ÁREAS VERDES E A QUESTÃO SOCIOAMBIENTAL NA CIDADE DE CAMPOS GERAIS-MG Rafael Vilela Pereira Universidade Federal de Alfenas [email protected] 1. Introdução O sul de Minas Gerais, uma das micro-regiões do estado, localiza-se estrategicamente na região sudeste e no país, revelando grande complexidade socioeconômica. Esta complexidade está atrelada à população, a renda per capita, ao grande potencial turístico, ao potencial tecnológico da indústria e da agropecuária e, à rede viária, por onde circula volume considerável de mercadorias de todo estado. A grande diversidade de paisagens no sul de Minas Gerais está sendo ameaçada por um processo de ocupação pouco sustentável, onde se priorizam um intenso desmatamento e descaracterização de ecossistemas naturais como, a mata atlântica e o cerrado, situação esta que afeta, inclusive, a arborização urbana dos municípios inseridos nesta região. Mapear as áreas verdes urbanas é de suma importância para a conservação e planejamento, pois as informações obtidas podem ser utilizadas para redirecionar a forma de expansão e o crescimento do perímetro urbano minimizando problemas no meio ambiente. As áreas verdes urbanas têm a função de melhorar a qualidade de vida seja para fins de lazer, equilíbrio climático, preservação ambiental e construção da paisagem urbana. A vegetação urbana tem um papel preponderante na manutenção da qualidade ambiental no meio urbano, tanto em seus aspectos ecológicos quanto sócio-econômicos. Lorusso (1992) expressa um conceito para áreas verdes urbanas que engloba o conjunto composto por três setores individualizados que estabelecem interfaces entre si: (1) áreas verdes públicas, compostas pelos logradouros públicos destinados ao lazer ou que oportunizam ocasiões de encontro e convívio direto com a natureza; (2) áreas verdes privadas, compostas pelos remanescentes vegetais significativos incorporados à malha urbana e (3) arborização de ruas e vias públicas. O presente trabalho está sendo realizado com base nesta base conceitual. Do ponto de vista ecológico, LAPOIX (1979) considera fundamental uma distribuição espacial homogênea das áreas verdes dentro da malha urbana. Segundo Poland (1973), do ponto de vista sócio-econômico, Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 principalmente no que se refere à recreação, esta consideração também é válida. A crescente e veloz expansão urbana vem interferindo intensamente no planejamento da ocupação do solo, afetando significativamente a distribuição de áreas verdes na cidade, de modo que algumas zonas são razoavelmente aquinhoadas, enquanto outras notavelmente desprivilegiadas, aventando-se a possibilidade, inclusive, de ações desapropriatórias de áreas particulares para minorar esta deficiência (SANCHOTENE, 1990). A elaboração de um questionário socioeconômico e ambiental é de suma importância para o desenvolvimento sustentável do município, pois é através dele que se criam políticas de planejamento que visam o bem estar da população. O diagnóstico sócio-ambiental pressupõe pensar e investigar o conjunto (natural e social) e de que maneira este todo se manifesta na realidade. Na Geografia, é fundamental a pesquisa sócio-ambiental para se atingir resultados adequados de diagnósticos, para, a partir daí, tornar-se possível a elaboração de prognósticos. Agra Filha (1993 apud Oliveira, 2003) ressalta que um dos objetivos do diagnóstico ambiental é interpretar a realidade das condições ambientais, identificando a dinâmica dos processos que interferem na sua qualidade. Por sua vez, Leal (1995), ressalta que a etapa de diagnóstico ambiental permite avaliar os principais problemas e as perspectivas de soluções, que subsidiam os planos de trabalhos e propostas de intervenções posteriores. Trata-se de um trabalho complexo, pois depende de uma capacidade de percepção, observação, interpretação e sistematização dos vários processos sociais e naturais presentes e que muitas vezes têm causas, efeitos e abrangência maiores que a área estudada. O objetivo deste trabalho é realizar o mapeamento das áreas verdes e a proposição e aplicação de um questionário socioeconômico e de percepção ambiental, aos moradores da área urbana de Campos Gerais, a fim de se obter dados para futuras propostas de planejamento urbano da cidade. 2. Material e Método O município de Campos Gerais situa-se na porção sul do estado de Minas Gerais, localizado entre as coordenadas geográficas 21°14'06'' de latitude S e 45°45'31'' de longitude W, tendo como cidades limítrofes, Boa Esperança e Campo do Meio ao norte, Santana da Vargem e Três Pontas a leste, a sul Paraguaçu e Fama e a oeste Alfenas. Pertence a microrregião de Varginha integrando junto com outras cidades o Circuito das Águas, que compreende todo o complexo da Represa de Furnas (Figura 1) Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 Figura 1 – Localização do município de Campos Gerais na meso-região do sul de Minas Gerais. O município é constituído por uma cidade sede, um distrito e vários povoados espalhados em uma paisagem rural, com topografia ondulada, coberta por vegetação atual do tipo campo antrópico, abastecido hidrologicamente pelo Rio Grande, pertencente à Bacia do Paraná. Com população de aproximadamente 27.000 habitantes, apresenta segundo o IBGE (2007), IDH de 0,751, mostrando situação positiva se comparada a 66,6% dos municípios brasileiros que apresentam índices menores. Inicialmente, foi realizado um mapeamento das áreas verdes urbanas a partir de fotografias aéreas na escala 1:10.000. Foram identificadas três classes de áreas verdes (arborização de ruas, de praças e áreas privadas) e posteriormente, localizadas e traçadas na planta cadastral do município, por meio do uso do software livre DIVA-GIS. Em seguida, realizou-se o trabalho de campo, onde foram checadas e atualizadas todas as informações mapeadas. A proposta de utilização da cartografia digital como base principal para tecer o diagnóstico da situação das áreas verdes do município, encontra respaldo como importante ferramenta para a análise ambiental urbana. A realização do levantamento das áreas verdes urbanas abrangeu todos os bairros da cidade de Campos Gerais. A execução deste trabalho também foi possível, graças à disponibilidade de uma planta cadastral digitalizada em formato CAD, pela Prefeitura Municipal. Logo após o mapeamento das áreas verdes, foi elaborada uma planilha contendo um questionário socioeconômico e de percepção ambiental para ser aplicado na área urbana. Para se definir o número de pessoas entrevistadas em cada bairro, foram utilizadas imagens do Google Earth, para analisar o parcelamento do solo e também, o último censo demográfico realizado pelo IBGE. Com base nesta estratégia, definiu-se assim, o Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 adensamento populacional de cada região e posteriormente, o número de entrevistados em cada bairro. Os trabalhos de campo cobriram todo o perímetro urbano de Campos Gerais. 3. Resultados e Discussões A área urbana de Campos Gerais se desenvolve em superfícies topográficas suaves, tendo como barreira topográfica natural a Serra do Paraíso, cuja direção principal é NW-SE, a qual, tem impedido o crescimento da cidade para nordeste. A expansão urbana se deu nos eixos noroeste-sudeste, sendo localizados nos extremos deste eixo, os bairros mais recentes. Resultados preliminares apresentados no mapa da Figura 2, e os trabalhos de campo, sugerem que há heterogeneidade na distribuição das áreas verdes na cidade. Na região central e em bairros tradicionais, estas áreas são mais abundantes, ao contrário da região periférica e de expansão urbana recente, onde a arborização é reduzida ou inexistente. De maneira geral, o centro da cidade mostra uma estrutura mais organizada e vias planejadas; conseqüentemente há uma concentração elevada de áreas verdes, relacionadas principalmente a praças e arborização de ruas, que estão vinculadas a áreas públicas e privadas; neste último caso, a existência de quintais nas áreas residenciais. Localmente, nota-se nas áreas de maior adensamento comercial, pouca arborização de ruas, devido ao intenso parcelamento do solo. Nos bairros mais antigos e tradicionais, como é o caso de Vila Nova, Presépio e São Benedito, próximos ao centro e, Bairro do Rosário, onde a cidade começou a se desenvolver, a arborização é maior, em função do baixo parcelamento do solo, predominando lotes maiores, arborização de quintais e maior infiltração das águas pluviais. Com o crescimento desordenado da cidade em direção a noroeste e sudeste, ocorreram distorções em sua configuração espacial. Nestes setores, há bairros em expansão urbana, desprovidos de planejamento, como é o caso do Jardim Planalto e do Jardim Botânico, que indicam menor densidade de áreas verdes e inexistência de espaços de convívio, como áreas de lazer e recreação que atendem a população local. Em oposição aos demais bairros anteriormente citados, estes dois últimos apresentam alto parcelamento do solo, lotes pequenos e construções que ocupam grande parte do terreno, promovendo a impermeabilização do solo e baixa infiltração. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 Figura 2 – Mapa das áreas verdes situadas na área urbana de Campos Gerais – MG, em 2009. Outra informação relevante é a existência do Lago Municipal, pouco freqüentado devido ao baixo índice de áreas verdes, não se constituindo em área de lazer pública, o que contrariou a proposta original. Um exemplo de planejamento ambiental foi à construção do Parque Municipal, na qual sua arborização é planejada, concentrando-se no seu entorno e na região central do parque. O mesmo acontece com a Praça Josino de Paula Brito, praça principal, localizada no centro urbano, na qual a cobertura vegetal é densa, proporcionando lazer e melhor qualidade de vida aos moradores e visitantes da cidade. Com o intenso processo de urbanização e expansão do município, a mata ciliar do córrego da Divisa, que corta a cidade, foi desmatada e extinta, acarretando diminuição da infiltração e aumento do escoamento das águas superficiais para o córrego, intensificando processos de assoreamento, trazendo danos aos bairros próximos ao córrego. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6 Sobre o questionário, uma análise parcial do levantamento sócio-econômico e de percepção ambiental comprova que o município apresenta grande desigualdade social, onde a renda e os serviços públicos essenciais ao bem estar da população não estão bem distribuídos na cidade. Bairros periféricos ou de expansão urbana recente apresentam em quase sua totalidade uma renda de até um salário mínimo, sendo que estes bairros não apresentam em nenhum deles renda acima de três salários mínimos, como é o caso do Jardim Botânico e do Planalto (Figura 3), onde os serviços públicos estão ausentes ou, quando estão presentes, são precários. A população residente nestes bairros possui o Ensino Fundamental Incompleto, sendo que a maioria não chegou a cursar até a 5ª série, existindo no local, elevada taxa de analfabetismo. Poucos bairros da cidade apresentam renda de três a cinco salários mínimos ou mais destacando os bairros centrais, na qual os serviços públicos e até mesmos os privados se concentram nessas áreas. Problemas ambientais foram encontrados em todos os bairros da cidade, mas com maior intensidade nos bairros de baixa renda, onde a população desconhece o conceito e as questões relacionadas ao meio ambiente. Figura 3 – Renda em salários mínimos da área urbana de Campos Gerais-MG Grande parte da população do bairro Jardim Botânico, segundo o questionário sócio econômico, desconhece o conceito de meio ambiente, enquanto outra parte da população do bairro associa o conceito a elementos naturais como hidrografia, vegetação e fauna, desconsiderando assim as ações antrópicas (Figura 4). Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 7 Nos bairros tradicionais onde uma elevada parte dos moradores estudou até a 8ª série, assim como no Centro, a população relaciona o conceito de meio ambiente a aspectos naturais, porém, acabam aparecendo também, ações antrópicas como calçadas, estradas, prédio, indústrias. Figura 4 – Percepção ambiental dos moradores de Campos Gerais-MG No Centro, o desconhecimento total sobre o que é meio ambiente não se manifesta, fato que pode estar relacionado ao nível de escolaridade, já que grande parte dos moradores estudou até o Ensino Médio. Sobre os problemas ambientais encontrados nos bairros (Figura 5), ainda segundo o questionário sócio econômico, aqueles tradicionais e os relacionados à expansão urbana, moradores alegam o aparecimento de ratos e baratas e lixo a céu aberto, reduzindo a qualidade de vida dos moradores. Nos bairros tradicionais, no caso do Presépio e da Vila Nova, o corte de árvores foi mencionado como um dos problemas alegados pela população. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 8 Figura 5 – Percepção ambiental dos moradores de Campos Gerais-MG Os responsáveis por estes problemas, de acordo com os moradores, são políticos e moradores (Figura 6). Já no Centro, grande parte da população desconhece ou não sabem de problemas ambientais relacionados ao local onde moram, sendo que corte de árvores, lixo a céu aberto e aumento de ratos e baratas aparecem, porém em menor quantidade. No centro, quando se referem ao responsável pelo surgimento dos problemas ambientais, mais da metade não sabe e poucos responsabilizam somente o governo. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 9 Figura 6 – Percepção ambiental dos moradores de Campos Gerais-MG Quando se referem à responsabilidade em resolver os problemas ambientais em seu bairro (Figura 7), todos os bairros e sem exceção, atribuem a responsabilidade ao governo. Bairros como o Planalto e o Jardim Botânico não sabem quem deve resolver estes problemas. Moradores do Centro atribuem a responsabilidade à própria população e, a mudança de hábitos dos moradores só será possível a partir da existência de ONGs, que podem contribuir através da aplicação de projetos de educação ambiental. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 10 Figura 7 – Percepção ambiental dos moradores de Campos Gerais-MG 4. Conclusões Este estudo teve como propósito o mapeamento das áreas verdes na cidade de Campos Gerais e o levantamento socioeconômico e de percepção ambiental dos moradores, utilizando de ferramentas digitais. A distribuição das áreas verdes de Campos Gerais não é homogênea, grande parte das áreas se concentram na porção central da cidade, enquanto os bairros de expansão urbana, onde se encontram a população de baixa renda, mostra ausência de vegetação arbórea. Resultados indicam que a cidade de Campos Gerais apresenta uma heterogeneidade na distribuição da arborização urbana, a mesma desigualdade é verificada quando analisamos o perfil socioeconômico dos moradores. Os localizados em bairros de expansão urbana desconhecem as questões que envolvem o meio ambiente, apresentando uma fraca percepção ambiental, sendo prejudicial à população, que acaba por não possuir uma análise critica do ambiente em que vivem, deixando assim os problemas ambientais se disseminarem. Assim, este estudo faz um alerta sobre a sustentabilidade das áreas verdes urbanas e a importância da percepção ambiental dos moradores da cidade, apontando para a necessidade de ações que possam garantir às futuras gerações, uma melhor qualidade de vida. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 11 5. Referências Bibliográficas ALVES, A. O.; LEAL, A. C. Pressupostos teóricos e metodológicos do planejamento ambiental. 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ISBN 978-85-99907-02-3 12 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 13