VARIABILIDADE CLIMÁTICA E EVENTOS EXTREMOS NO

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VARIABILIDADE CLIMÁTICA E EVENTOS EXTREMOS NO BRASIL: UMA
BREVE ANÁLISE
João Paulo Assis Gobo¹ , Eduardo Samuel Riffel²
¹Geógrafo e Mestrando em Geografia Física da Universidade de São Paulo –
[email protected]
²Geógrafo e Mestrando em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected]
RESUMO: Este trabalho realiza um resgate de conceitos relacionados à variabilidade climática
e eventos extremos, buscando compreender a ocorrência de desastres naturais no Brasil. Os
conceitos foram abordados de forma isolada, buscando assim facilitar a sua relação. A partir da
análise conceitual, percebe-se que a variabilidade climática, é uma das causadoras dos desastres
naturais ocorridos por eventos extremos no Brasil, somada as ocupações precárias e irregulares
de populações que vivem em áreas de risco.
Palavras Chave: variabilidade climática, eventos extremos, desastres naturais.
ABSTRACT: This work performs a rescue of concepts related to climate variability and
extreme events, seeking to understand the occurrence of natural disasters in Brazil. The
concepts were addressed in isolation, thus seeking to facilitate their relationship. From
the conceptual analysis, it is clear that climate variability is one of the causes of natural
disasters by
extreme
events in
Brazil,
combined
with
the precarious
and irregular
population living in areas at risk.
Key-Words: climate variability, extreme events, natural disasters.
INTRODUÇÃO
A Variabilidade Climática é uma propriedade intrínseca do sistema climático terrestre,
responsável por oscilações naturais nos padrões climáticos, observados em nível local, regional
e global (CONFALONIERI, 2003). A variabilidade não deve ser confundida com a Mudança
climática global, muito embora alguns modelos apontem para cenários de maior variabilidade
do clima (eventos extremos, menos previsibilidade) como conseqüência da mudança climática,
Confalonieri (2003) coloca que isto ainda não é uma questão consensual no âmbito da
climatologia.
Os fenômenos meteorológicos extremos, quase sempre, estão associados a
manifestações próprias da dinâmica global, e suas dinâmicas de intensidade estão associadas às
variabilidades climáticas que o clima global vem apresentando durante as eras geológicas da
Terra. No Brasil, os desastres naturais são bastantes significativos devido às dimensões
continentais do país, ocorrem em sua maioria por origem atmosférica, principalmente por este
apresentar a maior parte do seu território localizada na zona intertropical. Devido a esta
localização geográfica, o Brasil sofre a influência de diversos sistemas atmosféricos
intertropicais e extratropicais em seu território.
OBJETIVOS
O objetivo geral do trabalho é realizar um apanhado teórico-conceitual da variabilidade
climática e sua possível relação com o aumento dos desastres naturais no Brasil, ocasionados
por eventos pluviométricos extremos.
MATERIAL E MÉTODOS
Como etapa inicial desse trabalho, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, sobre
conceitos que abordem separadamente os temas em questão: variabilidade climática e desastres
naturais. Para posteriormente ser realizada uma interpretação das relações entre os dois temas a
partir de diferentes abordagens. Por fim serão abordadas as questões conceituais relevantes, e
quais são suas causas e relações, contribuindo assim para ampliar a discussão da temática.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A variabilidade climática é definida como uma variação das condições climáticas em
torno da média climatológica. Já anomalia climática refere-se a uma flutuação extrema de um
elemento em uma série climatológica, com desvios acentuados do padrão observado de
variabilidade. Já mudança climática é um termo que designa uma tendência de alteração da
média no tempo (ANGELOCCI, et. al. 2007). Um exemplo da variabilidade climática e da
anomalia climática esta exposto na figura 1:
Figura 1- Variação da precipitação anual em Piracicaba, SP, a partir de 1917.
Fonte: Angelocci et. al. (2007).
Org.: Gobo, J. P. A.
Ao observamos as flutuações naturais na escala de tempo da ordem de anos, os padrões
de anomalia típicos que têm sido observados na atmosfera e oceano são claramente relacionados
a variações nas circulações gerais da atmosfera e do oceano, e nas condições de interface na
superfície da terra, tais como temperatura da superfície do mar (TSM) e cobertura de gelo.
Quando se fala em oscilações e variabilidades do clima, logo se remete a fenômenos
como El Niño e La Niña. O “El Niño” é um fenômeno meteorológico natural que se repete de
dois a sete anos em média e decorre de um aumento anormal da temperatura superficial do
oceano Pacífico na região do Equador terrestre, atingindo mais intensamente o litoral peruano.
Normalmente as águas da costa peruana são muito frias, devido à corrente de Humboldt, mas
em épocas de El Niño, esta situação inverte-se e a TSM no litoral do Peru tende a ficar com
temperaturas mais elevadas.
Do ponto de vista climatológico, as águas superficiais do Pacífico, aquecidas vão
interferir no regime dos ventos, no deslocamento das nuvens e no regime das chuvas numa
escala global, produzindo grandes perturbações climáticas em todo o planeta.
O “El Niño” envolve relações extremamente complicadas entre as variáveis
atmosféricas. O fenômeno está relacionado com a chamada “oscilação sul”, uma espécie de
efeito de pêndulo ou gangorra no movimento do ar entre os extremos leste e oeste do Pacífico
Sul. “El Niño” aparece quando a pressão barométrica baixa na América do Sul, ao mesmo
tempo em que sobe na Austrália. Nessas condições, a chuva aumenta na América do Sul e
diminui na Austrália. Quando a pressão se inverte, inverte-se também a situação naqueles
locais: há secas na América do Sul e chuvas na Austrália. Não se sabe ainda como começa a
oscilação sul, ou o que a provoca, no entanto, os impactos registrados apresentam-se desde a
escala global até a local (BARROCAS et. al., 1999).
Em anos de El Niño a influência da TSM torna-se mais importante, aumentando a
previsibilidade sobre todo o globo (ROWNTREE, 1972; HOREL e WALLACE, 1981).
Brankovic e Palmer (1997) encontraram que para anos de eventos El Niño-Oscilação Sul
(ENOS) fortes (definidos como pares de anos nos quais as diferenças entre anomalias de TSM
no Pacífico são grandes e de sinais opostos) verifica-se grande desempenho e consistência nos
trópicos, enquanto que nos extratrópicos setentrionais a performance do modelo é alta apenas
durante o inverno na região do Pacífico próximo a América do Norte e no oceano Atlântico
adjacente a Europa durante a primavera. A performance do modelo utilizado em Brankovic e
Palmer (1997) foi mais elevada para anos de ENOS forte do que para anos de ENOS fraco,
tanto nos trópicos como nos extratrópicos.
Sob este ponto de vista, pode-se verificar que eventos pluviométricos extremos em
zonas tropicais são mais suscetíveis em períodos de anomalias climáticas do que em anos
habituais, acompanhando as oscilações do clima em freqüência e intensidade. Eventos desse
tipo, se traduzem em diversos desastres naturais, citando exemplos de escala global, destacam-
se: enchentes, tornados e tempestades na América do Norte até enchentes no Peru e Equador,
seca na Austrália e na Indonésia, enchentes no centro-sul e secas no norte e nordeste do Brasil.
Dependendo da estrutura e da fragilidade de cada país, atingem com maior ou menor
intensidade a sua população.
Desastres naturais podem ser conceituados, de forma simplificada, como o resultado do
impacto de um fenômeno natural extremo ou intenso sobre um sistema social, causando sérios
danos e prejuízos que excedem a capacidade dos afetados em conviver com o impacto (TOBIN
e MONTZ, 1997; UNDP, 2004).
No Brasil verifica-se um aumento destes fenômenos em anos anômalos. No entanto,
não se pode atribuir às oscilações climáticas como sendo a principal causadora destes eventos.
Salienta-se, que nos últimos estudos realizados referentes a eventos extremos e desastres
naturais o principal potencializador destes fenômenos é o homem, no que se refere ao seu modo
de ocupação irregular e a falta de planejamento urbano. Para Furlan, et al (2011) os desastres
naturais no país são resultado de uma combinação da ocorrência de eventos extremos com a
vulnerabilidade física e/ou socioeconômica que os locais apresentam, portanto destaca-se a
necessidade de se conhecer espacialmente quais áreas são mais susceptíveis a ocorrência de
adversidades ambientais, e que possuem características que potencializam o risco. Para Braga,
et al. (2006) a grande incidência de eventos extremos justifica a necessidade de aprofundar o
conhecimento científico sobre os efeitos desiguais destes eventos na população, assim como o
desenvolvimento de metodologias de mensuração da vulnerabilidade a estes eventos.
Diversos trabalhos comprovaram o maior desencadeamento de eventos extremos em
anos de El Niño e La Niña, tais como, o aumento das inundações e enchentes nas regiões sul e
sudeste do Brasil durante anos de evento El Niño e grandes estiagens no nordeste.
Associados a estes excessos pluviométricos no sudeste brasileiro estão os desastres
ambientais geomorfológicos característicos das regiões da serra do mar, onde em anos de
fenômenos anômalos são intensificados devido ao grande volume pluviométrico registrado.
CONCLUSÕES
A partir dos conceitos abordados, nota-se a relação que existe entre a variabilidade
climática e a ocorrência de eventos pluviométricos extremos, no entanto, contata-se que essa
não é a única causa para a ocorrência de desastres naturais. A ocupação irregular e precária de
muitas moradias contribui para que as populações que vivem em áreas de risco sejam atingidas.
É necessário que haja maior planejamento por parte de órgãos gestores, no sentido de alocação
adequada de moradias, e no entendimento correto desses eventos extremos, para que assim
possa se compreender melhor sua ocorrência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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da variabilidade das condições meteorológicas nas produtividades potencial e real da cana-deaçúcar em Piracicaba (SP). 2007. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Engenharia Agronômica) - Esalq Usp, 2007.
BARROCAS, R. ; OLIVEIRA, L. . O Fenômeno El Niño: Percepção e Cognição dos Habitantes
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BRAGA, T. M; et al. Avaliação de metodologias de mensuração de risco e vulnerabilidade
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Disponível
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TOBIN, G. A; MONTZ, B. E. Natural Hazards: explanation and investigation. New York:
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UNDP – United Nations Development Programme. Reducing disaster risk: a challenge for
development. New York, USA: UNDP, 2004. 129p
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