ISSN-1809-4260 • Ácido úrico e hipertensão arterial • Farmacogenômica e hipertensão: o desafio de encontrar a droga certa para o paciente certo • Caso clínico: Hipertensão mascarada em paciente com síndrome metabólica e doença coronária • Fundo de olho em hipertensos: perspectivas além da classificação KW • Exercício físico e hipertensão arterial: riscos e benefícios • Hipertensão e diabetes 66a Sessão Científica Anual da Associação Americana de Diabetes Washington, DC, EUA ■ ■ VOLUME 9 o N 3 ■ REVISTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO 2006 http://www.sbh.org.br 00 - Capa 03-2006.pm6 1 18/05/07, 11:40 EDITORIAL EDITORIAL Hipertensão Arterial & Diabetes Analisando os levantamentos epidemiológicos sobre as afecções que direta ou indiretamente têm sido responsabilizadas por altas taxas de morbimortalidade, em todo o mundo, constata-se que as complicações cardiovasculares, associadas à doença cerebrovascular, estão se posicionando como a principal causa de morte tanto nos países industrializados como nas nações em desenvolvimento, a exemplo do Brasil. Observa-se também que os grandes fatores de risco, como hipertensão arterial, diabetes, hipercolesterolemia, tabagismo, obesidade e sedentarismo, entre outros, embora passíveis de prevenção e mudanças de tendências, persistem como ameaças perenes, uma vez que até as populações com risco cardiovascular comprovadamente elevado, resistem a adaptações de hábitos cotidianos para uma vida mais saudável. Tais situações de certo modo paradoxais vêm sendo detectadas no âmbito das múltiplas especialidades envolvidas no estudo do sistema cardiocirculatório e vascular, em geral, compondo um panorama certamente preocupante, sobretudo em relação aos meios de saúde pública, já que o número de idosos está se multiplicando em nível mundial, gerando um novo universo de desafios, particularmente para o manejo de entidades crônicas, a exemplo da doença hipertensiva, do diabetes e das dislipidemias. Em sintonia com tal evolução, a revista HIPERTENSÃO continua empenhada em promover a divulgação de trabalhos sobre tópicos diferenciados, de forma a oferecer informações relacionadas a temas mais complexos, como é considerada a análise de aspectos farmacogenômicas da hipertensão, e ao mesmo tempo contemplar assuntos garimpados em outros campos da pesquisa clínica. Dentro dessa preocupação, o número atual da revista inclui artigo sobre “Farmacogenômica e Hipertensão” e resumos de trabalhos de pesquisa, discutidos na 66a Sessão Científica da Associação Americana de Diabetes, realizada em Washington, DC, Estados Unidos, em junho de 2006. Essa orientação deverá ser expandida para outros segmentos da Medicina de interesse na prevenção e tratamento da Hipertensão. Dra. Maria Helena Catelli de Carvalho Editora Hipertensão 2006; 9(3): 81 01 - Editorial_03.pm6 81 18/05/07, 11:40 81 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ÍNDICE ÍNDICE ○ ○ ○ ○ Ácido úrico e hipertensão arterial ............................................................. 84 ○ ○ ○ ○ ○ ○ Farmacogenômica e hipertensão: o desafio de encontrar a droga certa para o paciente certo ............................................................... 88 ○ ○ ○ ○ ○ ○ Caso clínico: Hipertensão mascarada em paciente com síndrome metabólica e doença coronária ....................................................................................... 96 Fundo de olho em hipertensos: perspectivas além da classificação KW ..................................................................................... 100 Exercício físico e hipertensão arterial: riscos e benefícios ...................... 104 Hipertensão e diabetes 66a Sessão Científica Anual da Associação Americana de Diabetes Washington, DC, EUA ............................................................................. 113 Agenda 2006 ........................................................................................... 117 HIPERTENSÃO Revista da Sociedade Brasileira de Hipertensão EDITORA DRA. MARIA HELENA C. DE CARVALHO (SP) CONSELHO EDITORIAL DR. EDUARDO MOACYR KRIEGER (SP) DR. ARTUR BELTRAME RIBEIRO (SP) DR. DANTE MARCELO A. GIORGI (SP) DR. FLÁVIO D. FUCHS (RS) DR. PAULO CÉSAR B. VEIGA JARDIM (GO) DR. ARMÊNIO C. GUIMARÃES (BA) DR. CARLOS EDUARDO NEGRÃO (SP) DRA. ANGELA MARIA G. PIERIN (SP) DR. FERNANDO NOBRE (SP) DR. WILLE OIGMAN (RJ) DR. OSVALDO KOHLMANN JR. (SP) EXPEDIENTE DR. JOSÉ EDUARDO KRIEGER (SP) Produção Gráfica e Editorial - BestPoint Editora Rua Ministro Nelson Hungria, 239 - Conjunto 5 - 05690-050 - São Paulo - SP Telefax: (11) 3758-1787 / 3758-2197. E-mail: [email protected]. Médico / Jornalista Responsável: Benemar Guimarães - CRMSP 11243 / MTb 8668. Assessoria Editorial: Marco Barbato. Revisão: Márcio Barbosa. DR. AGOSTINHO TAVARES (SP) DR. ROBSON AUGUSTO SOUZA SANTOS (MG) DR. HILTON CHAVES (PE) DR. ELISARDO C. VASQUEZ (ES) DR. JOSÉ MÁRCIO RIBEIRO (MG) PESQUISA BIBLIOGRÁFICA As matérias e os conceitos aqui apresentados não expressam necessariamente a opinião da Boehringer Ingelheim do Brasil Química e Farmacêutica Ltda. 82 02 - Índice-Diretoria 03.pm6 CARMELINA DE FACIO (SP) Hipertensão 2006; 9(3): 82–83 82 18/05/07, 11:40 SBH Sociedade Brasileira de Hipertensão DIRETORIA Presidente Dr. Robson A. Souza dos Santos Vice-Presidente Sociedade Brasileira de Hipertensão Tel.: (11) 3284-0215 Fax: (11) 289-3279 E-mail: [email protected] Home Page: http://www.sbh.org.br Dr. Artur Beltrame Ribeiro Tesoureiro Dr. José Márcio Ribeiro Secretários Dr. Dante Marcelo A. Giorgi Dr. Elisardo C. Vasquez Presidente Anterior Dr. Ayrton Pires Brandão Conselho Científico Dra. Andréa Araujo Brandão Dra. Angela Maria G. Pierin Dr. Armênio Costa Guimarães Dr. Artur Beltrame Ribeiro Dr. Ayrton Pires Brandão Dr. Carlos Eduardo Negrão Dr. Celso Amodeo Dr. Dante Marcelo A. Giorgi Dr. Décio Mion Jr. Dr. Eduardo Moacyr Krieger Dr. Elisardo C. Vasquez Dr. Fernando Nobre Dr. Hélio César Salgado Dr. Hilton Chaves Dr. José Eduardo Krieger Dr. José Márcio Ribeiro Dra. Lucélia C. Magalhães Dra. Maria Claudia Irigoyen Dra. Maria Helena C. Carvalho Dr. Osvaldo Kohlmann Jr. Dr. Robson A. S. Santos Dr. Wille Oigman Hipertensão 2006; 9(3): 82–83 02 - Índice-Diretoria 03.pm6 83 18/05/07, 11:40 83 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ácido úrico e hipertensão arterial Uric acid and arterial hypertension Resumo Autores: ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ MÓDULO TEMÁTICO ○ Roberto de Sá Cunha* ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Professor Adjunto de Fisiologia Clínica de Investigação Cardiovascular da Universidade Federal do Espirito Santo Vitória – ES ○ Pedro Magalhães Professor Auxiliar de Fisiologia Faculdade de Medicina – Universidade Agostinho Neto – Luanda, Angola Palavras-chave: hipertensão arterial, ácido úrico e doenças cardiovasculares. Key words: arterial hypertension, uric acid, cardiovascular diseases. O papel do ácido úrico (AU) como preditor, marcador ou causador de doença cardiovascular tem sido aventado desde o início da história da hipertensão arterial. Porém, ainda hoje e sobretudo sob a luz de estudos recentes o debate está mais aceso do que nunca. Há complicadores de fundo metodológico para se estabelecer com certeza essa relação, sobretudo aqueles que dão conta de que os níveis séricos de AU são fortemente influenciados por fatores risco tradicionais para o desenvolvimento de hipertensão arterial e doença cardiovascular. Nesta revisão abordaremos os fundamentos fisiopatológicos da associação entre AU e hipertensão arterial bem como as evidências epidemiológicas que reforçam essa relação. Os aspectos terapêuticos dessa questão, ainda que incipientes, também serão abordados. Abstract The role of the serum uric acid (SUA) as a predictor, marker or causative of hypertension and cardiovascular diseases has been postulated in the early of the scientific history of arterial hypertension. However, until now with a great bulk of evidences coming from recent studies, the question still remains to be clarified. From the methodological point of view the problem resides mainly in the fact that SUA are also strongly influenced by several traditional risk factors for hypertension and cardiovascular diseases. In this brief review, the underlying pathophysiological mechanisms proposed for the role of SUA in hypertension will be discussed, as also with the epidemiological evidence that strenghts this association. Some therapeutical studies, although incipient, will also be reviewed. Introdução *Endereço para correspondência: Clínica de Investigação Cardiovascular Programa de Pós-graduação em Ciências Fisiológicas – UFES Av. Marechal Campos, 1.468 29040-090 – Vitória – ES E-mail: [email protected] Financiado pela CNPq. Recebido em 29/11/2005. Aceito em 21/03/2006. 84 A partir da segunda metade no século 19, o conceito de que a hipertensão arterial era uma entidade caracterizada por nefrite, albuminúria, cardiomegalia e uremia (Mal de Bright) começa a ser questionado, mesmo antes do advento da esfigmomanometria. Mahomed, nesse período, já propunha que a hipertensão arterial era uma condição bem mais comum e ocorria sem as manifestações clássicas descritas por Richard Bright. Ainda nessa época, Mahomed descreve que a hipertensão arterial era comumente encontrada em famílias de gotosos (gouty families)1. Em 1889, Haig, seguindo as mesmas observações, propõe uma dieta pobre em purinas para tratar a hipertensão arterial2. Atualmente sabe-se que a hiperuricemia (ácido úrico acima de 6,5 ou 7,0 mg% em homens, ou acima 6,0 ou 6,6 Hipertensão 2006; 9(3): 84–87 03 - MT Acido urico e hipertensão.pm6 84 18/05/07, 11:40 mg% em mulheres) está presente em 5% dos indivíduos normais, em 25% dos hipertensos não-tratados, em 40% a 50% daqueles tratados com diuréticos e ao redor de 75% naqueles com hipertensão arterial maligna ou disfunção renal3. A partir dos anos 50, houve avanço considerável na investigação de determinantes de doença cardiovascular, sobretudo após o início do Framingham Heart Study. Várias ferramentas estatísticas foram criadas, mas a análise multivariada não simplificou muito a compreensão das relações entre o ácido úrico e a doença cardiovascular. As dificuldades são oriundas do fato de que os níveis séricos de ácido úrico (AU) são fortemente influenciados por (ou influenciam) variáveis tradicionalmente associadas à doença cardiovascular ou que sabidamente determinam a distribuição da pressão arterial de uma população. Apenas para citar, a síndrome metabólica está presente em 76% dos pacientes portadores de gota4. Portanto, é compreensível a dificuldade ao se associar doença cardiovascular e hipertensão arterial a uma variável que é influenciada por idade, raça, sexo, consumo de álcool, obesidade, sedentarismo, padrões específicos de dieta, função renal e uso de diuréticos. E este último fator não deve ser subestimado. O uso de diuréticos na hipertensão (em doses altas até pouco) e na insuficiência cardíaca criaram um fator de confusão que freqüentemente ofusca um possível efeito independente da uricemia na doença cardiovascular. A hiperuricemia é ainda associada a resistência insulínica, disfunção endotelial, aumento da resistência renal e prejuízo no manuseio renal de sódio5. Torna-se, portanto, um desafio científico elucidar um possível papel do AU como agente etiológico ou mesmo ainda como um marcador eficaz de prognóstico cardiovascular desfavorável na hipertensão arterial e na população em geral. A plausibilidade da relação entre os níveis séricos de AU e doença cardiovascular será revista neste artigo, bem como serão revistas as recentes evidências epidemiológicas que apontam para o AU como um determinante independente de hipertensão arterial e doença cardiovascular. Metabolismo do AU e hipertensão arterial O AU é produto da degradação de purinas sob a ação da xantina oxidase (XO) ou desidrogenase. Na maioria dos mamíferos esta degradação continua, e sob ação da uricase o AU é convertido em alantoína. Em alguns primatas e em humanos uma mutação não-funcional ocorrida no período miocênico (8 a 20 milhões de anos) inativou essa segunda enzima, tornando os níveis séricos de AU cerca de três a quatro vezes superiores no homem, quando comparados com aves, por exemplo. Tal mutação sofreu uma pressão seletiva positiva considerável, e tendo em vista que o AU promove retenção de sal (ver adiante) foi postulado que em algum momento (de privação hidrossalina severa, por exemplo) esse genótipo foi perpetuado6. Os níveis séricos de AU são ainda fortemente influenciados (70%) pela secreção e reabsorção renal de urato, que sofre filtração e reabsorção no túbulo proximal através de um sistema de troca aniônica, e ainda pela secreção e reabsorção pós-secretória no túbulo distal. Apesar de poder ser causada por dieta e álcool e possíveis defeitos metabólicos, a hiperuricemia é comumente causada por um defeito na excreção renal de AU. A diminuição da função renal com a idade e o efeito uricosúrico do estrogênio explicam o aumento do AU em homens e mulheres na meia-idade. A redução do volume circulante também produz intensa reabsorção de urato pelo rim, sendo este um dos mecanismos da hiperuricemia causada por diuréticos7. Cabe lembrar que pacientes hipertensos sem lesão renal mensurável apresentam uma redução do clearance renal de urato possivelmente em decorrência de tônus simpático ou de ativação do SRAA. Lesões microvasculares renais produzidas na hipertensão arterial também poderiam explicar o prejuízo no transporte tubular de uratos, sendo o aumento da resistência vascular renal o pano de fundo desses mecanismos8. A hiperuricemia é causadora de hipertensão arterial? A prevalência aumentada de hiperuricemia em hipertensos pode ser vista apenas como um marcador de um distúrbio circulatório sistêmico que envolve uma isquemia tecidual que ativa a XO e aumenta a produção de AU. Da mesma forma, defeitos renais inerentes à hipertensão podem explicar a maior retenção de urato sem que este exerça um papel causal. Há porém evidências de um papel etiológico da hiperuricemia no aumento dos níveis tensionais9. A inibição da uricase com ácido oxônico em ratos foi capaz de produzir uma forma de hipertensão arterial experimental com ativação do SRAA10. Observa-se inicialmente vasoconstrição renal e aumento da resistência renal seguida de uma arteriopatia bastante semelhante à nefroesclerose renal. De início trata-se de um modelo sal-resistente, que posteriormente torna-se bastante sensível ao sal. Tal modelo pode ser inicialmente revertido com alopurinol, o que aponta para um papel etiológico direto do AU. Ainda nesse modelo foi mostrada uma toxicidade vascular do AU que corrobora essa visão. O AU produz proliferação de CMLV, ativação local do SRAA e liberação de mediadores inflamatórios9. A disfunção endotelial produzida pela hiperuricemia está bem documentada11, e segundo R. Johnson parece ser esse o mecanismo da lesão renal mediada pelo AU. Um modelo de hipertensão arterial sal-sensível secundária a uma lesão renal sutil foi descrito por esse mesmo autor usando ratos que receberam infusão por alguns dias de AII e posteriormente, quando já normotensos, foram submetidos a uma sobrecarga de sal12. A semelhança com o modelo do ácido oxônico sugere o envolvimento de mecanismos comuns. Diversos estudos mostraram que o estresse oxidativo aumenta com os níveis séricos de AU, sugerindo um mecanismo adicional de lesão vascular na hiperuricemia. Por outro lado, é possível que a atividade aumentada da XO e suas repercussões sobre o ambiente oxidativo sejam o mecanismo efetivo de doença e não os níveis aumentados do AU, que seria apenas um epifenômeno. Hipertensão 2006; 9(3): 84–87 03 - MT Acido urico e hipertensão.pm6 85 18/05/07, 11:40 85 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A hiperuricemia e lesão de órgãos-alvo na hipertensão arterial Nos últimos 30 anos cerca de 11 estudos longitudinais mostram que o risco do desenvolvimento futuro de hipertensão arterial é maior em indivíduos com valores mais elevados de AU13. Em todos os estudos observa-se um efeito do tipo dose-dependente e linear entre os valores séricos de AU e o risco de hipertensão arterial. Dentre esses estudos, destaca-se uma recente análise multivariada da coorte de Framingham14, com 3.329 indivíduos (idade média de 47 anos) acompanhados por quatro anos, que mostra que 9,8% dos indivíduos do quartil inferior de AU desenvolveram hipertensão arterial contra 15,6% do quartil superior. Os mais importantes estudos nesse sentido, porém, foram os mais recentes feitos entre adolescentes e crianças mostrando, além da força da associação, um argumento temporal difícil de ser contestado. No Bogalusa Heart Study15, cerca de 550 crianças foram acompanhadas por 12 anos e encontrou-se uma correlação entre os níveis séricos de AU na infância e os níveis de pressão arterial ao final do segmento. Um importante estudo realizado em nosso meio16 mostra que crianças com baixo peso ao nascer (BPN) apresentavam valores mais elevados de PA sistólica, que se correlacionavam diretamente com disfunção endotelial e valores de AU. A hipótese mais plausível seria, portanto, a de que o BPN pode determinar lesão renal sutil, redução do número de néfrons, hiperuricemia e, por fim, hipertensão arterial. Ainda em relação ao valor prognóstico do AU, devemos lembrar que este se relaciona de forma clara a lesões de órgãos-alvo, o que sem dúvida contribui para maior risco de eventos cardiovasculares. Em um estudo recente22 foi demonstrada uma clara e independente correlação entre AU (em tercis) e massa de ventrículo esquerdo (ao ecocardiograma), espessura intima-média da carótida e microalbuminúria. Nesse estudo também se observa que em mulheres o AU é um preditor mais forte de lesão de órgãos-alvo. Recentemente, no estudo LIFE23, observou-se que o AU é um forte preditor de aparecimento de fibrilação atrial em pacientes hipertensos. Em uma amostra representativa da população de Vitória, ES (1.507 indivíduos) estudada em nosso Centro (Projeto Monica–OMS–Vitória) também encontramos uma correlação pressão-independente entre o índice de Sokolow-Lyon e quartis de AU. Nesse estudo a rigidez aórtica, um marcador independente de risco cardiovascular, também mostrou acompanhar quartis de AU, de forma independente dos tradicionais fatores de confusão. A plausibilidade da relação entre AU e rigidez aórtica é amparada nos já mencionados efeitos vasculares e renais da hiperuricemia24. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A hiperuricemia é preditora de hipertensão arterial? A hiperuricemia é marcadora de mau prognóstico na população em geral e na hipertensão arterial? O papel do AU como preditor de eventos cardiovasculares na população em geral tem sido objeto de grandes debates. Uma revisão recente mostra que em indivíduos saudáveis o AU foi preditor independente em apenas seis de dez estudos13. Há uma nítida tendência mostrando que essas associações são mais importantes em mulheres. Por outro lado, em indivíduos de alto risco, o AU foi preditor independente em dez de 11 estudos. Particularmente, a associação independente entre AU sérico e o risco de eventos cerebrovasculares (primários ou recorrentes) não enfrenta contestação na literatura17–20. Resultados negativos de estudos de grande porte são sempre lembrados. Dentre esses, destaca-se o estudo de Framingham, que não encontrou associação entre os níveis séricos de AU e eventos cardiovasculares. Existem, porém, nesse estudo, limitações de ordem metodológica que foram destacadas21. De fato, a colinearidade do AU com diversos preditores diretos de risco, como lesão renal e a própria hipertensão arterial, podem eliminá-lo de um modelo multivariado sem que isto signifique ausência de associação. Tal se dá com a obesidade, que freqüentemente é “expulsa” de modelos multivariados pela resistência insulínica. Há também o complicador, na coorte de Framingham, das altas doses de tiazídicos em uso nesse período, e cujo ajuste eliminava qualquer possível efeito do AU. 86 Aspectos terapêuticos Ainda que não tenhamos uma causalidade confirmada, já é possível apontar com certeza uma associação independente entre AU, hipertensão arterial e risco aumentado de eventos cardiovasculares. E é desse contexto que surgiram recentemente as tentativas terapêuticas de interferir nesse fenômeno. O uso de alopurinol em cirurgia cardíaca com o intuito de modificar o estresse oxidativo produziu bons resultados em estudos pequenos, faltando ainda grandes estudos clínicos nesse sentido25. O estudo GREACE26, originalmente desenhado para avaliar os benefícios da atorvastatina na morbi-mortalidade cardiovascular, produziu um resultado inesperado. A atorvastatina levou a uma redução de 8,2% nos níveis séricos de AU e essa redução mostrou ser independente e fortemente relacionada ao risco de eventos. Ainda nesse estudo, houve sensível melhora da função renal, diretamente relacionada à redução de AU. É possível que a atorvastatina tenha produzido melhora da função renal, reduzindo assim o AU e o risco de eventos. No estudo LIFE23 observou-se que a superioridade da losartana em relação ao atenolol pode ser atribuída a efeitos específicos do BRA na redução dos níveis séricos de AU. Tem sido descrito que a losartana é capaz de reduzir os níveis séricos de AU via prejuízo na reabsorção proximal de urato24, 27. A estimativa no LIFE Study é de que 29% da redução de risco obtida pela losartana é atribuível à redução dos níveis séricos de AU. Hipertensão 2006; 9(3): 84–87 03 - MT Acido urico e hipertensão.pm6 86 18/05/07, 11:40 Conclusão Tradicionalmente os níveis séricos de AU somente merecem atenção do clínico quando produzem gota ou litíase urinária. Não há em qualquer das diretrizes atuais (JNC e ESC/ESH) nenhuma recomendação para sequer medir ou mesmo intervir nos níveis sérico de AU. Na última diretriz americana de prevenção primária de acidente vascular encefálico28 sequer a palavra ácido é mencionada, a despeito das evidências recentes. Tal tendência tem sido combatida nos últimos anos por diversos autores29, usando-se entre outros, os argumentos citados nesta revisão. Ainda assim, mesmo entre os mais céticos nessa área, é reconhecida a urgente necessidade de um grande estudo clínico de intervenção. Referências bibliográficas 1. MAHOMED FA. On chronic Bright’s disease, and its essential symptoms. Lancet, v. 1, p. 399–401, 1879. 2. HAIG A. On uric acid and arterial tension. BMJ, v. 1, p. 288–291. 1889. 3. JOHNSON, R.J.; KIVLIGHN, S.D.; KIM, Y.G.; SUGA, S.; FOGO, A.B. Reappraisal of the pathogenesis and consequences of hyperuricemia in hypertension, cardiovascular disease, and renal disease. Am. J. Kidney. Dis., v. 33, n. 2, p. 225–234, 1999. 4. BAKER, J.F.; KRISHNAN, E.; CHEN, L.; SCHUMACHER, H.R. Serum uric acid and cardiovascular disease: recent developments, and where do they leave us? Am. J. Med., v. 118, n. 8, p. 816–826, 2005. 5. JOHNSON, R.J.; KANG, D.H.; FEIG, D.; KIVLIGHN, S.; KANELLIS, J.; WATANABE, S.; TUTTLE, K.R.; RODRIGUEZ-ITURBE, B.; HERRERA-ACOSTA, J.; MAZZALI, M. 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Hipertensão 2006; 9(3): 84–87 03 - MT Acido urico e hipertensão.pm6 87 18/05/07, 11:40 87 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Farmacogenômica e hipertensão: o desafio de encontrar a droga certa para o paciente certo Pharmacogenetics and hypertension: the challenge to getting the right drug into the right patient Resumo Autores: ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ MÓDULO TEMÁTICO Luciano Ferreira Drager* Médico Assistente da Unidade de Hipertensão do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor – HC-FMUSP) José Augusto Soares Barreto-Filho Coordenador do Núcleo de Pós-Graduação em Medicina da Universidade Federal de Sergipe – NPGME/UFS, Professor Adjunto de Cardiologia da Universidade Federal de Sergipe, Médico Supervisor do Serviço de Cardiologia da Clínica e Hospital São Lucas (SãoLucas Cardio) Eduardo Moacyr Krieger Diretor da Unidade de Hipertensão do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor – HC-FMUSP) Palavras-chave: hipertensão, genética, polimorfismo, farmacogenética. Key words: hypertension, genetics, polymorphism, pharmacogenetics. *Endereço para correspondência: Unidade de Hipertensão do Instituto do Coração (InCor) Av. Dr. Enéas Carvalho de Aguiar, 44 – Bloco II – sala 8 05403-904 – São Paulo – SP E-mail: [email protected] Financiado pela CNPq. Recebido em 29/11/2005. Aceito em 21/03/2006. 88 A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é um dos fatores de risco cardiovascular mais importantes. Apesar dos avanços verificados nas últimas décadas, a patogênese do HAS não é bem conhecida. Acredita-se que a HAS depende da interação complexa de fatores genéticos e ambientais. O desenvolvimento das técnicas de Biologia Molecular tem permitido um melhor conhecimento do papel da variabilidade genética no processo patológico da HAS. Entender esse processo constitui item fundamental não só para o melhor conhecimento da fisiopatologia da HAS, mas também pela possibilidade de avaliarmos mais objetivamente a suscetibilidade para desenvolvimento de lesões em órgãos-alvo e, a partir desse conhecimento, individualizarmos a terapêutica a ser instituída. A expectativa é de que no futuro próximo seremos capazes de predizer o risco individual de maneira objetiva, identificando pacientes hipertensos com risco de desenvolver lesões de órgãos-alvo e com isso desenvolver novas estratégias terapêuticas. Abstract Arterial hypertension (AH) is one of the most important cardiovascular risk factors. Despite of the advances verified in the last decades, the pathogenesis of AH is not fully understood. It has been suggested that AH depends on complex interactions between genetic and environmental factors. The development of molecular biology techniques has allowed an increase importance of genetics variability in the pathological process of AH. It is crucial to understand this process not only to improve our current concepts of the physiopathology of AH, but also to evaluate more precisely the susceptibility to the development of target organ damage in order to individualize blood pressure treatment. In near future, w e w i l l b e a b l e t o p re d i c t t h e i n d i v i d u a l r i s k objectively, identify hypertensive patients with risk to d e v e l o p t a rg e t o rg a n d a m a g e a n d d e v e l o p n e w therapeutic strategies. Hipertensão 2006; 9(3): 88–95 04 - MT Farmacogenomica e Hipertensao.pm6 88 18/05/07, 11:41 Introdução FIGURA 1 A hipertensão arterial sistêmica (HAS) constitui um dos grandes problemas de saúde pública no mundo, dada sua alta prevalência (no Brasil, de 22% a 44%; nos EUA, 50 milhões de pessoas) e uma baixa porcentagem de controle com os tratamentos adotados (nos EUA, em torno de 30%). Enquanto o fenótipo final de elevação da pressão arterial é similar de paciente para paciente, os mecanismos genéticos e ambientais determinantes da hipertensão arterial são freqüentemente complexos e heterogêneos. Esses determinantes da hipertensão permanecem desconhecidos na maioria dos pacientes (cerca de 90% dos casos), situação que denominamos de hipertensão primária. Conseqüentemente, utilizamos medidas empíricas para o tratamento, ao invés de uma abordagem específica para cada caso. Médicos freqüentemente prescrevem medicações anti-hipertensivas baseados em experiências pessoais (abordagem de tentatiAdaptado de Turner ST, Schwartz GL, Chapman va e erro) e em Guidelines1. Essas limitações AB, Hall WD, Boerwinkle E. Antihypertensive pharmacogenetics: getting the right drug into the estão fundamentadas pelo conceito de que a right patient. J Hypertens, 2001; 19(1): 1–11. HAS é uma doença poligênica em sua imensa Determinantes de resposta à droga. A variação genética pode contribuir para as diferenças intermaioria e com direta interação com fatores individuais de resposta à droga por alterar sua estrutura, configuração ou quantidade de proteínas envolvidas nos mecanismos farmacocinéticos e farmacodinâmicos. ambientais, tais como dieta, ingestão de sal e obesidade, entre outros. Dos fatores envolvidos na fisiopatogênese da HAS, pelo menos 1/3 pode ser atriTABELA buído a fatores genéticos2. Sendo assim, a resposta a qualquer tipo de medicação não é facilmente previsível. ConseqüenteINFLUÊNCIAS FARMACOCINÉTICAS NA AÇÃO DA DROGA mente, a variabilidade de resposta é freqüente, bem como a necessidade de usarmos vários anti-hipertensivos para o conAbsorção da droga trole pressórico. Isso promove um aumento da ocorrência de • Aderência à prescrição efeitos colaterais indesejados, intolerância e má aderência ao • Intestino curto tratamento. Há muito tempo já se suspeita que todas essas va• Transportadores catiônicos orgânicos riações interindividuais podem ter características genéticas. Assim sendo, a farmacogenômica, definida como o estudo dos • Transportadores aniônicos orgânicos determinantes genéticos na resposta a um determinado mediDistribuição da droga (carga, lipofilicidade) camento3, será abordada nesta revisão com o intuito de trazer “o estado da arte” dessa poderosa e promissora ferramenta no Metabolismo da droga tratamento do paciente hipertenso. 1 Conceitos iniciais: farmacocinética e farmacodinâmica Uma variedade de mecanismos está envolvida na resposta a uma determinada droga. Estão incluídos mecanismos farmacocinéticos, que determinam os níveis da droga na circulação sangüínea, tais como as formas de absorção, distribuição, excreção e metabolismo (tabela 1). Esses mecanismos são distintos dos mecanismos farmacodinâmicos, que envolvem a interação da droga com o seu alvo, bem como os eventos celulares e sistêmicos, que ocorrem como conseqüência dessa interação. Variações gené- • Metabolismo fase I (oxidação/hidroxilação) Citocromo P-450s: CYP1A2, CYP2B6, CYP2C9, CYP2C19, CYP2D6, CYP3A4, CYP3A5, CYP3A7 • Metabolismo de Fase II (adição de grupos substitutos para alterar a solubilidade) Glicoconjugação, sulfoconjugação, metilação (alquilação), acetilação Excreção da droga ou metabólito (rim e fígado) Adapatado de Cadman PE, O’Connor DT. Pharmacogenomics of hypertension. Curr Opin Nephrol Hypertens, 2003;12(1):61–70. ticas que alteram a estrutura, configuração ou qualquer das proteínas envolvidas com esses mecanismos podem contribuir para a variação interindividual na resposta à droga (figura 1). Hipertensão 2006; 9(3): 88–95 04 - MT Farmacogenomica e Hipertensao.pm6 89 18/05/07, 11:41 89 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Potencial de aplicação do conhecimento da herança genética na prática clínica Aspectos genéticos na fisiopatologia da HAS O envolvimento do sistema renina-angiotensina-aldosterona na fisiopatogênese da hipertensão arterial e das lesões de órgãos-alvo associadas à hipertensão arterial é um fato já estabelecido4. Portanto, tão logo as ferramentas de análise mais detalhada do genótipo humano tornaram-se disponíveis, foram iniciados estudos tentando associar polimorfismos em genes que codificam peptídeos que participam desse sistema regulador (gene da enzima conversora de angiotensina [ECA], do angiotensinogênio e do receptor da angiotensina II) com a sua atividade, com o nível da pressão arterial, com a probabilidade de desenvolvimento de lesões de órgãos-alvo e com a resposta da pressão arterial às drogas específicas que inibem o sistema em questão4–6. Neste contexto são ilustrativos os vários estudos que procuraram associar variantes funcionais do sistema renina-angiotensina-aldosterona com a gênese da HAS e com o risco cardiovascular6–9. Rigat e colaboradores foram os primeiros a demonstrar que o polimorfismo no gene da ECA tipo inserção / deleção (I/D) era responsável por 1/2 da variabilidade dos níveis séricos e teciduais da ECA8. Entretanto, Agerholm-Larsen e colaboradores não encontraram associação entre o polimorfismo no gene da ECA tipo inserção / deleção (I/D) com fenótipos relacionados a risco cardiovascular, dentre estes hipertensão arterial9. Em 1992, Jeunemaitre e colaboradores demonstraram pela primeira vez a associação de uma variante genética funcional e a hipertensão primária. Neste estudo, foi demonstrado que uma variante específica no gene do angiotensinogênio (substituição de metionina por treonina no códon 235) era associada à hipertensão arterial e a níveis mais elevados de angiotensinogênio10. No nosso meio, Pereira e colaboradores11 analisaram o papel das variantes funcionais da ECA e do angiotensinogênio em uma grande população (n = 1.421) urbana de Vitória que apresentava diversidade étnica e observaram uma correlação linear entre o número de alelos AGT235T e o nível de pressão arterial. Nesse estudo também foi replicada a observação de que o alelo T, na sua forma homozigótica, confere um risco aumentado de HAS (figura 2). Ainda que os resultados destes estudos sejam muitas vezes conflitantes em virtude do delineamento experimental e variações genéticas e ambientais diversas em diferentes partes do mundo, os dados acumulados até o momento sugerem que o polimorfismo AGT235T tem apresentado resultados mais consistentes que o do gene da ECA (D / I) no tocante à associação com hipertensão arterial9. Fenótipos intermediários na HAS Outro aspecto relacionado à fisiopatologia e de interesse prático é a observação de que em cerca de 30% dos pacientes a HAS está associada a obesidade, dislipidemia e alterações do metabolismo da glicose, características estas muito associadas à síndrome metabólica12. O fato de que tanto os fenótipos intermediários (resistência à insulina) quanto as doenças clínicas associadas à síndrome metabólica (diabetes, HAS e obesidade) agregam-se de maneira mais freqüente e intensa em gêmeos e em famílias sugere, além dos fatores ambientais, que componentes genéticos estariam envolvidos com a síndrome12. Numa tentativa de identificar regiões cromossômicas responsáveis por variações na pressão arterial em indivíduos que apresentam risco FIGURA aumentado de resistência à insulina, Wu e colaboradores13 estudaram a distribuição da pressão arterial em 48 famílias portadoras de Diabetes mellitus não-insulino-dependente. A análise de ligação de traço quantitativo em locus candidato para resistência à insulina, metabolismo lipídico e controle da pressão arterial foi realizada em todos os membros das famílias. Não foi encontrada ligação entre a pressão arterial sistólica (PAS) e/ ou pressão arterial diastólica (PAD) e o locus da ECA (cromossomo 17), do angiotensinogênio (cromossomo 1) ou da renina (cromossomo 1). Entretanto, encontrou-se evidência de ligação significativa da PAS com uma região próxima ao gene da lipoproteína lipase (LPL) no braço curto do cromossomo 8 (p = 0,0002). Com a intenção de refinar o mapeamento, marcadores específicos do locus da LPL: D8S261 (9cM telomérico do locus da LPL) e D8S282 (3cM centroméAdaptado de Pereira, A et al. Hypertension, 2003; 41: 25–30. rico do locus da LPL) também foram utilizados. Associação entre o polimorfismo do gene do angiotensinogênio (M235T) e a pressão arterial na Após esse refinamento do mapeamento foi depopulação urbana de Vitória, Espírito Santo. monstrada uma ligação da variação da PAS com 2 90 Hipertensão 2006; 9(3): 88–95 04 - MT Farmacogenomica e Hipertensao.pm6 90 18/05/07, 11:41 dois marcadores na região cromossômica da LPL (p = 0,02 e 0,0002 para D8S261 e D8S282, respectivamente). Adicionalmente, mais dois marcadores centroméricos da LPL foram investigados (D8S133, 5cM do locus LPL; e NEFL, 11 cM do locus da LPL), confirmando a associação entre esses marcadores genéticos e as variações da PAS (p = 0,01 e 0,001 respectivamente). Em conclusão, a variação alélica de região próxima ao locus do gene da LPL pode explicar a variação interindividual da PAS em 52%–73% dos casos. Portanto, pode-se sugerir que a região próxima ao gene da LPL influencia as variações da PAS em membros de famílias não-diabéticas que apresentam risco substancialmente elevado de desenvolver resistência à insulina e Diabetes mellitus não-insulino-depedente. Este achado sugere que tanto hipertensão arterial como dislipidemia podem ser transmitidas, em associação. Também na mesma linha, Cheng e colaboradores14 realizaram estudos de ligação (linkage) e, utilizando a metodologia de genoma scan, analisaram 390 membros de família hispânica, sendo 77 desses indivíduos hipertensos. Os autores detectaram uma região no braço longo do cromossomo 7 influenciando a pressão arterial e os índices de resistência à insulina (insulina de jejum e HOMA [homeostasis assessment mode]). A maior evidência de ligação dos fenótipos investigados e a região cromossômica estudada foi para insulina de jejum (lod score = 3,36 a 128 cM), seguida pela PAS (lod score = 2,06 a 120 cM). Com o refinamento da metodologia de mapeamento (aumento da densidade de marcadores) pode-se obter lod score máximo de 3,94 a 125 cM (p = 0,00002) para insulina de jejum e de 2,51 a 112 cM para PAS. Mapeamento coincidente neste locus também incluiu a sensibilidade à insulina avaliada pelo índice HOMA e a concentração sérica de leptina. O curioso é que a sensibilidade à insulina avaliada pelo método do clampeamento euglicêmico não foi mapeada nesse mesmo locus. Os resultados da investigação demonstram que há um determinismo genético importante para componentes da síndrome metabólica localizado no braço longo do cromossomo 7. A ligação dos fenótipos pressão arterial, HOMA e leptina na mesma região cromossômica sugere que essa região pode influenciar os traços fenotípicos associados à síndrome metabólica, confirmando a idéia de uma possível base genética para a síndrome. Por último e ainda reforçando a tese de herança genética comum para síndrome metabólica, a pesquisa de polimorfismos do gene SAH realizada por Iwai e colaboradores15, estudando 4.000 indivíduos representantes da população geral do Japão, resultou no achado de dois polimorfismos na região promotora e polimorfismos nos íntron 5, 7 e 12 e éxon 8. Uma das variantes, polimorfismo A/G (íntron 12) parece influenciar de maneira significativa os níveis plasmáticos de triglicérides, colesterol, o índice de massa corpórea, o índice cinturaquadril e o nível de PA. O efeito desse genótipo na PA coincide com seu efeito relativo ao índice de massa corpórea e índice cintura-quadril. O alelo G do gene SAH foi associado a múltiplos fatores de risco, incluindo hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia, obesidade e hipertensão. Esses dados também reforçam a hipótese de base genética comum para a síndrome metabólica. Além dos exemplos citados acima (variantes funcionais e genes do sistema renina-angiotensina-aldosterona e aspectos genéticos da síndrome metabólica), a literatura está repleta de um grande número de estudos que investigaram a associação de variantes em outros genes que participam como sistema regulatório da pressão arterial. As investigações acerca das bases genéticas da gênese da hipertensão arterial permitem subsídios para um melhor entendimento dos mecanismos moleculares causadores de hipertensão arterial e estabelecem um novo paradigma de prática médica, na qual medidas preventivas mais precoces e individualizadas podem ser adotadas16. Por último, vale ressaltar que o conhecimento prévio da fisiologia dos sistemas regulatórios da homeostase de sal e água, aliado aos avanços da Biologia Molecular, também possibilitou a identificação de algumas formas raras de HAS, na qual um único gene causa a elevação da pressão sistólica (HAS monogênica)17. Suscetibilidade genética das lesões de órgãos-alvo Embora a sobrecarga hemodinâmica seja o principal fator, também é reconhecido que a herança genética pode conferir suscetibilidade para o desenvolvimento de lesão de órgãosalvo4. A hipertrofia ventricular esquerda (HVE) será utilizada como protótipo para a exemplificação desse conceito, bem como do potencial de aplicação desse conhecimento na identificação de pacientes com maior risco de complicações relacionadas à hipertensão arterial. O papel da herança genética como determinante da massa ventricular foi bem demonstrado em estudos de populações em filhos de hipertensos com ecocardiograma, em gêmeos e indivíduos de raças diferentes. Avaliando a massa ventricular esquerda em sete grupos de gêmeos monozigóticos e em 15 de gêmeos dizigóticos, Harshfield e colaboradores evidenciaram que os gêmeos monozigóticos exibiam menores variações na massa ventricular esquerda (7 ± 5 g/m2) que os gêmeos dizigóticos (17 ± 11 g/m2), sugerindo que a magnitude da HVE é, ao menos em parte, determinada geneticamente18. Estudos recentes de coorte, como o HyperGEN, estão confirmando que a variabilidade da massa ventricular é, de fato, determinada geneticamente. O interessante desse estudo é que a massa ventricular esquerda correlacionou-se melhor em irmãos negros que em brancos, sugerindo que o controle genético da massa ventricular esquerda pode ser diferenciado, dependendo do grupo étnico estudo19. De maneira conceitual, como hipótese de trabalho, o componente genético pode atuar no desenvolvimento de HVE através de três formas principais: 1. através de genes que participam de maneira direta da fisiopatologia da hipertensão arterial e, conseqüentemente, co-participam da gênese da HVE; 2. através de genes que podem atuar na fisiopatogênese da hipertensão arterial e também no desenvolvimento da HVE por mecanismos independentes da hipertensão arterial per se; 3. através de genes que participam da gênese da HVE, mas não influenciam o controle da pressão sistólica (figura 3)4. Hipertensão 2006; 9(3): 88–95 04 - MT Farmacogenomica e Hipertensao.pm6 91 18/05/07, 11:41 91 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ FIGURA 3 Adaptado de Turner ST, Boerwinkle E et al. Circulation, 102: IV–40–45; 2000. Modelo teórico da participação genética na gênese da lesão de órgãos-alvo à hipertensão arterial (hipertrofia ventricular esquerda). PA – pressão arterial. Evidências experimentais dão suporte a esse conceito. Em ratos geneticamente hipertensos, a hereditariedade da massa ventricular esquerda foi estimada em 76%. Em estudos em ratos espontaneamente hipertensos, utilizando-se o método de análise de ligação entre o fenótipo massa VE e diversos marcadores cromossômicos (genoma scan), foram encontrados dois loci mapeados no cromossomo 1 com traços quantitativos influenciando massa cardíaca. Digno de nota é o fato de que um locus só influenciou a massa cardíaca, mas não a variabilidade da pressão arterial, confirmando experimentalmente a hipótese de trabalho acima apresentada. Outros investigadores também chegaram a conclusões semelhantes, porém identificaram diferentes loci. É plausível supor que, em diferentes cepas de animais ou em populações diversas, mecanismos genéticos distintos participem na expressão do fenótipo final hipertrofia ventricular esquerda4. Neste contexto, o sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), além de ser um importante sistema de regulação da pressão arterial, é também uma importante via de estimulação do crescimento celular e de fibrose que caracteriza o processo patológico de hipertrofia cardíaca. Portanto, este é um sistema candidato para se buscar correlação de variantes funcionais genéticas com a expressão do fenótipo massa ventricular19. Schunkert e colaboradores19 analisaram a presença de HVE pelo eletrocardiograma e demonstraram que o polimorfismo do gene da ECA (haplótipo DD) correlacionava-se com critérios de sobrecarga ventricular esquerda, em homens e sobretudo nos indivíduos com pressão arterial normal. Mais uma vez, a hipótese de que a carga genética pode atuar por mecanismos independentes da carga hemodinâmica é sugerida. Resultados semelhantes foram obtidos por Jeng e colaboradores20 que estudaram variantes funcionais do gene do angiotensinogênio (M235T). Pacientes com o genótipo TT apresentaram índice de massa ventricular maior que o grupo de pacientes com haplótipo MM e MT (129 ± 34v 112 ± 38and 107 ± 30 g/m2, p = 0,002). 92 Entretanto, Shlyakhto e colaboradores21 avaliaram a hipótese de associação entre variantes genéticas (polimorfismos funcionais) em genes do SRAA e massa ventricular esquerda em hipertensos, através da ecocardiografia. Os indivíduos foram agrupados quanto ao polimorfismo do gene da ECA (I/ D); polimorfismo do gene do receptor AT1 (A1166C) e polimorfismo do gene do angiotensinogênio (M235T e –6G/A). Diferente dos achados acima apresentados, nessa população nenhuma correlação foi encontrada entre os marcadores moleculares relacionados a variantes funcionais do SRAA e a massa ventricular esquerda. Deve-se considerar, em futuro próximo, que a identificação de novos marcadores moleculares, a possibilidade de estudos de associação de marcadores em populações mais numerosas e a utilização de critérios mais rigorosos na seleção da amostragem podem diminuir as atuais discrepâncias. É também fundamental entender que, em populações distintas, o peso de determinado fator genético pode variar, bem como a resultante da complexa interação gene e meio ambiente. Aspectos genéticos que influenciam a resposta terapêutica (farmacogenética) Apesar da disponibilidade de numerosas classes de agentes anti-hipertensivos que atuam em diferentes sistemas reguladores da pressão arterial, menos de 40% dos pacientes hipertensos tratados têm a pressão arterial adequadamente controlada. Ao lado de fatores gerais (por exemplo: adesão, estágio da doença, interação medicamentosa, status nutricional, renal e hepático, presença de outras doenças etc.) situam-se, com impacto não menos importante, os fatores genéticos moduladores da heterogeneidade da resposta biológica aos antihipertensivos4,22,23. Durante muito tempo, os clínicos têm baseado a escolha da droga anti-hipertensiva em fatores como idade, sexo, raça e comorbidades associadas, embora seja reconhecido que estes marcadores apresentam um baixo índice de sucesso em predizer a resposta ao fármaco escolhido. Mesmo em investigações controladas, nas quais existe a certeza quanto a observação das orientações terapêuticas, existe uma grande variabilidade na reposta individual e no aparecimento de efeitos colaterais a um determinado fármaco. Portanto, na prática médica, há ampla necessidade de novos marcadores que permitam uma melhor estratificação da droga a ser utilizada4, 22–26. Neste cenário, a correlação de marcadores genéticos obtidos pela análise de polimorfismos pontuais pode sinalizar para a resposta anti-hipertensiva individual, abrindo a possibilidade de proporcionarmos ao paciente um tratamento individualizado mais racional27,28. Este é o campo da investigação farmacogenética, ou seja, a identificação de genes que contribuem na variabilidade da resposta a um determinado fármaco4,22–29. De maneira didática podemos dividir os fatores genéticos determinantes da resposta medicamentosa em: • polimorfismo genético e variações nos mecanismos fisiopatológicos; • polimorfismo genético e variações farmacocinéticas, ou seja, variantes genéticas funcionais que resultem em diferenças na biodisponibilidade da droga; Hipertensão 2006; 9(3): 88–95 04 - MT Farmacogenomica e Hipertensao.pm6 92 18/05/07, 11:41 • polimorfismo genético e variações farmacodinâmicas, ou seja, variantes genéticas funcionais nos alvos dos fármacos responsáveis por diferenças de resposta a uma determinada droga4, 22–26. Além dos aspectos relacionados à fisiopatologia da hipertensão arterial, os avanços recentes da Biologia Molecular têm desvendado diferenças genéticas correlacionadas a mecanismos que regulam: • o metabolismo e a eliminação de fármacos no organismo (farmaconética); • a resposta esperada a determinada droga (farmacodinâmica). Em síntese, ao lado dos fatores genéticos fisiopatológicos, os fatores genéticos que influenciam a interação do paciente com a droga utilizada podem determinar a variabilidade da resposta aos agentes anti-hipertensivos e predizer o aparecimento de efeitos colaterais4,22–26. Diferenças genéticas correlacionadas a mecanismos pressores atuantes em um determinado indivíduo podem sinalizar para uma determinada desregulação de um sistema patogenético e, conseqüentemente, apontar a melhor droga para um determinado paciente. A avaliação de polimorfismos associados à fisiopatologia da hipertensão arterial pode predizer a resposta anti-hipertensiva aos diferentes agentes 4,27–30. Apesar de alguns resultados conflitantes, estudos de variantes moleculares de componentes do sistema renina-angiotensina-aldosterona têm sugerido que os genes da ECA, do angiotensinogênio e do receptor da angiotensina II tipo 1 influenciam a resposta anti-hipertensiva às drogas que atuam bloqueando o SRAA4,27–30. Nesse contexto, Ohmichi e colaboradores avaliaram a influência do genótipo da ECA como determinante da resposta anti-hipertensiva ao imidapril e observaram que a redução da PAD foi, ao menos, parcialmente determinada pelo genótipo. Pacientes que apresentavam o genótipo II apresentaram uma tendência a melhor resposta da PA ao inibidor da ECA utilizado29. Ainda sobre a sinalização do genótipo para uma determinada fisiopatologia, Turner e colaboradores avaliaram a influência do polimorfismo do genótipo C825T da proteína G subunidade beta (3) e a resposta ao tiazídico. O alelo T sinaliza para uma hipertensão arterial cuja base fisiopatológica é caracterizada por expansão de volume (aumento de reabsorção de sódio) e supressão da renina. Na análise dos fatores preditores da resposta anti-hipertensiva observou-se que o genótipo TT era um preditor significativo da resposta anti-hipertensiva ao tiazídico e que o genótipo CT apresentava uma resposta intermediária, quando comparava-se a resposta entre os pacientes portadores do genótipo CC vs. TT27 (figura 4). No que tange aos aspectos genéticos que influenciam o metabolismo das drogas, a possibilidade é de que variantes funcionais de enzimas metabolizadoras podem influenciar a biodisponibilidade da droga, e conseqüentemente, seu efeito no organismo. Entretanto, diferentemente das drogas mais antigas, tipo hidralazina e metildopa, metabolizadas por enzimas polimórficas apresentando grandes diferenças na resposta interindividual, a variabilidade da resposta anti-hipertensiva às drogas utilizadas atualmente é mais facilmente explicada por diferenças farmacodinâmicas4. Neste aspecto, a pesquisa de variantes genéticas que influenciam a fisiologia do receptor alvo da droga utilizada tem sido objeto de investigações intensas e com resultados animadores. Em relação ao receptor AT1, pelo menos 14 polimorfismos já foram descritos e, em particular, o +1166 A/C parece se correlacionar com a resposta humoral e hemodinâmica renal ao losartan30. Mais ainda, estudo recente publicado por Kurland e colaboradores31 avaliou a influência de polimorfismos funcionais nos genes do angiotensinogênio (T174M) e no receptor AT1 (A1166C) e documentou correlação destes FIGURA 4 Adaptado de Turner ST et al. Hypertension, 2001; 37[part 2]: 739–743 Associação entre o polimorfismo C825T da proteína G sub-unidade β3 e resposta ao tiazídico. Hipertensão 2006; 9(3): 88–95 04 - MT Farmacogenomica e Hipertensao.pm6 93 18/05/07, 11:41 93 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ FIGURA 5 ○ ○ ○ com modificações da massa ventricular esquerda que ocorriam no curso do tratamento anti-hipertensivo. Esse tipo de achado ilustra o papel dos marcadores moleculares (polimorfismos funcionais) como instrumento potencial para guiar a terapêutica anti-hipertensiva27. Entretanto, em recente estudo publicado, o GenHAT 32, a partir da base de dados do ALLHAT, a hipótese de que o polimorfismo do gene da ECA (I/D) tem potencial preditivo do risco cardiovascular e/ou da resposta terapêutica testada nesse importante ensaio clínico não se confirmou. Tal resultado, por ser de advindo de uma grande coorte de pacientes e com previsão para análise genômica, reflete o quanto ainda é necessário avançar nessa área para que o conceito teórico e plausível seja, de fato, incorporado na prática clínica. Considerações finais Foram apresentadas as evidências indicando o potencial da Medicina Molecular em causar impacto significativo no nosso entendimento acerca do papel da herança genética na gênese da hipertensão arterial, na gênese das lesões de órgãos e na variabilidade da resposta terapêutica. A expectativa é de que essa nova abordagem metodológica para as doenças complexas gradativamente possa contribuir para a sonhada medicina individualizada (figura 5). Personalizar o tratamento da hipertensão é um objetivo cada vez mais desejado e possível. No entanto, apesar da importância teórica e da grande plausibilidade da farmacogenômica, na atualidade há uma percepção cada vez mais nítida da complexidade fisiopatológica da HAS enquanto doença poligênica e das dificuldades inerentes para que o conhecimento da “bancada” seja transposto para a “beira do leito”. Modificado de Cadman PE, O’Connor DT. Pharmacogenomics of hypertension. Curr Opin Nephrol Hypertens, 2003;12(1):61–70. Abordagem farmacogenômica da hipertensão arterial sistêmica. Referências bibliográficas 1. CADMAN, P.E.; O’CONNOR, D.T. Pharmacogenomics of hypertension. Curr. Opin. Nephrol. Hypertens., v. 12, n. 1, p. 61–70, 2003. 2. WILLIAMS, R.R.; HUNT, S.C.; HOPKINS, P.N.; HASSTEDT, S.J.; WU, L.L.; LALOUEL, J.M. Tabulations and expectations regarding the genetics of human hypertension. Kidney Int. Suppl., v. 44, p. S57–64, 1994. 3. TURNER, S.T.; SCHWARTZ, G.L.; CHAPMAN, A.B.; HALL, W.D.; BOERWINKLE, E. Antihypertensive pharmacogenetics: getting the right drug into the right patient. J. Hypertens., v. 19, n. 1, p. 1–11, 2001. 4. TURNER, S.T.; BOERWINKLE, E. Genetics of hypertension, target-organ complications, and response to therapy. Circulation, v. 102, p. IV40–45, 2000. 5. CRISAN, D.; CARR, J. Angiotensin I-converting enzyme: genotype and disease associations. J. Mol. Diagn., v. 2, p. 105–115, 2000. 6. DANSER, A.H.; SCHUNKERT, H. 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Hipertensão 2006; 9(3): 88–95 04 - MT Farmacogenomica e Hipertensao.pm6 95 18/05/07, 11:41 95 ○ ○ ○ ○ ○ ○ LÍNICO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ C ASO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Palavras-chave: hipertensão mascarada, monitorização residencial da pressão arterial, síndrome metabólica, doença cardiovascular. Key words: masked hypertension, home blood pressure measurement, metabolic syndrome, cardiovascular disease. *Endereço para correspondência: Rua Real da Torre, 705/101 – Madalena 50610-000 – Recife – PE E-mail: [email protected]. 05 - Caso Clinico.pm6 A hipertensão mascarada é caracterizada por medida de pressão arterial normal no consultório, mas elevada fora do consultório. Tem uma prevalência em torno de 40% entre os hipertensos aparentemente controlados. Os autores relatam o caso de um homem, 74 anos, portador de síndrome metabólica já com doença cardiovascular submetido à realização da monitorização residencial da pressão arterial. Estudos recentes demonstram que o risco cardiovascular é similar entre pacientes com hipertensão mascarada e aqueles com hipertensão sustentada e esta condição deve ser investigada nos indivíduos com alto risco cardiovascular para prevenir um diagnóstico e tratamento inadequados. Abstract Masked hypertension is characterized by a normal blood pressure level on clinic, but abnormal levels out of clinic. The prevalence is about 40% among hypertensive patients that seems to be controlled. The authors report a case of a, 74-yr-old man presented with metabolic syndrome and cardiovascular disease that underwent to a home blood pressure measurement. Several recent studies have demonstrated that cardiovascular risk is similar among those with masked hypertension and those with sustained hypertension. This condition should be searched to prevent inadequate diagnosis and treatment in individuals with a high cardiovascular risk. Relato do Caso Clínico Em agosto de 2005, paciente com 74 anos de idade, sexo masculino, pardo, viúvo, natural de Serra Talhada e procedente de Recife, PE, procurou consultório médico a pedido dos filhos. Referia ser hipertenso havia cerca de trinta anos, em uso irregular de enalapril 10 mg, 2 vezes ao dia, e hidroclorotiazida 25 mg/ dia (uso contínuo havia três semanas); tabagista de 20 cigarros/dia havia 61 anos, sedentário, vida sexual ativa e hábito alimentar inadequado; nega outros antecedentes pessoais relevantes bem como cardiopatia na família. Exame físico Financiado pelo RealCor. Recebido em 30/03/2006. Aceito em 21/05/2006. 96 Resumo ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas – UNCISAL, Maceió, AL ○ Marco Antônio Mota-Gomes ○ ○ ○ RealCor, Real Hospital Português de Beneficência em Pernambuco, Recife, PE ○ Giordano Bruno Parente ○ ○ ○ PROCAPE – Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco, Universidade de Pernambuco, Recife, PE; RealCor, Real Hospital Português de Beneficência em Pernambuco, Recife, PE Masked Hypertension in a Patient with Metabolic Syndrome ○ ○ Danielle Batista Leite Audes Magalhães Feitosa* ○ ○ ○ ○ Comentários: Hipertensão mascarada em paciente com síndrome metabólica e doença coronária • Paciente em estado geral bom, corado, hidratado, acianótico, anictérico, afebril e eupnéico. • Peso: 84,6 kg; altura: 1,70 m; IMC: 29,3 kg/m2; circunferência abdominal: 108 cm. • Coração: bulhas rítmicas, B2 hiperfonética em foco aórtico, sopro sistólico em foco mitral (2+/6+) e sopro diastólico aspirativo em foco aórtico acessório (2+/6+). PA: MSD 138/70 mmHg e 142/68 mmHg, MSE 140/66 mmHg e 138/68 mmHg. FC: 84 bpm. • Pulmões: murmúrio vesicular presente, sem ruídos adventícios. Abdome globoso, flácido, indolor, sem visceromegalias, massas sólidas ou palpáveis e sopros. Pulsos periféricos normais bilateralmente, edema em membros inferiores 1+/4+ bilateral, mole e indolor. • ECG: ritmo sinusal, freqüência 88 bpm, alterações discretas da repolarização ventricular, sobrecarga atrial esquerda. Hipertensão 2006; 9(3): 96–99 96 18/05/07, 11:41 O paciente já trazia os seguintes exames laboratoriais colhidos recentemente: • glicemia de jejum: 118 mg/dL; • uréia: 46 mg/dL; • creatinina: 1,0 mg/dL; • ácido úrico: 6,4 mg/dL; • colesterol total: 180 mg/dL; • HDL-C: 42 mg/dL; • LDL-C: 116 mg/dL; • triglicerídeos: 110 mg/dL; • K+: 3,8 mEq/L; • Na+: 139 mEq/L; • hemograma e urina tipo I: normais. TABELA 1 ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO PELO ESCORE DE FRAMINGHAM Idade 7 pontos Colesterol total 0 ponto HDL-C 1 ponto PAS 2 pontos Diabetes 0 ponto Fumo 2 pontos Total 12 pontos 12 pontos = 37% de risco de DAC em 10 anos. Foi solicitada avaliação com nutricionista, orientado abandono do tabagismo e acrescentou-se à prescrição sinvastatina 20 mg/noite. Solicitado: teste oral de tolerância à glicose (glicemia de jejum e após duas horas da ingestão de 75 g de dextrosol), microalbuminúria, proteína C-reativa e novo perfil lipídico, além de ecoDopplercardiograma e teste ergométrico. Em dezembro de 2005, foi admitido ao hospital, queixando-se de dispnéia de início súbito, com piora progressiva havia cerca de duas horas. • Apresentava ao exame físico de admissão: EGR, dispnéico 2+/4+, afebril, hipocorado +/4+, acianótico e orientado, com PA 210/130 mmHg e FC 104 bpm. • Aparelho cardiovascular: ritmo cardíaco regular em três tempos, com presença de B4 em ponta, além dos achados anteriormente descritos. • Aparelho respiratório: murmúrio vesicular rude com estertores crepitantes até ápices. Após análise dos exames laboratoriais, incluindo enzimas cardíacas, foi diagnosticado edema agudo de pulmão secundário a pico hipertensivo e síndrome isquêmica aguda (infarto agudo do miocárdio sem supradesnível de ST). Não vinha usando qualquer medicação e não tinha abandonado o tabagismo ou retornado ao consultório como solicitado. Exame físico na unidade coronária • Paciente em EGR, corado, consciente e orientado, hidratado, acianótico e com taquipnéia leve. • IMC: 31,2 kg/m2; circunferência abdominal: 112 cm. • Coração: mesmos achados auscultatórios já descritos. PA: 136/84 mmHg. • Pulmões: murmúrio vesicular presente e estertores crepitantes até 1/3 médio. • Pulsos periféricos presentes bilateralmente, edema 2+/4+ bilateral, mole e indolor. Prescreveu-se enalapril, carvedilol, furosemida, espironolactona, aspirina, clopidogrel, sinvastatina, enoxiparina e nitroglicerina. • ECG: ritmo sinusal, freqüência 80 bpm, alterações da repolarização ventricular, onda q de V1–V4, sobrecarga atrial esquerda, sem supradesnivelamento do segmento ST. Exames complementares • Troponina: 2,7 ng/ml (VN < 1,0 ng/ ml); CK-MB: 16 U/L (VN < 10 U/ L); CK: 460 U/L (VN < 189 U/L). • Glicemia de jejum: 122 mg/dL; colesterol total: 209 mg/dL; HDL-C: 58 mg/dL; LDL-C: 125 mg/dL; triglicerídeos: 126 mg/dL, K+: 4,1 mEq/ L e Na+: 137 mEq/L; hemograma e urina tipo I: normais. • EcoDopplercardiografia revelava dilatação e déficit contrátil segmentar do VE (DDVE: 6,3 cm, índice de MVE: 156 g/m2, FE 41%); AE: 4,2 cm; disfunção diastólica moderada; insuficiência mitral e aórtica leves; aumento do AE. • Coronariografia: artéria DA encontrava-se ocluída em 1/3 médio e artéria CD apresentava lesão não-significativa em 1/3 médio. • Cintilografia miocárdica demonstrava fibrose sem isquemia ou viabilidade na parede anterior. Nessa internação recebe alta hospitalar com novos diagnósticos: 1. infarto agudo do miocárdio sem elevação do segmento ST; 2. insuficiência cardíaca. Optou-se por tratamento clínico conservador e prescreveu-se: furosemida 40 mg/dia, espironolactona 25 mg/dia, aspirina 100 mg/dia, clopidogrel 75 mg/ dia, enalapril 20 mg/dia (12/12h), carvedilol 25 mg/dia (12/12h) e sinvastatina 20 mg/dia. Paciente retorna ao consultório três semanas após alta hospitalar. Encontrava-se sem queixas, em uso das medicações prescritas e sem fumar desde sua internação. • IMC: 29,7 kg/m2, • PA: 136/68 mmHg e FC: 72 bpm. • Pulmões limpos e sem edemas. Na semana seguinte, retornou com os exames solicitados e estava com o exame físico inalterado (PA: 138/67 mmHg e FC: 66 bpm): • glicemia de jejum: 116 mg/dL; glicemia após duas horas da ingestão de 75 g de dextrosol: 152 mg/dL; HbA1c: 6,9% (VN < 6,0%); colesterol total: 188 mg/dL; HDL-C: 55 mg/dL; LDL-C: 112 mg/dL; triglicerídeos: 119 mg/dL; • uréia: 52 mg/dL; creatinina: 1,1 mg/ dL; ácido úrico: 6,3 mg/dL; K+: 4,0 mEq/L e Na+: 138 mEq/L; TGO: 27 mg/dL; TGP: 51 mg/dL e CK: 42 U/ L; hemograma e urina tipo I: normais. MRPA Comportamento anormal da PA sistólica, comportamento normal da PA diastólica. Exame durante uso de medicação anti-hipertensiva. A MRPA confirma hipertensão mascarada, isto é, PA normal no consultório e anormal pela MRPA e constata PA mais elevada pela manhã. Foi associada amlodipina 5 mg/noite ao esquema anti-hipertensivo e, com base nos estudos REVERSAL, PROVE-IT e TNT, que evidenciaram o benefício do uso Hipertensão 2006; 9(3): 96–99 05 - Caso Clinico.pm6 97 18/05/07, 11:41 97 TABELA 2 MÉDIAS DO EXAME, TOTAL, POR DIA, POR TURNO E CARGA PRESSÓRICA (excluindo as medidas do 1o dia) PAS PAD Médias (mmHg) 158,8 75,9 Cargas pressóricas 88,2% 11,8% Médias – Clínica 146,5 73,0 Médias – 1 dia 153,8 78,2 Médias – Manhã 169,9 82,4 Médias – Noite 146,3 68,1 o Protocolo da II Diretriz em MRPA FIGURA 1 Pressões por turnos da PA sistólica e diastólica da atorvastatina, em pacientes coronariopatas, no controle lipídico e nos desfechos cardiovasculares, foi iniciada atorvastatina na dose de 80 mg/noite no lugar da sinvastatina sugerindo-se acompanhamento por automedida da pressão arterial (tabela 2 e figura 1). Discussão 05 - Caso Clinico.pm6 drome metabólica os pacientes que apresentam pelo menos três dos seguintes fatores: obesidade abdominal (CA > 102 cm em homens e CA > 88 cm em mulheres); triglicerídeos ≥ 150 mg/dL; HDL- Como abordagem prioritária deste caso foi enfatizada a mudança no estilo de vida, com dieta adequada, exercícios físicos regulares e abandono do tabagismo, com o objetivo de reduzir o risco cardiovascular. A terapia medicamentosa foi reiniciada com terapia combinada anti-hipertensiva e um hipolipemiante, no caso um inibidor da enzima de conversão da angiotensina associado a um diurético tiazídico e uma estatina, respectivamente, com o objetivo de adequar o paciente às metas, além de prevenir o TABELA 3 COMPONENTES DA SÍNDROME METABÓLICA SEGUNDO O NCEP-ATP III Este é um caso clínico freqüente na nossa prática diária, onde o paciente, por ser assintomático, não procura nem segue as orientações médicas. O paciente do caso descrito chega ao consultório com hipertensão, glicemia de jejum alterada e obesidade abdominal, conferindo o diagnóstico de síndrome metabólica, além de outros fatores de risco cardiovascular, como tabagismo, idade avançada e sedentarismo. O National Cholesterol Educational Program´s Adult Treatment Panel III (NCEP-ATP III) reconhece como portadores da sín- 98 Protocolo da II Diretriz em MRPA C < 40 mg/dL em homens e < 50 mg/dL em mulheres; pressão arterial ≥ 130 ou ≥ 85 mmHg e glicemia de jejum ≥ 110 mg/dL. Este é um problema de saúde atual, atingindo principalmente populações de países desenvolvidos e em desenvolvimento (tabela 3). De acordo com o escore de Framingham, calculado na primeira consulta (antes de o paciente apresentar o evento coronariano agudo), que estima a incidência de eventos cardiovasculares (angina, infarto e morte) relacionando diversos fatores de risco, este paciente apresenta um risco de 37% em dez anos, o que confere alto risco cardiovascular. Neste caso, as metas de tratamento devem ser: glicemia de jejum < 110 mg/dL, glicemia pós-prandial (2h) < 140 mg/dL, colesterol total < 200 mg/dL, HDLC > 45 mg/dL e LDL-C < 100 mg/dL, triglicerídeos < 150 mg/dL, PA < 130/ 85 mmHg e perda sustentada do peso de 5% a 10%. Componentes Níveis Obesidade abdominal por meio de circunferência abdominal Homens Mulheres > 102 cm > 88 cm ≥ 150 mg/dL Triglicerídeos HDL-colesterol Homens Mulheres < 40 cm < 50 cm ≥ 130 mmHg ou ≥ 85 mmHg Pressão arterial ≥ 110 mg/dL Glicemia de jejum A presença de Diabetes mellitus não exclui o diagnóstico de Síndrome Metabólica Hipertensão 2006; 9(3): 96–99 98 18/05/07, 11:41 agravamento metabólico e a hipertrofia ventricular esquerda. Salientamos que, para os pacientes com síndrome metabólica de médio e alto risco (risco de DAC ≥ 10% em dez anos), deve ser recomendado o uso contínuo de aspirina em baixas doses. Em um segundo momento, provavelmente como conseqüência de hábitos inadequados mantidos e resistência aos medicamentos prescritos, encontramos o paciente com doença cardiovascular: cardiopatia isquêmica dilatada por aterosclerose coronariana, sendo medicado com furosemida, espironolactona, enalapril, carvedilol, aspirina, clopidogrel e sinvastatina. Nesse momento, o paciente passa a ter metas mais rigorosas, objetivandose níveis de LDL-C < 70 mg/dL, além do preciso controle da glicemia e da pressão arterial (< 130/85 mmHg). Tendo em vista que não foram alcançadas as metas desejadas, foi trocada a estatina. Ratificamos a importância da manutenção indefinida da terapia hipolipemiante estabelecida após a obtenção dos níveis recomendados do perfil lipídico, como também o acompanhamento trimestral no primeiro ano das provas de função hepática (TGP, em particular) e da enzima muscular (CK). Após o primeiro ano, recomenda-se realizar esses exames a cada seis ou doze meses. Nos pacientes com sobrepeso, recomenda-se o uso de medicamentos para obesidade, desde que acompanhados de comorbidades e que não tenham perdido 1% do peso inicial por mês após um a três meses de tratamento não-medica- mentoso. A sibutramina foi testada em vários estudos, mostrando-se eficaz na redução de peso, com melhora dos parâmetros metabólicos, boa tolerabilidade e segurança. É observado aumento da PA sistólica e diastólica, sendo necessário às vezes um ajuste da medicação anti-hipertensiva. Outra opção segura para esses pacientes seria o orlistate. Os estudos epidemiológicos mostram relação direta e independente entre valores da glicemia e a doença cardiovascular; sendo assim, a normoglicemia e sua manutenção a longo prazo deve ser objetivada. Após a mudança no estilo de vida, e em paciente com a glicemia de jejum < 110 mg/dL e HbA1c normal, não se deve acrescentar medicações, ao passo que nos pacientes com glicemia < 110 mg/dL e HbA1c aumentada ou glicemia ≥ 110 mg/dL e ≤ 140 mg/dL, independentemente do valor da HbA1c, está indicado o uso de metformina ou glitazona ou acarbose ou glinidas. A realização da MRPA neste paciente teve como objetivo: 1. avaliar a presença de efeito do avental branco, que poderia tornar desnecessário o ajuste da terapia anti-hipertensiva; 2. diagnosticar a hipertensão mascarada, que obrigaria uma implementação de medicação anti-hipertensiva adicional. A hipertensão mascarada é entidade freqüente entre os hipertensos aparentemente controlados (segundo Mallion et al. representa 40,3% dos pacientes hipertensos tratados que estão com PA < 140/ 90 mmHg no consultório) e tem risco cardiovascular semelhante aos hipertensos tratados e não-controlados, fazendose necessário o ajuste terapêutico dos anti-hipertensivos. Bobrie et al. demonstraram risco cardiovascular aumentado na ordem de 2,06 em pacientes com hipertensão mascarada, semelhante ao hipertenso sem controle. Já o hipertenso do avental branco teve risco calculado de 1,18, semelhante ao hipertenso controlado. A MRPA confirmou o diagnóstico de hipertensão mascarada e demonstrou que a PA era mais elevada pela manhã do que quando comparada com a do turno da noite e, como evidenciado em metanálise, a associação de dois fármacos apresenta uma redução dos níveis pressóricos mais significativa em relação ao aumento isoladamente. Desse modo foi prescrito um antagonista do canal de cálcio à noite, objetivando um melhor controle da PA em ambos os turnos. É importante salientar que os valores sugeridos pelas diretrizes como metas para controle da pressão arterial são aplicáveis às obtidas no consultório, havendo a necessidade de estabelecer os valores ideais na MAPA e na MRPA, considerando os subgrupos de risco cardiovascular. Mas, certamente, a PA média de 158,8/75,9 mmHg obtida pela MRPA está muito elevada para o paciente em questão, elevando seu risco cardiovascular, necessitando assim de ajuste terapêutico. Referências sugeridas 1. IV Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arq. Bras. 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Hipertensão 2006; 9(3): 96–99 05 - Caso Clinico.pm6 99 18/05/07, 11:41 99 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fundo de olho em hipertensos: perspectivas além da classificação KW The retinal examination in hypertensive patients: perspectives beyond KW classification Resumo Autor: ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ EPIDEMIOLOGIA Miguel Gus Unidade de Hipertensão/Serviço de Cardiologia, Hospital de Clínicas de Porto Alegre Palavras-chave: hipertensão, artérias da retina, estratificação de risco. Key words: hypertension, retinal artery, risk assessment. O exame de fundo de olho tem sido recomendado na avaliação de hipertensos para identificação de dano em órgão-alvo. A tradicional classificação de Keith-Wagener (KW) apresenta limitações, principalmente devido à grande variação inter e intraobservador. Recentes estudos observacionais, utilizando análise da fotografia do fundo de olho com métodos manuais, identificaram que o estreitamento arteriolar é um fator de risco independente, até mesmo dos níveis pressóricos, para a ocorrência de eventos cardiovasculares primordiais. O desenvolvimento de novas técnicas de análise semi-automática abre a perspectiva para utilização do fundo para melhor estratificação de risco, principalmente em indivíduos hipertensos. Abstract The retinal examination has been recommended in the evaluation of hypertensive patients in order to identify target organ damage. The traditional classification of Keith-Wagener (KW) has some pitfalls such as the great variability inter and intra observer. Recent longitudinal studies, analyzing retinal images with a manual technique, recognized that retinal arteriolar narrowing is an independent risk to the occurrence of major cardiovascular events. The development of new techniques, using semi-automatic methods, opens a new perspective of a better risk stratification, specially among hypertensive patients. Introdução Endereço para correspondência: Serviço de Cardiologia – Hospital de Clínicas de Porto Alegre Rua Ramiro Barcelos, 2.350 – sala 2060 90035-903 – Porto Alegre – RS E-mail: [email protected] Financiado pelo Hospital das Clínicas de Porto Alegre. Recebido em 29/11/2005. Aceito em 21/03/2006. 100 06 - EPI fundo de olho.pm6 A doença cardiovascular situa-se entre as principais causas de morte em todo o mundo. Nos países desenvolvidos há muito se constitui na principal causa. De acordo com estimativas atuais, quase 62 milhões de norte-americanos são portadores de pelo menos uma patologia cardiovascular e, anualmente, um milhão são acometidos de morte súbita1. No mundo, mais de 20 milhões de indivíduos morrem subitamente todos os anos e grande parte dessas pessoas não apresentam qualquer sintoma antes do episódio2. No Brasil estima-se que aproximadamente 300 mil mortes anuais são atribuídas à doença cardiovascular3. Hipertensão 2006; 9(3): 100–103 100 18/05/07, 11:42 Estudos epidemiológicos têm identificado fatores de risco associados à doença cardiovascular4. Dentre os atualmente modificáveis, classicamente encontram-se hipertensão, dislipidemia, diabetes, obesidade, tabagismo e sedentarismo. Mais recentemente, outros fatores de risco associados ao processo de inflamação da placa aterosclerótica, à disfunção endotelial e ao estado de coagulabilidade têm sido identificados5,6. Diante da magnitude dessa patologia, medidas preventivas, particularmente em hipertensos, têm sido estudadas. Tais medidas visam à identificação de indivíduos de maior risco e que se beneficiariam de atitudes terapêuticas que possibilitam a diminuição da ocorrência de eventos cardiovasculares. A estratificação de risco Ensaios clínicos têm demonstrado que o benefício da utilização de hipolipemiantes, como as estatinas, no contexto da prevenção primária, quando se compara ao da prevenção secundária, é duas a três vezes menor. Isto sinaliza que a abordagem terapêutica torna-se mais eficaz quanto maior for o risco do indivíduo. Para a obtenção de resultados mais eficazes em indivíduos assintomáticos, recomenda-se a utilização de métodos não-invasivos capazes de identificar aqueles de maior risco7. As diretrizes atuais que abordam a prevenção primária da doença coronariana têm preconizado a avaliação do risco de indivíduos adultos por meio do Escore de Risco de Framingham. Fatores como sexo, idade, colesterol total, HDL-colesterol, tabagismo e pressão sistólica são utilizados para cálculo da estimativa de risco para ocorrência de eventos coronarianos em dez anos8,9. A utilização de estatinas tem sido preconizada para indivíduos considerados de risco intermediário (entre 10%–20%), sendo esta uma faixa que pode englobar até 40% dos indivíduos adultos norte-americanos10. Apesar de serem amplamente usados na prática clínica, modelos baseados nos fatores de risco tradicionais têm limitações em sua capacidade de discriminar quem irá desenvolver eventos, podendo ser ineficazes no cálculo do risco em uma parcela significativa de indivíduos (25%–50%). Particularmente, na estratificação de hipertensos esta questão tornase importante, pois pode determinar o quanto agressiva deve ser a intervenção terapêutica para baixar a pressão. Novas estratégias, como a identificação de novos marcadores que avaliam a vulnerabilidade da placa, o estado pró-trombótico e a vulnerabilidade miocárdica têm sido estudadas para melhor estratificação do risco coronariano5. Com isso, existiria uma otimização do benefício de abordagens mais intensivas na prevenção primária, tal como a utilização de antiadesivos plaquetários, estatinas ou associação de anti-hipertensivos5. A utilização do exame de fundo de olho na estratificação de risco Tradicionalmente, diretrizes têm recomendado utilização do exame de fundo de olho para identificação de dano em órgão-alvo de pacientes hipertensos11,12. No entanto, essas re- comendações são baseadas nos achados de estudos mais antigos utilizando-se a classificação de Keith-Wagener (KW), com algumas limitações, tais como: a utilização de oftalmoscopia direta, que pode ter uma variabilidade interobservador significativa (20%–42%), a inadequada aferição dos desfechos cardiovasculares considerando-se os parâmetros atuais e, principalmente, a falta de controle para possíveis vieses de confusão. Como conseqüência, o valor da oftalmoscopia direta, no atendimento de hipertensos, tem sido questionado13. Analisando-se de uma forma mais global, o exame do fundo de olho pode oferecer oportunidade única de exame nãoinvasivo in vivo para avaliação da relação entre características arteriolares e o risco de doença cardiovascular. No entanto, apenas mais recentemente essa relação tem sido mais intensamente avaliada em estudos prospectivos que utilizam a análise de fotografias digitalizadas da retina e a ocorrência de diversos desfechos cardiovasculares, intermediários ou primordiais. Wong et al., em um estudo baseado na coorte do ARIC (Atherosclerosis Risk in Communities Study), com 5.628 adultos entre 49 e 73 anos seguidos por um período médio de três anos, avaliaram a relação entre estreitamento arteriolar na fundoscopia e a incidência de hipertensão. Identificou-se que valores da relação do diâmetro arteriolar e venoso (relação A/ V) incluídos no quintil mais baixo (0,57 a 0,79) se associaram significativamente com o diagnóstico de hipertensão, independentemente de outros fatores de risco, inclusive os valores pressóricos basais (RR 1,61; IC 95% : 1,27–2,04). Esses achados sugerem que a fundoscopia pode fornecer informações sobre o status cardiovascular do indivíduo e a sua probabilidade de desenvolver, no futuro, doença cardiovascular14. Com resultados mais conflitantes, esse mesmo modelo de investigação tem sido utilizado para avaliar a relação entre os achados fundoscópicos e a incidência de eventos cardiovasculares primordiais, tais como acidente vascular encefálico, mortalidade por qualquer causa, insuficiência cardíaca e doença coronariana. Em uma análise da mesma coorte do ARIC, com 10.358 indivíduos de ambos os sexos seguidos por 3,5 anos, encontrou-se associação significativa entre a presença de qualquer alteração retiniana e a incidência de acidente vascular encefálico (RR 3,1; IC 95% 1,7 – 5,7). Houve associação inversa entre a relação A/V e a incidência de AVE (p = 0,03), independentemente de outros fatores de risco, inclusive pressão arterial e glicemia de jejum15. Quanto à associação entre alterações fundoscópicas e mortalidade, não foi encontrada associação entre estreitamento arteriolar e mortalidade após o período de dez anos de acompanhamento em uma coorte com 4.929 indivíduos entre 43 a 84 anos16. Análise de 11.612 indivíduos de ambos os sexos por sete anos, igualmente da mesma coorte do ARIC, demonstrou que a presença de qualquer alteração retiniana associou-se significativamente com incidência de insuficiência cardíaca em indivíduos sem hipertensão ou diabetes (RR 2,9; IC 95% 1,5 – 5,9). No entanto, na análise restrita da relação A/V não houve uma associação após ajuste para outros fatores de confusão Hipertensão 2006; 9(3): 100–103 06 - EPI fundo de olho.pm6 101 18/05/07, 11:42 101 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ (RR 1,18; IC 95% 0,95 – 1,48)17. Quanto à incidência de doença coronariana, uma outra análise com 9.648 indivíduos de ambos sexos, com idade entre 51 e 71 anos, acompanhados por 3,5 anos, demonstrou que o estreitamento arteriolar se associou significativamente com doença coronariana em mulheres (RR 2,2; IC 95% 1,0 – 4,6), mas não em homens (RR 1,1 ; IC 95% 0,7 – 1,8)18. Essa mesma questão foi avaliada em outra coorte de 560 homens hipertensos acompanhados por oito anos. A presença de estreitamento arteriolar focal ou generalizado associou-se significativamente à ocorrência de eventos coronarianos (RR 2,9; IC 95: 1,3 – 6,2), independentemente de outros fatores de risco, inclusive dos níveis de pressão arterial. Os autores concluem que o estreitamento arteriolar, identificado pelo exame de fundo de olho, pode ser considerado como fator de risco independente para a ocorrência de eventos macrovasculares e pode ser utilizado na estratificação de risco de hipertensos. No entanto, ao contrário dos anteriormente descritos, a fundoscopia nesse estudo foi realizada por método direto e sem uso de midriáticos, o que poderia acarretar aferições imprecisas19. O conjunto dos resultados desses estudos permite que sejam projetadas algumas linhas de investigação. Primeiramente, deve-se encontrar o real valor das alterações vasculares do fundo de olho na estratificação de risco, considerandose a existência de diferentes estratégias já praticadas com esse fim. Em segundo lugar, a análise das alterações fundoscópicas deve ser feita através de um exame que apresente boa reprodutibilidade e que seja de fácil execução, permitindo que sejam desenvolvidos novos métodos de classificação20. Diante dessa perspectiva, novos métodos de verificação estão sendo desenvolvidos para aferição mais precisa da relação A/V. Medidas automáticas da relação A/V, a partir da análise, por software específico, da foto digitalizada da retinografia são um exemplo21. Esses achados abrem a perspectiva da utilização da análise da retinografia de uma forma mais confiável e até mesmo em ambiente de pouco treinamento na medição dos diâmetros vasculares. Conclusões Hoje é reconhecida a necessidade de se encontrarem modos complementares de estratificação de risco para implementação de intervenções terapêuticas, principalmente em indivíduos situados em uma faixa de risco intermediária para o desenvolvimento da doença cardiovascular. Estudos prospectivos têm indicado que a análise fundoscópica poderia auxiliar na reestratifição de hipertensão com risco intermediário calculado pela clássica escala de Framingham. O exame de fundo de olho é uma oportunidade de avaliação do status vascular in vivo. Estudos mais recentes utilizando análise digitalizada da retinografia demonstraram que existe uma relação inversa entre a relação A/V com a pressão arterial e a incidência de alguns desfechos primordiais. Portanto, a sua análise mais detalhada poderia ajudar na decisão do quanto agressiva deve ser a intervenção anti-hipertensiva em hipertensos de risco global cardiovascular intermediário. Referências bibliográficas 1. YUSUF, S.; REDDY, S.; OUNPUU, S.; ANAND, S. Global burden of cardiovascular disease: part I: general considerations, the epidemiologic transition, risk factors and impact of urbanization. Circulation, v. 104, n. 22, p. 2746–2753, 2001. 2. MYERBURG, R.J.; INTERIAN, A. JR.; MITRANI, R.M.; KESSLER, K.M.; CASTELLANOS, A. Frequency of sudden cardiac death and profiles of risk. Am. J. Cardiol., v. 80, n. 5B, p. 10F–19F, 1997. 3. LOTUFO, P.A. Epidemiologia das doenças cardíacas no Brasil: histórico, situação atual e proposta de modelo teórico. Rev. Soc. Cardiol. 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Hipertensão 2006; 9(3): 100–103 06 - EPI fundo de olho.pm6 103 18/05/07, 11:42 103 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Exercício físico e hipertensão arterial: riscos e benefícios Physical exercise and hypertension: risks and benefits Resumo Autores: ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ AVALIAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL Cláudia Lúcia de Moraes Forjaz* Crivaldo Gomes Cardoso Junior Ellen Aparecida de Araújo Luiz Augusto Riani Costa Luiz Teixeira Ricardo Saraceni Gomides Laboratório de Hemodinâmica da Atividade Motora da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (LAHAM-EEFEUSP) Palavras-chave: exercício aeróbio, exercício resistido, pressão arterial, hipertensão, resposta hiper-reativa. Key words: aerobic exercise, resistance exercise, blood pressure, hypertension, hypertensive response. O exercício físico tem sido recomendado para a prevenção e tratamento não-medicamentoso da hipertensão arterial. Entretanto, é importante diferenciar as respostas dos exercícios aeróbios e resistidos e ponderar seus riscos e benefícios. Os exercícios resistidos não apresentam, cronicamente, efeito hipotensor em hipertensos e, durante sua execução, observa-se um pico de pressão arterial muito acentuado, que não pode ser controlado, pois a medida indireta da pressão arterial nesta situação não é válida. Por outro lado, os exercícios aeróbios reduzem a pressão arterial de repouso, 24 horas e exercício de hipertensos, e, durante sua execução, apenas a pressão arterial sistólica aumenta. Esse aumento pode ser controlado pelo ajuste da intensidade e pela medida auscultatória durante a execução do exercício. É interessante observar ainda que a resposta exacerbada da pressão arterial durante o exercício aeróbio progressivo é utilizada para avaliar o risco futuro de os normotensos se tornarem hipertensos e de hipertensos terem complicações clínicas. Essa medida também permite identificar indivíduos cuja pressão arterial precisa ser monitorada durante o treinamento físico. Concluindo, o treinamento aeróbio é o recomendado para hipertensos devido a seus benefícios comprovados e a seu baixo risco. Ele pode ser complementado pelo treinamento resistido, que traz benefícios musculoesqueléticos, mas deve ser executado com cuidado. Abstract *Endereço para correspondência: Av. Prof. Mello Moraes, 65 – Butantã 05508-900 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3091-3136 Fax: (11) 3813-5921 E-mail: [email protected] Financiado pela FAPESP, CNPq e CAPES Recebido em 29/11/2005. Aceito em 21/03/2006. 104 Physical exercise is recommended as part of the nonpharmacological treatment of hypertension. Nevertheless, it is important to differentiate between aerobic and resistance exercises’ effects, and to balance exercise benefits and risks. Resistance exercise does not have chronic hypotensive effects in hypertensives, and during its execution, there is an expressive increase in blood pressure that cannot be controlled, because indirectly blood pressure measurement techniques are not valid in this situation. On the other hand, aerobic exercise reduces resting, 24-hour and exercise blood pressures in hypertensive subjects, and during its execution, only systolic blood pressure increases expressively. This increase can be controlled by exercise intensity adjustment, and the auscultatory measurement of blood pressure. It is also interesting to observe that exacerbated blood pressure increase during progressive aerobic exercise is useful to identify normotensives with probability of becoming hypertensives, and Hipertensão 2006; 9(3): 104–112 07 - MAPA Exercicio e Hipertensão.pm6 104 18/05/07, 11:42 hypertensives with greater morbidity. Moreover, this blood pressure response to exercise helps to identify subjects, whose blood pressure levels should be monitored during exercise training. In conclusion, aerobic exercise is the type of training recommended to hypertensives because of its proved benefits and low risks. It might be complemented by resistance training, which results in muscle benefits, but should be performed with caution. Introdução A inatividade física está relacionada ao maior risco de desenvolvimento de hipertensão arterial. De fato, até mesmo o engajamento em atividades físicas não-programadas pode promover ganho substancial no controle da pressão arterial. No entanto, vale ressaltar que essa relação fica mais bem evidenciada com atividades de lazer e mais vigorosas1. Além disso, a prática de atividades físicas tem efeitos hipotensores bastante conhecidos e comprovados em indivíduos hipertensos, auxiliando no controle da pressão arterial desses pacientes2. Por esses motivos, o exercício físico regular tem sido recomendado como parte integrante e importante da prevenção e reabilitação da hipertensão arterial, conforme explícito nas V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial3. Entretanto, quando o assunto versa sobre o exercício físico, torna-se importante separar os efeitos dos exercícios aeróbios dos resistidos. Os primeiros dizem respeito a exercícios realizados de forma cíclica, envolvendo grandes grupos musculares, com intensidade leve a moderada e longa duração, sendo exemplos típicos andar, correr, nadar, dançar etc. Por outro lado, os exercícios resistidos, também conhecidos como exercícios de força ou musculação, caracterizam-se pela contração de um determinado segmento corporal contra uma resistência que se opõe ao movimento4. Esses exercícios podem ser realizados com intensidade leve, moderada ou serem intensos. As características mecânicas diferenciadas dos exercícios aeróbios e resistidos fazem com que eles desencadeiem efeitos cardiovasculares distintos e, principalmente, produzam alterações diferentes na pressão arterial. Dessa forma, ao se discutirem os efeitos do exercício em hipertensos é importante diferenciar os efeitos desses dois tipos de exercícios, ponderando seus possíveis benefícios e riscos. Os benefícios dizem respeito à capacidade de a prática regular do exercício reduzir a pressão arterial dos pacientes (efeito crônico do exercício). Por outro lado, os riscos se relacionam ao pico de pressão arterial atingido durante a execução do exercício, que pode levar à ruptura de aneurismas cerebrais preexistentes5. Nesse sentido, é importante ressaltar que a presença de aneurismas cerebrais é mais comum em hipertensos que em normotensos6. Uma forma de controlar o risco envolvido no exercício é medir a pressão arterial durante sua execução, porém a aplicabilidade e a validade dessa medida também diferem entre os exercícios aeróbios e resistidos. Cabe ainda lembrar que a medida da pressão arterial durante o exercício também tem sua utilidade na triagem de risco de indivíduos normo e hipertensos. Com base nas considerações anteriores, este artigo versará sobre os benefícios e riscos dos exercícios resistidos e aeróbios nos pacientes hipertensos, discutindo a aplicabilidade e validade da medida da pressão arterial durante o exercício. Efeito crônico do treinamento físico resistido na pressão arterial Classicamente, o treinamento físico aeróbio é o que promove importante resposta hipotensora em pacientes hipertensos. Entretanto, nos últimos dez anos o interesse científico pelos efeitos do treinamento resistido sobre o sistema cardiovascular tem crescido sobremaneira. Contudo, os dados científicos existentes ainda são escassos e controversos. Uma metanálise recente, realizada por Cornelissen e Fagard 7, concluiu que o treinamento resistido reduz a pressão arterial sistólica e diastólica de repouso em 3,2 e 3,5 mmHg respectivamente (tabela 1). No entanto, essa metanálise incluiu apenas nove estudos, que englobaram diferentes populações (normotensos e hipertensos, com ou sem a terapia medicamentosa) e também diferentes protocolos de treinamento (intensidades variando de 30% a 90% de uma repetição máxima – 1RM). Dessa forma, os resultados obtidos não podem ser extrapolados para nenhuma população ou situação específica. De fato, quando separamos os estudos de acordo com a população estudada, observa-se que vários estudos com normotensos 8,9 verificaram queda da pressão arterial após o treinamento resistido, enquanto que, dos quatro estudos realizados com hipertensos, em três deles 10-12 a pressão arterial não se modificou com o treinamento (tabela 2). Vale ressaltar que nesses estudos foram utilizados exercícios de alta intensidade, o que pode ter influenciado nos resultados, visto que no estudo13 realizado com treinamento de baixa intensidade (40% de 1RM) houve uma pequena redução da pressão arterial diastólica. Dessa forma, fica claro que os dados com hipertensos ainda são muito escassos para que qualquer conclusão possa ser tirada. Com os dados disponíveis, não há embasamento para se afirmar que o treinamento resistido tenha efeito hipotensor a longo prazo em indivíduos hipertensos. Efeito agudo dos exercícios resistidos na pressão arterial Apesar do efeito hipotensor crônico do treinamento resistido não estar demonstrado na população hipertensa, esse exercício é recomendado nesta população, em complemento ao exercício aeróbio, em função de seus importantes benefícios musculoesqueléticos14, que são primordiais para a manutenção da saúde, sobretudo em mulheres e nos idosos2. Dessa forma, torna-se importante discutir a segurança desse tipo de exercício físico para indivíduos hipertensos. As respostas cardiovasculares aos exercícios resistidos foram pouco estudadas. No entanto, os estudos existentes relatam aumentos expressivos das pressões arteriais sistólica e diastólica durante a sua execução15, e os valores máximos Hipertensão 2006; 9(3): 104–112 07 - MAPA Exercicio e Hipertensão.pm6 105 18/05/07, 11:42 105 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ TABELA 1 ○ ○ ○ ○ ○ CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO, CARACTERÍSTICAS DOTREINAMENTO RESISTIDO (INTENSIDADE, DURAÇÃO E FREQÜÊNCIA SEMANAL) E A MUDANÇA DA PRESSÃO ARTERIAL NOS ESTUDOS INCLUÍDOS NA METANÁLISE DE CORNELISSEN E FAGARD7. População Intensidade % de 1RM Duração semanal Freqüência semanal Harris e Holly 1987 HT Circuito 40% 9 3 PAS = +0,9 (-8,7 a 10,5) PAD = -2,5 (-10,0 a 5,0) Cononie et al. 1991 HT Dinâmico 72%–79% 26 3 PAS = -3,0 (-16,2 a 10,2) PAD = 0,0 (-14,7 a 14,7) Blumenthal et al. 1991 HT Não relata 16 2 PAS = +2,0 (-4,1 a 8,1) PAD = -1,0 (-4,4 a 2,4) Cononie et al. 1991 NT Dinâmico 72%–79% 26 3 PAS = -3,0 (-11,9 a 5,9) PAD = -4,0 (-12,5 a 4,5) Katz e Wilson 1992 NT Circuito 30% 6 3 PAS = -7,1 (-15,7 a 1,5) PAD = -5,1 (-10,9 a 0,7) Wiley et al. 1992 NT Estático 30% 8 3 PAS = -15,3 (-22,5 a -8,1) PAD = -16,5 (-24,6 a -8,4) Van Hoof et al. 1996 NT Dinâmico 70%–90% 22 2 PAS = 0,0 (-10,6 a 10,6) PAD = -3,0 (-14,1 a 8,1) Tsutsumi et al. 1997 NT Dinâmico 55%–65% 12 3 PAS = -16,8 (-28,4 a -5,2) PAD = -8,7 (-16,1 a -1,3) Resultado da PA (mmHg) (95% dos limites de confiança) ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Autor Dinâmico 75%–85% PAS = -9,5 (+22,4 a 3,4) PAD = -6,3 (-14,1 a 1,5) Wood et al. 2001 NT Dinâmico 72%–79% 12 3 PAS = -1,2 (-24,2 a 21,8) PAD = -4,5 (-15,8 a 6,8) Vincent et al. 2003 NT Dinâmico 50% 24 3 PAS = +2,0 (-9,3 a 13,3) PAD = +1,4 (-4,8 a 7,6) Dinâmico 80% PAS = -2,3 (-11,2 a 6,6) PAD = -4,0 (-10,6 a 2,6) Efeitos da metanálise Ponderada pelo n PAS=- 3.2 (-7,1 a +0,7) p = 0,10 PAD=- 3,5 (-6,1 a -0,9) p < 0,01 Ponderada por 1/σ2 PAS=-6,0 (-10,4 a -1,6) p < 0,01 PAD=-4,7 (-8,1 a -1,4) p < 0,01 HT – hipertensos; NT – normotensos; PA – pressão arterial; PAS – pressão arterial sistólica; PAD – pressão arterial diastólica TABELA 2 EFEITO DO TREINAMENTO RESISTIDO NA PRESSÃO ARTERIAL SISTÓLICA (PAS) E PRESSÃO ARTERIAL DIASTÓLICA (PAD) DE INDIVÍDUOS HIPERTENSOS7. 106 Autor PAS PAD Blumenthal et al., 1991 Sem diferença significativa Sem diferença significativa Cononie et al., 1991 Sem diferença significativa Sem diferença significativa Harris e Holly, 1987 Sem diferença significativa Diminuição de 4 mmHg Van Hoof et al., 1996 Sem diferença significativa Sem diferença significativa Hipertensão 2006; 9(3): 104–112 07 - MAPA Exercicio e Hipertensão.pm6 106 18/05/07, 11:42 TABELA 3 RESPOSTA MÁXIMA DA PRESSÃO ARTERIAL SISTÓLICA (PAS) E PRESSÃO ARTERIAL DIASTÓLICA (PAD) NOS ESTUDOS QUE MEDIRAM A PRESSÃO ARTERIAL DURANTE O EXERCÍCIO RESISTIDO. MODIFICADO DE FORJAZ ET AL.15 Autor Casuística Exercício Medida da pressão arterial Resposta máxima (mmHg) Harris & Holly, 1987 Hipertensos 40% de 1RM Auscultatória PAS: 155 ± 12 Jovens, Idosos 10RM, 10RM–2 kg 10RM–4,5kg Auscultatória PAS: 165 ± 5 Lamotte et al., 2005 Cardiopatas 40% e 70% de 1RM Plestimográfica PAS: 213 ± 25 Fleck & Dean, 1987 Atletas Novatos, Controles 50%, 70%, 80% e 90% de 1RM Intra-arterial PAS: 190 Haslam et al., 1988 Cardiopatas 20%, 40%, 60% e 80% de 1RM Intra-arterial PAS: 215 ± 7 MacDougall et al., 1985 Atletas 80%, 90%, 95% e 100% de 1RM Intra-arterial PAS: 320 MacDougall et al., 1992 Jovens Saudáveis, Atletas 50%, 70% e 87,5% de 1RM Intra-arterial PAS: 263 ± 8 McCartney et al., 1993 Saudáveis 60% e 80% de 1RM Intra-arterial PAS: 260 ± 9 Nery, 2005 Saudáveis Hipertensos 40%, 80% e 100% de 1RM Intra-arterial PAS: 231 ± 16 Oliver et al., 2001 Cardiopatas 50% de 1RM Intra-arterial PAS: 180 ± 14 Palatini et al., 1989 Hipertensos Normotensos 90% de 1RM Intra-arterial PAS: 345 Saudáveis 50%, 70%, 80%, 85% e 87,5% de 1RM Intra-arterial PAS: 360 Wiecek et al., 1990 Cardiopatas 40% e 60% de 1RM Intra-arterial PAS: 249 ± 16 Lentini et al., 1993 Atletas 95% de 1RM Intra-arterial PAS: 270 ± 21 Wescott & Howes, 1983 Sale et al., 1994 variam muito, como se observa na tabela 3. Vários fatores podem explicar essa grande variação de resultados, sendo os principais a intensidade do exercício, o número de repetições, atingir ou não a fadiga concêntrica e, principalmente, a técnica da medida de pressão arterial. Em relação à intensidade, alguns autores16 têm demonstrado que, para o mesmo número de repetições, quanto maior for a intensidade, maior é o aumento da pressão arterial. Da mesma forma, ao longo de uma série de exercícios, mesmo que a intensidade seja mantida, à medida que as repetições vão sendo realizadas, a pressão arterial vai se elevando, e os maiores picos de pressão arterial são atingidos próximo à fadiga concêntrica17,18. Assim, se exercícios de diferentes intensidades forem realizados até a fadiga concêntrica, valores máximos semelhantes de pressão arterial serão atingidos18. Em relação à forma da medida da pressão arterial, Wiecek et al.17 demonstraram que a medida indireta auscultatória da pressão arterial, realizada imediatamente após a finalização do exercício resistido, subestima em mais de 30% os valores reais obtidos durante o exercício e, mesmo quando a medida é realizada durante a execução do exercício em um membro passivo, os valores são subestimados em mais de 15%. Esses são resultados bastante relevantes do ponto de vista clínico, visto que alguns podem pensar que, para controlar o aumento da pressão arterial durante o exercício resistido, basta medir essa pressão e interromper o exercício caso ela aumente muito. Porém, os resultados anteriores demonstram que isso não pode ser feito, pois não existem métodos nãoinvasivos de medida da pressão arterial validados para esse exercício. Diante do exposto, os exercícios resistidos podem representar uma situação de risco para hipertensos, devido ao fato de promoverem grandes aumentos da pressão arterial. Esse risco pode ser minimizado com a realização de exercícios de baixa intensidade e interrompendo-se o exercício antes da fadiga concêntrica, ou seja, quando a velocidade do movimento começa a diminuir e nota-se, no executante, a tendência à realização da manobra de Valsalva. Porém, esse risco não pode ser evitado ou controlado, pois não é possível medir, com técnicas não-invasivas, a pressão arterial durante o exercício. Hipertensão 2006; 9(3): 104–112 07 - MAPA Exercicio e Hipertensão.pm6 107 18/05/07, 11:42 107 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ de treinamento aeróbio realizado em cicloergômetro, três vezes na semana, com intensidade entre 50% e 70% do consumo pico de oxigênio (VO2pico), promoveu queda da pressão arterial clínica em indivíduos normotensos, hipertensos do avental Em relação aos exercícios aeróbios, eles são os classicabranco e hipertensos sustentados (figura 1, painéis A e B). mente recomendados quando o objetivo é obter benefícios Embora a redução da pressão arterial clínica pelo treinacardiovasculares e, em especial, redução da pressão arterial. Vámento físico aeróbio já esteja bem demonstrada, o efeito desrios estudos observaram diminuição da pressão arterial após o se treinamento sobre a pressão arterial de 24 horas, avaliada treinamento aeróbio em pacientes hipertensos. A metanálise pela monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA), mais recente sobre esse assunto19 observou quedas médias de ainda não está totalmente determinado. Alguns autores21–24 3,0 e 2,4 mmHg para as pressões arteriais sistólica e diastólica, verificaram redução da pressão arterial de 24 horas, enquanto respectivamente, após o treinamento aeróbio. Cabe ressaltar outros10,25–27 não observaram nenhuma influência. Em nosso que a redução foi maior nos hipertensos (-6,9 e -4,9 mmHg) do estudo20, não observamos modificação da pressão de 24 horas que nos normotensos (-1,9 e -1,6 mmHg). De fato, num estudo (figura 1, painéis C e D), porém o tempo de duração do treinaanterior de nosso laboratório20 verificamos que quatro meses mento pode ter sido um fator importante, visto que Seals & Reiling23 não observaram queda da pressão arterial de 24 horas após FIGURA seis meses de treinamento físico, mas verificaram queda após um ano. Assim, é possível que seja necessário um período maior de treinamento físico para que se observe efeito hipotensor na pressão arterial de 24 horas. É importante ressaltar também que o treinamento aeróbio reduz ainda a pressão arterial durante o próprio exercício. Assim, a pressão arterial medida durante um exercício de mesma intensidade absoluta é menor após um período de treinamento aeróbio28 (figura 2). Além disso, nos hipertensos, a pressão arterial medida na mesma intensidade relativa de esforço também é menor após o treinamento. Outro aspecto relevante diz respeito ao uso de tratamento antihipertensivo. Neste sentido, Cade et al.29 demonstraram que o treinamento físico pode resultar na diminuição ou mesmo na suspensão dos medicamentos. Apesar dos resultados na literatura convergirem no sentido de que o treinamento físico reduz a pressão arterial, cabe ressaltar que aproximadamente 25% dos pacientes não apresentam essa resposta com o treinamento aeróbio. Alguns autores30 sugerem que a resposta diferenciada é influenciada por características genéticas, e polimorfismos ligados ao sistema reEfeito de quatro meses de treinamento físico aeróbio sobre a pressão arterial sistólica (painéis A e C) e diastólica (painéis B e D), clínicas (painéis A e B) e de 24 horas (painéis C e D) de indivíduos hipertensos sustentados (HT), nina-angiotensina parecem exercer hipertensos do avental branco (AB) e normotensos (NT) treinados (barras escuras) e sedentários (barras claras). um papel importante. Efeito crônico do treinamento aeróbio sobre a pressão arterial 1 108 Hipertensão 2006; 9(3): 104–112 07 - MAPA Exercicio e Hipertensão.pm6 108 18/05/07, 11:42 minações genéticas individuais que estabelecem a responsividade ao treinamento aeróbio. Todas essas considerações justificam a recomendação do treinamento aeróbio como parte do tratamento não-medicamentoso para os hipertensos. FIGURA 2 Efeito agudo dos exercícios aeróbios na pressão arterial Tendo em vista que os exercícios aeróbios trazem benefícios comprovados ao hipertenso, é importante estabelecer os riscos envolvidos em sua execução. A função cardiovascular é intensificada durante a execução do exercício aeróbio, com o intuito de manter o aporte sangüíneo necessáPressão arterial sistólica (PAS – linhas com triângulos) e diastólica (PAD – linhas com círculos) medidas rio para o músculo em atividade. Assim, a fredurante um exercício progressivo até a exaustão em cicloergômetro em um indivíduo hipertenso, antes (linhas pontilhadas) e após (linhas cheias) quatro meses de treinamento físico aeróbio. qüência cardíaca, o volume sistólico e, conseqüentemente, o débito cardíaco aumentam durante sua realização, mas ocorre concomitantemente diminuiAlém das características da população, as características ção da resistência vascular periférica. Esses ajustes resultam do treinamento também podem influenciar maximizando a no aumento da pressão arterial sistólica e na manutenção ou queda da pressão arterial, porém a influência desses fatores mesmo redução da diastólica33 (figura 3). ainda precisa ser mais bem estudada. Estudos isolados sugeDessa forma, para se avaliar o risco dessa execução é rem que programas de treinamento com intensidade menos importante medir a pressão arterial durante o exercício. No vigorosa31 e com maior volume32 têm maior efeito hipotensor, entanto, algumas considerações técnicas precisam ser discutiporém as metanálises que tentaram analisar essas influências das. A medida da pressão arterial durante o exercício aeróbio não chegaram a resultados conclusivos2,19. Apesar da controtem sido utilizada em avaliações clínicas e científicas34. Povérsia, é sabido que o programa proposto pelas V Diretrizes 3 rém, todos os métodos empregados para essa medida apresenBrasileiras de Hipertensão Arterial , que recomendam que o tam limitações e erros consideráveis. De fato, nesta situação, treinamento físico aeróbio seja conduzido de três a cinco veaté mesmo o método direto intra-arterial pode apresentar lizes na semana, com baixa a moderada intensidade (50% a 70% mitações; por exemplo, o valor da pressão arterial sistólica do VO2pico) e longa duração (30 a 60 minutos) traz efeitos obtido com esse método pode ser superestimado quando o lorelevantes. cal da medição é movido distalmente35, o que é mais provável Em resumo, o treinamento físico aeróbio reduz a pressão de ocorrer durante o exercício. Dessa forma, a medida indirearterial de repouso, ambulatorial e de exercício de indivíduos ta manual pelo método auscultatório é considerada a mais aprohipertensos. Entretanto, as características do treinamento físipriada para estimar os valores da pressão arterial durante o co que trazem melhores resultados ainda precisam ser mais exercício, apesar de também apresentar algumas limitações35,36. bem investigadas. Além disso, parece claro que existem deter- FIGURA 3 B A Pressão arterial sistólica (PAS, painel A) e diastólica (PAD, painel B) medidas aos 15, 30 e 45 minutos de exercício aeróbio realizado no cicloergômetro em 50% do VO2máx em um indivíduo hipertenso. Hipertensão 2006; 9(3): 104–112 07 - MAPA Exercicio e Hipertensão.pm6 109 18/05/07, 11:42 109 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ De fato, com esse método, a medida da pressão arterial sistólica é considerada válida. Porém, os valores diastólicos apresentam grande variabilidade, sendo aceitos do ponto de vista clínico, mas não científico. Diversos fatores inerentes ao exercício aeróbio podem influenciar as respostas da pressão arterial durante sua execução, tais como a intensidade e a duração do exercício. Dessa forma, quanto maior for a intensidade, maior será a necessidade de aporte sangüíneo para a musculatura exercitada e, portanto, maior o aumento do débito cardíaco e, conseqüentemente, da pressão arterial sistólica37,38 (figura 2). Esse aumento na intensidade do exercício também é acompanhado por um aumento da vasodilatação periférica, de maneira que a pressão arterial diastólica não se modifica ou diminui ainda mais37 (figura 2). Por outro lado, a duração do exercício não altera as respostas das pressões arteriais nem sistólica e nem diastólica durante o exercício, ou seja, elas se mantêm ao longo de toda a execução39 (figura 3). Em vista do exposto, é possível concluir que o exercício aeróbio também promove aumento da pressão arterial durante sua execução. Porém, esse aumento ocorre exclusivamente na pressão arterial sistólica e pode ser controlado pelo ajuste da intensidade de exercício e pela medida da pressão arterial durante o exercício com a técnica auscultatória. Resposta excessiva da pressão arterial ao exercício A medida da pressão arterial durante o exercício aeróbio possui outras aplicações clínicas relevantes, além de avaliar a segurança do exercício para o hipertenso. Nesse sentido, destaca-se a resposta hiper-reativa ao exercício. Como a hipertensão arterial é um importante fator de risco para a morbidade e mortalidade cardiovasculares40, é de extrema importância identificar as pessoas com maior probabilidade de desenvolver hipertensão3. Nesse sentido, acreditase que o quadro clínico da hipertensão seja precedido por um estado pré-hipertensivo, caracterizado por anormalidades da reatividade cardiovascular a estímulos ambientais e comportamentais, como o exercício aeróbio41. Assim, a avaliação da resposta da pressão arterial durante um exercício dinâmico progressivo (teste de esforço) parece ter um importante papel no prognóstico das pessoas. Um número crescente de trabalhos demonstra que o aumento exacerbado da pressão arterial no exercício está relacionado a um risco elevado de desenvolver hipertensão arterial no futuro42. Singh et al.43, estudando a população de Framingham, avaliaram mais de 2.000 indivíduos com seguimento de oito anos e demonstraram uma correlação positiva entre o aumento da pressão arterial diastólica no exercício aeróbio e a incidência futura de hipertensão. De modo geral, acredita-se que indivíduos com resposta hiper-reativa ao esforço apresentam probabilidade futura de desenvolver hipertensão quatro a cinco vezes maior do que aqueles com curva normal de pressão arterial44,45. De fato, a elevação acentuada da pressão arterial ao esforço se associa a uma série de outros marcadores de risco 110 para hipertensão, como história familiar de hipertensão, menor capacidade vasodilatadora muscular46, disfunção endotelial47, maiores níveis de pressão arterial na MAPA, maior ativação simpática, anormalidades ecocardiográficas48, maior incidência de doença aterosclerótica da carótida49 e alterações características da síndrome metabólica50. Nos pacientes hipertensos, o aumento exacerbado da pressão arterial durante o esforço está relacionado a pior evolução clínica, com evidências de lesão em órgãos-alvo51,52 e maior incidência de complicações cardiovasculares, incluindo maior mortalidade51,53. Assim, também nos hipertensos a presença de resposta hipertensiva ao esforço identifica um grupo de pacientes no qual o controle dos níveis de pressão arterial precisa ser mais bem ajustado, evitando as complicações que podem surgir se as medidas adequadas não forem adotadas. Diante das evidências descritas anteriormente, a Sociedade Brasileira de Cardiologia44,45 recomenda a realização de teste de esforço para a identificação precoce de hipertensos em populações com fatores de risco, bem como para a triagem de risco em hipertensos. Os testes devem ser limitados por sintomas, com protocolos convencionais, sendo recomendada a interrupção do teste se a pressão arterial sistólica ultrapassar 260 mmHg ou a diastólica subir além dos 120 mmHg em normotensos ou 140 mmHg em hipertensos. A resposta hiperreativa é considerada presente quando os valores da pressão sistólica ultrapassam 220 mmHg e/ou os valores da pressão arterial diastólica aumentam 15 mmHg ou mais. É interessante observar que a elevação paradoxal da pressão arterial no período pós-esforço, embora esteja classicamente relacionada à doença isquêmica coronariana, também se mostra um fator preditor de hipertensão arterial54. Dessa forma, a medida da resposta da pressão arterial durante o esforço tem uma importância clínica em normotensos, principalmente em termos prognósticos. Em hipertensos, essa medida adquire outras funções, evidenciando possíveis complicações clínicas, auxiliando no controle da resposta à terapêutica instituída e avaliando a necessidade de monitoração da pressão durante o treinamento. Conclusões Diante das considerações apresentadas, torna-se claro que o exercício físico é capaz de prevenir e auxiliar no tratamento da hipertensão arterial. Os exercícios aeróbios apresentam, cronicamente, comprovado efeito hipotensor e têm riscos de picos de pressão arterial durante sua execução, mas que podem ser facilmente controlados, limitando-se a intensidade do exercício e medindo-se a pressão arterial com a técnica auscultatória durante a execução. Por outro lado, o treinamento resistido não apresenta efeito hipotensor comprovado, embora contribua de forma expressiva para o aprimoramento osteomuscular. Além disso, esse tipo de exercício apresenta um risco importante durante sua execução em hipertensos, visto que ele eleva sobremaneira os níveis da pressão arterial, o que pode ser minimizado pela execução de exercícios de baixa intensidade que não se prolonguem até a fadiga concêntrica. Mas esse tipo de exercício não pode ser con- Hipertensão 2006; 9(3): 104–112 07 - MAPA Exercicio e Hipertensão.pm6 110 18/05/07, 11:42 trolado, pois a medida da pressão arterial durante sua execução não é válida. Além das observações acima, a medida da pressão arterial durante o exercício aeróbio progressivo permite a identificação de normotensos hiper-reativos, que possuem maiores chances de se tornarem hipertensos no futuro e hipertensos com resposta hiper-reativa, que têm maiores chances de apresentar complicações associadas à hipertensão. Nesses indivíduos, a necessidade de controle da pressão arterial durante as sessões de treinamento é maior e espera-se que a resposta hiper-reativa seja minimizada com o treinamento aeróbio. Dessa forma, para indivíduos hipertensos, o treinamento aeróbio é o de escolha para ajudar a controlar a pressão arterial, devido a seus benefícios e pequenos riscos. Porém, considerando-se a necessidade de melhora global do organismo, este treinamento deve ser complementado pelo treinamento resistido, que deve ser executado com precauções para que a pressão arterial não se eleve muito durante o exercício. Esses cuidados são especialmente importantes nos hipertensos com resposta hiper-reativa ao exercício, nos quais os riscos são aumentados. Referências bibliográficas 1. FAGARD, R. H. Physical activity, physical fitness and the incidence of hypertension. J. Hypertens., v. 23, p. 265–267, 2005. 2. PESCATELLO, L. S.; FRANKLIN, B. A.; FAGARD, R.; FARQUHAR, W. B.; KELLEY, G. A.; RAY, C. A. 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Apesar do controle glicêmico adequado e da relevância clínica indiscutível de eventos microvasculares, incluindo neuropatias, repercussões oculares (cegueira etc.), incidência de afecções vasculares periféricas (muitas vezes com necessidade de amputações), entre outros, tornou-se evidente que, em termos de mortalidade, as implicações macrovasculares do diabetes, sobretudo do tipo 2, são mais preocupantes e têm merecido atenção particular dos organismos médicos internacionais. Um exemplo dessa tendência foram as muitas apresentações dedicadas ao tema da 66a Sessão Científica Anual da Associação Americana de Diabetes, realizada em Washington DC, EUA, em junho de 2006. Como ficou bem claro, a partir da sessão inaugural, havia até mesmo um certo alarme com a expansão do diabetes em praticamente todos os países, estimando-se que o número de diabéticos deverá duplicar nos próximos 25 anos, tanto nas nações mais desenvolvidas como em regiões em desenvolvimento, a exemplo do Brasil. Dentro desse enfoque, os fatores de risco cardiovascular ganharam projeção ainda maior, uma vez que, em sua quase totalidade, são de fácil identificação e podem ser prevenidos com mudanças básicas de hábitos de vida e o uso apropriado de agentes farmacológicos indicados em cada caso. A prevenção e tratamento da hipertensão arterial, por exemplo, foi reavaliada em palestras específicas e também em trabalhos de pesquisa discutidos nas sessões de temas livres. Reunindo a associação de hipertensão, diabetes, dislipidemia e sobrepeso/obesidade, a síndrome metabólica foi outro tópico de grande destaque, já que sua simples presença pode aumentar substancialmente o risco de eventos cardiovasculares, exigindo, portanto, medidas terapêuticas mais agressivas e concomitantes contra todos os fatores incidentes individualmente em cada paciente. Aprofundando a abordagem de aspectos de maior interesse no estudo da hipertensão, do diabetes e de fatores correlatos, a 66a edição da ADA – Associação Americana de Diabetes incluiu a análise de pesquisas clínicas e/ou experimentais, como as que serão focalizadas a seguir. Hipertensão 2006; 9(3): 113–115 08 - Hipertensão e Diabetes.pm6 113 18/05/07, 11:42 113 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Níveis séricos de moléculas-1 de adesão intercelular solúveis, endotelina-1 e adipocitoquinas em pacientes com diabetes do tipo 2 com hipertensão ○ ○ ○ Serum levels of soluble intercellular adhesion molecule-1 endothelin-1 and adipocytokines in type 2 diabetes patients with hypertension ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Kenro Imaeda, Naotsuka Okayama, Mashiro Okouchi et al. Nagoia, Aichi, Japan (TL 2127-PO) Racional – Tanto o diabetes do tipo 2 como a hipertensão arterial são reconhecidos como fatores de risco para doenças cardiovasculares ateroscleróticas. Em recente pesquisa realizada em nosso serviço, foi demonstrado que níveis elevados de glicose ou de insulina aumentam a expressão de moléculas-1 de adesão intercelular (ICAM-1) em células endoteliais de veia umbilical, em humanos. A endotelina-1 (ET-1) e as adipocitoquinas são também associadas ao mecanismo etiopatogênico da aterosclerose. Assim, o objetivo do presente estudo foi investigar os níveis séricos de ICAM-1, ET-1 e adipocitoquinas em pacientes com diabetes do tipo 2 com hipertensão (DM2–HA), e então comparar com os valores obtidos em indivíduos sadios. Métodos – Os níveis séricos de ICAM-1, ET-1, adiponectina de alto peso molecular, leptina, ácidos graxos livres e TNF-A foram determinados em dez pacientes com DM2 e hipertensão. Dados básicos de interesse: • faixa etária: 61 anos ± 4; • IMC: 23,6 ± 1; • HbA1c: 7,4 ± 0,3%. Resultados – Os níveis plasmáticos de ICAM-1 mostraram-se significativamente mais elevados nos pacientes diabéticos/hipertensos do que nos indivíduos saudáveis. Entretanto, os valores de ET-1, adiponectina de baixo peso molecular, ácidos graxos livres, leptinas e TNF-A não se revelaram diferentes em ambos os grupos (tabela 1). Foi também relevante observar que os níveis plasmáticos de adiponectina de baixo peso molecular correlacionaram-se negativamente com a glicemia de jejum nos pacientes diabéticos (p < 0,05), mas não no grupo de indivíduos sadios. Além disso, a adiponectina de baixo peso molecular também se correlacionou negativamente com a pressão arterial sistólica (p < 0,05) e com a PA diastólica (p < 0,01) em indivíduos sadios, mas não nos diabéticos/hipertensos. Conclusões – A doença cardiovascular aterosclerótica em pacientes com diabetes do tipo 2 e hipertensão está intimamente associada com a elevação dos níveis de ICAM-1. Por outro lado, o nível da pressão arterial mostra-se igualmente importante para a modulação da adiponectina de baixo peso molecular e da glicemia de jejum. O grupo controle foi representado por 14 indivíduos sadios: • faixa etária: 38 anos ± 2; • IMC: 22,5 ± 0,9; • HbA1c: 4,7 ± 0,1%. TABELA 1 Hipertensos com DM2 (n = 10) Indivíduos sadios (n = 14) ICAM-1 solúvel (ng/mL) 223 ± 14* 170 ± 14 Endotelina-1 (pg/mL) 1,95 ± 0,15 1,81 ± 0,04 Adiponectina de baixo peso molecular (mg/mL) 7,3 ± 1,5 5,2 ± 0,5 Leptina (ng/mL) 8,0 ± 2,1 8,8 ± 1,9 Ácidos graxos livres (mEq/L) 359 ± 84 410 ± 49 TNF-A (pg/mL) 1,6 ± 0,3 1,3 ± 0,1 * p < 0,05 vs. indivíduos sadios 66a Sessão Científica Anual da Sociedade Americana de Diabetes. Abstract 2127-PO 114 Hipertensão 2006; 9(3): 113–115 08 - Hipertensão e Diabetes.pm6 114 18/05/07, 11:42 Alta prevalência de aldosteronismo primário em pacientes diabéticos com hipertensão resistente High prevalence of primary aldosteronism in diabetic patients with resistant hypertension Guillermo E. Umpierrez, Dawn Smiley, Paul Cantey e Diana Temponi Atlanta, Geórgia, EUA (TL 982-P) Resultados – Na Grady Diabetes Clinic, de Atlanta, GA, EUA, 45% dos pacientes hipertensos são em geral, tratados com mais de três agentes anti-hipertensivos. Entretanto, apesar desta terapia multifarmacológica, cerca de um /terço dos indivíduos tratados não alcançam os valores pressóricos recomendados pela Associação Americana de Diabetes (< 130 x 80 mmHg). Constatou-se também que o Aldosteronismo Primário é uma causa comum de Hipertensão Resistente (PA ≥ 140 x 90 mmHg, apesar do uso concomitante de três drogas anti-hipertensiva). Entretanto, a prevalência de Hipertensão Essencial por diabéticos não era ainda bem estabelecida por estudos específicos bem conduzidos. Dentro dessa linha de raciocínio, nossa equipe analisou os níveis de aldosterona plasmática matinal (APM), a atividade da renina plasmática (ARP) e a relação entre tais níveis. Da população estudada, 25 pacientes (44%) apresentaram dados positivos, 49 pacientes (61%) evoluíram com supressão da atividade da renina plasmática (< 1 mg/mL/ H) e 10 pacientes (12,5%) confirmaram a prevalência de Hipertensão. Conclusão – O Aldosteronismo Primário é efetivamente comum em diabéticos do tipo 2 com hipertensão resistente (12,5% dos casos). Os resultados obtidos no presente estudo indicam que pacientes diabéticos com hipertensão mal controlada, apesar do uso de pelo menos três fármacos anti-hipertensivos, devem ser pesquisados em busca de possível aldosteronismo primário. Tabela 1. TABELA 1 Os valores com dados positivos (APM ≥12 mg/dL e relação APM/ARP ≥ 30) foram submetidos a testes confirmatórios com sobrecarga de sal (três dias de ingestão oral de sal, na dose de 2 g três vezes/dia ou infusão endovenosa de solução salina normal 0,9% da solução na velocidade de 500 ml/hora x 4 horas). Os critérios para avaliação da PA incluíram níveis de aldosterona na urina de 24 horas ≥ 12 mg/dl durante o terceiro dia de sobrecarga com sal ou APM ≥ 8,0 mg/dL após a infusão endovenosa de solução salina. Variáveis sem aldosteronismo primário com aldosteronismo primário 70 (87,5) 10 (12,5) Sexo (% feminino) 84 50 Raça (% negros) 34,9 31,8 PAS (mmHg) 142 148 PAD (mmHg) 91,1 90,3 Medicamentos 3,7 3,9 HbA1c 6,7 7,2 Potássio sérico (mEq/L) 4,1 3,6 Microalbuminúria (mg) 22,2 188 Aldosterona plasmática (ng/dL) 9,7 18,8 Atividade renina-plasmática (ng/mL) 7,1 0,2 APM/ARP 26,8 108,2 ARP suprimida (< 1 ng/ml/hr) 39 (55%) 10 (100%) Relação APM/ARP > 30 25 (26%) 10 (100%) Pacientes (%) 66a Sessão Científica Anual da Sociedade Americana de Diabetes. Abstract 982-P Hipertensão 2006; 9(3): 113–115 08 - Hipertensão e Diabetes.pm6 115 18/05/07, 11:42 115 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A Revista Hipertensão é uma publicação trimestral da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) catalogada na base de dados BIREME-LILACS. Ao submeter o manuscrito, os autores respondem pelo fato de o trabalho não ter sido publicado ou analisado por outras revistas. O texto dos artigos solicitados pelos editores ou os encaminhados de forma espontânea deve ser inédito e passará a ser propriedade da SBH não podendo ser reproduzido sem o consentimento prévio da mesma. Os artigos devem ser enviados para [email protected]. Serão encaminhados para publicação os artigos que estejam rigorosamente de acordo com as normas especificadas a seguir. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ NORMAS NORMASPARA PARAPUBLICAÇÃO PUBLICAÇÃO Formatação dos artigos Os artigos devem ser digitados no Word, com configuração de tamanho do papel A4, fonte arial, corpo 12, entrelinhamento simples. As colunas deverão ter 15 cm de largura, respeitando margem de 3 cm à direita e à esquerda e margem superior e inferior de 2,5 cm. Para orientar o autor quanto ao tamanho do texto diagramado, é importante lembrar que, seguidas as orientações acima, duas páginas completas de texto em word correspondem a um página completa de texto da Revista diagramada (cerca de 5.700 caracteres – incluindo os espaços) Estrutura dos artigos Os artigos devem ser enviados da seguinte forma: Na primeira página Devem constar o título completo do artigo (em português e inglês) e nome completo dos autores e suas afiliações institucionais, além do nome da(s) instituição(ões) que financia os projetos de pesquisa do(s) autor(es). Na segunda página Devem constar o resumo em português (com cerca de 980 caracteres – contando os espaços) e palavras-chave. Na terceira página Devem constar o abstract em inglês (com cerca de 980 caracteres – contando os espaços) e key words. A partir da quarta página O autor deve redigir o artigo respeitando a quantidade de páginas solicitadas pelo editor, indicando as referências bibliográficas numericamente e formatadas sobrescritas. Caso forem citadas mais de duas referências em seqüência, apenas a primeira e a última devem ser digitadas, sendo separadas por um traço (Ex.: 7–10). Caso haja digitação alternada, todas as referências devem ser digitadas, separadas por vírgula (Ex.: 15,19,23,27). Tabelas Devem ser apresentadas em páginas separadas (uma tabela por página) configuradas em espaço duplo e tabuladas de forma clara, evitando dúvidas para a diagramação. Figuras e Imagens Devem ter boa resolução para serem reproduzidas (recomendase resolução mínima de 300 DPI e enviadas em arquivos com extensão JPEG) e apresentadas em páginas separadas (uma por página). 116 Referências bibliográficas Devem seguir as normas da ABNT, conforme explicado a seguir: As referências devem ser organizadas em ordem alfabética (sistema autor-data) ou com numeração seqüencial (sistema numérico), na ordem em que a citação aparece no texto. Devem ser digitadas em espaço simples e separadas entre si por espaço duplo. As citações de autores, no texto, devem ser indicadas em letras maiúsculas e minúsculas e, quando estiverem entre parênteses, devem ser em letras maiúsculas (ver na seção 3.7 das Diretrizes). Livro HUTCHINSON, J. Biological determinants of sexual behavior. Toronto: Toronto University Press, 1974. Capítulo de Livro DAVIDSON, J. M. The psychobiology of sexual experiense. In: DAVIDSON, J. M.; DAVIDSON, R. J. (Ed). The psychobiology of consciousness. New York: Plenum Press, 1980. p. 271–332. Obs: Mais de três autores: citar o primeiro, seguido da expressão et al. (e outros) ou citar todos os autores. Ex.: AGMO, A et al. Revista (Artigos de Periódicos) AGMO, A. Cholinergic mechanisms and sexual behavior in male rabbits. Psychopharmacology, v.1, p.43–45, 1976. AGMO, A.; PAREDES, R.; FERNÁNDEZ, H. Differential effects of GABA transaminase inhibitors on sexual behavior, locomotor activity, and motor execution in the male rat. Pharmacol. Biochem. Behav., v.28, n. 5, p.47-52, 1987. In press ou no Prelo TIAN, D; ARAKI, H; STAHL, E; BERGELSON, J; KREITMAN, M. Signature of balancing selections in Arabidopsis. Proc. Natl. Acad. Sci. USA, 2002. In press. Obs: 1) Abreviar título de revista com mais de uma palavra e colocar ponto nas abreviações. Ex. Pharmacol. Biochem. Behav. 2) Não abreviar título de uma palavra. Ex.. Psychopharmacology 3) Colocar um espaço após a pontuação dos elementos da referência. Dissertação (Mestrado) / Tese (Doutorado) GOULART, F. C. Efeitos da administração pré-natal de uma antagonista GABA A: avaliação comportamental, bioquímica e morfológica da prole de ratos. 180 f. Dissertação (Mestrado em Farmacologia) – Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999. Nota: Usar Ph. D. Thesis para Tese estrangeira, e Mater Thesis para Dissertação de Mestrado. Evento Trabalho apresentado em evento TIMENETSKY, J. Rods and cocci adherence on mycoplasma colonies. In: GENERAL MEETING OF THE AMERICAN SOCIETY FOR MICROBIOLOGY, 97., 1997, Miami Beach. Abstracts… Washington: American Society for Microbiology, 1997. p.284, res. G-31. Trabalho de evento publicado em periódico AMARANTE, J. M. B. Marcadores sorológicos do vírus b da hepatite em pacientes com aids. Rev. Soc. Bras. Med., v. 20, p. 41, 1987. Suplemento. Apresentado no Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 23., 1987, Curitiba. Hipertensão 2006; 9(3): 116 09 - Normas para publicação.pm6 116 18/05/07, 11:43 AGENDA AGENDA 2006 n 03/08 a 05/08 n 02/09 a 06/09 Local: Estação Embratel Convention Center Curitiba, PR Presidente: Dr. Rogério Andrade Mulinari Tel.: (41) 3022-1247 – Fax: (11) 3342-1247 E-mail: [email protected] Home Page: www.sbh.org.br/sbh2006 Local: Fire Gran Via MS – Barcelona, Espanha Presidente: Dr. M. Tendera Tel.: 33 (0) 4 9294-7600 E-mail: [email protected] Home page: www.worldcardio2006.org XIV CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO Programação R esumida Resumida Conferências Magnas Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona: Estado da Arte. O Rim como Vilão na Hipertensão. Hipertensão e Obesidade: Enfrentando a Pandemia. Mesas R edondas Redondas Fisiopatologia da Hipertensão. Novos Conceitos ao Medir a Pressão Arterial. Genética e Terapia em Doenças Cardiovasculares. Hipertensão e o Ciclo da Vida: Gestação, Infância-Adolescência e Senescência. Hipertensão Arterial e Comorbidades. Disfunção Endotelial: Implicações Clínicas. Sistema Nervoso Símpático na Hipertensão. Rigidez Arterial: da Fisiopatologia à Terapêutica. 5a Diretriz de Hipertensão Arterial: Visão da SBH. Dúvidas e Polêmicas Freqüentes. Multiprofissionais Promovendo Saúde. Intervenções no Estilo de Vida. Dieta Melhora a Qualidade de Vida do Hipertenso. Atividade Física Melhora Qualidade de Vida do Hipertenso. Encontros com os Especialistas Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona e Síndrome Metabólica. Rim, Microalbuminúria e Hipertensão. Hipertensão e Obesidade. Agonista X Antagonista Tratar hipertensos muito idosos. Betabloqueadores são úteis no tratamento do hipertenso não complicado. Existe necessidade de novos fatores de risco. Casos Clínicos e o Estado da Arte Insuficiência Cardíaca Congestiva. Doença Arterial Coronariana. Acidente Vascular Cerebral. Hipertensão Refratária. Hipertensão Secundária. Emergência Hipertensivas. Cursos Estado Atual da Medida da Pressão Arterial. Assistência Global ao Hipertenso e a Promoção de Saúde. Informática em Saúde. CONGRESSO MUNDIAL DE CARDIOLOGIA 2006 n 29/09 a 1/10 II CURSO INTERDISCIPLINAR EM HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA E I ENCONTRO ESTADUAL DE LIGAS E ASSOCIAÇÕES DE HIPERTENSOS DO ESTADO DE SÃO PAULO Local: Ribeirão Preto, SP Presidente: Dr. Brasil Salim Melis Tel.: (16) 3610-0861 E-mail: [email protected] n 21/10 a 25/10 61O CONGRESSO BRASILEIRO DE CARDIOLOGIA E XX CONGRESSO SUL-AMERICANO DE CARDIOLOGIA Local: Centro de Convenções de Pernambuco Empetur – Recife, PE Presidente: Dr. Sergio Tavares Montenegro Tel.: (21) 2537-8488 Fax: (21) 2286-9239 E-mail: [email protected] n 10/11 e 11/11 III SIMPÓSIO NACIONAL DE HIPERTENSÃO ARTERIAL IV JORNADA GOIANA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL Local: Castro’s Hotel – Goiânia, GO Presidente: Dr. Weimar K. Sebba Barroso de Souza Tel.: (62) 3251-5576 E-mail: [email protected] Hipertensão 2006; 9(3): 117 10 - Agenda.pm6 117 18/05/07, 11:43 117