Trabalho

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XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.
LEVANTAMENTO DA BIODIVERSIDADE BENTÔNICA:
INVENTÁRIO DA ANEMONOFAUNA (CNIDARIA: ANTHOZOA) DE
ÁREAS PORTUÁRIAS DO NORDESTE DO BRASIL, VISANDO A
DETECÇÃO DE ESPÉCIES EXÓTICAS
Rafael Henrique Barbosa Bezerra1, Paula Braga Gomes2

Introdução
As anêmonas-do-mar sensu stricto (Anthozoa: Actiniaria) são animais em forma de pólipos solitários, corpo
geralmente cilíndrico e oco, com uma margem superior rodeada por uma coroa de tentáculos. Possuem reprodução
tanto sexuada quanto assexuada, tendo o primeiro estágio de vida como larva e vivem aderidas sobre substratos
consolidados ou enterradas. Algumas anêmonas apresentam tolerâncias às variações ambientais do mediolitoral:
temperatura atmosférica, ressecamento e falta de oxigenação são fatores ambientais que influenciam na seleção natural
das espécies. Dessa forma, as anêmonas-do-mar estão presentes em zonas de ação antrópica, principalmente em
portos, havendo registro da presença de espécies exóticas como a anêmona Nematostella vectensis Stephenson, 1935 e
o coral sol, Tubastraea spp. no Brasil (Silva et al., 2010; Creed, 2006).
Espécies exóticas são perigosas para o ecossistema nativo já que podem desregular a cadeia trófica, trazendo
conseqüências indesejáveis, até mesmo irreversíveis ao ambiente marinho. O aparecimento dessas espécies está,
muitas vezes, relacionado com as incrustações nos cascos ou transporte pela água de lastro dos navios. Para monitorar
espécies exóticas, é necessário saber previamente as espécies nativas, bem como detectar imediatamente a presença de
espécies exóticas.
Esse trabalho tem como propósito inventariar as espécies de anêmonas do mar presentes em áreas portuárias do
nordeste do Brasil e identificar espécies potencialmente invasoras.
Material e métodos
O material estudado (Tabela 1) provém de diferentes áreas portuárias do país. É composto por amostras disponíveis
no Laboratório de Ecologia e Conservação de Ecossistemas Marinhos (LECEM/UFRPE) e também materiais cedidos
por outros pesquisadores. Para o Porto do Recife (PE), o material foi cedido pelo professor José Roberto Botelho de
Souza, da Universidade Federal de Pernambuco. São nove lotes, no entanto, novas coletas foram realizadas na área
pelos pesquisadores. Para o Porto de Natal (RN), o material foi cedido pela Professora Cristiane Farrapeira da
Universidade Federal Rural de Pernambuco. São quatro lotes, de raspagem de cascos e estruturas fixas dos portos.
O estudo sistemático de actiniários se baseia na anatomia e morfologia do pólipo (Stephenson, 1921). O arranjo dos
mesentérios e tentáculos, a morfologia externa, musculatura e a distribuição e tamanho dos cnidocistos são usados para
organizar os gêneros e as espécies. A identificação dos indivíduos foi feita de modo padrão para a taxonomia de
anêmonas: observações dos caracteres morfológicos externos e anatomia interna, além de análises microscópicas do
tecido de diferentes estruturas para identificação dos cnidocistos. Para classificação foi seguida uma chave até o nível
de gênero (Carlgren, 1949) e artigos específicos para o nível de espécie.
Resultados e Discussão
Os lotes foram triados e separados em morfotipos. No material de Natal foram triados 500 indivíduos, separados em
seis morfotipos, um desses identificado em nível de espécie: Bunodosoma cangicum Corrêa, 1964 in Belém &
Preslercravo, 1973. Em Recife foram triados 18 exemplares, separados em quatro morfotipos, das quais três espécies
foram identificadas: Bunodosoma cangicum, Diadumene (=Haliplanella) lineatae (Verrill, 1869) e D. cincta
Stephenson, 1925. Todos os outros morfotipos ainda não identificados continuam em processo de análise.
1
Rafael Henrique Barbosa Bezerra é aluno de Bacharelado em Ciências Biológicas, estagiário do Laboratório de Ecologia e Conservação de
Ecossistemas Marinhos – LECEM, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Prédio Central, Área de
Ecologia, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected]
2
Paula Braga Gomes é Professora Adjunta do Departamento de Biologia, Laboratório de Ecologia e Conservação de Ecossistemas Marinhos - LECEM,
Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Prédio Central, Área de Ecologia, Recife, PE, CEP 52171-900.
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.
Além das espécies informadas acima, mais duas já foram identificadas no Porto do Recife em trabalhos anteriores
por outros pesquisadores do Laboratório de Ecologia e Conservação de Ecossistemas Marinhos, são elas Nematostela
vectensis (Silva et al, 2010) e Edwardsia sp. Ambas pertencem à família Edwardsiidae que são anêmonas de tamanho
minúsculo e característica de substratos inconsolidados onde se enterram com sua parte basal, denominada physa. Na
literatura, N. vectensis é citada como espécie exótica, ocupando diversas regiões isoladas geograficamente
(Fautin,2013), o que propõem que foram introduzidas provavelmente por embarcações já que possuem uma capacidade
de dispersão muito limitada (Silva et al, 2010).
O gênero Bunodosoma Verrill, 1899 é um dos principais representantes da anemonofauna da costa brasileira
(Gomes & Mayal, 1997). No Brasil são representados pelas espécies B. granuliferum (Le Sueur, 1817), B. caissarum
Corrêa,1964 in Belém, 1987 e B. cangicum. Esta última é endêmica da América do Sul e distribui-se desde o
Maranhão até o Uruguai, além dos arquipélagos de Fernando de Noronha e São Pedro e São Paulo (Fautin, 2013).
O gênero Diadumene Stephenson, 1920 já foi descrito para o Porto do Recife primeiramente pela espécie
Diadumene lineata (Farrapeira, 2007), que já possui um registro em diversos países e em todos os oceanos, sendo
considerada com um grande potencial invasor (Beneti, 2011). No presente trabalho foi registrada a espécie Diadumene
cincta (Fig. 1) pela primeira vez para o hemisfério Sul. Essa espécie foi originalmente descrita no sul da Inglaterra e
sucessivamente registrada no Mar do Norte (Fautin,2013), no Mar Mediterrâneo, Mar Adriático, além das costas leste
e oeste dos Estados Unidos. D. cincta também havia sido citada por Beneti (2011) para a baía de Paranaguá no
Paraná, mas recentemente os exemplares foram reclassificados como nova espécie (Beneti, com. pessoal).
Com a conclusão desse trabalho, na área do Porto do Recife, foi feito o primeiro registro da espécie Diadumene
cincta para o hemisfério sul. Assim, a anemonofauna das áreas portuárias de Recife e Natal compreende sete táxons
identificados, sendo três deles considerados com grande potencial invasor (D. cincta, D. lineata e N. vectensis).
Porém, diferente da espécie D. lineata , D. cincta não aparenta estar estabelecida o que a define como espécie exótica.
Assim o Porto do Recife conta com quatro espécies de Actiniaria, sendo três exóticas, das quais uma já está
estabelecida. Os resultados demonstram a importância da comunidade portuária e a necessidade de monitoramento
contínuo de espécies potencialmente perigosas para o ecossistema no local.
Agradecimentos
Agradeço à minha orientadora Dr. Paula Braga Gomes e aos meus colegas de trabalho pela oportunidade de
participar do projeto, à Universidade Federal Rural de Pernambuco e ao CNPq pelo financiamento do edital ProTax.
Referências
Beneti, J.S. A anêmona-do-mar Diadumene Stephenson, 1920: um cnidário com potencial invasor na Baía de
Paranaguá, PR, Brasil. Paraná: Universidade de São Paulo, 2011. 79p. Dissertação Mestrado.
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/41/41133/tde-19012012-112430/publico/Julia_Beneti.pdf>
Carlgren, O.H. A survey of the Ptychodactiaria, Corallimorpharia and Actiniaria. Kungl. Svenska
Vetenskapsakademiens handlingar, serie 4, v.1, n.1, p.1-121, 1949.
Creed J.C. Two invasive alien azooxanthellate corals, Tubastraea coccinea and Tubastraea tagusensis, dominate the
native zooxanthellate Mussismilia hispida in Brazil. Coral Reefs, v.25, n.3, p.350, 2006. (DOI: 10.1007/s00338-0060105-x)
Farrapeira, C.M.R.; Melo, A.V.O.M.; Barbosa, D.F.; Silva, K.M.E. Ship hull fouling in the Port of Recife,
Pernambuco, Brazil. Brazilian Journal of Oceanography, v.55, n.3, p.207-221, 2007. (DOI: 10.1590/s167987592007000300005)
Gomes, P.B. & Mayal, E. Histórico dos estudos das anemonas-do-mar (Cnidaria: Actiniaria) no Brasil. Trabalhos
Oceanográficos
da
Universidade
Federal
de
Pernambuco.
v.25,
p.111-119,
1997.
<http://www.ufpe.br/tropicaloceanography/artigos_completos_resumos_t_d/25_1997_gomes.pdf>
Silva, J.F.; Lima C.A.; Perez C.D.; Gomes P.B. First Record of the sea anemone Nematostella vectensis (Actiniaria:
Edwardsiidae)
in
southern
hemisphere
waters.
Zootaxa
v.2343,
p.66-68,
2010
<http://www.mapress.com/zootaxa/2010/2/zt02343p068.pdf>
Stephenson, T.A. On the classification of Actiniaria. Part II – Consideration of the hole group and its relationships,
with special reference to forms not treated in Part I. Quarterly Journal of Microscopical Science, v.2-65, n.260, p.493576, 1921. <http://jcs.biologists.org/content/s2-65/260/493.full.pdf+html>
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.
Tabela 1. Listagem dos lotes de actiniários estudados nos portos de Recife (PE) e Natal (RN)
Local
Data de
coleta
30/01/2003
Recife – PE
07/2006
Etiqueta
Pina TR3 R1
Pina TR3 P1
Laranjinha - Porto do Recife
Listrada - Porto do Recife
Anemona grande - Porto do Recife
TOTAL
06/11/2006
Natal – RN
02/08/2007
03/08/2007
TOTAL
Baia 8 - Balsa
Baia 13
Barco Delmar XLV
Porto de Natal
Moralis I
Pier Norte Pesca
Navio Olympia Champion (Pier Norte Pesca)
Barco Cape Horn (Pier Norte Pesca)
Rio Turi
Marina Iate Clube de Natal Infralitoral
Porto de Natal P3-Q3
Barco São José
Nº
exemplares
7
2
3
4
2
18
22
83
13
67
2
14
7
3
177
71
23
18
500
Figura 1. Exemplar de Diadumene cincta vivo em aquário. Material coletado no Porto do Recife em 2012.
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