faculdade dehoniana filosofia - bacharelado

Propaganda
FACULDADE DEHONIANA
FILOSOFIA - BACHARELADO
Paper
A INDÚSTRIA CULTURAL
O iluminismo como definição das massas.
Nome: Lundwig Gomes Santana
Professor: Dr. Marcelo Pereira de Andrade
Taubaté – 2016
“A televisão, essa última luz que te salva da solidão e da
noite, é a realidade. Porque a vida é um espetáculo: para os que
se comportem bem, o sistema promete uma boa poltrona. ”
- Eduardo Galeano.
A Indústria Cultural
O iluminismo como definição das massas.
Lundwig Gomes Santana1
Esse trabalho tem como objetivo mostrar a conceituação de indústria cultural dois
séculos antes do termo ser apresentado no livro “A dialética do esclarecimento” de 1944, escrito
por Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973). O termo foi usado para
designar esse novo meio de se fazer cultura, partindo da ideia de que, quanto mais produto,
mais lucro. Isso significa que a produção tem agora a finalidade de se obter lucro, a produção
artística com finalidade lucrativa. Por exemplo, o cinema. É necessário que seja criado uma
história que agrade um número grande de fãs, que sejam criados os padrões do tipo, mocinho e
vilão, o galã e a donzela, os finais felizes. No fundo toda arte segue um protótipo, sem espaço
para algo novo. Adorno e Horkheimer afirmavam que a máquina capitalista de reprodução e
distribuição da cultura estaria apagando aos poucos tanto a arte erudita quanto a arte popular.
O sentido de indústria cultural aqui apresentado, não irá se referir aos meios de comunicação,
mas sim como uma indústria cultural que molda e que deixa explícito tal moldação. Explícito,
pois se apresenta no confronto de ideias de diferentes ideologias, diferente do conceito
moderno, onde autores acreditavam que a indústria cultural podia agir no inconsciente humano,
sendo assim uma maneira não tão exposta quanto no período em questão, o iluminismo.
Diferente do pensamento de Adorno ao escrever o livro “A indústria Cultural e Sociedade” e
dedicar um capítulo intitulado, “O iluminismo como mistificação das massas” apresento uma
outra proposta, “O iluminismo como definição das massas”. Definição, pois se tem uma coisa
que não existia ou não era evidente no iluminismo, era a não opinião de um determinado ponto
de vista. Karl Marx (1818 – 1883) irá colocar “a luta de classes como motor da história”2. Ou
seja, a história é movida por dois lados (classes) que através dos conflitos de seus interesses
moveram e movem a história. Cabe a indústria cultural desempenhar o papel de definição dessas
classes. E aqui é o momento em que o iluminismo é visto não como mistificação, mas como
definição. Mistificar, significa, lograr, mentir, abusar da credulidade de alguém. 3 Nessas
definições, a indústria cultural pode ser entendida como alienação. O mesmo conceito usado
1
Aluno Graduando em Filosofia pela Faculdade Dehoniana, Taubaté-SP
Manifesto do Partido Comunista, 1848.
3
Dicionário Online Priberam.
2
por Marx, não no sentido do capitalismo, mas no sentido do que é produzido, (neste caso, a
maneira de pensar) não fazer parte daquele indivíduo. Coisa totalmente difícil para uma época
onde tudo passava pelo crivo da razão. O iluminismo, período este conhecido pela maneira
crítica de se pensar as coisas, é o momento do período moderno onde a diferença de pensamento
está mais acentuada. Isto se dá em todo período da história. Se considerarmos o dualismo entre
o platônico e o aristotélico no período antigo. O pensamento teológico versus o pensamento
filosófico no período medieval. E o pensamento empirista versus o pensamento racionalista no
período moderno. Para marxistas, esses dualismos seria a luta de classes, que pode facilmente
ter uma relação com a indústria cultural. Se acreditarmos que exista essa relação e que a
dualidade no pensamento não é mera coincidência, podemos relacionar a indústria cultural não
somente ao período moderno, mas a toda história, seja da humanidade, como também da
filosofia. Porém, vamos limitar a esse período. A própria conceituação de moderno, já é um
conflito. Se é moderno, é moderno em relação a que? Ou a quem? Claro que nesse sentido de
moderno, não podemos atentar somente à modernidade tecnológica, mas também ideológica.
Moderno nesse sentido ideológico, é romper. Romper com o período anterior, denominado
pelos pensadores iluministas como a “Idade das trevas”. Tanto que se o observarmos o período
moderno, podemos constatar que a influência cultural-ideológica nos remete ao pensamento
greco-romano. O moderno rompe com o medieval por acreditar nas sombras (sombras essas
criadas por pensadores iluministas) que inibiram o progresso filosófico. O iluminismo produziu
correntes no âmbito religioso. (Lembrando que este período também foi um período de crítica
aos dogmas religiosos e à tradição católica.) O Deísmo, surge como uma proposta de “religião
natural ou da natureza” embora não fosse considerada uma religião, mas um pensamento, uma
corrente filosófica. Embora a natureza deste trabalho seja mostrar o dualismo no pensamento
Empírico e Racionalista como produtos da indústria cultural, os dados diferentes desta natureza
servem para ilustrar as produções desse período a nível de complemento de informação. O
ponto de partida desses filósofos, (empiristas e racionalistas) não são de questões do problema
do Ser, mas do conhecer.
O empirismo, vem a ser a principal corrente filosófica a ser colocada em “confronto”
com a corrente vigente que seria o racionalismo. O empirismo defende a tese que, em última
análise a origem fundamental do conhecimento está na experiência sensível.4 Embora esse
pensamento já esteja preconizado nas ideias de Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) ao citar que
“Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos". É neste ambiente cultural que o
4
Blog Filosofia-Sociologia
empirismo e o racionalismo moderno se desenvolvem. Um dos grandes precursores do
empirismo – e por sinal também um dos ideólogos do moderno método científico – foi Francis
Bacon (1561-1626). Dizia ele que todo conhecimento tinha que ser baseado em dados da
experiência. As informações, no entanto, deveriam ser reunidas e utilizadas de acordo com um
método de modo a possibilitar fazer inferências cientificamente aproveitáveis. Temos como
exemplo alguns filósofos e seus pensamentos a respeito desta corrente:
Thomas Hobbes (1588 – 1679): A filosofia é a ciência dos corpos: Acredita que a
filosofia é a ciência dos corpos. Pode ser dividida em naturais (filosofia da natureza) e artificial
(filosofia política). Tudo que não se enquadra como corpóreo não é filosofia. Para ele bem é
aquilo que tendemos, e mal aquilo que fugimos, e cada um decide o que é bom para si.
John Locke (1632 – 1704): A experiência sensível como fonte das ideias: A experiência
sensível como fonte das ideias. Combate a doutrina que o homem tinha ideias inatas, não
acreditava que existia poder inato, poder vindo de Deus. Ele dizia que o poder deveria nascer
da vivência e experiência das pessoas de uma sociedade, e comparou a nossa mente a uma
Tábula Rasa, que seria como um papel em branco, e que com o passar do tempo e as
experiências vividas aquela folha iria sendo preenchida.
David Hume (1711 – 1776): A força do hábito em nossas ideias. Formulou a sua teoria
do conhecimento. Dividiu, primeiramente, tudo aquilo que percebemos em impressões e ideias:
Impressões referem-se aos dados fornecidos pelos sentidos, como, por exemplo, as impressões
visuais, auditivas, táteis. Ideias referem-se às representações mentais (memória, imaginação,
etc.) derivadas das impressões.
Enquanto os racionalistas defendiam as ideias inatas, os empiristas argumentavam
contra a tese da existência de ideias inatas, e defendiam que o processo de conhecimento
depende da experiência sensível.
Já os racionalistas diziam que além do conhecimento pela experiência sensível, há
principalmente o conhecimento pela razão.5 Pensamento preconizado por Platão (427 a.C. - 347
a.C.) Ao afirmar que ”para chegar à verdade era preciso ultrapassar os dados da experiência,
falhos e mutáveis, e alcançar o mundo da Ideias, princípios eternos e perfeitos” A escola
racionalista, inaugurada por René Descartes (1596-1650), tem um posicionamento diferente em
relação à maneira como é adquirido o conhecimento. Vivendo em um ambiente diferente dos
5
Blog Filosofia-Sociologia
empiristas, assolado por guerras (Guerra dos 30 anos de 1618 a 1648) e perseguições religiosas
(Massacre de São Bartolomeu em 1572), os filósofos racionalistas foram mais apegados a
conceitos imutáveis, como os das ciências teóricas (matemática e geometria).6 Temos como
exemplo alguns filósofos e seus pensamentos a respeito desta corrente:
Nicolas Malebranche (1638-1715): Malebranche descarta o valor das sensações e
experiências não validadas pelo conhecimento e raciocínio lógico afirmando o valor único das
ideias na formação do conhecimento. Desta forma, as ideias, sendo necessárias de forma
absoluta ao conhecimento, não podem ter sua origem nas sensações ou experiências, mas tem
que ser inatas e imanentes na alma do homem, sendo provenientes dos arquétipos eternos e
imutáveis, próprios unicamente de Deus.
Baruch Espinosa (1632-1677): Desenvolveu um racionalismo radical, que se
caracterizou pela crítica às superstições religiosa, política e filosófica. De acordo com Espinosa,
a fonte de toda superstição é a imagem incapaz de compreender a verdadeira ordem do universo.
Como é incapaz de conhecer verdadeiramente, a imaginação credita a realidade a um Deus
transcendental. E voluntarioso, nas mãos de que os homens não passam de joguetes. A partir da
superstição religiosa, desenvolvem-se as superstições políticas e filosóficas.
Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716): O racionalismo de Leibniz questiona o papel
de Deus na fundamentação do conhecimento e da razão. Para ele, o mundo foi criado por Deus
e estaria impregnado de racionalidade e, neste sentido, Deus não pode romper sua própria lógica
e agir sem razões. Nesta perspectiva, Deus calcula vários mundos possíveis e faz existir o
melhor desses mundos e, desse modo, a capacidade de pensar que o ser humano possui também
foi dada por Deus.
Este conhecimento pode ser obtido através da análise racional, com a qual é possível
apreender a natureza verdadeira e imutável das coisas. Mas como fazer a análise racional? A
resposta a esta questão, encontrada por Descartes, foi que o conhecimento válido não provém
da experiência, mas encontra-se inato na alma. Em relação ao método para atingir este
conhecimento, o filósofo francês propõe colocar em dúvida qualquer conhecimento que não
seja claro e distinto.
Como podemos perceber, o dualismo entre empirismo e racionalismo, não criou uma
diferença em seus métodos, como também um novo dualismo entre Ciência (empirismo) e
6
Site Consciência.Org
Religião (racionalismo). Enquanto o empirismo busca explicar a origem do conhecimento,
através de experiências sensoriais e que fazer parte do mundo que nos cerca, os principais
teóricos do racionalismo, buscam uma explicação ao conhecimento de fontes divinas. Essa
problemática estende-se até os dias de hoje, sendo uma das principais aporias para o diálogo
entre ciência e religião.
Concluo com a afirmação de que o iluminismo não é um período onde há uma
mistificação, ou mitificação da massa. A indústria cultural é só um termo contemporâneo para
uma coisa que se não for intrínseca à vida e à história humana, passou a ser a partir do momento
em que foi pensada e refletida. Nesse período as coisas estão bem definidas. Primeiro por
acreditar que foi um período onde tudo era muito bem pré-avaliado pelos racionalistas, e tudo
bem pós-avaliado pelos empiristas. Embora haja os estudos nessas duas escolas de
pensamentos, é interessante perceber a reflexão que surge após conhecer o tema. Qual será o
limite da razão, será que podemos antes conhecer sem ter a experiência sensível? Se não, como
explicar casos em que pessoas após sofrerem um certo acidente, voltaram fazendo coisas, como
por exemplo: tocar piano de uma forma deslumbrante sem nunca mesmo ter feito uma aula? A
solução para essa dicotomia, será dada por Immanuel Kant (1724 – 1804), que estuda
detalhadamente esse processo.
Referências Bibliográficas:
ADORNO. Theodor. W. Indústria Cultural e Sociedade, 5ª edição, São Paulo. Editora Paz e
Terra. 2002.
MARX.
Karl.
Manifesto
do
partido
Comunista,
2001.
Disponível
em:
<http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_fontes/acer_marx/tme_07.pdf/> Acesso em: 25 de
nov. 2016
Dicionário Priberam: Disponível em: < http://www.priberam.pt/dLPO/mistificar> Acesso em:
25 de nov. 2016
Site: Disponível em: < http://www.consciencia.org/empirismo-e-racionalismo> Acesso em: 25
de nov. 2016
Blog:
Disponível
em:
<http://filosogiasociologia.blogspot.com.br/2011/09/filosofia-
empirismo-e-iluminismo.html> Acesso em: 25 de nov. 2016
Download