitui um dos três eixos básicos do estudo da língua materna, juntamente com o
ensino da leitura e da produção de textos, tendo como proposta refletir sobre
elementos e fenômenos linguísticos e sobre estratégias discursivas, focalizando-se
nos usos de linguagem (MENDONÇA, 2006, p. 211).
Os PCNs e as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua
Portuguesa do Paraná (2008) defendem a prática da análise linguística na sala de
aula. São cientes de que a sua aplicação é um tanto complexa, pois depende de um
vasto conhecimento da língua e de uma postura de empenho e de força de vontade
por parte do professor em promover a mudança de sua concepção de linguagem e,
por consequência, de sua prática em sala de aula.
Pelo exposto, não se pode negar a importância dos estudos de aspectos
linguísticos no ensino de Língua Portuguesa. Em relação às classes de palavras, por
exemplo, Fernandes (1998) observa que “o estudo da divisão das palavras em
classes constitui o referencial para os estudos gramaticais”.
Perini (1997, p. 41) compara a separação das palavras em classes à distinção
dos animais em ordens, classes, espécies, famílias e gêneros. Ele diz que, nos dois
casos, é necessário ter critérios de classificação. Para ele, “classificar as palavras
implica elaborar uma classificação semântica, mas separando-se nitidamente dela”.
Afirma também que, além dos traços de significados, é necessário considerar o
comportamento sintático e morfológico dos vocábulos, devendo haver uma
homogeneidade entre os componentes da classe quanto ao comportamento
gramatical.
Segundo Neves (1990, p. 14), “as definições relacionadas às classes de
palavras são incompletas e devem ser revistas, porque privilegiam a tradição
gramatical e quase que exclusivamente o critério semântico”.
Camara Jr. (1991) considera três critérios para classificar os vocábulos
formais de uma língua: o critério semântico (relativo à significação), o critério
morfológico (relativo às propriedades formais) e o critério funcional (diz respeito ao
papel que cabe ao vocábulo na oração). O primeiro e o segundo se associam de
maneira muito estreita, pois o vocábulo é uma unidade de forma e sentido. O autor
afirma, ainda, que o critério semântico não deve ser observado isoladamente, como
acontece na gramática tradicional e nos livros didáticos. Diz também que as palavras
de uma língua constituem um conjunto ordenado e, para dar conta das semelhanças
de forma, de sentido e de função entre as palavras, é preciso agrupá-las levando em
consideração esses três critérios (CAMARA JR., 1991, p. 77).
3 Descrição e análise das definições das classes de palavras: substantivo,
adjetivo e pronome
3.1 Substantivo
Apresentam-se, a seguir, algumas definições, expostas por estudiosos em
livros didáticos e em gramáticas (adotados tanto no ensino fundamental como no
médio), sobre o substantivo, bem como o critério em que se baseiam para
estabelecer essas definições.
A maioria dos autores define substantivo por meio do critério semântico
(critério
esse
que,
aplicado
isoladamente,
não
é
suficiente
para
adequadamente qualquer classe gramatical), expressando-se como segue:
definir
“são
palavras que designam os seres”; “são palavras com que designamos ou nomeamos
os seres”; “designamos ou nomeamos os seres em geral”; “são usados para referir-
se às diferentes entidades (coisas, pessoas, fatos, etc.) denominando-as”; “dá nome
aos seres em geral”; “nomeia os seres”; “nome com que designamos seres em geral:
pessoas, animais e coisas” (respectivamente, CEGALLA, 1997; ANDRÉ, 1990;
CUNHA e CINTRA, 2008; NEVES, 1990; TERRA e NICOLA, 2000; NICOLA e
INFANTE, 1999; BECHARA, 2001).
Outros autores utilizam o critério formal, definindo substantivo como o
elemento “variável em gênero, número e grau”; “toda palavra que puder ser
antecipada de um artigo” (respectivamente, TERRA e NICOLA, 2000; FARACO e
MOURA, 2003).
Já em relação ao critério funcional, as gramáticas e os livros didáticos
destinados aos ensinos fundamental e médio não fazem menção a esse critério no
momento de conceituar o substantivo. A referência ao aspecto funcional aparece,
normalmente, como um subitem, geralmente intitulado “As funções sintáticas do
substantivo”.
Ao estudar a classificação dos substantivos, constata-se que as definições
formuladas pelos gramáticos, em geral, não permitem que um estudante possa
entender o que, de fato, é um substantivo. Por exemplo, uma definição bastante
comum de substantivo afirma que se trata de “palavra que nomeia os seres em
geral”. Então, diríamos que a palavra “justiça” é um ser, porque é um substantivo, e
é substantivo por denotar um ser. Observa-se a redundância do conceito e
comprova-se que ele nada nos diz de concreto e definitivo; trata-se de uma
conceituação vaga, não satisfatória. Essa definição mostra apenas algumas
características semânticas dos substantivos, sem colocar em evidência as
propriedades advindas da formação morfológica deles ou os contextos em que
podem ser empregados.
Em relação à propriedade formal, afirma-se que os substantivos flexionam-se
em gênero e em número, isto é, são palavras variáveis, que apresentam formas
masculinas e femininas, e singular e plural. Entretanto tais características não são
propriedades apenas dos substantivos, sendo também encontradas nos adjetivos,
comprovando-se que não é um critério que identifica exclusivamente os
substantivos, mas os nomes em geral.
Outro tema perturbador em relação ao estudo do substantivo, também
relacionado à questão semântica, diz respeito à flexão de gênero, a qual, na
gramática normativa, é exposta de uma maneira incoerente e confusa. De acordo
com Camara Jr. (1991, p. 89), “As divisões das nossas gramáticas tradicionais a
respeito do que chamam inadequadamente flexão de gênero são inteiramente
descabidas e perturbadoras na exata descrição gramatical”. O autor diz que parte do
problema está na incompreensão semântica da natureza do substantivo, geralmente
associada ao sexo dos seres. Contra essa interpretação, pode-se afirmar que o
gênero abrange todos os nomes substantivos (seres, animais, coisas) providos ou
não de sexo.
Camara Jr. continua explicando que gênero é uma distribuição em classes
mórficas, para os nomes, que se reconhece pela oposição “masculino” e “feminino”.
Do ponto de vista mórfico, o masculino é uma forma geral, não marcada, e o
feminino é marcado pelo acréscimo do morfema flexional de gênero –A, como em
moço / moça, escritor / escritora. Há, entretanto, referências inadequadas sobre o
assunto, que têm levado, ao longo dos anos, os professores a ensinarem aos
alunos, por exemplo, que “vaca” é o feminino de “boi”, que “nora” é feminino de
“genro”, que “mulher” é feminino de “homem”.
Quanto às propriedades sintáticas, embora não sejam utilizadas para definir
os substantivos, são citadas em algumas gramáticas para destacar que os
substantivos
gozam
de
funções
diferentes
(sujeito,
complemento
verbal,
complemento nominal etc.), dependendo do contexto em que se empregam, mas
sempre representando o núcleo de um sintagma nominal.
Pelo exposto, percebe-se que o ideal na definição dos elementos que
compõem as classes de palavras seria a combinação dos critérios semântico,
morfológico e funcional, como se encontra em Camacho, Dall’Aglio-Hattnher e
Gonçalves (2008, p. 21), quando tratam dos substantivos, ressaltando que esses
“dispõem de propriedades individuadoras e podem ser classificados segundo uma
base morfológica e semântica, organizando estruturas argumentais”.
Em relação às propriedades morfológicas, os autores supracitados expõem
que os substantivos estão integrados na categoria gramatical de número e de
gênero; do ponto de vista sintático, caracterizam-se por representar o núcleo de um
sintagma nominal, constituindo-se um elemento determinado/modificado por
determinantes/modificadores (p. 22 e 23), e, semanticamente, o substantivo pode
ser um elemento denominador ou referenciador (p. 32).
Quando se trabalha com esses três critérios, “cercam-se” as diferentes
propriedades dos substantivos e evita-se a confusão com outras classes
gramaticais.
3.2 Adjetivo
A seguir, apresentam-se as definições atribuídas aos adjetivos, em algumas
gramáticas e livros didáticos.
Assim como no caso dos substantivos, a maior parte das definições sobre o
adjetivo baseia-se no critério semântico: “são palavras que expressam as qualidades
ou características dos seres”; “serve para caracterizar os seres, os objetos [...]
indicando-lhes uma qualidade, um defeito ou modo de ser”; “caracteriza o
substantivo atribuindo-lhe qualidade, estado ou modo de ser”; “é a palavra que
expressa qualidade ou propriedade ou estado do ser”; atribui ao substantivo “uma
característica aos seres nomeados por ele”; “denota qualidade, condição ou estado
de um ser”; atribui ao substantivo “um estado, qualidade ou modo de ser”
(respectivamente, CEGALLA, 1997; CUNHA e CINTRA, 2008; TERRA e NICOLA,
2000; ANDRÉ, 1990; FARACO e MOURA, 2003; BECHARA, 2001; NICOLA e
INFANTE,1999).
Em relação ao critério formal, as referências são poucas no momento de
definir o adjetivo: “é a palavra variável em gênero, número e grau”; “palavra variável”
(respectivamente, TERRA e NICOLA, 2000; FARACO e MOURA, 2003).
Quanto ao critério funcional, também pouco explorado na definição do
adjetivo, informa-se o que segue:
“é essencialmente um modificador do
substantivo”; “modifica o substantivo”, “é expressão modificadora”; “modifica o
substantivo” (respectivamente, CUNHA e CINTRA, 2008; FARACO e MOURA, 2003;
BECHARA, 2001; NICOLA e INFANTE, 1999).
As definições de adjetivo, encontradas na maioria das gramáticas normativas
analisadas, também são inconsistentes, assim como já se viu com referência ao
substantivo, e baseadas, quase todas, em critérios puramente semânticos. Quando
se afirma que o adjetivo é “palavra que expressa qualidade”, tem-se uma definição
que poderia nos levar a pensar na palavra gentileza como adjetivo, já que essa
palavra expressa qualidade. Definir adjetivo dessa maneira, como o fazem muitos
gramáticos da língua portuguesa, é um equívoco.
Todavia, alguns autores discriminam outras noções de adjetivos, tais como: a
de estado, a de defeito, a de condição etc. Acrescentá-las, porém, às conceituações
tradicionais não resolve o problema, porque o adjetivo não se caracteriza pelo
significado, mas por sua função. Na maioria das vezes, exprime-se por vários traços,
o que equivale a dizer que a uma palavra pode equivaler mais de uma função
sintática.
Outro exemplo, a palavra “verde”, tradicionalmente um adjetivo, pode
transformar-se, com o acréscimo do artigo (como em: O verde está na moda), em
substantivo, passando a ter a função de núcleo de um sintagma nominal (PERINI,
2011, p. 44).
De acordo com Perini (2011, p. 40-46), no momento em que uma palavra
começa a ser usada com um novo significado, o que acontece com frequência, ela
precisa mudar seu comportamento gramatical de acordo com sua nova função, a
qual só pode ser identificada pelo contexto em que a palavra está inserida.
Confrontemos as frases “O operário brasileiro ganha pouco” e “O brasileiro
operário ganha pouco”. Na primeira frase, “operário” é substantivo e “brasileiro” é
adjetivo, significando que os operários, no Brasil, são mal remunerados. Na segunda
frase, “brasileiro” é substantivo e “operário” é adjetivo, significando que o brasileiro
que trabalha como operário é mal remunerado. As palavras são exatamente as
mesmas; as funções exercidas por elas, entretanto, são diferentes, e isso tem
relação com o contexto em que estão inseridas e com a posição que ocupam no
sintagma nominal.
Segundo Camara Jr. (1991, p. 79), o substantivo e o adjetivo compartilham as
mesmas características formais ou morfológicas: ambos são elementos que
possuem flexão em gênero e em número (Os meninos estudiosos tiram boas notas
na prova. / As meninas estudiosas tiram boas notas na prova.). A diferença que se
estabelece entre ambos é que o substantivo é um elemento que funciona como
núcleo de uma função sintática, enquanto o adjetivo funciona como caracterizador
do núcleo, ocupando uma posição periférica no sintagma nominal.
O grupo de adjetivos agrega a maior parte das palavras que indicam atributos
ou qualidades, podendo funcionar como modificadores do nome ou como
predicadores. Segundo as gramáticas tradicionais, o adjetivo define-se em dois tipos
de relação com o substantivo: a relação atributiva e a relação predicativa. O
adjetivo é atributo do substantivo se a ele se liga diretamente, ou seja, se o
substantivo e o adjetivo se encontram em um mesmo sintagma nominal, por
exemplo: O cachorro amigo fugiu. O adjetivo é predicador do substantivo se a ele
se prende por meio do verbo de ligação, isto é, o adjetivo em posição de predicativo
do sujeito e o substantivo em posição de sujeito, por exemplo: O cachorro é amigo.
Pelo exposto, pode-se verificar que, da mesma forma que o critério
puramente semântico não resolve a questão, o critério puramente mórfico também
não. É necessário somar esses dois ao critério funcional para que o resultado seja
mais adequado.
3.3 Pronomes
As definições atribuídas aos pronomes na maioria das gramáticas e livros
didáticos destinados a alunos dos ensinos fundamental e médio pautam-se,
geralmente, nos critérios semântico e funcional.
Em relação ao critério semântico, os pronomes são conceituados como
“palavras que representam os nomes dos seres ou os determina indicando a pessoa
do discurso”; “palavra que representa o ser ou ao ser se refere, indicando-o como
pessoa do discurso”; “expressão que designa os seres sem dar-lhes nome nem
qualidade, indicando-os apenas como pessoa do discurso”; “palavras que
representam os seres ou se referem a eles. Podem acompanhá-los, para tornar-lhes
claro o sentido”; “palavra que denota os seres ou se refere a eles, considerando-os
como pessoas do discurso” (respectivamente, CEGALLA, 1997; ANDRÉ, 1990;
BECHARA, 2001; CIPRO NETO e INFANTE, 1997; INFANTE, 1996).
Já quanto ao critério funcional, os pronomes são definidos como elementos
que “desempenham na oração as funções equivalentes às exercidas pelos
elementos nominais”; “substitui ou acompanha o nome”; “substitui o substantivo ou
acompanha o substantivo. Quando acompanha o substantivo, determina-o no
espaço ou no contexto”; “podem desempenhar as mesmas funções desempenhadas
pelos substantivos e pelos adjetivos” (respectivamente, CUNHA e CINTRA, 2008;
TERRA e NICOLA, 2000; FARACO e MOURA, 2003; INFANTE, 1996).
Dentre os livros consultados, houve, ainda, uma menção ao critério formal,
apresentando o pronome como elemento “variável em gênero, número e pessoa”
(TERRA e NICOLA, 2000).
Muitos dos problemas relativos à conceituação dos pronomes devem-se à
etimologia dessa palavra. O termo “pronome” remete-nos, etimologicamente, ao
latim pronomen, em que há a junção da preposição pro mais o substantivo nomen e
cujo significado é “em lugar do nome”. Tal conceito tem levado a algumas reflexões
e análises equivocadas quando compreendido literalmente, conforme definido nas
gramáticas tradicionais.
Botassini (1998) assevera que a função anafórica dos pronomes não é a
única; em algumas circunstâncias, eles são usados para indicar, para apontar, isto é,
passam a ter função dêitica. E para melhor compreensão desse duplo aspecto
funcional dos pronomes, a autora cita Ribeiro (1955):
[...] nas proposições: Eu, Eduardo estudo e tu, Emílio, não trabalhas,
os pronomes eu e tu não têm por fim unicamente substituir os nomes
Eduardo e Emílio; têm sim por objeto indicar principalmente que
Eduardo fala e se dirige a Emílio (RIBEIRO, 1955, apud BOTASSINI,
1998, p. 09).
Observa-se que, embora os pronomes eu e tu não possuam valor substitutivo
e sim valor essencialmente dêitico, ainda são classificados pela grande maioria das
gramáticas tradicionais como pronomes substantivos. Os pronomes, mesmo quando
assumem função de substitutos, nem sempre aparecem substituindo substantivo. Há
várias situações em que os pronomes substituem, por exemplo, um verbo, um
adjetivo ou um advérbio.
Botassini (1998, p. 12) discute que um dos inconvenientes “de se atribuir aos
pronomes a função de substituto do substantivo é que, nesse caso, será preciso
incluir, entre eles, outras palavras, as quais também apresentam essa característica
substitutiva, como os advérbios e os numerais”. E a autora dá como exemplo as
seguintes sentenças:
Morei muitos anos em Cuiabá. Lá é muito quente.
Paulo e Pedro são irmãos. Os dois nunca brigaram.
Nesses exemplos, fica clara a função substitutiva do advérbio “lá” e do
numeral “dois”, que substituem, respectivamente, os substantivos “Cuiabá” e “Paulo
e Pedro”.
Depois de expor várias considerações a respeito da conceituação dos
pronomes, Botassini (1998, p.12) conclui que “parece não existir uma conceituação
de pronome adequada a todas as circunstâncias e que possa resolver todos os
questionamentos que esse assunto levanta”.
Tradicionalmente, os pronomes estão divididos em pessoal, possessivo,
relativo, indefinido, interrogativo e demonstrativo. Cada um desses pronomes
apresenta características diferenciadas, o que, por si só, já traz inconvenientes para
uma definição capaz de abranger, de forma coerente e adequada, todos os tipos de
pronomes. Pelo espaço que temos para a presente discussão, vamos nos ater
apenas aos pronomes pessoais e, mais especificamente, a algumas considerações
sobre os pronomes pessoais sujeito.
Nas gramáticas tradicionais, não há divergência significativa quanto ao elenco
dos pronomes pessoais sujeitos e à forma de apresentá-los. Os autores
caracterizam-nos como indicadores das três pessoas do discurso: 1.ª pessoa, quem
fala; 2.ª pessoa, com quem se fala; 3.ª pessoa, de quem/que se fala, admitindo
formas no singular com correspondentes no plural.
O quadro de pronomes pessoais que ainda vigora nas gramáticas está longe
de ter uma coerência e de dar conta da realidade concreta do português do Brasil,
pois, além de não incluir formas amplamente utilizadas na linguagem coloquial,
como é o caso de você/vocês e a gente, continua a incluir o pronome vós,
praticamente em desuso.
A variação entre as formas pronominais você e tu apresenta, de acordo com
Lopes (2007, p. 104), um comportamento diferenciado nas diversas regiões do país.
Nas três capitais do Sul do Brasil, por exemplo, há uma distribuição irregular:
ausência de tu em Curitiba; concorrência de tu e você em Florianópolis e em Porto
Alegre. O uso do pronome pessoal tu só foi suplementado por você por volta dos
anos 20 e 30 do século passado. Lopes (2007, p. 103) expõe que o uso do pronome
você (que teve origem na expressão nominal de tratamento Vossa Mercê) criou uma
série de repercussões gramaticais em diferentes níveis da língua, uma delas é que o
verbo relacionado a esse pronome é usado em 3.ª pessoa, embora a interpretação
semântico-discursiva seja de 2.ª pessoa.
Outro exemplo é o pronome vós, que há muito está em desuso, presente só
nos textos bíblicos e, às vezes, em discursos religiosos, todavia ainda está presente
nas listas de pronomes pessoais em todas as gramáticas tradicionais.
A expressão a gente também não se faz presente no quadro dos pronomes
pessoais das gramáticas tradicionais. Ela é, normalmente, considerada uma forma
inculta e informal. Sabe-se, porém, que essa expressão já faz parte do nosso dia a
dia, está consagrada na linguagem coloquial e gramaticalizou-se, passando a
desempenhar a função de pronome pessoal de primeira pessoa do plural, em
coocorrência e concorrência com o pronome nós.
O pronome a gente apresenta também um caráter indeterminado em
oposição a uma nuança mais específica de nós. A substituição de nós por a gente
está se efetivando progressivamente, seja entre os falantes cultos, seja entre os não
cultos. Tal processo ocorre não só na oralidade, mas também nos textos escritos,
em que há a reprodução de situação dialógica ou menor grau de formalidade. Nos
textos lidos em sala de aula, veiculados pela mídia eletrônica, extraídos dos jornais
ou dos manuais didáticos, as formas pronominais inovadoras são recorrentes.
Outras questões fundamentais no estudo dos pronomes pessoais sujeito que
têm suscitado discussões em decorrência de pontos de vista distintos são a
“pessoalidade” e o “plural”. De acordo com Botassini (1998),
Pode-se tratar a questão da categoria de “pessoa” sob dois pontos de vista:
um que a considera como “pessoa gramatical” e outro que a entende como
“pessoa do discurso”. A primeira noção trata “pessoa” em um nível
puramente gramatical, que é o de relações entre a pessoa pronominal do
sujeito e uma marca verbal que se relaciona a ela. Segundo Camara Jr.
(1991, p. 84), essa é uma das noções gramaticais que distingue os
pronomes dos nomes [...]
A segunda visão trabalha em um nível discursivo-pragmático, entendendo
“pessoa” como aquela que participa do ato discursivo. De acordo com essa
visão, não se podem relacionar igualmente os pronomes de 1.ª e de 2.ª
pessoa com os de 3.ª, porque as ligações que se estabelecem entre eles
são bastante distintas (BOTASSINI, 1998, p.18-19).
Em relação ao plural, Botassini (1998) salienta que a flexão de número, em
português, é marcada por uma desinência ou sufixo flexional –S, que distingue a
forma singular da forma plural. Essa desinência, que aparece com frequência nos
nomes, ocorre, de fato, na forma pronominal de 3.ª pessoa, porém falta às 1.ª e 2.ª
pessoas. Então a autora questiona se é possível considerar nós como plural de eu e
vós como plural de tu, já que o plural é a soma de igualdades e, no pronome nós,
não há a soma de eu + eu e sim de eu + outra(s) pessoa(s); assim como no
pronome vós não há a soma de tu + tu e sim de tu + ele(s).
Essas são algumas das questões que necessitam ser trabalhadas de forma
diferente e que se devem apresentar aos alunos por meio de atividades práticas na
sala de aula.
4 Considerações finais
É necessário reconhecer que o trabalho com a Língua Portuguesa só será
eficiente se for contemplado o tripé leitura, produção textual e análise linguística. A
prática de análise linguística constitui um trabalho de reflexão sobre a organização
do texto escrito e/ou falado, um trabalho no qual o aluno percebe o texto como
resultado de opções temáticas e estruturais feitas pelo autor, tendo em vista o seu
interlocutor.
Conhecer e compreender a função dos nomes e dos pronomes para a
construção de sentidos, indo além do mero estudo de nomenclaturas gramaticais,
possibilita desenvolver nos alunos a competência linguística. E foi isso que se
pretendeu com o desenvolvimento e a implementação de nosso projeto: apresentar
uma proposta de ensino gramatical mais coerente e voltada para o uso real da
língua portuguesa, levando os alunos a entenderem a função das palavras dentro de
textos dos mais variados gêneros que circulam nas diferentes esferas sociais.
5 Referências
ANDRÉ, Hildebrando A. Gramática Ilustrada. São Paulo: Moderna, 1990.
ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática – Por um ensino de línguas sem
pedras no caminho. São Paulo: Parábola, 2000.
AURÉLIO. Novo dicionário eletrônico. Curitiba: Positivo, 2009. CD Rom.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna,
2001.
BOTASSINI, Jacqueline Ortelan Maia. A elipse do sujeito pronominal na
linguagem falada do Paraná: uma análise variacionista. Dissertação (Mestrado
em Linguística) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba – PR, 1998.
CAMACHO, Roberto Gomes; DALL’AGLIO-HATTNHER, Marize Mattos;
GONÇALVES, Sebastião Carlos Leite. O substantivo. In: ILARI, R.; NEVES, M. H. M.
(orgs.). Gramática do português culto falado no Brasil. v. II. Classes de palavras
e processos de construção. Campinas: Ed. da Unicamp, 2008. p. 21-80.
CAMARA JÚNIOR, Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis:
Vozes, 1991.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática de língua portuguesa. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1997.
CIPRO NETO, Pasquale e INFANTE, Ulisses. Gramática da língua portuguesa.
São Paulo: Scipione, 1997.
CUNHA, Celso; CINTRA, Luís Filipe Lindley. Nova gramática do português
contemporâneo. Rio de Janeiro: Editora Lexikon, 2008.
FARACO, Carlos Alberto e MOURA, Francisco Marto. Gramática. São Paulo: Ática,
2003.
FERNANDES, Eulalia. Classes de palavras: um passeio pela história (a.C. e d.C.) e
uma proposta de análise morfofuncional. In: VALENTE, André (org.). Língua,
linguística e literatura. Rio de Janeiro: UERJ, 1998.
FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Porto Alegre: Artes Médicas, 2004.
INFANTE, Ulisses. Curso de gramática aplicada aos textos. São Paulo: Scipione,
1996.
LOPES, Célia Regina. Pronomes pessoais. In: BRANDÃO, S. F.; VIEIRA, S. R.
(orgs.). Ensino de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007.
MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia. Tradição gramatical e gramática tradicional.
São Paulo: Contexto, 1989.
MENDONÇA, Márcia Rodrigues de Souza. Análise linguística no ensino médio:
um novo olhar, um outro objeto. São Paulo: Parábola, 2006.
NEVES, Maria Helena Moura. Gramática de usos do português. São Paulo:
Editora Unesp, 1990.
NICOLA, José de; INFANTE, Ulisses. Gramática contemporânea da língua
portuguesa. São Paulo: Scipione, 1999.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da
Educação Básica. Curitiba: SEED, 2008.
PERINI, Mário Alberto. Gramática descritiva do português. São Paulo: Ática,
1997.
_______. Sofrendo a gramática – Ensaios sobre a linguagem. São Paulo: Ática,
2011.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas:
Mercado de Letras, 1996.
ROJO, Roxane. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo:
Parábola , 2009.
SOARES, Magda. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo: Ática,
1989.
TERRA, Ernani e NICOLA, José de. Gramática da língua portuguesa. São Paulo:
Scipione, 2000.
TRASK, Roberto Lawrence. Dicionário de linguagem e linguística. Tradução e
adaptação de Rodolfo Ilara. São Paulo: Contexto, 2011.
Download