7765 Trabalho 2159 - 1/4 AMBIÊNCIA COMO NECESSIDADE HUMANA SILVA, Rode Dilda Machado da1 BUB, Maria Bettina Camargo2 Introdução: A Política Nacional de Humanização (PNH) traz a tona um de seus dispositivos denominado Ambiência. É um dispositivo que considera o espaço físico, social, profissional e de relações interpessoais reguladores de um projeto de saúde acolhedor, resolutivo e humano. Valorizar a ambiência é favorecer a organização de espaços saudáveis e acolhedores de trabalho. O espaço deve visar o conforto, facilitar o processo de trabalho e o encontro entre as pessoas enfermas, seus acompanhantes, os gestores e os trabalhadores. Objetivo: defender que a ambiência é uma necessidade humana e enquanto categoria ela é singular na vida das pessoas. Metodologia: descritiva, bibliográfica. Resultados: Necessidade para os gregos era uma deusa. Na mitologia grega, Ananke era a mãe das moiras: Laquésis, Átropos e Kloto (elas decidiam - fiavam - sobre o nascimento, a vida e a morte das almas). Ela era raramente adorada até a criação da religião mística de Orphic. Em Roma, ela se chamava Necessitas ("necessidade"). Ananke é então a deusa da Necessidade, no sentido de se precisar de alguma coisa. Representam as necessidades externas e internas, as de relacionamento ou de afinidade, da criatividade e da cura. Platão, filósofo grego ao refletir sobre necessidade, a designou como falta e busca do que falta. Malinowski, antropólogo, institui como necessidades básicas aquelas condições ambientais e biológicas que podem satisfazer a sobrevivência individual e do grupo. A sobrevivência de ambos requer um mínimo de saúde e energia vital necessária para a realização das tarefas culturais e evitar a diminuição gradual da população. O economista Maslow criou a teoria da motivação humana embasada na hierarquia das necessidades humanas básicas. Fundamentada no princípio de que todo ser humano tem necessidades comuns que motivam seu Bacharel em Filosofia, MSc. em Engenharia de Produção, Doutoranda da Pós-Graduação de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, Técnica de Enfermagem do Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago. E-mail: [email protected]. 2 Enfermeira, Doutora em Enfermagem. Docente do Centro de Ciências da Saúde/Departamento de Enfermagem e Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Orientadora. 1 7766 Trabalho 2159 - 2/4 comportamento no sentido da satisfação hierárquica. O ser humano, sempre busca satisfação e quando experimenta alguma satisfação em um nível, logo se lança para o próximo e assim continuamente. Maslow classifica, hierarquicamente, as necessidades em cinco níveis: necessidades básicas ou fisiológicas; necessidades de segurança; necessidades sociais; Necessidades do ego; necessidades de auto-realização. Na enfermagem, a teoria das necessidades humanas básicas de WANDA HORTA possui três grandes blocos: 1) necessidades psicobiológicas: oxigenação; hidratação; nutrição; eliminação; sono e repouso; exercícios e atividades físicas; sexualidade; abrigo; mecânica corporal; integridade cutâneo-mucosa; integridade física; regulação: térmica, hormonal, neurológica, hidrossalina, eletrolítica, imunológica, crescimento celular, vascular; locomoção; percepção: olfativa, visual, auditiva, tátil, gustativa, dolorosa; ambiente; terapêutica; 2) necessidades psicossocias: segurança; amor; liberdade; comunicação; criatividade; aprendizagem; gregária; recreação; lazer; espaço; orientação no tempo e espaço; aceitação; auto-realização; autoestima; participação; auto-imagem; atenção e 3) necessidades psicoespirituais: religiosa ou teológica, ética ou de filosofia de vida. A enfermagem brasileira tem se apoiado também em modelos vindos de outros paises como, por exemplo: o sistema NANDA, (North American Nursing Diagnosis Association) que é uma ferramenta que se orienta igualmente nas necessidades dos enfermos além de outras funções. É essencial para dar continuidade à assistência ao paciente, para possibilitar a comunicação entre as necessidades dos pacientes e os enfermeiros responsáveis, para permitir uma maior uniformidade entre critérios e diagnósticos, para dar às enfermeiras uma maior uniformidade nos parâmetros de descrição das necessidades dos pacientes. O sistema pode listar de uma a quatro categorias de classificação de doenças. Tem aproximadamente 100 diagnósticos aprovados. Os organizadores formularam a proposta com o propósito de construir um sistema uniforme de diagnósticos. Com o advento da Informatização, outro instrumento que passou ser usado entre os enfermeiros é a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem – CIPE (International Classification for Nursing Practice). A definição de um padrão de vocabulário capaz de descrever o que os enfermeiros fazem como fazem e que resultados conseguem obter decorrentes de suas ações passou a ser necessário. Propostas e modelos 7767 Trabalho 2159 - 3/4 para classificar a prática de Enfermagem e a construção de terminologias têm avançado no mundo todo para universalizar a linguagem e a prática de enfermagem em um sistema classificatório. No Brasil, a CIPE versão1. 0 já avançou para outras versões. Todos estes instrumentos ou modelos se preocupam com necessidades humanas básicas que são a essência do trabalho em enfermagem. Em todos os modelos há a indicação do ambiente como necessidade humana, mas, há também uma lacuna sobre o tratamento desta necessidade. Benedet e Bub articularam um modelo aproximando a NANDA às necessidades humanas básicas e definiram necessidade de espaço como necessidade de delimitar-se no ambiente físico, ou seja, expandir-se ou retrair-se com o objetivo de preservar a individualidade e a privacidade. Florence Nightingale se ocupou deste tema mostrando suas preocupações quando formulou uma série de orientações dirigidas às enfermeiras no sentido de se ocuparem com condições físicas a serem instaladas para que os doentes recuperassem a saúde. Dentre elas, procedimentos relacionados ao arejamento e aquecimento, condições sanitárias, ruídos e iluminação do ambiente. Ambiência é sinônimo de meio ambiente; ambientar é adaptar-se a um ambiente e ambiente é entendido como aquilo que cerca e envolve os seres vivos e as coisas. A conotação dada ao termo remete ao ambiente e a adaptação da pessoa ao seu meio. A ambiência é uma necessidade humana? Presumivelmente, a ambiência deve promover a melhor saúde como necessidade tanto de pessoas enfermas que buscam a cura quanto de profissionais de saúde. Considerações finais: Para que o espaço físico seja esse ambiente capaz de mobilizar manifestações humanas saudáveis, é necessário que a enfermagem se aproprie dele e nele seja gerada a ambiência para efetivação de práticas de saúde. Este parece ser o desafio, de refletir sobre a sistematização da assistência de enfermagem, no que diz respeito à dimensão da ambiência nas práticas de saúde. A necessidade humana de ambiência evidenciada entre as pessoas que acrescentam a vida suas próprias marcas no ambiente físico, modificando-o com sua lembrança, suas histórias, suas apropriações momentâneas e, muitas vezes, definitivas. A concepção de ambiência aplicada à saúde pode tornar a passagem pelos espaços físicos de saúde mais agradável e menos traumático, e, além disso, 7768 Trabalho 2159 - 4/4 influenciar positivamente na saúde de enfermos, de seus acompanhantes e da equipe de saúde. Palavras-Chave: Sistema único de Saúde. Necessidade Humana Básica. NANDA. Diagnóstico de Enfermagem. Ambiente. REFERENCIAS BRASIL, Ministério da Saúde. HumanizaSUS: ambiência. 2. ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006. (Série B. Textos Básicos de Saúde.) NIGHTINGALE, Florence. Notas sobre enfermagem: o que é o que não é. São Paulo: Cortez, 1989. HORTA, W.A. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU, 1979. NORTH AMERICAN NURSING DIAGNOSIS ASSOCIATION. Diagnósticos de enfermagem da NANDA: definições e classificação 2007-2008. Porto Alegre: Artmed, 2007. BENEDET, Silvana Alves; e BUB, Maria Bettina Camargo. Manual de Diagnóstico de Enfermagem: Uma abordagem baseada na Teoria das Necessidades Humanas e na Classificação Diagnóstica da NANDA. 2a ed., Florianópolis: Bernuncia, 2001