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Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
CIÊNCIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A CONDUÇÃO DA SEIVA
Márcia Cristina Schneider (SEMED - UFGD)
RESUMO: A pesquisa teve como objetivo verificar os conhecimentos prévios que as
crianças tinham acerca da condução da seiva. As crianças participantes do estudo estavam na
faixa etária de cinco a seis anos e frequentavam uma instituição pública do município de
Dourados/MS. A metodologia, de abordagem qualitativa, coletou dados a partir de rodas de
comunicação, realização de experiências e desenhos. O estudo fez reflexões acerca da
importância de se conhecer o que as crianças já sabiam e o que queriam saber mais. Os
resultados foram satisfatórios, apontando para a compreensão, por parte das crianças, acerca
dos conceitos básicos da condução da seiva, o que permitiu a elas reelaborarem seus
conhecimentos cotidianos.
Palavras-chave: Educação Infantil. Ciências. Crianças.
INTRODUÇÃO
Segundo Rosa (2001, p. 154), “[...] a criança, para construir conhecimento, precisa agir,
perguntar, ler o mundo, olhar imagens, criar relações, testar hipóteses e refletir sobre o que
faz, de modo a reestruturar o pensamento permanentemente”. Nesse contexto, nosso estudo
teve como objetivo verificar os conhecimentos prévios que as crianças tinham sobre o
transporte de água com corante no corpo das plantas. A perspectiva era exatamente, propiciar
experiências às crianças, considerando a importância de se conhecer o que elas já sabiam e o
que queriam saber mais.
As crianças que participaram conosco da pesquisa estavam na faixa etária de cinco a seis
anos e frequentavam uma instituição pública do município de Dourados, estado de Mato
Grosso do Sul. A metodologia que escolhemos, de abordagem qualitativa, propiciou contatos
bem próximos com as crianças participantes do estudo, quando foi possível coletarmos dados
a partir de rodas de comunicação com as crianças, realização de experiências, observações das
suas reações, bem como perceber o interesse e a participação de todas elas.
O conteúdo de botânica era o que maisnos encantava. Entretanto, nossa paixão pelas ciências
foi reacendida, quando passamos a cursar a pós-graduação (Especialização na Docência da
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Educação Infantil, na Faculdade de Educação da Universidade Federal da Grande Dourados,
2014-2016), em uma universidade pública, e conhecemos dois profissionais da área de
ciências que ministraram aulas extraordinárias, as quais acabaram influenciando e alterando
nosso olhar sobre o tema, uma vez que foi possível conhecermos e discutirmos as deficiências
do ensino de ciências, bem como buscarmos possíveis soluções para a melhoria das atividades
proporcionadas às crianças nessa área.
As referidas atividades nos proporcionaram subsídios para compreendermos a dimensão
de nossas ações, para refletirmos e monitorarmos nossa prática, fazendo-nos reelaborar nosso
conceito de construção do conhecimento e da aprendizagem. Como bem pontua Rosa (2001,
p. 153), “o ensino de ciências na educação infantil acontece preferencialmente integrado às
demais áreas de conhecimento, proporcionando, através dos conhecimentos acumulados das
teorias, das metodologias e dos instrumentos da área, uma riqueza de possibilidades de
exploração do mundo”.
E, nesse sentido, um momento bastante reflexivo das aulas foi a possibilidade de ouvir
os relatos e depoimentos dos colegas. Alguns educadores de infância indicaram para os
professores convidados que tinham muita dificuldade quando se deparavam com o ensino de
plantas, alegavam a falta de domínio do conteúdo e a não obtenção de uma formação
adequada na área.
Perante tais inquietações, surgiu a temática de nossa pesquisa, intitulada “Ciências na
Educação Infantil: a condução da seiva”. Como professora de Educação Infantil e dos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental, reconhecemos que as crianças pequenas são naturalmente
curiosas e fascinadas sobre o mundo em torno delas. Gostam de realizar experiências com
plantas, gostam de pegar, olhar, explorar e questionar praticamente sobre qualquer planta que
encontram no ambiente natural.
Portanto, temos que considerar a relevância do tema, pois no nosso entendimento é um
requisito indispensável na educação das novas gerações, para que possamos desenvolver uma
alfabetização eficaz na área de ciências. Contudo, poucas práticas educativas são realizadas e
a quantidade de trabalhos que tratam desta área é ainda incipiente. Além disso, muitos
educadores que atuam na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental,
desenvolvem atividades limitadas. Assim, acreditamos que o estudo, mesmo inicial, poderá
contribuir com as discussões na área.
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REFLEXÕES TEÓRICAS ACERCA DO ESTUDO
Segundo Giordan (1999), é consenso que a experimentação em ciências desperta
interesse entre as crianças, independente do nível de escolarização, pois, para elas, a
experimentação tem caráter motivador para os sentidos. Assim, o processo de aplicação do
experimento constitui-se de ferramenta importante no processo de aprendizagem das crianças,
pois, quase sempre, a experimentação aumenta a capacidade de aprendizado uma vez que
envolve as crianças nos temas trabalhados.
Infelizmente, muitas das vezes, o ensino de ciências oferecido na Educação Infantil é
baseado em datas comemorativas, mostrando-se inadequado para motivar as crianças por
ciências e levando a consequências desastrosas. As crianças saem da escola com um
conhecimento trivial, com fracas conexões entre os conceitos mais importantes, com
concepções não científicas de como o mundo natural funciona, saem acríticos e sem
capacidade de aplicar o conhecimento em novos contextos.
Em contrapartida, de acordo com Rosa (2001, p. 153), “muitos dos temas enfocados por
essa área [ciências] são temas de interesse das crianças sobre os quais elas já vêm se
perguntando e construindo concepções e representações [...]”. Ou seja, e fundamental, ao
planejarmos qualquer atividade envolvendo conhecimentos da área de ciências, criar
oportunidades para que as crianças interajam com diferentes materiais e expressem suas
concepções, representações e hipóteses explicativas.
Tal cenário nos leva a defender a necessidade de se buscar novas formas de ensinar os
conceitos básicos de botânica na Educação Infantil. No entanto, há que sublinhar que, em
grande parte das instituições, faltam livros de qualidade na área de ciências; a formação
continuada ainda está bastante distante de ser satisfatória; os materiais de baixo custo de apoio
são, muitas vezes, inexistentes em algumas escolas; os educadores normalmente apresentam
mais de um vínculo, não tendo muito tempo disponível para preparar atividades de campo e
experimentações.
Na Educação Infantil as crianças aprendem sobre a classificação e as características das
plantas – um dos primeiros temas de ciências ensinado às crianças. Por exemplo, a
experiência do feijão, por meio da qual as crianças aprendem que as plantas têm necessidades
básicas, incluindo ar, água, nutriente e luz. Embora esses conceitos pareçam facilmente
ensinados através da observação e do cuidado com as plantas, a pesquisa por nós
empreendida, mostra que muitas crianças ainda carregam muitos equívocos que, mais tarde,
se tornarão difíceis de serem substituídos nos anos subsequentes de sua escolarização.
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Kinoshita et al (2006, p. 13) destaca que “[...] o ensino de plantas caracteriza-se como muito
teórico, desestimulante para as crianças e subvalorizado dentro do ensino de ciências”.
Nessa perspectiva, Rosa (2001, p. 154) ressalta o cuidado que se deve ter ao abordar a
temática com as crianças pequenas. “[...] na educação infantil, é fundamental que os temas
sejam abordados de forma lúdica, através de jogos simbólicos, do „faz-de-conta‟, de
personagens da literatura e da televisão, etc.” Ou seja, as crianças de instituições de Educação
Infantil ainda não têm uma compreensão científica de conceitos como o de plantas. Mas elas
são capazes de desenvolver “mini teorias” de como o mundo “funciona”, em razão de suas
experiências e crenças.
Trabalhando exatamente com esse contexto teórico, o nosso estudo procurou desvendar o que
as crianças consideravam como essencial na mudança de cor das pétalas (corola). Assim, a
seguir, apresentamos a pesquisa, justificando a metodologia utilizada bem como os
instrumentos empregados para a coleta dos dados. E, ainda, apresentamos a estrutura para a
análise dos episódios.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada nesse estudo é a da abordagem qualitativa (LÜDKE;ANDRÉ, 1986),
quando procedemos por meio de observação participante e analisamos os dados coletados
pelo método de análise de conteúdo. Bardin (2006) aponta que essas etapas são organizadas
em três fases: 1) pré-análise, 2) exploração do material, 3) tratamento dos resultados,
inferência e interpretação.
A pesquisa realizada com crianças de cinco a seis anos, envolveu o processo de exploração, o
planejamento, a organização das experiências, as previsões e a gravação dos dados. Esta
estrutura não é linear, ela é usada aqui para sugerir um andaime para o ensino de ciências
baseado na investigação e aprendizagem, que se assemelha ao modo como os cientistas
trabalham. A investigação científica favorece a construção de conceitos mais rigorosos
partindo dos saberes e interesses das crianças (Schneider, 2012).
As crianças fazem previsões e observações, desenvolvem compreensão sobre as partes de uma
planta, aprendem como a água se move através de uma planta, tiram conclusões simples e
fazem um desenho de observação sobre as mudanças ocorridas nas pétalas.
A coleta de dados foi realizada na sala e no pátio da escola. A sala era composta dequinze
crianças de uma instituição pública, na qual a professora ministrava aulas de literaturae
produção textual. O foco do estudo foi o desenvolvimento de uma sequência didática,baseada
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em atividades práticas. A professora formadora (orientadora da pesquisa) acompanhou a
pesquisadora em algumas atividades realizadas.
Para a descrição dos fatos, foi utilizada, principalmente, a transcrição dos diálogos dos
participantes durante o desenvolvimento das atividades experimentais. Após a reunião do
material e a transcrição dos diálogos, organizaram-se as falas mais significativas em fichas
para análise.
Bardin (2000, p. 42) define a análise de conteúdo como um “um conjunto de técnicas
de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de
descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a
inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas)
destas mensagens”.
RESULTADOS, ANÁLISES E DISCUSSÕES.
Primeiro encontro
O encontro ocorreu no período vespertino em uma sala ampla. As criançasparticiparam de
uma roda de comunicação antes da instrução formal.
A professora concentrou explicitamente a atenção das crianças falando de plantas: –Nós
amamos as plantas; sempre foi um dos meus temas favoritos e eu ainda adoro aprender sobre
elas. Vocês gostam de ir ao jardim ver as plantas? O que vocês sabem sobre as flores?Já
realizaram algum experimento? Como será que a planta se alimenta?
Durante os questionamentos, muitas crianças, entusiasmadas, queriam contar histórias.
Cada uma, do seu jeito e com suas experiências, ia relatando fatos interessantes sobre suas
experiências com plantas. Algumas disseram que já tinham ouvido falar, mas que não sabiam
dizer ao certo o que seria; outras responderam que gostavam de regar o jardim e plantar.
As crianças ficaram prontamente engajadas na conversa, descrevendo as suas atividades
científicas atuais que, normalmente, incluíam animais e plantas.
Surpreendentemente, uma das crianças mais novas comentou, na roda de conversa, que
gostava de plantas e queria aprender mais sobre elas, como elas comem e bebem água. Em
seguida, as demais crianças seguiam com a conversa sobre flores, insetos, explicando que
gostariam de aprender todas as coisas de ciências, realizar experiências na escola e não
queriam ficar só pintando e brincando no parque.
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Segundo encontro
A professora levou para a sala de aula margaridas (flores brancas ou claras) e anilina de várias
cores para montar o experimento. Mostrou às crianças quais os materiais que o grupo iria
utilizar e os distribuiu.
As crianças foram divididas em pequenos grupos, com quatro componentes. Os materiais
foram entregues dentro de uma caixa e cada criança foi orientada a pegar uma tesourinha para
fazer um corte na extremidade do caule (diagonalmente). As crianças pegaram a margarida e
retiraram todas as folhas de seus ramos e depois fizeram um corte transversal no ramo.
Observamos que elas tiveram muita dificuldade para executar esta atividade. Desse modo,
foram dadas novamente demonstrações sobre como deveriam efetuar o corte dos caules.
Explicou-se para as crianças que isso era uma precaução para assegurar que não havia ar
dentro dos vasoscondutores que impedissem que o resultado fosse perceptível. Em seguida
foram distribuídasgarrafas pet às crianças e dadas algumas instruções sobre a sequência da
atividade:
1- Coloque uma margarida em uma garrafa pet e adicione água. Misture algumas gotas de
corante alimentício na água (use as cores que desejar).
2- Mergulhe a flor na água com o corante dissolvido.
O objetivo principal estimular as crianças na construção de explicações a partir de uma
observação. Este momento foi surpreendente para as crianças, todas elas queriam fazer
previsões, então aproveitamos o momento e fizemos alguns questionamentos:
1- Será que ocorrerá alteração na coloração das pétalas?
2- O que acontecerá com as flores? Será que elas conseguirão viver na água colorida?
3-As flores beberão a água? Será que vão mudar de cor?
As crianças começaram a agir sobre o material, familiarizaram-se com o experimento e
começaram a testar suas hipóteses e observar evidências.
Transcrição de alguns trechos selecionados
1-Ocorrerá alterações na coloração das pétalas (corola)?
Ana-Sim, elas têm vida.
Laura-Não, elas vão murchar.
Paula- Acho que sim. Ela já tem cor branca e vão mudar.
Sara-Acho que não, tia.
Carlos – Vixi, vai sabê! Nunca fiz esta experiência.
Fabio- Hum! Não sei!
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2-O que será que acontecerá com as flores?
Ana- Nossa! Tadinha, antes de colocar na água elas já estão tristes (murchando).
Laura-Você não está vendo, lá fora tá quente (tempo), ela vai morrer.
Paula- Se ela tivesse lá no jardim podia molhar (regar), assim não ia morrer.
Sara- Ela não vai viver, cortamos a raiz dela.
Carlos- Não sei não!
Fabio - Vai morrer, tá sem raiz.
3-As flores bebem água? Será que irão mudar de cor?
Ana- Elas bebem bastante água, pela raiz.
Laura-Pela boca.
Paula- Sim!Vão ficar colorida!
Sara-Igual o mundo, colorido.
Carlos- Sim! Vou pedir para minha mãe pra fazer em casa só para ver se muda de cor, muito
legal e divertido.
Fábio- Chupam água colorida, uai vai ficar colorida.
Fonte:Elaborado pela autora, 2015.
Terceiro encontro: o experimento - Depois de um dia...
Depois de um dia, as experiências realizadas foram levadas para a sala, as criançasobservaram
com a lupa, tocaram as pétalas e ficaram deslumbradas com o belo colorido.
Destaca-se que elas se tornaram mais confiantes e ansiosas para participar das discussões,
porque ganharam uma melhor compreensão de como funciona o processo. Compartilharam
suas próprias experiências de investigação e descobertas. Nesse momento não houve
intervenção da professora e nem explicações acerca do fenômeno ocorrido; apenas
orientações para que elas articulassem a suas próprias respostas relativas aos fenômenos
observados.
A partir do momento em que as crianças estavam descontraídas e participativas foram feitas
algumas perguntas a elas. A seguir, apresentam-se as perguntas e as respectivas respostas das
crianças:
O que será que aconteceu com as pétalas das margaridas?
Carlos – Ah, eu sabia que ia mudar.
Laura - Que linda, professora, ela tem vida, semana que vem traz mais para nós.
Sara- Mudou de cor, como?
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Paula-Eu explico, eu sei! Ela bebeu a água colorida.
Ana- Ela estava sem a raiz?
Fabio - Ichi! Ficou todas coloridas.
O que podemos provar com esse experimento?
Carlos-Que elas têm vida!
Laura-Adoro flores, quero um jardim em casa (risos).
Paula-Que ela chupou a água toda e ficou colorida.
Ana – Ficou colorida e bonita.
Fabio- Corante mudou a flor.
Fonte:Elaborado pela autora, 2015.
Análise das interações discursivas
Na sequência, efetuou-se comparação entre as concepções fornecidas antes e as fornecidas
após a realização da experiência. Verificamos que o experimento realizado permitiu visualizar
que: a água absorvida se desloca por todo o corpo vegetal e uma das funções dos ramos e do
caule é conduzir soluções.
Analisando o experimento, Paula se surpreendeu, e, apesar da pouca idade, conseguiu
entender que, à medida que a água colorida foi absorvida, a pétala mudava de cor. Paula
tentou explicar para Laura e Sara o fenômeno ocorrido. Carvalho et al (1998, p. 13)explicam
que “[...] é importante fazer com que as crianças discutam os fenômenos que as cercam,
levando-as a estruturar esses conhecimentos e a construir, com seu referencial lógico,
significados dessa parte da realidade”.
No trecho descrito a seguir, observa-se que Laura não compreendeu a pergunta referente ao
experimento, considerando-se que o que ela disse não tinha relação com a atividade
desenvolvida, o que provocou risos entre as crianças.
Laura- Adoro flores! Quero um jardim em casa (As crianças na sala de aula riram).
Nesse contexto a professora reformulou a pergunta: Por que o experimento foi importante?
Laura- Que a flor mudou de cor.
Fonte:Elaborado pela autora, 2015.
Essas respostas se aproximam de um pensamento conceitual mais elaborado e sugerem que a
mediação da professora foi importante. Vale lembrar que os níveis de discussão cognitiva
entre as crianças evoluíram, eles passaram a observar que os vasos condutores e algumas
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partes das pétalas ficaram coloridos pelo corante. Vygotsky (1991) ressalta que as crianças de
5 a 6 anos precisam falar quando são deparadas com as tarefas de resolução de problemas
práticos, dado que é através das interações discursivas, nas quais as crianças se expressam
livremente, que conseguem planejar e organizar suas ações, em um constante movimento de
novas conquistas cognitivas.
Quarto encontro: roda da comunicação
Realizaram-se, na roda da comunicação, atividades expositivas dialogadas, utilizando como
pressupostos metodológicos a construção do conhecimento socializado; a exploração de ideia,
acrescentando nova informação, colocando questões, encorajando as crianças a se envolverem
num questionamento estruturado de modo a alterar os seus conceitos comuns.
As crianças aprenderam que a água tende a subir por dutos finos (capilar) devido à adesão das
moléculas de água (além da coesão entre elas) às paredes do ducto até chegar às pétalas
(fenômeno da capilaridade), o que pode ser percebido pela mudança na coloração das pétalas,
que se tornaram da cor da anilina utilizada.
Apresentam-se, a seguir o registro da atividade e, depois, trechos do discurso presente na roda
de conversa.
Roda de comunicação
Carlos-Eu sei agora.
Laura-Que legal,tia.
Paula- A água corada sobe.
Ana – Ficou colorida porque elas têm canudos.
Sara- Canudinhos finos.
Fabio- Agora eu sei, tia.
Fonte:Elaborado pela autora, 2015.
A maioria das crianças, embora tivesse alguns conhecimentos prévios sobre plantas, não tinha
lembranças sobre o que uma planta precisa para crescer. Laura, por exemplo, queria que
explicássemos como as plantas comiam. Segundo Borges e Moraes (1998, p. 19), “a criança
não vê o mundo como nós, [...] precisamos tentar ver o mundo através dos olhos delas. Sentir
com eles o encantamento de cada descoberta”. Nesse sentido, explicou-se papel de cada um
dos órgãos vegetais no transporte de água e que elas não têm que se movimentar para
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encontrar comida. As plantas podem fazer sua própria comida, em qualquer lugar, desde que
tenham água, luz solar e gás carbônico (ar).
O experimento e as explicações realizadas na roda de comunicação pela professora tiveram
como objetivo identificar se houve mudança, evolução, ampliação dos conceitos por parte das
crianças. Com base na experiência realizada, observa-se na figura 1 que as crianças
desenharam a flor indicando o caminho que a água percorreu, o que serviu como importante
propósito instrucional.
Com os desenhos pôde-se ter ideia de como elas estavam compreendendo os novos conceitos,
assim como pôde-se sanar algumas dúvidas depois das discussões. Vygotsky (1989) afirma
que as crianças não desenham aquilo que veem, mas sim o que sabem a respeito dos objetos.
Partindo desse pressuposto, confirma-se que as crianças, a partir da intervenção daprofessora
e do experimento realizado, obtiveram condições de construir suas próprias estruturas
psicológicas, interagiram com os colegas, o que foi nitidamente perceptível, fazendo com que
a relação interpessoal fosse estimulada a fim de conseguirem atingir os objetivos propostos.
Figura 1 – Desenhoda flor indicando o caminho que a água percorreu.
Fonte: Schneider,2015.
As crianças socializaram suas experiências, dificuldades e reflexões e houve uma
sistematização do conteúdo pela professora. Pode-se inferir, de acordo com as análises
relativas ao experimento efetuado, que as crianças ficaram entusiasmadas e se divertiram
muito durante a realização da experiência. De acordo com Possobom (2002), os experimentos
despertam a motivação e o interesse das crianças pelo saber. Essa atividade foi produtiva, pois
as crianças interagiram entre si e descobriram, brincandocom as flores e desenhando, como
ocorre a condução da seiva no vegetal.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise dos recortes das interações vivenciadas e apresentadas neste artigo, é
possível dizer que trabalhar com botânica com crianças na faixa etária de cinco a seis anos
pode despertar atração pelo tema. Desse modo, os professores que atuam na Educação Infantil
devem mover as crianças fora da sua zona de conforto, em que elas simplesmente recebem
um desenho de plantas e pintam sem entendimento.
O que se constatou, ao final dos estudos realizados e da experiência efetuada, foi que ela é
uma atividade adequada para as crianças, na medida em que pode ampliar conhecimentos
científicos na área de botânica. As crianças foram capazes, por exemplo, de observar como a
água é absorvida pela planta, processo que causou curiosidade investigativa.
Podemos registrar que alcançamos na pesquisa, alicerçada pelos teóricos, resultados
satisfatórios apontando para a compreensão acerca dos conceitos básicos da condução da
seiva, por parte das crianças, o que permitiu que elas reelaborassem seus conhecimentos
cotidianos. Constatou-se, também, que as atividades práticas desafiaram as concepções
espontâneas das crianças envolvidas no estudo.
Foi possível observar, ainda, que todas as crianças, cada uma do seu jeito e com suas
idiossincrasias, evoluíram e ampliaram seus conhecimentos.
As crianças socializaram suas experiências, dificuldades e reflexões e houve uma
sistematização do conteúdo pela professora. Pode-se inferir, com base na argumentação das
crianças, que o experimento realizado apresentou indicadores de que elas compreenderam que
a água absorvida se desloca por todo o corpo vegetal ea função do caule. Assim, reiterando a
consideração já exposta anteriormente, nós acreditamos que o estudo, mesmo realizado de
maneira inicial, possa vir a contribuir com as discussões na área. E, principalmente,
esperamos que ele incentive mais profissionais da Educação Infantil a trabalharem Ciências
com as crianças.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a imprescindível contribuição e dedicação da professora Sandra Regina Luzia da
Silva (SEMED)narealização deste trabalho.
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