ORLANDO ERNESTO JORQUERA CORTÉS AVALIAÇÃO TÉCNICA DA UTILIZAÇÃO DE H2S NO TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS ÁCIDOS CONTENDO METAIS PESADOS Dissertação apresentada ao Curso de pós-graduação em Gerenciamento e Tecnologia Ambiental no Processo Produtivo, Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Pablo Rodrigo Fica Piras Salvador 2005 C831a Cortés, Orlando Ernesto Jorquera Avaliação técnica da utilização de H2S no tratamento de efluentes líquidos ácidos contendo metais pesados. / Orlando Ernesto Jorquera Cortés. – Salvador, 2005. 105 p.; il. Orientador: Dr. Pablo Rodrigo Fica Piras Dissertação (Mestrado em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo). – Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica, 2005. 1. Biotecnologia – Indústria – Aspectos ambientais. 2. Resíduos industriais – Aspectos ambientais. 3. Metais pesados. I. Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica II. Piras, Pablo Rodrigo Fica. III. Título. CDD 660.6 2 3 4 A minha mãe Maria Eugenia por tanto carinho, paciência, e apoio; meu avô Carlos que sempre tenho em minhas lembranças, meu pai Orlando, meus irmãos Rodrigo e Paula, meu sobrinho Vicente, meus sogros e minha esposa Duda. 5 AGRADECIMENTOS À Suzete, pela sorte de a ter conhecido. Seu apoio e carinho. Ao Asher por seus conselhos, brincadeiras e por entregar uma visão especial do como nos comportar com nosso meio ambiente. Aos meus companheiros de projeto, Alexandre, Johab, Mônica, Ana Carolina, Christiane e Katyuska. Aos meus companheiros do TECLIM, Ligia, Linda, Jaqueline e Eliana, pela sua amizade e carinho. À minha esposa Duda pelo carinho e muita paciência. Aos meus sogros Eduardo e Siomara por seu apoio e carinho. Aos meus amigos de aventuras submarinas, especialmente Edinilso Aos meus amigos de aventuras no caminho da aceitação do outro como legítimo outro na convivência humana (Aikido). Aos meus amigos Eric e Loreto pelo seu apoio, idéias e maluquices Ao Ernesto Raizer, pela disponibilização do trabalho ainda não publicado e pela orientação desta dissertação. Ao Julio pela sua amizade e aventuras intelectuais que enriquecem a alma. Ao Pablo pelo seu apoio e contribuição no desenvolvimento desse trabalho E, finalmente, à minha família que sempre me apóia, não importando o lugar do planeta onde me encontre. A todos, muito obrigado. 6 De los cerros abruptos, de la altura verde, saldrá el cobre de Chile, la cosecha más dura de mi pueblo, la corola incendiada, irradiando la vida y no la muerte, propagando la espiga y no la sangre, dando a todos los pueblos nuestro amor desenterrado, nuestra montaña verde que al contacto de la vida y el viento se transforma en corazón sangrante, en piedra roja. Pablo Neruda 7 RESUMO Este trabalho teve como objetivo principal o estudo da viabilidade técnica de implementação de um processo para a produção de H2S por bactérias redutoras de sulfato (BRS), a ser utilizado na precipitação de metais pesados, contidos em efluentes industriais líquidos ácidos, provenientes do sistema de lavagem de gases de uma planta de obtenção de cobre blister. Os efluentes ácidos gerados foram caracterizados, permitindo identificar a composição e concentração dos efluentes gerados em cada operação unitária do sistema de lavagem de gás da Unidade de Ácido Sulfúrico (UAS). Particular ênfase e atenção dedicaram-se ao desenvolvimento de uma tecnologia para a geração biológica de H2S e sua utilização na precipitação de metais pesados, através de bactérias redutoras de sulfato em um reator do tipo gas-lift, permitindo estabelecer a viabilidade técnica deste processo. O processo foi modelado matematicamente, e avaliou-se o comportamento dinâmico do sistema mediante os balanços de massa do sistema de geração e tratamento dos efluentes. Os resultados indicaram que o melhor substrato para cultivar as bactérias é enxofre como doador de elétrons e etanol como fonte de energia. O bioprocesso possibilita a remoção dos metais pesados permitindo um ganho econômico e ambiental com a disposição dos sulfetos gerados, os quais podem ser comercializados como concentrados de zinco e cobre. Os modelos indicaram que o reator chega ao seu estado estacionário com aproximadamente 8 meses de operação, gerando o H2S necessário para as necessidades da planta. Um biorreator em escala de laboratório foi construído e na sua caracterização física foram confirmados os valores teóricos descritos na literatura. Devido à baixa taxa de crescimento especifica dos microorganismos sulfato-redutores, não foi possível avaliar a biogeração de H2S no escopo deste trabalho. No entanto, com a adição de Na2S foi simulada a remoção de metais e caracterizados os sulfetos produzidos. Palavras- chave: Produção biológica de H2S; bactérias redutoras de sulfato; recuperação de metais pesados; efluentes ácidos industriais, modelagem de bioprocessos. 8 Abstract This work had as objective main the study of the technical viability of implementation of a biotechnological process for H2S production, by the sulfate reducing bacteria (SRB) that was used in the heavy metal precipitation contained in acid industrial liquid effluent, from the washing system gases in a blister copper smelting plant. The acid effluent had been characterized, allowing identify to the generated composition and concentration of the effluent generated in each unit operation of the system of gases washing from Sulfuric Acid Unit (SAU). Particular emphasis and attention had dedicated the development to technology for the biological generation of H2S and its use in the heavy metal precipitation, through sulfate reducing bacteria in a gas-lift reactor, allowing establishing the viability technique of this process. The process was mathematically modeled, and evaluated the dynamic behavior of the system based in mass balance of the generation system and treatment of the effluent. The results had indicated that the best substratum to cultivate the bacteria is sulfur as electron donor and ethanol as energy source. The bioprocess make possible the removal of heavy metal allowing a economic and environmental profit with the disposal of the sulfate generated, which can be commercialized as concentrated of zinc and cooper. The models had indicated that the reactor approximately stationary arrives state with 8 months of operation, having generated the necessary H2S for the petitions of the plant. The bioreactor in laboratory scale was constructed and in its physical characterization the described theoretical values in literature had been confirmed. Due to low growth tax specifies of the sulphate-reducing microorganisms, was not possible to evaluate the bio-generation of H2S in this work. However, with the addition of Na2S the metal removal was simulated and characterized the sulfide produced. Keywords: Biological production of H2S; reducing sulfate bacteria; heavy metals recovery; effluent acid; industrials, modeling of bioprocess. 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Esquema do processo de eletrodiálise. 22 Figura 2: Solubilidade dos sulfetos metálicos (mg/L) v /s pH (EPA, 1981). 27 Figura 3: Solubilidade dos hidróxidos metálicos (mg/L) versus pH (EPA, 1981). 27 Figura 4: Unidade de lavagem de gás da planta de produção de ácido sulfúrico (UAS). 32 Figura 5: Fluxograma de processo indicando as diferentes operações unitárias relacionadas ao processo de lavagem dos gases provenientes do forno da fundição. 33 Figura 6: Fluxograma do processo de fundição, indicando a lavagem de gás e a proposta de tratamento dos efluentes gerados. 34 Figura 7: Pontos de amostragem na unidade de ácido sulfúrico (UAS). 38 Figura 8: Partes do biorreator tipo gas- lift. 45 Figura 9: Esquema da malha de controle para o biorreator proposto. 49 Figura 10: Interfase gráfica desenvolvida no Elipse Scada 50 Figura 11: Esquema do sistema de controle CLP-computador-biorreator. 50 Figura 12: Foto do biorreator em escala de laboratório. 51 Figura 13: Sistema de controle (CLP) e interface gráfica. 52 10 Figura 14: Diagrama de blocos indicando os dois sistemas principais para a produção de H2S e precipitação dos metais pesados, sendo F= vazão dos efluentes e Fg = vazão de gás. 53 Figura 15: Vazão das diferentes correntes que entram no sistema de tratamento de efluentes (UTE) na Caraiba Metais. S.A. 58 Figura 16: Imagem dos efluentes obtidos nos pontos P1, P3, P5 y P6 respectivamente. 59 Figura 17: Concentração em mg /l versus ponto de amostragem na unidade de lavagem de gás da UAS. 61 Figura 18: Carga (kg/h) dos metais em função de cada ponto de amostragem e sua comparação com o histórico. 62 Figura 19: Hold-up v/s velocidade superficial do gás no riser (m/s) 67 Figura 20: Correlação entre hold-up experimental e hold-up teórico descrito por Gavrilescu (1999), para o biorreator contendo a solução de cultivo. 68 Figura 21 : Esquema do processo a ser simulado. 74 Figura 22: Gráficos de biomassa, substratos e produção de H2S versus tempo baseados nos modelos dinâmicos e considerando o modelo descrito por Rizer Neto. 80 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Tecnologias para remoção dos metais pesados (Eccles, H., 1999). 24 Tabela 2: Concentração dos metais pesados que entram na UTE. 56 Tabela 3: Carga dos metais pesados (kg/h) que sai das diferentes unidades e que entram na unidade de tratamento de efluentes (UTE). Refere-se a outros efluentes os efluentes provenientes da granulação, desmineralização, ladfill,eletrolise e piso fundição. 57 Tabela 4: Aporte relativo em % dos metais que entram na UTE, calculado referente á carga total. 57 Tabela 5: Concentração dos metais pesados presentes nos distintos efluentes que são gerados no sistema de lavagem de gás na UAS. 60 Tabela 6: Carga expressada em kg/h para cada operação unitária. 61 Tabela 7: Preço dos metais com relação ao efluente da UAS, cotizados na bolsa de metais de Londres. 63 Tabela 8: Preço dos metais com relação ao efluente do lavador, cotizados na bolsa de metais de Londres. 64 Tabela 9: Preço dos metais com relação ao efluente do ácido negro, cotados na bolsa de metais de Londres 65 Tabela 10: Preço dos metais com relação ao efluente da laminação que entram na UTE cotados na bolsa de metais de Londres 65 12 Tabela 11: Preço dos metais com relação ao efluente da mistura dos outros efluentes que entram na UTE sem considerar a UAS, ácido negro, laminação e o Lavador, cotizados na bolsa de metais de Londres. 66 Tabela 12: Correlaciones teóricas, parâmetros geométricos e experimentais. 67 Tabela 13: Concentração de H2S em kg H2S /ano necessários para a precipitação dos principais metais pesados 70 Tabela 14: Balanços de massa dinâmicos do sistema de produção de H2S. 71 Tabela 15: Balanços de massa em estado estacionário do sistema. 73 Tabela 16: Parâmetros cinéticos de projeto. 77 Tabela 17 : Rendimentos teóricos considerados usando metanol como fonte de elétrons (equação 83). 78 Tabela 18: Valores obtidos a partir dos balanços de massa e um efluente a tratar de 32 m3/h. 78 Tabela 19: Valores obtidos a partir dos balanços de massa na fase gasosa. 79 Tabela 20: Dimensionamento dos equipamentos do processo. 79 Tabela 21: Eficiência de remoção dos sulfetos metálicos com H2S a um pH<1 no efluente gerado na unidade de lavagem da UAS (sai do TQ-1105). O Zn pode ser precipitado seletivamente, aumentado o pH do efluente ate pH=5. 81 13 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS UAS Unidade de ácido sulfúrico UTE Unidade de tratamento de efluentes Cyt7, Cyt 3 Citocromo 7, citocromo C3 ORP Potencial de oxido redução CLP Controlador lógico programável. TQ Tanque SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial BRS Bactérias redutoras de sulfato 14 LISTA DE SÍMBOLOS Símbolo Definição Unidade SI A área m2 D taxa de diluição (D=F/V) h-1 D diâmetro m Dr diâmetro interno (riser) m Dw diâmetro externo (downcomer) m F fluxo volumétrico (gases e líquidos) m3/h hl profundidade de um líquido m h, ht altura total m Ks coeficiente de saturação, (Monod) kg/m3 (g/l) m massa kg, t p pressão psig Y x /s taxa específica de produção kmol/(m3*dia) MM massa molecular g/gmol Q, Qg, Ql vazão (gases, líquido) R constante universal dos gases 8314 J/(K*mol) Ri taxa de produção ou consumo mol/(m3 h) Re numero de Reinolds S concentração de substrato kg/m3 T temperatura K, ºC t tempo s V volume m3 v velocidade m/s X concentração de biomassa kg/m3 µ taxa específica de crescimento h-1 µmax taxa específica máxima de crescimento h-1 τ tempo de residência h νsgr Velocidade superficial do gás no riser m/s m3/h Símbolos gregos 15 SUMARIO 1. INTRODUÇÃO. 19 2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS. 21 2.1. Antecedentes. 21 2.1.1. Processo físico – químico. 21 2.1.2. Processos biológicos. Bactérias redutoras de sulfato. 24 2.1.3. Produção biológica de H2S: Fundamentos bioquímicos. 28 2.2. 29 Descrição do produto. 2.2.1. Propriedades físico-químicas do H2S. 29 2.2.2. Toxicologia. 30 2.3. Modelo de estudo. 30 2.4. Justificativa. 34 2.5. Objetivos e projeções. 35 3. MATERIAIS E MÉTODOS 37 3.1. Caracterização dos efluentes. 37 3.1.1. Caracterização dos efluentes ácidos do processo pirometalúrgico de produção de cobre blister. 37 3.1.2. Caracterização dos efluentes da unidade de lavagem de gás da UAS. 37 3.2. Desenvolvimento de diagramas de bloco. 39 3.3. Balanços de massa. 39 3.4. Cinética de crescimento bacteriano. 42 3.5. Dimensionamento de equipamentos 43 3.6. Projeto do biorreator gas-lift. 44 3.6.1. Equações de projeto. 44 3.6.2. Sistema de controle 49 3.7. Diagrama de blocos 52 3.8. Caracterização do biorreator gas-lift. 54 3.9. Médio de cultivo e bactéria utilizada. 54 16 3.10. Ensaios com Na2S para precipitação dos sulfetos metálicos 55 3.11. Modelagem matemática. 55 4. RESULTADOS 56 4.1. Estudo e caracterização do processo de geração de efluentes ácidos com metais pesados. 56 4.1.1. Caracterização dos efluentes totais. 56 4.1.1.1. Aporte relativo de metais pesados na UTE. 56 4.1.1.2. Fluxo mássico de efluentes que entram na Unidade de Tratamento de Efluentes (UTE). 58 4.1.1.3. Caracterização e segregação dos efluentes gerados na unidade de lavagem de gás da UAS. 59 4.2. Revalorização e reuso de efluentes na unidade de lavagem de gás da UAS. 62 4.3. Preço dos metais 63 4.4. Caracterização do biorreator 66 4.4.1. hold-up e velocidade superficial do gás no riser. 66 4.5. 68 Elementos para o dimensionamento do biorreator. 4.5.1. Exigências para o bioprocesso 68 4.5.2. Biomassa máxima e taxa de produção do produto. 70 4.5.3. Volume do biorreator 70 4.5.4. Modelos dinâmicos. 71 4.5.5. Modelo em estado estacionário 72 4.5.6. Biorreator gas-lift. 73 4.5.7. Reator de precipitação (contator gás –líquido). 74 4.5.8. Comparação econômica das possíveis reações químicas. 75 4.5.9. Parâmetros cinéticos e balanços em estado estacionário. 77 4.5.10. Modelagem matemática 79 4.6. 80 Ensaios de laboratório. 4.6.1. Crescimento de bactérias redutoras de sulfato no biorreator. 80 4.6.2. Tratamento de efluente ácido da unidade de lavagem de gás da UAS com Na2S. 81 17 5. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES 82 5.1. Caracterização de efluentes 82 5.2. Modelagem matemática 83 5.3. Modo de operação da planta de H2S 84 5.4. Estudos em escala de laboratório 84 5.5. Precipitação dos metais pesados. 85 5.6. Conclusões. 85 5.7. Sugestões 86 6. REFERENCIAS 87 7. APÊNDICE. 93 7.1. Desenho do biorreator tipo gas-lift. 93 7.2. Equações de desenho: cálculo, valores experimentais e teóricos. 95 7.3. Fluxograma de recuperação e custo dos metais 96 7.4. Custo para venda de concentrado (sulfeto metálico) da UAS e do lavador. 97 7.5. Custo para venda do concentrado (sulfeto metálico) da mistura dos efluentes menores. 98 7.6. Desenho metabólico da bactéria Desulfovibrio desulfuricans. 99 7.7. Custos e comparação do uso de sulfeto de sódio e sulfeto de hidrogênio. 100 7.8. Listagem do programa 101 18 1 Introdução A indústria metalúrgica caracteriza-se pelo processamento de grandes quantidades de minérios com baixa concentração no metal de interesse. Conseqüentemente, é também uma grande geradora de resíduos sólidos, líquidos e gasosos. No processo de produção do cobre, por exemplo, o minério está normalmente associado ao ferro, em forma de sulfetos, além de outros elementos metálicos muito prejudiciais ao meio ambiente como o arsênio, cádmio, entre outros. Esses resíduos, especialmente aqueles que contem metais pesados, são rapidamente absorvidos na biosfera, causando sérios danos ambientais, quando descartados sem tratamento. Os principais efluentes de metalúrgicas que contém esses metais são as drenagens das minas e a solução resultante da lavagem dos gases dos processos pirometalúrgicos. Os efluentes ácidos de uma fundição de cobre são reconhecidos mundialmente como causadores de sérios problemas ambientais. Em alguns processos metalúrgicos do cobre, no processo de lavagem de gases, após a fundição desse metal, são gerados aproximadamente 60% dos efluentes ácidos que são enviados para a planta de tratamento de efluentes. Nessa planta os efluentes ácidos são misturados e tratados com um leite de cal para aumentar o pH e, conseqüentemente, precipitar alguns metais pesados na forma de hidróxidos metálicos. Esse processo gera grandes quantidades de lama de gesso contaminada com metais pesados, necessitando ser disposta em um aterro especial, formando, no momento, parte importante do passivo ambiental da empresa. 19 Dessas constatações surgem as seguintes perguntas: Pode-se implementar um sistema biotecnológico, utilizando conceitos de tecnologia limpa, com a finalidade de precipitação seletiva dos metais pesados em efluentes segregados? Pode-se valorizar os efluentes tratados reusando-os e recuperando os metais de valor comercial? Este trabalho tem por objetivo apresentar as várias alternativas tecnológicas de segregação desses metais e, em especial, concentrar-se nos processos de produção de gás sulfídrico ou H2S (proveniente da produção biotecnológica ou da aplicação de Na2S), para utilizá-lo na precipitação dos metais componentes do efluente industrial na forma de sulfetos. 20 2 Fundamentos teóricos 2.1. Antecedentes Um grande número de indústrias (metalúrgica, produção de circuitos eletrônicos, processamento de aço, química fina e produção farmacêutica) descarta uma variedade de metais tóxicos no meio ambiente com o conseqüente dano ambiental. Diferentes métodos têm sido descritos para o tratamento de efluentes ácidos contendo metais pesados, mas poucos são aplicados em escala comercial. Dentre eles, destacam-se os seguintes: 2.1.1 Processos físicos -químicos O mais amplamente utilizado é o processo de neutralização com leite de cal (suspensão aquosa de CaO) ou outros compostos alcalinos (Lens, et al., 1998; Luptakova, A. et al. 2003). Caracteriza-se principalmente pela precipitação dos metais nos respectivos hidróxidos insolúveis. Consiste em misturar o efluente ácido com óxido de cálcio (CaO), gerando sulfato de cálcio (CaSO4, gesso) mais os hidróxidos dos metais pesados (M(OH)α α ≥ 2), sendo esses últimos insolúveis em valores elevados de pH (pH≥7), como é descrito na seguinte equação: MSO4 + CaO + H 2 O → CaSO4 + M (OH ) 2 (1) Podem-se citar outros processos de tratamento de efluentes contendo metais pesados entre eles estão: 21 Eletrodiálise (Pilat, B.V., 2003, Perry, et al., 1999). Consiste em permear o efluente através de uma membrana seletiva para cátions e ânions sob a ação de um campo elétrico. Neste caso, os íons são transportados e concentrados na corrente de salmoura (figura 1). Figura 1: Esquema do processo de eletrodiálise (Perry, et al., 1999). Adsorção seguida de flotação, para recuperação de íons metálicos (Matis, K.A., et al., 2002, Perry, et al., 1999). Inicialmente o efluente é colocado em contato com um material adsorvente (hidroxiapatita, zeólita, goetita, hidrotalcita etc), e em seguida esta fase sólida é separada utilizando o processo de flotação, que consiste na fluidização e separação destas partículas sólidas. A flotação pode ser feita utilizando ar disperso como ar dissolvido e apresenta vantagens econômicas pelo seu baixo investimento inicial, sendo utilizada comumente na água de lavagem de processos minerais. Troca iônica (Curcovic, L.,et al., 1997). O processo consiste na troca de íons, especificamente a substituição dos cátions presentes na matriz do mineral. A estrutura de um silicato de alumínio é composta por SiO4e AlO4-. Os cátions Al3+ e Si3+ precipitam Cd, Zn e Mn presentes em um efluente 22 contaminado. Os silicatos apesar de inócuos são eficientes na remoção de metais pesados em efluentes industriais. O poder de troca iônica dos silicatos de alumínio é uma propriedade natural e com seletividade maior para o chumbo, cádmio, zinco e cobre. A seguinte equação (1) descreve o processo clássico de troca catiônica: M +2 + 2 NaR ⇔ MR2 + 2 Na + (2) Sendo R o sitio aniônico estacionário. Adsorção seqüencial (Yabe, M.J.S., et al., 2003) . Consiste no uso de material absorvente como sílica, carvão ativado e alumina. Normalmente utilizado como sistema de tratamento de polimento, pois sua eficiência é limitada à baixas concentrações de metais pesados (faixa <10 ppm). Extração com solventes (Zhuang,Y., et al., 2000, Perry, et al. 1999). Processo usado desde 1950, consiste no uso de duas fases imiscíveis, usualmente uma fase orgânica, que tem um extractante, e uma fase aquosa, que contém o metal. As duas fases misturadas geram uma emulsão que proporciona uma área interfacial para a transferência de massa. Como resultado os íons metálicos são transferidos da fase aquosa para a fase orgânica, onde é purificada. A equação geral que descreve o processo é a seguinte: nHR( org ) + M (naq+ ) ⇔ MRn ( org ) + nH (+aq ) (3) A tabela (1) apresenta um resumo das diferentes tecnologias de recuperação e remoção dos metais pesados com suas respectivas características e limitações. Nota-se que o menor custo de tratamento (investimento e operacional) é o processo que utiliza a precipitação com hidróxidos e sulfeto, sendo este último mais vantajoso por apresentar seletividade variada em função do valor do pH. 23 Tabela 1: Tecnologias para remoção dos metais pesados. Tecnologia pH Adsorção (CAG) Tolerância limitada Tolerante Moderada Não Tolera Não Moderada Não Tolera Troca iônica Tolerância limitada Membrana Tolerância limitada Tolerante Eletroquímica Precipitação (hidróxido) Precipitação (sulfeto) Extração com solvente Seletividade metal Capital 3 US$/m Operação 3 US$/m <10 500 0,02-0,05 Pode ser condicionado >10 Sem dados 0,13 Resina pode Não Tolera ser seletiva Não <100 100 0,05-0,25 Moderada Não Tolera Não >10 12,5 0,013-0,05 Não seletiva Tolerante Tolerante >10 12,5 0,003-0,013 Tolerância limitada Seletividade Tolerante limitada ao pH Tolerante >10 12,5 0,003-0,013 Alguns sistemas tolerantes Solvente Não Tolera seletivo aos metais Não >100 CAG: carvão ativado granulado. Influência de sólidos suspensos Tolerância à Concentração presença de limite (mg/l) matéria orgânica Sem dados Sem dados (Eccles, H., 1999) 2.1.2. Processos biológicos: Bactérias redutoras de sulfato. Os processos biológicos têm por característica principal a realização de reações químicas complexas, que normalmente não acontecem à temperatura e pressão ambientais, em contraste com os processos químicos que precisam de energia, pressão e catalisadores para realizar a reação. Eles utilizam macromoléculas (enzimas) que são capazes de diminuir a energia de ativação da reação, gerando um produto com uma eficiência de 100% sem geração de resíduos. Essa característica faz dos processos biológicos sistemas “tecnologicamente” limpos. 24 Processos biológicos utilizando bactérias redutoras de sulfato (BRS), especialmente Desulfovibrio desulfuricans, têm sido descritos como tratamentos eficientes e economicamente viáveis (Herrera et al., 1997; Cork et al., 1978; Eccles H., 1999), sendo de interesse industrial, tanto por suas aplicações em processos de descontaminação ambiental como na produção de enxofre ou compostos de enxofre de alto valor comercial. As BRS são microorganismos quimiolitotróficos anaeróbios estritos, que podem ser divididos em quatro grupos: bactérias gram-negativas mesofílicas, bactérias gram-positivas formadoras de esporos, bactérias termofílicas, e arqueaobacterias. Elas se caracterizam por “respirar” sulfato e utilizar hidrogênio como fonte de energia, gerando rapidamente H2S (Bandziong, et al., 1978; Krekeler D., et al., 1995; Cipionka H., et al., 1998). A espécie típica de BRS, representada por Desulfovibrio desulfuricans, podendo reduzir sulfato autotroficamente (ausência de fonte de carbono orgânico) com hidrogênio e heterotroficamente usando lactato como doador de elétrons (Chang et al., 2000; Nagpal et al., 2000,Cipionka et al., 1986; Badziong et al., 1978). O processo utiliza sulfato ou enxofre como receptor de elétrons, hidrogênio (ou etanol, lactato) como fonte de energia e CO2 (ou etanol, lactato) como fonte de carbono, gerando como produto o sulfeto de hidrogênio (H2S), H2O e biomassa (equações 4,5,6,7 e 8), sendo as reações estequiométricas descritas como: rio desulfuricans H 2 SO 4 + 4H 2 ⎯Desulfovib ⎯⎯⎯ ⎯⎯⎯ ⎯→ H 2 S + 4H 2 O (4) Desulfovibrio desulfuricans H 2 SO 4 + 2C 2 H 5 OH ⎯⎯ ⎯⎯⎯⎯⎯ ⎯→ 2CH 3 COOH + H 2 S + 2H 2 O (5) Desulfovibrio desulfuricans 2C 3 H 5 O 3 Na + MgSO 4 ⎯⎯ ⎯⎯⎯⎯⎯ ⎯→ 2CH 3 COONa + MgCO3 + H 2 S + H 2 O (6) Desulfovibrio desulfuricans 4H 2 SO 4 + 2C 2 H 5 OH + 4H 2 ⎯⎯ ⎯⎯⎯⎯⎯ ⎯→ 4H 2 S + 3H 2 CO 3 + CO 2 + 7H 2 O (7) Desulfovibrio desulfuricans 6S + C 2 H 5 OH + 3H 2 O ⎯⎯ ⎯⎯⎯⎯⎯ ⎯→ 6H 2 S + 2CO2 (8) 25 Estas reações ocorrem em pH 7,0 e 30°C em anaerobiose, sendo as de interesse industrial as equações 7 e 8 (Nagpal, et al., 2000; Boonstra J., et al., 2003; Buisman, et al., 2003). No meio ambiente natural, as bactérias redutoras de sulfato concorrem com as bactérias metanogênicas por substratos comuns que são hidrogênio, formiato e acetato. Esta característica justifica a utilização de culturas mistas na redução de sulfato e produção de H2S em biorreatores (Oude Elferink S.J.W.H. et al., 1994), desde que as condições favoráveis às BRS sejam estabelecidas. Em sistemas reais, a proporção entre sulfato e carbono é a que origina a prevalência das metanogênicas ou as sulfetogênicas (exclusão biocompetitiva). O H2S, produto do metabolismo das BRS, pode reagir com os metais pesados presentes no efluente, formando sulfetos insolúveis. A produção de sulfeto metálico se dá mediante a seguinte reação (equação 9) e sem a utilização de outro insumo no processo. H 2 S + M +2 + A − → MS + H 2 A (9) Independentemente da origem (biológica ou não) do íon sulfeto, a sua utilização para precipitar os metais pesados, se comparada à precipitação com leite de cal, apresenta as seguintes vantagens: a) a solubilidade dos sulfetos é muito menor do que a dos correspondentes hidróxidos (Figuras 2 e 3), b) os sulfetos podem ser precipitados seletivamente, c) existe a possibilidade de recuperação dos metais de interesse comercial a partir dos sulfetos metálicos e d) apresenta uma alta reatividade sob uma ampla faixa de pH ( Foucher, S., et al., 2001; Glombitza, F., 2001). 26 Figura 2: Solubilidade dos sulfetos metálicos (mg/l) v /s pH (EPA, 1981). Figura 3: Solubilidade dos hidróxidos metálicos (mg/l) versus pH (EPA, 1981). 27 A solubilidade dos sulfetos metálicos diminui à medida que se aumenta o pH, sendo possível a sua precipitação seletiva, precipitando antes os com produto de solubilidade (Kps) mais baixos, como são As2S3, Bi2S3, CuS, em pH <4 e os com Kps mais altos (ZnS, NiS etc) em pH > 5,0. Em comparação, os hidróxidos são insolúveis em pH mais elevados do que aqueles observados para os sulfetos. Em estudos prévios para um sistema de biogênese de H2S, têm sido estimados parâmetros cinéticos de crescimento bacteriano e rendimentos em escala de laboratório e piloto (Jorquera et al., 2004, Herrera et al., 1991; Van Houten et al., 1994, 1995; Okabe et al., 1992). Com esses dados pode-se desenvolver e projetar um sistema de redução de sulfato e geração de H2S, utilizando-se um biorreator do tipo gas-lift (Gavrilescu M. and Tudose R.Z., 1998 e 1999; Truex, et al., 2000). O sistema biológico descrito tem como objetivo final a produção de H2S, que será utilizado na precipitação dos metais pesados presentes nos efluentes contaminados. 2.1.3. Produção biológica de H2S: Fundamentos bioquímicos. As bactérias redutoras de sulfato, representadas geralmente por Desulfovibrio desulfuricans, apresentam características bioquímicas particulares. Segundo as vias metabólicas (ver apêndice 7.6), para a geração de sulfeto de hidrogênio (H2S) a principal fonte de energia (doador de elétrons) é o hidrogênio. Vias alternativas, utilizando compostos orgânicos, usam a oxidação deles e os elétrons para produzir hidrogênio via hidrogenases presentes no citoplasma (hidrogenase –Fe). Por exemplo, para o metanol, ele é transformado em CO2 liberando prótons e elétrons que são utilizados na geração de hidrogênio no citoplasma. O hidrogênio sai do citoplasma para o espaço periplásmico e interage com a hidrogenase presente na membrana plasmática (hidrogenase Ni-Fe) gerando novamente elétrons e prótons. Os elétrons são transferidos pelo citocromo c3 a diferentes enzimas de oxidorredução (adenosina fosfossulfato redutase; desulfoviridina, tritionato redutase, tiosulfato redutase) permitindo a redução do sulfato até sulfeto ou de enxofre até sulfeto, que sai da célula como sulfeto de hidrogênio. Os prótons formados geram um gradiente eletroquímico permitindo gerar ATP via ATPase. No caso do enxofre como substrato e etanol (como fonte de energia) ele é transformado até chegar a piruvato que 28 entra no ciclo dos ácidos tricarboxílicos. Os elétrons são transferidos para moléculas redutoras que finalmente os transferem ao sulfito via ferredoxina, gerando H2S, (KEGG Metabolic Pathway, www.Kegg.com ; Choi, et al., 1994). Como fonte de carbono muitas BRS fixam CO2 utilizando uma via alternativa (rota do monóxido de carbono desidrogenase). A eficiência do processo vai depender de vários fatores, dentre eles a transferência gás-líquido para o caso do hidrogênio, da disponibilidade da fonte de elétrons como orgânicos e sua transformação até hidrogênio e a eficiência das diferentes rotas metabólicas. 2.2 Descrição do produto. O produto é o gás H2S, resultante do metabolismo bacteriano, gerado em um processo biotecnológico, para ser utilizado na precipitação dos metais pesado presente nos efluentes descritos anteriormente, gerando os sulfetos metálicos correspondentes. 2.1.1. Propriedades físico-químicas do H2S O H2S apresenta as seguintes características físico–químicas (Gas properties, 2003). Aparência: gás sem cor. MM= 34,08 g/mol Odor: Repulsivo semelhante a ovos podres. Ponto de ebulição: -60 °C Pressão de vapor: 394,0 psia (37,8°C) (Densidade do vapor (Ar = 1): 1,176 15,6 °C) Solubilidade em água: baixa. (Densidade (H2O = 1): 0,79 15,6 °C) Ponto de ignição: Gás inflamável a temperatura e pressão ambiente. 29 2.2.2. Toxicologia O H2S quando inalado entra na circulação diretamente através de membranas alvéolo capilar onde é dissociado em íons HS-. H2S livre interage reversívelmente com metalo-proteínas, proteínas que têm disulfitos e thio-S-metil-tranferase formando sulfitos metálicos. Os íons HS- interagem com numerosas enzimas e outras macromoléculas, incluindo hemoglobina e mioglobina. Sulfohemoglobina pode ser gerada em suficiente quantidade para contribuir à toxicidade aguda. O alvo crítico de HS- é a citocromo oxidase, particularmente citocromo-C oxidase, resultando em uma inibição da utilização do oxigênio celular, ácidose metabólica secundária em um metabolismo anaeróbico e anóxia citotóxica. H2S é um inibidor mais potente da citocromo–C oxidase que o cianeto, tendo um mecanismo celular diferente. Devido ao anteriormente dito, o controle de emissão de H2S tem que ser cuidadoso em uma planta de produção, evitando qualquer operação unitária aberta e tendo mecanismos que neutralizem seu efeito transformando-o em outro produto como sulfeto de sódio (Chaturvedi, et al., 2001). 2.3. Modelo de estudo Para este projeto utilizou-se o efluente gerado em uma planta de produção de cobre blister (Caraíba Metais S.A.), especificamente aquele proveniente do sistema de lavagem de gases, que apresenta como principal característica elevada acidez e elevado conteúdo de metais pesados. O processo de lavagem de gases (principalmente SO2 e SO3) consiste em um sistema onde os gases do forno de fundição são resfriados e lavados com uma corrente de água ácida, gerando efluentes ácidos com presença de metais pesados como arsênio, chumbo, cádmio etc. Sua absorção em fase líquida (lavagem de gases dos processos pirometalúrgicos) gera os seguintes ácidos: SO 2 + H 2 O ⎯ ⎯→ H 2 SO 3 ácido sulfuroso (10) SO 3 + H 2 O ⎯ ⎯→ H 2 SO 4 ácido sulfúrico (11) 30 Os efluentes ácidos gerados são misturados e enviados a uma unidade de tratamento de efluentes (UTE), onde esse efluente é tratado, posteriormente, com leite de cal (CaO) precipitando os metais pela elevação do pH, gerando uma lama de gesso (sulfato de cálcio), contaminada com os hidróxidos dos metais, que é disposta em um aterro especial. Unidade de lavagem de gás da UAS A planta de ácido sulfúrico tem como finalidade a produção de ácido sulfúrico com concentração de 98,56 % através do aproveitamento do SO2 contido nos gases provenientes do forno Flash e Conversores da fundição. A lavagem dos gases consiste em retirar dos gases as partículas sólidas e baixar a temperatura dos mesmos, visando atender as necessidades do processo para obtenção do ácido sulfúrico. Os gases provenientes da Unidade Pirometalúrgica, contendo SO2, SO3, O2, CO2, partículas sólidas e outros, com uma temperatura próxima de 350 °C, são introduzidos na torre de resfriamento onde são resfriados através de uma corrente circulante de água ácida (torre T-1101). A corrente circulante retira as impurezas contidas nos gases sendo levada por gravidade do fundo da torre T-1101, para o tanque de lama (TQ-1105), onde, após a sedimentação da lama, é bombeada ao topo da torre de resfriamento, fechando o circuito. O excesso de líquido vai para outro tanque (TQ-1101) em uma operação similar. Os gases resfriados (60 °C), e saturados, passam por um separador de gotículas (E-1105). Eles seguem para a torre de lavagem (T-1102), onde são resfriados (30 °C) de modo a condensar o excesso de vapor contido no mesmo. O excesso de água condensada é transferido por gravidade para o tanque de lama (TQ-1105). O SO3 original, contido no gases, reage com o vapor da água e é removido por precipitadores eletrostáticos E-1101 (A,B,C,D,E,F) onde segue para o tanque de “neutralização” (TQ-1101),(Figura 4). Finalmente o gás limpo é enviado para o tanque de secagem. 31 Torre de lavagem Torre de resfriamento Precipitadores eletrostáticos Gases provenientes do forno da fundição Tanque 1105 Tanque 1101 Torre de esgotamento Figura 4: Unidade de lavagem de gás da planta de produção de ácido sulfúrico (UAS) na Caraíba Metais S.A. Fluxograma de processo O seguinte diagrama mostra a Unidade de lavagem de gás da UAS, com seus diferentes componentes já descritos anteriormente. 32 Figura 5: Fluxograma de processo indicando as diferentes operações unitárias relacionadas ao processo de lavagem dos gases provenientes do forno da fundição. O fluxograma de processo tem os seguintes componentes: Tubulações: 1,2,3,4,5,6,7. Tanques: TQ-1105 anexo, TQ-1105, TQ-1106, TQ-1101. Torres: T-1101 (torre de resfriamento), E-1105 (torre de esgotamento de lama), T-1102 (torre de lavagem). Trocadores de calor: P-1109. Precipitadores: E-1101 Pontos de amostragem: P1, P2, P3, P4, P5, P6. O uso de um sistema para precipitar os metais em uma etapa prévia à UTE tem interesse ambiental e econômico. Uma alternativa, após o tratamento com H2S, é a geração de um efluente ácido sem metais pesados, contendo ácido sulfúrico (H2SO4), que possa ser reutilizado na geração de mais ácido na unidade de ácido sulfúrico (UAS). Os metais 33 podem ser recuperados e comercializados e o efluente recirculado e reutilizado, diminuindo o consumo de água de processo, como se apresenta no seguinte esquema (figura 6). Figura 6: Fluxograma do processo de fundição indicando a lavagem de gás e a proposta de tratamento dos efluentes gerados. 2.4. Justificativa. Existe uma necessidade das indústrias de processos disporem seus subprodutos ou resíduos industriais. A deposição de sulfato, especificamente de ácido sulfúrico, e de recaptura de metais pesados, é de interesse para vários setores industriais, especialmente para os setores químico e metalúrgico. É também de importância fundamental para a sustentabilidade dos processos produtivos das indústrias a geração de produtos de maior 34 valor comercial e menor impacto ambiental, utilizando processos onde são aplicados os conceitos de produção mais limpa. A redução de sulfato por bactérias é de interesse, pois se trata de uma tecnologia limpa, que utiliza organismos vivos para a transformação de um substrato de baixo valor comercial (S e H2SO4) em um de alto valor, como é H2S, que pode ser utilizado para precipitar metais pesados nos efluentes ácidos. 2.5. Objetivos e projeções a) Objetivo geral O objetivo desse trabalho é: a) mostrar a eficiência do uso de H2S e b) desenvolver um processo biotecnológico, tecnologicamente limpo, para a produção de H2S, usado na precipitação de metais pesados, presentes em efluentes industriais líquidos ácidos, provenientes do sistema de lavagem de gases de uma unidade de produção de cobre blister. b)Objetivos específicos: a) Caracterizar os efluentes ácidos. Identificar a composição e concentração dos efluentes gerados em cada operação unitária do sistema de lavagem de gás da UAS. b) Desenvolver tecnologia limpa para gerar H2S biologicamente. O desenvolvimento desse objetivo permitiu estabelecer a viabilidade técnica da seleção do processo biotecnológico para a produção de H2S, e sua utilização na precipitação de metais pesados. c) Avaliar o reuso de efluentes. Permitiu a valorização dos efluentes gerados no sistema de lavagem em outro processo dadas suas características físico-químicas e de sua composição. d) Elaborar o projeto conceitual do processo de produção de H2S. 35 Tem-se que definir uma seqüência eficaz de operações unitárias em nível de projeto conceitual que permita produzir H2S, dimensionando os principais elementos do processo. e) Modelagem matemática segundo os balanços de massa. Avaliar o comportamento dinâmico do sistema segundo os balanços de massa do sistema de geração e tratamento dos efluentes. c) Projeções O presente trabalho permitirá a elaboração de um projeto conceitual da produção microbiana de H2S, permitindo dispor de alternativas de processo para a recuperação de metais pesados em solução sobre à base de características particulares, especialmente com maiores detalhes sobre a cinética dos microorganismos utilizados, para assim dispor de informações para o adequado dimensionamento dos equipamentos necessários nas diferentes operações unitárias, entre outros. O presente trabalho permitirá o refinamento do modelo para a geração bacteriana de H2S, esclarecendo o comportamento cinético e a aplicabilidade desta tecnologia a sistemas reais. 36 3 Materiais e Métodos 3.1.Caracterização dos efluentes 3.1.1. Caracterização dos efluentes ácidos do processo pirometalúrgico de produção de cobre blister. A caracterização dos efluentes que entram na UTE (efluentes provenientes do sistema de lavagem da UAS, Lavador e outros) foi feita pela Caraíba Metais. S.A. durante o período de Dezembro de 1999 a Janeiro de 2000. Os dados foram fornecidos mediante tabela de dados e planilhas. 3.1.2. Caracterização do efluente ácido da unidade de lavagem de gás da UAS. Segundo os dados da caracterização geral dos efluentes, anteriormente citados, colocou-se como objetivo a caracterização do efluente gerado no sistema de lavagem dos gases da UAS. Este foi feito pela Caraíba Metais S.A. e a Escola Politécnica da UFBA, seguindo um plano de amostragem durante o período de um mês. A caracterização dos efluentes gerados na UAS permitiu conhecer se esses podem ser reutilizados ou tratados em separado, com o objetivo de diminuir a quantidade de metais pesados que é enviada para a UTE. 37 a) Plano de Amostragem na Unidade de Ácido Sulfúrico (UAS) As amostras da unidade de lavagem de gás da UAS (unidade de ácido sulfúrico) foram coletadas nas quantidades e freqüências necessárias para sua caracterização e testes. No sistema de lavagem de gás da UAS identificaram-se 6 pontos de amostragem, para sua caracterização e possíveis tratamentos ou reutilização, os quais estão indicados na figura 7. Figura 7: Pontos de amostragem na unidade de ácido sulfúrico (UAS). P1: efluente da torre umidificadora P2: efluente do separador de ácido. P3: efluente da torre de lavagem, amostrado na bomba de recirculação dos trocadores de calor. P4: efluente dos precipitadores eletrostáticos. P5: efluente do tanque TQ-1101. P6: efluente do tanque TQ-1105. 38 As amostras coletadas foram enviadas para laboratórios de análises químicas, UFBA e SENAI para serem analisadas quanto ao conteúdo de metais pesados e fluoreto, mediante a técnica de espectrometria de absorção atômica e eletrodo de íon seletivo, respectivamente. Tomaram-se 1000 ml de cada ponto durante um período de trabalho (8 horas), até completar os 6 pontos por dia: 4 amostras por ponto durante um período de tempo de um mês. b)Re-valoração e reuso de efluentes Segundo os dados obtidos na caracterização dos efluentes gerados na UAS, avaliouse a possibilidade de re-valoração e reuso deles, em outros processos que requeiram água, dependendo de suas características e compatibilidade. 3.2. Desenvolvimento de diagramas de bloco. Desenvolveram-se diagramas de bloco com as operações unitárias principais, para aplicação dos dados nos respectivos balanços de massa, e estimativas do consumo de substrato, volume do reator (segundo as necessidades de H2S), rendimentos, vazão de gás, vazão de líquido, carga, entre outros, para atingir as necessidades do H2S para o tratamento do efluente gerado na UAS. 3.3. Balanços de massa. Os balanços realizados foram baseados nos modelos matemáticos que governam as operações unitárias relacionadas a cada processo assim como em modelos cinéticos que representam o crescimento de bactérias redutoras de sulfato em biorreatores (Van Houtem, et al., 1994, Lyndersen, et al.,1994; Perry, et al., 1999). Os balanços nos permitiram estimar, em estado estacionário, parâmetros de projeto do biorreator assim como, em sistema dinâmico, a evolução temporal do desenvolvimento das bactérias. As seguintes considerações foram feitas: a) Fases gasosa e líquida são idealmente misturadas. 39 b) O volume no reator é constante. c) O líquido que passa através do reator possui composição constante. d) A resistência de transferência de massa no lado gasoso é desprezível. e) A taxa de diluição (D) tem que ser mais baixa que a velocidade específica de crescimento (Ellermeyer, S.et al., 2003). Sendo D: D= F V (12) Com as considerações assumidas tem-se que: dX = RX = µ X dt (13) dS 1 = RS = − X µ X dt YS (14) dH 2 = RH 2 = −Y XH 2 µ X dt (15) dP = RP = Y XP µ X dt (16) Sendo R a taxa de produção ou consumo; X, a concentração de biomassa; µ , velocidade específica de crescimento dos microorganismos e YSX , o rendimento. O rendimento segue a seguinte expressão. YSX dX = dt dS − dt (17) Em termos gerais, os balanços de massa para a fase líquida e fase gasosa são (Van Houtem, et al., 1995): 40 Balanço de massa para o componente j na fase líquida do reator. V dC j , L s dt = QL C jL e − QL C jL s + k L a ( C jG s m − C j L s )V + R jV (18) Balanço de massa para o componente j na fase gasosa do reator. V dC j ,G s dt = QG C jG e − QG C jG s − k L a( C jG s m − C j L s )V + R jV (19) Sendo m o coeficiente de solubilidade gás-líquido; k L a , coeficiente de transferência de massa gás-líquido; V, volume do reator; QG , vazão de gás; Q L , vazão de líquido. O coeficiente de solubilidade segundo a lei de Henry corresponde a: C jG C jL = H C = Constante de Henry= m (20) C JG = Concentração da fase gasosa (mol / m 3 ) C jL = Concentração de saturação na fase líquida (mol / m 3 ) Sendo expresso em l/mol °K como: HC = H RT (21) 41 3.4. Cinética de crescimento bacteriano. Com relação à cinética de redução de sulfato e de enxofre tem-se que: a) O crescimento da biomassa é, de acordo com a cinética de Monod, expressa como um modelo hiperbólico retangular: µ= µ max S Ks + S = µ Monod (22) onde, µ : taxa específica de crescimento dos microorganismos, h-1 µ max : taxa específica máxima de crescimento dos microorganismos, h-1 K s : coeficiente de saturação. As funções vitais dos microorganismos visam a manutenção de seu sistema (autopoiesis), a otimização de reações bioquímicas dentro da célula , usando eficientemente as fontes de nutrientes, maximizando o uso da energia e crescendo tão rapidamente quanto possível. A taxa de diluição influencia essas reações e o crescimento celular, visto que determina o tempo de contato entre o microorganismo e o substrato, ao contrário, as funções vitais não são alteradas. Em condições limites, em presença ou ausência de nutrientes, os microorganismos não são capazes de se reproduzir, ainda que com uma taxa de diluição (D) adequada. Em condições desfavoráveis de taxas de diluição, os microorganismos continuam realizando todas as reações que compõem o seu metabolismo para a manutenção do sistema (Raizer Neto, comunicação pessoal). Baseado no que foi mencionado anteriormente, assumiu-se que a velocidade especifica de crescimento pode ser relacionada com a seguinte expressão: µ ap = αµ Monod (23) sendo: 42 µ ap = velocidade aparente Alfa é uma constante adimensional que leva em conta a contribuição da concentração de biomassa, concentração inicial de substrato e taxa de diluição ( α ( X , S o, D) ). No caso particular de α = 1 , temos que: µ ap = µ Monod = D em estado estacionário. Em geral, α tem a seguinte expressão: α = β + γ ln DS 0 X (24) Sendo β e γ coeficiente experimentais; µ Monod = µ ap DS β + γ ln 0 X (25) b) A formação de produto está diretamente associada à produção de biomassa. c) O consumo de substrato para manutenção celular é incorporado nos rendimentos de biomassa YSX . 3.5. Dimensionamento de equipamentos O dimensionamento dos equipamentos está associado às principais operações propostas no projeto conceitual da planta biotecnológica. Sustenta-se na realização dos balanços de massa, cinética e equações de desenho para ditos equipamentos. Cabe dizer que o reator é o equipamento mais complexo do sistema. Selecionou-se o modo de operação contínua do processo. 43 3.6. Projeto do biorreator gas-lift O biorreator foi projetado utilizando Autocad® como ferramenta de desenho e montado segundo o esquema (ver apêndice 7.1). As tampas de aço inox 316 foram construídas pelo CETEM, segundo o desenho apresentado. As tubulações de aço inox 316 foram compradas na Swagelok®. Válvulas solenóides Asca, sensores de pH e ORP da Marconi. Bomba peristáltica Masterflex, tubulação de plástico Masterflex. O controle do processo foi feito com um controlador lógico programável (CLP) fornecido pela Altus® . A interfase gráfica que permitiu a comunicação com o CLP e aquisição de dados foi fornecida pela Elipse Scada ®. A programação foi feita com o software Mastertools fornecido pela Altus®. 3.6.1. Equações de projeto. O biorreator gas-lift foi baseado nos trabalhos publicados por Gavrilescu, M. and Tudose, R. Z., (1999) e montado como descrito em 3.6. A figura 8 mostra as partes do biorreator constituído principalmente por dois tubos concêntricos, onde o gás entra pela parte central, causando uma mudança de densidade no líquido. A mudança de densidade permite a circulação do líquido no reator. 44 Nível Líquido hs Riser Downcomer ht hB Dw Dr Figura 8: Partes do biorreator tipo gas- lift. Principalmente considerou-se que: ¾ A velocidade volumétrica do líquido é a mesma nas regiões do riser e downcomer (sistema fechado, não há entrada nem saída de líquido). ¾ Padrão de fluxo turbulento na área do riser. ¾ O diâmetro do riser ao downcomer mantêm a seguinte relação: D w = 2 (Dr ) (26) Relação obtida considerando que o numero de Reynolds está descrito pela seguinte equação (Perry, 1999): Re = ρυD µ (27) Sendo: υ = velocidade volumétrica do líquido; ρ = Densidade do líquido; D = Diâmetro característico; µ = viscosidade do líquido; R= número de Reynolds. 45 O numero de Reynolds no tubo central ou riser é: Re r = ρυ r Dr µ (28) ρυ a De µ (29) R na região anular ou downcomer é: Re a = Sendo De= diâmetro equivalente, definido como o diâmetro de um tubo que tem o mesmo número de Reynolds para a região dada (neste caso a anular). É definido como uma função da área seccional (A) e do perímetro de gotejamento Pw. De = 4A Pw (30) Têm se: ⎛ πD 2 πD 2 4⎜⎜ w − r 4 4 De = ⎝ (πDw + πDr ) De = ⎞ ⎟ ⎟ ⎠ (31) (Dw − Dr )(Dw + Dr ) = ( D w − Dr ) ( D w + Dr ) Re a = ρυ a (Dw − Dr ) µ (32) (33) A fração dos dois números de Reynolds é ρυ r Dr µ Re r = ρυ a (Dw − Dr ) Re a (34) υ r Dr Re r = Re a υ a (Dw − Dr ) (35) µ 46 Considerando que a velocidade volumétrica do líquido é a mesma nas duas regiões e as velocidades lineares são função da área seccional, temos que as áreas do draft tube e do área anular são iguais, então : 2 Ar = π Dr 4 Aa = π Dw D −π r 4 4 (36) 2 2 (37) Ar = Aa temos que D w = 2 ( Dr ) (38) Os números de Reynolds ficam: Rr = 1 + 2 = 2,41 Ra (39) A turbulência hidráulica no tubo central ou riser é mais alta que na região anular, sendo o estresse relacionado em um padrão de fluxo normal, mais alto para uma taxa de entrada de gás que para um padrão de fluxo reverso (Herrera L., 1982). ¾ Segundo Gavrilescu, et al., 1998, as correlações para cada hold-up parcial são: Hold-up no riser ε GR = 8 x10 −3 ⋅ G a 0.21 ⋅ Fr 0.82 ⋅ B −0.19 ⋅ Y −0.43 ⋅ T −0.10 ⋅ R −0.17 (40) Hold-up no downcomer ε GD = 2.35 x10 −3 ⋅ G a Hold-up separação ε GS = 61.3 x10 −3 ⋅ G a Hold-up total 0.13 0.20 ⋅ Fr ⋅ Fr 0.94 0.74 ⋅ B 0.41 ⋅ Y −1.14 ⋅ T −0.54 ⋅ R −0.24 (41) ⋅ B −0.36 ⋅ Y −1.25 ⋅ T −0.28 ⋅ R −0.25 ε GT = 3 ⋅ Fr 1.2 ⋅ B −0.13 ⋅ Y −0.20 ⋅ T −0.6 ⋅ R −0.16 (42) (43) 47 Com: ν sgr Numero de Froude Fr = Numero de Galilei Ga = Fração espacial parte baixa B= hB Dr (46) Fração espacial parte alta T= hs +1 Dr (47) Resistência ao fluxo no downcomer Fração separador de gás Y= (44) gDr gρ L2 Dr3 (45) η L2 R= Ad Ar (48) hs + D r Ds (49) ¾ O volume total do reator é representado por: Vt = π rw ht 2 (50) Sendo ht a altura total; rw o raio do downcomer. ¾ O volume do líquido está representado por: Vl = π rw2 hl (51) 48 3.6.2. Sistema de controle O controle do biorreator visou manter constantes as variáveis como: temperatura, pH e pressão e monitorar ORP (potencial redox). O sistema de controle é esquematizado na figura 9. Figura 9: Esquema da malha de controle para o biorreator proposto. Os pontos de ajuste foram os seguintes: Pressão = 0,5 psi, pH= 7,0 e temperatura= 30 °C. O controle foi feito mediante um controlador lógico programável (CLP) conectado aos sensores de pH, potencial redox, temperatura e pressão mediante transdutores com saída de 0-10 V; e aos atuadores de controle (válvulas solenóides e aquecedor). Uma interface gráfica foi configurada no supervisório Elipse Scada® , para acompanhar e controlar o processo (figura 10). A comunicação CLP computador foi feita mediante a porta 49 RS-232 do CLP e a entrada USB do computador, utilizando o software MasterTools (figura 11). Figura 10: Interface gráfica configurada no supervisório Elipse Scada. Transdutor 0-10V RS-232 Bio Reator CLP Computador USB Entradas analógicas Figura 11: Esquema do sistema de controle CLP-computador-biorreator. 50 Construiu-se um reator em escala de laboratório (figura 12 e 13) segundo o descrito neste capítulo. Manômetro Válvula solenóide Biorreator Transdutor de pressão Sensores de pH, Eh, Temperatura Transdutor de pH e ORP Sensor de temperatura Bomba peristáltica Figura 12: Foto do biorreator em escala de laboratório. 51 Computador e programa com a interface gráfica. CLP (controlador lógico programável) Figura 13: Sistema de controle (CLP) e interface gráfica. O sistema em escala de laboratório operou a 30 °C em uma faixa de pressão de 0,5 a 1 psi. O fluxo de gás nitrogênio foi mantido constante e re-circulado para garantir a anaerobiose. O potencial redox foi, em média, de -300 mV, medido com eletrodo combinado. O reator foi inoculado com Desulfotomaculum sp., com o meio de cultivo conforme o descrito em materiais e métodos, seção 3.9. 3.7. Diagrama de blocos O processo contempla duas etapas, a produção de H2S e a precipitação dos metais pesados. Cada uma das etapas está associada aos seguintes equipamentos de processos: biorreator de produção e reator de precipitação. Não serão considerados cálculos de bombas, tubulações e outros equipamentos por sair do escopo do presente trabalho. O seguinte diagrama (figura 14) de bloco mostra os diferentes sistemas e seus respectivos fluxos. 52 Figura 14: Diagrama de blocos indicando os dois sistemas principais para a produção de H2S e precipitação dos metais pesados, sendo F= vazão dos efluentes e Fg = vazão de gás. F1= vazão substrato 1 (enxofre) ; F2= vazão substrato 2 (etanol). O diagrama de blocos apresenta a produção biológica de H2S. O gás é produzido pelo biorreator e é passado a um contator gás-líquido onde ocorre a precipitação dos metais. O gás de transporte é nitrogênio, o processo consome H2S e CO2 e o nitrogênio é reciclado como gás de transporte. O excesso de gás (fenômeno eventual) é tratado com um lavador de gás com soda cáustica (NaOH) que captura o H2S resultando em NaHS que é agregado no contator gás-líquido novamente. Uma alternativa de captura do excesso de H2S é a sua oxidação com outro tipo de bactérias até formação de enxofre elementar. A linha verde de gás indica o processo com re-circulação de nitrogênio para retirada de H2S do biorreator. 53 3.8. Caracterização do biorreator gas-lift Hold-up O reator foi caracterizado quanto ao seu hold-up ( ) ou percentagem de gás nitrogênio contido na fase líquida, utilizando a seguinte equação (Ghirardini, M., et al., 1992): ε= V g − Vl Vg = 2πrhg − 2πrhl 2πrhg = hg − hl hg (52) Velocidade superficial do gás A velocidade superficial do gás no riser foi estimada usando a seguinte equação (Gavrilescu, M, 1999): ν SGR = QG AR (53) Sendo: QG = Vazão de gás estimado mediante um rotâmetro e AR a área da seção transversal do riser. Estimativa da vazão de gás para regime homogêneo (Krishna R., et al., 2000). Se fez uma curva de hold-up versus velocidade superficial do gás no tubo central. Baseado no setor onde a tendência da curva é linear, escolheu-se a vazão de gás que gera essa tendência, permitindo um regime homogêneo de fluxo das borbulhas. 3.9. Meio de cultivo e bactéria utilizada. Utilizou-se a bactéria redutora de sulfato Desulfotomaculum sp fornecida pelo Dr. Paulo Almeida (ICS, UFBA) para avaliar a operação do reator e condições reais. O meio de cultivo consistiu em uma mistura de sais como indicado a seguir: Soluçao A: Na2SO4 3,00 g; KH2PO4 0,20 g; NH4Cl 0,30 g; NaCl 7,00 g; MgCl2 x 6 H2O 1,30 g; KCl 0,50 g; CaCl2 x 2 H2O 0,15 g; Resazurina 1,00 mg; água destilada 870,00 mL. Solução B: Elementos traços SL-10 1,00 mL. 54 Solução C: NaHCO3 5,00 g; água destilada 100,00 mL. Solução D: Solução de vitaminas 10,00 mL. Elementos traços SL-10: HCl (25%; 7,7 M)10,00 ml; FeCl2 x 4 H2O 1,50 g; ZnCl2 70,00 mg; MnCl2 x 4 H2O 100,00 mg; H3BO3 6,00 mg; CoCl2 x 6 H2O 190,00 mg; CuCl2 x 2 H2O 2,00 mg; NiCl2 x 6 H2O 24,00 mg; Na2MoO4 x 2 H2O 36,00 mg; água destilada 990,00 mL. Vitaminas: Biotina 2 mg; Ácido Fólico 2 mg; Piridoxina-HCl 10 mg; Tiamina-HCl x 2 H2O 5 mg; Riboflavina 5 mg; Ácido Nicotínico 5 mg D-Ca-pantothenate 5 mg; Vitamina B12 0,10 mg; ácido para amino benzóico 5 mg; Água destilada 1000 mL Misturam-se as soluções A, B, C e D nos volumeis indicados para cada uma delas. Coloca-se a solução final em contato com nitrogênio para garantir a ausência de oxigênio. 3.10. Ensaios com Na2S para precipitação dos sulfetos metálicos Dada a baixa velocidade de crescimento das bactérias e pequena produção de H2S, ensaios com sulfeto de sódio (80 g/L) foram feitos com o efluente proveniente do sistema de lavagem da UAS. Colocou-se o efluente num erlenmeyer (100 mL) e agitou-se magneticamente durante 1 hora, agregando o sulfeto de sódio até não observar mais reação. Filtrou-se a solução analisando o líquido quanto ao conteúdo de metais pesados por espectrometria de absorção atômica. Estes ensaios tiveram o propósito de fornecer antecipadamente uma concentração aproximada dos precipitados que poderiam se obter com o processo biológico. 3.11.Modelagem matemática. Segundo os balanços de massa, estudou-se o comportamento dinâmico do sistema de produção biológica de H2S. Foi utilizada a metodologia de integração de equações diferenciais ordinárias segundo o algoritmo ODE 45 baseado em Runge-Kutta, modificando diferentes parâmetros numéricos de forma a otimizar a integração (Sevella, et al.; 2000). Utiliza-se Matlab ® como ferramenta computacional. As listagens das rotinas são apresentadas no apêndice (7.8). 55 4 Resultados 4.1 Estudo e caracterização do processo de geração de efluentes ácidos com metais pesados 4.1.1. Caracterização dos efluentes totais 4.1.1.1. Aporte relativo de metais pesados na UTE. A tabela seguinte (tabela 2) indica a concentração dos metais pesados nos diferentes efluentes gerados que entram na unidade de tratamento de efluente (UTE), indicando a concentração dos metais em ppm (mg/L) e a vazão (m3/h) (fonte: relatório interno da Caraíba Metais, S.A.). Tabela 2: Concentração dos metais pesados que entram na UTE. Efluente Água ácida (UAS) Aterro Desmineralização Eletrólise Piso fundição Granulação Laminação Lavador m3/h 28,8 0,2 % 24,66 0,17 Elemento Concentração (mg/L) As 1691 2,5 Ba 5 2,5 Bi 234 5 Ca 32 447,53 Cd 128 0,5 Co 2 1 Cr 1 0,5 Cu 532 3,86 Fe 137 0,72 Hg 24 0,5 K 44 22,67 Mg 13 0,38 Mn 1 0,5 Na 61 13,51 Ni 185 1,25 Pb 386 2,5 Sb 17 2,5 Se 50 5 Sn 50 5 Si 25 3,78 Te 25 2,5 Zn 706 0,47 Ácido Negro Total 1,11 0,95 5,11 4,38 0,39 0,33 2,02 1,73 33,23 28,45 45,5 38,96 0,44 0,38 2,5 2,5 5 39,31 0,5 1 0,5 0,88 1,4 0,5 22,28 0,17 0,5 238,42 1,25 2,55 2,5 5 5 54,82 2,5 0,36 27,15 2,57 5 36,48 0,5 1 0,5 61,78 8,06 0,5 4,04 2,13 0,5 4,8 41,86 2,7 2,65 5,9 5 13,44 2,88 2,14 15,52 2,74 7,07 69,84 2,14 1 0,77 766,4 444,39 0,52 5,08 38,31 3,13 2,65 4,18 10,4 2,5 5 5,37 6,74 2,91 38,94 3,56 2,55 5 497,48 0,5 1 0,5 1,8 45 0,5 44,97 7,76 0,53 55,19 1,25 3,83 2,5 5 5,01 14,82 2,52 7,71 2,94 2,51 5 8,24 0,5 1 0,5 276,07 2,96 0,5 2,99 2,19 0,5 2,19 1,25 4,43 2,5 5 5 7,18 2,5 2,25 23,53 2,69 9,69 123,89 4,06 0,98 0,63 50,49 97,62 0,5 15,71 562,42 0,63 9,72 1,25 123,32 3,34 4,85 5,87 36,28 2,57 559,39 10500 50 50 78 10 20 14 9730 970 27 172 92 15 187 7310 25 203 100 100 50 50 92,3 116,8 As Ba Bi Ca Cd Co Cr Cu Fe Hg K Mg Mn Na Ni Pb Sb Se Sn Si Te Zn 56 Pode-se observar que a água ácida, efluente proveniente da UAS, apresenta altas concentrações de metais pesados principalmente de As, Cd, Cu, Ni, Pb e Zn. Um aporte importante em Cu, Ni, Zn e Pb são provenientes dos efluentes gerados no lavador (scrubber), laminação e ácido negro da eletrolise. Fazendo uma análise da tabela 2 e considerando a vazão de cada efluente, construíram-se as tabelas 3 e 4, que mostram a carga total expressada em kg/h e o aporte relativo em % de cada efluente (calculado referente à carga total) que entra na UTE . Tabela 3: Carga dos metais pesados (kg/h) que sai das diferentes unidades e que entram na unidade de tratamento de efluentes (UTE). Refere-se a outros efluentes os efluentes provenientes da granulação, desmineralização, aterro, eletrólise e piso da fundição. Água ácida (UAS) Carga kg/h As 48,70 Cd 3,69 Cu 15,32 Ni 5,33 Pb 11,12 Zn 20,33 F(Paques) 15,35 Vazão 28,80 Outros Efluentes Lavador 0,16 0,01 0,62 0,22 0,03 0,04 0,84 8,83 1,07 0,18 2,30 0,06 5,61 25,45 0,91 45,50 Ácido negro 4,62 0,00 4,28 3,22 0,01 0,09 0,01 0,44 Laminação 0,10 0,02 9,17 0,04 0,15 0,07 33,23 Tabela 4: Aporte relativo, em %, dos metais que entram na UTE, calculado referente á carga total. As Cd Cu Ni Pb Zn FMedia % Água ácida (UAS) Aporte % 89,12 94,59 48,34 60,12 65,72 44,26 89,71 67,03 Outros efluentes Aporte % 0,28 0,13 1,96 2,48 0,17 0,09 4,92 0,85 Lavador Ácido negro Aporte % Aporte % 1,96 8,45 4,74 0,11 7,25 13,51 0,64 36,29 33,17 0,07 55,40 0,09 5,32 0,05 17,19 9,75 Laminação Aporte % 0,18 3,33 28,95 0,47 0,87 8,60 Pode-se observar nas tabelas 4 e 5 que o principal aporte de metais pesados é dado pelos efluentes gerados na UAS (67% do aporte), na unidade do Lavador (Scrubber) (17 %) 57 e o Ácido negro (9%), justificando uma maior atenção nesses efluentes para a caracterização, tratamento e possibilidades de reuso. Também, segundo as análises de fluoreto realizadas pela Paques ® para Caraíba Metais S.A., a maior quantidade de fluoretos está presente no efluente do sistema de lavagem da UAS. 4.1.1.2. Fluxo mássico de efluentes que entram na Unidade de Tratamento de Efluentes (UTE) O seguinte esquema (figura 15) apresenta os diferentes efluentes que entram na UTE em m3/h. Cabe destacar que a UAS, o efluente proveniente do Lavador e da laminação representam 90 % da vazão, sendo a participação de cada um de 24%, 38 % e 28 %, respectivamente (fonte: relatório interno do projeto AGUAIBA). Figura 15: Vazões das diferentes correntes que entram no sistema de tratamento de efluentes (UTE) na Caraíba Metais. S.A. 58 4.1.1.3.Caracterização e segregação dos efluentes gerados na unidade de lavagem de gás da UAS. Foram amostrados os pontos (P1, P3, P4, P5 e P6) descritos anteriormente na metodologia na unidade de lavagem de gás da UAS. O ponto P2 não foi possível ser amostrado dado à falta de um ponto de captação do efluente. Na figura 16 podem-se observar as características dos efluentes quanto ao seu aspecto e cor antes e após a filtração em papel (Filtrak N° 391). Pode-se observar que a presença de sólidos suspensos mascara um efluente contendo metais pesados dissolvidos, provavelmente cobre e níquel. O ponto P4 é similar em aspecto ao ponto P3. P1 P3 P5 P6 Figura 16: Imagem dos efluentes obtidos nos pontos P1, P3, P5 e P6, respectivamente. A tabela seguinte (tabela 5) apresenta as características de cada efluente segundo o plano de amostragem. Os dados representam o valor médio de duas amostras. Os metais a serem analisados foram escolhidos segundo sua concentração, aporte relativo, toxicidade e interesse comercial. 59 Tabela 5: Concentração dos metais pesados presentes nos diferentes efluentes que são gerados no sistema de lavagem de gás na UAS. Característica P1 P3 P4 P5 P6 Histórico (P6) Norma *1 *2 28,8 <1 6a9 Sem dados 0,5 nd nd Nd nd Vazão (m3/h) nd <1 <1 <1 <1 <1 pH 12,3 2,1 11,8 11,0 Sólidos suspensos totais (g/l) Elementos (mg/l) 366 118 92 260 96,5 500 1,4 F1775 494 975 1483 1123 1691 0,05 As 393 207 139,5 342,5 164,5 128 0,01 Cd 265,6 60,7 32,5 263,5 197,2 532 0,5 Cu 170,6 192,9 209,8 225,3 243,25 185 0,025 Ni 131 120,5 108 112 101 386 0,05 Pb 459,7 238,95 171,4 420,4 192,8 706 5 Zn nd: não determinado. *1: Caraíba, s/d, relatório interno. *2: CONAMA, 1986, Normas. Considerando os sólidos suspensos, e um efluente com uma vazão de 28,8 m3/h, tem-se que a carga anual de sólidos corresponde a 2700 ton/ano que representa em torno de 2% do aporte total dos sólidos enviados para a UTE. Pode-se observar que os valores das concentrações do efluente final (P6, TQ-1105) são próximos aos valores do histórico apresentado na tabela 6. Esses valores podem flutuar dependendo da eficiência de operação dos precipitadores eletrostáticos na saída do forno flash e de outras operações unitárias. O aporte expresso como carga pode ser observado na tabela 6. Por não ter dados sobre a vazão de cada efluente, fez-se necessária uma estimativa daqueles valores considerando o fluxograma de processo e a estimativa feita pelos operadores da planta. Estimou-se que o aporte da torre umidificadora é de 80%, restando cerca de 20 % para as outras (P3 e P4), sendo a vazão final de 23,04 m3/h para P1 e de 2,88 m3/h para P3 e P4, respectivamente. 60 Tabela 6: Carga expressa em kg/h para cada operação unitária. Cd 3 Cu Ni Zn As Pb F P1 (23,04 m /h) 9,05 6,11 3,93 10,59 40,89 3,01 8,43 P3 (2,88 m3/h) 0,59 0,17 0,55 0,68 1,42 0,34 0,33 P4 (2,88 m3/h) 0,40 0,09 0,60 0,49 2,80 0,31 0,26 As figuras 17 e 18 mostram a concentração e a carga dos metais, em cada ponto amostrado e sua comparação com o histórico do ponto 6. 2000 Concentração em mg/l (ppm) 1800 1600 Cd 1400 Cu 1200 Ni 1000 Zn 800 As Pb 600 F 400 200 0 P1 P3 P4 P5 P6 Histórico P6 Ponto de amostragem e histórico Figura 17: Concentração em mg /L versus ponto de amostragem na unidade de lavagem de gás da UAS. Observa-se no gráfico que as concentrações e a distribuição dos diferentes metais são similares em cada ponto, apresentando menor concentração nos pontos P3 e P4. Uma análise do aporte como carga mostra que o ponto P1 é o que mais contribui quanto aos metais e fluoreto no efluente final (saída do TQ-1105), explicado pela vazão do efluente (figura 18). O ponto P5 é similar ao ponto P1 já que é um tanque (TQ1101) onde se misturam os efluentes provenientes dos pontos P1, P2 e P3, logo são enviados ao tanque 61 TQ-1105 (P6), onde têm uma nova mistura agora com efluentes provenientes de água de chuva entre outros. 45 Carga em kg/l 40 35 Cd 30 Cu Ni 25 Zn 20 As 15 Pb 10 F 5 0 P1 (23,04 m3/h) P3 (2,88 m3/h) P4 (2,88 m3/h) P5 (23,04 m3/h) P6 (23,04m3/h) Histórico P6 (32,2 m3/h) Ponto de amostragem e histórico Figura 18: Carga (kg/h) dos metais em função de cada ponto de amostragem e sua comparação com o histórico. 4.2 Revalorização e reuso de efluentes na unidade de lavagem de gás da UAS. Considerando que as correntes segregadas apresentam quantidades de metais pesados (em concentrações) consideráveis a serem utilizadas em outros processos e uma carga de ácido elevada, o reuso direto deles é inviável em outro processo da planta. Propõese para ela um tratamento que será focalizado na saída total dos efluentes, já que as concentrações são similares em cada ponto de amostragem, sendo a diferença representada só pela vazão. 62 4.3. Preço dos metais (referência mercado de metais na bolsa de Londres, (London metal Exchange, http://www.lme.co.uk/nickel.asp e Metal Price, https://www.metalprices.com/). A carga anual de metais despejada é resultado de correntes com grandes vazões, o que origina quantidades que, se recuperadas, neste caso como sulfetos metálicos, redundariam em valores significativos. Em geral, o preço de compra dos concentrados metálicos (que são geralmente minerais com alto conteúdo de enxofre) está baseado no porcentual do metal de interesse nesse concentrado. Como referência, na tabela 7 são apresentados os valores para os metais de interesse, obtidos do preço de venda na bolsa de Londres para o efluente tratado do sistema de lavagem da UAS, gerando os sulfetos metálicos respectivos (concentrado metálico). Tabela 7: Preço dos metais com relação ao efluente da UAS, cotados na bolsa de metais de Londres UAS Metal Cu Ni Pb Zn Total US$ Preço (kg) 3,00 14,30 0,81 1,00 Concentração mg/L 500 210 386 706 Preço US$/t 3000 14300 812 1000 Quantidade t/ano 141 59 109 199 1133 Ganho final US$/ano 423108 847062 88410 199143 1557723 No total, pode-se observar uma perda de aproximadamente US$ 1,500.000 ou R$ 4.500.000,00. Considerando somente a recuperação após purificação de Cu, Ni e Zn precipitando-os seletivamente, teria um “retorno” de, aproximadamente, US$1,000.000 ou R$ 3.000.000,00.Como sulfetos metálicos (MS) a recuperação segue a seguinte expressão relativa na mistura dos sulfetos metálicos obtidos. As32 Bi4 Cu 9 Pb7 SeS 43 obtidos em pH<1 Zn 40 Ni10 Fe8 Cd 7 S 32 obtidos em pH~5 63 Relações obtidas como: %doMetal = Quantidade diaria do metal em Kg x 100 Quiantidade total de sulfeto metalico em Kg Vendido como concentrado de Zn, teria-se um ganho de US$ 200,000.00; como concentrado de Ni teria-se um ganho de US$ 800,000.00 ou R$ 2.400.000,00.Para o efluente gerado no lavador de gases a tabela seguinte apresenta os preços dos metais recuperados da precipitação como sulfetos metálicos. Tabela 8: Preço dos metais com relação ao efluente do lavador, cotados na bolsa de metais de Londres Lavador Preço metais Metal Cu Ni Pb Zn Total US$ Preço (kg) 3,00 14,30 0,81 1,00 Concentração mg/L 50,49 1,25 123,32 559,39 Preço US$/t 3000 14300 812 1000 Quantidade Ganho final (t/ano) US$/ano 10,13 30385 0,25 3586 24,74 20088 112,22 112216 289,80 166275 Se considerarmos os metais obtidos como sulfeto segundo a expressão: Zn 43 Pb9 Fe7 Cu 3 AsS 31 pH~4 Temos que: teria 3,4 % de Cu e 43 % de Zn, produto que pode ser reciclado num forno para produção de Zn recuperando-o com um ganho de US$ 112,000.00 ou R$ 336.000,00.Para o efluente proveniente do ácido negro tem-se que: 64 Tabela 9: Preço dos metais com relação ao efluente do ácido negro, cotados na bolsa de metais de Londres. Ácido negro Preço metais US$ concentração Metal Preço (kg) mg/L Cu 3,00 9730 Ni 14,30 7310 Pb 0,81 25 Zn 1,00 92 Total Preço US$/t 3000 14300 812 1000 Quantidade Ganho final t/ano US$/ano 85,23 255704 64,04 915709 0,22 178 0,81 806 150,30 1172397 Se considerarmos os metais obtidos como sulfeto segundo a expressão: As 28 Cu 26 S 44 Ni56 Fe7 S 35 Na separação dos sulfetos temos que: teria 60 % de Ni , produto que pode ser vendido como concentrado metálico, com um ganho de US$ 900,000.00 ou R$ 2.700.000,00.Tabela 10: Preço dos metais com relação ao efluente da laminação que entram na UTE cotados na bolsa de metais de Londres Laminação Preço metais Metal Cu Ni Pb Zn Total US$ Preço (kg) 3 14,3 0,812 1 Concentraçao mg/L 276,07 1,25 4,43 2,25 Preço US$/t 3000 14300 812 1000 Quantidade Ganho final ton/ano US$/ano 79,81 239419 0,36 5167 1,28 1040 0,65 650 82,10 246277 Se considerarmos os metais obtidos como sulfeto segundo a expressão: Cu 60 S 33 Temos que: teria 60 % de Cu , produto que pode ser reciclado no forno para produção de Cu recuperando-o com um ganho de US$ 200,000.00 ou R$ 600.000,00 Para os outros efluentes têm-se os seguintes dados. 65 Tabela 11: Preço dos metais com relação ao efluente da mistura dos outros efluentes que entram na UTE sem considerar a UAS, ácido negro, laminação e o Lavador, cotados na bolsa de metais de Londres Mistura outros US$ Metal Preço (kg) Cu 3,00 Ni 14,30 Pb 0,81 Zn 1,00 Total Concentração mg/L 101,00 12,21 3,54 3,70 Preço US$/t 3000,00 14300,00 812,00 1000,00 Quantidade t/ano 12,48 1,51 0,44 0,46 21,09 Ganho final US$/ano 37425 21566 355 457 59804 Se considerarmos a seguinte expressão Cu 39 Fe7 Ni 4 As3 Se2 BiPbSbTeZnS 34 , os metais obtidos como sulfeto, teria 39 % de Cu. O produto pode ser enviado de novo ao forno de fundição da planta com uma recuperação de US$ 37,000.00 ou R$ 81.000,00.4.4. Caracterização do biorreator 4.4.1. Hold-up e velocidade superficial do gás no riser. O gráfico seguinte (figura 19) apresenta a caracterização do reator quanto ao seu hold-up ou fração de gás retido na coluna de líquido e da velocidade superficial do gás (vsgr) no riser, calculados segundo materiais e métodos. Em regime homogêneo a tendência do hold-up v/s ν SGR é ser linear, segundo Krishna, et al., 2000. Considerando uma vazão de 1 L/min deu um hold-up de 0,000379 o que se corrobora com as correlações teóricas (figura 20) descritas por Gavrilescu (1999) (ver materiais e métodos, seção 4.2) para o projeto de reatores gas-lift (tabela 12). 66 Hold-up (e) Hold-up v/s velocidade superficial do gas no riser 0,04 0,035 0,03 0,025 0,02 0,015 0,01 0,005 0 0,000000 0,005000 0,010000 0,015000 vsgr (m/s) Figura 19: Hold-up v/s velocidade superficial do gás no riser (m/s) Tabela 12: Correlações teóricas, parâmetros geométricos e experimentais. Correlações teóricas adimensionais ε GR (Hold-up riser) ε GD (Hold-up downcomer) ε GS (Hold-up separação) ε GT (Hold-up total) ε exp (Hold-up experimental) Fr (Numerode Froude) Ga (Numero de Galilei) Rer (Reinolds riser) Rea (Reinolds anular) B (Fração espacial baixa) R (Resistência fluxo) T (Fração espacial alta) Y (Fração separador de gás) Valor 0,0139 0,0023 0,01418 0,01027 0,01487 0,00913 5,37x108 3920 1636 0,357 1 1,357 0,957 67 Hold-up teórico v/s experimental y = 0,75x - 0,0016 R2 = 0,983 0,03 ε teórico 0,025 0,02 0,015 0,01 0,005 0 0 0,005 0,01 0,015 0,02 0,025 0,03 0,035 0,04 ε experimental Figura 20: Correlação entre hold-up experimental e hold-up teórico descrito por Gavrilescu (1999), para o biorreator contendo a solução de cultivo. 4.5. Elementos para o dimensionamento do biorreator. 4.5.1. Exigências para o bioprocesso. Considera-se um efluente proveniente do sistema de lavagem de gás da UAS que apresenta as seguintes características: 1) Volume a ser tratado de 32 m3 /h. 2) Temperatura de 30 C°. 3) H2SO4 20 %. 4) Concentração de metais pesados segundo a tabela 3. Considerando uma concentração de As de 2 g/L, aproximadamente, se tem a seguinte reação: As 2 ( SO4 ) 3 + 3H 2 S → As 2 S 3 + 3H 2 SO4 (54) As 2 ( SO4 ) 5 + 5 H 2 S → As 2 S 5 + 5 H 2 SO4 (55) Por cada mol de sulfato arsenioso ou arsênico são necessários 3 ou 5 moles de sulfeto de hidrogênio, respectivamente. 68 Como as MM respectivas são: g mol g 1mol As 2 ( SO4 ) 5 = 629,84 mol g 1mol H 2 S = 34,06 mol e considerando que o As está no estado de oxidação mais elevado, se precisaria de 1mol As 2 ( SO4 ) 3 = 437,84 116601 kg de H2S/ano, calculado segundo a seguinte expressão: 629,84 g As 2 ( SO4 ) 5 = 5 mol H 2 S 54450 g h X X= 432,25 mol H2S /h = 10374 mol H2S/dia = 14722 g H2S /h. Considerando que o tempo de operação para a planta é de 330 dias por ano, pensando em uma parada da planta anual de 1 mês, têm-se: X = 14722 gH 2 S 24h 330d kg H 2 S x x = 116601,68 h d ano ano Considerando os outros metais têm-se as seguintes reações de interesse. CdSO4 CuSO4 NiSO4 PbSO4 ZnSO4 + H2S + H2S + H 2S + H2S + H2S → CdS + H 2 SO4 (56) → CuS + H 2 SO4 (57) → NiS + H 2 SO4 (58) → PbS + H 2 SO4 (59) → ZnS + H 2 SO4 (60) A tabela seguinte apresenta a concentração necessária de H2S para a precipitação dos metais como sulfeto metálico. 69 Tabela 13: Concentração de H2S em kg H2S /ano necessários para a precipitação dos principais metais pesados Composto M Carga de Concentração de H2S necessária para contaminante no precipitação efluente que sai (kg H2S/ano) da UAS (TQ1105) kg/h 208,41 4,12 5333 CdSO4 65,5 17,13 70548 CuSO4 124,2 5,95 12923 NiSO4 263 12,43 12749 PbSO4 161,38 22,73 37994 ZnSO4 139547 TOTAL 4.5.2. Biomassa máxima e taxa de produção de produto. Será considerada uma biomassa máxima para o modelo proposto de 1 g/l, baseada nos dados da literatura para sistemas anaeróbicos (Herrera, et al.1991). A taxa de produção de produto será considerada como constante segundo os dados apresentados por van Houten, (1994), seguindo a expressão: Taxa de produção de H 2 S = 0,2 mol = µXY XH 2 S (van Houten, 1994) L dia 4.5.3.Volume do biorreator Para o cálculo do volume utilizou-se a seguinte expressão. Volume = Re querimento Taxa de produção (61) 270000 ⎡ kg ⎤ ⎡ ton ⎤ 270⎢ ⎥ 739,7 x1000 365 ⎢⎣ dia ⎥⎦ ⎣ ano ⎦ = V = = = 108000 L = 108 m 3 6,8 ⎡ mol ⎤ 1 ⎡ mol g kg ⎤ 0,2⎢ 0,2 x34 x ⎢ ⎥ ⎥ 1000 ⎣ L dia mol g ⎦ ⎣ L dia ⎦ Com o processo operando de forma contínua, a quantidade necessária de H2S para precipitar os metais é: 139546+116601=256147 kg de H2S/ano. 70 4.5.4. Modelos dinâmicos. Os modelos dinâmicos para o biorreator estão baseados nos balanços de massa para cada componente, descritos na seção 3.3 de materiais e métodos e nos diagrama de blocos. São apresentados na seguinte tabela. Tabela 14: Balanços de massa dinâmicos do sistema de produção de H2S. Equação dinâmica Biomassa Substrato H2S fase líquida H2S fase gasosa V V + V dX = F1 X 0 + F2 X 0 − F3 X + µ ap XV (62) dt V µ XV dS = F1 S 0 S − F3 S S − (63) dt YSX µ ap XV d [ H 2 S ]l 1 = − F3 [ H 2 S ] sail l + k L a([ H 2 S ] g − [ H 2 S ]l )V + (64) dt m YHX2 S d[H 2 S ]g dt = Fg 2 [ H 2 S ]0 g − Fg 3 [ H 2 S ] g − k L a([ H 2 S ] g 1 − [ H 2 S ]l )V m µ ap XV (65) YHX2 S Em condições de pH=7,0 e 20 °C o H2S apresenta propriedades de equilíbrio características dos gases. Em particular para um pH =7,0 a concentração de H2S na fase líquida é igual à concentração na fase gasosa. Para o caso do reator de precipitação temos que o modelo segue as seguintes expressões: Reação química de precipitação: k1 H 2 S + MSO4 → MS + H 2 SO4 k −1 (66) Onde: dM = k −1 [ H 2 SO4 ] − k1 [ MSO4 ][ H 2 S ] dt (67) 71 No reator de precipitação temos que o balanço dinâmico da concentração do metal segue a seguinte expressão: V dM = F7 M 0 − F8 M + fica no reator dt Sendo F7=F8, dM = D2 ( M 0 − M ) + k−1[ H 2 SO4 ] − k1[ MSO4 ][ H 2 S ] dt (68) Os balanços para o H2S que entra no tanque de precipitação segue a seguinte expressão: Vd [ H 2 S ]l = F2 [ H 2 S ]entra − F2 [ H 2 S ]sai + kla ([ H 2 S ]int erface − [ H 2 S ]l )V dt d [ H 2 S ]Vconsumo − dt (69) d [ H 2 S ]l = kla ([ H 2 S ]int erface − [ H 2 S ]l ) − kconsumo [ H 2 S ] dt (70) 4.5.5. Modelo em estado estacionário Para os modelos em estado estacionário assume-se que: 1) A mistura é perfeita : X2 =X 2) Em estado estacionário : d( ) =0 dt 3) Xo = 0; A tabela seguinte mostra as equações que representam o estado estacionário do sistema. 72 Tabela 15: Balanços de massa em estado estacionário do sistema. Equação estado estacionário F F1 F X 0 + 2 X 0 − 3 X + µ ap X = 0 V V V F3 = µ ap = D V µ ap X F F1 S 0S − 3 S S = V V YSX Biomassa Substrato H2S fase líquida 0=− µ ap X F3 1 [ H 2 S ] sai l + k L a([ H 2 S ] g − [ H 2 S ]l ) + X V m YH 2 S (71) (72) (73) Considerando que a concentração de H2S na fase gás e igual que na fase liquida a pH=7,0 temos que: 0=− H2S fase gás 0= µ ap X F3 1 [ H 2 S ] sai l + k L a([ H 2 S ]l − [ H 2 S ]l ) + X V m YH 2 S Fg 2 V [ H 2 S ]0 g − Fg 3 V Subtraindo têm-se: − 1 − [ H 2 S ]l ) m µ ap X Fg 3 − [H 2 S ]g = − X V YH 2 S [ H 2 S ] g − k L a([ H 2 S ] g F3 [ H 2 S ] sai L V (74) (75) (76) Para o reator de precipitação em estado estacionário temos que: D2 ( M 0 − M ) = −k −1[ H 2 SO4 ] + k1[ MSO4 ][ H 2 S ] (77) 4.5.6. Biorreator gas- lift Os modelos contemplam a utilização de um biorreator gas-lift em uma configuração contínua, como se mostra na figura 16. Ele foi escolhido por permitir uma maior transferência de massa gás-líquido e recirculação do líquido sem ter partes móveis. Na figura 21 apresenta-se o reator com a unidade principal indicando as entradas e as saídas (gás e líquida). O gases que sai contém H2S e N2, sendo re-circulado passando por um processo de retenção do gás H2S com sulfato do metal. Para a modelagem foi considerado que a vazão de entrada de gás nitrogênio é constante. 73 N2 Figura 21 : Esquema do processo a ser simulado. 4.5.7. Reator de precipitação (contator gás –líquido) . O volume do reator de precipitação foi estimado segundo o tempo de residência hidráulica do efluente no reator. V =τ *F (78) onde, τ : tempo de residência no reator de precipitação, h V : volume do reator, m3 F : fluxo volumétrico ao tratar, m3/h 74 Considerando uma vazão de 32,2 m3/h e um tempo de residência hidráulico de 1 hora temos que o volume do reator de precipitação será de 32,2 m3. 4.5.8.Comparação econômica das possíveis reações químicas. Considerando as seguintes reações químicas, associam-se custos de forma a obter a melhor relação custo-beneficio, para os substratos analisados. Considerou-se a potencial recuperação e venda dos sulfetos metálicos. As reações estequiométricas para produção de H2S, utilizando diferentes fontes de energia e substratos, são: Processo 1 rio desulfuricans H 2 SO 4 + 4H 2 ⎯Desulfovib ⎯⎯⎯ ⎯⎯⎯ ⎯→ H 2 S + 4H 2 O MSO4 + H 2 S → MS + H 2 SO4 _________________________________________ (79) MSO4 + 4 H 2 → MS + 4 H 2 O Processo 2 Desulfovibrio desulfuricans 4H 2 SO 4 + 2C 2 H 5 OH + 4H 2 ⎯⎯ ⎯⎯⎯⎯⎯ ⎯→ 4H 2 S + 3H 2 CO 3 + CO 2 + 7H 2 O 4MSO4 + 4 H 2 S → 4MS + 4 H 2 SO4 _______________________________________________________________ (80) 4MSO4 + 2C 2 H 5 OH + 4 H 2 → 4MS + 3H 2 CO3 + CO2 + 7 H 2 O Processo 3 Desulfovibrio desulfuricans 6S + C 2 H 5 OH + 3H 2 O ⎯⎯ ⎯⎯⎯⎯⎯ ⎯→ 6H 2 S + 2CO2 6MSO4 + 6 H 2 S → 6MS + 6 H 2 SO4 _______________________________________________ 6MSO4 + 6S + C 2 H 5 OH + 3H 2 O → 6MS + 6 H 2 SO4 + 2CO2 (81) 75 Processo 4 Desulfovibrio desulfuricans 2C 3 H 5 O 3 Na + MgSO 4 ⎯⎯ ⎯⎯⎯⎯⎯ ⎯→ 2CH 3 COONa + MgCO 3 + H 2 S + H 2 O MSO4 + H 2 S → MS + H 2 SO4 (82) ________________________________________________________________ MSO4 + 2C3 H 5 O3 Na + M g SO4 → 2CH 3COONa + MS + MgCO3 + H 2 SO4 + H 2 O Processo 5 Desulfovibrio desulfuricans H 2 SO 4 + 2C 2 H 5 OH ⎯⎯ ⎯⎯⎯⎯⎯ ⎯→ 2CH 3 COOH + H 2 S + 2H 2 O MSO4 + H 2 S → MS + H 2 SO4 (83) _______________________________________________________ MSO4 + 2C 2 H 5 OH → MS + 2CH 3COOH + 4 H 2 O No apêndice (7.4 e 7.5) se mostram as tabelas com os cálculos dos processos considerando só as reações químicas. O melhor custo-beneficio é obtido na utilização de enxofre como substrato e etanol como fonte de energia (processo 3). Nesse caso, o cálculo foi feito considerando como base a produção de uma tonelada de H2S. Calcula-se a massa segundo a equação seguinte: massa ( moles t ) MM = massa (t ) g (84) massa ( moles 1(t ) 1 t) = = = 0,029 g MM H 2 S 32 (85) Têm-se os coeficientes estequiométricos da reação e calcula-se a massa ( moles t ) para os outros componentes da reação como segue: g moles H 2 S moles CO2 = moles x massa ( t) g com x = 0,009 ( (86) moles t ) para o caso do CO2. g Calcula-se a massa em toneladas segundo a equação 84 para cada composto. 76 Considerando o preço de cada composto no mercado, o cálculo do custo de cada composto por tonelada de H2S produzido segue a seguinte expressão: Custo = preço composto x massa(t ) (87) 4.5.9. Parâmetros cinéticos e balanços em estado estacionário. A tabela seguinte apresenta os parâmetros cinéticos e de desenho do bio- processo de geração de H2S pela bactéria Desulfovibrio desulfuricans utilizando enxofre como substrato e etanol como fonte de energia, baseados nos dados da literatura e estimado mediante os balanços de massa. Tabela 16: Parâmetros cinéticos de projeto. Equipamento Biorreator Reator precipitação Parâmetros de desenho Taxa de crescimento especifica máxima (µ) Rendimento de biomassa em função do substrato YSX Rendimento de biomassa em função X de substrato (etanol) YEtOH Coeficiente de transferência de massa gás-líquido Kla Nitrogênio Valor /Unidades 0,00141 h-1 0,03384 dia-1 0,062 g/g K saturação Biomassa inicial X0 Substrato inicial S0 1,09 g/l 0,01 g/l 200 g/l enxofre 985 g/l etanol 7,0 30 °C 1 h (ref) pH Temperatura de Tempo de residência Volume Altura Diâmetro 0,0015g/g 0,58 s-1 (Jorquera O, et al. 2003) 32 m3 3m 2m 77 Os rendimentos para crescimento em etanol e enxofre são descritos na seguinte tabela. Tabela 17: Rendimentos teóricos considerados, usando etanol como fonte de elétrons (equação 83). Rendimento Y YSCH 3CH 2OH 0,167 Ref Teórico YSX 0,062 Teórico YHCH2 S3CH 2OH 0,167 Teórico 1 Teórico 0,062 Teórico 0,21 Pfenning,N., et al.1976 YSH 2 S YHX2 S = X S H 2S S Y Y X CH 3CH 2OH Y = YSX YSCH 3CH 2OH Segundo o diagrama de bloco descrito, os dados cinéticos, os balanços em estado estacionário e as necessidades de H2S para precipitar os metais pesados são apresentados na seguinte tabela: Tabela 18: Valores obtidos a partir dos balanços de massa e um efluente a tratar de 32 m3/h. Fase liquida Fluxo total m3/h S kg/m3 X kg/m3 Fluxo masico S Kg/ h Fluxo masico X kg/h Fluxo total m3/h S kg/m3 X kg/m3 Fluxo masico S Kg/h F1 F2 F3 F3(etoh) F7 F8 F9 0,12 0,01 0,13 0,13 32,20 40,73 5,00 200,00 980,00 174,55 42,99 4,35 2,36 14,00 0,00 0,00 1,00 0,00 0,00 0,00 0,00 24,95 5,98 22,84 5,63 140,04 140,04 70,02 0,00 0,00 0,13 0,00 0,00 0,00 0,00 F10 27,20 0,00 0,00 Para a fase gasosa tem se: 78 Tabela 19: Valores obtidos a partir dos balanços de massa na fase gasosa. Fase gasosa Fluxo total m3/h Fluxo em ton/h S kg/m3 X kg/m3 Fluxo masico S Kg/h Fg1 Fg2 Fg3 Fg4 2166,24 1969,31 1969,31 984,66 0,00 0,00 0,00 0,00 0,0135 0,00 26,51 0,00 O dimensionamento dos equipamentos, baseado nas equações de projeto, é descrito na seguinte tabela: Tabela 20: Dimensionamento dos equipamentos do processo. Geometria Descrição Equipamentos Unidade Biorreator Reator de precipitação V (Volume) m3 102,9 32 Dw (Diâmetro reator) m 4,13 2 Dr (diâmetro tubo interno) m 2,917 Ht (altura total) m 7,7 3 4.5.10. Modelagem matemática Considerando o modelo cinético de Monod modificado, descrito por Raizer Neto (comunicação pessoal) para crescimento de microorganismos e os parâmetros de vazão, velocidade específica de crescimento, rendimentos e concentração de substrato que entra no reator, geram-se os seguintes gráficos para o modelo. 79 Figura 22: Gráficos de biomassa, substratos e produção de H2S versus tempo baseados nos modelos dinâmicos e considerando o modelo descrito por Raizer Neto. A biomassa chega a um estado estacionário depois de 6000 horas, com consumo de substrato e etanol na geração de H2S. O modelo permite explicar a fase lag do crescimento dos microorganismos, assim como o crescimento com taxas de diluição maiores que a velocidade específica de crescimento, atingindo, também, as exigências (0,2 g/L de H2S) para precipitar os metais pesados. 4.6. Ensaios de laboratório. 4.6.1. Crescimento de bactérias redutoras de sulfato no biorreator Ensaios em escala de laboratório foram feitos para avaliar a produção de H2S. Dada a baixa taxa de crescimento dos microorganismos e por problemas de contaminação com outras bactérias não foi possível atingir tal objetivo. 80 4.6.2. Tratamento de efluente ácido da unidade de lavagem de gás da UAS com Na2S. Segundo as características dos efluentes, trabalhou-se com o principal efluente que contém a maior carga de metais pesados, efluente gerado nos sistema de lavagem de gases (TQ-1105). Precipitaram-se os metais com Na2S para o efluente gerado na UAS (proveniente do TQ-1105) resultando em uma alta percentagem de remoção (>90%, com exceção do Zn) dos metais pesados, essa tendência pode-se observar na tabela 21. Trabalhou-se com Na2S já que a taxa de crescimento dos microorganismos foi muito baixa para a avaliação da precipitação dos metais com H2S produzido biotecnologicamente. A reação do Na2S se descreve na seguinte equação sendo equivalente ao uso de H2S. Na s S + H 2 SO4 → H 2 S + Na 2 SO4 MSO4 + H 2 S → MS + H 2 SO4 _________________________ Na 2 S + MSO4 → MS + N 2 SO4 (88) Tabela 21: Eficiência de remoção dos sulfetos metálicos com H2S a um pH<1 no efluente gerado na unidade de lavagem da UAS (sai do TQ-1105). O Zn pode ser precipitado seletivamente, aumentado o pH do efluente até pH=5. Metal As Cu Cd Pb Ni Zn Concentração (mg/l) 1262 361,3 294 96 271 328,6 Concentração Eficiência de depois da remoção (%) precipitação(mg/l) 1,67 99,87 0,036 99,99 0,315 99,89 2,56 97,33 0,587 99,78 103,38 68,53 O sistema proposto para a recuperação dos sulfetos seletivamente, gerando um efluente com ácido sulfúrico que pode ser reutilizado na UAS como produto. Os outros efluentes que entram na UTE já não tem a carga de ácido proveniente da UAS e o custo (como CaO) do tratamento dele baixa em comparação ao tratamento de todos os efluentes misturados. 81 5 Discussão e Conclusões 5.1. Caracterização de efluentes. A caracterização dos efluentes totais que entram na UTE mostrou que o maior aporte, em termos de carga, está presente no efluente proveniente da UAS (67 %), seguido do lavador (17%) e do ácido negro (9,7%), justificando a prioridade de atenção a este efluente (UAS) nas possibilidades de tratamento. A caracterização dos efluentes que compõem a UAS apresenta características similares quanto à concentração, acidez e composição dos metais pesados. Um maior aporte como carga é observado na unidade umidificadora devido a sua maior vazão. Como a diferencia es só na vazão o tratamento desse efluente teria que ser feito nas correntes misturadas. Foi apresentada a possível geração dos sulfetos metálicos para os efluentes que entram na UTE. Os sulfetos gerados têm características similares no conteúdo de Zn e Cu. O efluente da UAS e o Lavador gerariam principalmente sulfetos de zinco que pode ser vendido como concentrado de zinco. O efluente ácido negro, apresenta uma quantidade considerável de Ni e Cu. Os efluentes da laminação e mistura dos outras correntes gerariam principalmente sulfeto de cobre, que pode ser recuperado por seu envio novamente para o forno da fundição. Considerando as reações químicas para a geração biológica de H2S com diferentes substratos e fontes de energia, chegou-se a determinar que a melhor relação custo-benefício dá-se com enxofre como substrato e etanol como fonte de energia, tanto para o efluente gerado na UAS e Lavador como para os outros efluentes. O custo do tratamento da UAS e Lavador é de US$ 143 por tonelada de H2S produzido, com um ganho de US$ 408 por 82 tonelada de sulfeto de zinco produzido, se este último for vendido como concentrado. O tratamento das outras correntes gera sulfeto de cobre com um ganho de US$ 387 por tonelada de sulfeto de cobre produzido, que retornaria ao forno da fundição. Uma alternativa é o uso do próprio efluente, a ser tratado, como substrato. Essa alternativa implica um tratamento inicial do efluente, tirando os metais pesados principalmente arsênio, para logo entrar no reator onde o sulfato é transformado ate H2S num ciclo fechado, gerando um efluente com uma baixa concentração de sulfato. O uso de sulfeto de sódio para a geração do H2S no seio da solução, é uma outra, alternativa o que poderia ser implementado como uma medida de curto prazo para o tratamento dos efluentes segregados, diminuindo o consumo de leite de cal na UTE e os custos associados a esse processo . Usando H2S bio- gerado temos custos ainda menores de tratamento, considerando só insumos de processo. Por outro lado, os sólidos suspensos presentes no efluente da UAS representam da ordem de 2 % da carga total enviada a UTE. Uma alternativa seria a filtração na fonte e retornar os sólidos ao forno da fundição recuperando parte do cobre ainda presente neles. 5.2 Modelagem matemática O modelo clássico de Monod e os parâmetros cinéticos estimados, segundo o sistema modelado, não permitem explicar satisfatoriamente a geração da biomassa já que esta não chega a um estado estacionário. Também não explicaria a fase lag de crescimento bacteriano com os parâmetros aplicados. O modelo descrito por Raizer Neto (comunicação pessoal) permite explicar satisfactoriamente o descrito anteriormente. Comparando os dados obtidos em estado estacionário com o sistema dinâmico na fase estacionaria, se chegou aos mesmos valores de concentração. Os modelos em estado estacionário concordam com o estado estacionário do sistema dinâmico. Os modelos indicaram que depois de 6000 horas se tem um estado estacionário do sistema, gerando 0,15 g/ L h, de H2S, no modelo descrito por Raizer Neto. 83 5.3. Modo de operação da planta de H2S A planta operaria segundo o modelo apresentado no fluxograma do apêndice 7.3. O biorreator com um volume de 100 m3 geraria H2S que seria enviado a um contator gáslíquido para a precipitação dos metais pesados no efluente gerado no sistema de lavagem de gás da UAS. O efluente tratado geraria os sulfetos de Cu e Bi, em uma primeira etapa, segundo o tempo de residência hidráulico e o potencial redox da solução, recuperando os sulfetos desses metais. Em uma segunda etapa precipitariam principalmente arsênio, cádmio, chumbo e uma fração de zinco. O efluente ácido resultante é composto principalmente de ácido sulfúrico que pode ser reutilizado na UAS. O tratamento dos efluentes da UAS, assim como do lavador, ácido negro, laminação e outros, permitiria reduzir quase 100 % a carga dos metais que entram na UTE, reutilizando cerca de 25% da vazão total como efluente ácido (proveniente da UAS e ácido negro da eletrolise) para sua concentração na planta de ácido sulfúrico e da ordem de 75 % (os outros efluentes), como água de processo. 5.4. Estudos em escala de laboratório A caracterização do reator projetado correlacionou-se com as expressões teóricas descritas por Gavrilescu (1999) em seus trabalhos de modelagem de biorreatores gas-lift, corroborando-o. Trabalhou-se na região linear na curva de hold-up vs. velocidade superficial do gás, o que garante um padrão de fluxo homogêneo. Os números de Reinolds indicam que o padrão de fluxo chega a ser turbulento (considerando fluxo turbulento valores de Re>2000) para a vazão de gás que entra, sendo maior na região do riser que no downcomer. No tempo de desenvolvimento da presente dissertação não foi possível estudar o crescimento bacteriano e avaliar a taxa de produção de H2S dada à baixa taxa de velocidade de crescimento do microorganismo, que segundo os modelos chegaria a um estado estacionário em aproximadamente 8 meses, pelo qual se tratou o efluente proveniente da UAS com Na2S para verificar a eficácia do tratamento com H2S e ver os efeitos na precipitação dos metais pesados. 84 5.5. Precipitação dos metais pesados. Dada a impossibilidade de gerar H2S por problemas de baixa taxa de crescimento e contaminação com outros microorganismos, usou-se N2S para avaliar de forma análoga a precipitação dos metais presentes no efluente. O sulfeto de sódio ao reagir com ácido gera H2S o qual em contato com o metal pesado gera o respectivo sulfeto metálico. Os metais precipitados com Na2S podem ser disponibilizados como sulfetos e reutilizados para a recuperação de Zn ou Cu. A precipitação dos metais pesados provenientes do sistema de lavagem de gás da UAS com Na2S permitiu avaliar a percentagem de efetividade do processo, sendo de 99 % para os metais mais tóxicos como As e Cd e gerando uma pequena quantidade de material sólido comparado com a quantidade de sólidos gerados no tratamento com leite de cal. 5.6. Conclusões ¾ A caracterização dos efluentes permitiu a escolha do tratamento adequado para a redução dos contaminantes, valorizando o efluente em termos de reuso em outros processos e reduzindo seu impacto ambiental. ¾ A segregação dos efluentes é primordial para essa caracterização, obtendo com isso tratamentos compatíveis aos teores de contaminantes contidos. ¾ A caracterização dos efluentes que entram na UTE indica que o maior aporte de metais pesados como carga, concentra-se na UAS. ¾ Os sulfetos gerados no tratamento com H2S poderão ser re-utilizados como concentrado do metal, seja para venda ou re-processando o cobre. O sulfeto do arsênio pode ser disposto em sistemas especiais de armazenamento para uma futura aplicação. ¾ O processo apresentado indica que a geração de H2S biotecnologicamente, é de maneira limpa e segura. ¾ O H2S utilizado gerará os sulfetos metálicos em um volume muito menor que o volume de lama de gesso, gerado atualmente, podendo ser obtidos 85 seletivamente e dispostos segundo variadas alternativas: venda no mercado ou recirculação do sulfeto de Cu recuperado no forno da fundição. ¾ A modelagem dinâmica do sistema permitiu explicar os dados obtidos no sistema em estado estacionário para o processo proposto, chegando a um estado estacionário em 6000 h, com uma produção de H2S segundo as exigências. ¾ O biorreator projetado, tipo gas-lift, correlaciona-se com os valores teóricos descritos na literatura para esse tipo de reator, confirmando os parâmetros geométricos do projeto. ¾ Segundo a literatura e os resultados apresentados, o uso de H2S gerado biotecnológicamente é a melhor tecnologia disponível com vantagens econômicas para o tratamento de efluentes com alta carga de metais pesados e alto conteúdo de acidez. 5.7 Sugestões O trabalho apresentado descreve um processo de tecnologia biológica para o tratamento de efluentes contaminados com metais pesados. Sugere-se a realização dos seguintes itens para futuros trabalhos no tema: ¾ Estudo do sistema em escala de laboratório, o que permitirá avaliar a viabilidade técnica e operabilidade do biorreator, caracterizado-o e possibilitando estudar seu controle. ¾ Estudo do crescimento de bactérias redutoras de sulfato (BRS) no reator montado. ¾ Estudo da cinética de crescimento e rendimentos das BRS para produção de H2S. ¾ Estudo do sistema de controle apropriado para o trabalho com H2S gerado no biorreator. ¾ Estudo da efetividade de remoção dos metais pesados usando H2S nos diferentes efluentes que entram na UTE. ¾ Estudo de sistema de sedimentação e separação dos sulfetos metálicos gerados. ¾ Disposição segura e reaproveitamento adequado para os sulfetos metálicos gerados. 86 6 Referencias Badziong, W., Thauer, R.K. and Zeikus, J.G. (1978). “Isolation and characterization of Desulfovibrio growing on hydrogen plus sulfate as the sole energy source”. Arch. Microbiol. 116: 41-49. Boonstra, J., Picavet, M., Dijkman, H., and Buisman, C., (2003), “Efficient treatment of complex wastewaters at Umicore Precius Metal using biotechnology”, Environment and sustainable Development, II, 263-273. Buisman, C.J.N., Dijkman, H., (2003),”Process for the treatment of waste water containing heavy metals”, Patent No.: US6,630,071 B1. Buisman, C.J.N., (1999), “ Process for the treatment of gases”, Patent number: US 5,976,868 A. Chaturvedi A.K., Smith D., Canfield D., (2001), “A fatality caused by accidental production of hydrogen sulfide”, Forensic Science International, 123, 211-214. Chang, I.S., Shin, P.K., Kim, B.H., (2000), “Biological Treatment of Acid Mine Drainage Under Sulphate Reducing Conditions With Solid Waste Material as Substrate”, Wat. Res., 34, 1269-1277. 87 Choi, S-C. Chase, T., and Bartha, R., (1994),”Metabolic Pathways Leading to Mercury Methylation in Desulfovibrio desulfuricans LS”, Applied and Environmental Microbiology, 4072-4077. Cipionka, H., Pffening N., (1986), “Growth Yield of Desulfovibrio orientis with hydrogen in Chemostat Cultures”. Archives of Microbiology. 143: 396-399. Cipionka, H., Smock, A.M., Bottcher, M.E., (1998), “A combined pathway of súlfur compound disproportionations in Desulfovibrio desulfuricans”, FEMS microbiology letters, 166, 181-186. CONAMA, 1986, Resolução CONAMA Nº 20. Cork, D.J., Cusanovish, M.A., “Sulfate descomposition: A microbial Process Metallurgical Application of Bacteria Leaching and related Microbial Phenomena. In: L.E.Mun, A.E.Arma, J.A. Brierly, Ed. New York: Academic Press, 1978. Curcovic, L., Cerjan-Stefanovic,S., Filipan, T., (1997),” Metal ion Exchange by natural and modified Zeolites”, Wat.Res., 31, 1379-1382. Eccles, H.,(1999),” Treatment of metal-contaminated wasted: why select a biological process?”, Tibtech, 17, 462-465. Ellermeyer, S., Hendrix, J., Ghoochan, N., (2003), “A theorical and empirical investigation of delayed growth response in the continuous culture of bacteria”, Journal of Theoretical Biology, 222, 485-494. Foucher,S., Battaglia-Brounet, F., Ignatiadis, I., Morin, D. (2001), “Treatment by sulphate-reducing bacteria of Chessy acid-mine drainage and metals recovery”, Chemical Engineering Science, 56, 1639-1645. 88 Gas properties, 2003, http://www.airliquide.com/. Gavrilescu,M. and Tudose, R.Z., (1998),” Concentric-tube airlift bioreactors, Part I: Effects of geometry on gas hodup” , Bioprocess Engineering, 19, 37-44. Gavrilescu,M. and Tudose, R.Z., (1998),” Concentric-tube airlift bioreactors, Part II: Effects of geometry on liquid circulation” , Bioprocess Engineering, 19, 103-109. Gavrilescu,M. and Tudose, R.Z., (1998), “Concentric-tube airlift bioreactors, Part III: Effects of geometry on mass transfer” , Bioprocess Engineering, 19, 175-178. Gavrilescu,M. and Tudose, R.Z., (1999), “Modelling mixing parameters in concentric- tube airlift bioreactors, Part I: Mixing time”, Bioprocess Engineering, 20, 423-428. Gavrilescu,M. and Tudose, R.Z., (1999), “Modelling mixing parameters in concentric- tube airlift bioreactors, Part II: Axial dispersion”, Bioprocess Engineering, 20, 491-497. Ghirardini M., Donati G., Rivetti F., (1992), “Gas lift Reactors: Hydrodynamics, mass transfer and scale up”, Chemical Engineering Science, 47: 9-11. Glombitza, F.,(2001),”Treatment of acid lignite mine flooding water by means of microbial sulphate reduction”, Waste Management, 197-203. Herrera L., (1982), Defensa de Tesis doctoral: "The production of Trichoderma reesei cellulase in an airlift reactor", Universidad de Gales, U.K. Herrera L., Hernández J., Bravo L., Romo L., Vera L., (1997), “Biological Process for Sulfate and Metals Abatement from Mine Effluents”, Environ. Toxicol. Water Qual., 12, 101-107. Herrera L., Hernandez, J., Ruiz P., and Gantenbein, S., (1991), “Desulfovibrio desulfuricans Growth Kinetics”, Environ. Toxicol. Water Qual.: An International Journal, 6, 225-237. 89 Jorquera O., Dantas, L.A., Kiperstok, A., (2003), “Desenvolvimento de um processo biotecnologico para remoção de metais de um efluente industrial ácido proveniente da industria do cobre”., Tecbahia, 18, 89-99. KEGG, Metabolic pathway, www.kegg.com Krekeler, D., Cypionka, H., (1995),” The preferred electron acceptor od Desulfovibrio desulfuricans CSN ”, FEMS microbiology ecology, 17, 271-278. Krishna, R., Dreher A.J., Urseanu M.I., (2000), “Influence of alcohol addition on gas hold-up in bubble columns: development a scale up model”, Int. Comm. Heat Mass Transfer, 27: 465-472. Lens, P.N.L., Visser, A., Janssen, J.H.A., Hulshoff Pol, L.W., Lettinga, G., (1998),”Biotechnological Treatment of Sulfate-Rich Wastewaters”, Critical Reviews in Environmental Science and Technology, 28, 41-88. London metal Exchange, 2003 http://www.lme.co.uk. Lyndersen, B.K., D’elia, N.A., Nelson, K.L., “Bioprocess Engineering: Systems, Equipment and Facilities”, John Wiley & Sons, Inc., New York, 1994. Luptakova, http://www.tuke.sk/hf/konferencie/after-konf/luptakoval199-204.pdf, 2003. Matis, K.A., Zouboulis, A.I., Lazaridis, N.K., Hancock, I.C., (2002), “Sorptive flotation for metal íons recovery”, Int.J.Miner.Process, 1616,1-10. Metals Price, 2003, https://www.metalprices.com/ 90 Nagpal S, Chuichulcherm S, Livingston A, Peeva L, (2000), “Ethanol utilization by sulfate-reducing bacteria: an experimental and modeling study”, Biotechnol. Bioeng.,5, 533-43. Okabe, S., Nielsen, P., Characklis, W., (1992), “Factor affecting Microbial Sulfate Reduction by Desulfovibrio desulfuricans in continuos Culture: Limiting Nutrients and Sulfide Concentration”, Biotechnol. Bioeng. 40: 725-734. Oude Elferink, S.J.W.H., Visser, A., Hulshoff, L.W., Stam, A.J.M., (1994), “ Sulfate reducion in methanogenic bioreactors”, FEMS Microbiology Reviews, 15, 119-136. Perry, R.H., Green, D.W., Ackers, D.E., Maloney, J.O., Perry’s Chemical Engineers Handbook, McGraw-Hill Companies, Inc., 7th ed. 1999. Pfenning N, Biebl H., (1976), “Desulfuromonas acetoxidans gen.nov. and sp. Nov., a new anaerobic, sulfur bacterium”, Arch. Microbiol., 110, 3-12. Pilat, B.V., (2003), “Industrial aplication of electrodialysis reversal systems”, Desalination, 158, 87-89. Sevella, B., Bertalan, G., (2000), “Development of MATLAB based bioprocess simulation tool”, Bioprocess Engineering, 23, 621-626. Truex., M., Peyton B., Toth, J., (2002), “ Methods for producing hydrogen (BI) sulfide and/or removing metals”, Patent No.: US6,387,669 B1. Van Houten R.T., Pol L.W. and Lettinga G., (1994), “ Biological Sulphate Reduction Using Gas lift Reactors Fed with Hydrogen and Carbon Dioxide as Energy and Carbon Source”, Biotechnology and Bioengineering, 44, 586-594. 91 Van Houten R.T., Oude Elferink, S.J.W.H., van Hamel, S.E., Hulshoff Pol, L.W., Lettinga, G., (1995), “Sulphate Reduction by Aggregates of Sulphate Reducing Batceria and Homo-Acetogenic Bacteria in a Lab-Scale Gas-Lift Reactor”, Bioresource Technology, 54, 73-79. Yabe, M.J.S., Oliveira, E., (2003), “Heavy metals removal in industrial effluents by sequential adsorbent treatment”, Advances in Environmental Research, 7, 263-272. Zhuang Y., Siemon A., Ireland N., Johnson G. ,(2000),”pH Measurement and Control in Solvent Extraction using Column Contactors”, Hydromet. http://www.wmt.com.au/research-papers.htm 92 7 Apêndice 7.1. Desenho do biorreator tipo gas lift. 93 94 7.2. Equações de desenho: cálculo, valores experimentais e teóricos. Cálculo Dr Ds=Dw hl (líquido) hB hs hl ht V reactor V líquido Rr Ra Qg Ar Aw R=Aw/Ar vsgr Pi Vvol líquido r Vvol líquido a ρL De n Rr/Ra hold-up g Fr Sh Sh DL Kla Ga hL B T Y εGR εGD εGS εGT 0,056 0,07938 0,3 0,02 0,02 0,3 0,4 0,001979575 0,001484682 3920 1636,6 1,66667E-05 0,002463009 0,00248593 1,00930625 0,006766792 3,141592654 0,07 0,07 1000 0,02338 1 2,395209581 9,8 0,00913431 7,10827E-07 24253,83041 2250 0,51 537135794,8 0,00179 0,357142857 1,357142857 0,957420005 0,013909172 0,002363795 0,014186148 0,010271248 Unidades m m m m m m m m3 m3 turbulento m3/s m2 m2 m/s m/s m/s kg/m3 cp m/s2 m2/s s-1 Pa*s 95 7.3. Fluxograma de recuperação e custo dos metais. 7.4. Custo para venda de concentrado (sulfeto metálico) da UAS e do lavador. 7.5. Custo para venda do concentrado (sulfeto metálico) da mistura dos efluentes menores. 98 7.6.Desenho metabólico da bactéria Desulfovibrio desulfuricans (KEGG metabolic pathway). 99 7.7. Custos e comparação do uso de sulfeto de sódio e sulfeto de hidrogênio. 100 7.8. Listagem do programa Parâmetros global mumax Ks p muap So Se Kla %MODELO ERNESTO RIZER F(1)=0.124750;%m3/h afluente com S F(2)=0.0061; %m3/h vazão que leva etanol e nutrientes F(3)=F(1)+F(2); So=200; Se=980; Fg(1)=36; %m3/h V=94;%m3 volume do reator %F(4)=0.1; %m3/h vazão de gás p(1)=F(1)/V; p(2)= F(2)/V;%200*F(1)/F(3);% So, concentraçao de sulfato g/l na alimentaçao p(3)=F(3)/V; p(4)=0.062;%(p(2)-y(2))/y(1);% rendimento de celulas por sulfato consumido Yxs p(5)=0.21; % rendimento biomassa por etanol consumido %p(6)=0.00001; %concetracao de H2S gas p(7)=2.53; %solubilidade do H2S p(8)=0.0049; %rendimento de H2S Kla=0.52*60; %1/s p(9)=Fg(1)/V; % fluxo de gas dividido pelo volume do gas do reator mumax=0.00141; %h-1 velocidade de crescimento maxima em estado estacionario Ks=1.46; %constante de monod sulfato kg/m3 %Ks2=0.6;%constante de inibicao de h2s tspan=[0,3500];% tempo em horas y0=[0.1;200;980;0.00001;0.00001]; options = odeset('RelTol',1e-4,'AbsTol',[1e-4]); [T,Y] = ode45('enxofretanol',tspan,y0); 101 figure (1); subplot(3.4,3,1) plot(T,Y(:,1),'-') title(['Biomassa']); %xlabel('tempo t(h)'); ylabel('Concentraçao g/l'); %axis([tspan(1) tspan(end) 0 10]); figure(1); subplot(3.4,3,2) plot(T,Y(:,2),'-') title(['Enxofre']); %xlabel('tempo t(h)'); %ylabel('Concentraçao g/l'); %axis([tspan(1) tspan(end) 100 200]); figure(1); subplot(3.4,3,3) plot(T,Y(:,3),'-') title(['etanol']); %xlabel('tempo t(h)'); %ylabel('Concentraçao g/l'); %axis([tspan(1) tspan(end) 10 980]); figure(1); subplot(3.2,3,4) plot(T,Y(:,4),'-') title(['H2S líquido']); xlabel('tempo h'); ylabel('concentracao g/l'); 102 figure (1); subplot(3.2,3,5) plot(T,Y(:,5),'-') title(['H2S gas']); xlabel('Tempo h'); %ylabel('Concentracao'); %figure (1); %subplot(3.2,3,6) %plot(Y(:,4),Y(:,5),'-') %title(['H2S líquido-gas']); %xlabel('H2S líquido'); %ylabel('H2S gas'); %figure (1); %subplot(3,3,7) %plot(Y(:,1),Y(:,2),'-') %title(['biomassa-substrato']); %xlabel('biomassa'); %ylabel('substratoConcentracao'); %figure (1); %subplot(3,3,8) %plotyy(T,Y(:,1),T,Y(:,2),'plot') %title(['Biomassa-substrato']); %xlabel('Tempo h'); %ylabel('Concentracao'); 103 %figure (1); %subplot(3,3,9) %plotyy(T,Y(:,4),T,Y(:,5),'plot') %title(['H2S líquido-gas']); %xlabel('Tempo h'); %ylabel('Concentracao'); Equações diferenciais function dy=enxofretanol(t,y) % modelo de gas lift Modelo Ernesto Raizer global mumax Ks p muap So Se Kla mumonod=mumax*y(2)/(Ks+y(2));%*(y(3)/(Ks2+y(3))); %mumonod=mumax*(1-y(4)/Ks2)/(1+Ks/y(2)); beta=0.9994; gamma=0.3449; alpha=beta+gamma*log((p(1)*So/y(1))); muap=alpha*mumonod; dy=zeros(5,1); %Biomassa dy(1)=-p(3)*y(1)+muap*y(1);% mol/m3 biomassa mas inibiçao mas morte mas recirculaçao % Substrato sulfato dy(2)=p(1)*So-p(3)*y(2)-(muap*y(1)/p(4));% substrato 104 %substrato etanol dy(3)=p(2)*Se-p(3)*y(3)- (muap*y(1)/p(5)); % g/l etanol % H2S líquido dy(4)=-p(2)*y(4)+Kla*(y(5)*p(7)-y(4))+muap*y(1)/p(8); %H2S gas dy(5)=-p(9)*y(5)+ muap*y(1)/p(8); 105