ABRAFATI 2013 - Congresso Científico NOVOS ADITIVOS IPEL : FUNCIONALIDADE QUE AGREGA VALOR Apresentador / Autor: Giovanni C. Junior Empresa: IPEL – Itibanyl Produtos Especiais LTDA Julho -2013 1. Introdução Cada vez mais a indústria busca aditivos que agreguem novas funcionalidades às tintas e revestimentos, já que os consumidores também estão mais exigentes e preocupados com a qualidade de vida e produtos inovadores. Atenta a essa tendência a IPEL desenvolveu um aditivo, que utilizado em conjunto com os microbicidas tradicionais, proporciona ação repelente de insetos aos revestimentos conferindo um importante diferencial para aplicações em áreas internas de residências, hotéis, hospitais, restaurantes entre outros. Este trabalho tem como objetivo apresentar breve descrição do processo de desenvolvimento do aditivo, bem como resultados de teste de laboratório para avaliação da ação repelente contra insetos voadores e rastejantes. Cumpre destacar que de acordo com a aplicação pode haver a opção de utilizar ativos de origem natural, dando continuidade ao conceito já apresentado com a linha OLUS de aditivos naturais em 2011. 2. Histórico 2.1 - Aditivos que agregam valor Tinta é o nome normalmente dado a uma família de produtos (líquidos, viscosos ou sólidos em pó) que, após aplicação sob a forma de uma fina camada, reveste o substrato se converte num filme sólido e flexível, opaco ou brilhante de acordo com a composição do revestimento. As primeiras utilizações de tintas datam de há 40.000 anos quando os primeiros Homo Sapiens pintaram figuras nas paredes das cavernas recorrendo a pigmentos de Ocre, Hematite, Óxido de Manganésio e Carvão Vegetal. Atualmente, as tintas e são usadas para proteger e dar cor a objetos ou superfícies. Cada vez mais, além da função decorativa e protetiva os revestimentos têm incorporado novas funcionalidades com o objetivo de agregar diferenciais tecnológicos e de mercado. Além disso, há uma tendência de que os revestimentos sejam cada vez menos inertes e mais ativos / dinâmicos justamente devido à incorporação de novas funcionalidades. Esse tipo de diferencial pode ser obtido através do uso de novos aditivos. Como exemplos podemos citar: • Revestimentos que mudam de cor de acordo com a temperatura/luminosidade: as formulações de tintas fotocrômicas que contêm material que muda de cor se for aplicada temperatura. Cristais líquidos têm sido usados em tais tintas, tal como em termómetros colorimétricos. O efeito também pode ser obtido através de pigmentos que mudam de conformação quando são expostas à Radiação Ultravioleta. • Tintas eletrocrômicas: revestimentos que podem mudam a cor em resposta a uma corrente eléctrica aplicada. • Tintas com apelo olfativo: através do uso de aditivos pode-se proporcionar ao revestimento aromas diferenciados. Estes aditivos podem inclusive ser microenacpsulados de modo a controlar sua liberação ou permitir sua liberação conforme necessidade. • Tintas com propriedades antibactérias: revestimentos que contem formulações antimicrobianas podem proporcionar superfícies mais limpas e higiênicas minimizando a contaminação/transmissão de doenças e assegurando ambientes mais limpos e saudáveis Outra funcionalidade relevante é a incorporação de um aditivo que proporcione ação repelente de insetos. Desta forma o revestimento além das funções decorativas e protetivas também proporcionaria uma ação profilática na transmissão de doenças e ambientes mais saudáveis para as pessoas. Especialmente em países tropicais essa funcionalidade constitui um importante diferencial agregando valor ao revestimento. Atenta a essa tendência a IPEL desenvolveu uma linha de aditivos que proporciona ação repelente em revestimentos 2.2 - O problema dos insetos “A maior parte das doenças febris no homem é causada por microorganismos veiculados por insetos”, diz a Enciclopédia Britânica. O termo “inseto” designa não só insetos propriamente ditos — animais de três pares de patas, como mosca, pulga, mosquito, piolho e besouro — mas também criaturas de oito patas, como ácaro e carrapato. Segundo a classificação científica, todos esses se enquadram na categoria mais abrangente dos artrópodes — a maior divisão do reino animal — que inclui pelo menos um milhão de espécies conhecidas. A grande maioria dos insetos é inofensiva ao homem e alguns são muito úteis como, por exemplo, os insetos polinizadores e outros que ajudam inclusive a decompor o lixo. Um grande número se alimenta exclusivamente de plantas, ao passo que alguns comem outros insetos. É claro que há insetos que incomodam o homem e os animais com uma picada dolorosa ou simplesmente pelo seu grande número. Alguns também danificam plantações. Mas os piores são os que causam doenças e morte. As doenças transmitidas por insetos “provocaram mais mortes desde o século 17 até a parte inicial do século 20 do que todas as outras causas somadas”, diz Duane Gubler, dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, dos Estados Unidos. Atualmente, cerca de 1 em cada 6 pessoas está infectada com uma doença transmitida por insetos. Além de causar sofrimento, essas doenças representam um grande ônus financeiro, sobretudo nos países em desenvolvimento, que são justamente os que menos dispõem de recursos. Mesmo um único surto pode ser oneroso. Consta que uma epidemia na parte ocidental da Índia, em 1994, custou bilhões de dólares à economia local e mundial. Os insetos podem atuar como vetores — ou seja, agentes transmissores de doenças — de duas formas principais conforme segue: • Transmissão mecânica: assim como as pessoas podem trazer para dentro de casa sujeira impregnadas no sapato, a mosca-doméstica pode carregar nas patas milhões de microorganismos que, dependendo da quantidade, causam doenças.Moscas que pousaram em fezes, por exemplo, contaminam alimentos e bebidas • Vetores: a transmissão ocorre quando insetos hospedeiros de vírus, bactérias ou parasitas infectam as vítimas pela picada ou por outros meios. Apenas uma pequena porcentagem de insetos transmite doenças ao homem dessa forma. Por exemplo, embora haja milhares de espécies de mosquitos, apenas os do gênero Anopheles transmitem a malária — a doença contagiosa que mais mata no mundo, depois da tuberculose. Alguns cientistas prevêem que o aquecimento global fará com que os insetos transmissores de doenças se propaguem em climas atualmente mais frios. Pelo visto, isso já está ocorrendo. O Dr. Paul R. Epstein, do Centro de Saúde e Meio Ambiente Global da Faculdade de Medicina de Harvard, diz: “Atualmente, há relatos da incidência de insetos e de doenças transmitidas por insetos (incluindo malária e dengue) em regiões mais elevadas da África, da Ásia e da América Latina.” Na Costa Rica, a dengue ultrapassou as barreiras montanhosas que até há pouco tempo restringiam a doença à costa do Pacífico, e agora afeta todo o país. Mediante o quadro brevemente descrito acima, revestimentos com ação repelente podem contribuir no controle dos insetos e assim tornar-se uma ferramenta adicional no controle de doenças e na melhoria da qualidade de vida das pessoas. Além disso, um revestimento com essa funcionalidade tem um diferencial que agrega valor e tecnologia ao produto. 3. Aditivo com ação repelente A IPEL foi a primeira empresa a desenvolver uma linha de aditivos com ação preservante no estado úmido baseado em ativos naturais. A linha OLUS apresentada em 2011 foi desenvolvida desde 2008. Durante este trabalho foram avaliados alguns ativos naturais que também possuem ação repelente de insetos. Podemos citar, por exemplo, o Óleo de Neem, Óleo de Eucalipto, Citronella (óleo essencial) entre outros. Posteriormente, aproveitando parte do trabalho realizado, foram preparadas formulações com esses ativos e formulações com ativos sintéticos como derivados de piretrinas e piretroides e iniciou-se um trabalho de avaliação de compatibilidade e estabilidade com revestimentos base aquosa (tinta acrílica e látex-PVA) Após a etapa de teste de estabilidade e compatibilidade, foram preparadas amostras de tinta e submetidas a ensaios de laboratório para comprovação da eficácia do aditivo. Segundo a ANVISA repelentes “São produtos com ação repelente para insetos, para aplicação em superfícies inanimadas e para volatilização em ambientes com liberação lenta e contínua do (s) ingrediente (s) ativo (s) por aquecimento elétrico ou outra forma de energia ou espontaneamente”, e o conceito de repelência a insetos difere de ação inseticida pelo fato de não causar a morte do inseto, mas apenas desencoraja ou afasta o inseto de determinada superfície. O repelente age atuando nos neurorecepetores olfativos e gustatórios dos insetos (ORN e GRN) bloqueando a percepção atrativa do inseto impedindo que os neurônios responsáveis pela atração sejam acionados. A N,N-diethyl-3-methylbenzamide, por exemplo, bloqueia a percepção do acido lático (componente do suor humano) minimizando o ataque dos mosquitos na pele. A figura abaixo ilustra possíveis exemplos da atuação de alguns repelentes: Fig 1 – Possíveis pontos de interação de ativos repelentes com neurorreceptores de insetos. Retirado de J.C. Dickens, J.D. Bohbot, Mini review: Mode of action of mosquito repellents, Pestic. Biochem. Physiol. (2013), http://dx.doi.org/10.1016/j.pestbp.2013.02.006 4. Metodologia Básica, Resultados e discussão Foram preparadas amostras de tinta acrílica aditivadas com os seguintes produtos • • • • IPEL 6000 – Formulação sintética baseada em derivados de piretrina e piretróides IPEL 6001 – Formulação baseada em derivados de piretrina e óleo essencial IPEL 6002 - Formulação baseada em derivados de piretrina e óleo essencial Amostra sem aditivo As amostras foram avaliadas no Laboratório Bioagri através de teste de repelência para os organismos Periplaneta Americana (barata domestica) e Aedes Aegypti (mosquito transmissor da Dengue). O protocolo inclui a aplicação do revestimento em substratos (que possuem áreas idênticas) com a introdução de populações de insetos de origem controlada para avaliação da ação de repelência. Os gráficos abaixo indicam os resultados de repelência, expressos em % de insetos sobre a superfície no tempo 0 considerando esse tempo como a referencia imediatamente após a cura do revestimento. As amostras foram avaliadas durante 3 dias (24, 48 e 72 horas) de modo a confirmar os resultados: Fig. 2 - Repelência no Tempo 0 contra Periplaneta Americana (barata doméstica) – IPEL 6000 Fig. 3 - Repelência no Tempo 0 contra Periplaneta Americana (barata doméstica) – IPEL 6001. Fig. 4 - Repelência no Tempo 0 contra Periplaneta Americana (barata doméstica) – IPEL 6002 No caso da barata doméstica as amostras de tinta sem aditivo apresentaram cerca de 100% da população sobre o revestimento ao passo que o IPEL 6000 e 6001 tiveram praticamente 0% da população sobre a superfície indicando boa ação repelente. O produto IPEL 6002 apresentou redução de cerca de 95% da população de insetos avaliada. Fig. 5 - Repelência no Tempo 0 contra Aedes aegypti (mosquito da dengue) – IPEL 6000. Fig. 6 - Repelência no Tempo 0 contra Aedes aegypti (mosquito da dengue) – IPEL 6001. Fig. 7 - Repelência no Tempo 0 contra Aedes aegypti (mosquito da dengue) – IPEL 6002. No caso do mosquito, os resultados indicam que as reduções foram da ordem de 80 a 90% na presença dos mosquitos sobre a superfície com o IPEL 6001 e 6002. É importante ressaltar que se procurou eliminar o efeito repelente devido à presença de voláteis no revestimento aguardado a cura completa do filme para teste dos insetos. Os gráficos abaixo indicam os resultados de repelência, expressos em % de insetos sobre a mesma superfície avaliada no tempo 0 no tempo 30 dias. Novamente foram avaliados os resultados nos tempos 24, 48 e 72 horas: Fig. 8 - Repelência no Tempo 30 dias contra Periplaneta Americana (barata doméstica) – IPEL 6000. Fig. 9 - Repelência no Tempo 30 dias contra Periplaneta Americana (barata doméstica) – IPEL 6001. Fig. 10 - Repelência no Tempo 30 dias contra Periplaneta Americana (barata doméstica) – IPEL 6002. Os resultados indicam excelente desempenho na repelência de insetos rastejantes (barata) após 30 dias indicando a permanência do aditivo no revestimento. Abaixo seguem os resultados para Aedes aegypti. Fig. 11 - Repelência no Tempo 30 dias contra Aedes aegypti (mosquito da dengue) – IPEL 6000. Fig. 12 - Repelência no Tempo 30 dias contra Aedes aegypti (mosquito da dengue) – IPEL 6001. Fig. 13 - Repelência no Tempo 30 dias contra Aedes aegypti (mosquito da dengue) – IPEL 6002. Observa-se que os resultados para .A aegypti apresentam redução da população sobre a superfície tratada entre 80 e 90% e mediante a estes resultados observa-se que os produtos IPEL 6000 e 6002 apresentaram a melhor performance após 30 dias. 5. Considerações finais Os resultados indicam que o uso dos aditivos da linha 6000 proporcionam uma nova funcionalidade ao revestimento agregando ação repelente. Os revestimentos passam ter uma função ação ativa no controle de vetores causadores de doenças permitindo ambientes mais limpos e controlados. As dosagens utilizadas variam de 1,0 a 2,0% e não impactam nas propriedades avaliadas dos revestimentos (cor, brilho, aparência, etc). O uso do aditivo além de agregar qualidade ao revestimento pode ser um fator de diferenciação mercadológico. Alem dos aditivos apresentados há a possibilidade de desenvolver produtos com liberação controlada através de microcápsulas. Os trabalhos conduzidos com composições totalmente a base de ingredientes ativos naturais seguem em andamento para determinar as combinações com melhor efeito sinergético uma vez que os níveis de dosagens necessários para resultados eficazes são mais altos que as formulações IPEL 6001 e 6002 que são híbridos de ativos sintéticos e naturais. A IPEL já tem as tratativas de registro junto aos órgãos regulatórios e pode dar todo o suporte para as devidas aprovações em cada aplicação. 6. Agradecimentos A IPEL agradece o apoio da Sinergia Química Consultoria na pessoa do sr Ricardo Pedro pelo apoio e suporte técnico na condução deste trabalho. 7. Bibilografia • • • MIL-HDBK-111: Handbook for paints and protective coatings (em en). 2ª ed. Estados Unidos da América: Department of Defense, 2005. 249 p. 1 vol. J.C. Dickens, J.D. Bohbot, Mini review: Mode of action of mosquito repellents, Pestic. Biochem. Physiol. (2013), http://dx.doi.org/10.1016/j.pestbp.2013.02.006 M. S. Fradin and J. F. Day (2002). "Comparative Efficacy of Insect Repellents against Mosquito Bites". N Engl J Med 347 (1): 13–18. doi:10.1056/NEJMoa011699. PMID 12097535.