UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO EVELYN VODOVOZ FACOEMULSIFICAÇÃO PARA CORREÇÃO DE CATARATA SEGUIDA DE IMPLANTE DA LENTE INTRAOCULAR Acri-Lens® VetH 41D – RELATO DE CASO CURITIBA- PR 2009 EVELYN VODOVOZ FACOEMULSIFICAÇÃO PARA CORREÇÃO DE CATARATA SEGUIDA DE IMPLANTE DA LENTE INTRAOCULAR Acri-Lens® VetH 41DRELATO DE CASO Monografia apresentada a Universidade Federal Rural do SemiÁrido – UFERSA, Departamento de Ciências Animais para obtenção do título de especialista em Clínica Médica de Pequenos Animais. Orientador: Prof. Dr. João Alfredo Kleiner CURITIBA-PR 2009 Resumo A catarata é definida como qualquer opacidade lenticular e pode estar localizada no córtex, no núcleo ou na cápsula do cristalino. Dentre as causas principais pode-se destacar a senilidade, traumas, anomalias congênitas, fatores genéticos, toxinas, radiações, outras doenças oculares e doenças sistêmicas. O diagnóstico da catarata é feito através de um bom exame oftálmico e seu tratamento é unicamente cirúrgico. Com o advento da facoemulsificação e do implante de lentes intraoculares dobráveis, a cirurgia de catarata evoluiu muito e seus resultados tornaram- se muito melhores, principalmente com a recuperação da acuidade visual dos pacientes. Este trabalho tem como objetivo descrever os resultados obtidos em um cão da raça Coker Spaniel que foi submetida a cirurgia da catarata com facoemulsificação seguida de um implante de uma lente artificial dobrável, a Acri-Lens VetH de 41D. Palavras- chave: Cães, catarata, facoemulsificação, lente intraocular. Abstract Catarct is defined as any opacity and it can be localized in cortical, nuclear or capsular region of the cristalin. Among the mainly causes one can point out aging, trauma, congenital anomalies, genetic factors, toxins, radiation, other ocular diseases or systemic diseases. The diagnostic is made by good ophthalmic exam and the only treatment is only surgery. With the advent of phacoemulsification followed by a foldable intraocular lens implant the cataract surgery evoldved very much and its results became much better, mainly pertaining to restore the visual acuity. This article intends to describe the results achieved in a Cocker Spaniel that underwent cataract surgery by phacoemulsification followed by an intraocular foldable lens implant. (Acri-Lens VetH 41D). Keywords: Dogs, cataract, phacoemulsification, intraocular lenses. Lista de Figuras Figura 1: Catarata madura em olho de cão da raça Schnauzer............................................31 Figura 2: Emulsificação do núcleo opaco.......................................................................41 Figura 3: Visão de um cão após facoemulsificação e sem implante de lente intraocular. Boa visão de longe e sem detalhes (hipermetropia)............................................42 Figura 4: Visão de um cão normal e após o implante de uma lente intra- ocular. A cor azul é distinta e o vermelho e verde tentem a se confundir.............................................43 Figura 5: Lente Acrílica dobrável de 40D implantada em um cão da raça Schnauz .......43 Figura 6: Acri-Lens® VetH ............................................................................................48 Figura 7: Figura ilustrativa da lente Acri-Lens® VetH mostrando sua anatomia..........48 Figura 8: Pré-operatório da cirurgia (pupila dilatada). Reparar a opacidade do cristalino com catarata.....................................................................................................................49 Figura 9: Lente intra- ocular acrílica sendo implantada..................................................49 Figura10: Imagem imediatamente após implante da lente Acri-Lens® VetH................50 SUMÁRIO RESUMO..........................................................................................................................2 ABSTRACT.....................................................................................................................3 LISTA DE FIGURAS.....................................................................................................4 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................7 2 REVISÃO DE LITERATURA...........................................................................8 2.1 HISTÓRIA DA CATARATA.............................................................................8 2.2 ANATOMIA.......................................................................................................11 3 CATARATA..........................................................................................................14 3.1 CLASSIFICAÇÃO..............................................................................................16 3.1.1 Idade de Início..................................................................................................16 3.1.1.1 Anomalias Congênitas...................................................................................16 3.1.1.2 Catarata Hereditária Congênita.....................................................................17 3.1.1.3 Catarata Evolutiva Hereditária......................................................................18 3.1.1.4 Catarata Hereditária.......................................................................................18 3.1.1.5 Catarata Senil (início tardio)..........................................................................22 3.1.2 Cataratas Adquiridas........................................................................................23 3.1.2.1 Catarata Traumática......................................................................................23 3.1.2.2 Catarata Tóxica.............................................................................................24 3.1.2.3 Catarata Secundária a Outras Doenças Oculares..........................................25 3.1.2.4 Catarata Secundária a Doença Sistêmica......................................................26 3.1.3 Classificação de Acordo com a Localização....................................................27 3.1.3.1 Catarata Nuclear............................................................................................27 3.1.3.2 Catarata Capsular...........................................................................................28 3.1.3.3 Catarata Subcapsular.....................................................................................28 3.1.3.4 Catarata Cortical............................................................................................29 3.1.4 Estágios de Desenvolvimento...........................................................................30 3.1.4.1 Incipiente.......................................................................................................30 3.1.4.2 Imatura...........................................................................................................30 3.1.4.3 Madura...........................................................................................................30 3.1.4.4 Hipermatura...................................................................................................31 3.1.4.5 Reabsorvente.................................................................................................32 4 SINAIS CLÍNICOS E DIAGNÓSTICO ............................................................33 5 TRATAMENTO...................................................................................................34 5.1 MEDICAMENTOS PRÉ- OPERATÓRIOS .....................................................36 5.2 MEDICAMENTOS PÓS- OPERATORIOS......................................................37 6 SELEÇÃO DO PACIENTE................................................................................39 7 A CIRURGIA PARA REMOÇÃO DA CATARATA......................................40 8 LENTES INTRA- OCULARES.........................................................................42 9 RELATO DE CASO...........................................................................................44 10 MATERIAL E MÉTODOS..............................................................................45 11 DISCUSSÃO......................................................................................................47 12 CONCLUSÃO...................................................................................................51 REFERÊNCIAS.............................................................................................................53 1 INTRODUÇÃO A catarata é uma das alterações oculares mais comuns na oftalmologia veterinária. Com o aumento da expectativa de vida de cães e gatos, cada vez mais aparecerão animais, principalmente cães, com catarata na rotina do clínico veterinário. O único tratamento para a catarata é a cirurgia corretiva e a melhor técnica é através da facoemulsificação. Os proprietários devem estar conscientes que o quanto antes realizada a cirurgia de catarata utilizando-se a facoemulsificação maiores são as chances de um resultado muito bom e maiores as chances da realização do implante de uma lente artificial. O cão afácico (sem cristalino) que passou pela cirurgia corretiva da catarata, enxerga bem de longe e pouco de perto, mas recupera bem sua visão funcional e tem grande melhora na qualidade de vida. A falta do cristalino resulta em alta hipermetropia (14 D), a visão fica fora de foco e com estereoscopia (visão 3D) prejudicada. A correção pode ser feita com a utilização de lente intra-ocular (LIO). O implante de lentes intra-oculares em animais é um grande diferencial na cirurgia de catarata, porque melhoram muito a visão de perto e o detalhe da imagem obtida e é por isso que hoje existe a preocupação do estudo de novas tecnologias para o aperfeiçoamento das lentes intra-oculares implantadas em cães. O uso do facoemulsificador foi uma grande revolução nas cirurgias de catarata, pois requer uma incisão menor, envolve um período encurtado, menor manipulação no interior do globo ocular e mantém a câmara anterior, proporcionando maior êxito em comparação com a técnica de extração extracapsular a céu aberto. O desconforto pósoperatório é mínimo, as inflamações mais discretas e o sucesso cirúrgico chegam a mais de 95% dos casos. Este trabalho tem como objetivo estudar um novo modelo de lente intra-ocular desenvolvida especialmente para cães. Serão discutidas as vantagens do uso da lente intra-ocular com superfície heparinizada, assim como as características e a forma como a heparina ajuda na prevenção de complicações pós-cirúrgicas. 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 A HISTORIA DA CIRURGIA DA CATARATA A história da cirurgia da catarata apresenta um curso circular, pois à medida que algumas técnicas iam sendo abandonadas, novas técnicas com detalhes e materiais novos iam sendo usadas. O deslocamento do cristalino para câmara vítrea foi uma técnica usada por muito tempo, há mais de 3000 anos, e teve inicio na Índia, mas infelizmente muitos dos relatos antigos se perderam ou encontraram-se incompletos. Até a data de 1515, quando Vesalius confirmou a função da retina e Francisco Manrolycus estabeleceu a função óptica do cristalino, acreditava-se que a catarata era uma doença semelhante ao glaucoma, pois aparentemente ambas levavam à cegueira e ao “embranquecimento do olho”. Em 1650 Rolfinck descreveu a catarata com sendo a opacidade do cristalino. O primeiro a empregar o método de sucção para remoção da catarata foi o grego Antyllos, no século III. As técnicas mais bem aceitas eram a de luxação do cristalino para a câmara vítrea e a fragmentação do mesmo, para posterior reabsorção pelo próprio organismo. As duas eram realizadas sem amplas aberturas do olho. Só em 1750, o cirurgião francês Jacques Daviel realizou, com sucesso, a primeira extração extracapsular planejada. Mas esta técnica foi abandonada devido às difíceis técnicas impostas pelo procedimento na época. As cirurgias que eram feitas abrindo o olho, apesar de não bem aceitas por muitos cirurgiões, deram início a uma nova era do tratamento da catarata. Esta técnica só ganhou força na metade do século XIX, quando foi introduzida a anestesia geral. Isto facilitou a tolerância do paciente à operação, possibilitando uma manipulação do olho pelo cirurgião. Além disso, em 1884, Carl Koller descobriu o efeito anestésico local da cocaína. Com a revolução dos materiais e substâncias, no início do século XX foram melhoradas as técnicas de ecinesia do olho. Em 1928, Anton Elsching, pela primeira vez propôs a técnica de injeção retrobulbar de anestésico para imobilizar e anestesiar o globo ocular. Van Lint, em 1914, já havia conseguido imobilizar o músculo orbicular, injetando anestésico diretamente nas fibras musculares. O segundo grande avanço foi a introdução de suturas para o fechamento da ferida. Henry Willard Williams foi o primeiro a reportar esta técnica, ao suturar o limbo usando uma agulha de costura e um fio fino de seda. Por este material ser muito grosseiro, esta técnica foi deixada de lado por mais trinta anos. Mais tarde, em 1894, o francês Jean Eugène Kalt reintroduziu a técnica de sutura córneo-escleral, utilizando agulhas e fios mais bem adaptados aos interesses oftalmológicos. O terceiro avanço foi quando Albrecht von Graefe, propôs em 1864, a abertura do olho através da incisão limbal periférica. Isto proporcionou uma incisão menor, mais eficiente e que protegia mais o olho, reduzindo drasticamente a incidência de endoftalmite. Entre a primeira e a segunda guerra mundial, a técnica intracapsular voltou a ganhar projeção, desbancando a extracapsular e tornando-se o método de escolha para o tratamento da catarata. Como não havia microscópio, era muito difícil remover todo o córtex lenticular na técnica extracapsular e este córtex residual provocava uma grande reação inflamatória, que poderia culminar na perda total ou parcial da visão e não era incomum a opacidade da cápsula posterior devido aos restos corticais. Por outro lado, a técnica intracapsular, por remover todo o cristalino juntamente com sua cápsula, não era susceptível a estes tipos de complicações. Na cirurgia extracapsular o cirurgião deveria ter muita habilidade e treinamento, e a perda vítrea inadvertida era considerada uma complicação grave da cirurgia. Então, os cirurgiões pouco habilidosos conseguiam mais sucesso com a técnica intracapsular. No início do século XX, a facectomia intracapsular era o método de escolha para o tratamento da catarata. Foram alcançados grandes avanços médicos durante metade do século XX, em decorrência da Segunda Guerra Mundial e o primeiro avanço foi a introdução da microcirurgia. Em 1950 Harms e Barraquer modificaram os microscópios, adaptando-os para o uso oftalmológico. Em 1958 Joaquim Barraquer descreveu uma enzima pra desfazer a zônula e em 1961, o polonês T. Krwawicz propôs a crioextração. Ambas facilitaram a remoção do cristalino e contribuíram bastante com a melhoria dos resultados cirúrgicos. A partir de 1960, a cirurgia extracapsular voltou a ganhar força e o primeiro, e talvez o mais importante passo para que isto acontecesse, foi o desenvolvimento e a implantação de uma lente intra-ocular, pela primeira vez, em 1949, feita por Harold Ridley. As primeiras lentes eram grandes e pesadas, causando muitas complicações. Cerca de dez anos depois, Cornelius Birkhorst conseguiu desenvolver, a partir do modelo de Ridley, uma lente melhor adaptada ao olho humano. Birkhorst não só aprimorou a lente intra-ocular de Ridley, como também determinou que a melhor técnica cirúrgica para o implante da lente seria a extracapsular, por preservar a cápsula posterior, permitindo o posicionamento ideal da lente dentro do saco capsular. Em 1965, Charles Kelman sugeriu que o equipamento de ultra-som utilizado pelos dentistas poderia ser adaptado para fragmentar o cristalino, diminuindo o tamanho da incisão cirúrgica. Dois anos depois, Kelman apresentou o aparelho de facoemulsificação. Com este aparelho seria diminuído o tamanho da incisão, o cirurgião trabalharia em um sistema fechado e evitaria a exposição excessiva do interior do globo. A primeira cirurgia em olho humano demorou cerca de três horas, o equipamento era grande, pouco eficiente, de difícil controle e extremamente pesado, por isso esta técnica foi muito criticada. O progresso tecnológico, as novas técnicas cirúrgicas (principalmente a abertura da cápsula anterior por meio de uma incisão curvilínea contínua, a capsulorréxis) e o desenvolvimento de lentes intra-oculares dobráveis possibilitaram o desenvolvimento da moderna cirurgia de facoemulsificação. Hoje em dia os resultados obtidos são muito gratificantes e o sucesso cirúrgico chega a mais de 97% dos casos. As incisões tornam-se cada vez menores, diminuindo assim o astigmatismo residual. Existem diferentes formatos, poder refrativo e materiais que constituem as modernas lentes e estas podem ser feitas de acordo com a necessidade e característica de cada paciente. Deve-se levar em consideração também o grande avanço que os aparelhos de facoemulsificação apresentam hoje em dia, com recursos avançados permitindo uma cirurgia mais rápida e com menos complicações. 2.2 ANATOMIA A lente é uma estrutura transparente de origem ectodermal, biconvexa, em constante crescimento durante a vida, através da formação de novas fibras pelo alongamento das células epidermais equatoriais. As fibras velhas formam o núcleo, enquanto o córtex consiste de células jovens (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). A lente é avascular, impedindo reações inflamatórias típicas (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). Sua superfície anterior é mais plana e menos curva que a posterior. Os centros das superfícies se denominam pólos anterior e posterior. As fibras das lentes se encontram nestes pólos, nos cães formam um Y em pé anteriormente e um Y invertido posteriormente (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). A circunferência cilíndrica é o equador, que tem numerosas irregularidades onde se aderem as fibras zonulares (SLATTER, 1992). O cristalino do cão e do gato normal é composto de uma cápsula externa, células epiteliais por baixo da cápsula anterior e fibras formadas pela migração de células epiteliais para o equador do cristalino, onde as células se alongam e criam um arranjo de fibras regular. O arranjo regular dessas fibras responde pela transparência do cristalino (BIRCHARD; SHERDING, 2003). O cristalino é posterior a íris, anterior ao humor vítreo (ao qual se fixa) e suspenso por zônulas (que surgem a partir do corpo ciliar e se fixam na cápsula do cristalino no equador) (BIRCHARD; SHERDING, 2003; KLEINER, 2007a). As alterações na tensão das fibras zonulares, mudam a superfície do cristalino e a potência óptica: é o fenômeno da acomodação. Durante a acomodação, a contração do músculo ciliar relaxa as zônulas, a elasticidade natural dos cristalóides faz com que a lente se torne mais esférica, aumenta o poder óptico e o sistema óptico é acomodado para ver objetos próximos. Os mecanismos que fazem acomodação nos animais domésticos são pouco desenvolvidos, tais como o músculo ciliar (SLATTER, 1992). A córnea é a superfície refringente mais importante no olho, que apresenta a maior parte do poder óptico (SLATTER, 1992). O cristalino está dividido em duas regiões generalizadas: o córtex (áreas externas perto da cápsula) e o núcleo (áreas centrais). À medida que o cristalino cresce durante toda a vida, produzem camadas de fibras na área equatorial que se depositam sobre a parte superior das restantes, formando as fibras mais antigas em direção ao centro do cristalino. Estas sucessivas capas são visíveis clinicamente e são designadas núcleos adulto, fetal e embrionário, respectivamente (SLATTER, 1992). O cristalóide é uma capa elástica transparente que está ao redor do cristalino. A lâmina da membrana basal do epitélio invertido forma as fibras lenticulares e está composta por fibras de colágeno e carboidratos complexos (SLATTER, 1992). A cápsula regula a formação do cristalino mediante a sua elasticidade e proporciona integração para as fibras zonulares. A cápsula do cristalino é impermeável às grandes moléculas (por exemplo, albumina, globulina), mas permite a passagem de água e eletrólitos. E devido à sua elasticidade, a penetração destas moléculas pela cápsula lenticular resulta na retração das suas bordas (SLATTER, 1992). Debaixo da cápsula anterior existem células epiteliais cubóides e no equador encontram-se células cilíndricas. O epitélio corneano no equador forma as fibras lenticulares novas. Devido à atividade mitótica desta área, as células são suscetíveis às influências tóxicas e patológicas, que pode se mostrar como opacidades equatoriais. O epitélio lenticular é importante no transporte de cátions através dos cristalóides (SLATTER, 1992). As células lenticulares compõem a sustentação do córtex e se dispõem em estratos interdigitados unidos entre si por semento. As células velhas (núcleo) são mais densas e menos transparentes que as mais jovens (córtex) depositadas ao seu redor. O cristalino é sustentado pelas zônulas ou ligamentos zonulares e pelo humor vítreo, situando-se em uma depressão chamada fossa hialóidea. As fibras de colágeno desde o corpo vítreo se inserem nos cristalóides posteriores unindo os dois com firmeza. Nos seres humanos esta fixação se debilita com a idade e pode se romper mecanicamente com ajuda da α- quimotripsina (um processo conhecido como zonulólises, porque as zônulas são digeridas), de modo que o cristalino e a cápsula são removidas se ocorrer uma perda vítrea importante. Nos animais domésticos a fixação é muito mais firme e as tentativas de extrair o cristalóide posterior também causam a perda do corpo vítreo (SLATTER, 1992). O cristalino requer oxigênio e metabólitos para a manutenção e a produção contínua de células lenticulares e para a manutenção da elasticidade capsular e da transparência. A maior parte do oxigênio necessário vem do humor aquoso, ainda que esta demanda seja reduzida e consumida pelas células corticais e o epitélio anterior. O metabolismo da glicose confere grande parte da energia requerida pelo cristalino. Quase toda a glicose é desdobrada anaerobicamente até ácido lático mediante a via de Embden-Meyerhof, ocorrendo certa glicólise aeróbica por intermédio do ciclo de ácido cítrico. A conversão da glicose em frutose pela via do sorbitol é significativa (SLATTER, 1992). O cristalino é rico em proteínas (35%) e água (65%) e pobre em minerais. A proporção de proteínas presentes varia com a espécie, idade e tamanho do cristalino (SLATTER, 1992). Sendo que o cristalino é avascular, seu metabolismo é precário e depende da composição constante do humor aquoso, os distúrbios em tal composição afetam o metabolismo lenticular (SLATTER, 1992). Como o cristalino está confinado dentro de uma cápsula e suspenso no humor aquoso, a gama de reações exibidas é muito ampla. O complicado metabolismo lenticular está orientado na preservação da transparência e esta gama de reações pode resultar em muitas alterações, causando degeneração e opacidade. A maioria das reações lenticulares caem dentro dos seguintes grupos: liberação de material do cristalino dentro do olho; trocas na posição do cristalino; perda da transparência (SLATTER, 1992). Depois de lesionado, o epitélio subcapsular é a única parte do cristalino que mostra uma atividade reparadora limitada. Quando a cápsula é perfurada, o orifício pode muitas vezes persistir e o líquido do humor aquoso entrar no cristalino. As fibras do cristalino ficam embebidas com este líquido, inchando e ficando opaco em poucas horas. Os orifícios minúsculos da região polar anterior podem se fechar com opacidade residual nos cães. Habitualmente, o material lenticular tumefado sobre digestão proteolítica, expondo mais substância do cristalino e finalmente aparecendo opacidade e inchaço (intumescência) (SLATTER, 1992). O material nuclear e cortical do cristalino pode alcançar o líquido do humor aquoso, quer através de liquefação e passagem através da cápsula ou por ruptura do cristalóide. Isto pode causar uma reação imune celular e humoral da úvea contra a proteína liberada e ingestão de material lenticular pelos macrófagos, os quais se ampliam e obstruem o ângulo de drenagem (glaucoma facolítico) (SLATTER, 1992). As alterações na posição do cristalino se denominam luxação (deslocação completa da fossa hialóidea) e subluxação (desprendimento parcial desde a fossa hialóidea) (SLATTER, 1992). 3 CATARATA Originário do grego, o termo catarata significa “água que cai”. Como um termo médico, catarata define toda opacidade não fisiológica das fibras da lente e/ou da cápsula, independentemente da etiologia (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001), resultante de alterações patológicas na composição protéica do cristalino ou uma destruição do arranjo de fibras lenticulares (BIRCHARD; SHERDING, 2003). A lente normal se encontra em estado desidratado. O núcleo do cristalino tem menos água que o córtex. Em muitos aspectos, a lente funciona como um medidor osmótico. A desidratação da lente depende da bomba íon água sódio que depende da energia do epitélio anterior da lente e das fibras da lente (GELATT, 1991). Nas lentes com catarata, os vários mecanismos químicos ficam danificados; estes eventos eventualmente progridem, resultando em hidratação do cristalino e prejudicando a transmissão de luz e imagem pela lente. Na formação da catarata, as proteínas insolúveis (normalmente por volta de 15%) aumentam por estarem associadas à morte das células da lente; as proteínas insolúveis (também denominadas albuminóides) aparecem primariamente nas células do núcleo, e as proteínas solúveis estão no córtex da lente (GELATT, 1991). As proteínas solúveis diminuem durante a formação da catarata, assinalando uma diminuição na síntese de proteína (GELATT, 1991). O transporte de água e eletrólitos ou o sistema da bomba, na formação da catarata é defeituosa. A bomba excretora do íon Na+ é energia dependente; com a má formação e morte do epitélio anterior da lente e fibras da lente, aumenta o sódio e íons de potássio são perdidos, os quais regulam a hidratação da lente (GELATT, 1991). Com as desintegrações graduais dos eventos bioquímicos da lente, durante a formação da catarata, outros caminhos como de eletrólitos, glicose e lipídio, ficam afetados. Muitas enzimas mostram decréscimo na atividade, enquanto as enzimas hidrolíticas aumentam suas funções. Com retenção de sódio e cálcio e diminuição na formação de junção de dissulfito (S-S), as proteínas da lente aumentam sua turbidez e insolubilidade. A glicosidase hidrolítica quebra as células da membrana e as proteases que quebram as proteínas da lente podem aumentar. Com essa quebra generalizada no metabolismo do cristalino, e perda de ATP da lente, a hidratação da lente resulta no estágio final de catarata osmótica opaca (GELATT, 1991). A catarata hereditária trata-se da causa mais comum de catarata em cães. A localização, a progressão e o modo de herança da catarata variam entre as raças. A maioria das cataratas herdadas é bilateral, mas é frequentemente assimétrica em inicio e progressão (BIRCHARD; SHERDING, 2003). As cataratas são causadas por alguns fatores como: anormalidades congênitas, fatores genéticos, toxinas, radiação, trauma, outras doenças oculares, doenças sistêmicas e senilidade (GELATT, 1991). As cataratas originadas por uveítes são comuns em gatos. Como o cristalino necessita dos humores aquoso e vítreo para nutrição e remoção de resíduos metabólicos, uma inflamação intra-ocular pode resultar em opacidades capsulares e corticais. Uma sinéquia posterior decorrente de uveíte anterior pode resultar em catarata capsular anterior (BIRCHARD; SHERDING, 2003). Cataratas desenvolvidas depois da oitava semana de vida são chamadas evolutivas. Catarata senil pode ocorrer em cães de idade, mas não pode ser confundida com esclerose nuclear, uma alteração normal devido a senilidade (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). 3.1 CLASSIFICAÇÃO A catarata pode ser classificada através de vários métodos incluindo idade de aparecimento, localização, grau de maturação e causas. Cada método tem suas vantagens e limitações; frequentemente todos podem ser usados simultaneamente para descrever a catarata. A classificação da catarata pode predizer a associação da perda de visão e progressão da catarata. Múltiplos métodos de classificação podem prover uma descrição mais precisa da catarata. Por exemplo: Catarata equatorial evolutiva cortical em Afegan Hound e poodle Standard, pode representar uma anormalidade hereditária destas raças (GELATT, 1991). 3.1.1 Idade de início As cataratas são classificadas pela idade de início da opacidade. Tradicionalmente se dividem em congênita (presente no nascimento ou logo depois), evolutiva (juvenil, adulto ou primário) e tipo senil. A idade de início é uma característica importante das cataratas hereditárias em algumas raças de cães. Quando identificada, pode ser usada clinicamente para diagnóstico destes tipos de catarata (GELATT, 1991). 3.1.1.1 Anomalias Congênitas O desenvolvimento do cristalino ocorre cedo na embriogênese e está completo no trigésimo dia gestacional. Qualquer anormalidade genética que afeta o desenvolvimento do cristalino ou afecções ocorridas durante o início da gestação do feto (incluindo lesões infecciosas, nutricionais, químicas ou relacionadas com drogas) podem resultar em anomalias lenticulares congênitas (BIRCHARD- SHERDING, 2003; GELATT, 1991). Essas anomalias se associam frequentemente com outras anomalias oculares congênitas [incluindo microftalmia (globo ocular pequeno), persistência de membranas pupilares, persistência de artéria hialóide, displasia retineana, descolamento de retina, coloboma/estafiloma posterior e hipoplasia de nervo óptico]. (BIRCHARDSHERDING, 2003; GELATT, 1991). Quando o crescimento da lente é interrompido temporariamente em um estágio inicial de seu desenvolvimento, durante a formação primária das fibras, a catarata resultante é nuclear em posição e geralmente não progressiva. A maioria das cataratas congênitas é bilateral (GELATT, 1991). 3.1.1.2 Catarata Hereditária Congênita Na catarata hereditária congênita o núcleo e córtex perinuclear são os mais afetados. Cataratas congênitas restritas ao núcleo são geralmente não progressivas: envolvimento cortical é um sinal de prognóstico ruim. Cataratas congênitas primárias não associadas a defeitos de formações do olho podem ser encontradas em raças como Satffordshire Bull Terrier, no West highland White Terrier e no Boston Terrier (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). Catarata congênita associada à microftalmia é diagnosticada, entre outras, no Schnauzer Miniatura, Cocker Spaniel Inglês, Cavalier King Charles Spaniel, West highland White Terrier e Old English Sheepdog. No Cavalier King Charles Spaniel, catarata congênita frequentemente ocorre em combinação com lenticonus ou lentiglobus. (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). Além da catarata no Schnauzer Miniatura, que é herdado de um autossomo recessivo, a forma de herança não foi estabelecida (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). É importante notar que nem todas as cataratas congênitas são herdadas (GELATT, 1991; PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). 3.1.1.3 Catarata Evolutiva Hereditária Cataratas evolutivas (juvenil ou adulta) são aquelas que se desenvolvem nos primeiros anos de vida. Assim como na catarata congênita, esta tem várias causas. Cataratas evolutivas podem ser hereditárias, assim como no Afegan Hound, no qual opacidades equatoriais na lente ocorrem cedo, por volta dos quatro meses de vida, ou no Poodle Standard, no qual catarata equatorial se desenvolve antes dos dois anos de vida (GELATT, 1991). Outras causas não hereditárias de catarata evolutiva incluem trauma, diabetes, inflamação intra-ocular e tóxico (GELATT, 1991). A maioria das cataratas que se desenvolvem começam no córtex e podem progredir e envolver toda a lente, incluindo o núcleo. A velocidade de progressão varia, de apenas visível a mudanças rapidamente progressivas. A catarata triangular polar posterior visto no Golden Retriver e Labrador, assim como em outras raças incluindo Rottweilers e Sheepdog Bélgicos é considerada evolutiva se ocorrer depois dos seis meses de idade na maioria dos cães. A lista das raças provadas ou suspeitas de herdar catarata evolutiva é longa, com variações locais (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). 3.1.1.4 Catarata Hereditária Cataratas hereditárias primárias são as cataratas mais comumente encontradas em cães; elas têm sido descritas em várias raças de cães e a lista está crescendo continuamente. Dependendo da genética de cada país, a incidência da catarata hereditária ligada às raças pode ser diferente significativamente. Catarata hereditária é de longe mais rara em gatos, mas são suspeitos em Persas, Birman e himalaias (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). Cataratas hereditárias podem ser congênitas ou desenvolvidas. Pode ser difícil de determinar se uma catarata é considerada hereditária ou não (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). Entretanto, a maioria dos critérios a seguir que são encontrados em conjunto com um animal afetado, levará, provavelmente a característica de catarata hereditária: ∙catarata hereditária é previamente descrito na raça; ∙a catarata ocorre bilateralmente; ∙a idade quando aparece e a localização das mudanças lenticulares correspondem ao descrito naquela raça; ∙a catarata é progressiva, apesar de lenta em alguns casos. O problema surge quando uma forma suspeita de catarata congênita é diagnosticada em uma raça “nova”. Avaliação dos pais e dos filhotes deve ser realizada para posterior análise e relato do caso (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). A catarata hereditária em cães pode ser dividida em três categorias: cataratas hereditárias não associadas a outras doenças oculares; catarata associada a atrofia retinal progressiva; e cataratas associadas a múltiplos defeitos oculares. A primeira afeta várias raças de cães. No Schnauzer Miniatura dois tipos de catarata hereditária acontece; as duas são hereditárias por um gene simples autossomal recessivo. No primeiro tipo, a catarata congênita é manifestada no nascimento e envolve o núcleo e, em uma pequena porção, o córtex posterior; microftalmia ocorre concomitantemente. A progressão da catarata é variável e relacionada ao envolvimento dos córtex posterior e equatorial. A maioria das mudanças lenticulares progride para catarata madura dentro de poucos anos. No segundo tipo de catarata hereditária em Schnauzer Miniatura, a catarata é vista em filhotes com várias semanas de idade e primariamente envolve o córtex posterior (GELATT, 1991). Assim como no Schnauzer Miniatura, o Staffordshire Bull Terrier e Boston Terrier também têm catarata hereditária que é evidenciada em poucos meses depois do nascimento, afetando núcleo e córtex posterior, geralmente progride para maduro e não é associada com microftalmia. Nestas três raças estas cataratas primárias são hereditárias transmitidas por um gene autossomo recessivo (GELATT, 1991). O Golden Retriver desenvolve catarata posterior subcapsular assim como catarata cortical completa. A maioria destas cataratas aparece como opacidades triangulares subcapsulares no pólo posterior da lente (GELATT, 1991). Cataratas posteriores subcapsulares tendem a permanecer focais na maioria dos pacientes; elas não são aparentes para o dono, e normalmente não leva a cegueira. Imagina-se que a catarata do Golden Retriver é transmitida por um traço dominante e que aqueles cães com catarata triangular são heterozigotos, considerando que aqueles com catarata madura são homozigotos, apesar de nenhuma comprovação ter sido relatada. O Labrador Retriver também desenvolve catarata polar posterior e catarata cortical que é muito similar àquela que ocorre no Golden Retriver. A forma de herança parece ser um traço dominante (GELATT, 1991). O Cocker Spaniel Americano desenvolve catarata hereditária, a forma de herança é suspeita de ser autossomal recessiva, apesar de que a herança poligenética possa ser possível. Neste caso a catarata tende a afetar os córtex anterior e posterior e se tornar aparente em poucos anos. A taxa de progressão é variável; existe uma tendência à rápida progressão a maturidade em cães jovens (GELATT, 1991). Uma catarata equatorial familiar ocorre em Afghan Hound. Mudanças iniciais ocorrem como vacúolos no equador da lente. Elas são desenvolvidas em Afghan Hound jovens entre quatro meses a dois anos. Progressão é bastante rápida; diminuição da visão pode ocorrer com dois anos de idade. Evidências de transmissão autossomal recessiva da catarata, têm sido apoiadas pelos resultados de testes de reprodução (GELATT, 1991). Cataratas equatoriais são observadas em famílias de Poodle Standard. A catarata inicialmente afeta o equador da lente em uma idade muito jovem e progride para afetar a visão em seis a dezoito meses. Acredita-se que a catarata do Poodle Standard é transmitida por um fator autossomal recessivo (GELATT, 1991). Um segundo tipo de catarata hereditária afeta o Boston Terrier. Opacidades da lente envolvendo o equador e córtex anterior, podem ser detectadas em cães com três a quatro anos de idade. Afeta o Boston Terrrier bilateralmente, mas não necessariamente simetricamente, a progressão desta catarata é freqüentemente lenta (GELATT, 1991). Catarata equatorial e subcapsular ocorrem no Husky Siberiano. Estas cataratas ocorrem em cães antes dos seis a dezoito meses e é normalmente de progressão lente. O modo de herança é provavelmente recessivo. Catarata hereditária também afeta o West Highland White Terrier e a raça Chow Chow. Nesta, a aparência da catarata é um pouco variável, envolvendo as regiões subcapsular anterior e posterior, o córtex anterior e posterior, o núcleo e o equador. Podem existir anormalidades adicionais em cães afetados, como entrópio, microftalmia, membrana pupilar persistente e displasia multifocal retinal (GELATT, 1991). A catarata é observada em associação a doenças retinianas, mas a relação exata entre mudanças lenticulares e doenças retinais não são conhecidas. A catarata pode ser uma desordem genética ou ser secundária a degeneração retinal e possibilitar mudanças no vítreo. Em ratos com degeneração retinal hereditária, a formação da catarata pode ser iniciada por produtos tóxicos geradas pela oxidação de um lipídio poliinsaturado. O Labrador Retriver e o Poodle miniatura e toy são essas raças que alterações por cataratas, muito frequentemente, acompanha doença retiniana hereditária (GELATT, 1991). Em Poodle Miniatura, Cocker Spaniel Inglês, Tibetan Terrier, e Setter Irlandês com atrofia retinal progressiva, formação de catarata bilateral afetando os cortes posterior e anterior nas regiões axial e equatorial pode ser rapidamente progressiva (GELATT, 1991). Nos Labrador Retrivers atrofia retinal progressiva central (CPRA) ou distrofia retiniana do epitélio pigmentar, catarata cortical ocorre concomitantemente com frequência. CPRA tende a ocorrer em cães maduros; o modo de herança pode ser dominante com penetrância incompleta. A exata relação entre as alterações de cataratas e a degeneração retinal não é conhecida (GELATT, 1991). Muitas raças de cães com catarata congênita manifestam concomitantemente defeitos oculares múltiplos, particularmente microftalmia e displasia retinal. Springer Spaniels Inglês, Bedlington Terrier e Labrador Retrivers com displasia retinal e também microftalmia normalmente tem catarata cortical bilateral. Formação de catarata congênita associada com múltiplas doenças oculares, representa defeitos desenvolvidos, às vezes hereditário, que frequentemente resultam em cegueira se a catarata for completa ou parcial. No Cocker Spaniel vermelho a catarata bilateral congênita ocorre com membrana da pupila persistente, microftalmia, hipotonia e nistagmo. Estas cataratas são tipicamente anterior subcapsular e não progressiva. O modo exato de herança não é conhecido (GELATT, 1991). No Sheepdog Inglês, catarata nuclear bilateral e cortical são associados com descolamento retinal. Esta raça pode desenvolver displasia retinal, anisocoria, catarata e microftalmia. Catarata congênita e microftalmia ocorrem em muitas raças; no Schnauzer Miniatura esta condição é hereditária por um fato autossomal recessivo; no Cocker Spaniel Inglês o modo de herança parece complexo (GELATT, 1991). 3.1.1.5 Catarata Senil (início tardio) Catarata senil é simplesmente associada com idade avançada, geralmente ocorrendo depois de seis anos de idade. Catarata senil ocorre menos frequentemente em cães do que em homens e afeta o núcleo e ocasionalmente o córtex (GELATT, 1991). Uma catarata cortical senil típica aparece em camadas equatoriais profundas com listras opacas se estendendo até o eixo como raios. A opacificação continua até que se apresentem áreas claras somente nas linhas de suturas Y do córtex. As áreas claras denominam fissuras de água dão ao cristalino uma aparência segmentada. Continuando a opacificação, as fissuras de água ficam delgadas e finalmente desaparecem. Quando o cristalino tem uma opacidade uniforme a catarata é madura. A opacificação cortical e a nuclear acontecem no mesmo momento (SLATTER, 1992). A catarata madura avança até perder líquido e reduzir de tamanho. Pode manterse firme durante vários anos antes de apresentar-se hipermatura: sinais de contração e desidratação ou de colapso nuclear (catarata morganiana). O encolhimento pode separar o cristalino de suas estruturas de fixação e causar luxação. A visão retorna na catarata de Morgagni, similar ao fenômeno comprovado na reabsorção de uma catarata juvenil, sempre que não seja intenso o dano ocular promovido pela uveíte facoanafilática. Os pacientes idosos (passada a idade em que se aconselha a extração da catarata) comumente toleram baixos níveis de uveítes, controlada mediante dexametasona tópica (uma a duas vezes por dia), durante intervalos prolongados com bastante comodidade (SLATTER, 1992). Esclerose nuclear, uma forma comum de alteração lenticular, é presente em quantidade variável, em muitos cães acima de seis anos de idade. A esclerose nuclear é considerada uma alteração pela idade normal associada a compressão das fibras epiteliais da lente, pelo núcleo da lente (GELATT, 1991). Deve-se diferenciar a catarata da esclerose nuclear. A esclerose nuclear é uma névoa homogênea, bem definida e bilateralmente simétrica no centro do cristalino, observada em animal com mais de seis anos de idade. Não constitui uma opacidade verdadeira nem obstrui um exame com a pupila dilatada de fundo de olho ou causa prejuízo visual clinicamente importante (BIRCHARD; SHERDING, 2003). A diferenciação entre catarata e esclerose pode ser feita através de um bom exame oftálmico de fundo de olho. Na catarata existe uma perda de detalhe parcial ou total da retina devido ao bloqueio da luz pelas opacidades presentes e na esclerose não (KLEINER, 2008). 3.1.2 Cataratas Adquiridas 3.1.2.1 Catarata Traumática Um traumatismo rombudo intenso no olho pode resultar em formação de catarata ou pode ser secundária a inflamação e/ou luxação lenticulares (BIRCHARD; SHERDING, 2003). O trauma pode ser resultado de esmagamento, golpe de impacto por um automóvel (GELATT, 1991). Lesões permanentes que puncionam a cápsula lenticular anterior (por exemplo, lesões por garras de gato, estilhaços de arma de fogo, vidro, espinhos) resultam em cataratas focal ou difusa, dependendo da intensidade do trauma capsular (GELATT, 1991; BIRCHARD; SHERDING, 2003). Quando arrancada a cápsula anterior, podem ocorrer desintegração de muitos dos ligamentos zonulares ou todos (GELATT, 1991). A uveíte pode acontecer secundariamente a uma ruptura de cápsula lenticular (BIRCHARD; SHERDING, 2003). Quanto maior o envolvimento da cortical, a progressão da catarata também aumenta (GELATT, 1991). A catarata traumática pode se desenvolver como resultado de um trauma abrupto ou perfurante com ou sem ruptura da cápsula da lente. Pequena perfuração da cápsula pode cicatrizar com fibrina e sinéquia posterior, com conseqüente catarata não progressiva. Traumas abrupto ou perfurante maiores podem causar mudanças mais extensas, progredindo para catarata completa. A ruptura da cápsula da lente com liberação de proteínas (estranha para o sistema imune) dentro do humor aquoso normalmente resulta em resposta severa e uveíte intensa (GELATT, 1991; PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). A uveíte induzida pela lente é notada por vários estágios de dor, lacrimejamento, congestão conjuntival bulbar, miose, uveíte anterior, formação de sinéquia, pressão intraocular baixa, ou (ocasionalmente) glaucoma secundário (GELATT, 1991). Bom manejo da catarata traumática com ruptura capsular depende de diagnóstico precoce e tratamento vigoroso. Em alguns casos, a uveíte induzida pela lente pode ser tratada com medicamentos, com terapia midriática intensa (sulfato de atropina 1% e hidróxido de penilefrina 10% a cada hora antes que ocorra midríase, e então duas ou três vezes ao dia) combinado com corticoterapia tópico e sistêmico. Em casos mais severos com extrusão do material lenticular, uma intervenção cirúrgica para remoção da lente (extração intra-capsular) seguida de intensa terapia medicamentosa, é indicada (GELATT, 1991). 3.1.2.2 Catarata Tóxica Muitas substâncias podem causar catarata quando administradas sistemicamente. Estas incluem agentes mitóticos, enzimas inibitórias, sais de certos metais (talium, cobalto, selênio), certos hidrocarbonos ou subprodutos do hidrocarbono (como dinitropreno) (GELATT, 1991; PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). Altas voltagens do irradiação de orbitol, para neoplasias nasais e paranasais, pode também produzir catarata em cães (GELATT, 1991). A formação da catarata depois de longo tempo de tratamento com cetoconazol tem sido descrita (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). Algumas marcas comerciais de substitutos do leite produzem catarata em filhotes órfãos, apesar de esse tipo de catarata ser melhor classificada como tipo nutricional (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). As mudanças lenticulares são ligeiras a moderadas e consistem em vacuolização cortical posterior e equatorial. Proeminentes anéis na junção cortico nuclear são às vezes presentes e às vezes persistente na idade adulta (GELATT, 1991). Deficiência tanto de arginina quanto defenilanina tem sido sugerido como causa; suplementação destes aminoácidos pode causar regressão da catarata em lobos e ratos. Quando os filhotes afetados são desmamados e colocados em dieta completa. Os vacúolos corticais e as estrias desaparecem, mas a opacidade perinuclear proeminente permanece (GELATT, 1991). Diazóxido, um derivado benzodiazepínico não diurético usado em tratamento de emergência para hipertensão humana, tem produzido catarata em Beagles quando administrado em altas doses. As alterações lenticulares são passageiras e foram consideradas associadas com hiperglicemia (GELATT, 1991). 3.1.2.3 Catarata Secundária a Outras Doenças Oculares Em um grande número de outras doenças oculares, a catarata pode se desenvolver secundariamente. Atrofia progressiva da retina (PRA) em cães (em gatos não) geralmente resulta em catarata secundária, disfarçando a doença primária. Questionar o proprietário sobre o início, a visão de dia e em condições de pouca luz, assim como considerar a idade do cão e sua raça, é essencial para estabelecer o diagnóstico. A eletroretinografia (ERG) deve sempre ser analisada antes da cirurgia de catarata se for suspeito de uma doença na retina e a retina não puder ser avaliada oftalmoscopicamente (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). Uveítes, luxações de lente, e glaucoma frequentemente levam a formação de catarata, especialmente em gatos. Essas cataratas são causadas por uma alteração na composição do humor aquoso, o qual é responsável pela nutrição da lente (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). 3.1.2.4 Catarata Secundária a Doença Sistêmica Diabetes Melito é uma causa comum de catarata e a maioria dos medicamentos para diabetes, causa alterações na lente. A catarata é bilateral, rapidamente progressiva e envolve a lente inteira, devido ao desvio irreversível nos trajetos metabólicos (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001; BIRCHARD; SHERDING, 2003). Um achado típico na catarata por diabetes é uma notável linha lenticular ampla e clara (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). Provavelmente todos os cães diabéticos vão desenvolver catarata se acompanhados por um ano ou mais. O desenvolvimento das mudanças da catarata pode estar associada com alterações de certos fatores osmóticos (GELATT, 1991). Todos os pacientes que possivelmente tenham catarata são avaliados por uma elevação da glicose lacrimal com tiras reativas para urina prévia a instilação de midriáticos e anestésicos tópicos (deve haver resultados falsos negativos, mas não falsos positivos fortes). Todos os diabéticos clinicamente afetados requerem uma avaliação completa (hematológica, bioquímica e radiologia torácica) antes de tomar a decisão de extrair uma catarata (SLATTER, 1992). Em geral, os paciente diabéticos são bons candidatos cirúrgicos sempre que exibam um controle insulínico estável durante no mínimo três meses e não apresentem complicações maiores da diabete, como a cetoacidose e a insuficiência hepática ou renal. Isto é fundamental porque as drogas dadas antes e durante a cirurgia podem prejudicar este controle e causar glicosúria, necessitando continuar o uso de insulina em dose pré-operatória até que o paciente volte a se estabilizar (SLATTER, 1992). Todo cão de três anos ou mais com catarata que evolui com rapidez, deve ser questionado sobre Diabete Mellitus (SLATTER, 1992). A causa da catarata tem sido considerada o aumento da glicose no humor aquoso. O excesso de glicose é metabolizado pela via aldose redutase, resultando no aumento de sorbitol. O sorbitol age como um agente osmótico, puxando água para dentro das células da lente, causando então, inchaço das fibras e perda de transparência (GELATT, 1991; BIRCHARD- SHERDING, 2003). Excesso de glicose afeta diretamente também as proteínas da lente, alterando sua estrutura, o que causa uma luminosidade difusa atravessar a lente (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). No estágio inicial do desenvolvimento da catarata por diabetes, revelam-se vacúolos subepiteliais corticais no equador. Com rápida progressão, para madura, a lente com catarata intumescida pode desenvolver fissuras na lente anterior (GELATT, 1991). 3.1.3 Classificação de Acordo com a Localização A catarata é descrita de acordo com sua localização como nuclear, anterior ou posterior cortical ou subcapsular, equatorial ou capsular (PEIFFER JR.; PETERSENJONES, 2001). Pode-se localizar uma catarata focal como anterior ou posterior por meio de comparação da direção nasal/temporal do movimento da catarata com o olho. Uma catarata anterior se moverá na mesma direção que o globo ocular; logo, se o animal olhar temporalmente, uma opacidade anterior mover-se-á temporalmente e uma posterior mover-se-á nasalmente. Pela localização da catarata, pode-se ajudar a determinar se ela é hereditária ou prever sua progressão. Por exemplo, uma catarata nuclear é geralmente estática, enquanto uma catarata equatorial (onde se formam as fibras lenticulares novas) é geralmente progressiva (BIRCHARD; SHERDING, 2003). A catarata nuclear geralmente ocorre na forma congênita (PEIFFER JR.; PETERSENJONES, 2001). O processo da catarata pode ser confinado a uma simples área da lente e sua cápsula ou pode afetar toda a estrutura da lente GELATT, 1991). 3.1.3.1 Catarata Nuclear Catarata nuclear ocorre mais freqüentemente na forma congênita e pode ser hereditária ou associada a uma anormalidade sistêmica na loba quando ela está prenhe. Esta condição é geralmente bilateral, com mais de um filhote da ninhada afetado. Devido a sua posição, a catarata usualmente permanece estática ou até regride. Um significante enfraquecimento visual pode ocorrer se a opacidade for densa. Catarata nuclear congênita freqüentemente envolve o córtex (GELATT, 1991). 3.1.3.2 Catarata Capsular A cápsula da lente anterior está sujeita a laceração e lacrimejamento devido a corpos estranhos e traumas. Quando a cápsula está lacerada, esta tende a se curvar. As fibras lenticulares subjacentes podem sobrepor a lesão, inchando com fluido, e resultando em uma catarata focal que aumenta a proporção que mais fibras lenticulares são envolvidas. O resultado pode ser uma catarata completa ou focal. Lágrimas capsulares podem ser associadas com iridociclite, aderências focais da íris posterior (sinéquia posterior), o qual pode fechar o ferimento, resultando em catarata focal. Uma lesão na lente sem lacrimejamento, pode afetar a semipermeabilidade da cápsula, resultando no aumento de líquido e formação da catarata (GELATT, 1991). Depósito de pigmento na cápsula anterior da lente é freqüentemente associado a trauma externo, manipulação da íris durante cirurgia e inflamação intraocular severa. O depósito de pigmento não representa formação verdadeira de catarata, porque a lente pode estar clara, mas clinicamente isto pode afetar a visão, se for extenso (GELATT, 1991). Uma outra causa de depósito de pigmento na cápsula anterior da lente é membrana pupilar persistente (GELATT, 1991). 3.1.3.3 Catarata Subcapsular Imediatamente abaixo da cápsula anterior da lente existe uma exclusiva camada de células epiteliais se estendendo ao equador da lente. Estas células podem se proliferar se houver traumas ou lesões tóxicas, formando uma catarata subcapsular focal. Este epitélio pode proliferar posteriormente abaixo da cápsula posterior. Algumas células epiteliais podem se tornar distendidas e vesicular “células bexigas”. Estas células representam fracassadas tentativas de formação de fibras lenticulares (GELATT, 1991). O déficit visual com catarata subcapsular anterior depende do seu tamanho e posição; a catarata central (axial) resulta em uma perda maior do que a em posição periférica (GELATT, 1991). Catarata subcapsular posterior ocorre como hereditária em Schnauzer Miniatura e Beagle. A maioria das cataratas subcapsulares posteriores são axiais; a progressão é variável. Com envolvimento cortical associado, a progressão será mais rápida. Catarata subcapsular posterior pode ocorrer com vítreo hiperplásico primário e outros defeitos congênitos do segmento posterior (GELATT, 1991). 3.1.3.4 Catarata Cortical A catarata cortical em cães é comum. Em estágio inicial, são usualmente subdivididos em três áreas de envolvimento: cortical anterior, posterior e equatorial. Exame através de uma dilatação ampla da pupila pode revelar uma variedade de mudanças incluindo vacúolos, fissuras por água e opacidades. Vacúolos corticais são áreas pequenas focais de acúmulo de líquido. Fissuras por água são acúmulo de líquido que são orientados radialmente no córtex. Opacidades são opacidades corticais em formato de cunha que são orientados radialmente que aparecem primeiramente na periferia da lente e então estendendo tanto anterior quanto posteriormente para o núcleo (GELATT, 1991). Mudanças corticais são usualmente manifestadas em uma variável progressão da catarata por alguns meses até anos. Herança de catarata cortical acontece no Golden Retriver, Poodle Miniatura, e Cocker Spaniel Americano. Nestas raças envolvimento cortical, juntamente com atrofia retiniana, frequentemente progride rapidamente para catarata madura. Catarata cortical pode também ocorrer por exposição a agentes tóxicos como dinitrifeno e diazoxide (GELATT, 1991). 3.1.4 Estágios de Desenvolvimento 3.1.4.1 Incipiente Opacidades lenticulares focais ou multifocais que não causam perdas de visão clínica e não prejudicam a reflexo da zona tapetal ou a fundoscopia (BIRCHARD; SHERDING, 2003; GELATT, 1991). Esta pode ou não progredir (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). Muitas cataratas incipientes são difíceis de ser detectadas sem midríase máxima, iluminação adequada e aumento (GELATT, 1991). Pode ser confundida com esclerose nuclear (SLATTER, 1992). 3.1.4.2 Imatura Catarata imatura representa o segundo estágio de progressão de maturidade. O tamanho da lente está aumentado significativamente (fica intumescida) por que fica embebida de líquido. O embebimento de líquido pode ser rápido (dias ou semanas), resultando em completa opacidade (GELATT, 1991). Opacidade lenticular significativa. A reflexão tapetal permanece, mas ocorre uma visão incompleta do fundo ocular. Afeta-se a visão, dependendo da extensão do envolvimento lenticular (BIRCHARD; SHERDING, 2003; GELATT, 1991; PEIFFER JR.; PETERSENJONES, 2001). O fundo de olho pode estar parcialmente escurecido na oftalmoscopia (SLATTER, 1992). 3.1.4.3 Madura Opacidade lenticular densa, sem reflexão tapetal ou visibilidade de fundo ocular, resultando em perda total da visão do olho afetado (BIRCHARD; SHERDING, 2003; GELATT, 1991; PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). O exame de oftalmoscopia é impossível e a visão está perdida. Áreas de relativa melhora na opacidade podem estar presentes. A lente é normalmente de tamanho normal (GELATT, 1991). Este é o estágio ideal para extração cirúrgica da catarata, evitando o começo de uma uveíte facotóxica (SLATTER, 1992). Figura 1: Catarata madura em olho de cão da raça Schnauzer . Fonte: Site www.vetweb.com.br, acesso em: dez. 2008 3.1.4.4 Hipermatura À medida que a proteína lenticular se degenera e liquefaz, o cristalino pode ficar menor no eixo antero-posterior, resultando em uma cápsula anterior enrugada e uma cápsula posterior profunda (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). Se a liquefação aumentar, áreas de “clareamento” cortical podem acontecer. O núcleo da lente pode instalar-se na posição da lente com uma pequena queda de gravidade. Ocasionalmente durante a liquefação do córtex, uma difusão do material do córtex liquefeito através da cápsula aparentemente intacta, pode ocorrer (GELATT, 1991). Estas cataratas hipermaturas são encolhidas, com a borda áspera devido à mínima reabsorção cortical. A maioria das lentes é difusamente opaca e a visão é ainda ausente. Derrame de proteína cortical liquefeito da catarata hipermatura resulta em uma iridociclite porque as proteínas da lente são estranhas ao sistema imune do animal. O olho (ou os dois olhos) pode simular uma conjuntivite crônica, o cão pode esfregar o olho com a pata (GELATT, 1991). 3.1.4.5 Reabsorvente À medida que a proteína se degenera e liquefaz, pode extravasar através da cápsula. Isso se associa geralmente com catarata hipermatura, mas também pode ocorrer em catarata imatura e madura. O processo é mais rápido em cães jovens. Um cristalino reabsorvente possui quantidade variável de córtex liquefeito e claro, com o material lenticular remanescente assumindo frequentemente uma aparência cintilante. Embora alguns animais recuperem a visão por meio de reabsorção lenticular significativa, o processo resulta geralmente em uma uveíte leve a intensa induzida por cristalino, devido à antigenicidade do extravasamento protéico lenticular (BIRCHARD; SHERDING, 2003). Segundo Slatter (1992), há uma sexta classificação quanto ao estágio evolutivo das cataratas denominada intumescente. Esta ocorre quando o cristalino começa a inchar. Nem todas as cataratas passam por este estágio. Com a tumefação, o olho é suscetível ao glaucoma de ângulo fechado secundário e derrame das proteínas lenticulares, que causa uveíte facoanafilática. 4 SINAIS CLÍNICOS E DIAGNÓSTICO Os proprietários descobrem uma mudança no comportamento devido a uma menor visão ou cegueira total ou alteração do aspecto do olho, na maioria dos cães com catarata (SLATTER, 1992). Se a catarata afeta menos de 30% da lente ou se afeta apenas um dos olhos, geralmente passa desapercebida pelos donos. A maioria dos proprietários apenas consegue notar um déficit visual de seu animal de estimação quando a catarata afeta mais de 60% da lente ou se esta for bilateral (KLEINER, 2008). Por exemplo, uma aparência branca que piora a noite quando há midríase. Com bastante freqüência, mantem-se certo grau de visão até os estágios maduros avançados das cataratas bilaterais. Com exceção das cataratas traumáticas e secundárias, no outro olho também acontece o mesmo problema (SLATTER, 1992). Os clientes só perguntam em quanto tempo a catarata será madura no olho oposto e aparecerá a cegueira total. Sem considerar as cataratas diabéticas, que podem progredir com rapidez para a fase madura (em duas a quatro semanas), é difícil responder a estas perguntas. Também é importante perguntar ao proprietário por antecedentes de escassa visão noturna durante o desenvolvimento da catarata. Um antecedente de pouca visão diurna se apresenta nas cataratas axiais; a pupila fica miótica na claridade, restringindo a entrada de luz através da pupila pequena até a área opaca do cristalino (SLATTER, 1992). A catarata é mais facilmente diagnosticada pela retroiluminação através da pupila dilatada. A opacidade da lente vai aparecer como uma área escura e mais ou menos opaca contrastando com o brilho do reflexo do fundo do olho. Para um exame mais profundo dos danos à lente, usa-se um microscópio com lâmpada de fenda (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). O grau de prejuízo visual depende da extensão do desenvolvimento da catarata em um ou ambos os olhos. Além disso, deve-se considerar o propósito da raça do animal. Cataratas incipientes e imaturas são mais significativas em cães de caça e de trabalho, com relação ao prejuízo visual (BIRCHARD; SHERDING, 2003). 5 TRATAMENTO Nenhum tratamento medicamentoso é efetivo (PEIFFER JR.; PETERSENJONES, 2001). Antigamente, devido aos riscos associados com a cirurgia de catarata, ao custo para o proprietário e à capacidade de um cão cego se adaptar ao seu ambiente, a cirurgia era considerada um procedimento eletivo reservado para animais com catarata madura bilateral (BIRCHARD; SHERDING, 2003). Extração da catarata intracapsular em cães foi descrita em 1936 e mais tarde em 1941, como melhor método de remoção cirúrgica. Em 1953, Magrane descreveu a aspiração de catarata canina e no ano seguinte defendeu a técnica de cirurgia de catarata canina. Knight, em 1957, apresentou bons e justos resultados de 29% dos 106 casos de extração da catarata em cães. Três anos depois. Knight apresentou 34% de taxa de sucesso em 233 casos de cirurgia de catarata (GELATT, 1991). Em 1961, Magrane apresentou, de uma série de 104 extrações de catarata em cães, 76% de taxa de sucesso alcançados naqueles cães depois da cirurgia para catarata juvenil; uma taxa de 37% de sucesso foi alcançada com cataratas senis. A diferença entre estes dois grupos acreditou-se que tenha sido associado com alterações concomitantes não detectadas degenerativas, inflamações intra-oculares exageradas e complicações pós-operatórias (GELATT, 1991). Um grande estudo sobre cirurgia de catarata por Magrane (429 casos) em 1969 revelou uma taxa de sucesso de 80%. Acredita-se que esta alta taxa de sucesso estava associada à melhora no procedimento de extração extracapsular e administração pré e pós cirúrgica de corticóides. Uma taxa de sucesso de 79% foi descrita em 240 extrações de catarata extracapsular; alguns parâmetros influenciaram neste resultado. Quanto maior for a experiência em cirurgia do veterinário oftalmologista, maior será a taxa de sucesso das cirurgias. O sucesso da cirurgia foi 15% mais alta nas cirurgias de extração de catarata congênita e juvenil do que nas por diabetes e senil (GELATT, 1991). Gelatt descreveu que em 1991, uma série de extrações de catarata extracapsulares, 113 unilaterais e 77 bilaterias, foram alcançadas melhora ou restauração da visão em 79,6% dos olhos dos cães com extração unilateral e 85,7% dos olhos dos cães com extração bilateral na quarta a sexta semana de pós-operatório. O sucesso após três a nove meses foi de 68,9 % (extração unilateral) e 69,4% (extração bilateral). Em cães com extração bilateral de catarata, 93,5% exibiu restauração ou melhora da visão com sucesso na cirurgia em um ou dois olhos. A taxa de sucesso da extração da lente extracapsular varia, dependendo do tipo de catarata, da habilidade do cirurgião, o método usado, e a cooperação do paciente; em geral, em mãos experientes, uma taxa alta de sucesso pode ser prevista (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). Em 2003 Bichard e Sherding descreveram que a taxa de êxito com a facoemulsificação era de 90-95%, com um declínio pequeno com o tempo, enquanto a taxa de êxito da técnica de extração extracapsular a céu aberto é de aproximadamente 50%, com um declínio uniforme com o tempo após a cirurgia para menos de 30%. Recentemente, melhora na taxa de sucesso da facoemulsificação, a disponibilidade de implantes lenticulares intra-oculares e o aumento do êxito associado com uma intervenção cirúrgica precoce, resultou na cirurgia de catarata sendo oferecida em casos de catarata unilateral e imatura. A cirurgia é indicada em qualquer fase de desenvolvimento das opacidades, sendo que as cataratas incipientes e maduras tem um resultado muito melhor devido a rapidez da emulsificação (núcleos moles) e pouca presença de opacidades capsulares posteriores extensas possibilitando um implante de uma lente artificial (KLEINER, 2007b). Os proprietários devem ficar cientes de que a não remoção de catarata poderá resultar na sua progressão, uveíte induzida por cristalino (UIC) secundária e complicações associadas como glaucoma e até mesmo perda do globo ocular (BIRCHARD; SHERDING, 2003). Tratamento cirúrgico através da facoemulsificação seguida do implante de lente intra-ocular devolve o estado de emetropia nos animais. A condição geral do paciente assim como sua saúde e comportamento devem ser considerados. Cirurgia de catarata deve ser deixada para o veterinário especialista em oftalmologia e com experiência em micro cirurgia (PEIFFER JR.; PETERSEN-JONES, 2001). 5.1 MEDICAMENTOS PRÉ- OPERATÓRIOS O tratamento medicamentoso pré e pós-operatório de catarata é essencial para todo o sucesso da cirurgia. As duas áreas difíceis do manejo medicamentoso no cão, são obter uma dilatação razoável da pupila durante e depois da cirurgia e controlar a inflamação da úvea anterior no pós-cirúrgico. Um grande número de falhas na cirurgia de catarata são associadas com problemas em uma das duas áreas (GELATT, 1991). Midríase é obrigatório para o sucesso da cirurgia de catarata. Sulfato de atropina (1%) é freqüentemente administrado topicamente três a quatro vezes no dia um a dois dias antes da cirurgia. No cão normal, sulfato de atropina (1%) fornece o máximo de dilatação da pupila e 1 hora com 96 a 120 minutos de duração da ação. Entretanto, com uveíte anterior a duração da midríase da atropina tópica é significativamente reduzida, e a droga deve ser administrada até surtir efeito. A midríase é muito mais difícil de manter durante a cirurgia intra-ocular. A liberação de prostaglandinas pode ser um fator significante na miose da pupila canina durante e durante a cirurgia. Por isso o uso de anti-prostaglandina tópico e sistêmico pode ser válido na manutenção da pupila dilatada (GELATT, 1991). O uso de corticosteróides 24 horas antes da cirurgia (predinisona 2 mg/ Kg) é rotineiro. O uso de corticosteróides parece reduzir significativamente a inflamação pósoperatória (GELATT, 1991). Antibióticos tópicos podem ser instilados um a três dias antes da cirurgia. Infecções intra-oculares seguidos da cirurgia da catarata são raras em cães (GELATT, 1991). 5.2 MEDICAMENTOS PÓS- OPERATÓRIOS A terapia medicamentosa pós-operatória da cirurgia de catarata canina é extremamente importante e não pode ser enfatizada. Uma uveíte anterior pós-operatória, frequentemente intensa, pode ser desenvolvida mesmo na extração não complicada da catarata. Diversos fatores críticos a serem avaliados diariamente são a proteção do olho, controle de infecções e minimização da inflamação. O paciente deve ser monitorado de perto logo depois da cirurgia para se evitar uma auto-mutilação; o cão pode danificar de outra forma o procedimento cirúrgico de sucesso. Se necessário, um colar elizabetano pode ser utilizado para prevenir traumatismos oculares. Bandagem em volta do olho pode proteger o globo, apesar destes métodos serem algumas vezes limitados. Pacientes ativos e intratáveis podem necessitar de tranquilização para proteger e medicar o olho (GELATT, 1991). Antibióticos são habitualmente administrados topicamente em seguida da cirurgia. A escolha do antibiótico é variável mas deve ser de amplo espectro. A incidência de infecções após a cirurgia intra-ocular em cães é muito baixa (GELATT, 1991). A inflamação intra-ocular manifestada com uveíte anterior, ocorre em intensidade variável em todos os cães durante o pós-cirúrgico. O vigor da terapia necessária para controlar a uveíte varia muito de caso para caso e é ajustado de acordo com o necessário. Midriáticos, corticóides e anti-prostaglandinas são usados no controle da uveíte anterior pós-operatória (GELATT, 1991). A administração de midriáticos, iniciados antes da cirurgia é continuada e é frequentemente intensificada no pós-operatório. Sulfato de atropina (1 a 2%) e hidróxido de fenilefrina 10% são administrados topicamente a cada 4 a 12 horas para manter a midríase. A frequência da medicação é aumentada se a inflamação intensificar (GELATT, 1991). Anti-prostaglandinas tópica e sistêmica são usadas com aumento da frequência para controlar a inflamação da uveíte anterior. Elas podem ser mais efetivas no pré- operatório e nos primeiros dias do pós-operatório. Corticóides são rotineiramente administrados antes e depois da cirurgia de catarata. Prednisolona é administrada sistemicamente em uma dose inicial de 2 mg/kg; a dosagem é reduzida gradualmente assim que a resposta inflamatória diminui. Corticosteróides podem ser administrados topicamente, subconjuntivalmente ou as duas formas. Corticosteróides tópicos como o acetato de prednisolona (0,25 a 1%) ou dexametasona (0,1%), pode ser instilado a cada 4 a 6 horas ou com mais frequência se indicado. O acetato de metilprednisolona e triancinolona em doses de 5 a 15 mg podem ser usados imediatamente após a cirurgia para reduzir a inflamação. Esteróides subconjuntivais podem reduzir a freqüência da aplicação de corticosteróides tópicos e diminuir a dose sistêmica. Este procedimento é empregado com cautela porque a medicação subconjuntival de longa ação é difícil de ser removida se ocorrerem complicações pós-operatória como úlcera de córnea e cicatrização inadequada da ferida. Todos os protocolos de drogas pós-cirúrgicos são modificados para cada paciente e monitorada diariamente até que a inflamação e a infecção sejam controladas. As medicações podem ser reduzidas gradualmente após a primeira semana e paradas após três a seis semanas (GELATT, 1991). Freqüentes, mas geralmente insignificantes, complicações depois da cirurgia de catarata são sinéquia posterior focal e fibrose capsular. Glaucoma, descolamento de retina, edema de córnea, e endoftalmia são complicações críticas que raramente ocorrem (BIRCHARD; SHERDING, 2003; GELATT, 1991; PEIFFER JR.; PETERSENJONES, 2001). 6 SELEÇÃO DO PACIENTE As falhas na cirurgia de catarata têm sido associadas a uma pobre seleção dos pacientes. Exames ocular e psicológico minuciosos devem ser feitos para decisão da cirurgia de catarata. Os dois olhos devem ser examinados antes e depois de induzir com fármacos a midríase. Qualquer evidência de atividade de uveíte anterior é indicado atrasar a cirurgia. Pacientes com uveíte induzida pela lente tem grande incidência de complicações cirúrgicas e também uma taxa baixa de sucesso na cirurgia (GELATT, 1991). Exame do fundo do olho deve ser considerado para avaliação do paciente. Em alguns casos o fundo do olho pode ser observado através de pequenas porções da lente. Sinais de degeneração da retina podem contra-indicar a remoção da catarata; eletroretinografia deve ser realizada nesses pacientes (GELATT, 1991). Exames de sangue devem ser feitos anteriormente a cirurgia e devem incluir uma completa contagem de células sanguíneas e perfil bioquímico. Diabete Melito é uma causa não incomum de catarata em cães. Uma vez que a diabete está controlada, a remoção da lente é possível (GELATT, 1991). O temperamento do paciente é também uma consideração importante antes da cirurgia. Se o paciente não pode ser medicado em casa ou no hospital veterinário, a possibilidade de sucesso da cirurgia é muito diminuída. Diante destas circunstâncias, a cirurgia não deve ser realizada (GELATT, 1991). Por isso, o paciente para cirurgia de catarata em potencial deve ser minuciosamente avaliado antes da cirurgia. O cão deve estar em bom estado geral de saúde e temperamento, exibindo um déficit visual devido à formação da catarata, e não ter nenhuma outra doença ocular que comprometa a cirurgia. Otimizando a seleção do paciente, o cirurgião irá melhorar a porcentagem de sucesso da extração da catarata (GELATT, 1991). 7 A CIRURGIA PARA REMOÇÃO DA CATARATA Existem praticamente três técnicas para remover a lente com catarata: extração da lente intracapsular, extracapsular e facoemulsificação. Na extração intracapsular a lente é removida por completo, ou seja, as fibras zonulares são rompidas e a lente é removida com a cápsula. Existe um grande risco de complicação, e o método não é usado em gatos e cães, exceto nos casos de luxação da lente (GELATT, 1991). O procedimento é idêntico à técnica extracapsular no que diz respeito à abordagem cirúrgica e fechamento da ferida. A diferença é o método de remoção da lente. Na extração intracapsular, a lente com catarata é removida dentro da cápsula da lente intacta. Se parte da cápsula posterior da lente permanecer, o procedimento se torna extracapsular (GELATT, 1991). Na cirurgia extracapsular uma abertura é feita na cápsula anterior (capsuloréxis) e o núcleo é removido através da incisão corneana, com subseqüente limpeza do saco capsular irrigando e aspirando o material cortical residual (PEIFFER JR.; PETERSENJONES, 2001). Nesta técnica, a cápsula anterior da lente, o córtex da lente o material do núcleo são retirados. A cápsula posterior da lente permanece intacta e freqüentemente anexa à membrana hialóide anterior (GELATT, 1991). A maior vantagem da técnica extracapsular é que a cápsula posterior da lente permanece intacta, reduzindo muito a ocorrência de ruptura da membrana hialóide. A forte junção entre a cápsula anterior da lente a da membrana anterior hialóide no cão, é perturbada na extração intra-capsular. Esta técnica extrarcapsular também é essencial para implante de lente intra-ocular, permitindo o alojamento da lente artificial no saco capsular (GELATT, 1991). Existem algumas limitações para o procedimento extra-capsular. Com o dilaceramento da cápsula anterior, o material cortical macio ou liquefeito é liberado no humor aquoso. Este material, que é antigênico para o corpo, é difícil de ser removido completamente, e resulta em uma iridociclite pós-operatória pode ser intensa (GELATT, 1991). Apesar da cápsula posterior intacta reduzir complicações associadas com o vítreo, isto pode também causar problemas. A própria cápsula posterior pode se tornar opaca pode perder sua transparência depois da cirurgia. Se a opacidade for de tamanho e densidade suficientes, a visão pode não ser possível, necessitando também de remoção da porção central (axial) da cápsula posterior durante a cirurgia ou em uma segunda cirurgia seguindo a perda da transparência (capsulectomia posterior). A cápsula posterior da lente pode também desenvolver depósitos de pigmentos da íris, ou sinéquia posterior e fibrose pos-operatória (GELATT, 1991). Na facoemulsificação, o material da lente é fragmentado por ultrassom (alta freqüência de vibração) para emulsificar ou quebrar a lente em pequenos pedaços, e então este é aspirado (GELATT, 1991; PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). O aparelho para facoemulsificação é caro, mas a técnica é vantajosa em termos de tamanho da incisão e a inflamação pós-operatória é mínima. Tempo excessivo de ultrasom e muita manipulação intra-ocular pode resultar em danos ao endotélio corneal. Por causa da consistência dura do material nuclear em muitos cães, o procedimento com ultra-som pode não quebrar adequadamente o material do núcleo, assim exigindo um aumento da incisão do limbo ou corneal para retirada do núcleo com catarata (GELATT, 1991). Figura 2: Emulsificação do núcleo opaco. Fonte: Site www.vetweb.com.br, acesso em: dez. 2008 Deve-se lembrar que o quanto antes realizada a cirurgia de catarata utilizando-se tal procedimento maiores são as chances de um resultado favorável e a possibilidade de implante de uma implante de uma lente intra-ocular, pois as opacificações da cápsula posterior são mais comuns nas cataratas maduras e quando temos áreas muito extensas de opacidade o implante de lente fica contra-indicado (KLEINER, 2007a). 8 LENTES INTRAOCULARES Um animal afácico (sem lentes) é fortemente hipermétrope (visão de longe) e o uso de lente intra-ocular na cirurgia de catarata tem ganhado aumento na popularidade por permitir que o cão tenha sua visão normal, recuperando a visão de perto e com detalhes (PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES, 2001). Figura 3: Visão de um cão após facoemulsificação e sem implante de lente intraocular. Boa visão de longe e sem detalhes (hipermetropia). Fonte: Site www.vetweb.com.br, acesso em: dez. 2008 Figura 4: Visão de um cão normal e após o implante de uma lente intraocular. A cor azul é distinta e o vermelho e verde tentem a se confundir. Fonte: Site www.vetweb.com.br, acesso em: dez. 2008. Os implantes de lentes intraoculares (LIOs) foram introduzidos no homem nos anos 70 para corrigir um erro refratário pós-operatório afácico. Lentes intraoculares têm sido implantadas em cães por muitos anos; infelizmente descrições dos implantes são limitados e incompletos. O implante de lente intra-ocular plástica depois da extração da catarata em cães tem sido descrito antes de 1956 (GELATT, 1991). A refração do paciente canino pode ser feita com retinoscopia, ultrassonografia ou autorrefração; primeiramente dois métodos foram descritos em cães. Muitas LIO estavam disponíveis, sendo que a com 7 a 8 mm de diâmetro, combinado com haptics com um total de 13 a 14 mm, pareceram caber na “bolsa” (endocapsular) da lente canina. O poder de restabelecer emetropia da LIO no pós-operatório para os cães pode ser diferente da do homem, pois a lente do cão é mais larga e com aproximadamente 35 a 40 dioptrias (GELATT, 1991). Figura 5: Lente Acrílica dobrável de 40D implantada em um cão da raça Schnauzer. Fonte: Site www.vetweb.com.br, acesso em: dez. 2008. A LIO é inserida depois da remoção da catarata inteira durante a facoemulsificação. A solução de visco elástico assim como o hialuronato de sódio, metilcelulose hidroxipropil, são importantes para proteger o endotélio corneal durante a inserção da LIO. Este material é então aspirado da câmara anterior, pouco antes do limbo ou da ferida corneal ser completamente fechada e a câmara anterior ser reconstituída. A solução de visco elástico dentro da câmara pode aumentar a pressão intra-ocular no cão e deve ser aspirada da câmara anterior antes que a ferida cirúrgica é fechada (GELATT, 1991). A lente intraocular, assim como no ser humano, fica muito bem posicionada e estável no espaço intraocular e não existe a mínima possibilidade de ela se deslocar ou "cair" com a movimentação da cabeça do paciente no seu dia a dia (KLEINER, 2007b). 9 RELATO DE CASO No Hospital Veterinário São Bernardo foi atendida uma cadela de nome Bunny, raça Cocker Spaniel Inglês, com oito anos de idade, apresentando catarata bilateral e em começo de uveíte facolítica. O paciente já era totalmente cego, devido à catarata, há mais ou menos quatro anos. Esta cadela passou por minucioso exame clínico e oftálmico, antes da realização da cirurgia de facoemulsificação, seguida do implante de uma lente artificial, e ela deveria estar livre de dermatopatias, odontopatias, oftalmopatias (ex.: olho seco, uveítes, ceratites, etc) e qualquer outra patologia que fosse potencialmente causadora de uma infecção intraocular. Antes da cirurgia também foi realizado o exame de Eletrorretinografia, o qual se apresentou normal, comprovando a funcionalidade da retina. Foram feitos exames pré-operatórios (hemograma e perfil bioquímico) de rotina e os resultados foram compatíveis com a normalidade. No dia 06 de setembro de 2008 foi realizada a cirurgia no olho direito para correção da catarata através da facoemulsificação, seguida de implante de uma lente intraocular artificial. Para evitar transtornos pós-cirúrgicos como uma resposta celular exacerbada, opacidade da cápsula posterior, rejeição da lente pelo organismo ou endoftalmites severas, foi utilizada uma lente intraocular especial desenvolvida com uma tecnologia nova de recobrimento da sua superfície com heparina. 10 MATERIAIS E METODOS Aproximadamente dez dias antes de o procedimento ser realizado, os pacientes são tratados com de colírios com lágrimas artificiais e associações de antibiótico com corticóide na freqüência de três vezes ao dia. Após restrição alimentar de doze horas, dilata-se a pupila dos pacientes através do emprego de tropicamida e diclofenaco sódico intercalados a cada vinte minutos e iniciados três horas antes do procedimento. A anestesia consiste em indução com ketamina (10 mg/kg IV) e diazepam (0,5 mg/kg IV) e manutenção com Isoflurano. Os pacientes são posicionados em decúbito dorsal com o plano rostral paralelo ao teto. Com a utilização de Lidocaína a 2% sem vasoconstritor, realiza-se um bloqueio peribulbar em 3, 6, 9 e 12 horas, administrandose aproximadamente 0,8 ml em cada ponto para obtenção de uma boa centralização do globo ocular. Nos pacientes nos quais se tem uma órbita ocular profunda, administra-se 2 a 3 ml de solução de Ringer com Lactato retrobulbar para obter-se uma melhor exposição do bulbo ocular e evitar-se a necessidade de uma cantotomia lateral, diminuindo assim o tempo do procedimento. Com o auxílio de um anel de fixação ocular tipo “Thornton” para incisão em córnea clara e utilizando-se um bisturi de safira de 3,2 mm realiza-se uma incisão corneana em 4 a 5 horas. Após, administra-se 0,5 ml de Azul de tripan na câmara anterior para coloração da cápsula anterior do cristalino, o que facilita a sua visualização e consequentemente a capsulorréxis (abertura da cápsula anterior). Passados 2 minutos de espera para fixação do corante, injeta-se 1 ml de viscoelástico dispersivo de metilcelulose a 2% na câmara anterior no sentido distal-proximal a incisão principal, de modo que todo o azul de tripan seja removido e promova-se uma midríase mecânica e um bom recobrimento do endotélio visando sua proteção. A capsulorréxis é feita com auxílio de uma pinça de cápsula tipo Masket de forma simétrica e central. Após, realiza- se a hidrodissecção e hidrodelineação utilizando-se uma cânula de irrigação/aspiração e solução salina balanceada abaixo da cápsula anterior e no centro do núcleo lenticular. Realiza-se um sulco central no núcleo do cristalino utilizando-se uma ponteira de faco de 450 e logo depois de sulcado, o núcleo é fragmentado (fraturado) utilizando-se um pré-chopper de Akahoshi ou um manipulador de núcleo (chopper) quando utilizada a técnica de duas mãos. Com a utilização de uma ponteira de 30 0 tipo flared, realiza-se a emulsificação lenticular final. Nos núcleos mais moles, pode-se utilizar apenas a ponteira de 30o, dispensando às vezes a utilização do pré-choper. Depois de concluída esta etapa e removidos todos os fragmentos remanescentes de córtex nuclear utilizandose uma ponteira de irrigação e aspiração, o saco capsular está pronto para receber a lente dobrável acrílica de 41 D, que somente não é implantada nos casos em que existem lesões capsulares radiais ou opacidades importantes na cápsula posterior. Foi utilizada a lente de nome comercial Acri-Lens® VetH neste paciente. Para o implante da lente utiliza-se um visco elástico coesivo dentro do saco capsular e a lente depois de dobrada no cartucho próprio é injetada no interior do bag através de um injetor descartável e esta vai aos poucos se abrindo e por conter quatro pontos de apoio, devido ao seu design diferenciado, torna-se auto-estática. Ao final do procedimento todo visco elástico remanescente é aspirado e deve-se realizar uma boa aspiração da cápsula anterior na região da capsulorréxis, visando evitar a proliferação celular nesta região, o que poderá originar opacidades futuras. A corneorrafia é realizada utilizando-se 3 pontos interrompidos simples com um fio 8-0 de poliglactina 910 e após reconstituído o globo utilizando-se solução salina balanceada, aplica-se 0,3 ml de dipropionato e fosfato dissódico de betametasona via subconjuntival. No pós-operatório utiliza-se colar elisabetano durante 12 dias e a a terapia instituída constitui-se apenas de colírios tópicos que são: lágrima artificial 4 x ao dia por 30 dias; cicloplegia através da atropina 0,5% ou tropicamida BID por 10 dias, colírio de gatifloxacino (Zymar®) TID durante 15 dias, colírio de prednisolona a 1% BID por 15 dias e colírio de cetorolac de trometamina (Acular ®) BID durante 35 a 40 dias. É importante que o corticóide tópico seja diminuído gradativamente durante mais 20 dias, para evitar-se o efeito rebote da retirada abrupta desta droga. 11 DISCUSSÃO A lente intraocular utilizada, Acri- Lens® VetH, é um dispositivo óptico de precisão. Esta lente é composta de acrílico hidrofílico com bloqueador UV para diminuir o risco de danos para a retina pela luz UV natural. Possui também uma superfície modificada com heparina com a finalidade de diminuir a proliferação celular na cápsula posterior, o que pode dar origem a opacidades importantes a longo prazo. Cada lente intraocular está acondicionada em um frasco dentro de uma bolsa estéril. As lentes são esterilizadas por meio do calor. Esta lente é indicada para animais afácicos depois da remoção cirúrgica do cristalino do olho animal. O uso desta está contra indicado quando há doenças pré-existentes ou fisiológicas que podem ser agravadas pelo implante ou quando o implante pode interferir com a possibilidade de exame ou do tratamento de uma doença ocular. Está contra indicada também em casos de uveítes crônicas ou recorrentes, distrofia endotelial corneana, complicações severas durante a cirurgia (rupturas graves de cápsula posterior, instabilidade do saco capsular após a remoção da catarata), perda excessiva do vítreo, doença ou infecção aguda do globo e anexos oculares ou quando existe hemorragia de coróide antes ou durante o procedimento cirúrgico. As complicações são muito raras e são basicamente as mesmas encontradas na cirurgia para remoção do cristalino e dentre elas podemos citar: descompensação corneana, edema corneano temporário, Iridociclite, herniação do vítreo para a câmara anterior, descolamento de retina, endoftalmite, catarata secundária, bloqueio pupilar. Algumas destas complicações acima listadas podem requerer segunda intervenção cirúrgica e podem ser resultado do implante de qualquer lente intraocular e não necessariamente único deste modelo de lente. A lente deve ser implantada no saco capsular. A capsulorexis deve ser feita grande o suficiente para permitir a entrada da lente. O cirurgião deve passar por um treinamento exaustivo para realizar este tipo de cirurgia. A Acri-Lens® VetH é formada de uma única peça constituída por 26% de acrílico hidrofílico com superfície heparinizada, possui poder dióptrico de 41 D, 13 mm de diâmetro total, 6,5 mm de diâmetro óptico, angulação de alça de 5°, índice de refração 1.46 e design da borda tipo quadrado. Figura 6: Acri-Lens® VetH. Fonte: Site www.vetweb.com.br, acesso em: dez. 2008 Figura 7: Figura ilustrativa da lente Acri-Lens® VetH mostrando sua anatomia. Fonte: Site Veterinary Intraocular Lenses, acesso em: Jan. 2009 A heparina é uma molécula de carboidrato endógeno de invertebrados e mamíferos. Ela não é reconhecida como uma substância estranha pelo organismo, e não parece produzir reações imunológicas. Além disso, a modificação da superfície com heparina foi testada em vários dispositivos implantáveis para fins de redução aderência bacteriana, diminuindo assim o risco de infecção. Esta superfície heparinizada provoca uma forte ligação molecular entre a heparina e os polímeros da superfície da lente. Tem-se demonstrado que a heparina tensoativa modificada reduz a resposta inflamatória no período pós-operatório imediato. As lentes intraoculares com esta tecnologia originam uma menor resposta celular observada um ano após a cirurgia de catarata. Também observa-se uma menor reação tipo corpo estranho, especialmente no período de pós-operatório imediato. Os pacientes que são diabéticos ou têm glaucoma também podem utilizar a lente com esta tecnologia. No caso da cadela Bunny o implante da lente Acri-Lens® VetH foi muito bem sucedido, não tendo nenhuma complicação pós-operatória e nem tanto durante a cirurgia. O resultado a longo prazo foi muito satisfatório e como proposto pelo fabricante da lente intraocular utilizada, não houve crescimento bacteriano ou de células na superfície da lente. Figura 8: Pré-operatório da cirurgia (pupila dilatada). Reparar a opacidade do cristalino com catarata. Fonte: Site www.vetweb.com.br, acesso em: dez. 2008 Figura 9: Lente intra- ocular acrílica sendo implantada. Fonte: Site www.vetweb.com.br, acesso em: dez. 2008 Figura10: Imagem imediatamente após implante da lente Acri-Lens® VetH. Fonte: Site www.vetweb.com.br, acesso em: dez. 2008 O eixo visual encontrava-se totalmente limpo e sem a presença de opacidades importantes. Existia uma retração capsular periférica que não interferia no posicionamento ou estabilidade da lente artificial implantada. As opacidades na região equatorial também eram discretas e iguais às notadas em qualquer outro tipo de lente artificial utilizada. Não existia qualquer tipo de reação inflamatória, desconforto ocular ou alteração do posicionamento da lente utilizada. A pupila apresentava-se simétrica e movimentavase normalmente com a variação da intensidade de luz. O paciente encontrava-se com uma acuidade visual muito grande e até mesmo brincando de pegar bolinha com muita perícia, segundo informações do proprietário. A cadela Bunny retornou depois de seis meses (31 de Janeiro) para a cirurgia no olho contra-lateral (esquerdo), mas, por motivos financeiros, optaram por não implantar uma lente artificial desta vez. 13 CONCLUSÃO Hoje a cirurgia de catarata é muito bem aceita por causa da evolução tecnológica que trouxe grande melhoria na taxa de sucesso da cirurgia para correção da catarata com facoemulsificador, a disponibilidade de implantes lenticulares intra-oculares e o aumento do êxito associado com uma intervenção cirúrgica precoce. Hoje a sobrevida dos animais de estimação aumentou muito, bem como os cuidados e exigências de seus proprietários e isto favoreceu o crescimento e aumentou a procura da cirurgia corretiva da catarata. Os profissionais da área estão mais treinados e atualizados, proporcionando, junto com o surgimento de técnicas novas, melhores resultados pós-cirúrgicos. O uso de lentes intra-oculares com alta tecnologia trouxe a possibilidade do cão, que passou por esta cirurgia, ter uma excelente acuidade visual e levar uma vida normal, podendo brincar, correr e nadar sem problema nenhum. Ao longo deste trabalho, pode-se concluir que todos estes eventos citados são importantes para ter melhores resultados cirúrgicos e clientes mais satisfeitos com a cirurgia de catarata em seus cães. O surgimento de novas tecnologias para garantir melhores resultados da cirurgia com facoemulsificador tem se intensificado nos últimos anos. Analisando o caso relatado da Bunny, colocamos em teste e aprovamos a lente utilizada. Esta proporcionou um resultado a longo prazo muito bom, pois não houve crescimento bacteriano ou de células na superfície da lente. Se o crescimento tivesse ocorrido, haveria opacidade da lente que acarretaria déficit visual. O que proporcionou este resultado foi a superfície heparinizada da lente. Além de diminuir o implante de células na superfície da lente, esta tecnologia fez com que não houvesse reação inflamatória exacerbada por não ser reconhecida como estranha ao organismo da cadela. Este tipo de lente proporcionou, também, boa estabilidade dentro do saco capsular por conter quatro pontos de apoio devido ao seu design diferenciado, tornandose auto-estática. Esta estabilidade foi comprovada depois de seis meses e vai permanecer por toda a vida deste cão. Este foi o primeiro caso relatado de implante de uma lente artificial intra-ocular com superfície heparinizada em cães, realizado em Curitiba. Pode-se concluir com isso que os benefícios do uso da lente com superfície heparinizada foram válidos e a cirurgia teve sucesso total. O paciente encontrava-se com uma acuidade visual muito grande e apresentava uma vida normal, correndo e brincando de bolinha com o seu dono. REFERÊNCIAS BIRCHARD, S.J.; SHERDING, R. G., Manual Saunders Clínica de Pequenos Animais. 3 ed., São Paulo: W.B.Saunders Company, 2003; p. 1473- 1476 CARNEIRO FILHO, L. SOVE Serviço de Oftalmologia Veterinária. Seção Cirurgia de Catarata em Cães e Gatos. Disponível em: www. Compuland.com.br/ oftalvet/index.html. Acesso em: out. 2008. GELATT, K.N.. Veterinary Ophthalmology, 2ª ed., São Paulo: Manole, 1991. p. 432454. KLEINER, J.A., O Uso de Lentes Intra-oculares Acrílicas Dobráveis após Cirurgia de Facoemulsificador em Cães. Revista CRMV PR Nº25/ Ano V/ Dez/2007a.p. 22-23. KLEINER, J.A., Implante de Lente Intra-ocular dobrável após cirurgia de Facoemulsificação. Anais do XXVIII Congresso Brasileiro da Anclivepa, realizado em Florianópolis – SC, no Centro de Convenções Centro-Sul, no período de 24 a 27 de maio de 2007b. KLEINER, J.A, Cirurgia de Catarata com facoemulsificação seguida de implante de lente dobrável. Disponível em http://www.vetweb.com.br/vetweb/index.php?option=com_weblinks&catid=28&Itemid =42 Acesso em: dez. 2008. KLEINER, J.A. História da Cirurgia da Catarata: Disponível http://www.fmrp.usp.br/revista/2006/vol39n4/revisao_historia_cirurgia_catarata.pdf Acesso em: Jan. 2009 em PEIFFER JR.; PETERSEN- JONES., Visual Impairment, In: Small Animal Ophthalmology, 3ª ed., Malaysia, W.B. Saunders, 2001, p. 153- 159. SLATTER, D. H., Cristalino. In: Slatter, D.H.: Fundamentos de Oftalmologia Veterinária, 2ª ed. Buenos Aires: Inter-Médica, 1992, p. 429-453. 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