CAPÍTULO 12 Recuperação de rios assoreados e identificação de

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO-UFES / DEPT. DE GEOGRAFIA / CLIMATOLOGIA
CAPÍTULO 12
Recuperação de rios assoreados e identificação de poluentes e métodos
de controle de despoluição
1. Introdução
Em realidade, despoluir ou não poluir um rio é uma tarefa de múltiplas
facetas e exige atuações postas tais quais um feixe de retas paralelas em uma
mesma direção.
Em primeiro lugar, para coordenar idéias, compete definir aquilo que é,
para um rio, o seu elemento ou elementos vitais, a partir de que ele será um rio
"com saúde".
Os tópicos abaixo procuram relatar de maneira teórica e prática as
várias formas de identificação e controle dos diferentes agentes de degradação
ambiental que podem afetar os recursos hídricos em geral e, sobretudo, do rio.
2. O rio
Um rio é vivo na medida em que contém infra-estruturas vivas. Tal como
o sangue que circula em nossas veias, o rio contém células que se nutrem e
que respiram oxigênio. Quando morto, essas células perecem, e ele se
decompõe; proliferam, então, os seres que produzem a sua degradação, e ele
exala os odores mefíticos da putrefação. O rio poluído é um rio morto ou em
agonia.
Um rio é algo mais que um acidente geográfico, uma linha no mapa,
uma parte do terreno imutável. Ele não pode ser retratado adequadamente em
termos de topografia e geologia. Um rio é um ser vivo, um ser dotado de
energia, de movimento, de transformações.
Um rio pode morrer por falta de alimento, como qualquer ser vivo; e
também, como qualquer ser vivo, pode morrer de indigestão. À indigestão
segue-se a asfixia, isto é, o oxigênio disponível torna-se insuficiente à sua
respiração, ou seja, à oxidação de todo alimento que foi ingerido. Ele morre
tranqüilamente, sem dores, sem estremecimentos e, rapidamente, o cadáver
entra em decomposição.
O rio nasce, sempre numa região elevada. Pode ser no alto de uma
montanha. Em sua infância, é leve e irrequieto, como qualquer criança ou
animal novo: corre, salta, ora atirando-se de grandes alturas, ora cascateando
cuidosamente por entre os seixos, ora descansando, ofegante, em seu leito de
areia branca e brilhante. Seu aspecto é sadio e límpido, irradiando pureza; seu
corpo é fresco como o orvalho da manhã; sua cor é o puro azul do céu
refletido. Seu alimento é o que lhe proporciona o seio fértil da Terra-mãe.
Depois cresce. Suas águas se avolumam. Torna-se majestoso e tranqüilo.
Viaja. Percorre grandes planícies, profundos vales, circunda montanhas, salta
perigosos penhascos. Conhece o homem. Avizinha-se de suas cidades,
trabalha para ele – move seus engenhos, transporta suas embarcações,
dessedenta-lhe os rebanhos e as plantações, oferece-lhe seus peixes e prova
o sabor amargo de sua ingratidão.
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A princípio, sente-se beneficiado e recompensado pelo auxílio prestado.
O homem represa-o, sofreando seu ímpeto juvenil, domesticando-o e
oferecendo-lhe amplos leitos para seu repouso. Além disso, ao irrigar as
plantações, recebe pequenas parcelas dos mesmos alimentos empregados na
lavoura para dar viço às plantas. Sente-se fortalecido; suas células reproduzem
intensamente, captando as energias que o sol proporciona prodigamente às
suas águas tranqüilas e cristalinas e produzem alimento farto e oxigênio
abundante aos seus peixes. De repente, porém, sente-se traído. As águas que
ele, de forma tão benigna, oferecia ao homem para saciar-lhe a sede, são-lhe
devolvidas carregadas de imundices. Alimento, sim, mas impregnado de tantas
substâncias estranhas e bactérias nocivas que lhe é difícil digerir. Além disso,
em tão grande quantidade que a maior parte permanece indigesta, formando
um lodo escuro e fétido, em seu leito, ou em fina suspensão, em suas águas,
impedindo a penetração benéfica dos raios de sol e soterrando pequenos e
indefesos animais.
E não é só isso. Ao passarem suas águas pelo interior das indústrias
tornam-se veículos de toda a sorte de tóxicos, detritos, graxas, sabões, tintas e
outros muitos compostos que conspurcam totalmente aquilo que fora outrora
seu maior motivo de orgulho: sua espelhada superfície azul. Ao sair da cidade
ele sofreu uma total transformação. Suas águas tornaram-se negras e fétidas.
Seu leito é sujo e lodoso. Sua superfície é coberta dos mais variados tipos de
corpos flutuantes: uma camada de óleo impede seu crispar de prazer ao roçar
acariciante da brisa; espessas crostas de espuma acumulam-se em suas
curvas, outrora graciosas; borbulhas de gases mefíticos, desprendidos de seu
leito, explodem à superfície, formando pequenos círculos concêntricos na água
negra e pesada; latas velhas, papéis e toda uma enorme variedade de
imundícies são transportados juntamente com a multidão dos cadáveres de
seus peixes asfixiados, envenenados, destruídos pela insalubridade do
ambiente.
E o rio, em sua plena juventude, sente essa asfixia. Sente o
envenenamento. E morre. Miríades de pequenos gérmens tomam conta de seu
corpo, destruindo suas células, seus peixes, suas plantas, produzindo o seu
apodrecimento. O mau cheiro, agora, não se desprende apenas do lado
precipitado no leito, mas sim de toda água, em todos os seus níveis. Suas
águas – se ainda merecem esse belo nome – não mais transportam a vida;
somente a morte. De Danúbio ele passou a Tiête.
2. Considerações iniciais sobre o assoreamento
A erosão do solo é considerado um dos principais impactos ambientais
da natureza. O revolvimento do solo antes do cultivo desagrega-o, facilitando o
carreamento dos minerais pela água das chuvas. A perda de milhares de
toneladas de solo agricultável todos os anos, em conseqüência da erosão, é
um dos mais graves problemas enfrentados pela economia agrícola. O
processo de formação de novos solos, como resultado do intemperismo das
rochas, é extremamente lento, daí a gravidade do problema. Toda atividade
agrícola favorece o processo erosivo, mas algumas culturas facilitam-no mais
que outras (Figura 1).
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Figura 1. Perdas de solo pela erosão de acordo com o uso da terra.
O pescador experiente sabe que está cada vez mais difícil pescar um
bom peixe. Para tanto, ele tem de se deslocar para rios cada vez mais
distantes, onde há água de boa qualidade e alimento abundante (Figura 2).
Essa ausência de peixes é, por sua vez, um indicador da baixa integridade
física, química e, ou, biológica dos rios, e está geralmente associada a vários
problemas ambientais, dentre os quais o assoreamento. Este processo é um
dos últimos estágios de um grave problema que atinge boa parte das bacias
hidrográficas brasileiras: erosão do solo.
Figura 2. Pescador se deslocando para áreas menos assoreadas e poluídas.
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O mau uso e manejo do solo, como a utilização imprópria de áreas
frágeis, o preparo inadequado do solo, o desmatamento e as queimadas
abusivas, o uso incorreto dos equipamentos agrícolas, o traçado impróprio de
estradas vicinais entre outros, acarreta altas perdas de solos nas vertentes. O
solo, depois de retirado de seu lugar de origem pela chuva e pela enxurrada, é
transportado morro abaixo, até ser depositado em baixadas, e, por fim, chega a
rios e lagos, como mostra a Figura 3.
Figura 3. Processo erosivo na vertente.
É comum haver, no Brasil, perdas de solo superiores a 20 toneladas por
hectare, por ano. Isto eqüivale à retirada de quatro caminhões de terra de cada
hectare, anualmente. Perde-se, assim, o que há de mais precioso nos solos,
que é sua camada superficial, onde se encontra a maior parte dos nutrientes.
Mesmo os solos originalmente férteis, como as lendárias “terras roxas”,
se mal-manejados, serão degradados em menos de uma geração. As baixas
produtividades e os prejuízos são as etapas seguintes do processo, cujas
conseqüências finais serão sentidas nos grandes centros urbanos, destino da
maior parte dos deserdados da terra.
Os prejuízos do processo erosivo extrapolam a fronteira da fazenda. O
sedimento que chega aos cursos d’água, particularmente o mais grosseiro
(areia), irá preencher as calhas dos rios e o fundo dos lagos e reservatórios.
Depois, na época das chuvas, o escoamento dos rios, que originalmente não
causa problemas, se eleva a níveis de enchentes, pois o sedimento está
ocupando sua calha natural (Figura 4).
Novo leito
Figura 4. Assoreamento da calha de um rio (seção transversal).
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É comum, inclusive, observar vários “andares” de pontes na zona rural,
construídos em épocas diferentes, um sobre o outro, para fugir de cheias cada
vez maiores.
Os problemas não terminam aí. Durante a época seca, os rios se tronam
“espraiados”, dificultando ou mesmo impedindo a navegação.
A reversão do processo de assoreamento não é simples, mas também
não é impossível. As medidas tradicionais, como a dragagem do leito dos rios,
são um paliativo caro e pouco eficaz. Ela somente se justifica em condições
muito específicas, e mesmo assim quando não houver outra solução mais
definitiva.
2. Causas e técnicas que podem reverter o processo de assoreamento
O tratamento dos efeitos é mais eficaz, atacando-se as causas. O caso
do assoreamento não é diferente. Como ele é apenas o efeito final do processo
de erosão e degradação generalizada na bacia, os melhores resultados (e os
mais duradouros) são obtidos por meio de ações conservacionistas integradas
na mesma.
Com o objetivo de anular, ou pelo menos minimizar, os problemas
causados pelo assoreamento, destacam-se algumas técnicas:
2.1 Curvas de nível
A simples adoção do preparo do solo e plantio em nível, em áreas
agrícolas ou florestais (sem quase nenhum custo para o produtor), já reduz a
perda de solo em 50%. A técnica consiste em arar o solo e depois fazer a
semeadura seguindo as cotas altimétricas do terreno, o que por si só reduz a
velocidade de escoamento superficial da água da chuva. Para reduzi-la ainda
mais, é comum a construção de obstáculos no terreno, espécies de canaletas,
com terra retirada dos próprios sulcos resultantes da aração (Figura 5). Com
esse método simples, a perda de solo agricultável é sensivelmente reduzida. O
cultivo seguindo as curvas de nível é feito em terrenos com baixo declive,
propício à mecanização. É comum em países desenvolvidos, onde a agricultura
é bastante mecanizada.
Figura 5. Cultivo seguindo as curvas de nível.
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2.2 Terraceamento
Consiste em fazer cortes formando degraus – os terraços – nas
encostas das montanhas, o que, além de possibilitar a expansão das áreas
agrícolas em países montanhosos e populosos, dificulta, ao quebrar a
velocidade de escoamento da água, o processo erosivo, diminuindo os efeitos
do assoreamento. Essa técnica é muito comum em países asiáticos, como a
China, o Japão, a Tailândia, o Nepal, entre outros (Figura 6). Resultados tem
mostrado que o terraceamento contínuo, atravessando diversas propriedades
reduz com maior eficiência os efeitos causados pelo assoreamento.
Figura 6. Agricultura em terraços nas Filipinas.
2.3 Associação de culturas
Em cultivos que deixam boa parte do solo exposto à erosão (algodão,
café, entre outros), é comum plantar, entre uma fileira e outra, espécies
leguminosas (feijão, por exemplo), que recobrem bem o terreno. Essa técnica,
além de evitar a erosão e o assoreamento, garante o equilíbrio orgânico do
solo (Figura 7).
Figura 7. Associação de culturas.
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2.4 Relocação de estradas, carreadores e caminhos:
Estradas e caminhos maus projetados contribuem significativamente
para o aumento dos efeitos do assoreamento. Não é possível colocar todas as
estradas e carreadores em nível, mas, sempre que as condições permitirem,
isso dever ser feito. Deve-se evitar ao máximo as baixadas, rampas compridas,
grandes declives e locais onde não possa controlar as águas. Após a
identificação deste problema e cuidadoso planejamento, considerando técnicas
de engenharia de nivelamento e drenagem marginal das estradas, a erosão e o
aparecimento de voçorocas são reduzidos consideravelmente.
2.5 Recomposição das matas ciliares
Os vegetais, não importando seus tamanhos, têm raízes que funcionam
com "presilhas" do solo; as árvores agem como "guarda-chuvas" do solo, e a
vegetação em geral age como um redutor de velocidade das águas que correm
no solo (Figura 8). No desmatamento, as "presilhas" ficam frágeis; sem a
árvore, desaparece o "guarda-chuvas", possibilitando o impacto direto que
"machuca" o terreno; já, sem a vegetação, principalmente a rasteira, a
velocidade das águas fica aumentada sobre o terreno, possibilitando o
aumento da erosão (Figura 9). Em outras palavras, vai havendo o arraste de
material terroso e, com o tempo, o assoreamento vai aumentando em demasia.
Um alternativa para diminuição do assoreamento é a recomposição das matas
ciliares que como foi dito anteriormente, irá proteger a superfície do solo,
impossibilitando a carreamento de suas partículas.
Figura 8. Mata ciliar protegendo as
margens do rio.
Figura 9. Desmatamento possibilitando
o impacto da chuva sobre o solo.
2.6 Controle das voçorocas
A voçoroca ou boçoroca é uma ferida aberta num terreno, seja ele
horizontal ou não; ou um talude de um morro (Figura 10). Uma voçoroca pode
ter início por um corte de um talude (a parte lateral de um morro) para a
construção de uma estrada ou utilização de espaço, ou para se aproveitar o
material em aterros (chamados empréstimos) em outros locais, ou ainda para
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possibilitar uma mineração. Evidente é que, o corte de um terreno carrega
consigo toda a vegetação e a terra fértil nele existente. Supondo que não se
faça uma recuperação rápida na parte cortada, ela ficará exposta ao impacto
direto da chuva e, também, às correntezas das chuvas passando por cima
dela. Começa, então, a acontecer o fenômeno denominado erosão, que é o
transporte do material terroso pelas águas. A primeira delas, que começa na
voçoroca e se estende até os caminhos próximos para onde estiverem indo às
águas, é a promoção da infertilidade na região da voçoroca e depois dela, pois
haverá um cobrimento das camadas férteis adiante (desertificação ou aridez),
visto que quase todos os terrenos têm uma camada de solo fértil por cima. No
caso, essa camada, quando arrastada, promoverá, de imediato, a infertilidade.
Figura 10. Voçoroca rasgada pelas águas (observar que continua
desbarrancando e tornando-se cada vez maior.
No campo, onde se retira a vegetação para dar lugar às pastagens, volta
e meia a natureza se vinga pelo alagamento das próprias áreas de pastagens,
visto que os rios principais, de tão assoreados, isto é, preenchidos com o
material terroso para eles carregados, começam a procurar caminhos
preferenciais para o escoamento das águas que seus leitos primitivos não
conseguem mais transportar. Além disso, o alagamento irá destruir as árvores
restantes pelo afogamento de suas bases acima do solo. Outra conseqüência é
que, os rios naturais passam a ter seus leitos (suas calhas) assoreadas,
soterrando toda a flora e fauna situadas nessas calhas, e que são os alimentos
dos animais que dependem do fundo. O soterramento dos vegetais e de
pequenos animais de fundo faz com que esses morram e essa matéria
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orgânica morta comece a dar origem a reações bioquímicas que irão prejudicar
a qualidade das águas, como um todo. Outro efeito é que, esse material
terroso, no caso das zonas urbanas, vai também sendo levado para o leito dos
rios e canais (assoreamento) e para as galerias de águas pluviais. Nas
cidades, tanto o enchimento das calhas dos rios e canais, quanto o enchimento
dos bueiros e tubulações de água pluviais, dificultarão o livre escoamento das
águas de chuva e, com isso, ficará facilitado o processo das enchentes
urbanas. Com tudo que foi falado, fica claro que cuidados preventivos devem
ser tomados quando se pretende alterar a natureza dos terrenos, pois os
custos para acertar as conseqüências serão bastante altos.
Quando a voçoroca for pequena e o agricultor tiver condições materiais,
pode fazer a sua terraplanagem. Já no caso de voçorocas grandes, que não
podem ser terraplanadas, a solução é paralizar o seu crescimento e,
lentamente, forçar o seu desaparecimento, que se processa quase
naturalmente. Para isso observar:
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Contrôle das águas que provocam a erosão;
Colocação de drenos nos leitos das voçorocas;
Suavização dos barrancos;
Construção de paliçadas;
Vegetação dos barrancos e do leito da voçoroca;
Isolamento da voçoroca.
2.7 Controle da erosão e desertificação
As operações de desmatamento, quer para utilização dos materiais dele
provenientes, quer para criação de pastagens ou campos de plantio, quer para
o corte de taludes, sempre retiram do terreno a camada fértil e instabilizam o
terreno devido a retirada das fixações mecânicas e da proteção ao impacto
direto das chuvas que eram proporcionadas pela vegetação.
A superfície do solo, não castigado, é naturalmente coberta por uma
camada de terra rica em nutrientes inorgânicos e materiais orgânicos que
permitem o crescimento das vegetações; se essa camada é retirada, esses
materiais desaparecem e o solo perde a propriedade de fazer crescer
vegetações e pode-se dizer que, no caso, o terreno ficou árido ou que houve
uma desertificação.
As águas da chuva quando arrastam o solo, quer ele seja rico de
nutrientes e materiais orgânicos, quer ele seja árido, provocam o enchimento
dos leitos dos rios e lagos com esses materiais e esse fenômeno de
enchimento se chama assoreamento.
O arraste do solo causa no terreno um efeito chamado erosão. Na
superfície do terreno e no subsolo, as águas correntes são as principais causas
da erosão.
A erosão depende fundamentalmente da chuva, da infiltração da água,
da topografia (aclive mais acentuado ou não), do tipo de solo e da quantidade
de vegetação existente. A chuva é, sem dúvida, a causa principal para que
ocorra a erosão e evidente é que quanto maior sua quantidade e freqüência,
mais irá influenciar no fenômeno. Se o terreno tem pouca declividade, a água
da chuva irá "correr" menos e erodir menos. Se o terreno tem muita vegetação,
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o impacto da chuva será atenuado porque este estará mais protegido, bem
como, a velocidade da chuva no solo ficará diminuída devido aos obstáculos (a
própria vegetação "em pé e caída") e também a erosão ficará diminuída devido
a que as raízes darão sustentação mecânica ao solo; além disso, as raízes
mortas propiciarão existirem canais para dentro do solo onde a água pode
penetrar e com isso, sobrará menos água para correr na superfície.
Outro fator importante é que, se as chuvas são freqüentes e o terreno já
está saturado de água, a tendência é que o solo nada mais absorva e com
isso, toda a água da chuva que cair, correrá pela superfície.
Se o solo é arenoso o arraste será maior do que se ele fosse argiloso.
Muitas ações devidas ao homem apressam o processo de erosão; se
Sem levar em conta os efeitos poluidores da ação de arraste, tem-se que
considerar dois aspectos maléficos dessa ação: o primeiro, devido ao
assoreamento que preenche o volume original dos rios e lagos e como
conseqüência, vindas as grandes chuvas, esses corpos d’água extravasam,
causando as famosas cheias de tristes conseqüências e memórias; o segundo
é que a instabilidade causada nas partes mais elevadas podem levar a
deslocamentos repentinos de grandes massas de terra e rochas que desabam
talude abaixo, causando, no geral, grandes tragédias.
Dentre as principais causas do desencadeamento e evolução da erosão
nas cidades destacam-se: o traçado inadequado do sistema viário,
freqüentemente agravado pela falta de pavimentação, guias e sarjetas; a
deficiência do sistema de drenagem de águas pluviais e servidas, e a expansão
urbana descontrolada, com implantação de loteamentos e conjuntos
habitacionais em locais não apropriados sob o ponto de vista geotécnico.
Considerando, agora, os efeitos poluidores, podemos citar que os
arrastes podem encobrir porções de terrenos férteis e sepultá-los com
materiais áridos; podem causar a morte da fauna e flora do fundo dos rios e
lagos por soterramento; podem causar turbidez nas águas, dificultando a ação
da luz solar na realização da fotossíntese, importante para a purificação e
oxigenação das águas; podem arrastar biocidas e adubos até os corpos d'água
e causarem, com isso, desequilíbrio na fauna e flora nesses corpos d'água.
2.8 Proteção das represas
As enxurradas que poluem e assoreiam rios e córregos causam grandes
danos também às barragens hidrelétricas e às represas. Mas a água barrenta
que leva a camada fértil do solo, paus e pedras para dentro das fontes quase
não encontra obstáculos no caminho desses lagos artificiais (Figura 11).
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Figura 11. Represa assoreada nas margens.
A importância da vegetação ciliar é levada pouco a sério como proteção
dos mananciais e praticamente esquecida na construção das represas, que se
multiplicaram muito nos últimos anos.
O entusiasmo de fazendeiros e sitiantes ao construir um desses
espelhos d’água junto às suas sedes, para criação de peixes ou mero
ornamento, curiosamente, não os motiva a zelar, depois, por elas. Muitos
começam mal, deixando de plantar, simplesmente; outros plantam e não
cuidam o bastante para que a vegetação cubra toda a margem.
Mais comumente, é utilizado capim, ou grama, ambos importantes pela
cobertura que oferecem, mas a desobediência às recomendações técnicas, a
falta de irrigação e o pisoteio prejudicam a formação do manto verde. As
árvores e os arbustos, desprezados por tomar espaço ou sujar a represa com
as folhas que derrubam, devem ser levados em conta, porque também
contribuem para amortecer o impacto das chuvas e por terem ainda a função
de quebrar o vento. Além disso, é sempre importante para o equilíbrio
ecológico a diversificação das espécies. Ela contribui inclusive para preservar
as qualidades do solo e tende a enriquecer sua composição.
Além das barragens hidrelétricas, há as pequenas represas destinadas a
servir de bebedouros para os animais, as ornamentais e de lazer, de criação de
peixes e outros frutos d’água e as que funcionam como reservatório para
abastecimento de equipamentos de irrigação (essas, importantes por amenizar
os efeitos da interferência na vazão do córrego, acentuados quando a sucção é
diretamente no manancial).
3. Exemplo de projetos que contribuíram para a recuperação do
assoreamento
Se as práticas conservacionistas forem introduzidas em apenas uma ou
outra propriedade da bacia, quase nenhuma redução nos impactos aos cursos
d’água será sentida. Portanto, para atingir melhores efeitos, as práticas devem
ser implantadas de forma integrada, no conjunto de propriedades da bacia.
Entretanto um criterioso planejamento deve anteceder a tomadas dessas
ações, uma vez que seu sucesso depende da efetividade dos produtores, do
nível tecnológico dos produtores, do custo de implantação, entre outros fatores.
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Exemplos que lograram sucesso em condições distintas, no Brasil, foram
o Programa Paraná Rural, no Sul do País, e o Projeto Piloto do PRODHAM, no
Ceará.
O primeiro foi um amplo programa de manejo e conservação integrada
do solo, em nível de pequenas bacias hidrográficas, onde práticas como
terraceamento, relocação de estradas e calagem, implantadas em todas as
propriedades de bacias paranaenses, tiveram um resultado tão positivo no
aumento de produtividade e na redução da sedimentação a jusante, que o
programa, apoiado pelo Banco Mundial, está sendo copiado em outros Estados
e em países da América Latina.
No caso do Ceará, um programa piloto de construção de pequenas
barragens de contenção, em propriedades situadas nas zonas de cabeceira de
bacia no Sertão do Estado, já apresenta resultados significativos. Os custos da
implantação dessas pequenas barragens são insignificantes, a mão-de-obra da
própria família do produtor é utilizada e os benefícios auferidos são muitos.
Além da retenção do sedimento no local onde é gerado, evitando sua
deposição nos cursos d’água a jusante, as barragens proporcionam um fonte
extra de água na propriedade. Isto é muito importante numa região
freqüentemente assolada pela seca.
Esta integração entre as ações nas pequenas bacias (nas cabeceiras) e
as grandes obras hidráulicas, a jusante, é pioneira na América Latina, e tem
tudo para se tornar um exemplo no controle da sedimentação.
Exemplos de programas bem sucedidos de controle de erosão e
assoreamento já existem no Brasil. Resta às classes técnica e política
reconhecer o fato de que as ações mais eficazes não são necessariamente as
mais complexas e caras, mas sim aquelas que buscam entender os caprichos
da natureza, usando-os inteligentemente a favor do bem de todos.
Augusto dos Anjos já havia reconhecido esse fato há 100 anos. Cabe a
nós técnicos, produtores e tomadores de decisão, colocá-lo em prática.
4. Identificação de poluentes e métodos de controle de despoluição
4.1 Introdução
Pelo que se sabe, só o planeta Terra tem água em abundância. Estamos
falando da água que abrange aproximadamente, 70% da superfície terrestre
(Figura 12). São incontáveis as espécies de animais e vegetais que a Terra
possui. Sua distância do Sol - 150 milhões de quilômetros - possibilita a
existência da água nos três estados: sólido, líquido e gasoso. A água, somada
à força dos ventos, também ajuda a esculpir a paisagem do nosso planeta:
desgasta vales e rochas, provoca o surgimento de diversos tipos de solo, entre
outros. O transporte de nutrientes, que são aproveitados por centenas de
organismos vivos, também é feito pela água.
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Figura 12. Planeta Terra.
A existência de tudo o que é vivo, em nosso planeta, depende de um
fluxo de água contínuo e do equilíbrio entre a água que o organismo perde e a
que ele repõe. As semelhanças entre o corpo humano e a Terra são: 70% do
nosso corpo também é constituído de água. Assim como a água irriga e
alimenta a Terra, o nosso sangue, que é constituído de 83% de água, irriga e
alimenta nosso corpo. Quando o homem aprendeu a usar a água em seu favor,
ele dominou a natureza: aprendeu a plantar, a criar animais para seu sustento,
a gerar energia, entre outros.
Desde as civilizações mais antigas até as mais modernas, o homem
sempre procurou morar perto dos rios, para facilitar a irrigação, moer grãos,
obter água potável, entre outros. Nos últimos trezentos anos, a humanidade se
desenvolveu muito, a produção aumentou, o comércio se expandiu,
provocando uma verdadeira revolução industrial. Nesse processo, a água teve
papel fundamental, pois a partir de seu potencial surgiram a roda d´água, a
máquina a vapor, a usina hidrelétrica etc. Hoje, mais do que nunca, a vida do
homem depende da água. Para produzir um quilo de papel, são usados 540
litros de água; para fabricar uma tonelada de aço, são necessários 260 mil
litros de água; uma pessoa, em sua vida doméstica, pode gastar até 300 litros
de água por dia.
No decorrer do século XX, a população do planeta Terra aumentou
quase quatro vezes. Um estudo populacional prevê que no ano 2002 a
população mundial, em sua maioria absoluta, estará vivendo em grande
cidades; com o grande desenvolvimento industrial, a cada dia aparecem novas
utilidades para a água. O custo de ter água pronta para o consumo em nossas
casas é muito alto, pois o planeta possui aproximadamente só 3% de água
doce e nem toda essa água pode ser usada pelo homem, já que grande parte
dela encontra-se em geleiras, icebergs e subsolos muito profundos.
Outra razão para a água ser um recurso limitado é sua má distribuição
pelo mundo. Há lugares com escassez do produto e outros em que ele surge
em abundância. Com o grande desenvolvimento da tecnologia , o homem
passou a interferir com agressividade na natureza. Para construir uma
hidrelétrica, desvia curso de rios, represa uma quantidade muito grande de
água e interfere na temperatura, na umidade, na vegetação e na vida de
animais e pessoas que vivem nas proximidades. O homem tem o direito de
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criar tecnologias e promover o desenvolvimento para suprir suas necessidades,
mas tudo precisa ser muito bem pensado, pois a natureza também tem de ser
respeitada.
A água dos mananciais e dos poços, por conter microorganismos e
partículas sólidas em suspensão, percorre um caminho nas estações de
tratamento até chegar limpa ao hidrômetro (Figura 13 e 14).
Figura 13. Estação de tratamento de
água (ETA).
Figura 14. Água tratada saindo pela
torneira.
Na primeira etapa do tratamento, a água fica na bacia de tranqüilização;
em seguida, recebe sulfato de alumínio, cal e cloro. Na segunda etapa, a água
passa pelos processos de filtração e fluoretação. Para produzir 33 m³ por
segundo de água tratada, uma estação como o Guaraú, no município de São
Paulo, gasta em média 10 toneladas de cloro, 45 toneladas de sulfato de
alumínio e mais 16 toneladas de cal - por dia!
Nas casas, a água começa seu caminho no hidrômetro (aparelho que
mede o volume de água consumida), entra na caixa d´água e passa pelos
canos e registros até chegar à pia, ao chuveiro, ao vaso sanitário e tudo o
mais.
Após o uso ( para beber, cozinhar, limpar), a água vai para os ralos e em
seguida para os canos que vão dar na caixa de inspeção e na saída do esgoto
doméstico. Os esgotos que saem das casas, indústrias etc devem ser
bombeados para uma estação de tratamento, onde os sólidos são separados
do líquido - o que diminui a carga de poluição e os prejuízos para as águas que
irão recebê-la. O tratamento de esgoto é vantajoso, pois o lodo que sobra pode
ser transformado em fertilizante agrícola; o biogás resultante desse processo
também é aproveitável como combustível.
Os efeitos da poluição e destruição da natureza são desastrosos: se um
rio é contaminado, a população inteira sofre as conseqüências. A poluição está
prejudicando os rios, mares e lagos; em poucos anos, um rio sujeito a poluição
pode estar completamente morto. Para despoluir um rio gasta-se muito
dinheiro, tempo e o pior: mais uma enorme quantidade de água. Os mananciais
também estão em constante ameaça, pois acabam recebendo a sujeira das
cidades, levada pela enxurrada junto com outros detritos. A impermeabilização
do solo causada pelo asfalto e pelo cimento dificulta a infiltração da água da
chuva e impede a recarga dos lençóis freáticos. As ocupações clandestinas de
áreas que abrigam os mananciais também acabam poluindo as águas, pois
seus moradores depositam lixo e esgoto no local.
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Os poluidores e destruidores da natureza são os próprios seres
humanos que jogam o lixo diretamente nos rios, sem nenhum tratamento,
matando milhares de peixes (Figura 15).
Figura 15. Poluição das águas de um rio.
Desmatadores derrubam árvores das áreas dos mananciais e de matas
ciliares, garimpeiros devastam os rios e usam mercúrio, envenenando suas
águas. As pessoas sabem que os automóveis poluem e colaboram para o
efeito estufa, mas por falta de opção ou por comodismo não abrem mão desse
meio de transporte. Todos sabem que o lixo contamina e polui o meio
ambiente. Porém, muitas pessoas jogam-no nas ruas, praias e parques. A
atividade agrícola também é poluidora da água, já que os pesticidas e os
agrotóxicos são levados pela água da chuva para os rios e mananciais ou
penetram o solo atingindo os lençóis freáticos.
As fábricas lançam gases tóxicos na atmosfera porque não instalam
filtros em suas chaminés (Figura 16). Numa cidade como São Paulo, só 17%
das indústrias tratam seus esgotos; 83% jogam nos rios toda a sujeira que
produzem. Quem mais polui é também quem mais consome: 23% da água
tratada é consumida pelas indústrias. A água poluída pode causar doenças
como cólera, febre tifóide, disenteria, amebíase etc. Muitas pessoas estão
sujeitas a essas e outras doenças porque suas residências não tem água
tratada ou rede de esgoto. Um dado assustador comprova: 55,51% da
população brasileira não tem água encanada nem saneamento básico.
Figura 16. Poluição atmosférica de uma indústria e seu reservatório de água.
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A maioria das pessoas tem o costume de desperdiçar água, mas isso
tem de mudar, porque o consumo de água vem aumentando muito e está cada
vez mais difícil captar água de boa qualidade. Por causa do desperdício, a
água tem de ser buscada cada vez mais longe, o que encarece o processo e
consome dinheiro que poderia ser investido para proporcionar a todas as
pessoas condições mais dignas de higiene. Soluções inviáveis e caras já foram
cogitadas, mas estão longe de se tornar realidade. São elas: retirar o sal da
água do mar, transportar geleiras para derretê-las etc.
Quando abrimos uma torneira, não estamos apenas consumindo água.
Estamos também alimentando a rede de esgoto, para onde vai praticamente
toda a água que consumimos. No ano 2001, os seres humanos estarão
consumindo aproximadamente 150 bilhões de m³ de água por ano e gerando
90 bilhões de m³ de esgoto. O consumo de água cresce a cada dia, mas a
quantidade de água disponível para o consumo no planeta não cresce. Em um
futuro não muito distante haverá escassez. Alguns hábitos devem ser
adquiridos em nosso cotidiano, tais como fechar a torneira ao escovar os
dentes, cuidar para que as torneiras fiquem fechadas de forma correta,
reaproveitar a água da lavagem da roupa para lavar o quintal etc. Um pequeno
filete de água escorrendo um dia inteiro por um vazamento pode eqüivaler ao
consumo diário de água de uma família de cinco pessoas.
Nem todos poluem a água e estragam a natureza. Existem pessoas que
trabalham para conservá-la. Os trabalhadores de uma estação de tratamento
de água, por exemplo, passam a vida tratando e filtrando a água que todos
consomem. Outros trabalhadores retiram a lama e lixo dos rios e riachos
assoreados, para evitar enchentes. Há pessoas que reflorestam áreas que já
estavam se tornando desérticas, que estudam soluções e alternativas para os
problemas ambientais. E existem os veículos de comunicação, associações de
bairro e entidades ambientalistas que denunciam crimes ecológicos e cobram
providências do governo. Porém, os que agem para melhorar o meio ambiente
ainda são minoria.
4.2 Relação da qualidade da água com a saúde
A água desenvolve um ciclo. O chamado ciclo da água é o caminho que
ela percorre. A chuva, basicamente, é o resultado da água que evapora dos
lagos, rios e oceanos, formando as nuvens. Quando as nuvens estão
carregadas, soltam a água na terra. Ela penetra o solo e vai alimentar as
nascentes dos rios e os reservatórios subterrâneos. Se cai nos oceanos,
mistura-se às águas salgadas e volta a evaporar, chove e cai na terra
Quando não tratada, a água é um importante veículo de transmissão de
doenças, principalmente as do aparelho intestinal, como a cólera, a amebíase e
a disenteria bacilar, além da esquistossomose. Essas são as mais comuns.
Mas existem outras, como a febre tifóide, as cáries dentárias, a hepatite
infecciosa.
O consumo de uma água saudável é fundamental à manutenção de um
bom estado de saúde. Existem estimativas da Organização Mundial de Saúde
de que cerca de 5 milhões de crianças morrem todos os anos por diarréia, e
estas crianças habitam de modo geral os países do Terceiro Mundo. Existem
alguns cuidados que são fundamentais. O acesso à água tratada nem sempre
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existe na nossa população - principalmente na população de periferia. Deve-se
tomar muito cuidado porque a contaminação dessa água nem sempre é visível.
A água de poço e a água de bica devem ser usadas com um cuidado muito
especial, porque muitas vezes estão contaminadas por microrganismos que
não são visíveis a olho nu. Mesmo com a água tratada deve-se ter alguma
cautela, porque muitas vezes há contaminação na sua utilização: recipientes
que são utilizados com falta de higiene, mãos que não são suficientemente
bem lavadas. Segundo o Inmetro, a tampa de uma latinha de cerveja ou
refrigerante pode estar mais poluída que um banheiro público. Todos esses
fatores podem estar interferindo num caso de diarréia. Muitas outras doenças
importantes também podem ser causadas pela água contaminada.
4.3 Principais rios poluídos no país
O Brasil é um país privilegiado no que diz respeito à quantidade de
água. Sua distribuição, porém, não é uniforme em todo o território nacional. A
Amazônia, por exemplo, é uma região que detém a maior bacia fluvial do
mundo. O volume d'água do rio Amazonas é o maior do globo, sendo
considerado um rio essencial para o planeta. Essa é, também, uma das regiões
menos habitadas do Brasil. Em contrapartida, as maiores concentrações
populacionais do país encontram-se nas capitais, distantes dos grandes rios
brasileiros, como o Amazonas, o São Francisco e o Paraná. E há ainda o
Nordeste, onde a falta d'água por longos períodos tem contribuído para o
abandono das terras e para a migração aos centros urbanos, como São Paulo
e Rio de Janeiro, agravando ainda mais o problema da escassez de água
nessas cidades.
Além disso, os rios e lagos brasileiros vêm sendo comprometidos pela
queda de qualidade da água disponível para captação e tratamento. Na região
amazônica e no Pantanal, por exemplo, rios como o Madeira, o Cuiabá e o
Paraguai já apresentam contaminação pelo mercúrio, metal utilizado no
garimpo clandestino. E nas grandes cidades esse comprometimento da
qualidade é causado principalmente por despejos domésticos e industriais.
Se a bacia é ocupada por florestas nas condições naturais, essa água
vai ter uma boa qualidade porque vai receber apenas folhas, alguns resíduos
de decomposição de vegetais. Mas, se essa bacia começar a ser utilizada para
a construção de casas, para implantação de indústrias, para plantações, então
a água começará a receber outras substâncias além daquelas naturais, como,
por exemplo o esgoto das casas e os resíduos tóxicos das indústrias e das
substâncias químicas aplicadas nas plantações. Isso vai contribuir para que a
água vá piorando de qualidade. Por isso ela deve ser protegida na fonte, na
bacia. Essa água, depois, vai ser submetida a um tratamento para ser usada
pela população. Mas, mesmo a estação de tratamento tem suas limitações. Ela
retira com facilidade os produtos de uma floresta, de uma condição natural.
Mas esgotos pioram muito, e a presença de substâncias tóxicas vai tornando
esse tratamento cada vez mais caro. Acima de um certo limite, o tratamento
nem mais é possível, porque existe uma limitação para a capacidade
depuradora de uma estação de tratamento. Então, a água se torna totalmente
imprestável".
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Esses problemas atingem também os principais rios e represas das
cidades brasileiras, onde hoje vivem 75% da população.
•
Em Porto Alegre, o rio Guaíba está comprometido pelo lançamento de
resíduos domésticos e industriais, além de sofrer as conseqüências do
uso inadequado de agrotóxicos e fertilizantes.
•
Brasília, além de enfrentar a escassez de água, tem problemas com a
poluição do lago Paranoá.
•
A ocupação urbana das áreas de mananciais do Alto Iguaçu
compromete a qualidade das águas para abastecimento de Curitiba.
•
O rio Paraíba do Sul, além de abastecer a região metropolitana do Rio
de Janeiro, é manancial de outras importantes cidades de São Paulo e
Minas Gerais, onde são graves os problemas devido ao garimpo, à
erosão, aos desmatamentos e aos esgotos.
•
Belo Horizonte já perdeu um manancial para abastecimento - a lagoa da
Pampulha - que precisou ser substituído pelos rios Serra Azul e Manso,
mais distantes do centro de consumo. Também no rio Doce, que
atravessa os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, a extração de
ouro, o desmatamento e o mau uso do solo agrícola provocam prejuízos
enormes à qualidade de suas águas.
•
Estado de São Paulo sofre com a escassez de água e com problemas
decorrentes de poluição em diversas regiões: no Alto Tietê junto à região
metropolitana; no rio Turvo; no rio Sorocaba, entre outros.
4.4 O fenômeno da autodepuração dos cursos d’águas
A introdução de matéria orgânica em um corpo d’água resulta,
indiretamente, no consumo de oxigênio dissolvido, resultando nos processos
de estabilização da matéria orgânica realizados pelas bactéria decompositoras,
as quais utilizam o oxigênio disponível no meio líquido para sua respiração.
O fenômeno da autodepuração está vinculado ao restabelecimento do
equilíbrio no meio aquático, por mecanismos essencialmente naturais, após as
alterações induzidas pelos despejos afluentes. Como parte mais específica,
tem-se que, como parte integrante do fenômeno de autodepuração, os
compostos orgânicos são convertidos em compostos inertes e não prejudiciais
do ponto de vista ecológico.
A impotância do conhecimento do fenômeno de autodepuração e da sua
quantificação, tendo em vista utilizar a capacidade de assimilação dos rios é
impedir o lançamento de despejos acima do que possa suportar o corpo
d’água. Sendo assim, as principais formas de controle da poluição por matéria
orgânica são:
-
Tratamento dos esgotos;
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-
Regularização da vazão do curso d’água;
Aeração do curso d’água;
Aeração dos esgotos tratados;
Alocação de outros usos para o curso d’água.
O ecossistema de um corpo d’água antes do lançamento de despejos
encontra-se usualmente em um estado de equilíbrio. Após a entrada da fonte
de poluição, o equilíbrio entre as comunidades é afetado, resultando numa
desorganização inicial, seguida por uma tendência posterior à reorganização
Neste sentido, a autodepuração pode ser entendida como um fenômeno de
sucessão ecológica. Há uma sequência sistemática de substituições de uma
comunidade por outra, até que uma comunidade estável se estabeleça em
equilíbrio com as condições locais.
Por causa das altas cargas de nutrientes introduzidas nos corpos
aquáticos, principalmente formas de nitrogênio e fósforo, as águas tornam-se
altamente produtivas permitindo o desenvolvimento exagerado de algas
emaclófitas. Este processo de enriquecimento de corpos aquáticos é
denominado eutrofização.
Os organismos vivos se “adaptam” a um determinado ambiente aquático
se as condições de sobrevivência e reprodução são favoráveis. Tendo em vista
que a qualidade da água reflete diretamente nas comunidades biológicas,
diversos autores introduziram o conceito de “indicador biológico”. Os
“indicadores biológicos” podem serem definidos como seres vivos que agem
como bio-sensores, indicando com sua presença e diversidade que
determinado parâmetro ou conjunto de parâmetros estão dentro dos limites
toleráveis para suas necessidades particulares e sua permanência. Vários são
os grupos de organismos indicados como “indicadores biológicos”, como por
exemplo: bactérias, algas, fungos, micro invertebrados e peixes.
No ecossistema em condições naturais, ocorre elevada diversidade e
número de espécies, enquanto que, no ecossistema em condições pertubadas
ocorre baixa diversidade de espécies e elevado número de indivíduos em cada
espécie. A Figura 16 apresenta a visualização esquemática da relação entre a
poluição e diversidade de espécies.
Figura 16. Relação qualitativa entre poluição e diversidade de espécie
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As bactérias fecais (patogênicas e não patogênicas) e as patogêncas,
não sendo habitantes naturais do ambiente aquático entram no ecossistema
através de lançamento de despejos que contém material fecal. Além de
geralmente não se reproduzirem neste ambientes, não sobrevivem neles por
muito tempo. As bactérias coliformes fecais e estreptococos fecais presentes
nas fezes de homeotérmicos sadios e doentes tem um grande valor sanitário,
pois sua presença indica que a água está recebendo dejetos humanos ou de
animais de sangue quente que podem conter organismos patogênicos
tornando-a imprópria ao consumo humano. Através da quantificação destas
bactérias é possível avaliar a intensidade da poluição fecal.
O curso d’água pode ser considerado como uma depuradora natural de
despejos. Para cada corpo aquático receptor há um limite de lançamento de
matéria orgânica biodegradável, sendo importante a avaliação de sua
capacidade de autodepuração. Torna-se necessário, somente, determinar as
quantidades de cargas orgânicas que possam ser lançadas, de modo que não
prejudique a qualidade da água.
Vários são os parâmetros que podem ser utilizados na avaliação do
processo de autodepuração. Entretanto, a avaliação do nível de oxigênio
dissolvido é o mais importante. A avaliação deste nível é o parâmetro que deve
estar sempre presente nas legislações de proteção dos recursos hidrícos
contra agentes poluidores.
Quando um corpo aquático lótico recebe poluição aparecem várias
zonas ecológicas, com características específicas de acordo com o teor de
matéria orgânica, oxigênio, nutrientes e biota presente. A poluição diminui com
o decorrer do tempo e com a extensão vencida pela correnteza devido à
fotossíntese e oxidação biológica da matéria orgânica e à restauração do
oxigênio dissolvido que é promovida pela aeração superficial e ou pela
atividade fotossintética.
Existem quatro zonas de autodepuração ao longo de um curso d’água
que recebe forte contribuição em esgoto: Zona de Degradação, Zona de
Decomposição Ativa, Zona de Recuperação e Zona de Àguas Limpas.
A Figura 17 apresenta a trajetória dos três principais parâmetros
(matéria orgânica, bactérias decompositoras e oxigêncio dissolvido) ao longo
das quatro zonas.
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Figura 17. Trajetória dos três principais parâmetros (matéria orgânica, bactérias
decompositoras e oxigêncio dissolvido) ao longo das quatro zonas
do percurso no curso d’água.
Os Quadros 1, 2, 3 e 4, descrevem o comportamento físico, químico e
biológico das zonas de degradação, decomposição ativa, recuperação e águas
limpas.
Quadro 1. Descrição do comportamento físico, químico e biológico da zona de
degradação.
Característica
Característica geral
Aspecto estético
Matéria orgância e
oxigênio dissolvido
Descrição
Esta zona tem início logo após o lançamento das águas residuárias no
curso d’água. A principal característica química é a alta concentração
de matéria orgânica.
No ponto de lançamento a água se apresenta turva, devido aos
sólidos presentes nos esgotos. A sedimentação de sólidos resulta na
formação de bancos de lodo.
Nesta zona, há uma completa desordem em relação à comunidade
estável antes existente, sendo que o processo de decomposição da
matéria orgância, efetuado pelos microrganismos decompositores
geralmente tem início lento.
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Microrganismos
decompositores
Subprodutos da
decomposição
Lodo de fundo
Nitrogênio
Comunidade aquática
Após o período de adaptação, inicia-se a proliferação bacteriana, com
uma predominância maciça das formas aeróbias, ou seja, que
dependem do oxigênio disponível no meio para os seus processos
metabólicos.
Há um aumento nos teores de gás carbônico, um dos subprodutos do
processo respiratório microbiano. Com o aumento das concentrações
de CO2, convertido à ácido carbônico na água, pode haver uma queda
no pH da água, tornando-se mais ácida.
No lodo de fundo, devido à dificuldade de intercâmbio gasoso com a
atmosfera, passam a prevalecer condições anaeróbias, isto é
ausência de oxigênio dissolvido, ocorrendo a produção de ácido
sulfídrico, potencial gerador de odores desagradáveis.
Os compostos nitrogenados complexos apresentam-se ainda em altos
teores, embora já ocorra a conversão de grande parte dos mesmos a
amônia.
Há uma sensível diminuição do número de espécies de seres vivos,
embora o número de indivíduos em cada uma seja bem elevado,
caracterizando um ecossistema pertubado.
Quadro 2. Descrição do comportamento físico, químico e biológico da zona de
decomposição ativa.
Característica
Característica geral
Aspecto estético
Matéria orgância e
oxigênio dissolvido
Microrganismos
decompositores
Subprodutos da
decomposição
Nitrogênio
Descrição
Após a fase de pertubação do ecossistema, este principia a se
organizar, com os microrganismos desempenhando ativamente sua
funções de decomposição da matéria orgância. Como consequência,
os reflexos no corpo d’água atingem os seus níveis mais acentuados,
e a qualidade da água apresenta-se em seu estado mais deteriorado.
Observa-se ainda acentauada coloração na água e os depósitos de
lodo no fundo.
Nesta zona o oxigênio dissolvido atinge a sua menor concentração.
As bactérias decompositoras principiam a se reduzir em número,
devido principalmente à redução na disponibilidade de alimento em
grande parte já estabilizado.
Caso haja reações anaeróbicas, os subprodutos são, além dos gás
carbônico e da água, o metano, gás sulfídrico, mercaptanas e outros,
vários deles responsáveis pela geração de maus odores.
O nitrogênio apresenta-se ainda na forma orgânica, embora a maior
parte já se encontre na forma de amônia.
Continuação:
Quadro 2. Descrição do comportamento físico, químico e biológico da zona de
decomposição ativa.
Comunidade aquática
O número de bactéria entéricas, quer patogênicas ou não, diminui
rapidamente. O número de protozoários se eleva. Ocorre a presença
de alguns macrorganismos e larvas de insetos. No entando a
macrofauna é ainda restrita em espécies.
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Quadro 3. Descrição do comportamento físico, químico e biológico da zona de
recuperação.
Característica
Característica geral
Aspecto estético
Matéria orgância e
oxigênio dissolvido
Nitrogênio
Algas
Comunidade aquática
Descrição
Após a fase de intenso consumo de matéria orgânica e de degradação
do ambiente aquático, inicia-se a etapa de recupração.
A água está mais clara e a sua aparência geral apresenta-se
grandemente melhorada.
A matéria orgânica, intensamente consunida nas zonas anteriores, já
se encontra grandemente estabilizada, ou seja, transformada em
compostos inertes.
A amônia é convertida a nitrito e estes a nitrato. Os compostos de
fóforo são transformados em fosfatos. Ocorre, portanto, uma
fertilização do meio, pela produção dos sais minerais (nitratos e
fosfatos), os quais são nutrientes para as algas.
Devido à presença de nutrientes, e à maior transparência da água
(proporcionando uma maior penetração da luz), há condições para o
desenvolvimento das algas.
O número de bactérias encontra-se bem mais reduzido e, como
consequência, também o de protozoários bacteriófagos. As algas
apresentam-se em franca reprodução. O microcrustáceos ocorrem em
seu máximo, apresentando-se ainda grande números de moluscos e
vários vermes, dinoflagelados, esponjas, musgos e larvas de insetos.
A cadeia alimentar está mais diversificada, gerando a alimentação dos
primeiros peixes, mais tolerantes.
Quadro 4. Descrição do comportamento físico, químico e biológico da zona de
águas limpas.
Característica
Característica geral
Aspecto estético
Matéria orgância e
oxigênio dissolvido
Comunidade aquática
Descrição
As águas apresentam-se novamente limpas, voltando a ser atingidas
as condições normais anteriores à poluição, pelo menos no que diz
respeito ao oxigênio dissolvido, à matéria orgânica e aos teores de
bactérias e, provavelmente, de organismos patogêncos.
A aparência da água encontra-se similar à anterior à ocorrência da
plouição.
Na massa líquida há predominância das formas completamente
oxidadas e estáveis dos compostos minerais, embora o lodo de fundo
não esteja necessariamente estabilizado. A concentração de oxigênio
é próxima à de saturação, devido ao baixo consumo pela população
microbiana e à possivelmente elevada produção pelas algas.
A produção de algas é bem maior. Há o restabelecimento da cadeia
alimentar normal. São encontradas ninfas de odonatas, efemérides,
assim como grandes crustáceos de água doce, moluscos e vários
peixes.
4.5 Identificação de poluentes e métodos de controle e de despoluição
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As fontes de água doce, as mais vitais para os seres humanos, são
justamente as que mais recebem poluentes. Muitos lugares do planeta, cidades
e zonas agrícolas correm sério risco de ficar definitivamente sem água (Figura
18). A causa fundamental dessa tragédia ecológica, que pode eventualmente
piorar se medidas sérias não forem tomadas, é o aumento acelerado de várias
formas de poluição, além da ocupação desordenada em regiões de
preservação de mananciais.
Figura 18. Estimativa de água potável no planeta.
O lançamento de resíduos orgânicos acima da capacidade de absorção
pelos organismos decompositores e o de resíduos inorgânicos nãobiodegradáveis, muitos inclusive tóxicos e cumulativos, nos córregos, rios,
lagos e mares, caracterizam o que chamamos genericamente de poluição das
águas. Deve-se lembrar também da poluição do lençol freático, que são as
águas subterrâneas, a partir da lixiviação dos solos, com pesticidas, na
agricultura, e com o chorume, nos lixões. As fontes de poluição das águas são
várias e estão muito dispersas pela superfície terrestre. Embora o fenômeno
seja mais concentrado e mais visível nos complexos sistemas urbanos, surge
também nos ecossistemas naturais e agrícolas.
Em realidade, despoluir ou não poluir um rio é uma tarefa de múltiplas
facetas e exige atuações postas tais quais um feixe de retas paralelas em uma
mesma direção.
Em primeiro lugar, para coordenar idéias, compete definir aquilo que é,
para um rio, o seu elemento ou elementos vitais, a partir de que ele será um rio
"com saúde".
Na massa d’água corrente de um rio existem um sem número de
organismos vivos dos reinos vegetal e animal e em todos os graus de
entrosamento. É um ecossistema. E a Natureza nos ensina que todo
ecossistema tem que viver harmoniosamente.
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Vejamos, para começar, o reino animal que está presente no rio. A
grande maioria de seus membros, devido ao rio, sobrevive, porque ali se
alimenta e respira (oxigênio) ar e por isso, eles são animais aeróbios. Se não
existissem no rio alimento ou ar eles morreriam. Com isso, tira-se a primeira
conclusão: o ar, isto é, o oxigênio é peça indispensável para a sobrevivência do
ecossistema, da mesma forma que o alimento, como para qualquer animal, e
que, neste caso é a matéria orgânica. Acontece que a respiração é a função
primordial, visto que, à sua falta o animal perece de imediato, donde se conclui
que o oxigênio é a matéria prima fundamental para a sobrevivência do
ecossistema rio.
Basicamente, o oxigênio estará presente na massa líquida por dois
processos: a diluição em contato com o ar atmosférico e a fotossíntese devida
aos vegetais. E aí, podemos chegar à primeira grande conclusão: se não
houver diluição de contato e fotossíntese somadas em quantidade suficiente,
fornecendo oxigênio para atender a fauna, ela perecerá gradativamente, até a
posição de equilíbrio com a demanda.
O animal respira oxigênio e expira CO2 (dióxido de carbono), se alimenta
de matéria orgânica e a transforma em minerais; a planta absorve o CO2 e
através da fotossíntese, regenera o oxigênio.
Essa teoria é límpida e certa e com ela, podemos analisar um a um os
fatos que fazem "adoecer" um rio e, com isso, nominar cada reta do nosso
feixe de paralelas citado. Vejamos:
•
Desmatamentos: A retirada de um vegetal do solo ou mesmo sua morte,
enfraquecerá a resistência mecânica desse solo graças a fixação que havia
pelas raízes. Ao perder essa resistência, as águas de chuva iniciam um
processo de erosão que, invariavelmente, mesmo que longe do curso
d’água, irá carregar para os leitos desse curso, quantidades anormais de
sólidos, levando ao processo de assoreamento. O assoreamento conduz a
dois acontecimentos, um deles de caráter não ambiental propriamente dito,
que é a diminuição da seção fluída e com isso, provocará alagamento extracaixa do rio e o outro ambiental, que se dá pelo soterramento dos vegetais
de fundo e inibição da penetração para eles do oxigênio, passando, aí, a
ocorrer outro processo de decomposição do material orgânico soterrado –
sem a presença de oxigênio – através de organismos ditos anaeróbios (que
não necessitam do oxigênio dissolvido para respirarem) mas que, ao invés
de darem como produto o dióxido de carbono e minerais (insumos para a
fotossíntese), produzirão gases derivados de carbono e do enxofre como o
metano, as mercaptanas e os gases sulfurosos, venenos para a fauna
aeróbia.
•
Mercúrio : Uma das piores formas de poluição das águas num ecossistema
natural é o derrame de mercúrio nos rios, lagos e mares. O mercúrio, metal
pesado e extremamente tóxico, tende a se concentrar no organismo dos
animais, como os peixes. Como essa concentração é cumulativa, tende a
ser muito maior no último elo da cadeia alimentar, que é justamente o
homem. Em altas doses, esse metal causa graves problemas à saúde. Por
se acumular mais facilmente no cérebro, provoca sérios problemas
neurológicos. Há muitos rios e lagos na Amazônia e no Pantanal
contaminados com mercúrio, por causa do garimpo de ouro (Figura 19).
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Esse metal é usado para separar os pequenos pedaços de ouro que estão
misturados com a areia, cascalho, etc. Como o mercúrio é um elemento
químico que apresenta um vida útil elevada na natureza, a despoluição dos
rios, lagos e meres fica comprometida. Logo o controle desta forma de
poluição se dá por meio da proibição, por meio de legislação vigente, de
garimpos clandestinos.
Figura 19. Garimpo clandestino.
•
Agrotóxicos - São substâncias utilizadas em plantações com a finalidade
de matar organismos nocivos à saúde dessas plantações; evidentemente
que, essas substâncias, mais cedo ou mais tarde, pelas chuvas, serão
carreadas para um curso d’água, continuando ali seu efeito tóxico sobre
outros organismos que não aqueles a que se destinavam eliminar. Tais
organismos, principalmente os microorganismos, são exatamente aqueles
que se encarregam de fazer a decomposição das substâncias orgânicas no
seio da massa líquida e se eles estão mortos ou doentes, funcionarão como
mais alimentos a serem consumidos, ao invés de transformadores de
alimentos. Existe várias formas de se controlar este tipo de poluição,
destacando-se:
-
Utilização de plantas melhoradas geneticamente que além de apresentarem
maior produtividade, são mais resistentes aos ataques fitopatológicos e
entomológicos;
Controle biológico de pragas e doenças, ou seja, utilização de seres vivos
que inibem o desenvolvimento de outros;
Produção de plantas que não recebem agrotóxicos. Esta técnica acaba se
tornando viável em algumas situações devido ao elevado preço do produto
final e da maior aceitação por parte dos consumidores;
-
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-
Treinamento de produtores no que se refere à aplicação de agrotóxicos;
Maior fiscalização governamental.
•
Adubos: São substâncias colocadas em plantações com a finalidade de
abastecê-las de seus elementos vitais como o nitrogênio, o potássio e o
fósforo, são as "vitaminas" da flora e estimulam seu crescimento. De uma
forma ou de outra, parte desses adubos serão carregados para os rios e ali
incentivarão o crescimento dos vegetais aquáticos, principalmente os
minúsculos como as algas e esse crescimento exagerado fará acontecer o
fenômeno de eutrofização (proliferação exagerada de vegetais) que turvará
de verde as águas, dificultando a penetração de luz solar, imprescindível à
fotossíntese (que é geradora de oxigênio). Dentre as técnicas de prevenção
e controle deste tipo de poluição, pode-se destacar:
-
Utilização da técnica de plantio direto, que além proteger a superfïcie do
solo contra a lixiviação de nutrientes e erosão, aumenta a quantidade de
matéria orgânica no solo, possibilitando maior disponibilidade de nutrientes
para as plantas;
Reaproveitamento de subprodutos da produção como restos vegetais que
podem ser utilizados como cobertura morta;
Aplicação eficiente de água no solo por meio da técnica de irrigação que de
preferência deverá ser localizada;
Formulação de adubos na própria propriedade;
Aplicação eficiente de formulados na plantação sob a orientação de
técnicos qualificados.
-
•
Barragens: O turbilhonamento das águas é fator que facilita a dissolução
de oxigênio do ar na água. Se as águas ficam tranqüilas, caso das águas
barradas, a tendência à oxigenação diminui à montante (antes) da
barragem e também, fica facilitada a deposição de poluentes pesados que
comprometem o ecossistema; de positivo, nesse caso, há um favorecimento
na depuração das águas à jusante. Para este tipo de poluição, os órgãos
governamentais de fiscalização devem orientar de maneira consciente a
construção de barragens por meio de técnicas mais eficazes de engenharia
e arquitetura. Além disso, deve sempre que possível monitorar biológica as
áreas à montante e jusante da barragem, procurando identificar possíveis
alterações das características físicas, químicas e biológicas das águas.
•
Lixeira: Uma lixeira (Figura 20) (local de disposição de lixos domésticos,
chamada lixão, aterro sanitário) deve se constituir num sistema de proteção
que preveja o recolhimento dos percolados e do "chorume", que nada mais
é que um "caldo" altamente orgânico e que demandará um grande consumo
de oxigênio ao chegar a um curso d’água; não se contando aí, a
possibilidade do lixo conter patogênicos, se for oriundo de hospitais.
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Figura 20. Depósito de lixo.
•
Lixos Públicos: As populações ribeirinhas têm, no geral, o costume de
lançar seus lixos diretamente nos rios por suas margens; isso significa mais
material orgânico a demandar oxigênio bem como, materiais biodegradáveis
como metais e plásticos que se não afetam diretamente a saúde do rio, irão
causar transtornos aos sistemas de captação das águas para tratamento.
Uma forma eficiente de prevenção e controle deste tipo de poluição é a
reciclagem do lixo que além de ser uma atividade de educação ambiental,
pode beneficiar uma pequena parcela da população que vê no lixo uma
forma lucrativa e rentável de sobrevivência (Figura 21).
Figura 21. Reciclagem do lixo.
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•
Esgotos Sanitários - Está aí a causa maior da alta demanda bioquímica de
oxigênio (consumo de oxigênio) de um rio (Figura 22). Estudos mostram
que, para cada pessoa, o esgoto produzido demanda, por dia, um consumo
de 54g de oxigênio das águas do rio, isso sem contar os prejuízos dos não
biodegradáveis que irão influenciar, por efeito direto, na saúde da flora e da
fauna. Dentre as técnicas de prevenção e controle deste tipo de poluição,
destacam-se:
-
Tratamento dos esgotos;
Regularização da vazão do curso d’água;
Aeração do curso d’água;
Aeração dos esgotos tratados;
Alocação de outros usos para o curso d’água.
Figura 22. Poluição ocasionada por esgotos sanitários.
•
Atividades Pastorís - A criação de animais implica numa concentração não
natural de espécies e consequentemente, em conseqüência, focos
concentrados de dejetos altamente orgânicos a sacrificar os cursos d’água,
localizadamente. Podem-se destacar as seguintes técnicas para a
prevenção e controle deste tipo de poluição:
-
Diminuição do confinamento de animais;
Utilização dos dejetos como forma de adubação de plantações e pastagens;
Construção aeradores próximos das instalações visando bombear os
dejetos diluídos com água na pastagem.
•
Abatedouros - Da mesma forma, há uma concentração não natural de
fontes altamente demandáveis de oxigênio nos cursos d’água, além de
outros inconvenientes, como exemplo, as penas que constituem um grande
transtorno de filtração primária nas estações de captação de águas para
tratamento. Como forma de se prevenir o lançamento de vísceras e restos
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•
oriundos do abate de animais, a conscientização e sobretudo a aplicação de
multas por órgãos pertinentes são alternativas consideradas fundamentais.
A Poluição Atmosférica por Particulados - A geração e lançamento ao ar
de partículas pelas diversas atividades industriais têm o efeito de cobertura
constante dos solos e vegetais. Tais partículas, mais cedo ou mais tarde,
por efeito das chuvas, irão atingir os cursos d’água, causando efeitos de
assoreamento e de turbidez. A utilização de filtros nas chaminés das
indústrias é considerada a principal medida para o controle deste tipo de
poluição.
•
Os Pós de Varrição - Da mesma forma, as partículas geradas nas vias
públicas por veículos, principalmente, irão, mais cedo ou mais tarde,
alcançar um curso d’água.
•
Efluentes Líquidos de Hospitais e Laboratórios - Não se tem notícias de
que haja tratamentos nesses casos; isso leva, evidentemente, à poluições
de caráter patogênico e químico, respectivamente. A incineração é uma boa
técnica para o controle deste tipo de poluição.
•
Os Aterros Industriais - O fenômeno de lixiviação de metais nos aterros
industriais, sem uma perfeita proteção do solo, infiltram para os aqüíferos
subterrâneos esses metais em dissolução, terminando seu deságüe em
curso d’água. Além da legislação, antes da implantação do aterro indústrial,
deve-se fazer um estudo da hidrologia subterrânea da área.
•
As Micro-Atividades - Oficinas, postos de gasolina, fundições,
galvanoplastias, cemitérios etc. são contribuidores constantes de óleos,
outros orgânicos e metais.
•
A Poluição Térmica – O lançamento de águas quentes num rio causará,
de imediato, fenômenos localizados de desoxigenação pois, o calor
favorece a dissipação do oxigênio dissolvido; além disso, a faixa de
temperatura de sobrevivência de peixes e muitos microorganismos é
bastante estreita e, ainda, alguns vegetais têm sua proliferação acentuada
com o aumento de temperatura.
•
A Poluição por Tensoativos - Os sabões influenciam para desequilibrar a
tensão superficial vital para espécies de animais que dela dependem para
sobreviver; como exemplo a flutuação das aves aquáticas, as bolhas de ar
do besouro d’água etc.
•
A Poluição por Potencial Hidrogeniônico - A acidez ou basicidade
acentuada, fora da normalidade das águas, podem levar a mortandade de
peixes, muito comum junto a despejos de usinas de açúcar de cana.
•
A Poluição por Valor Osmótico - O fenômeno da passagem de líquidos
através de membranas semipermeáveis, na direção do menos saturado
para o mais saturado, aplica-se à vida de animais acostumados ou à água
doce ou à água salgada. Dessa forma, o lançamento de grande quantidade
de sais em água doce é uma forma de poluição e, paradoxalmente, o
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•
lançamento de águas doces e límpidas no mar é, também, forma de
poluição.
Petróleo: Outro caso a grave de poluição das águas que sempre ocorre é o
derrame de petróleo nas águas oceânicas (Figura 23). Embora o petróleo
seja uma substância natural, ao ser introduzido em um ambiente aquático,
comporta-se como um substância estranha a esse ecossistemas, causando
grave desequilíbrio. Além da legislação ambiental que já vigora, medidas
preventivas mais severas devem ser aplicadas sobre as empresas de
exploração visando diminuir possíveis catástrofes ambientais além da busca
por outras alternativas de fontes de energia.
Figura 23. Poluição causada pelo petróleo.
5. Conclusões
Quanto à despoluição, a certeza é que, deixar de poluir é uma forma de
despoluição pois, os cursos d’água são notavelmente auto-renováveis,
bastando que se diminuam as causas de sua degradação para que eles se
recuperem paulatinamente.
Se continuarmos tratando a natureza de maneira irresponsável, o futuro
nos reservará um mundo devastado e sem recursos. Podemos ter um bom
futuro, em paz com a natureza, desde que encontremos o equilíbrio entre as
necessidades humanas e a capacidade de recuperação ambiental (autosustentação). Não vale a pena quebrar para depois consertar, poluir para
depois limpar. O grande contraste social e econômico distancia o homem da
condição de cidadão e do conhecimento ecológico. Um caminho importante é a
educação: para a formação da consciência ecológica, para a vida em harmonia
com a natureza e para a convivência solidária entre as pessoas. Na prática
podemos fazer muitas coisas, como economizar água tratada, utilizar menos
detergente, jogar o lixo no lugar certo, plantar árvores, respeitar o ciclo da
água, usar a água limpa com economia, gastar somente o necessário,
denunciar as empresas que poluem, denunciar ocupações clandestinas que
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estejam despejando esgoto e lixo nos mananciais, cobrar dos governantes a
criação e cumprimento de leis que protejam a natureza etc. Conscientizar a
população para as questões ecológicas é importante para a conquista de um
futuro com água potável e com saúde para toda a humanidade.
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APÊNDICE
Dinâmica de grupo
1. Solicite aos alunos que façam uma análise da letra de duas músicas,
procurando encontrar diferenças e semelhanças quanto às
mensagens, apelos, informações e linguagens de cada uma.
Sugerimos as letra das músicas 'Planeta Água', de Guilherme Arantes
e 'Planeta Azul', de Xororó e Aldemir.
PLANETA ÁGUA (Guilherme Arantes)
Água que nasce na fonte serena do mundo
E que abre o profundo grotão
Água que faz inocente riacho
E deságua na corrente do ribeirão
Águas escuras dos rios
Que levam a fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população
Águas que caem das pedras
No véu das cascatas, ronco de trovão,
E depois dormem tranqüilas
No leito dos lagos, no leito dos lagos
Água dos igarapés, onde Iara
Mãe d'Água, é misteriosa canção
Água que o sol evapora,
Pro céu vai embora
Virar nuvens de algodão
Gotas de água da chuva,
Alegre arco-íris sobre a plantação
Gotas de água da chuva, tão tristes,
São lágrimas na inundação
Águas que movem moinhos
São as mesmas águas que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra, pro fundo da terra
Terra, Planeta Água
Terra, Planeta Água
Terra, Planeta Água
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PLANETA AZUL (Xororó e Aldemir)
A vida e a natureza
Sempre à mercê da poluição
Se invertem as estações do ano
Faz calor no inverno
E frio no verão
Os peixes morrendo nos rios,
Estão se extinguindo espécies animais
E tudo o que se planta, colhe,
O tempo retribui o mal que a gente faz
Onde a chuva caía quase todo dia
Já não chove nada
O sol abrasador rachando
O leito dos rios secos,
Sem um pingo d'água
Quanto ao futuro inseguro
Será assim de norte a sul:
A Terra nua semelhante à Lua
O que será desse Planeta Azul?
O que será desse Planeta Azul?
O rio que desce as encostas
Já quase sem vida parece que chora,
Num triste lamento das águas
Ao ver devastada a fauna e a flora
É tempo de pensar no verde,
Regar a semente que ainda não nasceu,
Deixar em paz a Amazônia,
Preservar a vida,
Estar de bem com Deus
2. Proponha aos alunos a observação e análise de águas de origens
diferentes (rio, manancial, lago etc). Para tanto, utilize critérios como:
a) lixo flutuante ou acumulado nas margens
. nenhum lixo (boa qualidade)
. pouco lixo ou apenas árvores, folhas, aguapés (qualidade média )
. muito lixo (água poluída)
b) peixes
. muitos (boa qualidade)
. poucos, raros (qualidade média)
. nenhum ou só guarus (água poluída)
c) material sedimentado
. ausência, não é possível medir (boa qualidade)
. baixa quantidade, menos de três milímetros (qualidade média)
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. alta quantidade, mais de três milímetros (água poluída)
Obs.: utilize um copo cheio de água para essa experiência.
d) cheiro
. nenhum (boa qualidade)
. fraco, de mofo ou capim (qualidade média)
. fétido ou cheiro de ovo podre (água poluída)
Atenção: oriente os alunos no manuseio do material coletado e na utilização
correta de equipamentos como luvas, aventais, máscaras etc.
3. Os alunos podem pesquisar cartas e fotos de satélites que mostrem a
poluição das águas no globo terrestre e a concentração de clorofila na
camada superficial das águas, determinando as condições de vida dos
seres marinhos.
4. Solicite aos alunos que construam uma linha do tempo que mostre a
evolução das sociedades relacionada à tecnologia do manejo e
utilização da água, destacando aspectos como culturas agrícolas
irrigadas, água encanada, esgoto, água tratada, construção da roda
d'água, construção de hidrelétricas.
5. Proponha uma pesquisa sobre invenções de máquinas movidas a
água e sua importância; a partir dessa pesquisa, sugira a elaboração
de desenhos, pinturas, maquetes, protótipos relativos ao tema.
6. Divida a classe em grupos e oriente para que cada grupo estude um
ecossistema aquático brasileiro. Sugere-se que o estudo aprofunde os
aspectos:
a) Características gerais e capacidade de adaptação dos seres vivos que compõem o
ecossistema;
b) Cadeia alimentar dos seres vivos aquáticos;
c) Ação do homem nesses ecossistemas.
7. Desenvolva, no início do semestre, a seguinte atividade:
a) solicite que os alunos tragam cópias das contas de água de suas residências, para
uma explicação sobre os campos onde estão registrados o volume de água
consumida, o período, o valor;
b) realize um trabalho de conscientização sobre a importância da água para a
preservação da vida. Esse trabalho pode ser iniciado com a leitura de um texto ou
com a apresentação de um vídeo;
c) faça um levantamento e registro de sugestões dos alunos para evitar o desperdício
de água;
d) estimule, através da confecção de cartazes e elaboração de textos, o combate ao
desperdício da água na escola e nas residências;
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e) promova um concurso: vencerá o aluno cuja família demonstrar que soube
economizar mais água num período determinado. No decorrer desse período, os
alunos levarão à escola as contas de água e farão comparações de gastos e
custos, para checar se a campanha surtiu o efeito desejado e para acompanhar a
evolução do concurso.
8. Solicite um estudo sobre "sociedades sustentáveis" no aspecto
referente à preservação da água e promova as seguintes atividades:
a) debate: divida a classe em duas alas, sendo que uma defenderá a "sociedade
sustentável" e a outra fará a oposição;
b) providencie o registro das idéias favoráveis e desfavoráveis para posterior reflexão
e elaboração de um relatório final.
9. Após localizar num mapa de onde vem a água que abastece a cidade,
os alunos deverão mostrar, com desenhos, o caminho da água até
chegar às casas, e a sua saída, já como esgoto.
10. Oriente os alunos a realizar em grupo o planejamento e construção da
maquete de uma casa colocando hidrômetro, canos, caixas d'água,
torneiras, chuveiros, vasos sanitários e ralos. Durante a construção da
maquete, discuta com os alunos o caminho da água dentro das nossas
casas e enfatize a origem e o local de tratamento dessa água.
11. Promova um estudo do meio com a realização das seguintes
atividades:
a) visita a uma estação de tratamento de água, em que um técnico explique aos
alunos os processos de decantação e filtração e qual o papel das algas no
processo de purificação da água;
b) a partir dessa visita, proponha aos alunos a elaboração de um relatório ilustrado
sobre as fases de tratamento da água;
c) peça aos alunos que expliquem quais as conseqüências do aumento e da
diminuição da quantidade de algas nas águas.
12. Visite uma estação de tratamento de esgotos e chame a atenção dos
alunos para as medidas obrigatórias de segurança e higiene adotadas
(vestimentas adequadas dos trabalhadores, calçados, máscaras,
sinalizações etc.). Solicite a um técnico da estação que faça uma
exposição oral a fim de mostrar a relação entre consumo de água e
produção de esgoto, entre quantidade de lixo e poluição da água. Em
sala de aula, promova um debate e reflexão sobre a importância de
não se jogar o lixo e o esgoto em lugares inadequados.
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13. Solicite aos alunos que façam um estudo sobre as causas de poluição
das águas (como agrotóxicos, esgotos, detritos industriais etc.) e suas
conseqüências para a vida na Terra.
14. Peça uma pesquisa sobre o que os governos estão fazendo pela
preservação de mananciais e como ONGs - organizações não
governamentais - colaboram com esse trabalho.
15. Promova uma campanha de coleta e seleção de lixo na escola:
a) Divida os alunos em grupos;
b) Divida a campanha em etapas (planejamento, distribuição e execução das tarefas,
registros);
c) Combine uma data para a apresentação de relatório das tarefas já realizadas.
Os grupos poderão se responsabilizar:
1. Pela elaboração de textos, confecção de cartazes de propaganda e de
sinalização;
2. Pela obtenção de lixeiras com cores diferentes, as quais deverão ser
padronizadas para cada tipo de material reciclável;
3. Por entrar em contato com alguma agência do bairro que trabalhe com coleta
seletiva de lixo (vidros, plásticos, papéis, latas), a fim de verificar a
possibilidade de venda desse material para arrecadação de verbas para a
escola.
16. Proponha aos alunos que procurem em jornais e revistas matérias
sobre a situação da água nas grandes cidades e montem dois murais:
um que mostre matérias com informações positivas sobre essa
situação e outro que mostre matérias com informações negativas. O
professor pode orientar os alunos para uma reflexão sobre esse
assunto.
17. Solicite aos alunos a observação de uma localidade de sua cidade: sua
casa, a rua onde mora, uma área de lazer, o percurso que faz até a
escola, registrando qualquer sinal de desperdício ou poluição das
águas. Na seqüência, realize as seguintes atividades:
a) Estabeleça uma discussão em sala de aula e indique um aluno para registrar todas
as conclusões dos participantes;
b) Defina como trabalho individual o que cada um pode assumir para melhorar a
situação observada;
c) Estabeleça como trabalho individual o que cada um sugere para que a
comunidade resolva ou amenize os problemas constatados;
d) O professor poderá apresentar aos alunos a síntese final das sugestões.
18. Sugira a elaboração de um jornal ecológico, no qual os alunos
expressem, por meio de pequenas reportagens, denúncias de
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agressões à natureza e divulgação de campanhas de preservação e
uso adequado da água potável. É importante que os alunos,
orientados por professores, tenham a liberdade de se expressar
utilizando sua própria linguagem. Algumas sugestões de como fazer:
a) discussão das possíveis seções do jornal;
b) Definição dos temas ecológicos das matérias principais;
c) Visita aos locais das reportagens para uma melhor coleta de informações e para
verificar a possibilidade de obter fotos que ilustrarão a reportagem;
d) Elaboração de textos individuais e coletivos, posteriores à discussão em grupo;
e) Entrevistas com pessoas relacionadas com os temas escolhidos;
f) Fechamento e digitação das matérias;
g) Distribuição das matérias e fotos nas páginas do jornal (diagramação);
h) Elaboração das legendas e manchetes;
i) Distribuição na escola e na comunidade.
19.
Representar o ciclo da água por meio de um desenho, com os
seguintes aspectos:
-
Evaporação da água;
Formação das nuvens;
Precipitação (chuva);
Acumulação da água (rios, lagos, represa etc).
Descrever e conceituar cada um desses aspectos.
-
20. Fazer um estudo sobre escassez e economia de água. Descrever de 5
a 10 ações em que se pode economizar água em nosso cotidiano.
Exemplo: não deixar a torneira aberta enquanto se escova os dentes.
21. Fazer um intercâmbio com uma escola de uma região que tenha
problemas com suprimento de água, como certas regiões do nordeste
do Brasil. Os alunos, em grupos, podem escrever uma carta a colegas
de escolas dessas regiões solicitando informações referentes a itens
como:
-
As principais características da cidade e do município;
As principais ocupações da população;
Os rios, lagos, açudes do município;
Época e quantidade de chuva na região;
Problemas com a água (quantidade, escassez, distribuição, utilização).
Verificar a possibilidade de receber fotografias, postais, cartazes, artigos,
referentes ao assunto.
Fazer uma discussão em classe e preparar um relatório com conclusões sobre o
estudo.
Os alunos poderão dar continuidade ao intercâmbio com os colegas da outra
região, sobre este ou outro assunto do currículo.
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22.
Organizar os alunos em grupos, a fim de que cada grupo pesquise
uma das doenças transmissíveis pela água: esquistossomose, cólera,
amebíase, leptospirose, hepatite, cisticercose. Elaborar cartazes sobre
as doenças pesquisadas, com conclusões. Expor aos colegas.
23. Discutir a necessidade do tratamento da água e sua importância para a
manutenção da saúde.
24. Entrevistar familiares (pais, avós, tios etc.) abordando a importância
da economia da água.
-
Como a água é utilizada em casa?
Como é feita a economia de água?
Como se verifica essa economia?
Apresentar os dados coletados aos colegas.
25. Montar, em sala de aula, vasos com diferentes tipos de solo:
-
Areia;
Terra roxa;
Terra preta;
Argila.
Despejar em cada um deles a mesma quantidade de água e marcar o tempo que
leva para ocorrer a absorção.
26. Discutir o fenômeno da filtração, a valorização de determinados tipos
de solo e a formação de lençóis freáticos.
27. Pesquisar as principais funções realizadas pela água líquida nos seres
vivos.
28. Pesquisar os objetivos das construções das barragens, que
beneficiam a vida humana, e as possíveis alterações ambientais que
provocam.
29. Promover com os alunos um debate sobre a possível conciliação da
expansão das cidades e os mananciais.
30. Fazer uma pesquisa de campo com o objetivo de observar as
condições de saúde e saneamento básico próximo à escola.
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