Cláudia Furtado, Licenciatura de Pintura

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Faculdade de Belas Artes – Pintura 2013/2014
Cláudia Sofia Marques Furtado nº7676
História da Arte I – Professor Luís Jorge Gonçalves
O Significado nas Artes Visuais - Iconografia e Iconologia: U
ma Introdução ao Estudo da Arte do Renascimento
Erwin Panofsky
Cláudia Furtado, Licenciatura de Pintura
2013/2014
Índice
Introdução..................................................................................................................... 3
Biografia do autor – Erwin Panofsky ..................................................................... 3
Obras publicadas ................................................................................................... 3
Desenvolvimento .......................................................................................................... 5
Parte I ....................................................................................................................... 5
A Iconografia ........................................................................................................ 5
A Iconologia ......................................................................................................... 5
O Significado ........................................................................................................ 5
O rigor do uso dos três níveis de análise ................................................................ 6
Parte II ...................................................................................................................... 6
Questões da Iconografia e da Iconologia no Renascimento .................................... 6
Relação com a obra de Giulio Argan – Método Iconológico .................................. 8
Conclusão ..................................................................................................................... 9
Bibliografia ................................................................................................................. 10
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Introdução
Este trabalho foi proposto no âmbito da disciplina de História da Arte I, com o objetivo
de resumir o capítulo I, que se intitula Iconografia e Iconologia: Uma Introdução ao Estudo da
Arte do Renascimento, da obra O Significado nas Artes Visuais da autoria de Erwin Panofsky. N
o final, será feita uma pequena referência à obra de Giulio Argan, Guia de História da Arte.
Biografia do autor – Erwin Panofsky
Erwin Panofsky nasceu a 30 de Março de 1892, em Hanover, na Alemanha. Estudou na
Universidade de Berlim, de Munique e, em 1914, licenciou-se em Friburgo, sendo que a sua tes
e incidia-se sobre o pintor Albrecht Dϋrer. Foi também discípulo de Aby Warburg, um célebre h
istoriador da arte alemão, conhecido pelos seus estudos sobre o reaparecimento do paganismo n
o renascimento italiano, nos quais Panofsky se inspirou para criar algumas das suas teorias. Tor
nou-se professor de História da Arte na Universidade de Hamburgo, entre 1921 e 1933, época e
m que o seu reconhecimento como crítico e historiador foi aumentando. É durante estes anos qu
e começa a desenvolver a ideia da iconografia e da iconologia nas obras de arte e é a partir deste
s estudos que se torna num dos principais representantes do método iconológico.
O método iconológico é um tema que começa a ser explorado pela primeira vez num en
saio, datado de 1930, onde Panofsky criticava Wolflin, defendendo que mesmo numa análise m
enos elaborada feita a uma obra de arte, haverá sempre uma relação entre conteúdos e aspectos f
ormais. Panofsky serve-se da obra de Mathias Grunewald, Ressurreição de Cristo, e escreve o li
vro O Significado nas Artes Visuais, que é publicado em 1989, onde explicita a sua teoria acerca
deste método de interpretação de uma obra de arte e que está dividido em duas partes.
Obras publicadas
Na seguinte lista, seguem-se as várias obras de Erwin Panofsky:
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“Dürers Kunsttheorie, 1915
Dürers "Melencholia I", 1923
Deutsche Plastik des elften bis dreizehnten Jahrhunderts, 1924
A Late-Antique Religious Symbol in Works by Holbein and Titian, 1926
Über die Reihenfolge der vier Meister von Reims, 1927
Das erste Blatt aus dem 'Libro' Giorgio Vasaris, 1930
Hercules am Scheidewege und andere antike Bildstoffe in der neueren Kunst, 1930
Classical Mythology in Mediaeval Art, 1933
Codex Huygens and Leonardo da Vinci's Art Theory, 1940
Albrecht Dürer, 1943
The Life and Art of Albrecht Dürer (4ª edição em 1955)
Abbot Suger on the Abbey Church of St. Denis and Its Art Treasures, 1946
Postlogium Sugerianum, 1947
Style and Medium in the Motion Pictures, 1947
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Gothic Architecture and Scholasticism, 1951
Early Netherlandish Painting: Its Origins and Character, 1953
Meaning in the Visual Arts, 1955
The Life and Art of Albrecht Dürer, 1955
Gothic Architecture and Scholasticism, 1957
Renaissance and Renascences in Western Art, 1960
The Iconography of Correggio's Camera di San Paolo, 1961
Studies in Iconology, 1962
Tomb Sculpture, 1964
Problems in Titian, Mostly Iconographic, 1964
Dr. Panofsky and Mr. Tarkington, 1974
Perspective as Symbolic Form, 1991
Three Essays on Style, 1995”
E as suas obras editadas são:
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A Perspectiva como Forma Simbólica
Arquitetura Gótica e Escolástica: sobre a analogia entre arte, filosofia e teologia na
Idade Média
Estudos de Iconologia - Temas Humanísticos na Arte do Renascimento
Idea: a evolução do conceito de belo
O desenvolvimento do discurso e dos conceitos científicos
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Desenvolvimento
Parte I
Na primeira parte, para melhor compreendermos a temática deste capítulo, o autor Erwi
n Panofsky esclarece-nos os conceitos “Iconografia” e “Iconologia”.
A Iconografia
A Iconografia é, primeiramente, definida como “o ramo da história da arte que se ocupa
do significado […] das obras de arte em oposição à sua forma”. A partir desta afirmação, o auto
r deixa-nos bem explícito que os conceitos “significado” e “forma” são opostos quando nos refe
rimos à análise de uma obra de arte. Derivada da palavra grega “Eikôn”, cuja tradução é “image
m” e de “Graphein”, que significa “escrever”, a Iconografia é “o estudo da descrição de imagens
e fonte de informações para uma melhor análise de obras de arte.” Este ramo fornece informaçõ
es relevantes como datas, proveniências e mesmo bases necessárias para a interpretação de qual
quer objecto artístico.
A Iconologia
Por sua vez, a Iconologia, derivada da palavra “Logos” que significa “pensamento” ou “
razão”, denota um processo interpretativo, que é caracterizado por uma faculdade essencial – a i
ntuição sintética - no qual o método de investigação deriva da síntese. No entanto esta intuição t
em de ter em conta o modo como as tendências do espírito humano se alteram sob determinadas
condições históricas. Panofsky afirma que “a correta análise das imagens, histórias e alegorias é
o pré-requisito de uma correta interpretação iconológica”. Ou seja, a Iconologia é a “parte do es
tudo da arte que não se limita a uma análise formal, uma descrição de formas, mas sim a uma int
erpretação mais profunda, de entendimento da obra, para um possível entendimento histórico-cu
ltural e social em que se inserem.”
O Significado
Panofsky inicia o seu livro fazendo um paralelismo entre a análise de uma acção quotidi
ana e a de uma obra de arte. O fruto desta análise é o "significado". Porém, o significado pode s
er dividido em três estratos:
- O significado primário ou natural que pode ser factual, refere-se à identificação de objectos e
factos, ou expressional, quando associado à identificação de aspectos psicológicos e expressões.
“É apreendido pela identificação das formas em si (linhas, cores, suporte) como animais, planta
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s, seres humanos, posições, gestos e atmosferas.” É neste significado que demonstramos o nosso
conhecimento prático, as nossas experiências práticas. No ato de interpretação, este correspond
e à descrição pré-iconográfica, que advém sobretudo do senso comum, baseado na experiência p
rática.
- O significado secundário ou convencional que é apreendido através do conhecimento de temas
, histórias, alegorias, isto é, corresponde à análise iconográfica. É aqui que demonstramos o noss
o conhecimento literário ou cultural.
- E por último, o significado intrínseco ou conteúdo que é apreendido tendo em conta o contexto
histórico-social e das características da personalidade do artista. Este está ligado à interpretação
iconológica.
O rigor do uso dos três níveis de análise
Porém, no final desta explicação, chegamos a uma questão bastante importante: “Como
podemos então atingir alguma exactidão ao utilizarmos estes 3 níveis de análise?” A resposta a
esta pergunta está na submissão destas etapas a um processo de correcção, denominado: História
da Tradição. Também este processo se divide em três partes: a História dos estilos (associada a
o significado primário), a História dos tipos (que se relaciona com o significado secundário) e a
História dos sintomas culturais (compreendida no significado intrínseco).
A primeira é a “visão compreensiva do modo como, sob condições históricas variáveis,
objectos e eventos são expressos por formas”. A segunda é a “visão compreensiva do modo com
o, sob condições históricas variáveis, temas e conceitos específicos são expressos por objectos e
eventos”. E a última é a “visão compreensiva do modo como, sob condições históricas variáveis,
tendências essenciais do espírito humano foram expressas por temas e conceitos específicos”.
Parte II
Questões da Iconografia e da Iconologia no Renascimento
Na segunda parte, Panofsky reflecte sobre as questões da iconografia e da iconologia no
Renascimento.
Os primeiros historiadores de arte, como Lorenzo Ghiberti, Leone Battista Alberti e Gio
rgio Vasari, pensavam que a Arte Clássica tinha desaparecido no início da Era Cristã e que não t
inha sido revivida até ser a base para o aparecimento do Renascimento, sendo apontada a razão
do seu desaparecimento as invasões do povo bárbaro e a hostilidade dos primeiros padres cristã
os. Contudo, a Arte Clássica não desaparecera, apenas a Arte Medieval desinteressara-se pela ob
servação e análise de certas obras e adquirira um estilo próprio, apoiado no uso de motivos cláss
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icos representados por temas pagãos e temas pagãos representados por motivos clássicos. Por ex
emplo: os temas pagãos da arte clássica eram transformados segundo a ideologia cristã.
Com a intenção de proporcionar um entendimento mais claro da Antiguidade Clássica,
os filósofos gregos começaram a interpretar os seus deuses e semi-deuses como personificações.
Desta forma, o público podia ler as escrituras antigas feitas por estes filósofos. Sobreviveram e
ntão as informações mitológicas, que os artistas medievais exploraram e desenvolveram nas div
ersas áreas. São visíveis “casos da sobrevivência contínua e tradicional dos motivos clássicos, al
guns dos quais foram usados sucessivamente para uma grande variedade de imagens cristãs”. Es
ta afirmação pode ser atestada quando, por exemplo, “a figura de Orfeu foi empregada para repr
esentar Davi”. Porém, há casos em que a relação entre o “protótipo clássico e a sua adaptação cr
istã é apenas composicional”.
A utilização de motivos clássicos em contextos não clássicos, assim como a aplicação d
e temas clássicos a cenários não clássicos, parece evidenciar uma diferença entre a tradição repr
esentacional e textual. Os artistas medievais agiam “sob a impressão dos modelos que tinham di
ante dos olhos”, quer tenham copiado directamente, quer tenham imitado através de uma “série
de transformações intermediárias” ou então traduziam “em imagens uma simples descrição enco
ntrada em fontes literárias”.
O conhecimento dos temas clássicos só foi possível através da tradição textual, e a sua tr
ansmissão até à Idade Média foi da máxima importância, não só para os artistas medievais como
também para “o estudioso da iconografia renascentista”. Foi a partir dessa “tradição complexa”,
que muitos artistas adquiriram noções de mitologia clássica e temas relacionados.
Contudo, quando se formou um novo estilo na Idade Média, a tradição clássica foi aban
donada em favor de representações de carácter não-clássico, pois os artistas elaboravam as suas
obras de maneira completamente diferente daquilo que liam nos escritos. As imagens clássicas s
ão assim excluídas por completo quando a Idade Média atinge o seu expoente máximo e só no R
enascimento é que voltam a ser integradas.
Como Panofsky afirma “tudo isto atesta que a separação entre os temas clássicos e os m
otivos clássicos se deu, não apenas por falta de tradição representacional mas também a despeito
dela”. Qualquer obra que respeitasse o tema e motivos clássicos era rapidamente abandonada p
ara dar lugar a uma outra que seguisse o estilo da época medieval. “Foi um privilégio da verdad
eira Renascença reintegrar os temas com os motivos clássicos depois de um intervalo que pode s
er chamado de hora zero”.
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Na época medieval, não era possível a compreensão dos motivos e temas clássicos e por
isso estabeleceu-se um novo caminho, que passou a não conseguir aceitar/compreender tudo aq
uilo que não estivesse ligado ao mundo contemporâneo. Era então impossível conceber-se obras
que representassem a componente mitológica fortemente presente na Antiguidade Clássica, um
a vez que na Idade Média se procurava representar toda atmosfera e quotidiano dos cortesãos (te
mática ligada à época).
Por isso, a reintegração dos motivos e temas clássicos não surgiu só a partir de uma mud
ança no mundo mas também na própria mentalidade do homem.
Relação com a obra de Giulio Argan – Método Iconológico
Tal como Panofsky, também Giulio Argan escreveu sobre o método iconológico no seu
livro Guia de História da Arte.
Para Argan, o método iconológico “parte da premissa de que uma actividade artística te
m impulsos mais profundos, ao nível do inconsciente individual e colectivo”. Este autor afirma
ainda que a “iconografia é diferente da iconologia” pois, num caso ou noutro, “o que conta […]
é a imagem”. Defende ainda que “o [significado] é sempre uma componente da obra” porque qu
alquer análise ou interpretação feita a um objecto artístico não o pode desprezar.
Segundo o autor deste livro, o método iconológico permite uma análise ainda mais exte
nsa que qualquer outro método e acrescenta que “não é correto dizer-se […] que o método icono
lógico não é um método histórico, [pois] ele estuda e descreve processos peculiares da cultura d
a imagem, que explicam a sua maneira específica de evoluir e difundir-se.”
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Conclusão
Este trabalho tem como finalidade esclarecer o papel da Iconografia e Iconologia como
parte importante do método iconológico, apresentado no livro de Erwin Panofsky, O Significado
nas Artes Visuais, mais precisamente no capítulo I.
Resumindo, a Iconografia resume-se à descrição de imagens e a Iconologia à análise des
tas, e ambas são partes integrantes de um método que visa interpretar com fidelidade as obras de
arte. Panofsky apresenta o significado ou assunto da obra de arte dividido em três estatos: prim
ário (descrição pré-iconográfica), secundário (análise iconográfica) e intrínseco (interpretação ic
onológica).
É levantada ainda uma questão acerca da exactidão destes três níveis e a resposta é dada
através da utilização da História da Tradição, um processo de correcção que se divide, também,
em três partes: História dos estilos, dos tipos e dos símbolos culturais.
No final, é feita uma relação temática com a obra de Giulio Argan, que também escreve
acerca do método iconológico, considerando-o o mais capacitado de analisar qualquer objeto art
ístico.
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Bibliografia
PANOFSKY, Erwin (1989), Iconografia e Iconologia: uma Introdução ao Estudo da Arte do R
enascimento in O Significado nas Artes Visuais. Lisboa: Presença.
ARGAN, Giulio Carlo (1994), Guia de História de Arte, (pp. 37-40). Lisboa: Editorial Estampa.
Dictionary of Art Historians, Panofsky, Erwin, known as “Pan” http://www.dictionaryofarthisto
rians.org/panofskye.htm (acedido a 22/09/2013)
Arte Sacra Cristã, Erwin Panofsky e a Iconografia http://artesacracrista.blogspot.pt/2008/02/erw
in-panofsky-e-iconografia.html (acedido a 22/09/2013)
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