XIII EANE- Encontro de Astronomia do Nordeste Astronomia e Literatura: fragmentos e autores Professora Maria José Barros Fidelis de Moura Centro de Estudos Astronômicos de Alagoas Secretaria Municipal de Educação de Maceió – SEMED Apresentação A Astronomia é uma ciência exata que dá conta da evolução, composição, classificação e dinâmica dos corpos celestes e constitui um dos mais preciosos legados culturais da espécie humana. Isso justifica o envolvimento dos escritores, pintores e fotógrafos com essa ciência, através de suas produções de textos poéticos, músicas, telas e fotografias, para externarem o respeito que sentem por nosso magnífico Universo. Que relações poderiam a literatura ter com a ciência que trata da constituição, da posição relativa e dos movimentos dos astros? Desde os primórdios dos tempos, vários segmentos da sociedade, se entusiasmaram com os fenômenos astronômicos e com a fantasia que o olhar lhes proporcionavam, justificando, dessa forma, a razão pela qual inúmeros escritores, pintores e poetas dedicaram-se a externar seus sentimentos, apoiando-se nos fenômenos da natureza. Através desse trabalho teremos uma discreta amostra de alguns seguidores da literatura que extravasaram e extravasam seus sentimentos através das artes e das palavras inspirando-se nos fenômenos celestes. Objetivo Realizar uma revisão da literatura a fim de descobrir alguns escritores, pintores, poetas, astrofotógrafos que tenham se inspirados nos fenômenos celestes para escrever poesias, prosas, romances e outros textos literários e se dedicaram a fotografar o céu ou externar seus sentimentos através da pintura. A Genival Leite Lima Devid Duarte Lembrei-me de ti, querido amigo, Ao respirar os brandos ares vernais, De negros céus e estrelas tais Quais diamantes em ônix incrustados. Lembrei-me de ti, querido amigo, A guardar o fulgor de Fomalhaut; De tempos passados, sem esplendor igual. Uma estrela real em teu humilde abrigo. “Alpha Piscis Austrini”, disse Bayer; “Fomalhaut, minha Fomalhaut”, disseste tu. “Oh! meu amigo! nesse doce instante O vento do passado em mim suspira”*. Que o longínquo firmamento acima alcance A minha ode à tua memória merecida. Fundaste, da Astronomia alagoana, o paço, Rasgaste, da ignorância, os véus; Um Bandeirante dos Astros Em terra de virgens céus. Vezes outras haverei de lembrar-te Em meio a lampejos de ciência ou pura arte; A contemplar, do movimento, a eternidade, A erguer, sempre, o teu estandarte. *Estes dois versos parafraseiam versos do poema "A Luís", de Castro Alves. O big bang do verso Rodrigo Ferreira Santos De repente, num espaço atemporal Repleto de nada, num vácuo absoluto Desceu um jato de tinta, ríspido, bruto Lançando a órbita da temática inicial. Entitulou-se o poema da Existência E a primeira gigante estrofe, arcaica Até o último dos versos, ela ainda marca Pontos que indicam toda a transcedência. E os observadores curiosos, em simpatia Estudam as características da linguística Como quem elaborasse um projeto de nanorobótica E como quem visita Marte, lê a poesia Viaja em imaginação, refaz toda sua política Defronte uma artística regurgitação cósmica. Manuel Inácio da Silva Alvarenga (Vila Rica, atual Ouro Preto, MG 1749, Rio de Janeiro RJ, 1814) À LUA Como vens tão vagarosa, Oh formosa e branca lua! Vem co'a tua luz serena Minha pena consolar! Geme, oh! céus, mangueira antiga, Ao mover-se o rouco vento, E renova o meu tormento Que me obriga a suspirar! Entre pálidos desmaios Me achará teu rosto lindo Que se eleva refletindo Puros raios sobre o mar. Ora Direis Ouvir Estrelas Olavo Bilac “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” Eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A Via Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?” E eu vos direi: “Amai para entendêlas! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas” O universo (Olavo Bilac) (Paráfrase) A Lua: Sou um pequeno mundo; Movo-me, rolo e danço Por este céu profundo; Por sorte Deus me deu Mover-me sem descanso, Em torno de outro mundo, Que inda é maior do que eu. A Terra: Eu sou esse outro mundo; A lua me acompanha, Por este céu profundo . . . Mas é destino meu Rolar, assim tamanha, Em torno de outro mundo, Que inda é maior do que eu. O Sol: Eu sou esse outro mundo, Eu sou o sol ardente! Dou luz ao céu profundo . . . Porém, sou um pigmeu, Que rolo eternamente Em torno de outro mundo, Que inda é maior do que eu. O Homem: Por que, no céu profundo, Não há de parar mais O vosso movimento? Astros! Qual é o mundo, Em torno ao qual rodais Por esse firmamento? Todos os Astros: Não chega o teu estudo Ao centro disso tudo, Que escapa aos olhos teus! O centro disso tudo, Homem vaidoso, é Deus! Como o Poeta Repentista vê o céu , o Universo É o céu uma abóboda aureolada Rodeada de gases venenosos Radiantes planetas luminosos Gravidade na cósmica camada Galáxia também hidrogenada Como é lindo o espaço azul– turquesa E o sol fulgurante tocha acesa Flamejando sem pausa e sem escala Quem de nós poderia apagá-la Só o santo Doutor da natureza. A praia é uma virgem deitada na areia De olhos abertos , contemplando a lua Enquanto nas águas a barca flutua Lá no firmamento Diana passeia O sol com ciúme a praia incendeia Com raiva da lua que não quis casar A lua queixosa começa a chorar Na cama do céu , coitada desmaia Derramando prantos de prata na praia Que coisa bonita na beira do mar. Ivanildo Vilanova repentista Pernambucano Dimas Batista Patriota (In Memoriam) No tempo de Davi, 1000 anos antes de Cristo, os astrônomos da Grécia questionavam que não havia mais de 1.000 estrelas no céu. Três séculos mais tarde, Ptolomeu (323 – 285 A.C) rei e astrônomo do Egito, contou mais de 3.000 delas. Ao fim do sexto século de nossa era, os astrônomos europeus conjeturavam que haveria mais de 7.000 estrelas. Depois de Galileu tudo mudou e hoje sabemos que são incontáveis tanto o número de estrelas quanto de galáxias. Nossa via Láctea http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/2861imagens-da-via-lactea#foto-56293 Galáxia de Andrômeda http://www.ccvalg.pt/astronomia/galaxi as/descoberta_galaxias/m31.jpg ) Céu de Cacimbinhas-Al, madrugada de 16 de dezembro de 2012. Créditos para Jeová Ramos da Silva Júnior-Ceaal, Câmera Canon EOS Rebel T1. William Shakespeare (Stratford - Avon 23 de abril de 1564 – Stratford – Avon 23 de abril de 1616) Eu sou firme qual a estrela d’alva Que, por seus muitos dotes de firmeza, Não tem par nem igual no firmamento. (Julio César em Troilus e Cressida) Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que possa julgar a nossa filosofia. (Hamlet) Wang Wei (王維) (Taiyuan, 701- 761) foi um pintor, calígrafo, poeta, e estadista chinês da Dinastia Tang. 《竹里館》 "Cabana nos Bambu "Sentado sozinho, em meio aos bambus; Toco minha cítara, e as notas reverberam. No segredo da mata, ninguém pode ouvir; Apenas a clara Lua, vem brilhar sobre mim." Lua adversa Noite cheia de estrelas Cândido das Neves (Indio) Cecília Meireles Tenho fases, como a lua Fases de andar escondida, fases de vir para a rua... Perdição da minha vida! Perdição da vida minha! Tenho fases de ser tua, tenho outras de ser sozinha Fases que vão e que vêm, no secreto calendário que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso. E roda a melancolia seu interminável fuso! Não me encontro com ninguém (tenho fases, como a lua...) No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua... E, quando chega esse dia, o outro desapareceu... Noite alta, céu risonho A quietude é quase um sonho O luar cai sobre a mata Qual uma chuva de prata De raríssimo esplendor Só tu dormes, não escutas O teu cantor Revelando à lua airosa A história dolorosa desse amor Lua... Manda a tua luz prateada Despertar a minha amada Quero matar meus desejos Sufocá-la com os meus beijos Cândido das Neves, apelidado de "Índio", compositor, cantor e instrumentista, Rio de Janeiro, RJ. 1899 -1934. Região do Cruzeiro do Sul e Carina. Foto do 5 EBA. Canon Xsi 450D, ISO 1600, em Piggy Back, 8 fotos de 2 min, objetiva Canon 20mm. Créditos de Romualdo Arthur Alencar Caldas-Ceaal. Enluarada Kizzy Resende Nossa Lua Severino Fidelis de Moura Alguns já foram na Lua Boa parte em pensamento. Clarke até colocou enigma Provocou deslumbramento, pra quem viu Dois Mil e Um. Nos cinemas em movimento. Ela continua emoldurada de beleza e de candura, despertando o interesse das almas santas e puras e olhares bem cobiçados, durante as noites escuras. Leia a poesia completa: http://www.recantodasletras.com.br/poesias/ 2026237 Ocultando Estrelas por onde anda De pequeno, médio ou grande porte Das amarelas às vermelhas Todas precisam de reporte Astrolábios Kizzy Resende E em antigas hierarquias desta doce Astronomia Manusear os astrolábios era tarefa para dois corpos Estes eram elevados até a altura dos olhos dos Astros E lidos com a precisão e a doçura d'outros lábios. Vê Recanto das Letras: http://www.recantodasletras.com.br/poesias/3 114782 Vamos ouvir Luar do Sertão na voz de Luiz Gonzaga e Milton Nascimento Letra : Catulo da Paixão Cearense Composição : João Teixeira Guimarães, dito João Pernambuco Não há, ó gente, ó não Luar como esse do sertão Não há,ó gente,ó não Luar como esse do sertão Oh! que saudade do luar da minha terra Lá na terra branquejando folhas secas pelo chão Este luar cá da cidade tão escuro Não tem aquela saudade do luar lá do sertão Não há, ó gente, ó não Luar como esse do sertão Não há, ó gente, ó não Luar como esse do sertão Se a lua nasce por detrás da verde mata Mais parece um sol de prata prateando a solidão E a gente pega na viola que ponteia E a canção e a lua cheia a nos nascer do coração Não há... (refrão) Mas como é lindo ver depois por entre o mato Deslizar calmo regato, transparente como um véu No leito azul das suas águas murmurando E por sua vez, roubando as estrelas lá do céu Não há, ó gente, ó não, Luar como esse do sertão Não há, ó gente, ó não Luar como esse do sertão Óleo de Vincent van Goh http://eternosaprendizes.com/2009/10/12/umanoite-estrelada-por-vicent-van-gogh/ Região do Escorpião – Óleo de Adriano Aubert Silva Barros-Ceaal Considerações Finais Espera-se que esse trabalho que está em andamento, possa ter cumprido o objetivo para o qual foi idealizado: realizar uma revisão da literatura a fim de descobrir alguns escritores que se inspiraram nos fenômenos celestes para escrever poesias, prosas, romances, pinturas e outros textos literários. Espera-se também que as informações nele contidas possam ser úteis para nossas reflexões e permita que os aspectos literários encontrados na Astronomia no decorrer dos tempos, tenham relevância para nossas vidas. LINDO BALÃO AZUL - Guilherme Arantes Eu vivo sempre No mundo da lua Porque sou um cientista O meu papo é futurista É lunático... Eu vivo sempre No mundo da lua Porque sou inteligente Se você quer vir com a gente Venha que será um barato... Eu vivo sempre No mundo da lua Tenho alma de artista Sou um gênio sonhador E romântico... Pegar carona Nessa cauda de comêta Ver a Via Láctea Estrada tão bonita Brincar de esconde-esconde Numa nebulosa Voltar prá casa Nosso lindo balão azul!! Eu vivo sempre No mundo da lua Porque sou aventureiro Desde o meu primeiro passo Pro infinito... Fotografia de Aloisio Júnior (Ano Internacional da Astronomia 2009) – Ceaal Meus Agradecimentos a Todos Bibliografia http://www.ceaal.org.br/astropoesia http://pt.wikipedia.org/wiki/Olavo_Bilac http://www.utp.br/eletras/ea/eletras18/texto/RS_artigo_18.4_Cristiane_Busato_ Smith_Shakespeare_e_a_astronomia.pdf http://educacao.uol.com.br/biografias/van-gogh.jhtm http://pt.wikipedia.org/wiki/Catulo_da_Paix%C3%A3o_Cearense http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Pernambuco http://pt.wikipedia.org/wiki/Luar_do_Sert%C3%A3o http://www.citador.pt/poemas/lua-adversa-cecilia-meireles http://www.youtube.com/watch?v=-FCWuxVCYVA http://sitedepoesias.com/poesias/22821