I ENCONTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA ÍNDICE DE ABANDONO DO TRATAMENTO CONTRA TUBERCULOSE PULMONAR: AVALIAÇÃO DO CENÁRIO DE PORTO VELHO, RONDÔNIA. ASSICLEI DO NASCIMENTO SILVA1, Esp. CLEIDILENE LUIZA DOS SANTOS2 1 INTRODUÇÃO A Tuberculose (TB) é uma doença infecto-contagiosa que acompanha o homem desde os tempos pré-históricos, sendo que no século XIX foi descoberto seu bacilo causador, e no século XX conseguiu-se grandes avanços no tratamento desta moléstia. No Brasil, estima-se que, do total da população, mais de 50 milhões de pessoas estejam infectados pelo Mycobacterium tuberculosis (bacilo de Koch), com aproximadamente 80 mil novos casos de tuberculose por ano (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). De acordo com Marrone et. al. (2007), no ano de 1981 a 1990, o abandono do tratamento de TB teve uma variação entre 11,1% a 15,7% no Brasil. Segundo Ferracio (2007) a Organização Mundial da Saúde (OMS) admite uma taxa máxima de abandono de 5%, No Brasil a taxa de abandono no mesmo período girava em torno de 14% a 17%, porém, em algumas regiões e capitais alcança o valor de 30 a 40%, proporcionando, provavelmente, elevadas taxas de resistência do bacilo aos medicamentos. A infecção pelo bacilo pode ou não resultar no desenvolvimento da doença. Entre os indivíduos infectados, a probabilidade de adoecer aumenta na presença de depressão do sistema imunitário, o que pode ser causado por outras enfermidades (síndrome da imunodeficiência humana adquirida, insuficiência renal crônica, depressão), uso de medicamentos (drogas imunossupressoras para tratamento de neoplasias e transplantes, corticosteróides para tratamento de asma), desnutrição ou diabetes (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009; LO”NNROTH, 2009; COELHO, 2010). A distribuição dos casos está concentrada em 315 dos 5564 municípios do país, correspondendo a 70% da totalidade dos casos. O estado de São Paulo detecta o maior número absoluto de casos e o estado do Rio de Janeiro apresenta o maior coeficiente de incidência (SINAN, 2010). É importante destacar que anualmente ainda morrem 4500 pessoas por tuberculose, doença curável e evitável. Em sua maioria, os óbitos ocorrem nas regiões metropolitanas e em unidades hospitalares. Em 2008 a Tuberculose (TB) foi a 4ª causa de morte por doenças infecciosas e a 1ª causa de morte dos pacientes com AIDS (MINISTÉRIO DA SAÚDE/SIM, 2010). A tuberculose deve merecer especial atenção dos profissionais de saúde e da sociedade, é uma enfermidade que tem cura, mas continua sendo uma doença estigmatizada até os 1 2 Acadêmica da Faculdade de Rondônia – FARO. Professora e orientadora da Faculdade de Rondônia – FARO. dias de hoje. Isso muitas vezes impede que o indivíduo procure espontaneamente o serviço de saúde e negue a presença dos sintomas sugestivos de tuberculose (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010). Considera-se abandono do tratamento, o fato do paciente, depois de iniciado o mesmo, deixar de comparecer à unidade de saúde por mais de trinta dias consecutivos, após a última data aprazada para o retorno. O abandono do tratamento tem uma variabilidade, que vai desde a total recusa e do uso irregular das drogas até o não cumprimento da duração do tratamento (MINISTERIO DA SAÚDE, 2002). O tratamento tem a duração de 6 meses e é feito com uma combinação de medicamentos, é fornecido gratuitamente e não deve ser interrompido, pois os sintomas voltam e o bacilo torna-se resistente aos medicamentos utilizados, fazendo o tratamento corretamente o doente tem 95% de chance de ser curado, sem o tratamento 50% morrem em cinco anos e a maioria ficará debilitada (FERNANDES, 2004). Outro fator relevante é que antigamente a tuberculose era considerada uma doença de idosos e acabou por tornar-se mais prevalente em indivíduos jovens entre 25 e 44 anos e também em crianças menores de cinco anos, estando este fato ligado a um grande aumento no número de pessoas usuárias de drogas intravenosas e pacientes infectados pelo vírus HIV (SOUZA, 2007). O abandono do tratamento é considerado um dos mais sérios problemas para o controle da tuberculose, porque implica na persistência da fonte de infecção e das taxas de recidiva, além de facilitar o desenvolvimento de cepas de bacilos resistente (FERREIRA et al., 2005). A Tuberculose pode apresentar-se sobe duas formas: A Pulmonar e a Extrapulmonar. A Tuberculose (TB) pulmonar é mais comum nos adultos e a extrapulmonar, que acomete outras partes do organismo, é mais frequente em crianças, não sendo contagiosa (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2003). Os sintomas clássicos da Tuberculose pulmonar são: tosse persistente por 3 semanas ou mais, produtiva ou não (com muco e eventualmente sangue), febre vespertina, sudorese noturna e emagrecimento. O dano é causado pela presença dos bacilos nos macrófagos desencadeando uma inflamação crônica descontrolada e progressiva (CAMPOS, 2006). O diagnóstico clínico da tuberculose se dá através de manifestações que incluem tosse prolongada com duração de mais de três semanas, dor no peito, hemoptise, febre, sudorese noturna, perda de apetite, emagrecimento e fadiga. Além desse quadro clínico, é necessário realizar o diagnóstico laboratorial através de exames bacteriológicos, achados radiológicos, histopatológicos, imunológicos e moleculares, entre outros (CAMPOS H. S., 2006; ZOCCHE 2009; SILVA, 2007). O risco de abandono do tratamento da tuberculose é elevado ao final do primeiro mês e início do segundo, pois, corresponde a fase em que os pacientes apresentam-se assintomáticos, com uma boa aparência física e bom estado geral, o que acaba lhes levando a acreditarem que estão livres de doença e por consequência interrompem o tratamento (SÁ L. D. et al., 2007). O abandono do tratamento é a principal causa de reincidência da tuberculose, e contribui significantemente para o surgimento de complicações, tais como meningites e infecções renais, hepáticas, da glândula suprarrenal e dos ossos e também para os casos de óbito (FERRACIO, 2007). As ações da Vigilância Epidemiológica compreendem a definição, investigação, notificação e acompanhamento do caso, visita domiciliar aos casos novos, convocação de faltosos, realização de exames em contatos, vigilância em hospitais e em outras instituições, vigilância de infecção tuberculosa e encerramento dos casos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011). Esse estudo tem como objetivo, identificar o índice de abandono do tratamento contra tuberculose pulmonar no município de Porto Velho, Rondônia. 2 A SITUAÇÃO ATUAL Do total de casos novos de tuberculose estimados pela OMS, menos da metade são notificados, situação que traduz a insuficiência das políticas de controle. Nos 22 países com maior carga de tuberculose, a estimativa é de 6.910.000 casos (OMS/MS 2000). A notificação da tuberculose no Brasil, nos últimos anos, se situa entre 80 e 90 mil casos novos/ano (MINISTÉRIO DA SAÚDE 2000). Fonte: SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação /ATPS- FUNASA Fundação Nacional de Saúde /MS (2000). Como consta no Gráfico 1, o coeficiente, para o país, de incidência de tuberculose de todas as formas, foi de 48,4/100.000 habitantes. Observado por região, tem-se que os mais altos estão no sudeste - 55,0/100.000 - e no nordeste - 44,4/100.000. A região norte teve coeficiente próximo ao do Brasil - 47,6/100.000 - e as regiões sul e centrooeste valores bem abaixo, respectivamente, 37,7/100.000 e 29,5/100.000 habitantes (MS, 2000). Esses coeficientes, relativos às grandes regiões, não expressam a real situação existente em muitas áreas críticas das unidades federadas, onde, principalmente nas regiões metropolitanas, há municípios com situações extremamente graves, representadas por elevados coeficientes de incidência, traduzindo condições precárias de vida, programas de controle insuficientes e, em alguns lugares, a associação da tuberculose com a AIDS. METODOLOGIA Tipo de Pesquisa Trata-se de um estudo documental com uma abordagem quantitativa dos dados coletados junto ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan net), notificados no período de 2010 a 2014. Ressalta-se que os anos de 2013 e 2014 ainda não se encontram consolidados, os dados disponibilizados pelo Sinan net e informados nesse estudo de 2013/2014 foram atualizados em 26 de setembro de 2014 e estão sujeitos a revisão. Coleta de Dados A coleta de dados foi realizada em setembro de 2014, por meio do sitio do Sinan net, disponível na página do DATASUS. Analises de Dados Após a coleta de dados, a análise foi realizada utilizando-se o Microsoft Excel®, onde foram construídos gráficos e tabelas para melhor esboço dos resultados. A discussão foi construída utilizando-se de uma literatura atual sobre o manejo de casos de tuberculose, no âmbito de prevenção e controle dos casos da doença. RESULTADOS PARCIAIS As unidades de saúde, que têm ações de controle de diagnóstico e tratamento, devem inscrever o paciente no “Livro de Registro e Controle de Tratamento dos Casos de Tuberculose”, para possibilitar a análise por cortes da distribuição dos casos por grupo etário, forma clínica, qualidade diagnóstica e resultado do tratamento. Os registros de óbitos por tuberculose, também devem ser motivo de análise, comparando-se esses registros com os de morbidade. TABELA 1 - Distribuição dos casos de tuberculose considerando-se o sexo do indivíduo e a situação de encerramento do caso, Porto Velho – RO (2010-2014). Encerramento 2010 2011 2012 2013 2014 M F M F M F M F M F 8 3 5 - 5 2 92 27 124 65 Cura 140 71 156 73 180 79 102 64 4 1 Abandono 37 17 36 23 65 17 38 15 6 2 Óbito por TB 3 3 3 2 2 1 - 2 2 - Óbito - 2 3 2 5 - 2 - 1 - Transferência 27 13 52 18 35 15 46 18 38 7 TOTAL 215 110 255 118 292 114 280 126 175 75 Ign/Branco por outras causas FONTE: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net, 2014 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Controle da Tuberculose: uma proposta de integração ensino- serviço.5. ed. Brasília : Ministério da Saúde, 2002b. ______.Ministério da Saúde. Fundação Nacional da Saúde. Vigilância epidemiológica. Tuberculose: Guia de Vigilância Epidemiológica. Brasília, 2002.102p. ______. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. 7ª ed. Brasília: MS; 2009. ______.Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa Nacional de Controle da Tuberculose. 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