CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLOGICA DE SANTA CATARINA CURSO TÉCNICO DE METEOROLOGIA – UNIDADE FLORIANÓPOLIS Cindy C. Pinheiro Fabrício Delfin Karen Tancredo - Coordenadora EL NIÑO OSCILAÇÃO SUL Florianópolis, junho de 2008. 2 “Dedicamos esse trabalho ao nosso orientador, Michel Musa, por toda sua paciência e dedicação no desenvolver desse trabalho.” 3 AGRADECIMENTOS Agradecemos ao nosso professor orientador, Michel Musa, e ao meteorologista, Rosandro Boligon Minuzzi, que nos disponibilizou o material de seus estudos para auxiliar na construção deste projeto. 4 RESUMO Este projeto avalia as características principais dos fenômenos naturais conhecidos como El Niño e La Niña, e suas conseqüências nas regiões brasileiras e na América do sul. Além disso, realizou-se um estudo de caso com análises de campos de desvios climáticos (anomalias) durante os meses de dezembro e janeiro de 2007/08, quando tivemos a presença de La Niña. Esse fato trouxe chuva intensa e enchentes no nordeste do Brasil simultaneamente a secas no oeste de Santa Catarina. Palavras-chave: El Niño. La Niña. ENOS. IOS. 5 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Célula de Walker em condições normais do Pacífico (Fonte: CPTEC/INPE)......09 FIGURA 2 Ascendência das águas profundas.........................................................................10 FIGURA 3 Climatologia de precipitação no Brasil, durante o verão(a) e inverno(b).............11 FIGURA 4 Climatologia de temperatura no Brasil, durante o verão(a) e inverno(b)..............12 FIGURA 5 Climatologia global de ROL, durante o mês de janeiro........................................13 FIGURA 6 Climatologia global de ROL, durante o mês de junho .........................................13 FIGURA 7 Célula de Walker em condições de El Niño (Fonte: CPTEC/INPE)....................14 FIGURA 8 Conseqüências do El Niño na América do Sul.....................................................15 FIGURA 9 Célula de Walker em condições de La Niña. (Fonte: CPTEC/INPE)...................16 FIGURA 10 Conseqüências do La Niña na América do Sul...................................................17 FIGURA 11 Valores mensais de PDO (Nathan Mantua)........................................................19 FIGURA 12 Localização geográfica de Darwin, Austrália, e Tahiti, Oceania........................20 FIGURA 13 Anomalia de pressão ao nível do mar nas estações de Tahiti e Darwin..............21 FIGURA 14 Relação entre anomalia de TSM (acima) e de IOS (abaixo)...............................21 FIGURA 15 Anomalia de pressão ao nível do mar em dezembro de 2007.............................22 FIGURA 16 Anomalia de vento em 850 hPa em dezembro de 2007......................................23 FIGURA 17 Anomalia de TSM em dezembro de 2007...........................................................23 FIGURA 18 Anomalia de precipitação em dezembro de 2007...............................................24 FIGURA 19 Anomalia de ROL em dezembro de 2007...........................................................24 6 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................07 1.1 Objetivos............................................................................................................................08 2 ENOS.....................................................................................................................................09 2.1 Variabilidade interanual normal do Pacífico.................................................................09 2.1.1 Ressurgência....................................................................................................................10 2.1.2 Climatologia de precipitação e temperatura do ar sobre o Brasil....................................10 2.1.3 Climatologia de ROL sobre a América do Sul................................................................12 2.2 Variabilidade interanual do Pacífico: El Niño...............................................................14 2.2.1 Conseqüências na América do Sul...................................................................................15 2.3 Variabilidade interanual do Pacífico: La Niña..............................................................16 2.3.1 Conseqüências na América do Sul...................................................................................16 3.1 Duração e intensidade de eventos ENOS e a Oscilação Decadal do Pacífico..............17 4 IOS – INDICE DE OSCILAÇÃO SUL..............................................................................20 5 ESTUDO DE CASO.............................................................................................................22 6 CONCLUSÃO......................................................................................................................25 REFERÊNCIAS......................................................................................................................26 7 INTRODUÇÃO Algumas anomalias climáticas decorrentes no mundo são associadas aos eventos de ENOS (El Niño-Oscilação Sul), mais popularmente conhecidos como El Niño e La Niña. Tal fenômeno natural é conhecido há dezenas de décadas principalmente pelos peruanos, que sofrem mais intensamente as conseqüências deste, porém há pouco que se iniciou um interesse mundial pela compreensão do seu processo, mais precisamente após os estragos deixados pelo El Niño de 1982/83, classificado como um dos mais fortes já registrados. Na década de 1920, o matemático Sir Gilbert Walker obteve em seus estudos uma correlação inversa entre a pressão atmosférica da região da Indonésia e da América do Sul. Chamou esta de “Oscilação Sul” e a descreveu como “A tendência que a pressão no oceano Pacífico tem a aumentar, quando a pressão na região do oceano Índico diminui”. Mais tarde seus estudos foram aperfeiçoados e descobriu-se então sua forte ligação com o fenômeno ENOS. Estabeleceu-se o Índice de Oscilação Sul (IOS), diferença de anomalia da pressão ao nível do mar entre Tahiti, na Oceania, e Darwin, Austrália, que hoje é utilizado para monitorar a formação e intensidade de fenômeno ENOS, e que também auxilia na previsão. O ENOS é classificado como um fenômeno oceano-atmosférico, o qual aquece e resfria de tempos em tempos as águas do Oceano Pacífico Equatorial, devido a sua própria variabilidade interanual. Possui uma fase quente (El Niño), caracterizado pelo enfraquecimento dos ventos alísios, aquecimento anômalo da temperatura superficial do mar na região do oceano Pacífico e deslocamento da célula de Walker para leste. E outra fria (La Niña), característica da intensificação dos ventos alísios, resfriamento anômalo da temperatura superficial do mar e deslocamento da célula de Walker para oeste. Os alísios são ventos de elevada umidade, que sopram constantemente dos trópicos para o equador em baixas altitudes, provocando chuvas na sua região de encontro, nomeada de Zona de Convergência Inter-Tropical (ZCIT). Ele também é responsável pela formação da circulação de Walker, uma célula zonal que atua sobre os oceanos intertropicais na direção leste-oeste, e tem no Oceano Pacífico sua maior célula. O deslocamento dessa célula durante eventos ENOS acarreta em mudanças climáticas de ordem mundial. Dentre as principais conseqüências destacamos chuva em áreas áridas, secas nos trópicos, inundações, perdas agrícolas, milhares de mortos e desabrigados. 8 Estudos com base nesses fenômenos são possíveis devido à existência dos satélites, que possibilitam obter estimativas de anomalias na temperatura superficial do mar, pressão atmosférica, ventos, radiação de onda longa e precipitação, a fim de detectar o período em que irá ocorrer um ENOS. Tais informações são importantes para quantificar a intensidade do fenômeno, fazer previsões do clima e verificar a probabilidade de eventos extremos naturais de precipitação, assim mantendo em alerta à população em risco e calcular possíveis gastos econômicos. 1.1 Objetivos Compreender as ações do fenômeno ENOS na relação oceano-atmosfera, bem como formação e conseqüências no Brasil e na América do Sul. Analisar o comportamento de anomalias climáticas no Oceano Pacífico Equatorial, durante a ocorrência do fenômeno ENOS na sua fase fria, sendo este último o evento mais recente ocorrido até o presente estudo. 9 ENOS O fenômeno de interação atmosfera-oceano El Niño-Oscilação Sul é caracterizado pelo comportamento anômalo da Temperatura Superficial do Mar (TSM) e alteração do padrão normal dos ventos alísios na região do Pacífico Equatorial. Possui uma fase negativa (El Niño) e outra positiva (La Niña). A primeira está associada ao aquecimento das águas do Pacífico equatorial, acarretando em períodos secos sobre essa região, e úmidos e quentes sobre as regiões extratropicais. A segunda está associada ao resfriamento das águas do Pacífico com períodos úmidos nos trópicos e frios e secos fora deles. Além disso, tais mudanças trazem perturbações climáticas de caráter global. O período entre uma fase e outra é maior do que um ano (interanual), com extensa persistência de cada fase ao longo de vários meses. 2.1 Variabilidade interanual normal do Pacífico Em condições normais os ventos alísios que sopram da costa oeste da América do Sul em direção ao Oceano Pacífico empurram as águas quentes superficiais para o Oeste. A temperatura do mar é cerca de 8ºC maior na região ocidental do que na costa da América do Sul, o que provoca ascendência do ar e formação de nuvens na região mais quente, e subsidência na região mais fria, influenciando no tempo e clima de todo Planeta. Tal tipo de circulação recebe o nome de célula de Walker (Figura 1). 10 FIGURA 1 – Célula de Walker em condições normais do Pacífico. (Fonte: CPTEC/INPE) 2.1.1 Ressurgência Com o deslocamento das águas superficiais do Pacífico, há ascensão de águas mais profundas e frias (Figura 2), ricas em nutrientes e micro-organismos que servem como alimento para peixes, tornando esta uma região de grande piscosidade (Fonte: de Oliveira, G. S. In El niño e Você). Tal fato é conhecido como ressurgência, e é de extrema importância para o comércio pesqueiro da costa oeste da América do Sul. FIGURA 2 - Ascendência das águas profundas. 2.1.2 Climatologia de precipitação e temperatura do ar sobre o Brasil Para entender melhor o padrão de chuvas na região equatorial pode-se fazer uma comparação climatológica entre precipitação (Figura 3) e temperatura (Figura 4). O padrão de chuvas abundantes na porção equatorial do Brasil deve-se à Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que durante o inverno no hemisfério sul (Figura 3 (b)) situa-se mais ao Norte e mais ao Sul durante o verão (Figura 3 (a)), seguindo a rota das águas mais quentes e se afastando das mais frias. Como em condições de El Niño as águas no Pacífico Equatorial ficam com temperaturas maiores, a ZCIT se comporta próximo a esta área. Por conseqüência, nos anos de La Niña a mesma estará concentrada ao Norte do Globo Terrestre. Além disso, a 11 distribuição de chuvas durante os meses do ano tem contribuição da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que é definida como uma persistente faixa de nebulosidade atuante do sul da Amazônia até o sul do Oceano Atlântico, sendo este um dos principais motivos para os elevados volumes pluviométricos que se estende desde o sul da Amazônia até o Sudeste do Brasil, como é possível observar na figura 3 (a). Em épocas de El Niño há um prolongamento da ZCAS para o oceano, deslocando a célula de convecção mais para o sul e durante o La Niña esse prolongamento se dá para o continente, aumentando o índice pluviométrico na região da Amazônia (Fonte: Revista Brasileira de Meteorologia, v.19, n.1, 89-98, 2004). As precipitações mais ao sul do Brasil costumam ser induzidas pelas frentes frias do sul ou sistemas como os Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN’s) que carregam grande massa de umidade para essas regiões criando forte nebulosidade. Para a climatologia de temperatura sobre o Brasil (Figura 4), nota-se que a latitude é um dos principais fatores climáticos, contribuindo para baixas temperaturas no inverno ao sul (b). No verão (a) a topografia influencia na temperatura, deixando-a amena no sul, como podemos identificar na figura a relação com o relevo da Serra do Mar. Durante a ocorrência de fenômeno El Niño, há elevação de temperaturas e períodos secos durante o verão, devido prolongamento da ZCAS para o Oceano Atlântico. O fenômeno La Niña provoca o inverso, verão mais frio e chuvoso que o normal, causado pelo alongamento da ZCAS para o continente, e inverno mais rigoroso e consequentemente com maior risco de geadas (Fonte: Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v. 10, n. 1, p. 123-127, 2002). 12 FIGURA 3 Climatologia de precipitação no Brasil, durante o verão(a) e inverno(b). FIGURA 4 Climatologia de temperatura no Brasil, durante o verão(a) e inverno(b). 2.1.3 Climatologia de ROL sobre a América do Sul 13 Apartir da climatologia de Radiação de Onda Longa (ROL) pode-se determinar as regiões de elevada e baixa convecção, caracterizadas pelos baixos e altos níveis de emissão de ROL, respectivamente, assim possibilitando a localização das células de circulação atmosférica e o monitoramento de anomalias de TSM, que afetam diretamente na circulação geral da atmosfera (Fonte: Revista Brasileira de Geofísica, São Paulo, v.24, n.4, out./dez. 2006). Observando a climatologia global de ROL do mês de janeiro (Figura 5), nota-se que a presença da ZCAS durante o verão favorece o aumento da atividade convectiva principalmente sobre a região norte e centro-oeste do Brasil, caracterizando uma região de baixos níveis de emissão de ROL. Além disso, é perceptível o deslocamento da ZCIT para o sul, que por ser uma região com altos índices de precipitação também apresenta baixos valores de ROL. Ainda no mês de janeiro vê-se por todo oceano Pacífico Equatorial uma grande área de baixa convecção, podendo ser descrita como a região de escoamento dos ventos alísios da célula de Walker, que terá sua ascendência na região da Indonésia, causando grande volume de chuva e baixos valores de ROL. No inverno (Figura 6), com a ZCIT mais ao norte, a zona de convecção que anteriormente encontrava-se no centro-oeste da América do Sul, agora se concentra sobre a América Central. Tal fato acarreta no deslocamento da região de ascensão da célula de Walker, que passa a abranger, além da Indonésia, parte da Índia e também China. FIGURA 5 Climatologia global de ROL, durante o mês de janeiro. 14 FIGURA 6 Climatologia global de ROL, durante o mês de junho. 2.2 Variabilidade interanual do Pacífico: El Niño O fenômeno El Niño é caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas e pelas alterações dos padrões normais dos ventos alísios na região do Pacífico Equatorial. Este nome foi dado por pescadores da costa do Peru em homenagem ao “menino Jesus” pelo fato do fenômeno ocorrer geralmente na época do Natal. Em anos de El Niño ocorre que os ventos alísios perdem a intensidade ou até mesmo mudam de sentido, e as águas quentes que deveriam ser empurradas para o Oeste do Pacífico permanecem próximas à costa oeste da América do Sul. Essas águas quentes que antes evaporavam no lado ocidental, agora formam nuvens de chuva por todo o Pacífico estendendo-se sobre o oeste da América do Sul, principalmente na região Central e Oriental (Figura 7), o que implica enchentes no Peru e seca na Indonésia e Austrália. O deslocamento da fonte de calor, correspondente às águas mais quentes, em direção ao leste resulta grandes mudanças na circulação da atmosfera global. Isso provoca mudanças no tempo em regiões bem afastadas do Pacífico. 15 FIGURA 7 Célula de Walker em condições de El Niño. (Fonte: CPTEC/INPE) 2.2.1 Conseqüências na América do Sul Os efeitos no clima mais conhecidos e de maior impacto provocado pelo ENOS estão relacionados ao regime térmico e, principalmente, ao pluviométrico. A agricultura, por exemplo, é uma atividade econômica que depende diretamente dos fatores climáticos. Qualquer alteração no clima pode afetar o zoneamento agrícola, a produtividade de diversas culturas e as técnicas de manejo. A América do Sul por ser abrangida pelas regiões tropical e subtropical, sofre de diferentes formas a presença do El Niño, variando conforme a região (Figura 8 (FONTE: CPTEC/INPE)). Por toda América do sul, porém, percebe-se a predominância de elevação das temperaturas, e o deslocamento das células de convecção para o sul eleva os níveis de precipitação no sul do Brasil e Uruguai. 16 FIGURA 8 Conseqüências do El Niño na América do Sul. 2.3 Variabilidade interanual do Pacífico: La Niña No fenômeno La Niña os ventos alísios ganham intensidade maior que o normal, afastando mais as águas quentes e deslocando a Célula de Walker para oeste do Oceano Pacífico (Figura 9). Tal fato aumenta a ocorrência de chuvas na região da Austrália e trás seca para o Peru. O acúmulo de água quente na região ocidental é maior, gerando um maior desnível, que trará um aumento na ressurgência no lado leste do Pacífico, portanto virão mais nutrientes das profundezas para a superfície do Oceano. As águas neste período encontram-se em média de 1,5°C a 2°C abaixo do normal. 17 FIGURA 9 Célula de Walker em condições de La Niña. (Fonte: CPTEC/INPE) 2.3.1 Conseqüências na América do Sul O Norte e o Nordeste do Brasil são áreas que aproveitam com abundâncias os períodos de La Niña devido às seqüências de chuva. Porém os índices de precipitação dessas regiões podem ser tão elevados e acarretar em inundação nas cidades além de ocasionar a destruição de culturas. É notório através da figura 10 (Fonte: CPTEC/INPE) que na América do Sul, em geral, a presença do La Niña traz chuva para as regiões mais próximas do Equador e secas nas mais afastadas. O impacto no rendimento de determinada cultura depende da duração e severidade dos períodos secos, da regularidade das chuvas e das próprias características fisiológicas de cada cultura. 18 FIGURA 10 Conseqüências do La Niña na América do Sul. 3.1 Duração e intensidade de eventos ENOS e a Oscilação Decadal do Pacífico A duração do El Niño pode variar entre 12 a 18 meses, enquanto que a ocorrência do fenômeno se dá em intervalos de três anos até uma década. Episódios La Niña, em geral, têm períodos de aproximadamente 9 a 12 meses com intervalos de dois até sete anos, porém sua freqüência tem sido menor que o El Niño durante as últimas décadas, como é possível observar na tabela 1. Essa maior ocorrência de eventos El Niño se dá pela Oscilação Decadal do Pacífico (ODP), que nessa época passava por sua fase quente. A ODP, assim como o ENOS, é uma oscilação da TSM do Oceano Pacífico, porém, sua duração é de 20 a 30 anos, em média, e seus sinais são mais visíveis no Pacífico norte, enquanto o ENOS é no Pacífico central. Estudos de Nathan Mantua, que descreveu a ODP, mostram que durante a fase quente da ODP, a probabilidade de ocorrência de El Niño é superior ao de La Niña, além de seus eventos serem mais intensos, e o contrário durante a fase fria. Durante os anos de 1977-1998 observou a ultima fase quente completa do PDO (Figura 11), quando se obteve um dos eventos El Niño mais intenso dentre os já registrados, 1997/98, com temperaturas superficiais 19 do mar que chegaram a 2,5°C acima do normal (Tabela 2) e tendo uma anomalia negativa média de 1,37°C, o segundo teve uma anomalia positiva de TSM média de 1,85°C. A maior ocorrência de eventos El Niño dos últimos anos é um dos argumentos passados por pesquisadores como Luiz Carlos Molion (Aquecimento global, manchas solares, El Niños e oscilação decadal do pacífico.) para justificar o aumento das temperaturas no globo, contrariando o que diz o Aquecimento Global Antropogênico, que tem no aumento do dióxido de carbono (CO2) a justificativa para esse aumento das temperaturas. TABELA 1 Eventos El Niño e La Niña de 1950 até 2003. (Fonte: NOAA) El Niño Período Intensidade JAS 1951 - NDJ 1951/52 MAM 1957 – MJJ 1958 JJA 1963 – DJF 1963/64 MJJ 1965 – MAM 1966 OND 1968 – AMJ 1969 ASO 1969 – AMJ 1969/70 AMJ 1972 – FMA 1973 ASO 1976 – JFM 1977 ASO 1977 – DJF 1977/78 AMJ 1982 – MJJ 1983 JAS 1986 – JFM 1988 AMJ 1991 – MJJ 1992 MAM 1994 – FMA 95 AMJ 1997 – MAM 1998 AMJ 2002 – FMA 2003 Fraca Forte Fraca Moderada Moderada Moderada Forte Fraca Fraca Forte Moderada Forte Moderada Forte Fraca La Niña Período ASO 1949 – FMA 1951 MAM 1954 – DJF 1956/57 ASO 1961 – MAM 1962 MAM 1964 – JFM 1965 SON 1967 – MAM 1968 JJA 1970 – DJF 1971/72 AMJ 1973 – JJA 1974 ASO 1974 – AMJ 1976 ASO 1983 – DJF 1983/84 SON 1984 – MJJ 1985 AMJ 1988 – AMJ 1989 ASO 1995 – FMA 1996 JJA 1998 – MJJ 2000 SON 2000 – JFM 2001 JJA 2004 – JFM 2005 Fraca JAS 2006 – DJF 2007 Fraca Intensidade Forte Forte Forte Moderada Moderada Moderada Forte Forte Fraca Fraca Forte Fraca Fraca Moderada TABELA 2 Anomalia da TSM. Região 3.4 (5°N-5°S, 120°-170°W) (Fonte: NOAA) 20 ANO 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 JAN -0.8 -0.4 2.3 -1.5 -1.7 -0.7 -0.1 1.2 0.4 0.6 -0.8 0.8 -1.5 FEV -0.7 -0.3 2.0 -1.2 -1.4 -0.5 0.1 0.9 0.2 0.5 -0.6 0.4 -1.4 MAR -0.5 -0.1 1.4 -0.9 -1.0 -0.4 0.2 0.5 0.2 0.4 -0.3 0.1 -1.1 ABR -0.3 0.3 1.1 -0.8 -0.8 -0.3 0.4 0.1 0.2 0.5 -0.1 -0.1 -0.7 MAI -0.2 0.8 0.4 -0.8 -0.6 -0.1 0.6 -0.1 0.3 0.5 0.2 0.0 JUN -0.2 1.3 -0.1 -0.8 -0.6 0.1 0.8 0.0 0.4 0.5 0.3 -0.1 JUL -0.1 1.7 -0.7 -0.9 -0.4 0.1 0.9 0.3 0.7 0.5 0.4 -0.2 AGO -0.2 2.0 -1.0 -1.0 -0.4 0.0 0.9 0.4 0.8 0.3 0.5 -0.5 SET -0.1 2.2 -1.1 -1.0 -0.4 0.0 1.1 0.5 0.9 0.2 0.7 -0.8 OUT -0.2 2.4 -1.2 -1.2 -0.5 -0.1 1.3 0.5 0.8 -0.1 0.9 -1.1 FIGURA 11 Valores mensais de PDO. (Nathan Mantua) NOV -0.3 2.5 -1.4 -1.4 -0.7 -0.1 1.5 0.6 0.8 -0.4 1.2 -1.2 DEZ -0.4 2.5 -1.5 -1.7 -0.7 -0.2 1.4 0.4 0.8 -0.8 1.1 -1.4 21 IOS – INDÍCE DE OSCILAÇÃO SUL O ENOS também pode sofrer influências do Índice de Oscilação Sul (IOS), que representa a diferença de pressão atmosférica ao nível do mar entre Tahiti, na Oceania, e Darwin, na Austrália (Figura 12), podendo indicar a intensidade e fase do fenômeno. O IOS foi estabelecido a partir das descobertas de Sir Gilbert Walker sobre a Oscilação Sul, que obteve uma correlação inversa entre a pressão em Tahiti e Darwin (Figura 13). Quando a pressão está alta no Tahiti, em Darwin está baixa, sendo caracterizada como IOS positivo e ocorrência de La Niña. Quando a pressão está menor no Tahiti, em Darwin está maior, IOS negativo e ocorrência de El Niño (Figura 14). A alta pressão de um lado faz com que o ar converja para a região de menor pressão, tal fenômeno explica o enfraquecimento (intensificação) dos ventos alísios, que dá início ao El Niño (La Niña). FIGURA 12 Localização geográfica de Darwin, Austrália, e Tahiti, Oceania. 22 FIGURA 13 Anomalia de pressão ao nível do mar nas estações de Tahiti e Darwin. FIGURA 14 Relação entre anomalia de TSM (acima) e de IOS (abaixo). 23 ESTUDO DE CASO O atual episódio do La Niña começou entre maio e junho de 2007 e se espera que termine entre junho e agosto do presente ano. Ainda persistem as condições associadas ao fenômeno, porém desde o mês de fevereiro nota-se um aumento da TSM na costa oeste da América do Sul, e o padrão de TSM's negativas tende a cada vez mais perder força (Tabela 2). Porém o fenômeno já é responsável por catastróficas inundações na Bolívia, Equador, Peru e Argentina e de uma grave seca no Chile e por chuvas intensas no nordeste e escassas no sul do Brasil. A partir das imagens de anomalias no oceano Pacífico, nota-se durante dezembro de 2007 a elevada anomalia negativa de pressão na região da Indonésia e Austrália (Figura 15), oscilando com a elevada anomalia positiva no oceano Pacífico central, o que caracteriza IOS positivo. Como há o escoamento da alta para a baixa pressão, ocorre a intensificação dos ventos alísios na região australiana (Figura 16), elevando os valores de TSM nessa região, e diminuindo na região equatorial do Pacífico (Figura 17). Essa mudança na circulação dos ventos modifica a célula de Walker que atua sobre o Pacífico equatorial e que, por ser o mais extenso oceano, modifica toda a circulação global, e consequentemente as regiões de chuva (Figura 18). Onde há uma anomalia negativa das águas do pacífico, há uma menor ocorrência de chuvas, e ,consequentemente, um maior valor de ROL é emitido para fora do globo (Figura 19). FIGURA 15 Anomalia de pressão ao nível do mar em dezembro de 2007 24 FIGURA 16 Anomalia de vento em 850 hPa em dezembro de 2007 FIGURA 17 Anomalia de TSM em dezembro de 2007 25 FIGURA 18 Anomalia de precipitação em dezembro de 2007 FIGURA 19 Anomalia de ROL em dezembro de 2007 26 CONCLUSÃO El Niño e La Niña são oscilações interanuais da própria variabilidade oceanoatmosfera. São fenômenos naturais dentro do sistema climático da Terra, que existem há milhares de anos, contudo sem uma alternância regular. Há períodos em que os eventos foram mais intensos, como o El Niño de 1998, e outros de menor intensidade. Durante eventos ENOS as anomalias de temperatura do oceano Pacífico equatorial provocadas pelo ganho ou perca de força dos ventos alísios, provocam mudanças na circulação atmosférica global e transtornos para algumas regiões. Porém, ao mesmo tempo em que para uns esses fatos só trazem prejuízos, para outros é a fartura de ver água enchendo rios que passam anos a fio secos e plantações variadas. Devido à ação intensa de eventos na fase quentes de ENOS nos últimos anos, há pesquisadores que afirmam a ligação dessas oscilações com o Aquecimento Global, assunto este que gera polêmica e muita discussão. Porém, é ainda muito cedo para se tirar qualquer conclusão sobre a influência das ações do homem na circulação atmosférica. 27 REFERÊNCIAS AMBIENTE BRASIL. Monitoramento Climático. Disponível em: <http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./natural/index.html&conteudo=./n atural/clima.html#massas>. Acesso em: 02 de março de 2008. BARBOSA, Reinaldo Imbrozio e FEARNSIDE, Philip Martin. Incêndios na Amazônia brasileira. [online] Disponível em: <http://agroeco.inpa.gov.br/reinaldo/RIBarbosa_ProdCient_Usu_Visitantes/1999IncAmazBra s_AA.pdf>. Acesso em: 29 de fevereiro de 2008. 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