resumos dos trabalhos

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XVI CONGRESSO INTERNACIONAL DA ALFAL – ALCALÁ DE HENARES,
ESPANHA
PROJETO DE PESQUISA GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS
RESUMOS DOS TRABALHOS
INTEGRAÇÃO CONCEPTUAL NA DESCRIÇÃO DE FENÔMENOS GRAMATICAIS DO
PORTUGUÊS
Antônio Suárez Abreu – UNESP ([email protected])
Tem este trabalho o objetivo de descrever alguns fenômenos gramaticais do português por
meio da teoria da integração conceptual, provinda da linguística cognitiva, e também suas
aplicações didáticas. Segundo Turner (1996) e Fauconnier e Turner (2002), a integração
conceptual faz parte da nossa experiência, seja quando relacionamos nossa mãe e a irmã
de nossa tia como uma mesma pessoa, em termos de parentesco; seja quando utilizamos
um substantivo masculino singular para designar toda uma espécie, dizendo, por exemplo,
que o leão é mamífero. Fazemos isso, também, quando integramos metaforicamente a
ideia de um anjo à figura da pessoa amada, dizendo: minha namorada é um anjo. Bache
(2005) e Hougaard (2005) enfatizam que tão importante quando à integração conceptual é o
processo de “desintegração” ou desabilitação de traços do frame do “input” de origem. O
frame de anjo, por exemplo, contém elementos como: mensageira divina, asas, beleza,
proteção, suavidade, mas, ao aplica-lo à minha namorada, ponho foco apenas em beleza,
proteção e suavidade, desabilitando mensageira divina e asas. Como o modelo cognitivista
defende a ideia de que seus princípios se aplicam em todos os níveis de análise linguística
(cf. Taylor, 2003), esse recurso se aplica, por exemplo, à morfologia, quando dizemos que o
cineasta apresentou um curta no festival, integrando filme de curta metragem na palavra
curta e aplica-se também à sintaxe, quando usamos o se, como conjunção “integrante”, em
Veja se ele veio, integrando o traço hipótese de uma oração condicional (o frame de uma
condicional é o de uma causa hipotética), mas desabilitando o traço condição. O mesmo
ocorre, quando dizemos: Governo aumentaria os impostos em 2011, integrando o traço
hipótese provindo de orações condicionais, em construções como Se eu ganhasse dinheiro,
compraria um apartamento.; mas desabilitando tanto o traço de condição quanto o de tempo
futuro do pretérito.
FUNCIONALIDADE DAS PARÁBOLAS: UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE
LEITURA
Marta Maria Pagadigorria S1 –UNESP- ( [email protected])
Um dos maiores problemas dos alunos do ensino fundamental e médio no Brasil é a falta de
entendimento da leitura, o que os caracteriza como analfabetos funcionais. Meu trabalho
tem por objetivo contribuir para minorar esse problema, oferecendo a eles uma ferramenta
fundamentada na Teoria da Integração Conceptual. Trabalhei com textos que fazem uso de
parábolas — em sentido lato — projetando histórias sobre histórias. Vejamos, como
exemplo, o seguinte trecho extraído do livro Para uma Educação Romântica do filósofo
Rubem Alves:
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Já faz 25 anos que luto contra um dragão. Inutilmente. Até hoje a besta não deu
sinais de fraqueza, muito embora concorde em trocar suas escamas. O fato é que,
em nome de uma suposta excelência intelectual, o dragão faz estragos nas cabeças
dos jovens. Minha primeira proposta para acabar com essa besta chamada
"vestibular" data de 1984 num livrinho pobre, estórias de quem gosta de ensinar.
Para entender esse trecho, o aluno tem de projetar a imagem de um dragão sobre a imagem
do vestibular. Ora, nem todos os elementos do frame do dragão são projetados.
Imaginemos esse frame contendo: escamas, garras, asas, língua bífida, fogo, perigo, medo,
ameaça. Desses elementos, apenas perigo, medo e ameaça são transferidos para “prova
do vestibular”. Os outros elementos são desabilitados no processo de projeção.
Fiz um trabalho com textos dessa natureza com alunos do ensino médio, a partir da teoria
de integração conceptual ou blending proposta por Turner (1996) e Faucconnier e Turner
(2002) e também da teoria da desintegração proposta por Bache, (2005) e Hougaard,
(2005), obtendo excelentes resultados. Os alunos expostos às explicações derivadas dessa
teoria desenvolveram a habilidade de compreensão e interpretação de textos bem acima da
média daqueles pertencentes a uma classe de controle.
A CONSTRUÇÃO TRANSITIVA NO PORTUGUÊS DO BRASIL
Maria Angélica Furtado da Cunha – Universidade federal do Rio Grande do Norte
([email protected])
Este trabalho tem como tema uma construção de estrutura argumental do português do
Brasil, mais especificamente, a construção transitiva. O objetivo é examinar a constituição
interna dessa construção em termos sintáticos e semânticos, observando as condições
pragmáticas que motivam seu uso discursivo. Em termos sumários, a construção é um
pareamento forma-significado que não depende de verbos particulares. Isso quer dizer que
a própria construção tem significado, independentemente das palavras que a constituem,
servindo como um esquema ou modelo que reúne o que é comum a um conjunto de verbos.
A análise segue os pressupostos teóricos da Gramática de Construções, tal como
formulados por Goldberg (1995), entre outros, e da Linguística Funcional na vertente norteamericana, de inspiração em Givón, Hopper e Thompson. Metodologicamente, a pesquisa
conjuga fatores quantitativos e qualitativos no exame do objeto de estudo. Os dados
empíricos correspondem a oito narrativas faladas e suas correspondentes escritas extraídas
do Corpus Discurso & Gramática: a língua falada e escrita na cidade do Natal, produzidas
por quatro estudantes do terceiro ano do ensino médio. A investigação comprovou que o
padrão estrutural e o enquadre semântico da construção transitiva estão diretamente
relacionados à expressão do evento transitivo prototípico, em que um agente intencional
causa o afetamento de um participante paciente. Contudo, por meio de processos de
extensão semântica e metafórica, o padrão SVO também é utilizado para codificar situações
que não correspondem ao evento transitivo prototípico, com verbos do tipo semântico de
ação, processo e estado. Em virtude de tais extensões, esse tipo oracional codifica,
convencionalmente, uma ampla variedade de cenas. Os dados analisados refletem
algumas possibilidades de manifestação diversificada do fenômeno da transitividade,
atendendo aos propósitos comunicativos e cognitivos dos usuários da língua. Nesse sentido,
a análise da transitividade não deveria se concentrar nos verbos de orações isoladas, pois
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embora um verbo possa ser potencialmente classificado como transitivo, é no seu
funcionamento textual que essa potencialidade se concretiza ou não. Isso significa que é a
regularidade (ou frequência) de ocorrência de um verbo em textos reais que estabelece os
esquemas ou molduras gramaticais que fazem parte do conhecimento linguístico que os
falantes dominam. A análise desses dados pode fornecer material relevante para a
compreensão de como os humanos produzem e processam a linguagem. Este trabalho
pretende, portanto, contribuir para a descrição da gramática da oração tal como ela se
manifesta nos usos do português brasileiro, observando os padrões recorrentes nos textos
para saber que construções os falantes de fato usam, categorizam e estocam.
Referências
GOLDBERG, A. A construction grammar approach to argument structure. Chicago:
University of Chicago Press, 1995.
SUBORDINAÇÃO, GRAMÁTICA E ENSINO: UM ESTUDO DISCURSIVO-FUNCIONAL DAS
COMPLETIVAS NOMINAIS NAS VARIEDADES LUSÓFONAS
Edson Rosa Francisco de Souza Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS/CPTL ([email protected])
Este trabalho faz parte de um projeto de pesquisa mais abrangente, intitulado “Construções
subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional”, coordenado
pela Profa. Dra. Erotilde Goreti Pezatti (UNESP/IBILCE/SJRP), cuja proposta é analisar sob
a perspectiva teórica da Gramática Discursivo-Funcional (GDF – Hengeveld e Mackenzie,
2008) os três tipos de orações subordinadas (completiva, adjetiva e adverbial) nas
variedades lusófonas, a fim de verificar as motivações funcionais que permeiam os tipos de
construções subordinadas e as relações semântico-discursivas que elas podem expressar.
Considerando, pois, a GDF como aparato teórico, que faz distinção entre camadas e níveis
de organização da linguagem, o objetivo do estudo é analisar as propriedades sintáticosemânticas dos predicados encaixadores (nome/adjetivo/advérbio) e de seus complementos
nominais, no que diz respeito (i) aos tipos de estruturas que podem figurar como
complementos, (ii) à ausência/presença de preposição no processo de complementação, (iii)
à presença de pronomes interrogativos e pronomes relativos sem antecedentes como parte
do complemento. Além de avaliar os aspectos gramaticais envolvidos na codificação das
completivas nominais, o intuito é verificar o que as gramáticas tradicionais (GT) dizem sobre
esse tipo de subordinação, o que se ensina nas escolas de ensino fundamental, o que
dizem os linguistas sobre o assunto e o que os dados da lusofonia revelam sobre o
comportamento morfossintático, semântico e discursivo das completivas nominais, de modo
a identificar os problemas de classificação das GTs e listar as contribuições da GDF no
tocante a uma descrição mais apurada das completivas nominais. O universo de
investigação é composto pelo córpus oral organizado pelo Centro de Linguística de Lisboa,
em parceria com a Universidade de Toulouse-le-Mirail e a Universidade de Provença-AixMarselha.
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CONSTRUÇÕES NOMINAIS E VERBAIS INTEGRADAS POR PRONOMES LOCATIVOS
NA GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS DO BRASIL
Mariangela Rios de Oliveira (UFF/CNPq) ([email protected])
Com base no quadro teórico da gramaticalização de construções, que reúne a perspectiva
funcionalista, na linha de Heine e Kuteva (2007), Traugott (2008), Traugott e Dasher (2005),
entre outros, e a abordagem cognitivista, conforme Croft (2001) e Goldberg (1995; 2006),
nossa pesquisa levanta, descreve e interpreta as chamadas construções nominais (um cara
lá; esse garoto aí) e verbais (vá lá; daqui vem) no português contemporâneo do Brasil.
Testamos a hipótese de que esses arranjos mais convencionalizados são derivados de
outros em que a autonomia semântico-sintática dos constituintes envolvidos é maior; tratase da trajetória esquematização > gramaticalização, defendida por Noël (2007), e que pode
ainda ser traduzida em clines como objetivação > subjetivação ou sintaticizaçção >
morfologização. Temos evidências de que as construções nominais levantadas, com a
cliticização do pronome locativo, passam a formar um novo SN que contrasta com o original,
de modo que um cara e um cara lá correspondem a duas construções distintas, a dois
modos de dizer que veiculam sentidos específicos; nesses casos, a mudança categorial do
locativo se faz no interior de um processo maior de lexicalização, de acordo com Brinton e
Traugott (2006). Por outro lado, as construções verbais integradas por locativos atuam no
nível pragmático, na formação de arranjos a serviço da articulação de “inferências
sugeridas” (Traugott e Dasher, 2005), que concorrem para o estabelecimento de relações
lógicas (daí vem; aí está) ou de estratégias de convencimento (vamos lá; espera aí). Como
tendência geral desses usos construcionais, está o fato de ocorrerem em contextos
marcados por informalidade (sites, blogues, etc) e por maior nível de abstração e persuasão
(sequências expositivas, dissertativas ou injuntivas). Essa proposta analítica enfatiza a
importância das relações metonímicas, face às metafóricas, na investigação de cunho
funcionalista, e abre interessantes perspectivas em termos do ensino de português e seu
objeto.
ADVERBIAIS INDEPENDENTES NA LUSOFONIA: DO MONITORAMENTO DA
INTERAÇÃO À ORGANIZAÇÃO DISCURSIVA
Joceli Catarina Stassi Sé - UNESP/ São José do Rio Preto ([email protected])
A partir do tratamento dado às relações adverbiais nos contextos de ensino e aprendizagem
de língua portuguesa, a presente pesquisa busca apresentar contribuições advindas de
estudos à luz da Gramática Discursivo-Funcional (HENGEVELD & MACKENZIE, 2008) para
subsidiar o enquadramento das relações adverbiais independentes dentro da sistematização
das relações adverbiais no contexto escolar, o que ampliaria a abordagem dos materiais
didáticos, gramáticas normativas e escolares, que não tratam desse tipo de estrutura da
língua e que não oferecem ao aluno a oportunidade de refletir sobre esse uso, ação
enfocada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa.
Identificadas por não manterem dependência em relação a nenhuma oração anterior ou
posterior, ocorrendo entre pausas e geralmente introduzidas por marcadores discursivos
(DECAT, 1999), esses tipos de estrutura têm relevância interacional e servem para marcar
intenções comunicativas, ora servindo de “guia” para o interlocutor, ou de “ponte de
transição”, estabelecendo a coesão do texto, ora à ênfase pretendida pelo locutor (CHAFE,
1984, 1988; GIVÓN, 1992).
As hipóteses subjacentes a esta pesquisa são (1) as orações adverbiais aqui tratadas não
constituem casos de subordinação, apresentam ilocução própria, envolvem o falante e o
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ouvinte, e contêm um conteúdo comunicado; (2) essas construções ocorrem como Moves,
que impulsionam a comunicação em termos de objetivos (HENGEVELD & MACKENZIE,
2008); (3) podem aparecer em todas as variedades lusófonas.
Objetiva-se determinar: (1) suas propriedades pragmáticas, semânticas morfossintáticas, e
fonológicas, (2) a posição dessas construções no continuum de dessentencialização,
(CRISTOFARO, 2003); (3) sua função discursiva, considerando as noções de figura e fundo
(THOMPSON 1987), de unidade de informação (CHAFE, 1980) e de monitoramento da
interação e organização discursiva (DIK, 1997).
Como universo de investigação, utilizar-se-á o corpus oral organizado pelo Centro de
Lingüística da Universidade de Lisboa, abrangendo as seguintes variedades: (1) Brasileira;
(2) Portuguesa; (3) Africana, incluindo: São Tomé e Príncipe; Angola, Cabo Verde, GuinéBissau e Moçambique; e (4) Timor Leste.
A LUSOFONIA E A LINEARIZAÇÃO DE CONSTITUINTES ORACIONAIS
Erotilde Goreti PEZATTI - Universidade Estadual Paulista – câmpus de São José do Rio
Preto - [email protected]
Este trabalho faz parte de um projeto maior, cuja proposta é investigar a ordenação de
constituintes em sentenças das variedades portuguesas, tomando como aparato teórico a
Gramática Discursivo-Funcional, desenvolvida por Hengeveld e Mackenzie (2008). A
hipótese principal subjacente é a de que, em português, há uma nítida separação entre a
ordenação dos constituintes hierárquicos e a dos constituintes configuracionais: a ordenação
hierárquica é centrípeta, começando pelas margens da Oração, já a ordenação
configuracional é centrífuga, iniciando pelo predicado; a hipótese secundária é a de que, se
há diversidade entre as variedades, ela reside na ordenação dos constituintes nãoargumentais, ou seja, modificadores e constituintes extraoracionais. O objetivo consiste em
investigar os princípios que norteiam a ordenação desses constituintes na modalidade
falada das variedades portuguesas, visando a caracterizar tão amplamente quanto possível
a unidade e a diversidade lusófona. Os resultados obtidos na investigação dos constituintes
não hierárquicos nas variedades européia e brasileira mostram que a diferença entre elas
reside não exatamente na ordenação dos constituintes configuracionais, que define um
esquema verbo-medial, mas principalmente na ordenação de constituintes hierarquicamente
organizados e constituintes extraoracionais. Quanto à posição que os constituintes
hierárquicos de cada nível e camada podem ocupar nas sentenças das variedades do
português, os resultados até agora obtidos indicam que cada tipo de constituinte tem
preferência por determinada posição, à direta ou à esquerda do predicado, e que essa
escolha pode diferir de uma variedade para outra. Para a discussão dentro do Projeto de
Gramática do Português, no entanto, será verificado como a ordenação de constituintes tem
sido tratada por gramáticos, linguistas e pelas gramáticas escolares, e, com base nos
resultados obtidos pela análise de dados lusófonos, pretende-se apontar novas direções,
principalmente para o ensino do português nas escolas, para a abordagem da questão da
linearização de constituintes na sentença.
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CONSTRUÇÕES RELATIVAS: UMA PERSPECTIVA DISCURSIVO-FUNCIONAL
Roberto Gomes CAMACHO (Universidade Estadual Paulista – Campus de São José do Rio
Preto –Brasil- [email protected])
Uma comparação entre a estratégia de retenção pronominal e a de pronome relativo ou
padrão mostra ser a primeira construção relativa mais eficaz do que a segunda, nas línguas
que a contêm, em virtude de licenciar, tipologicamente, um conjunto muito maior de
posições relativizadas da Hierarquia de Acessibilidade de Keenan & Comrie (1977). Essa
questão intrigante, levantada por Dik (1997) e, no Brasil, por Kato (1981), aponta para uma
correlação entre a possibilidade de posições relativizáveis e a facilidade cognitiva do
processamento de informação. Tarallo (1983) é referência obrigatória nesse domínio, tendo
inspirado outros trabalhos no paradigma gerativista sobre relativas no português do Brasil
(Longo 1994; Kato 1996; Kato, Braga et alii 1996). Propõe-se aqui uma abordagem do
mesmo fenômeno sob uma perspectiva funcionalista, o que implica extrapolar seus limites
para além do nível morfossintático, considerando como relevantes motivações pragmáticas
e semânticas, entendidas como pertencentes ao Nível Interpessoal e ao Nível
Representacional (Hengeveld; Mackenzie 2008). O objetivo é examinar a hipótese de que as
estratégias de relativização em uso nas diferentes variedades lusófonas não são realmente
variantes, ou formas distintas de dizer a mesma coisa conforme sustenta Tarallo (1983),
mas diferentes estratégias para diferentes propósitos comunicativos. Os dados de base
foram recolhidos da amostra do Projeto Português Falado - Variedades Geográficas e
Sociais, desenvolvido pelo Centro de Linguística da Universidade de Lisboa (2009). Os
materiais estão publicados em CD-ROM sob o título Português Falado - Documentos
Autênticos: Gravações áudio com transcrição alinhada. Além de uma interpretação das
estratégias de relativização em uso, este trabalho se debruça sobre o tratamento dado ao
mesmo fenômeno em outras descrições linguísticas, em gramáticas normativas, em
gramáticas pedagógicas, para examinar em que grau essas abordagens se aproximam ou
se afastam das indicações contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais em relação ao
português do Brasil.
AS ORAÇÕES PREDICATIVAS NAS VARIEDADES LUSÓFANAS
Lisângela Aparecida GUIRALDELLI (UNESP-SJRP/FFCL-Ituverava)
O presente estudo faz parte de um projeto maior denominado Construções subordinadas
nas variedades lusófanas: uma abordagem discursivo-funcional, desenvolvido pelo Grupo
de Pesquisa em Gramática Funcional (GPGF) da UNESP, São José do Rio Preto-SP Brasil,
coordenado por Erotilde Goreti Pezatti. A proposta deste trabalho consiste em investigar os
três tipos de subordinação (completiva, adjetiva e adverbial) nas variedades portuguesas,
com o objetivo de descobrir as motivações funcionais subjacentes à relação entre as
estruturas morfossintáticas usadas para codificar as relações subordinadas e as situações
conceituais que elas expressam, estabelecendo a hierarquia implicacional e possíveis
combinações de traços que permitam o enquadramento do português nos tipos possíveis de
sistemas linguísticos. Considerando a necessidade empírica de se descrever e explicar as
línguas a partir da definição de um fenômeno particular da estrutura delas e a necessidade
teórica de testar os fundamentos metodológicos da Gramática Discursivo-Funcional (GDF),
na generalização dos fenômenos descritivos em direção de generalizações implicacionais
teoricamente produtivas, a proposta deste estudo consiste em verificar, nas variedades
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lusófonas, a forma de expressão das construções predicativas a fim de fazer um
mapeamento sintático-semântico da subordinação sentencial que envolve a relação entre
predicado e argumento, observando e analisando a semântica e o tipo do predicado matriz,
o tipo de entidade do sujeito e da oração predicativa. As ocorrências reais de uso que serão
analisadas são extraídas do corpus oral organizado pelo Centro de Linguística da
Universidade de Lisboa, em parceria com a Universidade de Toulouse-le-Mirail e a
Universidade de Provença-Aix-Marselha. O corpus é constituído por 86 gravações, com
conversas informais entre pessoas conhecidas ou entre amigos e familiares, e com
intervenções mais formais. São textos exemplificativos do português falado em Portugal, no
Brasil, nos países africanos de língua oficial portuguesa: Serão utilizadas também narrativas
organizadas pelo projeto ALIP – Amostra Linguística do Interior Paulista – do banco de
dados IBORUNA (2004). Essas narrativas pertencem ao acervo do Departamento de
Linguística da UNESP – campus de São José do Rio Preto-SP e, foram feitas por pessoas
com níveis de escolaridade, idade e renda familiar variáveis.
DÊIXIS E/OU REFERÊNCIA?
Jussara Abraçado - Universidade Federal Fluminense ([email protected])
Embora as línguas naturais sejam constituídas de muitas unidades com funções dêticas _
os pronomes, os artigos, os advérbios e todas as variações do paradigma verbal _ são
poucas as gramáticas que abordam o fenômeno da dêixis. No âmbito dos estudos
linguísticos, verifica-se um volume maior de pesquisas dedicadas à dêixis. Entretanto, há um
desencontro flagrante entre estudos de perspectivas teóricas diferentes, no que se refere à
conceituação e à delimitação do fenômeno em tela. De acordo com sua raiz etimológica, o
significado de “dêixis” remete para a noção de mostração, ostensão, indicação ou
indigitação, Porém, se encontramos estudos em que a dêixis é entendida, em termos
restritos, como um ato de mostração corporal num apontar verbal, encontramos também
autores que, numa visão mais abrangente da função dêitica, relacionam a dêixis à noção de
referência. Considerando o exposto, este trabalho, teoricamente pautado em pressupostos
do funcionalismo linguístico e da Linguística Cognitiva (Traugott 2010; Langacker 1991;
Goldberg 1995, 2006), tem por proposta: (1) discutir a relação entre dêixis e referência; (2)
demonstrar que os compêndios gramaticais, em geral, tratam a dêixis e a referência como
fenômenos relacionados a domínios distintos.
Referências
Goldberg, Adele E.1995. Constructions: a Construction Grammar Approach to Argument
Structure. Chicago: The University Press.
Langacker, Ronald W. 1991 Foundations of Cognitive Grammar, Vol 2. Descriptive
Applications. Stanford, CA: Stanford University Press.
Traugott, Elizabeth Closs. (Inter)subjectivity and (inter)subjectification: A reassessment. In:
Davidse, Kristin; Vandelanotte, Lieven ; Cuyckens, Hubert. (eds). 2010. Subjectification,
intersubjectification and grammaticalization. Berlin/New York: Walter de Gruyter GmbH & Co.
KG.
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CONSTRUÇÕES ADVERBIAIS REDUZIDAS DE GERÚNDIO E AS VARIEDADES
LUSÓFONAS
Ana Maria Paulino Comparini
([email protected])
–
UNESP
–
SJRP
/
Universidade
de
Franca
As orações reduzidas de gerúndio são tradicionalmente definidas como orações
subordinadas, que não se iniciam por pronome relativo nem por qualquer conjunção
subordinativa e têm o verbo na forma nominal gerúndio. Segundo Cunha e Cintra (1985) as
adverbiais reduzidas de gerúndio, na maioria dos casos, correspondem a orações
subordinadas adverbiais temporais, mas podem também equivaler a orações causais,
concessivas ou condicionais. Para Bechara (2001), adverbiais reduzidas de gerúndio são as
que têm o verbo, auxiliar ou principal, no gerúndio e equivalem a uma oração causal,
consecutiva, concessiva, condicional, temporal ou a uma oração que denota modo, meio,
instrumento. O trabalho de Perini (2010) considera que, no processo de subordinação, uma
oração fica dentro da outra e que as orações de gerúndio são marcadas como subordinadas
pelo modo do verbo; sintaticamente paralelas a sintagmas adverbiais e nunca introduzidas
por conjunção. Castilho (2010) afirma que uma das marcas de subordinação das orações de
gerúndio é que o sujeito da sentença gerundial é predominantemente o mesmo da sentença
matriz.
Parte de um projeto de pesquisa maior, denominado Construções subordinadas nas
variedades lusófonas: uma abordagem discursivo-funcional, desenvolvido pelo Grupo de
Pesquisa em Gramática Funcional (GPGF) da UNESP/São José do Rio Preto, este trabalho
pretende verificar, nas variedades da língua portuguesa, a forma de expressão das orações
adverbiais reduzidas de gerúndio, utilizando, para tanto, os fundamentos metodológicos da
Gramática Discursivo-Funcional (GDF).
Para a análise são utilizadas ocorrências reais de uso extraídas do corpus oral organizado
pelo Centro de Lingüística da Universidade de Lisboa em parceria com a Universidade de
Toulouse-le-Mirail e a Universidade de Provença-Aix-Marselha.
Ao apresentar resultados parciais do estudo, este trabalho mostra que a redução de
argumentos inerente à formação das orações reduzidas nos levam a caracterizá-las como
formas rebaixadas, levando, nos termos de Lehmann (1988), a adquirir propriedades nãofinitas, a ponto de tornar-se um constituinte nominal de uma oração matriz.
AS CONSTRUÇÕES ADVERBIAIS DE TEMPO NAS VARIEDADES LUSÓFONAS: UM
ESTUDO DISCURSIVO-FUNCIONAL
Aliana Câmara Precioso (UNESP/IBILCE) ([email protected] )
Este trabalho tem como objetivo investigar as expressões de tempo nas diversas variedades
da Lusofonia, verificando o funcionamento das orações temporais nos níveis e camadas
conforme proposto pela Gramática Discursivo Funcional (GDF). Essa teoria estruturalfuncional é tipologicamente baseada e apresenta uma arquitetura descendente em quatro
níveis de organização linguística: Interpessoal, Representacional, Morfossintático e
Fonológico (HENGEVELD & MACKENZIE, 2008). Parte-se do pressuposto de que os dois
primeiros níveis são responsáveis respectivamente pela interação e pela semântica das
expressões linguísticas codificadas no nível morfossintático. O universo de investigação
consiste no córpus “Português Falado”, produzido pelo Projeto “Português Falado,
Variedades Geográficas e Sociais”, que é representativo de todas as variedades oficiais da
língua portuguesa falada. Cada ocorrência foi analisada segundo fatores distribuídos nos
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níveis propostos pelo modelo: (i) Nível Interpessoal (presença de marcador discursivo,
função retórica, camada); (ii) Nível Representacional (identidade dos participantes,
factualidade, camada); (iii) Nível Morfossintático (tipo de operador, forma verbal da oração
subordinada, posição da oração subordinada em relação à matriz, codificação do
participante principal do evento lexical, anterioridade/posterioridade/simultaneidade,
identidade de tempo e modo); (iv) Nível Fonológico (quebra entonacional). Verificou-se que
a conjunção temporal prototípica é ‘quando’ e relaciona normalmente, no Nível
Representacional, dois estado-de-coisas, que designam eventos factuais simultâneos, sem
identidade de participantes. Além disso, a relação temporal ocupa de modo geral a posição
anterior ao evento principal e a adjacência às duas orações nunca é interrompida por
marcador discursivo.
AS ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS EM FUNÇÃO DE SUJEITO:
QUESTÕES SOBRE O ENSINO
Sandra Denise Gasparini Bastos – UNESP – [email protected]
Marize Mattos Dall’Aglio Hattnher – UNESP – [email protected]
Este estudo faz parte de um projeto de pesquisa mais abrangente, denominado
“Construções subordinadas nas variedades lusófonas: uma abordagem discursivofuncional”, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Gramática Funcional (GPGF –
UNESP/CNPq), que tem por objetivo estudar os três tipos de subordinação (completivas,
adjetivas e adverbiais) nas variedades do português. Na análise das orações subordinadas
substantivas em função de sujeito, interessa-nos verificar em que medida os aspectos
relevantes da descrição dessas orações são abordados na descrição oferecida pelas
gramáticas puramente prescritivas e nos livros didáticos em uso no ensino escolar. Para
alcançar esse objetivo, buscamos o conceito de subordinação substantiva em gramáticas
normativas (Cunha e Cintra, 2001; Bechara, 2001; Rocha Lima, 2007, entre outros) e em
gramáticas descritivas (Neves, 2000; Vilela e Koch, 2001; Mira Mateus et al., 2003 e
Castilho, 2010) e analisamos o tratamento dado ao tema em gramáticas pedagógicas e
livros didáticos usados no ensino fundamental do segundo ciclo (do 6º ao 9º ano). A partir do
confronto dessas informações com a abordagem do tema na Gramática DiscursivoFuncional (GDF - Hengeveld e Mackzenzie, 2008) e da análise de ocorrências reais
identificadas no córpus, sugerimos um tratamento pedagógico orientado pela classificação
semântico-pragmática dos predicados encaixadores, ressaltando o papel das orações
subjetivas nos níveis interpessoal e representacional propostos pela GDF. As ocorrências
foram extraídas do córpus denominado “Português oral”, organizado pelo Centro de
Linguística da Universidade de Lisboa, em parceria com a Universidade de Toulouse-leMirail e a Universidade de Provença-Aix-Marselha, no âmbito do Projeto “Português Falado:
Variedades Geográficas e Sociais”. Além de amostras de fala do Brasil e de Portugal,
incluem-se as variedades do português africano (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique, São Tomé e Príncipe) e também do Timor Leste.
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UM REGISTRO LINGUÍSTICO DA CULTURA URBANA POPULAR PAULISTA:
ANALISANDO A FALA DOS MANOS EM PROGRAMAS DA MÍDIA TELEVISIVA E
RADIOFÔNICA
Anna Christina Bentes (UNICAMP – [email protected])
Cássia M. A.Nogueira (UNICAMP – [email protected])
Livia Bertolazzi Granato – UNICAMP – [email protected])
Neste trabalho, concebemos o conceito de registro como um modelo reflexivo de
comportamento discursivo que somente pode ser estabelecido por atividades avaliativas a
um só tempo internas e externas ao grupo social que representa. Agha (2007) postula que,
do ponto de vista da estrutura da linguagem, registros discursivos diferem enormemente no
tipo de repertório e de enunciados de base envolvidos em sua produção. Nosso objetivo é
mostrar dois estudos complementares que podem revelar como um registro específico
resulta de seu uso e de sua contínua construção por parte de seus usuários e também de
um conjunto de práticas avaliativas por parte de seus falantes e de outros grupos sociais
sobre esse registro. O primeiro estudo é a descrição de alguns repertórios e enunciados dos
falantes do registro específico. O corpus desse estudo é formado por textos orais produzidos
por 04 homens com idade entre 18-25 anos durante entrevistas curtas de 2 a 4 minutos
cada para um programa televisivo. O segundo estudo é a descrição de como os mesmos
repertórios descritos no estudo anterior são manipulados em esquetes humorísticos
radiofônicos de forma a reforçar valores indiciais estereotípicos associados ao grupo social
dos manos. O corpus desse segundo estudo é formado por 62 esquetes de rádio. Na
identificação do registro dos manos, observamos três padrões de tipificação no nível
fonológico: assimilação de /d/ > /nd/; redução da preposição para > pa; a desnazalização
das vogais pós-tônicas: chegaram > chegaro; levaram > levaro. Analisando as atividades de
estilização paródica feitas pelos comediantes paulistas sobre o registro dos manos,
observamos que a seleção das variáveis linguísticas acima combinada com a seleção de
recursos lexicais específicos cria uma identidade social estigmatizada para os manos e para
o seu registro, localizando-os no ponto de menor prestígio na escala linguística e social.
Referências bibliográficas
AGHA, A. (2007). Language and social relations. New York: Cambridge University Press.
A HIPOTAXE ADVERBIAL NAS VARIEDADES LUSÓFONAS
Maria Beatriz Nascimento
([email protected])
Decat
Universidade
Federal
de
Minas
Gerais
Dando continuidade às pesquisas que venho realizando desde 1993, sobre a hipotaxe
adverbial no português brasileiro, oral e escrito, pretendo mostrar os resultados de uma
análise estendida a variedades lusófonas da língua, na modalidade oral. Os dados
utilizados, extraídos do corpus oral organizado pelo Centro de Linguística da Universidade
de Lisboa, em parceria com a Universidade de Toulouse-le-Mirail e a Universidade de
Provença-Aix-Marselha, englobam ocorrências do português do Brasil, de Portugal, de
países africanos de língua oficial portuguesa (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique, São Tomé e Príncipe) e em Timor-Leste. Este estudo ancora-se
fundamentalmente na Teoria da Estrutura Retórica, tal como desenvolvida por
pesquisadores funcionalistas da costa oeste norte-americana, fornecendo uma base
discursiva para a hipotaxe, partindo do estudo de estruturas pertencentes ao nível da
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“nuclearidade” e das “relações retóricas”, como “solução”, “evidência”, “justificativa”,
“motivação”, “razão”, “sequência”, “habilitação”/“capacitação”, “elaboração”, “reformulação”,
“condição”, “causa”, “concessão”, “fundo”, “tese-antítese” e “circunstância”. Partindo dessa
abordagem, e entendendo a hipotaxe adverbial como um fenômeno de articulação de
cláusulas do tipo “núcleo-satélite”, pretendo descrever as cláusulas adverbiais, encontradas
no corpus citado, considerando as proposições relacionais que emergem desse tipo de
combinação, e discutindo as relações retóricas estabelecidas no contexto de ocorrência
dessas cláusulas materializadas com ou sem a presença de um conector. Serão apontadas,
também, as funções textual-discursivas a que as cláusulas adverbiais servem na
organização do texto, à maneira de “guia”, de “fundo”, de “moldura” para uma informação
contida no co-texto; ou como “ponte de transição”, em função anafórica e catafórica
simultaneamente; ou, ainda, como “tópico”, servindo de ponto de partida para a estruturação
da informação, e mesmo como “foco”, “retomada”, dentre outras. Também será mostrada a
inter-relação entre posição, relações retóricas e funções textual-discursivas mantidas pelas
cláusulas com a porção discursiva com a qual se combinam.
AS ORAÇÕES CONCESSIVAS NA LUSOFONIA: CONTRIBUIÇÃO PARA AS
GRAMÁTICAS DO PORTUGUÊS
Talita Storti Garcia UNESP/ São José do Rio Preto – ([email protected])
Tendo em vista o tratamento dado às orações concessivas nos materiais didáticos usados
no ensino de língua portuguesa, este trabalho apresenta uma descrição desse tipo de
adverbial sob a perspectiva da Gramática Discursivo-Funcional (GDF) (HENGEVELD e
MACKENZIE, 2008) nas variedades do português falado, o que poderia contribuir para que
os livros didáticos e gramáticas normativas abordassem este tema de modo mais
abrangente.
Nesse contexto de ensino e aprendizagem, as orações concessivas são tratadas como
aquelas que exercem a função de adjunto adverbial de outra oração, a principal,
dependendo dela para se estabelecer, como exemplificado em (1): mesmo chovendo, a
pessoa não apanha. (Moç86:Chuva). Esse tipo, no entanto, não é o único encontrado na
língua falada.
As orações concessivas podem apresentar certo grau dessentencialidade, como em
(2): Doc.: e qual é o seu trabalho [...]? Inf.: praticamente é mais serviço de escritório, embora
às vezes também vá para a rua entregar carros. (PT72:AoVolante).
Há ainda um terceiro tipo de oração concessiva, denominado por Decat (1999, 2001)
“oração desgarrada”, pois ela não é integrada estruturalmente em outra, como mostra (3):
ah, pelo menos para mim foi diferente ver assim como eles valorizam aquela cidade, como
eles, embora Porto Alegre seja uma cidade bem grande, não é, você vê como eles
valorizam (Bra80:SurpresasFotografia).
As hipóteses deste estudo são: (i) esses três diferentes tipos de oração concessiva podem
ocorrer em todas as variedades do português; (ii) cada tipo constitui uma camada, que pode
pertencer ao Nível Representacional ou ao Interpessoal.
Objetiva-se determinar a posição dessas construções no continuum de dessentencialização
(CRISTOFARO, 2003), assim como suas propriedades sintático-semânticas.
O universo de investigação consiste no corpus Português Falado - Documentos Autênticos:
Gravações áudio com transcrição alinhada, que inclui as variedades do português falado em
Portugal, no Brasil, nos países africanos de língua oficial portuguesa e em Macau e Timor
Leste.
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UMA ABORDAGEM DISCURSIVO-FUNCIONAL DAS ORAÇÕES COMPLETIVAS EM
PORTUGUÊS E REFLEXÕES SOBRE O SEU ENSINO
Gisele Cássia de Sousa – Universidade Estadual Paulista [email protected]
Valéria Vendrame – Universidade Estadual Paulista / Faculdade de José Bonifácio
([email protected])
Este trabalho é parte de um projeto maior que vem sendo desenvolvido por pesquisadores
integrantes do Grupo de Pesquisa em Gramática Funcional, da Universidade Estadual
Paulista (câmpus de São José do Rio Preto), e que objetiva descrever as motivações
funcionais subjacentes às construções subordinadas do português, com base em
pressupostos teóricos da Gramática Discursivo-Funcional (HENGEVELD; MACKENZIE,
2008). Seguindo essa orientação teórica, pretendemos demonstrar, em um primeiro
momento, aspectos funcionais que, de modo recorrente, se encontram relacionados às
diferentes formas que orações completivas, em posição de argumento interno de verbo
transitivo, assumem em português. Para a descrição desses aspectos, utilizamos dados
representativos de diferentes variedades do português falado, extraídos do córpus lusófono
organizado pelo Centro de Lingüística da Universidade de Lisboa, juntamente com a
Universidade de Toulouse-le-Mirail e a Universidade de Provença-Aix-Marselha. A partir
dessa descrição, pretendemos, em um segundo momento, demonstrar em que medida e de
que modo motivações funcionais inerentes ao uso das construções completivas são
contempladas em atividades pedagógicas propostas por diferentes livros didáticos
atualmente adotados para o ensino de língua portuguesa em instituições educacionais
brasileiras. Com esse último propósito, nosso principal intuito é contribuir para as discussões
acerca da necessidade de uma orientação funcionalista para o ensino de gramática do
português, tendo em vista o já tão propalado objetivo a ser alcançado com o ensino formal
dessa disciplina: aprimorar a competência linguística dos estudantes e, com isso, seu
desempenho comunicativo em língua materna.
CLÁUSULA MARCADORA DE ATITUDE DO FALANTE
Nilza Barrozo Dias - Universidade Federal Fluminense ([email protected])
As construções subjetivas são constituídas por um segmento A, orações que se realizam
com o verbo “ser” + nome- é possível, é conveniente, é necessário, é claro, é certo- bem
como as orações predicadoras que se realizam com o verbo “convir”- convém, convinha e
convir - e por um segmento B, que funciona como oração encaixada com função de sujeito.
O segmento A, além de funcionar como encaixador, pode marcar, do ponto de vista
semântico-pragmático, atitude do falante, expressando avaliação, evidencialidade e
modalidades deôntica e epistêmica. Geralmente, há a predominância do segmento A na
posição inicial e a oração encaixada subjetiva na posição seguinte. A hipótese prevê que o
posição inicial da sentença constitui o espaço de marcação de atitude do falante, daí o
segmento A ser contaminado por este espaço, apresentando função semelhante aos
advérbios modalizadores sentenciais. Além disso, alguns desses segmentos apresentam
mobilidade e se deslocam para posições outras em fronteiras de constituintes. Ao se
movimentarem, tais segmentos oracionais apresentam mudança do estatuto gramatical e
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passam por um processo de gramaticalização até serem reconhecidos como advérbios
sentenciais. Alguns desses segmentos, contudo, não apresentam mobilidade, mas
expressam a marcação de atitude do falante.O ensino escolar considera o segmento A
como oração principal e o segmento B como oração subordinada substantiva subjetiva. O
problema encontrado em sala de aula vem do fato de os alunos terem grande dificuldade em
identificar o segmento A com sua função predicadora, mas destacam como relevante a sua
função textual-discursiva. Os dados escritos são retirados do acervo digital da Revista Veja
e de redações de alunos. Os dados de fala são retirados do projeto Fala Mineira e do
Projeto Discurso & Gramática.
ORAÇÕES SUBJETIVAS NO PORTUGUÊS: DIFERENTES ABORDAGENS E SUAS
CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO.
Solange de Carvalho FORTILLI- Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto,
São Paulo, Brasil ([email protected])
Este trabalho observará o tratamento dado por diferentes quadros teóricos às orações
subjetivas, mais especificamente àquelas que se encaixam em matriz com predicado
adjetival. O objetivo é elaborar um panorama que mostre como diferentes correntes teóricas
abordam esse tipo de oração completiva, desde as mais formais até aquelas já
comprometidas com o uso da língua e, ao mesmo tempo, confrontar as informações
encontradas com dados coletados em situações reais de interação. Essa comparação entre
norma e uso permitirá analisar também como os livros didáticos utilizados no Brasil vêm
enfocando as orações subjetivas e, consequentemente, como vem sendo o ensino dessas
construções. A descrição sintática e semântica tomada como base para o entendimento dessas
orações será a Gramática Discursivo-Funcional (HENGEVELD & MACKENZIE, 2008). O
universo de pesquisa consistirá no córpus do banco de dados Iboruna, de responsabilidade
do Projeto ALIP (Amostra Lingüística do Interior Paulista), que se compõe de amostras do
português falado na região de São José do Rio Preto e também no córpus organizado pelo
Centro de Lingüística da Universidade de Lisboa, que reúne amostras de fala do Brasil,
Portugal e mais outros oito países de língua portuguesa. Os dados empíricos encontrados
serão confrontados com obras de diferentes gramáticos e com livros didáticos recomendados
pelos órgãos oficiais de educação e amplamente adotados nas escolas brasileiras. Serão
coletadas ocorrências de orações subjetivas com matriz adjetival nas diferentes variedades do
português, lembrando que as possíveis formas variáveis dessas orações (como aquelas sem a
cópula ou sem o complementizador) serão também consideradas, já que podem indicar processos
de mudança lingüística identificados com a gramaticalização e a dessentencialização, definindo de
antemão o viés variacionista como uma abordagem possível para as orações subjetivas.
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ADVERBIAIS DE RAZÃO NA LUSOFONIA: ANÁLISE DISCURSIVO-FUNCIONAL
Norma Barbosa Novaes - UNESP/SJ Rio Preto ([email protected])
O estudo em apresentação integra o projeto de pesquisa Construções Subordinadas nas
Variedades Lusófonas: Uma Abordagem Discursivo-Funcional, cujo objeto de estudo é a
subordinação nas variedades do português, desenvolvido com base em uma amostra de
variedades da língua portuguesa; tem-se como finalidade, em consonância com a proposta
teórica da Gramática Discursivo-Funcional, analisar as motivações funcionais que regulam a
seleção de estratégias específicas de construção de relações dos três tipos de subordinação
(completiva, adjetiva e adverbial). Assim, enquadra-se na proposta do projeto A Gramática
do Português e as Variedades Lusófonas, que tem como um dos objetivos compreender o
estatuto da língua portuguesa no mundo e, especialmente, no interior da própria lusofonia.
Especificamente neste trabalho, pretende-se discutir a relação adverbial de razão, definida
por Hengeveld e Mackenzie (1998) como um tipo especial de Conteúdo Proposicional que
representa um pensamento que leva um agente humano a agir de uma determinada forma,
sendo a causa da realização de um estado de coisas expresso na oração principal em
termos de um motivo atribuído ao controlador do estado de coisas da oração principal. Para
o desenvolvimento do trabalho, realizou-se uma pesquisa a respeito do tratamento da
relação adverbial de razão em gramáticas escolares e em gramáticas de linguistas
brasileiros e portugueses, seguida de uma análise de dados de língua falada em um córpus
que contempla variedades lusófonas, para finalmente discutir como este estudo pode
colaborar para uma descrição e explicação das regras efetivas do português em uso e assim
contribuir para o trabalho com o ensino da língua nas escolas.
PROCEDIMENTOS DE REFLEXÃO LINGUÍSTICA PARA A CONSTITUIÇÃO DE
INSTRUMENTOS DIDÁTICOS: REGRAS E REGULARIDADES
Manoel Luiz Gonçalves Corrêa - Universidade de São Paulo ([email protected])
Neste trabalho, investigo formas de posicionamento do sujeito em relação à língua no
processo de produção textual. Em termos teóricos, trata-se de retorno ao processo de
construção de unidades como o texto ou o gênero do discurso, para destacar regras (da
língua) e regularidades (do texto e do discurso) que atuam na produção de qualquer texto.
Fundamenta essa pesquisa a propriedade de reflexividade da linguagem. O objetivo é
produzir instrumentos didáticos que permitam intervir no ensino da escrita a partir da
reflexão linguística. O material linguístico de partida desta investigação foi uma paródia do
conto “Chapeuzinho Vermelho” feita por Millôr Fernandes. Nessa paródia, foram
identificados três procedimentos que exploram a reflexividade da linguagem. O primeiro
deles diz respeito à língua, como nas sequências descritivas envolvendo léxico e sintaxe:
“Chapeuzinho Vermelho. (Esses nomes que se usam em substituição do nome próprio
chamam-se alcunha ou vulgo)” ou “otite, inflamação do ouvido,...”. O segundo diz
respeito ao campo da produção de comunidades de discurso, como na citação “Ouvindo
isso o Lobo saiu correndo, estimulado por desejos reprimidos (Freud: "Psychopathology
Of Everiday Life", The Modern Library Inc. N.Y.). Por fim, o terceiro diz respeito ao próprio
discurso e está presente nas glosas, como modo de constituir o efeito paródico do texto. Se,
da perspectiva da Linguística e da própria Linguística Aplicada, trata-se de assunto
contemplado no próprio objeto e nos próprios métodos de disciplinas que se ocupam do
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estudo da linguagem; da perspectiva da Didática, o trabalho com a reflexividade da
linguagem pode contribuir para a construção de instrumentos didáticos, como na elaboração
de sequências descritivas, mas, também, como orientador de inúmeras outras ações no
ensino da escrita.
A MODALIDADE NA NORMA ORAL POPULAR DA CIDADE DE FORTALEZA
Márcia Teixeira Nogueira (UFC - [email protected])
O presente estudo teve como objetivo geral descrever e explicar o funcionamento do
processo de modalização (meios linguísticos utilizados, tipos de fonte e natureza da
experiência evidencial, graus de comprometimento do enunciador) em inquéritos dos tipos
DID (diálogo entre informante e documentador); D2 (diálogo entre dois informantes) e EF
(elocução formal), da Norma Oral Popular de Fortaleza (NORPOFOR). Utilizou,
conjuntamente, categorias de análise relativas aos domínios da evidencialidade e da
modalidade epistêmica, tal como esses domínios vêm sendo tratados no quadro teórico da
Gramática Funcional. O presente estudo também buscou colocar em relevo a relação entre
a manifestação da modalidade epistêmica e da evidencialidade e os graus de aproximação
ou distanciamento do enunciador em relação ao enunciado que produz como efeitos da
manipulação de recursos expressivos. Utilizou-se uma amostra constituída com um inquérito
de cada tipo, cada um deles com 60 minutos de gravação, uma vez que esse corpus ainda
se encontra em fase de transcrição. Em relação ao perfil de cada informante que constitui o
corpus, são fortalezenses que vieram para esta capital com até cinco anos de idade, têm
pais cearenses, não estiveram fora de Fortaleza por um período superior a dois anos e
residem em Fortaleza. Os resultados gerais obtidos até o momento são os seguintes: a) a
manifestação da modalidade epistêmica é mais frequente nos inquéritos do tipo D2; b) o
meio linguístico de manifestação da modalidade mais utilizado é o verbo encaixador de
conteúdos epistêmicos; c) o enunciador é a fonte evidencial mais frequente; d) a natureza
da experiência evidencial é mais frequentemente subjetiva; e predominam os efeitos de
médio e baixo comprometimento do enunciador em relação aos conteúdos veiculados.
A NÃO-CONCORDÂNCIA VERBO-SUJEITO: UMA REGRA INOVADORA EM CONTEXTOS
DE LÍNGUA ESCRITA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO?
Cleber Ataíde - Universidade Federal da Paraíba/Universidade Federal Rural de
Pernambuco ([email protected]
Maria
Elizabeth
Affonso
([email protected])
Christiano-Universidade
Federal
da
Paraíba–
O objetivo deste artigo é fornecer uma interpretação funcionalista de orientação norteamericana, sob a perspectiva do princípio da iconicidade da língua e a teoria de foco do
fenômeno da não-concordância verbo-sujeito no Português do Brasil. Partimos das
hipóteses de que nas cláusulas de estrutura VS o termo que ocupa a posição de sujeito se
reorganiza no nível sintagmático e se ressintaticisa, despindo-se de características
prototípicas e assumindo parte do comportamento sintático-semântico de objeto.
Acreditamos também que a ordem VS pode estar refletindo uma estrutura heterogênea,
representando construções que manifestam alguma estratégia discursiva dos falantes por
16
isso tende a não concordar com o sujeito plural. Para concretizar nossa idéia, decidimos
empreender esta pesquisa, tomando por base um corpus constituído por textos escritos, que
são exemplares do monitoramento da língua, como textos publicados em jornais, trabalhos
de dissertação, de teses, e outros documentos escritos nos quais fique evidente o uso da
regra inovadora “a não-concordância” verbo-sujeito. Optamos por essa escolha, porque
pretendemos cotejar os resultados para compreender até que ponto a regra da nãoconcordância com o sujeito posposto vem se fixando em determinados contextos sobre os
estilos monitorados da língua escrita, caracterizando, portanto, por uma possível mudança
linguística. Os princípios teóricos que orientam nossas análises partem dos trabalhos de
Berlinck (1997), Castilho (1997), Furtado da Cunha (1999), Givón (1995), Lehmann (1982),
Martelotta (2009) e Martelotta; Votre & Cezário (1996).
CONSTRUÇÕES DE CAUSALIDADE : UMA TRAJETÓRIA DIACRÔNICA
Maria Luiza Braga(UFRJ/CNpq) [email protected]
Maria da Conceição de Paiva (UFRJ/CNPq) [email protected]
A relação semântica de causalidade pode ser expressa por uma variedade de
configurações sintáticas, tais como parataxe, hipotaxe, e subordinacao e por um conjunto
bastante vasto de conectores derivados de bases preposicionais (porque, por + infinitivo),
adverbiais (pois, pois que, já que) e participiais.(visto, visto + que, dado, dado + que). Essas
diversas construções coexistem ao longo dos diferentes estágios do português e podem ser
organizadas em subfamílias que partilham propriedades de diferentes níveis.Uma questão
relevante se refere à sinonímia, ou intercambialidade, entre essas diferentes estruturas, não
apenas no interior da mesma família como também entre formas que pertencem a famílias
distintas. Tomando como base o Principio da Não-Sinonímia proposto por Goldberg (1995,
2006), podemos partir do pressuposto de que se duas construções causais são
sintaticamente distintas, elas precisam ser semântica ou pragmaticamente distintas. A fim de
verificar a validade desse pressuposto, procedemos a uma análise mais aprofundada das
construções causais com porque e por + infinitivo em relação a pois e pois que em cartas
representativas dos séculos XVIII, XIX e XX. Essas quatro construções são examinadas,
mais particularmente, de acordo com domínio no qual se instaura a relação de causalidade domínio do conteúdo, domínio epistêmico e domínio dos atos de fala (cf. Sweetser 1990,
Paiva 1996). Através de uma análise quantitativa, é possível depreender, por um lado,
maior estabilidade de porque, explicitador de relação causal nos três domínios, e uma certa
complementariedade entre por + infinitivo, mais restrito ao domínio do conteúdo e pois/pois
que, mais restrito ao domínio epistêmico.
Referências Bibliográficas
PAIVA, Maria da Conceição de. Aspectos semânticos e discursivos da relação de
causalidade. In: MACEDO Alzira et al. (org.), Variação e discurso, Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1996, p. 51-62.
SWETSER, Eve. From etymology to pragmatics: metaphorical and cultural aspects of
semantic structure. Cambridge: Cambridge, 1990.
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