CARACTERIZAÇÃO FISIOLÓGICA DE BACTÉRIAS DIAZOTRÓFICAS ISOLADAS DE MILHO EM VITÓRIA DA CONQUISTA-BA Santos, J. da S.1*; Sousa, F. G1.; De Oliveira, T. V.2; Moreira, G. L. P1.; Baldani, V. L. D3.; Ferreira, J. S.4 1Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - (UESB) Estadual Norte Fluminense - (UENF) 3Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA Agrobiologia. 4 Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. 2Universidade *Autor de contacto: E-mail: [email protected] Estrada do Bem Querer, km 04, Caixa Postal 95, CEP 45083-900, Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. 55-77-3425-9380 RESUMO Este trabalho teve o objetivo de avaliar as características fisiológicas de estirpes de bactérias diazotróficas isoladas de planta de milho no município de Vitória da Conquista - BA. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado. Foram testadas 32 bactérias sendo, 30 isolados obtidos das plantas de milho e duas estirpes padrão, uma da espécie Herbaspirillum seropedicae (estirpes ZAE94) e a outra espécie Azospirillum brasilense (estirpe Sp 245). Os testes foram realizados em condições in vitro no Laboratório da Embrapa Agrobiologia, sendo feito três repetições para cada bactéria utilizada. Das 30 estirpes isoladas, somente três não apresentaram taxa na atividade de redução de acetileno. Todos os isolados expressaram valores de síntese de ácido indol acético. Nenhuma das estirpes isoladas apresentou habilidade para solubilizar fosfato. A estirpe N15 apresentou a maior atividade de redução de acetileno. As estirpes N13 e ZAE94 de H. seropedicae apresentaram as maiores valores de síntese de ácido indol acético. As estirpes nativas N15 e N13 demostraram resultados promissores, com potencial para serem utilizadas na inoculação de plantas de milho. PALAVRAS-CHAVE Bactérias Diazotróficas; FBN; Estirpes Nativas. INTRODUÇÃO Nos últimos anos a busca por tecnologias que visem favorecer a sustentabilidade da produção agrícola tem sido almejada, como a redução do consumo de fertilizantes químicos e da poluição ambiental. Dentre os adubos químicos, os nitrogenados são aplicados em maiores quantidades nas culturas anuais. Dessa forma, processos biológicos que permitam reduzir a dependência por insumos químicos como a fixação biológica de nitrogênio (FBN) realizada por procariotos diazotróficos vem sendo amplamente estudados. Nesse sentido, a associação de cereais e gramíneas com bactérias diazotróficas endofíticas pode representar uma das alternativas mais promissoras para promoção do crescimento de plantas, manejo do solo e qualidade ambiental (Roesch et al. 2007). Entretanto, a perda de diversidade de microrganismos do solo, principalmente dos diazotróficos, pode alterar a estrutura populacional de outros organismos situados ao longo da cadeia trófica. Processos vitais do solo como a decomposição de matéria orgânica e a ciclagem de nutrientes, podem sofrer impactos levando o sistema agrícola à maior dependência por fertilizantes (Moreira et al. 2010). Assim, o isolamento e a seleção de bactérias diazotróficas in loco desenvolvem o conhecimento da interação bactéria-genótipo permitindo obter melhores resultados na eficiência da FBN e produtividade das plantas. Diante do atual cenário, vem se buscando a utilização de práticas agrícolas que reduzam os custos de produção, e sua aplicação em diversas regiões do país. Nesse sentido, a utilização de microrganismos diazotróficos vem sendo investigada em diversas culturas de grande importância comercial como o milho, trigo, arroz, cana-de-açúcar, sorgo dentre outras. Dessa forma, a aplicação de novas técnicas biotecnológicas de fácil acesso ao pequeno produtor pode contribuir para um maior rendimento na agricultura familiar e comercial, em todas as regiões, sobretudo no nordeste do Brasil. Diante desse contexto, este estudo teve como objetivo avaliar as características fisiológicas de bactérias diazotróficas isoladas de plantas de milho cultivada no município de Vitória da Conquista - Bahia. MATERIAIS E MÉTODOS O experimento foi conduzido no laboratório de gramíneas da EMBRAPA Agrobiologia, situado em Seropédica – RJ. As plantas de milho cultivar AG 1051 foram cultivadas em vasos com capacidade para 9 dm3 de solo que foi retirado da camada 0 - 20 cm do horizonte A de um Latossolo Amarelo, coletado no campo experimental da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, em Vitória da Conquista, localizada na região Sudoeste do Estado da Bahia, tendo 928 metros de altitude média e com precipitação total anual é de 750 mm (BRASIL, 1992). Foram utilizados cinco vasos para o cultivo do milho, semeando quatro sementes por recipiente. Aos 18 dias após a emergência foi realizado o desbaste mantendo duas plantas por vaso. As plantas foram coletadas aos 45 dias após a emergência e transportadas para a EMBRAPA Agrobiologia. Para o isolamento das bactérias diazotróficas, o material vegetal foi fragmentado parte aérea (colmo e folhas) e raízes de plantas de milho. Para a inoculação foram utilizados os meios de cultura semi-sólidos e semi-específicos NFb, JNFb, JMV e LGI para Azospirillum sp., Herbaspirillum sp., Burkholderia sp. e Azospirillumamazonense, respectivamente, conforme metodologia descrita por Döbereiner et al. (1995). Após a obtenção de isolados purificados foram realizadas as caracterizações fisiológicas para determinação da atividade de redução do acetileno (ARA), síntese de ácido indol acético (AIA) e solubilização de fosfato. A ARA foi realizada conforme Boddey et al. (1987) e Bradford (1976), a AIA desenvolvida de acordo Sarwar e Kremer (1995) e a solubilização de fosfato conforme Nautiyal et al. (1999). O delineamento estatístico utilizado foi o inteiramente ao acaso, com 32 bactérias (30 isolados nativos e 2 padrões) com três repetições. Para a análise estatística, utilizouse o programa Sisvar 5.0. (FERREIRA, 2003). Os dados obtidos foram submetidos à teste de homogeneidade e normalidade e análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Skott-Knott a 5% de significância. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram isolados bactérias nos meios NFb, JNFb e LGI. No meio JMV não houve formação de películas característica. Entretanto, as bactérias estocadas do meio LGI não foi possível reativálas. Dessa forma, foi possível testar 15 isolados do meio NFb e 15 isolados do meio JNFb, além de duas estirpes padrão Sp 245 (Azospirillum brasilense) e ZAE94 (Herbaspirillum seropedicae). Os resultados de ARA e AIA para os isolados nos meios NFb e JNFb são demonstrados na Tabela 1. Tabela 1. Atividade de redução de acetileno (ARA), síntese de ácido indol acético (AIA) por estirpes nativas isoladas de plantas de milho AG 1051 e bactérias padrão. Isolados ARA AIA mmol h-1 mg-1 proteína ug mg-1 Parte da planta Meio de cultura proteína N1 1,7084 c 5,3923 d Raiz NFb N2 2,1438 c 5,5390 d Raiz NFb N3 1,3153 c 6,5483 c Raiz NFb N4 2,1017 b 2,9423 e Raiz NFb N5 0,0428 c 1,2343 e Parte aérea NFb N6 Nda 1,9773 e Parte aérea NFb N7 2,8579 b 7,0870 c Raiz NFb N8 2,6939 b 6,7760 c Parte aérea NFb N9 2,7339 b 7,3426 c Parte aérea NFb N10 1,5782 c 4,5596 d Parte aérea NFb N11 Nd 15,6496 d Parte aérea NFb N12 0,9145 c 11,7833 b Raiz NFb N13 2,3515 b 14,2116 a Raiz NFb N14 0,3577 c 9,5226 b Raiz NFb N15 4,3543 a 3,6013 e Raiz NFb J1 0,8599 c 5,9120 d Raiz JNFb J2 0,8894 c 6,5533 c Raiz JNFb J3 Nd 0,2686 e Raiz JNFb J4 0,8643 c 8,6676 c Parte aérea JNFb J5 0,7939 c 5,3703 d Raiz JNFb J6 1,2948 c 5,8583 d Raiz JNFb J7 0,8713 c 6,9230 c Raiz JNFb J8 1,0889 c 9,7990 b Raiz JNFb J9 0,7362 c 11,2463 b Raiz JNFb J10 1,0767 c 6,4453 c Raiz JNFb J11 0,9493 c 8,4286 c Raiz JNFb Continuação… J12 0,8922 c 5,8163 d Raiz JNFb J13 0,7470 c 4,3853 d Raiz JNFb J14 0,6195 c 4,9546 d Raiz JNFb J15 0,7288 c 7,7493 c Raiz JNFb Sp 245 0,6431 c - Padrão NFb ZAE 94 - 15,7853 a Padrão JNFb Letras iguais na mesma coluna não diferem significativamente, entre si, pelo teste Skott-Knott a 5% de significancia. Nd = não detectado. Das 30 estirpes isoladas, apenas sete foram isoladas da parte aérea da planta. Este fato demonstra que a maior população de bactérias diazotróficas são encontradas nas raízes. Nas condições testadas os isolados similares ao gênero Herbaspirillum sp, obtiveram valores de ARA entre 0,6196 a 1,2949 nmolC2H4/h/mg de proteína. Já os similares ao gênero Azospirillum os valores variaram entre 0,013 a 4,354 nmolC2H4/h/mg de proteína. Das estirpes similares ao gênero Hesbaspirillum sp, destacaram-se os isolados J06, J08 e J10. Entre os similares ao gênero Azospirillum sp, a estirpe N15 apresentou a maior ARA em comparação com as outras bactérias. Os isolados N4, N7, N8, N9 e N13 foram inferiores a N15, entretanto superiores as demais. A N15 apresentou o maior potencial para contribuição de FBN em condições in vitro. Estudando a capacidade da ARA de bactérias isoladas de plantas de milho PEDRINHO (2009), obteve valores de ARA entre 0,1 a 0,64 nmol C2H4 cultura-1h-1, de bactérias dos gêneros Pseudomonas sp, Herbaspirillum sp, Burkholderia sp e Sphingomonas sp. É comum notar na literatura uma grande variabilidade na atividade da enzima nitrogenase pela técnica da ARA. Uma vez que, essa técnica possui uma metodologia simples e apresenta uma alta sensibilidade para detectar a atividade da enzima nitrogenase, representando assim um forte indício da contribuição da FBN para os vegetais. As bactérias isoladas neste trabalho por serem nativas podem apresentar maior interação com as plantas de milho cultivadas in loco, permitindo maior contribuição da FBN para a cultura. Quanto a AIA, nas condições testadas todos os isolados foram capazes de produzir ácido indol acético, pelo método colorimétrico de Salkowski. A produção de AIA dos isolados similares ao gênero Herbaspirillum sp, variaram entre 0,269 a 11,246 μg AIA mg proteína-1. Entre os isolados similares ao gênero Azospirillum sp., os valores variaram entre 1,234 a 15,649 μg AIA mg proteína-1. Os isolados N11 e N13 e a estirpe padrão Herbaspirillum seropedicae ZAE94 foram superiores as demais. As estirpes N14, J8 e J9 foram inferiores a N13 e ZAE94, entretanto superiores as demais. Estes resultados demonstram a importância de isolar novas estirpes em ambientes novos, possibilitando a descoberta de isolados que apresentem potencial para inoculação nas culturas anuais. A espécie H.seropedicae estirpe ZAE94 foi testada em vários ambientes e culturas, apresentando resultados promissores para produção de inoculante comercial. Dentre as diversas espécies de Bactérias diazotróficas, Herbaspirillum seropedicae trouxe nova dimensão aos estudos das associações dos microrganismos com as plantas não leguminosas, já que tem maior especificidade de interação com as plantas, uma vez que são endófitos obrigatórios com baixa sobrevivência no solo (Baldani et al. 1987). Nesse sentido, a estirpe N13 e J10 que apresentam alta taxa de AIA e ARA, respectivamente, podem possibilitar resultados promissores na cultura do milho. O AIA é essencial para promover a divisão das células meristemáticas na parte aérea e nas raízes, favorecendo o crescimento da planta. Nenhuma das estirpes isoladas apresentaram habilidade para solubilizar fosfato. CONCLUSÕES No isolamento foram obtidos 30 isolados diazotróficos provavelmente pertencentes aos gêneros ou espécies de Herbaspirillum e Azospirillum, e apresentaram portencial diferenciado nas variáveis testadas. Dentre os isolados obtidos as estirpes N15, N13 e J10 demostraram resultados promissores, com potencial para serem utilizadas na inoculação de plantas de milho. AGRADECIMENTOS A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – (UESB), ao Programa de Pós-Graduação da Agronomia, a UESB pela concessão da bolsa e a Embrapa Agrobiologia pelo apoio no desenvolvimento desse trabalho de pesquisa. REFERÊNCIAS BALDANI, V.L.D., Baldani, J.I. and Döbereiner, J. 1987. Inoculation of field-grown wheat (Triticum aestivum) with Azospirillum spp. in Brasil. Biology and Fertility of Soils, Berlin 4:37-40. BODDEY, R.M. 1987. Methods for quantification of nitrogen fixation associated with graminae. CRC Criticas Rewiews in Plant Science, Boca Raton 6:209-266. BRADFORD, M.M. 1976. A rapid and sensitive for the quantitation de microgram quantities of protein utilizing the principle of protein-dye binding. Analytical Biochemistry 72(1): 248-254. BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Normais climatológicas. 1961-1990. Brasília: MA/SNI/INMET, 1992. 84 p. DÖBEREINER, J., BALDANI, V.L.D., BALDANI, J.I. 1995. Como isolar e identificar bacterias diazotróficas de plantas não-leguminosas. EMBRAPA: Brasília. 60p. FERREIRA, D. F. Análises estatísticas por meio do Sisvar para Windows versão 5.0. In:45ª Reunião Anual da Região Brasileira da Sociedade Internacional de Biometria. UFSCar, São Carlos, SP, 2003. p.255-258. MOREIRA, F.M.S., SILVA, K., NÓBREGA, R.S.A., CARVALHO, F. 2010. Bactérias diazotróficas associativas: diversidade, ecologia e potencial de aplicações. Comunicata Scientiae 1(2):74-99. NAUTIYAL, C.S. 1999. An efficient microbiological growth médium for screening phosphate solubilizing microorganisms. FEMS Microbiology Letters 170:265-270. PEDRINHO, E. A. N. Isolamento e caracterização de bactérias promotoras de crescimento em milho (Zea mays). 2009. 74 f. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. Jaboticabal. ROESCH, L.F.W., Passaglia, L.M.P., Bento, F.M., Triplett, E.W., Camargo, F.A.O. 2007. Diversidade de bacterias diazotróficas endofíticas associadas a plantas de milho. Revista Brasileira de Ciência do Solo 31:1367-1380. SARWAR, M., Kremer, R.J. Enhanced suppression of plant growth through production of LTryptophan-derived compounds by deleterious rhizobacteria. Plant and Soil 172(2):261269.