Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Um mapa conceitual sobre a evolução do conceito do átomo: uma introdução à Física de partículas elementares para o Ensino Médio Marcos Fernando Soares Alves Denise Alanis Luciano Gonsalves Costa Resumo Este trabalho apresenta uma proposta de introdução à física de partículas elementares para o ensino médio, em que o ponto de partida é a evolução do conceito do átomo. Para isso, como ferramenta didática, sugere-se a utilização de um mapa conceitual que aborda a evolução cronológica do átomo, suas partículas constituintes, forças fundamentais e partículas mediadoras. Tendo como fundamento para a sua elaboração e utilização a abordagem superficial do conceito de átomo no nível médio de ensino e a necessidade de atualização curricular da escola básica em que se defende a inserção de temas atuais da Física. Palavras-chave: Ensino de Física, Partículas Elementares. Abstract A conceptual map of the evolution of the concept of the atom: an introduction to the physics of elementary particles for high schools. This paper presents an introduction to the physics of elementary particles for high schools, which the starting point is the evolution of the concept of the atom. For that, as a teaching tool, it is suggested to use a conceptual map that covers the chronological evolution of the atom, its constituent particles, fundamental forces and mediator particles. Taking as a basis for its preparation and use the superficial approach of the concept of the atom for high school students and the need to update the curriculum in elementary school, that it is advocated the inclusion of current topics of physics. Keywords: Physics Education, Elementary Particles. II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 91 ISBN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Introdução Desde os tempos mais remotos, a partir dos gregos há mais de 2500 anos, o homem já buscava respostas sobre os componentes essenciais que formariam o Universo. Interrogação que, na atualidade, ainda permanece válida na busca das partículas elementares, os verdadeiros “tijolos básicos para a construção de toda a matéria” (MOREIRA, 2007, p. 6). Muitos séculos nos separam dos antigos gregos, mas, para que a natureza das coisas pudesse ser compreendida, a idéia de átomo sempre precisou ser relembrada e aprimorada ao longo da história (GREF, 1998, p. 54). O conceito de átomo, a princípio, como idéia filosófica, teve de evoluir para um pensamento científico a fim de que a estrutura atômica, já imaginada pelos gregos, pudesse ser explicada e entendida. O átomo primordial, como ente indivisível, foi primeiramente “quebrado” por J.J. Thomson, em 1898, ao descobrir o elétron. Em seguida, estruturado por Rutherford, em 1911, ao propor um núcleo carregado positivamente, composto por prótons, com elétrons que o orbitavam. Posteriormente, o modelo de Rutherford foi reformulado por Bohr, em 1913. E, em 1920 foi proposto que juntamente com os prótons existissem partículas neutras no interior do núcleo, tais partículas só foram descobertas em 1932. Atualmente, aceita-se que os prótons e nêutrons sejam formados por partículas verdadeiramente elementares classificadas como quarks, onde os prótons são constituídos por dois quarks up e um quark down, já os nêutrons por dois quarks down e um quark up. Apesar dos esforços de muitos para a “construção” do modelo atômico atual, nas escolas de Ensino Médio, geralmente, a abordagem do presente tópico, “evolução do conceito do átomo”, acontece de maneira insuficiente, sem a preocupação dos conceitos históricos e científicos envolvidos, feito simplesmente para dar continuidade ao rol de conteúdos. O currículo da escola básica tem uma defasagem grande em relação ao progresso da Ciência, principalmente em Física onde o conteúdo transmitido não chega ao século XX. Nesse sentido é evidente a preocupação dos pesquisadores em ensino de Física que apontam justificativas relevantes para a atualização curricular do Ensino Médio, defendendo a inserção de tópicos atuais da Física na grade curricular para que os alunos desse nível da educação possam ter acesso ao conhecimento contemporâneo da Ciência. Para Ostermann e Moreira (2000), a etapa de “levantamento de justificativas” para a inserção de tópicos da Física Moderna e Contemporânea já foi superada, dessa forma, é necessário empenho para que temas atuais da Física façam também parte das aulas no Ensino Médio. Partindo desses pressupostos, e do fato de que o tema partículas elementares é um tópico relevante a ser trabalhado nas escolas de nível médio, este trabalho apresenta um mapa conceitual, para ser utilizado em sala de aula como material didático complementar e introdutório à Física de Partículas. O mapa em questão aborda a ordem cronológica da evolução do conceito do átomo e, no decorrer de sua construção, trata das partículas elementares constituintes do átomo, as II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 91 ISBN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT interações fundamentais e as partículas mediadoras. O presente trabalho é parte de um projeto mais amplo que visa levar diversos temas contemporâneos da Física para as escolas de educação básica. Os filósofos gregos e os constituintes da matéria O pensamento filosófico a respeito dos elementos fundamentais formadores do Universo surgiu na Grécia antiga, com os filósofos pré-socráticos. Thales de Mileto (624-546 a.C.) foi um dos primeiros a questionar a existência de um elemento primordial do qual todas as coisas seriam formadas e, para ele, este elemento seria a água. Assim, dá-se início a uma corrente filosófica denominada “monismo”, na qual tudo é feito de uma única matéria primitiva (BASSALO, 1983). Xenófanes da Jônia (~570 - ~460 a.C.) considerava que a terra era o elemento primordial. Para Heráclito de Éfeso (~540 - ~580 a.C.) era o fogo. Anaxímenes de Mileto (570 - ~500 a.C) acreditava ser o ar. Já Anaxágoras de Clazômena (~500 - ~428 a.C.) imaginava a matéria como sendo formada por uma espécie de sementes (homeomerias), contendo semente dentro de semente infinitamente (SIQUEIRA, 2006), antecipando a idéia atomística do universo. No entanto, de acordo com Almeida (1983), o monismo encontrou dificuldades de aceitação, e assim, muitos filósofos passaram a deixálo de lado e “concentraram-se” na corrente chamada “pluralismo”, no qual a matéria é composta de um pequeno número de elementos. Discordando com as afirmações monistas de que todas as coisas seriam formadas por um único elemento, Empédocles de Akragas (~490 - ~430 a.C.) foi o primeiro filósofo grego a considerar o pluralismo. Para ele tudo era originário da combinação alternada de quatro elementos: água, fogo, terra e ar, sendo unidas ou separadas por duas forças divinas: amor ou amizade e ódio ou inimizade. Mais tarde, Aristóteles de Estagira (~348 - ~322 a.C.) afirmou que os elementos essenciais eram o frio, o quente, o seco e o úmido que, unidos dois a dois, formariam os elementos de Empédocles. A matéria constituída por um único elemento primordial retorna com os filósofos atomistas. A palavra átomo (indivisível, em grego) surge com o filósofo Leucipo de Mileto (~460 - ~370 a.C.) que, juntamente com seu discípulo Demócrito de Abdera (~470 - ~380 a.C.), defendia a matéria como sendo constituída de um único elemento, invisível e indivisível, chamado átomo. Para eles os átomos poderiam se movimentar no vazio, ao se unirem, a matéria seria formada e ao se separarem, a matéria seria destruída. Demócrito afirmava que nada aparece do nada, o que ocorre é uma junção de átomos invisíveis formando um novo corpo e, nada do que existe pode se destruir, mas sim, ocorrer uma separação de átomos que antes haviam se juntado para formar algo. Outros importantes atomistas foram Epicuro de Samos (~341 - ~270 a.C), que, apesar dos átomos terem estrutura, acreditava que não podiam ser divididos em partes menores por nenhum meio e, Lucrécio de Roma (~98 - ~ 55 a.C.), que concebia os átomos como infinitos em números, de diferentes formas e tamanhos. II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 91 ISBN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Assim, de acordo com Martins (1994), os atomistas rompem com a visão de mundo que era aceita na época, tirando o homem e a terra do centro do Universo. Acabam também por agregar uma filosofia materialista até mesmo nas bases religiosas, por ser a alma, segundo eles, constituída de átomos. Breve histórico da evolução atomística: de Thomson a Bohr A idéia especulativa da matéria sendo formada por átomos, ente indivisível, permaneceu até o final do século XVII e início do século XX quando surgiu o atomismo científico (BASSALO, 1980b). Foi o químico inglês John Dalton (1766-1844) quem primeiro utilizou a palavra átomo para fundamentar uma teoria científica e, foi também ele quem elaborou o primeiro modelo científico (CARUSO e OGURI, 1997). No entanto, em 1897, ao estudar os feixes luminosos em tubos de raios catódicos e descobrir que tais feixes eram partículas carregadas negativamente, denominadas de elétrons, o físico inglês J. J. Thomson (1856-1940) foi quem “separou” o átomo ao descobrir que tais partículas seriam constituintes da matéria, concluindo que o átomo não era indivisível. No intuito de dar ao átomo uma estrutura, em 1898, Thomson propõe um modelo conhecido como “pudim de ameixas”. Esse modelo tinha como constituinte o elétron, que ficava distribuído homogeneamente em uma massa de carga positiva. A existência de partículas positivas, segundo Bassalo (1980a), foi evidenciada experimentalmente, em 1895, pelo físico francês Jean Baptiste Perrin (1870-1942) ao estudar os raios canais. Mais tarde, em 1904, tais partículas foram denominadas de prótons (SILVA e NATTI, 2007). Com base no modelo atômico de Thomson, o físico inglês Ernest Rutherford (1871-1937), em 1911, fez incidir partículas alfa sobre uma fina lâmina de ouro, assim, esperava-se que essas partículas sofressem uma deflexão relativamente pequena ou, simplesmente, nada sofressem, tendo em vista a constituição atômica da lâmina. Porém, o resultado foi surpreendente, o desvio de algumas dessas partículas eram maiores que 900 (CARUSO e OGURI, 1997). A experiência de Rutherford mostrou que, ocasionalmente as partículas alfa sofriam grandes desvios incompatíveis com o modelo até então aceito. Além do mais, ele concluiu que os espalhamentos das partículas alfa eram devido ao fato de que as partículas positivas estavam concentradas em uma região central do átomo denominada núcleo e ainda que o núcleo concentrava, praticamente, toda a massa do átomo. O modelo proposto por Rutherford, segundo Bassalo (1980a), seria como um sistema planetário em miniatura, idéia esta que já havia sido sugerida por outros cientistas, como o físico Japonês Hantaro Nagaoka, em 1904, composto por um núcleo extremamente denso com elétrons girando em torno e um grande vazio. Nesse modelo, os elétrons, ligados ao núcleo pela atração eletrostática, estavam se movendo em órbitas circulares e, distribuídos ao redor do núcleo. Porém, tal modelo, por estar em desacordo com algumas teorias já aceitas na época, logo começou a receber críticas. Segundo a II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 91 ISBN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT teoria do eletromagnetismo clássico todo o movimento dos elétrons em torno do núcleo produziria uma radiação contínua de energia o que implicaria numa união dos elétrons com o núcleo, formando assim um átomo neutro (BOHR, 1995). Além disso, por ser o núcleo formado por prótons e muito pequeno comparado ao raio atômico, como explicar a sua estabilidade mesmo com a força de repulsão eletrostática atuando? Dessa forma, o átomo de Rutherford não era estável. Na tentativa de explicar a estabilidade do átomo de Rutherford, o físico dinamarquês Niels Henrik David Bohr (1885-1962), no ano de 1913, utilizando a idéia de quantização de energia proposta por Planck em 1900, postulou que os elétrons só poderiam descrever um número discreto de órbitas circulares, ou seja, os elétrons se moveriam apenas em órbitas permitidas, dessa forma, não emitiriam energia e não se colapsariam com o núcleo. A estabilidade nuclear e outras partículas elementares constituintes do átomo Questões sobre a estabilidade do núcleo continuavam a incomodar os físicos da época. Começou-se então a cogitar a hipótese de que no núcleo, além dos prótons, poderiam existir outras partículas. Assim, no ano de 1920, Rutherford sugeriu a existência de partículas neutras como constituintes do átomo e, exatamente por serem neutras, não poderiam ser detectadas através de campos eletromagnéticos. As experiências de bombardeio de Berílio por partículas alfa permitiram notar a emissão de uma radiação muito penetrante, mas, que, de acordo com Bassalo (1980b), não foram bem interpretadas pelos responsáveis pelas observações. Após repetir essas experiências o físico inglês James Chadwick (1981-1974), em 1932, interpretou tais radiações como sendo uma partícula neutra, com massa aproximadamente igual a do próton, denominando-a de nêutron. A hipótese de que o nêutron era um constituinte do átomo foi formulada pelo físico Werner Karl Heisenberg (1901-1987) e, independentemente, pelo físico russo Dimitrij Iwanenki (BASSALO, 1980a). Portanto, agora, o átomo é constituído por elétrons que circulam o núcleo em órbitas discretas, que por sua vez, é formado por prótons e nêutrons de massas praticamente idênticas. Analogicamente à interação eletromagnética que ocorre entre as partículas portadoras de carga elétrica e a gravitacional aos detentores de massa, porém relevante apenas no âmbito macroscópico, era plausível a idéia de que havia uma força que atuava somente nas dimensões do núcleo, podendo, enfim, explicar o não rompimento nuclear. Assim, em 1935, o físico japonês Hideki Yukawa (1907-1981) levantou a hipótese das forças nucleares. Essas forças, denominadas de força nuclear forte e força nuclear fraca, são de curto alcance com raio de ação da ordem de 10-15 e 10-17m, respectivamente. A força forte é atrativa e age entre os núcleons (nome coletivo para prótons e II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 91 ISBN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT nêutrons), sendo mais intensa que a força eletromagnética, impede a repulsão entre os prótons. Já a força fraca é assim denominada pois sua intensidade é menor quando comparada à força forte (OSTERMANN, 1999). Atualmente, sabe-se que as forças fundamentais da natureza (eletromagnética, gravitacional, fraca e forte) são transmitidas através de partículas mediadoras (classificadas como bósons), ou seja, são essas partículas as responsáveis pelo “contato” entre um corpo e outro. As partículas mediadoras da força nuclear forte são os glúons e os da força nuclear fraca as partículas W+, W- e Z0. Com a teoria das forças nucleares, finalmente, a estabilidade nuclear foi explicada. No entanto, novas questões começaram a surgir: “Seriam as partículas constituintes do átomo verdadeiramente elementares?”. A concepção de que os nêutrons, os prótons e os elétrons seriam partículas elementares permaneceu por longo período. Porém, em 1964, Murray Gell-Mann (1929-) e George Zweig (1937-), independentemente, propuseram a existência do quark (OSTERMANN, 1999). A respectiva teoria propôs inicialmente a existência de três tipos de quarks: up (u), down (d) e strange (s), sendo que os prótons e os nêutrons são formados pelos quarks mais abundantes da natureza, os quarks up e down. Os prótons são compostos por dois quarks up e um quark down (uud), já os nêutrons são formados por dois quarks down e um quark up (ddu). Segundo Moreira (2007, p. 6): “Hoje aceita-se que os quarks, assim como os elétrons, são as partículas verdadeiramente elementares da matéria, uma espécie de tijolos básicos para a construção de toda a matéria, inclusive dos nêutrons e prótons”. Apesar deste trabalho destacar as partículas constituintes do átomo, vale ressaltar que tais partículas não são as únicas propostas e descobertas ao longo da história. A descoberta do elétron foi o primeiro passo para uma gama de partículas que foram identificadas posteriormente, hoje são conhecidas 57 diferentes partículas. O quark é um grupo constituído por seis partículas, sendo as partículas up e down formadoras dos prótons e nêutrons. Os elétrons compõem um grupo chamado de léptons no qual, simetricamente aos quarks, são seis as partículas desse grupo. O conjunto de léptons e quarks fazem parte de um grupo maior, denominado Férmions. Além disso, anteriormente foi apresentado que as forças fundamentais da natureza são intermediadas via troca de partículas mediadoras, que por sua vez se agrupam na família de Bósons. Essa breve descrição dos grupos de partículas, sem relatar seus constituintes particulares, nos permite citar a existência de um modelo que estabelece a organização das partículas até então conhecidas, denominado Modelo Padrão, que serve como um excelente referencial teórico para a Física de Partículas Elementares. Uma síntese da evolução do conceito do átomo através de um mapa conceitual II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 91 ISBN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT O uso de mapas conceituais como contribuinte ao processo ensino-aprendizagem tem sido tema de diversos trabalhos publicados nos mais variados meios de divulgação. A utilização desse recurso educacional é de extrema importância, pois permite ao aluno ter uma visão geral do assunto abordado. E, segundo Tavares (2007, p. 81), “quando os alunos aprendem determinado tema utilizando mapas conceituais, eles desenvolvem seu próprio entendimento através da internalização da informação”. Mapas conceituais são, de acordo com Moreira e Rosa (1986), estruturas de conceitos que interligam entre si e podem ser utilizados para a organização, a representação e a análise do conteúdo, contribuindo assim para uma aprendizagem significativa. Os mapas conceituais foram desenvolvidos apoiados na teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel, em que, de uma forma geral, visa à aprendizagem de novos conhecimentos relacionados com a aprendizagem prévia. Um mapa conceitual expressa como o assunto está estruturado na visão do autor, portanto, apesar dos vários tipos de mapas conceituais existentes, como ressalta Moreira e Rosa (1986, p. 18), não há uma regra fixa ou um modelo rígido para a sua construção: “o importante é que ele evidencie as relações e as hierarquias entre os conceitos”. Além disso, é necessário que o autor do mapa explique-o, pois os mapas conceituais não são auto-suficientes. A seguir é apresentado um mapa conceitual que permite organizar e estruturar a evolução do conceito do átomo, desde a concepção dos gregos antigos até a concepção atual. Ao longo da construção do mapa procurou-se seguir uma evolução cronológica dos fatos e também das descobertas das partículas constituintes do átomo, o que possibilita utilizá-lo como material didático introdutório para a inserção do tema Física de Partículas Elementares no Ensino Médio. II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 91 ISBN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Fig. 1: Um mapa conceitual que apresenta, de forma cronológica, a evolução do conceito do átomo e suas partículas constituintes. O mapa conceitual acima pode ser explicado da seguinte maneira: “A busca pelo constituinte fundamental, formador do Universo, sempre foi uma procura incansável do homem. Desde os tempos mais remotos, o homem já imaginava que deveria existir um elemento primordial, excluindo a hipótese única de que deus, ou algo místico, era o responsável pela formação e evolução das coisas. A humanidade “rompe” com a espiritualidade e passa a utilizar a razão para descrever alguns fenômenos dando início ao pensamento científico. Os antigos gregos tinham diversas teorias para a constituição da matéria e, digamos, eram divididos em dois grupos, um deles é conhecido como monistas, em que acreditavam que tudo era originado de um único elemento primordial. No entanto, tal hipótese parecia não concordar com o real, pois como um único elemento pode dar origem ou formar coisas tão diferentes, tais como a terra, a água, o úmido, o seco? Surgem, então, os pluralistas, estes, por sua vez, acreditavam que a matéria era formada por mais de um elemento, porém, em número limitado. Dessa forma, o monismo ficou um pouco esquecido e, somente no século XVII volta à cena, com os filósofos chamados atomistas. Esses suporam a matéria formada pelo átomo, que diziam ser indestrutível, indivisível, ilimitado, de diversos tamanhos e formas e, primordial. E assim o foi, até o ano de 1898, quando J. J. Thomson ‘dividiu’ o átomo e criou um modelo para descrever a estrutura atômica. Seu modelo, batizado como ‘pudim de ameixas’, tinha como constituinte o elétron, que ficava distribuído homogeneamente em uma massa positiva. Mas, II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 91 ISBN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT esse primeiro passo para modelar aquilo que formava a matéria não era suficiente para explicar alguns fenômenos, então, em 1911, depois da descoberta do próton, Rutherford propõe um novo modelo. O modelo de Rutherford afirmava que o átomo era formado por um núcleo, extremamente denso, com cargas positivas e que em torno desse núcleo, no vazio, orbitavam os elétrons, por isso seu modelo também é chamado de ‘modelo planetário’. Mas, não tardou e as primeiras indagações começaram a surgir: ‘Se o núcleo é pequeno comparado ao tamanho do átomo e formado apenas por cargas positivas, porque ele não se rompe?’; ‘Se os elétrons se movem ao redor do núcleo, porque, ao perderem energia, eles não se colapsam com o núcleo?’. Questões sobre a instabilidade do átomo levou, em 1913, Bohr a readequar o modelo atômico de Rutherford, ele propôs que os elétrons se movimentam em níveis de energia permitidos, assim eles não se colidiriam com o núcleo. Para que o elétron ‘suba’ ou ‘desça’ nas camadas energéticas, deve receber ou ceder energia, na forma de fótons, suficiente para realizar o movimento. Mas, ainda assim, a estabilidade nuclear não foi explicada. Em 1920, Heisenberg e, independentemente, Iwanenki, levantaram a hipótese de que deveriam existir mais partículas no núcleo, e que seriam semelhantes aos prótons, no entanto, teriam carga elétrica total neutra. O nêutron, como ficou batizado, foi descoberto em 1932. E em 1935, para explicar a coesão nuclear de partículas positivas tão fortemente repelidas, Yukawa propõe a existência de forças nucleares que impediam a ‘explosão’ do núcleo, essas forças foram chamadas de força nuclear forte e força nuclear fraca e, elas interagiam via troca de partícula mediadoras, sendo posteriormente descobertas. As partículas mediadoras da força forte são os glúons e as mediadoras da força fraca são as partículas W+, W– e Z0. Depois disso, no ano de 1964, Gell-Mann e, independentemente, Zweig, propuseram a hipótese de que os prótons e nêutrons, diferentemente do elétron, não eram partículas elementares, mas sim, formados por quarks. Dessa forma os prótons são formados por dois quarks up e um down, já os nêutrons são constituídos por um quark up e dois quarks down. Atualmente, aceita-se que a matéria presente no Universo seja formada pela primeira geração de quarks (up e down) e léptons (elétron e neutrino do elétron). Com isso, parece prevalecer a idéia pluralista como constituintes da matéria. No entanto, as buscas não param...”. Considerações finais Sabemos que o estudo do átomo e de seus diversos modelos faz parte do rol de conteúdos do currículo do Ensino Médio, ficando sua análise, geralmente, à disciplina de Química e, em alguns casos, à Física. Porém, nota-se a carência de uma abordagem e discussão mais abrangente deste que é um tema importantíssimo da história do pensamento humano. Assim, procurou-se, neste trabalho, atrelar o desenvolvimento do conceito do átomo a um tema moderno da física: partículas elementares. No entanto, vale ressaltar que não consideramos o átomo e a física de partículas assuntos independentes, mas sim evidenciar que é possível introduzir o conhecimento das partículas II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 91 ISBN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT elementares a partir do conceito de átomo, já que este está inserido na grade curricular do Ensino Médio. Referências ALMEIDA, E.S. Teoria atômica grega. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 5, n. 2, p. 53-59, dez. 1983. ALVES, M.F.S. Atualização curricular e ciência contemporânea: considerações sobre o ensino das partículas elementares na educação básica. Trabalho de conclusão de curso (licenciatura em Física) – Departamento de Física, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2008. BASSALO, J.M.F. As partículas constituintes do átomo. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 2, n. 3, p. 58-65, set. 1980a. _____________. Do átomo-filosófico de Leucipo ao átomo-científico de Dalton. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 2, n. 2: p. 70-76, jun. 1980b. BOHR, N. Física atômica e conhecimento humano: ensaios 1932-1957. Rio de Janeiro: Contraponto, 1995. CARUSO, F.; OGURI, V. A eterna busca do indivisível: do átomo filosófico aos quarks e léptons. Química Nova, São Paulo, v. 20, n. 3, 1997. GREF – Grupo de Reelaboração do Ensino de Física. Óptica: para ler, fazer e aprender. Instituto de Física, Universidade de São Paulo, 1998. MARTINS, R.A. Universo: teorias sobre sua origem e evolução. São Paulo: Moderna, 1ª Edição, 1994. MOREIRA, M.A. A Física dos quarks e a epistemologia. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 29, n. 2, p. 161-172, jun. 2007. MOREIRA, M.A.; ROSA, P. Mapas Conceituais. Caderno Catarinense de Ensino de Física, Florianópolis, v. 3, n. 1, p. 17-21, abr. 1986. OSTERMANN, F.; MOREIRA, M.A. Uma revisão bibliográfica sobre a área de pesquisa “Física moderna e contemporânea no Ensino Médio”. Investigações em Ensino de Ciências, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 23-48, 2000. OSTERMANN, Fernanda. Um texto para professores do Ensino Medio sobre partículas elementares. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 21, n. 3, p. 415-436, set. 1999. SILVA, C.O.; NATTI, P.L. Modelo de quarks e sistema multiquarks. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 29, n. 2, p. 175-187, 2007. II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 91 ISBN: 2178-6135 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT SIQUEIRA, M.R.P. Do visível ao indivisível: uma proposta de Física de partículas elementares para o Ensino Médio. Dissertação (Mestrado em educação) – Faculdade de educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. TAVARES, R. Construindo Mapas Conceituais. Ciências & Cognição, Rio de Janeiro, v. 12, p. 72-85, dez. 2007. Marcos Fernando Soares Alves. Licenciado em Física, bolsista recém-formado membro do projeto “Alfabetização Científica e Inclusão Social” do Programa Universidade Sem Fronteiras. [email protected] Denise Alanis. Graduanda em Física pela Universidade Estadual de Maringá, bolsista membro do projeto “Alfabetização Científica e Inclusão Social” do Programa Universidade Sem Fronteira. [email protected] Dr. Luciano Gonsalves Costa. Professor do Departamento de Física da Universidade Estadual de Maringá. Coordenador do projeto “Alfabetização Científica e Inclusão Social” do Programa Universidade Sem Fronteiras. [email protected] Apoio: Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI/PR) por meio do Programa Universidade Sem Fronteiras (USF). II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia 07 a 09 de outubro de 2010 Artigo número: 91 ISBN: 2178-6135