MESTRE DA DISCRIÇÃO Primeiro devemos recorrer ao mundo profano, definindo MESTRE e DISCRIÇÃO, para melhor ilustrar o presente trabalho. Desnecessário recorrermos aos dicionários, quando qualquer leigo sabe que, MESTRE, é aquele que ensina, o professor e, DISCRIÇÃO nada mais é do que, sensatez, modéstia, reserva, educação, bom senso. Assim resumido, MESTRE DA DISCRIÇÃO, na linguagem profana é, o Professor em modéstia, simplicidade de comportamento, educado. Na Maçonaria, não é diferente. Enquanto no mundo profano, se aprende no dia a dia, na educação no lar, na sociedade, na Maçonaria além de assim aprender, o Maçom tem o privilégio de receber um treinamento/aperfeiçoamento e, ao mesmo tempo o compromisso/o dever de assim praticar. Esse treinamento/aperfeiçoamento, dentre eles, é o aprimoramento moral que, no Rito Brasileiro, se inicia no Grau 4 ou seja, o primeiro Grau da Mestria Superior. E, para melhor chegar a esse aprimoramento moral, a Maçonaria indica três princípios básicos: VER (Videre), OUVIR (Audire) e CALAR (Tacere), transcritos no triângulo que, adorna o retábulo. Essa trilogia não se deve enxergar pura e simplesmente como, a um leigo, mas sim diferentemente a todos os maçons que se prezam e que pretendem, aperfeiçoar tão difícil missão. E para aqueles que pretendem, seguem algumas observações sobre esses 3 princípios básicos. VER ou VEDERE: É a primeira exigência da Discrição. É o exercício do órgão do sentido mais sensível do corpo humano. Ao passo que, para os maçons, ver, vai mais além. É ver bem! Ver com atenção, para detectar melhor a realidade, observar, examinar os detalhes e não, somente a aparência! As aparências muitas vezes, enganam!!! Às vezes sua famosa estrela guia, não passa de, um satélite!!! 1 Ver é, distinguir entre o real e o brilho externo (não é enxergar somente a diferença entre a água e o vinho, muitas vezes apregoadas e que, muitos, nem conseguem fazê-lo)! Ver é, penetrar no coração da pessoa, conhecê-la melhor! Ver é, induzir e, sobretudo perceber! Ver é, não deixar, por exemplo, a ira turvar nossa visão pois, “A ira cega nossos olhos nos levando a reagir de forma desproporcional ao ato da agressão (Pv 29:22). Ver é, ir mais além conforme ensina São Jerônimo, doutor da Igreja, para ressaltar o valor da visão que, assim se expressou: “Ver o mal, antes que chegue, é grande bem, para dele escapar.” O “Ver” do maçom, tem que ter a característica dos gênios, como definiu o pensador Nietzche: “Ser um ser das alturas. Que vê o mundo de cima e perceber as coisas aonde a maioria não consegue ver nada.” Embora assim se dispondo, necessário a advertência/prudência que encontramos em Caibalion: “Conservai sempre a vossa mente nas Estrelas, mas deixai os vossos olhos verem os vossos passos para não cairdes na lama, por causa da vossa contemplação de cima.” VER é também, o “VER COM BONS OLHOS” ou “VER COM O CORAÇÃO” ou seja, sem malícia, sem maldade, com pureza. Não enxergar somente os defeitos, mas sim as virtudes. Nesse sentido, ilustração melhor nos traz Frederico Garcia Lorca, quando assim se expressou: 2 “É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem sabe ver.” Mas infelizmente, como diz o ditado popular: “Tem bengala do cego que, enxerga melhor que muita gente.” Outro princípio básico e, tão importante quanto “VER”: OUVIR – AUDIRE: É a segunda exigência da Discrição. Ouvir na linguagem profana é, auscultar. Aos maçons o ”OUVIR” deve ser: Prestar atenção (DAR OUVIDOS), principalmente àquilo que ouve ou, a quem lhe fala. É assimilar/entender/interpretar o que está ouvindo, não tirar conclusões precipitadas, não se perder em presunções/julgamentos, é fazer a distinção entre o bem e o mal. Dádiva maior é, ouvir o clamor dos necessitados, não só material mas espiritualmente! Pois se assim não praticarmos, o mesmo poderá ocorrer conosco e, assim ensina Salomão, em provérbio (21.13) ”O que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre, também clamará e não será ouvido.” OUVIR é aceitar obrigatoriamente o que foi dito, que poderá ser filtrado para, melhor aproveitamento e, calar-se diante das ofensas, fazer OUVIDOS MOUCOS; pois ouve o que não quer, aquele que, às vezes fala o que quer! OUVIR é sinônimo também de paciência e de, prudência!! È também, sinônimo de tranqüilidade se, você souber filtrar o que foi dito e que, assim resumimos: 3 FILTRANDO A PAZ Ouça somente o que lhe apetecer Prá nenhum mal acontecer Ouvido foi feito para ouvir Nem tudo devemos “engolir” O que não apetece Nos entristece Ao ofensor nosso perdão Para não ferir nosso coração. Separemos o joio do trigo O de bom terá abrigo O de mal vamos educar Praticando o verbo amar! OUVIR , também “A VOZ DA CONSCIÊNCIA” que, às vezes nos cobra e nos faz remoer de remorso; levando-nos ao arrependimento e mudar nossos caminhos. OUVIR, a VOZ DA CONSCIÊNCIA que, às vezes nos traz as boas lembranças que, nos emocionam e, nos impulsionam a continuar nesse bom caminho. OUVIR com respeito, lembrando o adágio popular “enquanto um burro fala, o outro murcha a orelha” ou seja, dar ouvido quando outro fala. Não ser aquele que, quando alguém está falando, sua atenção está em outro lugar, menos no interlocutor!! OUVIR A VOZ DE DEUS, despertando-nos para a ajuda ao próximo, ajuda material e espiritual. OUVIR também, porquê não, às estrelas!!! Se alguém lhe disser que está ouvindo estrelas, não o considere um louco, porque pode ser um possível aprendiz de OLAVO BILAC que, assim ensina: Ora - direis - ouvir estrelas! Ora (direis) ouvir estrelas! Certo! Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto ... 4 E conversamos toda a noite, enquanto A via láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Quê conversas com elas? Que sentido tem o que dizem, Quando estão contigo?" E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas." Eis o terceiro princípio que, não é diferente dos demais, devido à importância. CALAR (TACERE) É meditar, refletir, é deduzir. É também a capacidade de guardar segredo, se for necessário. Só quem cala, pode ser confidente. Quem cala, revela também modéstia, porque foge à tentação do sensacionalismo. Para melhor exemplificar o CALAR, no contesto maçônico, oportuno alguma citações: “Se alguém entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a religião desse é vã. ” Tiago, 1:26. O Apóstolo Paulo, o “Vidente de Damasco”, recomendou aos efésios: (Ef., 4:29.) “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem”. Calar, para não falar asneiras (meditar antes) pois, após dito, não se desfaz, idêntico à folha de papel que amassada, não volta a ser como era!! 5 O CALAR é também, a conversa muda, é o entendimento/comunicação através do pensamento. Exemplificando melhor, é o caipira que fica, horas e horas com seu “cumpadre”, desfiando a palha e o fumo, sem muita conversa e, na despedida, um deles se despede e diz: “cumprade” a conversa tá boa, mas tenho que ir embora. Melhor ilustrar com Darci Ribeiro, na sua obra “O Mulo” – Ed. Nova Fronteira – 1981, onde à pg. 512, esse entendimento mudo, esse tipo de CALAR, quando fala de seu diálogo com um de seus personagens: “Calango, conversa mais calando que falando. Ficamos horas sentados, na varanda, conversando calados.” Para candidatar-nos a MESTRE DA DISCRIÇÃO devemos principalmente, CALAR-NOS DIANTE DAS OFENSAS, em sinal de perdão e, CALAR DIANTE DOS ELOGIOS, em sinal de humildade! CALAR é a verdade muda ou entendimento através de pensamento, como poetizou Pablo Neruda: Gosto quando te calas Gosto quando te calas porque estás como ausente, e me ouves de longe, minha voz não te toca. Parece que os olhos tivessem de ti voado e parece que um beijo te fechara a boca. Como todas as coisas estão cheias da minha alma emerge das coisas, cheia da minha alma. Borboleta de sonho, pareces com minha alma, e te pareces com a palavra melancolia. Gosto de ti quando calas e estás como distante. E estás como que te queixando, borboleta em arrulho. E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança: Deixa-me que me cale com o silêncio teu. Deixa-me que te fale também com o teu silêncio claro como uma lâmpada, simples como um anel. És como a noite, calada e constelada. 6 Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo. Gosto de ti quando calas porque estás como ausente. Distante e dolorosa como se tivesses morrido. Uma palavra então, um sorriso bastam. E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade. CONCLUSÃO: Resumindo, CALAR, não é se omitir, não é deixar de manifestar seu pensamento! CALAR é, refleterir/vigiar cuidadosamente o que vai ser dito pois, tanto pode fazer uma pessoa sorrir, como fazê-la chorar. Após,dito, é como alisar uma folha de papel que você amassou. Concluímos que, praticando o acima exposto que é um milésimo para citado aprimoramento, podemos ser um candidato a Mestre da DISCRIÇÃO e não, MESTRE DA DISCRIÇÃO pois, somente o tempo é que, nos outorgará referido título. Or.´. Rochedo, junho/2009 Airton Rossato (M.´.M.´.) DELEGACIA LITÚRGICA DO RITO BRASILEIRO DE MAÇONS ANTIGOS, LIVRES E 7 ACEITOS PARA O ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL ALTOS GRAUS FILOSÓFICOS NO GRAU 4 M E S T R E D A D I S C R I Ç Ã O Junho/2009 8