FRATURAS DO FÊMUR EM PACIENTES IDOSOS INTRODUÇÃO As fraturas do fêmur no idoso constituem –se num problema crescente de saúde pública, devido a morbi-mortalidade dos pacientes , longo tempo de permanência hospitalar e problema social para quem acompanha tais doentes . Apenas 60% dos doentes recuperam sua capacidade de deambulação a um nível semelhante ao pré -fratura , num período de 6 meses; cerca de 25% deles morrem por problemas diversos dentro do primeiro ano de pós operatório. Os pacientes clinicamente estáveis operados dentro das primeiras 24horas de internamento hospitalar, reduzem o tempo de hospitalização e de complicações pós operatórias . No entanto , não há evidência estatística que interfere na redução da mortalidade e retorno da função . Portanto a chave para o sucesso do tratamento das fraturas do fêmur no idoso reside na estabilização clínica do paciente ainda na sala de emergência , com medidas de hidratação e reposição eletrolítica , tratamento cirúrgico em tempo ideal e reabilitação precoce . ATENDIMENTO NA EMERGÊNCIA O paciente portador de fratura do fêmur , principalmente os idosos, podem ter repercussões clínicas imediatas pela perda de fluidos e eletrólitos; o paciente pode ter perdas variando de 500ml a 2000ml de fluidos decorrente de sangramento no foco de fratura . A avaliação do paciente com fratura do fêmur na sala de emergência deve incluir cuidados médicos , enfermagem e serviço social. Portanto os cuidados imediatos na sala de emergências devem incluir 1) Avaliação médica dentro da primeira hora de chegada . 2) Avaliação de risco para tromboembolismo . 3) Avaliação de condições clínicas associadas 4) Avaliação do estado neurológico do paciente 5) Avaliação do estado de hidratação e nutricional do doente 6) Registro do grau de deambulação do doente , previamente a queda 7) Avaliação laboratorial . Os cuidados imediatos : PRESCRIÇÃO MÉDICA DEVE INCLUIR : 1) DIETA DE ACORDO COM COMORBIDADES EXISTENTES , PORÉM COM INGESTA HÍDRICA AUMENTADA 2) HIDRATAÇÃO, SENDO UMA FASE DE EXPANSÃO ( SORO RINGER LACTATO) E FASES DE MANUTENÇÃO ( CATÉTER VENOSO PERIFÉRICO NO MÍNIMO TAMANHO 18) 3) PREVENÇÃO DE EVENTOS TROMBOEMBÓLICOS 4) MONITORIZAÇÃO DE PERDAS E GANHOS DE LÍQUIDOS E ELETRÓLITOS 5) SUSPENSÃO DO USO DE ANTICOAGULANTES VIA ORAL E /OU TERAPIA ANTIPLAQUETÁRIA 6) USO DE SUPERFÍCIES PROTETORAS DE ESCARAS E MEDIDAS DE AQUECIMENTO PARA EVITAR HIPOTERMIA 7) ANALGESIA ADEQUADA ( fonte: The Royal College of Physicians of London ) TRANSFERÊNCIA PARA A ENFERMARIA Consensos europeus sugerem que a transferência do paciente da sala de emergência para a enfermaria deve ser feita dentro das primeiras 2 horas . Tal medida não tem repercussão clínica no resultado final da recuperação do doente , mas reflete uma otimização dos cuidados de enfermagem do paciente com fratura do fêmur. ( fonte: The Scotish Hip Fracture Audit) CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS ASSISTÊNCIA GERIÁTRICA Na maioria dos casos , pacientes com fraturas do fêmur apresentam co-morbidades associadas. Tais pacientes se beneficiariam de um suporte de um clínico geriátrico para a avaliação e condução das alterações agudas. (fonte: The British Orthopaedic Association). Estudos sugerem que a assistência clínico-geriátrica associada aos cuidados ortopédicos, diminuem a morbi mortalidade de forma significante ( p = 0.0006) no período inicial de 1 ano . TEMPO DA CIRURGIA O retardo do procedimento cirúrgico só se justifica no caso de haver possibilidade de alguma melhora clínica do paciente, particularmente em relação à reposição volêmica , correção de distúrbios hidro-eletrolíticos ou estabilização de condições clínicas crônicas( HAS, DM , DISTÚRBIOS DA TIREÓIDE , ETC...). Estudos sugerem que, na presença de alterações clínicas significativas, as complicações pós operatórias aumentam em 50%; por outro lado , o adiamento da cirurgia na presença de alterações clínicas menores, ou condições pré existentes compensadas não é justificado e só tende a elevar as morbidades pós operatórias . USO DE ANTICOAGULANTES ORAIS Evidências sugerem que baixas doses de vitamina K ( 1 a 2,5mg ) oral ou intravenosa reverte parcialmente os efeitos dos warfarínicos dentro de 24 horas Como conclusão, define-se que os pacientes em uso de anticoagulantes orais devem usar , de forma oral ou intravenosa , vitamina K em pequenas doses para reversão dos efeitos , mas não justifica o retardo do procedimento. (fonte: Scotish Intercollegiate Guidelines). USO DE ANTIAGREGANTES PLAQUETÁRIOS A recomendação do American College of Chest Physician diz que os pacientes em uso de antiagregantes plaquetários deverão suspender o uso dos mesmos 5 dias antes de serem submetidos a procedimentos cirúrgico ELETIVOS. EM CASO DE PROCEDIMENTOS DE EMERGÊNCIA, RECOMENDA-SE NÃO RETARDAR O PROCEDIMENTO E REALIZAR A TRANSFUSÃO DE PLAQUETAS EM CASO DE SANGRAMENTO EXCESSIVO TRANSOPERATÓRIO. Anestesia regional ( raqui ou peridural ) não estão recomendadas em pacientes em uso de antiagregantes plaquetários combinados , ou em uso de clopidogrel como monoterapia . ( American Society of Regional Anesthesia : guidelines 2003) AVALIAÇÃO DO RISCO CARDIOLÓGICO Pacientes classificados como ASA 3 ou 4 apresentam de 4 a 8 vezes mais chances de co-morbidades pós operatórias. PACIENTES CLASSIFICADOS COMO ASA 1 OU 2 COM BOA CAPACIDADE FUNCIONAL NÃO NECESSITAM DE AVALIAÇÃO CARDIOLÓGICA ADICIONAL ,(ECOCARDIOGRAMA) Sociedade Americana de Anestesiologia (ASA) Tabela Classificação do risco anestésico, segundo a Sociedade Americana de Anestesiologia (ASA), 1963 ASA I Pacientes Saudáveis ASA II Doença sistêmica leve ou moderada ASA III Doença sistêmica grave limitando as atividades ASA IV Doença sistêmica incapacitante TRAÇÃO PRÉ OPERATÓRIA Não há evidência de benefícios da tração ( esquelética ou cutânea) no Pré operatório de fratura de fêmur em idosos para alívio da dor, não sendo portanto , recomendada como rotina. Por outro lado , a prevenção de escaras deverá ser feita de rotina segundo protocolo da CCIH PROFILAXIA ANTIBIÓTICA O uso de antibiótico para profilaxia de infecção comparado ao placebo mostrou benefícios significativos ( nível de evidência A) , na redução de infecção de feridas no pós operatório de fraturas de fêmur . O uso de antibiótico profilático também diminuiu de forma significativa a incidência de infecções do trato urinário. Portanto, o uso de antibiótico como profilaxia está indicado de rotina para os pacientes idosos submetidos a tratamento cirúrgico de fratura do fêmur . O Staphylococcus aureus continua sendo o germe mais freqüente . Portanto o esquema atualmente utilizado com cobertura para gram + deverá ser mantido . Obs : PARA PACIENTE COM SUSPEITA CLÍNICA DE SER PORTADOR OU TER HISTÓRICO DE INFECÇÕES POR Staphylococcus aureus , REPRESENTAM SER PACIENTES DE ALTO RISCO PARA INFECÇÕES PÓS OPERATÓRIA. RECOMENDA-SE QUE TAIS PACIENTES DEVAM SER PESQUISADOS , ATRAVÉS DE SWAB NASAL , OU OUTRO MÉTODO DETERMINADO PELA CCIH , PARA PESQUISA DE Staphilococcus aureus meticilina resistente . EM CASO DE POSITIVIDADE , O ESQUEMA ANTIBIÓTICO DEVERÁ SER DIRECIONADO DE ACORDO COM ANTIBIOGRAMA REDUÇÃO DOS RISCOS DE TROMBOEMBOLISMO Há consenso que os métodos mecânicos ( botas de compressão pneumática), e métodos farmacológicos reduzem os riscos de TVP E TEP. No entanto , não há consenso sobre superiodade de drogas de mecanismos diferentes como ASPIRINA, HEPARINA DE BAIXO PESO MOLECULAR, HEPARINA FRACIONADA, ANTICOAGULANTES ORAIS A incidência na literatura está em torno de 2% para o risco de TVP( sintomática ou não) e TEP somadas, o que condiz com as estatísticas da unidade PORTANTO O USO DE HEPARINA DE BAIXO PESO MOLECULAR CONTINUARÁ A SER UTILIZADO , DEVENDO SER INSTITUÍDO NA ADMISSÃO DO PACIENTE; SUSPENSO NO MÍNIMO 12 HORAS ANTES DO PROCEDIMENTO E REINICIADO 24HS PÓS OPERATÓRIO ATÉ A SAÍDA DO DOENTE . DEVERÁ SER PRESCRITO AAS 100MG 1 CP VO AO DIA DURANTE 30 DIAS NO PÓS OPERATÓRIO HEMOTRANSFUSÃO Estudo retrospectivo de quase 9000 doentes acima de 60 anos com fratura de fêmur mostrou que a hemotransfusão pré operatória NÃO interfere na mortalidade dos pacentes com níveis de hemoglobina > 8mg/dl . No entanto , se tais pacientes sabidamente são portadores de doenças cardiovasculares , a hemotrasnfusão diminuI as comorbidades pós operatória . ADOTAREMOS A HEMOTRANSFUSÃO PRÉ OPERAÓRIA PARA OS PACIENTES ASA III OU ASA IV COM HEMOGLOBINA < 10mg/dl . NO PÓS OPERATÓRIO DEVEMOS MANTER A HEMOGLOBINA ACIMA OU IGUAL A 10mg /dl PARA OS PACIENTES CLASSIFICADOS COMO ASA III OU IV EXAMES PRÉ OPERATÓRIOS. DEVERÃO SER SOLICITADOS AINDA NA SALA DO ATENDIMENTO INICIAL E DEVE CONSTAR DE 1) HEMOGRAMA COM VSH 2) COAGULOGRAMA 3) IONOGRAMA 4) FUNÇÃO RENAL ( URÉIA, CREATININA ) 5) SUMÁRIO DE URINA CONDUTAS NO TRATAMENTO CIRÚRGICO FRATURAS DO COLO FEMORAL ( INTRACAPSULARES ) Usaremos a classificação de GARDEN e seguiremos o protocolo sugerido pela SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUADRIL( vide anexo ) FRATURAS TRANSTROCANTÉRICAS (EXTRACAPSULARES) Para o tratamento dessas fraturas usaremos a classificação sugerida pela AOTRAUMA , de acordo com os critérios de estabilidade CLASSIFICAÇÃO 31 A 1 - FRATURAS ESTÁVEIS 31 A 2 – FRATURAS INSTÁVEIS 31 A 3 – FRATURAS COM TRAÇO REVERSO OBS : CRITÉRIOS DE INSTABILIDADE 1) COMINUIÇÃO CORTICAL PÓSTERO – MEDIAL 2) FRATURA DO GRANDE TROCÂNTER 3) FRATURA DA CORTICAL LATERAL 4) TRAÇO REVERSO Não há consenso , mesmo após várias estudos sobre a melhor indicação entre os dispositivos DHS e hastes céfalo- medulares para as fraturas classificadas como 31 A 2 , portanto a experiência individual vai conduzir a indicação. Para as fraturas 31 A 1 , os resultados com o DHS mostram-se melhores , porém as hastes céfalo-medulares não estão contra-indicadas . Para as fraturas com traço reverso 31 A 3 , já é consenso quanto ao maiores índices de complicações pós operatórias com o uso do DCS e portanto as hastes céfalo-medulares devem ser a preferência. FRATURAS SUBTROCANTÉRICAS Utilizaremos a classificação AO ( 32 ) Não há consenso quanto a melhor opção para o tratamento das fraturas subtrocantéricas. Alguns trabalhos mostram índices de complicação 6 vezes maiores quando se usam dispositivos de parafusos deslizantes ou placas lâminas de 95 graus ; por outro lado , outros não mostram alterações significativas nos resultados . NOSSA CONDUTA SERÁ DEFINIDA DE ACORDO COM A EXPERIÊNCIA INDIVIDUAL DO CIRURGIÃO PROTOCOLO DE CUIDADOS PÓS OPERATÓRIOS 1) A RADIOGRAFIA DE CONTROLE DEVERÁ SER FEITA AINDA NA SALA DE RECUPERAÇÃO ; ISTO EVITA A DESCIDA DO PACIENTE EM MACA PARA A REALIZAÇÃO DO EXAME 2) SEMPRE QUE POSSÍVEL, O INTENSIFICADOR DE IMAGENS PODERÁ IMPRIMIR AS INCIDÊNCIAS EM AP E CROSS – TABLE PARA O CONTROLE PÓS OPERATÓRIO 3) OS PACIENTES COM ÍNDICE DENTRO DOS PADRÕES DE NORMALIDADE , PODERÃO SER LIBERADOS PARA CARGA PARCIAL COM AUXÍLIO DE ANDADOR OU MULETAS ( SALVO CASOS ESPECÍFICOS , SOB ORIENTAÇÃO DO MÉDICO ASSISTENTE ) 4) UTILIZAREMOS O INDICE DE BAUMGARTNER OU DISTÂNCIA PONTA – ÁPICE COMO PARÂMETROS RADIOLÓGICOS SATISFATÓRIOS. 5) NO PRIMEIRO DIA PÓS OPERATÓRIO, O PACIENTE DEVERÁ SER SENTADO EM POLTRONA , RETIRADO A SONDA VESICAL DE DEMORA E O DRENO , SE A DRENAGEM FOR MENOR QUE 50 ml EM 12HS 6) HEMOGRAMA CONTROLE DE ROTINA 7) ANTIBIOTICOTERAPIA POR 48HORAS 1.Reverse obliquity and transverse fracture of the trochanteric region of the femura review of 101 cases Timothy J. Brammara, John Kendrew a,Riaz J.K. Khan c, Martyn J. Parker Injury, Int. J. Care Injured (2005) 36, 851—857 2.Reverse obliquity and transverse fractures of the trochanteric region of the femur; a review of 101 cases Timothy J. Brammar, John Kendrew, Riaz J.K. Khan, Martyn J. Parker Injury July 2005 (Vol. 36, Issue 7, Pages 851-857) 3. Aros B, Tosteson AN, Gottlieb DJ, Koval KJ. Is a sliding hip screw or IM nail the preferred implant for intertrochanteric fracture fixation? Clin Orthop Relat Res 2008;466(11): 2827—32. 4. Baker RP, Squires B, Gargan MF, Bannister GC. Total hip arthroplasty and hemiarthroplasty in mobile, independent patients with a displaced intracapsular fracture of the femoral neck. A randomized, controlled trial. J Bone Joint Surg Am 2006;88:2583—9. 5. Bellabarba C, Herscovici Jr D, Ricci WM. Percutaneous treatment of peritrochanteric fractures using the gamma nail. J Orthop Trauma 2003;17:S38—50. 6. Benetos I, Babis G, Soucacos P, et al. Factors affecting the risk of hip fractures. Injury 2007;38(7):735—44. 7. Bhandari M, Devereaux PJ, Swiontkowski MF, et al. Internal fixation compared with arthroplasty for displaced fractures of the femoral neck. A meta-analysis. J Bone Joint Surg Am 2003;85:1673—81. 8. Bhandari M, Devereaux PJ, Tornetta III P, et al. Operative management of displaced femoral neck fractures in elderly patients. An international survey. J Bone Joint Surg Am 2005;87:2122—30. 9. Blomfeldt R, Tornkvist H, Eriksson K, et al. A randomised controlled trial comparing bipolar hemiarthroplasty with total hip replacement for displaced intracapsular fractures b HOSPITAL METROPOLITANO MIGUEL ARRAES SERVIÇO DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA PROTOCOLO DE TRATAMENTO DOS PACIENTES IDOSOS COM FRATURA DO FÊMUR Dr Raul Lins