Vírus Zika

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NÚMERO:
001/2016
DATA:
15/01/2016
ATUALIZAÇÃO:
08/02/2016
Francisco
Henrique
Moura George
ASSUNTO:
Doença por vírus Zika
PALAVRAS-CHAVE:
Vírus Zika; Arboviroses; Aedes aegypti; Aedes albopictus
PARA:
Sistema Nacional de Saúde
CONTACTOS:
[email protected]
Digitally signed by Francisco
Henrique Moura George
DN: c=PT, o=Ministério da Saúde,
ou=Direcção-Geral da Saúde,
cn=Francisco Henrique Moura
George
Date: 2016.02.08 19:49:35 Z
Nos termos da alínea a) do nº 2 do artigo 2º do Decreto Regulamentar nº 14/2012, de 26 de
janeiro, emite-se a Orientação seguinte:
1.
Introdução
O vírus Zika é um vírus da família Flaviviridae que é essencialmente transmitido a seres humanos
pela picada de mosquitos infetados. Os principais vetores são espécies do género Aedes.
1
A doença adquiriu recentemente expressão epidémica, particularmente nos seguintes países :
Barbados, Bolívia, Brasil, Cabo Verde, Colômbia, Curaçao, Costa Rica, República Dominicana,
Equador, El Salvador, Fiji, Guiana Francesa, Guadalupe, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Ilhas
Maldivas, Jamaica, Martinica, México, Nova Caledónia, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Porto Rico,
Saint Martin, Suriname, Tailândia, Tonga, Venezuela e Ilhas Virgens (EUA). Foram também
reportados casos no Pacífico: American Samoa, Samoa, Fiji, Nova Caledónia (França), Ilhas
Salomão e Vanuatu.
A associação entre a infeção pelo vírus Zika durante a gravidez e casos de microcefalia em fetos e
recém-nascidos, tal como a ocorrência de alterações neurológicas estão sob investigação. Não
foi, ainda, estabelecido nexo de causalidade entre a infeção e a microcefalia e as alterações
neurológicas, existindo apenas uma relação espaço-temporal.
No dia 1 de fevereiro de 2016, a Organização Mundial da Saúde declarou que os casos de
microcefalia e a ocorrência de alterações neurológicas, pela sua gravidade e pela carga que
implicam para as famílias, constituem uma emergência de Saúde Pública de âmbito
internacional.
Em Portugal, foram confirmados pelo Instituto Ricardo Jorge 6 casos importados desta doença, 5
dos quais provenientes do Brasil e 1 da Colômbia. Todos, no plano clínico, os casos evoluíram
favoravelmente.
1
http://ecdc.europa.eu/en/healthtopics/zika_virus_infection/zika-outbreak/Pages/Zika-countries-with-transmission.aspx
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2.
Características clínicas
O período de incubação varia entre 3 a 12 dias após a picada do mosquito fêmea infetado.
Realça-se que a maioria das infeções é assintomática (cerca de 80%).
Os sintomas são semelhantes a outras infeções por arbovírus: febre, exantema que pode ser
maculopapular, conjuntivite, mialgias, artralgias, mal-estar e cefaleias, sintomas normalmente
2
ligeiros e que duram 2-7 dias .
3.
Transmissão
O mosquito Aedes aegypti é o principal vetor do vírus Zika. Outras espécies do género Aedes
podem ser vetores, em especial Aedes albopictus.
3,5
Foram também identificadas outras vias de transmissão , tais como:
a. Transmissão perinatal, provavelmente por via transplacentária ou durante o parto
quando a mãe está infetada;
b. Transmissão sexual devida à presença de vírus no sémen;
c.
4.
Transfusão de sangue e derivados.
Procedimentos perante uma pessoa com suspeita de infeção por vírus Zika
4.1.
a)
Mulher regressada de área afetada:
Em idade fértil:
i.
Se está grávida
3,4
E apresenta sintomas compatíveis com doença por Zika, recomenda-se:
o
Tratamento sintomático;
o
Diagnóstico laboratorial;
o
Realização de ecografia:
 se detetada microcefalia, calcificações intracranianas ou
outras
alterações
do
Sistema
Nervoso
Central:
fazer
amniocentese para pesquisa do RNA viral (ou do vírus Zika);
 sem alterações: repetir ecografia de 4 em 4 semanas.
2
3
4
http://www.who.int/mediacentre/factsheets/zika/pt/
http://www.cdc.gov/zika/transmission/index.html
https://www.rcog.org.uk/globalassets/documents/news/zika-virus-interim-guidelines.pdf
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E sem sintomas compatíveis com Zika, recomenda-se:
o
Realização de ecografia:
 se detetada microcefalia ou calcificações intracranianas ou
outras
alterações
do
Sistema
Nervoso
Central:
fazer
amniocentese para pesquisa do RNA viral (ou do vírus Zika);
 sem alterações: repetir ecografia de 4 em 4 semanas.
ii.
Se não está grávida, recomenda-se:
Realização de tratamento sintomático;
Evitar engravidar durante 28 dias.
b) Em idade não fértil é apenas recomendado o tratamento sintomático.
Se a mulher está grávida ou a planear engravidar, os cuidados descritos no Ponto 4.2 devem ser
observados no caso de o seu companheiro ter regressado de uma área afetada.
As decisões individuais relativamente à adoção de medidas não contempladas nesta Orientação
são da responsabilidade do médico que acompanha a gravidez e devem ser analisadas caso a
caso.
4.2.
5
Homem regressado de área afetada :
a) Se apresenta sintomas (suspeita de infeção por vírus Zika, com ou sem confirmação
laboratorial):
i.
Realizar tratamento sintomático;
ii.
Utilizar preservativo nas relações sexuais durante 6 meses, à luz do princípio da
precaução e segundo os conhecimentos atualizados.
b) Se não apresenta sintomas: utilizar preservativo nas relações sexuais durante 28 dias.
Estas medidas devem ser cumpridas à luz do princípio da precaução, em especial se a mulher
está grávida ou a planear engravidar.
5
6
6
https://www.gov.uk/guidance/zika-virus
Embora o risco de transmissão sexual seja considerado baixo são necessários mais estudos sobre a persistência viral
no sémen.
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5.
Diagnóstico laboratorial
Perante a suspeita de infeção por vírus Zika as amostras biológicas (sangue e urina) devem ser
enviadas para o Instituto Ricardo Jorge ou para laboratórios com capacidade instalada para o
diagnóstico.
O Instituto Ricardo Jorge faz o diagnóstico de doença por vírus Zika através da deteção de RNA
viral em amostras biológicas de doentes (na fase aguda) e da deteção de anticorpos IgM e IgG no
soro.
O período de virémia é curto (até 5 dias, em regra). Por isso, a deteção direta do vírus pode ser
realizada durante os primeiros 3-5 dias após o início dos sintomas no sangue e até 10 dias na
urina.
As amostras são para:

Pesquisa de anticorpos (mínimo 3 dias depois do início dos sintomas): soro ou plasma;

Deteção de RNA (até 5 dias depois do início dos sintomas): sangue colhido em EDTA; ou
até 10 dias depois do início dos sintomas: urina; líquido amniótico e tecidos fetais;

A deteção de anticorpos IgM específicos para o vírus Zika pode ser efetuada a partir do
terceiro dia após o aparecimento da febre.
Os resultados serológicos devem ser interpretados em articulação com os clínicos e de acordo
com a eventual exposição anterior do doente a outras infeções por flavivírus (por exemplo,
dengue) ou a vacinações contra flavivírus (febre-amarela, encefalite transmitida por carraças e
encefalite japonesa).
O diagnóstico diferencial, assim como a pesquisa de eventual coinfeção, devem ser feitos com
outras doenças transmitidas por mosquitos, tais como dengue e chikungunya. O paludismo,
apesar de ser transmitido por outro vetor e provocado por um plasmodium também deve ser
considerado no diagnóstico.
O período de resposta para as análises realizadas no Centro de Estudos de Vectores e Doenças
Infeciosas do Instituto Ricardo Jorge, em Águas de Moura, é de 3 dias úteis para o diagnóstico
serológico e 5 dias úteis para o diagnóstico molecular a contar da data da receção da amostra no
Centro de Águas de Moura do Instituto Ricardo Jorge.
As amostras devem ser acompanhadas do respetivo formulário (ver Anexo), transportadas em
meio refrigerado e enviadas de acordo com as normas de transporte de amostras para:
Instituto Ricardo Jorge
Av Padre Cruz, 1649-016 Lisboa
ou
Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas do Instituto Ricardo Jorge
Av. Liberdade 5, 2965-575 Águas de Moura
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6.
Tratamento e gestão de caso
O tratamento é sintomático, baseado principalmente no alívio da dor, na administração de
antipiréticos e de anti-histamínicos (erupções pruriginosas). Não existe atualmente nenhuma
7
vacina ou tratamento específico para a doença por vírus Zika .
Recomenda-se reforço hídrico para compensar eventual desidratação associada à febre.
O tratamento com ácido acetilsalicílico e anti-inflamatórios não-esteróides está desaconselhado
por um aumento do risco de síndrome hemorrágico, bem como risco de síndrome de Reye após
infeção viral em crianças e adolescentes.
Perante um doente com suspeita de doença por vírus Zika, o médico deve realizar a notificação
imediata no SINAVE (selecionar a doença Febres Hemorrágicas Virais e Febres por Arbovírus –
Febre Zika).
7.
Medidas preventivas
A principal medida de prevenção é a proteção contra a picada do mosquito.
A DGS tem no seu site informações para profissionais e cidadãos http://www.dgs.pt/paginas-desistema/saude-de-a-a-z/zika.aspx
Recomendam-se as seguintes medidas:
1. Antes do início da viagem os cidadãos devem procurar aconselhamento em Consulta do
8
Viajante ;
2. As grávidas não devem deslocar-se, neste momento, para zonas afetadas. Caso tal não
seja possível, devem procurar aconselhamento em Consulta do Viajante e seguir
rigorosamente as recomendações dadas;
3. As pessoas imunocomprometidas ou com doenças crónicas graves devem obter
aconselhamento junto do seu médico antes de planear uma viagem a uma área afetada;
4. Os cidadãos que se deslocam para áreas afetadas devem adotar medidas de proteção
sexual, nomeadamente o uso do preservativo;
5. No país de destino seguir as recomendações das autoridades locais;
6. Assegurar proteção contra a picada de mosquitos:
a) Utilizar vestuário adequado para diminuir a exposição corporal à picada (camisas de
manga comprida, calças);
b) Optar preferencialmente por alojamento com ar condicionado;
7 http://ecdc.europa.eu/en/healthtopics/zika_virus_infection/factsheet-healthprofessionals/Pages/factsheet_health_professionals.aspx
8
http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/informacoes+uteis/saude+em+viagem/consulta+de+saude+do+viajante.h
tm
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c)
Utilizar redes mosquiteiras;
d) Ter especial atenção aos períodos do dia em que os mosquitos do género Aedes
picam mais frequentemente (a meio da manhã e desde o entardecer ao por do sol).
e) Aplicar repelentes observando as instruções do fabricante, fazendo notar:
i.
Crianças e mulheres grávidas podem utilizar repelentes de insetos apenas
mediante aconselhamento de profissional de saúde;
ii.
Não são recomendados para recém-nascidos com idade inferior a 3 meses;
iii.
Se tiver de utilizar protetor solar e repelente, deverá aplicar primeiro o
protetor solar e depois o repelente.
Os viajantes provenientes de uma área afetada que apresentem, até 28 dias após a data de
regresso, sintomatologia sugestiva de infeção por vírus Zika, devem contactar a Saúde 24 (808 24
24 24), referindo a viagem recente.
8.
Microcefalia congénita
9
A microcefalia congénita é uma situação pouco comum cujas causas podem ser genéticas ou
ambientais (relacionadas com toxicidade, radiação ou infeção). Em Portugal, a microcefalia tem
uma prevalência estimada de 1 por 10 mil nascimentos, frequentemente/maioritariamente
10
devidos a alterações cromossómicas .
É uma condição definida por perímetro cefálico inferior a dois desvios padrão para a idade
gestacional no feto ou para a idade e o sexo no recém-nascido.
A avaliação fetal deve ser realizada por ecografia, com confirmação da idade gestacional, da
11
medição do perímetro cefálico e da observação detalhada das estruturas intracranianas . No
recém-nascido a avaliação é feita no momento do nascimento e após 24 horas.
No protocolo de investigação da microcefalia diagnosticada durante o período fetal, deve ser
incluída, entre as causas infeciosas, a pesquisa da infeção por Zika nas mulheres que viajaram de
zonas afetadas ou que tiveram relações sexuais com homens que viajaram de zonas afetadas.
Não é necessária esta investigação no caso de não existir história de viagem para áreas afetadas.
Na suspeita de infeção fetal a grávida deve ser referenciada para um centro de Diagnóstico Pré
Natal.
Francisco George
Diretor-Geral da Saúde
9
http://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=11552&Itemid=41672&lang=en
10
11
Dados do Registo Nacional de Anomalias Congénitas.
Para além da microcefalia e das calcificações intracranianas estão descritas outras malformações associadas com a
infecção a ZIKA: ventriculomegalia, lisencefalia, paquigiria, artrogripose secundárias ao envolvimento central ou periférico
do sistema nervoso.
Orientação nº 001/2016 de 15/01/2016 atualizada a 08/02/2016
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FOLHA DE INQUÉRITO
Hospital/Centro de saúde _________________________________________________________
Serviço ________________________________ Médico _________________________________
Contacto telefónico ______________________ E-mail __________________________________
Nome do doente _________________________________________________________________
Data de nascimento __/__/____ Profissão/ocupação _____________________________________
Dados clínicos __________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
Data do início dos sintomas __/__/____ Data da colheita das amostras para análise __/__/ ______
Terapêutica anterior à colheita ______________________________________________________
Picada por insectos ou carraças ______________________________________________________
Outras informações epidemiológicas _________________________________________________
Viagens recentes:
País/Região ____________________________________________ de __/__/____ a __/__/ _____
Vacinas recentes:
Febre Amarela
Encefalite Transmitida por Carraças
Encefalite Japonesa
em __/__/_____
Outras __________________________________________________________________________
Pedido de diagnóstico laboratorial para _______________________________________________
Testes requisitados:
Pesquisa de anticorpos IgG e IgM
Pesquisa de ácidos nucleicos (PCR, RT-PCR)
Amostras biológicas:
Soro
Plasma (mín. 1 ml)
Sangue total em EDTA (mín. 3 ml)
Urina (mín. 3 ml)
As amostras biológicas devem ser enviadas ao INSA acondicionadas e refrigeradas a 4ºC,
acompanhadas do respectivo termo de responsabilidade e folha de inquérito preenchida.
INSA-IM60_05
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