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Veículo: Revista Arco – UFSM Data: 11/10/2016 Pág: Online
O Impacto das Águas
Projeto do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial viaja anualmente para a Antártica a fim
de estudar como a relação entre o oceano e a atmosfera impacta o clima global
Você já deve ter ouvido falar que setenta e cinco por cento da superfície da Terra é
coberta por água. Mas você sabia que muitas propriedades das águas dos oceanos
estão fortemente associadas às mudanças que ocorrem na atmosfera, como a
ocorrência do El Niño? Esse fenômeno, que se caracteriza pelo aquecimento anormal
das águas superficiais no oceano Pacífico Tropical, pode comprometer o clima regional
e global (e também as suas férias).
São vários os fatores que afetam a variação climática global, entre eles o processo de
troca de calor entre a superfície do mar e a atmosfera e a influência do dióxido de
carbono nesse processo. Com uma costa de mais de 8.000 km² banhada pelas águas
do Oceano Atlântico Sul, o Brasil, até pouco tempo, dispunha de poucos recursos para
estudar o impacto que essas águas dos oceanos têm sobre o clima do país e do
continente sul-americano. A partir de 2004, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE) desenvolveu um projeto voltado para o estudo direto dos processos de interação
oceano-atmosfera.
O Projeto Interação Oceano-Atmosfera na região da Confluência Brasil-Malvinas
(Interconf) é coordenado pelo pesquisador Ronald Buss de Souza, do INPE, e
atualmente é o único grupo da América Latina que realiza pesquisas na área.
Responsável por inúmeros trabalhos de pesquisa, o projeto conta com alunos de
graduação, mestrado e doutorado de diversas instituições, como a Universidade Federal
de Santa Maria (UFSM), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a
Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
O Projeto Interconf atua em parceria com o Programa Antártico Brasileiro (Proantar), um
projeto do governo brasileiro que, desde 1982, através da Marinha do Brasil, oferece o
suporte para levar pesquisadores até o continente antártico, com todo o equipamento
necessário para coleta de dados para pesquisas.Três navios são disponibilizados pela
Marinha: Navio Hidro-oceanográfico Cruzeiro do Sul (H38), Navio Polar Almirante
Maximiano (H41) e Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rangel (H44).
As embarcações transportam uma tripulação de mais ou menos 80 pessoas, entre
pesquisadores e integrantes da Marinha.
Os dados são coletados em parceria com o Centro de Hidrografia Marinha (CHM) e
possuem grande relevância para os trabalhos realizados pelo INPE, sendo aplicados
nas mais diversas áreas da Oceanografia e Meteorologia. Estes dados auxiliam na
compreensão de processos físicos e biológicos do ciclo do dióxido de carbono (CO2) e
seu papel nas mudanças climáticas globais. “Essas medidas são consideradas
importantes para os estados da região Sul do Brasil, pois a passagem de frentes frias
sobre o estado do Rio Grande do Sul é afetada diretamente pelas variações de
temperatura na superfície do mar”, explica Ronald.
A BORDO
O Projeto Interconf utiliza os navios – quando eles passam pela região oceânica da
Confluência Brasil-Malvinas – para realizar medidas que ainda não haviam sido feitas,
nem mesmo pelos navios do Proantar. A equipe do professor Ronald vai ao mar com
instrumentos específicos para medir variáveis oceânicas e atmosféricas, como:
temperatura da água do mar, temperatura do ar, umidade relativa do ar, intensidade de
direção dos ventos e intensidade de direção das correntes marinhas. Esses parâmetros
físicos servem de apoio para calcular a troca de calor entre o oceano e a atmosfera.
Em outubro de 2014, Ronald Buss e sua equipe participaram da Operação Antártica de
número 33, que partiu do porto do Rio de Janeiro, com escala nos portos de Rio Grande
(RS) e Ushuaia (Argentina), a bordo do Navio Polar Almirante Maximiano (H41).
Segundo Ronald, a operação começa muito antes do embarque, com a preparação dos
instrumentos utilizados na coleta de dados, que devem ser montados e passam por um
período de testes. Depois de preparados, os equipamentos são embarcados no navio e
devidamente instalados. São utilizados, ao longo do percurso entre o Brasil e a
Antártica, radiossondas atmosféricas, equipamentos oceanográficos e uma torre micrometeorológica de fluxos, que tem a capacidade de medir as transferências de calor e de
dióxido de carbono (CO2), entre outras variáveis.
A radiossonda é lançada do navio por meio de um balão atmosférico, chegando a
altitudes acima de 25.000 metros. Dentro do navio existe um receptor que capta, via
rádio, as informações do aparelho. A torre micro-meteorológica é instalada na proa do
navio para coletar dados atmosféricos próximo à superfície do mar.
PARA ENTENDER MELHOR: As variáveis físicas na interface oceano-atmosfera são
estudadas a partir da variação de temperatura entre a corrente marítima do Brasil, que
vem do Norte, caracterizada por águas quentes e salinas, e a corrente das Malvinas,
que vem do Sul, caracterizada por águas frias e menos salinas. O encontro dessas duas
massas d’água representa uma diferença de temperatura que, em poucos quilômetros,
pode variar em mais de 10ºC.
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