: Economia : Página 30-31

Propaganda
JORNAL DE NOTÍCIAS
SEXTA-FEIRA 1/8/14
30 //ECONOMIA
JORNAL DE NOTÍCIAS
SEXTA-FEIRA 1/8/14
ECONOMIA// 31
PORTUGAL EM MEDELLIN //DOS PÉS À CABEÇA
O QUE É QUE
A COLÔMBIA TEM?
vO AICEP sintetiza numa frase: “A Colômbia é um
Brasil acessível” vPresidente do FMI garante que é
a economia do ano 2014 v ”Economist” considera-a
uma das seis nações mais atrativas do mundo
Jorge Fiel e Ilidia Pinto
em Medellin
Esqueçam o Cartel de Medellin e as FARC. A Colômbia é muito mais que Shakira, Garcia Marquez e James.
É um mercado apetitoso de
46 milhões de habitantes,
cujo poder de compra não
vai parar de crescer
TAP abriu a 1 de
julho uma ligação
direta de Lisboa a
Bogotá, com quatro frequências semanais.
Mas um mês antes já tinha 13
mil bilhetes vendidos. Por
isso, a armada portuguesa de
56 empresas de vestuário e
calçado não pôde voar na
transportadora aérea nacional para estar presente em
Medellin na 25.ª edição Colombiamoda, a mais importante feira da América Latina, que recebeu 61 350 visitantes e proporcionou uma
expectativa de negócios no
valor de 308 milhões USD,
mais 23% do que em 2013.
As 17 empresas de calçado
investiram forte na primeira
incursão na Colômbia. Não
pouparam nem dinheiro
nem esforços para trazer o
melhor que o calçado português tem para dar. A presença de Fortunato Frederico e
Manuel Carlos, presidente e
diretor geral da APICCAPS
respetivamente, dá bem a
ideia que o setor atribuiu a
este primeira investida num
mercado onde se apresentou
como “el calzado más caliente en Europa”.
Se para o calçado foi uma estreia, para a têxtil já é uma rotina. É o quarto ano consecutivo que vem a Medellin,
A
uma aposta estratégica que,
atendendo ao crescimento
continuado da embaixada
(este ano foram 39 empresas)
só pode estar a dar frutos.
Portugal esteve em Medellin dos pés à cabeça, com
calçado e vestuário a partilharem a passarela. A Moda
Portugal – Portuguese Shoes
e From Portugal – foi o maior
contingente estrangeiro na
Colombiamoda. E Portugal
foi o único país presente em
todos os pavilhões.
O que é que a Colômbia
tem para, em tão pouco tempo, ter entrado no topo das
prioridades dos investidores
portugueses, de empresas e
áreas tão diferentes como a
TAP, a Vortal (que desenvolveu o portal de compras do
Governo colombiano) a
Mota-Engil, a Prebuilt, o grupo Pestana (que abriu o seu
primeiro hotel em Bogotá)
ou a Jerónimo Martins (que
está a investir 400 milhões
de euros na rede de supermercados Ara)?
Até há bem pouco tempo,
Medellin lembrava Pablo Escobar e dava ao nome a um
terrível cartel de narcotraficantes. E a Colômbia era notícia pelos problemas com os
guerrilheiros das FARC e
SEGURANÇA
6.º
é o lugar da Colômbia no ranking mundial de proteção
aos investidores
mais pela produção de cocaína do que de café.
Criteriosas e bem sucedidas
importações de talentosos
futebolistas (Falcao, James,
Guarin, Quintero e Jackson),
feitas pelo FC Porto, deram à
Colômbia uma imagem mais
positiva junto da opinião pública portuguesa.
Até que, de repente, Bogotá
passou a estar no radar das
empresas portuguesas desesperadas por exportar.
O interesse guloso da MotaEngil e da Prebuilt é facilmente explicado pelo pacote
de investimento público de
24 mil milhões de euros na
construção de estradas, portos e aeroportos que vai
transfigurar a quarta maior
economia da América Latina,
orgulhosa da sua taxa de crescimento médio de 4% nos últimos dez anos.
O facto de a Colômbia ocupar um invejável sexto lugar
no ranking mundial de proteção aos investidores (o México está em 68.O e o Brasil em
80.O) quer dizer que as FARC
e o narcotráfico já não assustam. A diretora-geral do FMI,
Christine Lagarde, elegeu a
Colômbia como economia de
2014 e a “Economist” considera-a uma das seis nações
mais atrativas do Mundo. O
AICEP concorda com o diagnóstico e sintetiza: “A Colômbia é um Brasil acessível”.
Face a estas recomendações,
já não é difícil perceber o interesse pela Colômbia de tantas empresas portuguesas.
O que é que a Colômbia
tem? Não é só Shakira, Garcia
Marquez e James. É também
um apetitoso mercado de 46
milhões de consumidores
cujo poder de compra não vai
parar de crescer. v
Portugal esteve
em Medellin dos pés
à cabeça, com calçado
e vestuário
a partilharem
a passarela
AMR
ROUPA DE CAMA
PARA HOTEL
BIOLÓGICO
EM BOGOTÁ
COMO POR CÁ a crise e a
troika levaram a situações tão
caricatas como a de haver hotéis que remendam lençóis,
para poupar, a AMR anda pelo
mundo a vender os têxteislar fabricados em Felgueiras e
desenhados em Matosinhos.
A exportação, para mercados
tão variados como a Rússia,
Japão, EUA e México, vale
93% da faturação desta empresa, que leva na razão social
tem as inicias da sua fundadora. Ana Maria Ribeiro estreou-se na Colômbia com
um negócio de 100 mil dólares: equipar os 78 quartos do
primeiro hotel biológico da
América do Sul, em Bogotá.
Aproveitando a efervescência do setor (os investimento
em hotelaria estão dispensados de IRC durante 30 anos),
está a em conversações para
abastecer um hotel em Cartagena.
EUREKA
REDE DE LOJAS
NO PANAMÁ
E NA COLÔMBIA
A EUREKA chegou à Colômbia na disposição de investir
cinco a sete milhões numa
rede de lojas na região, mas as
negociações correram tão
bem que admite ir mais além.
Das várias hipóteses, a da associação a um parceiro local é
INARBEL
À TERCEIRA
FOI A VEZ
DE JACKPOT
PARA O DR. KID
Bogotá e Cartagena, mas
também para o Equador,
Guatemala Honduras, Canadá, Costa Rica e Califórnia.
Um verão azul para a marca
Dr. Kid.
HELSAR
SAPATOS DE LUXO
A CAMINHO
DE ATLANTA
CALÇA princesas na Europa,
mas a Helsar chegou a Medellín com expectativas
“muito baixas”. Porém, José
Augusto Correia partiu satisfeito e com a convicção de
que, “se concretizar metade
das perspetivas” que criou na
feira, já será “muito, muito
bom”. Estabeleceu contactos
para o Chile, o Peru, a República Dominicana, o Haiti e,
sobretudo, para os muito apetecidos Estados Unidos – uma
armazenista de Atlanta, que
ficou de tal forma “entusiasmada” com a marca, que encomendou 12 modelos para
testar o mercado e quer que o
empresário visite a feira de
Las Vegas para o ano –, que serão agora aprofundados.
CENTENÁRIO
ZÉ ARMINDO, CEO da Inarbel, é um veterano de feiras.
A prosperidade da fábrica de
roupa para criança que dirige
no Marco de Canaveses depende desse esforço, já que as
exportações valem entre
85% a 90% do volume de negócios de sete milhões de euros. Os principais mercados
são na Europa (Espanha e
Alemanha), mas como não se
pode ter os ovos todos no
mesmo cesto, tem sido um
ferrinho na Colômbia moda.
Nas duas anteriores presenças, as coisas correram bem.
Mas este ano foi um jackpot.
Conseguiu encomendas firmes e agentes não só para a
30.ª 9,7%
país mais populoso
da América
Latina
maior
economia
do Mundo
4.ª
5%
2,2%
maior economia
da América
Latina
taxa média
de crescimento nos
últimos dez anos
de inflação
de desemprego
7 PERGUNTAS A //PAULO VAZ
EMPRESAS //5 CASOS VENTUROSOS
a que mais agrada à empresa,
que em Portugal terminará o
ano com 30 lojas. “Permitirnos-ia expandir a marca, partilhando o capital com um sócio, que nunca seria maioritário, claro”, diz Alberto Sousa.
As negociações com vários
potenciais parceiros no Panamá “estão muito bem encaminhadas” e, muito em breve, “o grupo que se mostrou
mais interessado virá a Portugal”. Na Colômbia, está a negociar, entre outros, com o
grupo chileno Falabella. “Temos dois ou três centros comerciais em vista em Medellín, vamos a ver se chegamos a bom porto”.
3.º
CALLE DE OLHO
NOS SAPATOS
NACIONAIS
ARTURO CALLE é o principal retalhista colombiano,
com lojas em todo o país, mas
também na Costa Rica e Panamá. Os seus homens visitaram várias empresas de calçado portuguesas, entre as
quais a Centenário, de Oliveira de Azeméis, especializada
no fabrico de calçado pelo sistema “goodyear” e de sapatos
personalizados. O negócio
não está, ainda fechado, mas
poderá sê-lo, no fim do mês,
em Itália, já que novo encontro foi agendado para a feira
da Micam, em Milão.v
“Já exportamos mais
que antes da crise”
Diretor-geral da ATP
(Associação de Têxteis e
Vestuário de Portugal) e
também vice-presidente
da Seletiva Moda, que
em 2014 promove a
participação de mais de
200 empresas da fileira
em 67 feiras, em 35
países
A Colômbia é uma alternativa ao Brasil para entrar na América Latina?
O Brasil tem um potencial
gigantesco, mas é um dos
países mais protecionistas
do Mundo. É uma selva de
impostos que penaliza os investidores. Como se já não
bastassem as taxas federais
de 35%, que podem ir até
aos 70%, há ainda os impostos estaduais e municipais,
e outros obstáculos não tarifários, como aquilo que se
convencionou designar
como diferenças culturais...
Vão desistir?
Continuaremos a insistir no
Brasil, esperando que mude
para melhor pois para pior
não pode ser.
O que é atrativo na Colômbia?
A Colômbia e os países
latino-americanos da
costa do Pacífico – estou
a falar também do Chile, México e Peru – registam progressos
muito claros que vale a
pena acompanhar e constituem uma alternativa ao
protecionismo absurdo do
Brasil e Argentina, as principais economias do Mercosul.
Quais são as nossas armas para estes mercados?
Em primeiro lugar, a nossa engenharia de produto. Temos produto de
elevada qualidade, com
rótulo europeu, o que é
muito atraente em termos
de lifestyle para os latinoamericanos, mas com uma
melhor relação qualidade
/preço do que a dos nossos
concorrentes da UE. Além
disso, temos produtos muito inovadores, pois em termos tecnológicos somos os
segundos mais avançados do
mundo, a seguir aos alemães.
Qual a importância da Colombiamoda?
É a feira mais importante da
América Latina e a plataforma ideal para quem quer trabalhar este mercado.
Em que lugar da vossa lista de prioridades está a
América Latina?
O nosso pão com manteiga
é a Europa, que absorve 80%
das nossas exportações, que
já atingiram os 4,6 mil milhões de euros/ano, ou seja
ultrapassaram o valor de
2007. A seguir, atribuímos
importância equivalente à
Ásia e América Latina.
A têxtil já deu a volta?
Estamos a exportar mais do
que antes da crise, com metade das empresas e do emprego. Ganhámos competitividade e produzimos com
cada vez mais valor acrescentado. A quota de mercado do têxtil e vestuário nas
exportações está nos 9%, ou
seja é o triplo da do calçado.
Ao contribuirmos com 6,4
mil milhões para o PIB, afirmamo-nos como o segundo
maior setor industrial, a seguir à metalurgia e metalomecânica. E depois de pararmos a hemorragia de postos
de trabalho, que se verificava desde o início dos anos
90, este ano vamos começar
a inverter a tendência e criar
emprego líquido. v
Download