Parecer do Grupo Técnico de Auditoria em Saúde 0 1 5 /0 5 Tema: Drenagem percutânea de vias biliares I – Data: 03/05/05 II – Grupo de Estudo: Dra. Silvana M. Bruschi Kelles Dra. Lélia de Almeida Carvalho Dra. Marta Alice Campos Dr. Adolfo Orsi Parenzi III – Tema: Drenagem percutânea de vias biliares IV – Especialidade envolvida: Cirurgia Geral V – Questão Clínica / Mérito: Quais os drenos e equipamentos podem ser utilizados para permitir a drenagem de vias biliares obstruídas, em doenças neoplásicas? Esse é um procedimento eficaz por via percutânea? VI – Enfoque: (X) Tratamento VII – Introdução: Colangiocarcinoma é uma doença rara, ocorrendo em menos de 2% dos casos de neoplasias malignas humanas. Entretanto, essa incidência tem aumentado significativamente nos Estados Unidos durante as duas últimas décadas, com o crescimento paralelo da mortalidade. Embora toda a árvore biliar apresente risco, os tumores envolvendo a bifurcação do ducto hepático (Tumor de Klatskin) são os mais comuns e ocorrem em 40 a 60% de todos os casos.(14) Somente 40% dos pacientes com colangiocarcinoma hilar vão para a cirurgia com o objetivo de cura. A maior parte dos pacientes com doença metastática afetando o sistema porta-hepático e a vesícula ou com carcinoma hepatocelular que causa obstrução biliar não é candidata a ressecção com objetivo de cura. Os tumores malignos hilares são normalmente irressecáveis no momento do diagnóstico. Embora a ressecção seja a única chance de cura, a sobrevida em 5 anos após uma ressecção potencialmente curativa do colangiocarcinoma hilar tem sido descrita como variando entre 0 a 22% e os pacientes passíveis de ressecção são 20 a 30% do total de acometidos. Não existe indicação para cirurgia em pacientes com metástases hilares. O tratamento paliativo para icterícia obstrutiva é, muitas vezes, o único que pode ser oferecido ao paciente no momento do diagnóstico. O tempo de sobrevida dos pacientes com obstrução de vias biliares variou entre 3 dias e 18 meses, com média de sobrevida de 3 meses.(9) As opções para o tratamento paliativo da icterícia incluem drenagem endoscópica ou percutânea das vias biliares e a cirurgia aberta convencional, mais invasiva que as técnicas anteriores. O manejo da obstrução maligna do hilo hepático depende de muitos fatores, inclusive das condições gerais do paciente, qualidade e expectativa de vida e função hepática residual. A abordagem é normalmente individualizada e depende da localização e estrutura do ducto intra-hepático envolvido. Existe uma classificação radiológica utilizada para determinação do grau de obstrução: o Sistema de Classificação de Bismuth e Corlette. De acordo com essa classificação, a obstrução do tipo I ocorre quando o tumor envolve o ducto hepático principal abaixo da bifurcação. No tipo II, o tumor afeta a bifurcação principal dos ductos hepáticos. No tipo III, o tumor envolve o segmento acima da bifurcação principal em um lobo hepático (direito ou esquerdo) e no tipo IV o tumor envolve os ductos segmentares em ambos os lobos hepáticos (3). Para pacientes com obstrução tipo I, tanto a via endoscópica quanto a percutânea, com implante de stent, são altamente efetivas para alívio da icterícia. Para pacientes com obstrução tipo II, III e IV, a drenagem percutânea é a que apresenta melhores taxas de sucesso e menores riscos de colangite quando comparada à abordagem retrógrada. Muitos trabalhos, entretanto, mostram a via endoscópica sendo utilizada com sucesso mesmo em obstruções tipo II, III e IV (10,11,12,13). Existem várias técnicas para drenagem percutânea incluindo a drenagem de apenas um sistema ductal e drenagem de ambos os sistemas utilizando drenos em forma de Y ou de T. De acordo com muitos autores, a drenagem de apenas 30% (um único lóbulo) do parênquima hepático pode proporcionar alívio paliativo no quadro clínico e metabólico do paciente (2). Outros autores acreditam que a drenagem completa é necessária para prevenir colangite do lado não drenado e promover alívio para o paciente (2). A presença, localização e causa da obstrução biliar define a estratégia de procedimentos para drenagem (2). VIII – Metodologia: 1. Bases de dados pesquisadas: Medline, Lilacs, Scielo, Pubmed, Tripdatabase, emedicine. 2. Palavras-chave utilizadas: Drenagem biliar obstruction, percutânea, percutaneous bile duct transhepatic tumors, biliary biliary drainage, percutaneous biliary descompression, hilar obstruction. 3. Desenhos dos estudos: Estudos prospectivos, randomizados, comparando os benefícios da drenagem percutânea com a cirurgia aberta para drenagem de obstrução de vias biliares. 4. População incluída: Pacientes com obstrução de vias biliares. 5. Resultados: 2 Trabalhos de revisão, 6 relatos de casos, 2 textos de livros de técnica cirúrgica. IX – Revisão Bibliográfica: Descrição de técnica: drenagem biliar percutânea transhepática – procedimento realizado com orientação por fluoroscopia e inserção de endoprótese metálica auto-expansível. O procedimento tem uma taxa de mortalidade per operatória relatada de até 14%, é oneroso e exige internação hospitalar, mas oferece patência das vias biliares maior que aquela obtida com a inserção de stent plástico (14). As indicações para drenagem são descompressão da árvore biliar, dilatação de estenoses biliares, remoção de cálculos em ductos biliares e desvio de bile de ductos defeituosos. A contra-indicação relativa é a coagulopatia. A principal indicação (95%) para a drenagem percutânea transhepática é a neoplasia maligna. As principais complicações descritas são sepse e hemorragia. As taxas de complicações são 2,5% de sepse, 2,5% de hemorragia, 1,2% de abscesso, peritonite, colescistite e pancreatite, 0,5% de comprometimento pleural e 1,7% de morte. Todos os pacientes devem ser tratados com antibióticos antes de iniciar o procedimento para minimizar a possibilidade de sepse (4,5). Relato de casos com 66 pacientes com neoplasia maligna hepática e obstrução biliar, avaliou a drenagem percutânea da obstrução com implante de endoprótese. Um novo procedimento foi necessário entre 40 dias a 278 dias após o primeiro, por oclusão da endoprótese. Houve melhora clínica em 61 dos 66 pacientes. O tempo de sobrevida variou entre 6 a 485 dias – média de 139 dias. Não houve óbito relacionado ao procedimento. A conclusão do trabalho é a drenagem percutânea é um método eficiente e seguro para tratar obstrução biliar, especialmente em casos inoperáveis (6). Trabalho de revisão avaliou as indicações para cirurgia paliativa em portadores de tumores de papila. Cerca de 50% das lesões de ampola têm abordagem difícil para ressecção. Em estudo de casos, a sobrevida global de pacientes com esse acometimento é de 40%. Os pacientes com indicação para cirurgias radicais são aqueles sem metástase hepática, sem carcinomatose ou invasão vascular. A cirurgia paliativa proximal do tipo by pass bilioentérica ou by pass gastrojejunal pode ser realizada em pacientes sem indicação para procedimento radical, portadores de obstrução importante da porção do lúmen duodenal ou do trato biliar. A mortalidade na cirurgia paliativa variou entre 17 a 60%, com média de 32% e foi menor nos tratamentos endoscópicos que nos tratamentos cirúrgicos abertos. A inserção transhepática de stent é satisfatória para tumores irressecáveis, mas têm risco aumentado para complicações como sangramento ou extravasamento de bile. Os stents podem ser colocados através de combinação de técnicas – endoscópica e percutânea. (7) X – Análise de Impacto Financeiro: Material utilizado em pacientes Unimed-BH no período pesquisado, 2003 a 2005: ANO MATERIAL VALOR MATERIAL Kit para drenagem Cateter para drenagem biliar- unidade percutânea- unidade VALOR 2003 2 4665,00 2004 1 93,15 2005 1 2896,00 1 1184,00 Total 4 7655,00 1 1184,00 XI – Parecer do GTAS: Considerando o benefício para o paciente com obstrução de vias biliares em caso de neoplasias; Considerando a inexistência de outros métodos com menor morbidade para atender, ainda que de forma paliativa, a demanda do paciente; O Grupo Técnico de Auditoria recomenda a incorporação dos materiais para drenagem de vias biliares em pacientes com icterícia obstrutiva devido a neoplasia da árvore biliar ou neoplasia hepática com obstrução tipo II, III e IV de Bismuth, que não sejam candidatos a cirurgia aberta. XII – Referências Bibliográficas: 1- Schima W. Biliary Malignancies multislice CT or MRI? [ ] 2003: 91-94 2- Lopera EJ et al. Malignant hilar and perhilar biliary obstruction: Use of MR cholangiography to define the extent of biliary ductal involvement and plan percutaneous intercentions. Radiology 2001; 220(1):90-96. 3- Schima W. Biliary malignance multislice CT or MRI? Cancer Imaging 2003; 3(2):75-78. 4- Burke DR. Quality improvement guidelines for percutaneous transhepatic cholangiography and biliary drainage. J Vasc Interv Radiol 2003; 14(9, part 2): S243S246. 5- Lopera JE et al. Malignant hilar and perihilar biliary obstruction: use of MR Cholangiography to define the extent of biliary ductal involvement and plan percutaneous interventions. Radiology 2001; 220:90-96. 6- Pappas P et al. Percutaneous Insertion of metalic endoprothesis in the biliary tree in 66 patients: relief of the obstruction. Abdom Imaging 2003; 28(5):678-83. 7- Ravi A et al. Bile duct tumors. 2001. www.emedicine.com/med/topic2705 8- Rossi M et al. Histological assessment of biliary obstruction with different percutaneous endolumanl techniques. BCM Medical Imaging 2004, 4:3. 9- Zidi SH et al. Performance characteristics of magnetic resonance cholangiography in the staging of malignant hilar strictures. Gut 2000, 46(1): 103-6 10- A randomized trial of endoscopic drainage methods for inoperable malignant strictures of the common bile duct. Gastrointest Endosc 1998,47(1):1-7. 11- Biliary Wallstent endoprosthesis in malignant hilar obstruction: long-term results with regard to the type of obstruction. Clin Radiol 1997, 52(3):213-9. 12- Endoscopic stenting for malignant biliary obstruction. Arch Surg 1995, 130(2):204-7. 13- Palliative treatment in patients with unresectable hilar cholangiocarcinoma: results of endoscopic drainage in patients with type III and IV hilar cholangiocarcinoma. Eur J Surg 2001,167(4):274-80. 14- Byrnes V et al . Cholangiocarcinoma of the hepatic hilum (Klatskin Tumor). Current Treatment Gastroenterology 2002, 5:87-94 XIII – Anexos: Bibliografia Options in Processo original de solicitação de inclusão