o estudo da situação familiar através da entrevista EURÍDICE FREITAS * INTRODUÇAO o estudo da família como "unidade de personalidades em interação", consoante a define Burgess, 1 subministra uma hipótese de trabalho de grande alcance, pela qual podem-se nortear muitas investigações, abrindo também novas perspectivas à psicologia contemporânea. O estudo da família pode ser então encarado em têrmos da personalidade dos membros participantes, interagindo em um contexto situacional, o que evidentemente, reforçará o indiscutível valor dos trabalhos realizados no campo da psicologia clínica e na terapia familiar para a compreensão da dinâmica psico-social do comportamento humano. Dado que a família, na vida atual, está em processo de contínuas e súbitas modificações, que, como adverte Burgess, "dificilmente podem ser apreciadas e compreendidas a não ser na perspec.) PSicóloga do !SOP, Chefe da Divtsão de Orientação. R. Janeiro. 1) Burgess, E. W., - Capo XXXIV, em Estudos de Organização Soctal, de Pleraon - Ed. Martins, São Paulo, 1949. DoIiakt 42 SITUAÇAO FAMILIAR E ENTREVISTA A.B.P./4 tiva do passado"; dado que na situação familiar estão os fundamentos da vida psíquica humana, afigura-se-nos de sumo interêsse prático o estudo mais particularizado das dinâmicas do complexo de fatôres que definem e conformam a situação familiar, quando se pretenda dar curso à orientação profissional e educacional dos jovens. Embora haja consenso entre os estudiosos do problema, contudo parece-nos conveniente insistir na necessidade de dar maior consideração à análise e estudo não simplesmente das relações entre :>s membros da família, mas, também, e com maior empenho, ao estudo da situação familiar como um todo, se se deseja colhêr dados mais confiáveis e objetivos para a compreensão do dinamismo da personalidade. No caso da orientação profissional, parece-nos oportuno também sugerir se considere com maior interêsse o uso de entrevistas bem elaboradas e conduzidas, atendidos princípios científicos. Constituem elas técnica das mais valiosas para obtenção de dadcs reveladores da gênese de certas atitudes ou sistemas afetivos, da formação de valôres, crenças e opiniões que, em parte consciente e em parte inconscientemente, estejam incidindo sôbre o rumo vital do Orientando em suas vinculações com o meio ambiente no qual tenha de viver. Dentro dessa ordem de idéias, é que se faz oportuno um exame do que se tem entendido por situação familiar e os elementos que a constituem e definem, os quais, quando bem examinados na entrevista, podem representar substancial contribuição à compreensão dos problemas da conduta humana, como reação a um complexo de fatôres e estímulos implicados numa dada situação. VALOR E IMPORTÂNCIA DA ENTREVISTA A entrevista é, sem dúvida, um instrumento de investigação que, bem empregado, pode cumprir êsse deriderato, fornecendo dados elucidativos da influência da família na formação da personalidade, e no comportamento atual do homem em face do trabalho, o qual especificamente interessa ao Orientador profissional. bem possível que, numa entrevista convenientemente conduzida, se obtenham dados tão elucidativos do problema, ou situação, que É A.BP./4 SITUAÇAO FAMILIAR I!: ENTREVISTA 43 se torne dispensável o emprêgo de muitos testes. que, de modo geral, servem apenas para o psicólogo eomprcwar o "parecer" a que o tenha conduzido o contato com o entrevistado. Essa afirmativa é tanto mais procedente quando se pensa no ingente esfôrço que realizam os Institutos e Centros de Orientaçã.o em nosso país, geralmente com insuficiente número de técnicos qualificados para atender ao cadá vez mais numeroso contingente de jovens a braços com o problema da escolha profissional. Não é também restrito o número de adultos que apresentam problemas de desajustamento no trabalho, requerendo readaptação, ou o daqueles cujo motivo verdadeiro da consulta aos Institutos se disfarça sob os mais diversos pretextos, entre os quais o da orientação profissional é o mais empregado. A entrevista apresenta-se, assim, como técnica das mais valiosas e imprescindíveis nêsses Centros e Institutos, tanto mais quanto é importante fundamento para a simplificação do plano de provas a que devem ser submetidos os indivíduos que buscam ajuda para a solução mais adequada de sua problemática profissional, sexual ou social. Tôda vez que o planejamento das provas não se baseia na entrevista conduz à aplicação de alguns testes não necessários ou inadequados ao "caso", ou ao uso indevido de testes cuja aplicação e interpretação exigem mais tempo de psicólogos especialistas, o que, evidentemente, sôbre incidir na demora do processo orientador, tornase econômicamente inviável para a grande maioria de jovens, além de acarretar déficit financeiro para a instituição. Não se infira dessas considerações que estamos insinuando uma simplificação tout-court; sugerimos antes uma simplificação tecnicamente adequada a cada caso e indicada pelos dados obtidos, o que sem dúvida facilitará a compreensão dos fatôres que estão na gênese da problemática considerada. Nenhum método é independente, suficiente ou completo em si mesmo. Louvando-nos em Lundberg,2 consideramos os diferentes métodos como etapas <Jistintas de um processo comum, o do mesmo intento de compreender, explicar, predizer e controlar aconteci- :l' Lundberg, G. A. - Técnica de la Investigación Social, Capo GI 442). (Trad. de J. Miranda). (págs 425 a 44 SITUAÇAO FAMILIAR E ENTREvISTA A.B.P.l4 mentos sociais ou individuais. Não obstante, a entrevista é a técnica por execelência para a sondagem das influências e para conhecer a dinâmica dos sentimentos e atitudes que orientam o comportamento humano; para compreender fatôres tais como necessidades, motivos, impulsos e inibições, aversões, preferências e aspirações profissionais, assim como aptidões para o desenvolvimento da sociabilidade. Pode-se inferir sua importância e complexidade da extensa bibliografia existente e das muitas críticas que se têm feito a êsse valioso instrumento de pesquisa, às vêzes empregado com critérios simplistas. Com efeito, o ponto de vista geralmente admitido de que a entrevista é de fácil condução, mera arte de colhêr informações, faz que muitos a utilizem sem estar suficientemente habilitados, por lhe desconhecerem as implicações teóricas, a técnica de administrá-la e as bases em que devem alicerçar a análise e inferência dos dados. Sob ponto de vista tão superficial, muitos investigadores pretendem chegar a conclusões, louvando-se em dados gerais, limitados, ingênuos, de pouco conteúdo significativo. Isso, evidentemente diminui o valor da entrevista, torna discutível a sua importância, e justifica as críticas que se lhe dirigem. Uma perspectiva mais ampla na consideração da entrevista, assim como pontos de vista mais adequados em relação à sua aplicabilidade com metodologia científica, ajudarão ao entrevistador a compreender que a entrevista, como técnica usual nos métodos de diagnóstico, exige treino sistemático, implica uma direção doutrinária e requer conhecimento do campo a que Se destina. LIMITAÇOES DA ENTREVISTA COMO PROCEDIMENTO CIENTíFICO Conceituada como técnica de diagnose, não caracteristicamente objetiva, sofre a entrevista muitas limitações e tem sido alvo de objeções sérias quanto à sua precisão, objetividade e valor como procedimento científico. Um dos motivos de dúvida quanto à sua validade é que escapa ao contrôle estatístico, p~la impossibilidade de serem os dados apreciados quantitativamente. Não há também como evitar o poder de sugestibilidade e prenoções do entrevistador, assim como a dissimu- A.B.P;/4 SITUAÇAO FAMaUIIi-JB ENTttEV'ISTÀ 45 lação e outros mecanimos de defesa do entrevistado. Aponta-se-Ihe, outrossim, a desvantagem de exigir sua realização muito tempo - em comparação com os questionários e inventários - sendo assim, técnica dispendiosa, principalmente quando aplicada à seleção profissional. Outras críticas levantam-se a êsse instrumento de pesquisa no que concerne à determinação do grau de fidedignidade dos dados obtidos, como no que diz respeito à sistematização da experiência acumulada por diferentes pesquisadores, a fim de colocá-la ao alcance daqueles que se estão iniciando como investigadores no campo das ciências sociais. A diversidade e falta de estrutura dos dados informativos criam, realmente, dificuldade à avaliação objetiva, requerendo do entrevi~tador habilidade para distinguir, no material recolhido, os elementos genuínos daqueles que não serão mais do que modos de defesa, tergiversações intencionais ou contrafações da realidade. Tais críticas são procedentes e as limitações e objeções apontadas devem-se menos ao instrumento em si, que a seu emprêgo e à falta de formação e treino dos entrevistadores. A maioria das difificuldades e desvantagens que a entrevista apresenta em relação ~ outros procedimentos técnicos "não são 'inerentes à entrevista escreve Pauline e Young 3 - mas ao uso que dela se faz, ao modo como se põe em prática e às pessoas que a empregam". Sem embargo, e geja qual fôr a finalidade a que se proponha o exame do conportamento individual (psicopedag6gica, psicotécnica, psicoterápica, psiquiátrica), a entrevista impõe-se como imprescindível instrumento de trabalho que, usado com orientação científica, pode dispensar - repetimos - o emprêgo de muitos testes expressivos ou projetivos, de uso comum na exploração da personalidade. A SITUAÇAO-ENTREVISTA: IMPLICAçõES TEÓRICAS "A entrevista" - escreve Echavarria - "é algo mais do que a interpretação corrente da palavra indica, pois não se trata de simples interogatório, mas de um ato de experiência criadora, na qual entrelU Young, Pauline V. Capo X. MétOdos Científicos de la Investigaçilo Social (Trad.) 46 SITUAÇAO FAMILIAR E ENTREVISTA A.B.P./4 vistador e entrevistado contribuem igualmente para a obtenção de um nôvo conhecimento". 4 A entrevista é, em si mesma, uma situação que envolve interrelação pessoal, onde há um processo de interestimulação de certos padrões de comportamento, razão por que exige não só discernimento e sensibilidade para observar e habilidade para estimular, mas também a fixação de conceitos fundamentais entre êsses comportamentos e o mundo social da pessoa. A situação-entrevista envolve, portanto, um sistema de reações pelas inter fluências pessoais e pelo intercâmbio de idéias, sentimentos e atitudes, estando nela, pois, implicado o conceito de interação social, cuja continuidade será assegurada ou rompida, na dependência dos estímulos que a reforcem ou debilitem. "Continuidade e rutura do sistema de interação dependem do refôrço social. A interação continua, se todos os participantes acham-na agradável; se não as relações são rompidas, a menos que fôrças coercitivas surjam", Õ o que, evidentemente, prejudicará o processo e, no caso da entrevista, não alcançará os objetivos visados. Essa relação entre du13.s pessoas (entrevistador-entrevistado) complica-se pela "presença" de outras figuras significativas no psiquismo individual as quais foram introjetadas no passado, pelo estilo individual de reações fixadas nos primórdios da vida, mercê das fôrças impulsoras e repressoras do ambiente no processo de socialização. Tomam, assim, as relações pessoais na entrevista, certo caráter particular; na atmosfera psicológica que então se forma há fatôres específicos que suscitam, sem dúvida, respostas específicas. Facilitação, inibição, sugestão e identificação, entre tantos ingredientes psicológicos, estarão implícitos no processo de interação, que aí se verifica, e cujo conhecimento e observação devem servir de base à posição e atitude do entrevistador. Considerada como campo de estudo das interrelações pessoais, a entrevista requer, portanto, o conhecimento teórico das bases psicológicas da percepção e da comunicação, das normas defensivas que 4) 5) EchaVarria, J. W. - Sociologia: Teoria y Técnica (págs. 183 a 184). Beaglehole, Ernest - "Int'3rpretation Theory anã Social sychological" in A Stuày 01 Interpesonal Relations, by Patrich Mullahy. A.B.P./4 SITUAÇAQ FAM1LJNlkJI:~REVISTA 47 se opõem à liberdade de comunicação, e a análise das fôrças que operam na interação social, temas que são inerentes ao estudo da psicologia social. No domínio teórico da psicologia social, a entrevista é empregada, portanto, no pressuposto de que os efeitos da vida social e cultural sejam sensíveis em tôdas as atividades psicológicas do homem, admitido o fato de que a realidade que importa estudar é a vida humana em sua totalidade. N o campo teórico da psicologia dinâmica, a entrevista fundamenta-se no princípio de que, no estudo do comportamento, deve-se partir da unidade homem-mundo, em que cada um dêsses aspectos não tem sentido senão em função do outro, em comportamentos que devem ser vistos como esfôrço para a auto-realização nos níveis biológico, social, psicológico e espirituaL 6 Nesse, como noutro marco teórico, a situação-entrevista COll-' verte-se em campo de estudo das relações interpessoais, dado que "o homem é em grande parte um reflexo do viver em grupo, que aliás dirige as normas de sua conduta", dado que existe "relação estreita entre a estrutura sociaÍ e o equilíbrio individual", como insiste em dizer Sullivan. 7 Os fundamentos teóricos da entrevista ligam-se a seu moderno conceito de "situação interpessoal na qual duas pessoas colaboram para a realização de um objetivo comum". 8 Tais objetivos são colhêr dados relativos às motivações, sentimentos e atitudes, concernentes aos fatôres ambientaes passados e atuais, que exerceram e ainda exercem u~ papel, muito decisivo, às vêzes, na conduta individual. ........ O estudo dos processos que envolvem a situação-entrevista, seus aspectos psicológicos e sociais, o conhecimento de suas bases científicas ajudarão sem dúvida a tornar mais competentes aquêles _ que, por imperativo profissional, façam uso constante dessa técnica . ........ \ Dispondo dêsses conhecimentos e cultivando uma consciência alerta para o reconhecimento dos fatôres que integram as situaçõe~· pessoais, (explícitos ou não), o entrevistador melhor manejará êsse Nuttln, JosePh '0 I Sull1van, H. S. 8) Idem ti) Psicanálise e Personalidade (Trad.) Ed. Agir, 1955. La entrevista psiquiátrica (Trad.) Editorial Psique, 1959. Á.B,P./4 instrumento técnico, captando com maior acuidade os dados significativos, e discriminando os pertinentes ao objeto da indagação. No caso da Orientação profissional, pode imprimir maior eficiência à entrevista o conhecimento de certos esquemas teóricos, tais como: o das relações entre motivação e escolha profissional, entre motivação e eficiência no trabalho, influência do nível de expectação e aspiração na produtividade individual, motivação e maturidaàe emocional na adaptação ao trabalho; fatôres determinantes da escolha e interêsses profissionais. Enfim, todos os conhecimentos pertinentes à teoria do ajustamento à profissão. INTERPRETAÇAO E ESTUDO DA FAMíLIA O estudo da família propende, nos últimos anos, a ser empreendido em têrmos de situação, a qual, segundo Stuart Queen 9 consiste nas relações entre pessoas vistas numa secção transversal da experiência humana, e cuj li tônica é constante mudança, tanto nas condições materiais como nas de relacionamento com outras pessoas. A família tem sido estudada sob diferentes aspectos, atendendo ao reconhecimento de sua importância como unidade social básica, € ao relevante papel que desempenha na determinação e organização da personalidade. As primeiras formas de estudá-la baseavam-se na consideração da família como "núcleo-síntese", que concentra de modo intensificado todos os procesos da sociedade. Estudos posteriores analisavamna de forma descritiva, como instituição social e legal, ou do ponto ~"" vista das experiências individuais e efeitos dessas experiência~ sôbl'e a VIda emocional. Estudos mais recentes, todavia, baseados na concepção sociológica do comportamento humano, incluem a arnáLise da situação em que se desenvolve a vida no interior do grupo familiar. :S:sses estudos processam-se admitindo-se que a situação da família, como bem a definiu Ada Sheffield, é "um campo dinâmico de experiência, no qual indivíduo e família figuram dentro de um contexto de fatôres 9) Citada por Ruth Lindquist, in The I amilll in tive Present Social Order, Chapal H1l1, 1930. A.BP ..'4 SITUAÇAO FAMlflUa B ENTREVISTA r 49 de personalidade e de circunstâtlcia, interativos e interdependentes." 10 A psicologia cabe a iniciativa do estudo das origens do -comportamento normal e patológico do indivíduo por meio da observação dos processos de interação restrita, (comportamento face-a-face) no grupo familiar. Sem embargo, não se tem ela preocupado em focalizar o estudo da família como um todo, em que' êsses processoS ocorrem, e dos fatôres e circunstâncias implícitos nessa situação. Jl'! evidente que isso daria maior amplitude à compreensão do dinamismo da personalidade. Não obstante, no campo da psicologia clínica, há estudos pertinentes à análise da interação familiar e relações -interpessoais de grande valor diagnóstico. O método que, em realidade, se tem constituído como maior fonte de dados é, precisamente, o da análise clínica e terapia familiar, o qual não somente tem-se revelado útil para a eficácia da própria terapia, como contribuído para esclarecer e compreender o dinamismo que oriente o ser humano em busca da própria afirmação e realização. A entrevista e observação no próprio lar dos sujeitos, tal como são usadas nos chamados métodos de investigação "sôbre o terreno", são outros procedimentos de idêntico valor. Alguns psicólogos veem usando as técnicas projetivas (Thematic Apperception Test, Psicodiagnóstico de ROTS'chach, Teste de Completação de Sentenças e outras) para o diagnóstico da interação na vida das famílias estudadas. Conquanto seja indiscutível o valor dêsse métodos para compreensão da influência da família sôbreo comportamento individual, apresentam êles limitações, visto que a interpretjlção de seus dados tende a basear-se no comportamento de membro a membro familiar mais que no comportamento do membro ao grupo, ou do grupo ao membro da família. Enfim, a importância dada aos sistemas da cultura contemporânea no processo da socialização da criança e ao papel da faÍnília nesse processo; os estudos experimentais sôbre a influência das situações sociais no comportamento de crianças e adultos; a análise' da interação familiar por meio de testes projetivos; e enfim, 0.3 inétodos ~ 11# B06S&rd,· H. 5., James and BOll, E. - FamÜ'Jf Situatkm, University of Pennsyl'.' I vania Presos, 1 9 4 3 . ' , SlTUAÇAO FAMILIAR E ENTREVISTA A.B.P./4 de pesquisa na terapia familiar representam valiosos e significativos esforços dispendidos pela antropologia, a sociologia, a psicologia clínica e social para a compreensão dos fatôres que caracterizam a família como um todo e os elementos que configuram o "clima familiar", de tão decisiva influência na manifestação da conduta humana. CONCEITO DE "SITUAÇAO FAMILIAR" A expressão "situação familiar" traduz-se pela aplicação do conceito de situação social ao campo específico do grupo da família. O estudo da situação social dentro da família é empreendido não só pela importância manifesta das situações familiares na determinação dos padrões de comportamento, como porque a família, em virtude de sua relativa simplicidade e menor dimensão, oferece maior oportunidade ao emprêgo de métodos e técnicas requeridos pela análise objetiva. A situação familiar deve ser entendida como um "campo de fôrças", que, embora externas ao indivíduó, agem sôbre êle, provenientes de outras pessoas e, mesmo, de objetos materiais, dado que no campo situacional, como explica Kurt Lewin" 11 os objetos não são neutros: pelo contrário, exercem influência psicológica sôbre a conduta. o Assim, a análise da situação familiar implica no estudo de uma constelação de estímulos que se configuram em têrmos de organização estrutural, de processo de interação e de conteúdo cultural, cujos conceitos são básicos na condução inteligente da entrevista. Organização estrutural da família - Cada família tem sua . organização estrutural, da qual decorre a trama de relações na intimidade do grupo, com suas propriedades e traços característicos,. a qual a define e situa no esquema cultural vigente. As rápidas transformàções que ocorrem nas sociedades industrializadas atingem sua estabilidade e coesão, e influem em sua estrutura, e sistema de inter~eiàç~es. A família pode, dêsse modo, apresentar diferenciações no •qu~ . concerneà sua estrutura e organização, sob o imperativo das 'Illüdanças operadas pelas fôrças econômicas dà sociedade. o :U)' LeWin; Kurt (trad.), 1953. '~"'FtlerZa8° deI' ambiente", in Manual de Psicologia del Nino A.B,P./4 SITUAÇAO FAUIltl.i .J,ilNTREVISTA 51 . Assim, a forma partic\Í~:~Il'{~rganização da família apresente estará em relação direta-:~"l_rutura geral da sociedade e da cultura dominante.' Os "m~íj~~!exemplo, determinam o processo de escolha do cônjuge, a. a~tW:tepara o casamento, sua forma de realização, de conservação ou· dissolução, tanto quanto estabelece a conduta nas relações da famíli,a." 12 Entende-se por "organização" da família o sistema de relações implícitas nos privilégios e obrigações existentes, ao passo que a "estrutura" indica a ordem e a posição dos indivíduos no grupo. A base da vida de família está nas relações recíprocas de pais e filhos que, por sua vez, são determinadas pelo padrão cultural, que pre,;creve os deveres e a responsabilidade de cada um. É necessário, portanto, conhecer "os universais de sua estrutura e funções, a forma em que 'variam com a cultura, e as dimensões na dinâmica familiar inerentes à vida histórica de tôda a família." 13 A família moderna é, em si mesma, um subsistema do sistema social, e, em sua estrutura interna, apresenta outros subsistemas 'menores: o subsistema mãe-filho, porque a criança não participa a princípio da família total, mas apenas dêsse subsistema, formando com a mãe um sÓ corpo; os cônjuges constituem outro subsistema, como os irmãos entre si formam um terceiro. Caracterizando-se pela redução do tamanho, a família atual forma um subsistema social muito simples, constituído pela associação de marido, mulher e filhos, no qual as relações de parentesco e sexo lhe são inerentes e consubstanciais. O contrôle externo é menos rígido. tanto assim que a estabilidade da família contemporânea depende cada vez mais da fôrça e influência internas. Quando essas fôrças psíquicas falham, a família torna-se instável, desorganiza-se, desintegra-se. Seu equilíbrio dinâmico vai depender das relações emotivodialéticas que ligam os indivíduos e o grupo, do sistema das interações estabelecidas, que criam um "clima social", propício ou não, p81"a o bem-estar de cada um de seus membros e para a vida da família como um todo. Tôda vez que os "papéis" de pai, de mãe e de filhos 12)'Ogbun, W. F.'and Nirnkoff, M. F. - SocioZogy (Houghton Mifflin Cc-mpany>. 13) Ackerman, N. W. - Diagnóstico 11 tratamento dalas relaciones familiares,.... (trad., 1966) Ed. Paidós, Capo XX. 52 SITUAÇAO FAMILIAR E ENTREVISTA ABP./4 não forem devidamente representados, tôda vez que o "perfil psico. lógico" individual não se ajuste à posição e ao papel que compete a cada um, a organização grupal ressente-se, a instabilidade· surge e . o equilíbrio fica comprometido. No estudo da estrutura da família, devem ser considerados os seguintes elementos e suas peculiaridades porquanto encerram implicações psicológicas da maior relevância no desenvolvimento da personalidade: a) Número de membros - A grande família que incluía avós, tios e demais parentes, além de pais e filhos, tende a desaparecer, sendo substituída pela família de tamanho reduzido que, ao contrário da primeira, pode exibir variados padrões dentro da mesma cultura. A família contemporânea caracteriza-se, precisamenté, por essa tendência à redução numérica de seus membros, o que exerce considerável influência no processo de socialização, pela maior intensidade das diferenças de "status" entre os mesmos, originando problemas típicos, pelas graves tensões que disso resultam. Dentro dêsse grupo, importa estudar o número de pessoas envolvidas na situação, se maior ou menor, bem como os respectivos deveres e privilégios; e a posição do indivíduo na estrutura do grupo, a qual exerce influência considerável sôbre os papéis de cada membro na situação familiar. As atitudes e as relações psíquicas decorrentes dêsses papéis e "status", patentes sob múltiplos e variado!:' aspectos, formam o substrato da organização e da chamada natureza social do homem. b) Presença ou ausência de um ou de ambos os cônjuges -Outro elemento significativo, pelas conseqüências no desenvolvimento afetivo-emocional dos filhos, é a presença ou ausência de um ou de ambos os pais. Determinada por imperativo do trabalho, por hospitalização, por encarceramento, por abandono do lar, por separação, por desquite ou falecimento, a ausência de um ou ambos os pais repercute profundamente no ajustamento emocional e social 'da criança. Mais tarde, na vida adulta, a influência dêsse fator ausência traduzir-se-á, geralmente, por dificuldades, às vêzes insuperáveiS, na comunicação interpessoal. A.B.P,I4 .!\To lar, a presença só do$lltq'feminino, ou de filhos de um e de outro sexo em proporçãO<.~;)itéri:t implicações psicológicas de grande alcance no desenvol~1~,,nHuú.etivo-sexual da criança, refletindo-se, na vida ulterior, .em maior ou menor dificuldade de ajustamento nas interrelações pessoais. c) A idade dos pais - Outro fator a computar-se na análise da estrutura do grupo .familiar é a idade dos pais que, se muito distante da dos filhos, pode originar conflitos de idéias e opiniões. A idade cronológica quase sempre resulta em hiáto cultural, uma vez que muitos pajs idosos, voltados para o passado, são incapazes de compreender os filhos adolescentes, dirigidos para o futuro; êstes' vivem numa época de mudanças muito rápidas, que por isso mesmo exigem maior flexibilidade e capacidade de adaptação a novos processos, novas contingências e métodos de vida. Interaçãq na situação familiar - O processo de interação, que é a base do grupo, manifesta-se na família sob várias formas específicas - comunicação, cooperação, competição e conflito - e envolve as dinâmicas das relações psico-sociais entre os cônjuges, entre pais e filhos e dos irmãos entre si. A comunicação é o processo essencial porque sem ela seriam impossíveis a formação do grupo familiar, a transmissão da cultura e a formação-~lógica de seus membros; na cooperação, há articulação de esforços para a obtenção de objetivos comuns, sejam materiais ou simbólicos. Comunicação e cooperação tendem a unir o grupo, integrando-o em relações harmoniosas, enquanto a competição e o conflito agem como fôrças desagregadoras. H No grupo familiar, pode haver a ocorrência simultânea de cooperação e competição, de modo a ser difícil a caracterização do grupo como competitivo ou cooperativo, porque ambos os processos coexistem na dinâmica da vida em família, devendo-se observar apenas em que grau e sob que formas se manifestam. O conflito na situação familiar pode provir da insegurança jo papel e da natureza instável do "status" de um ou vários de seus membros,' resultando sempre em desajustamento pessoal e em desarmonia na vida do grupo. Na: análise do processo de interação familiar é 14' .l'ler&on, Donald - Teoria e Pesquisa em Sociologia, Ed. Melhorament08. 54 SITUAÇAO FAMILIAR E ENTREVISTA também da maior i~portâ:gcia o estudo das interrelações consubstanciadas na "constelação familiar". AB.P./4 . psico~ógicas, No lar, a criança vive sob influências complexas, decorrentes d"os sentimentos e atitudes dos que integram o ambiente familiar ~ que exercem sôbre sua, conduta papel dos mais decisivos. Para as definir, Adler usou a expressão "constelação familiar'~, indicando assim o conjunto de relações afetivas e as interinfluências de personalidades no círculo da família, determinantes da formação caracterológica do ser humano .. Arthur Ramos, que estudou exaustivamente os problemas de conduta da criança carioca em relação às respectivas constelações familiares, concluiu baseado em extensa documentação, que "mais poderosas do que as fôrças da herança, até agora julgadas onipotentes e soberanas, estão as influências do meio ambiente, cultural e social, as fôrças psicológicas dos adultos que rodeiam a criança, nas suas constelações de família, modelando-lhe a personalidade e o caráter". 15 Em múltiplas investigações .realizadas no Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), em crianças, adolescentes e adultos, por meio de entrevistas, e provas de vários tipos, comprovam-se exaustivamente a influência da constelação familiar nas manüestações de conduta, ajustada ou desajustada, que as personalidades apresentem. Donde se conclui que o diagnóstico de dificuldades e alterações de caráter e conduta com exclusão do contexto familiar, além de simplista, carece de fundamento; a solução dos problemas individuais deve ser equacionada em "têrmos fornecidos, em primeiro lugar, pelas pessoas e imagos da sua ambiência familiar." 16 No estudo da constelação familiar, devem ser considerados os elementos cujos efeitos sôbre o rendimento afetivo, emocional e intelectual têm antes caráter social que heredo-biológico, como o provam as múltiplas pesquisas realizadas para descobrir as causas atávicas nn conduta dos primogênitos, dos caçulas e dos filhos intermediár~os. Entre os elementos que importa estudar na análise da constelação familiar estão: a) o número de filhos; b) a ordem de nascImento; c) a posição dos irmãos entre si e em relação às irmãs; d) a 15) Ramos, Arthur 16) Idem A criança problema, Editõra Nacional. A.BPJ4 ~rrUAçAO F~ E r", ~TA 55 atitude dos pais em relação aos filhos; e) a resposta dos filhos às atitudes dos pais; f) as tendênetase os sentimentos oriundos da dinâmica da vida no grupo fammar~· No que concerne ao número de filhos, fácil é prever o resultado das influências que se centralizam sôbre o filho único, reforçando a situação triangular do complexo de Edipo, tão bem estudado pela escola psicanalítica, influências que, de ordinário, são mais bem distribuídas nas famíli~çujo número de filhos seja maior. Em geral, o desenvolvimento da personalidade é favorecido nas famílias cujo número de filhos não seja reduzido. Ellis Jones, 17 em substancioso estudo, analisou grande número de pesquisas realizadas por psicólogos a fim de verificar a influên.! cia no desenvolvimento da criança, decorrente de sua posição entre irmãos e irmãs. Nessas investigações, foram cuidadosamente observadas as diferenças que dependiam da ordem de .nascimento, em relação ao desenvolvimento da linguagem, ao aproveitamento escohlr e às características emocionais. "Relativamente às características da ordem do nascimento", diz Ellis Jon.es, "as pesquisas psicanalíticas, como os estudos estatísticos, estão ~ivados de opiniões e de resultado~ díspares, não se tendo chegado, portanto, a conclusões fidedignas". Em um dos mais importantes estudos do problema realizado por J. Levy, 18 verifica-se que as reações da criança quanto à ordem de seu nascimento, podem variar de modo extraordinário e torna-se evidente também o fato de. que a influência da constelação familiar em grau e em direção, depende da situação cultural e econômica da família. Ellis Jones ainda aponta algumas formulações psicanalíticas, com a ressalva de que são menos conclusões que hipóteses. Segundo Brill, 111 por exemplo, as peculiaridades do filho único devem-se à atitude solícita dos pais e a ausência de competidores; Hugo HeU refere-se à insegurança em sua posição, no lar, do filho intermediário, nó meio de irmãos, principalmente do mesmo sexo. 17 e 18) Jones, H. E. - "Orden deI na.scimento", in Manual de PsicOlogia del Nino (Trad.) 1935. 19) Jones,H. E. - "Orden deI nascimiento", in Manual de Psicologia dei Nino(Trad.) 1935. . 56 SITUAÇAO FAMILIAR E ENTREVISTA ... A.B.P./4 Adler 20 estudou mais profundamente as características· dos filhos colocados em primeiro lugar, segundo e terceiro, na constelação familiar. Assinala êle a agressividade do primogênito que, sentindose destronado com o nascimento do irmão, luta pela recuperação de seu antigo prestígio; indica o sentimento de rivalidade e a atitude competitiva que se engendram no segundo filho em relação ao primeiro; mostra que o terceiro, não tendo sucessor, desenvolve um sentimento exagerado de sua própria importância. Se os esforços empreendidos para a conquista das respectivas posições forem compensados, a formação de seus caracteres se processará normalmente; se, porém, houver fracasso, o primeiro tornar-se-á combativo, o segundo, deprimido, e o terceiro, incapacitado para maior esfôrço construtivo. Em recente pesquisa (2.600 dossiers) realizada em França sob a direção do Prof. Wallon, os investigadores levantam as seguintes hipóteses .que confirmam até certo ponto a influência da posição, sexo e idade dos irmãos nas dificuldades de caráter: a) a posição que a criança ocupa entre os irmãos tem influência muito nítida sôbre o seu comportamento; b) o sexo da criança que precede imediatamente não é elemento indiferente na explicação dos distúrbios de caráter; c) a distância de idade entre um irmão ou irmã que a segue, ou que a precede imediatamente, é uma terceira hipótese, particularmente suscetível de provocar dificuldades entre irmãos e irmãs. 21 Na constelação familiar, a verificação de quem, na família exerce o contrôle e comO êste é exercido; e, de qual a figura de maior prestígio aos olhos dos filhos, muito importa também na análise da situação familiar. Conteúdo cultural - A fim de bem compreender e interpretar a organização e estrutura da família, é imprescindível tomar conhecimento dos padrões vigentes na sociedade com que esteja articula~a. Necessário ainda é não esquecer que a família constitui um subsistema social altamente diferenciado e, sob muitos aspectos, tipo único de grupo, que elabora à sua maneira a cultura que lhe cabe transmitir, selecionando, interpretando e valorizando aquilo que transmite. 20) AdJe,r, A. - A Cié1&cia da Nature84 Humana (Trad.) Cia. Editôra Nacional SAo Pulo, 1961. ::.11) DeSCombey J. et Roque brune G. - "L' entant caractériel parmi ses treres et soeurs", in Enlance - set.o-out.o, 1953. A~.P./4 SITUAÇAQ FAMUJ~<. ENTREVIsTA ; . 57 Há, nesse sentido, uma subeulttma específica, caracterizada pela filosofia· particular com que o grupo interprete 9 mundo e as coisas, e pela versão própria dos valôres, padrões e crenças da sociedade; . Ao transmitir a culutra sôbre ângulo peculiar, a família determina a seu modo a formação de idéias, de Crenças e do senso de valôres dos membros que a constituem. No Brasil, por exemplo, a família participa da cultura ocidental vigente, cujos padrões incorporou, mas assume ela mesma aspectos que a diferenciam e que lhe imprimem configuração cultural própria. A análise da família brasileira, nas diferentes regiões do país, comprova a observação dêsse fenômeno. A família nordestina, por exemplo, oferece feição característica q!le a distingue da família sulista, em que pesem os pontos afins e comuns à configuração cultural brasileira. O mesmo aspecto diferenciador observa-se em famílias portuguêsa ou síria, e na de outras origens, ainda que já assimiladas. "Cada indivíduo", escreve Ralph Linton, "aceita os padrões de sua própria subcultura como guias adequados de conduta, e rara vez trata de imitar os padrões de outras subculturas, embora com êles esteja familiarizado. De fato, a presença dessas diferenças geralmente faz que' o indivíduo prenda-se mais tenazmente aos hábitos de sua subcultura particular, porque êstes constituem um símbolo de sua associação a unidade social." 22 o conjunto de características pessoais comuns aos membros daquelas famílias, coerentes com os padrões e valôres admitidos por seu grupo, imprime-lhe, efetivamente, feição pr6pria, ou uma "personalidade básica", que permite pronta identificação. Freqüente é ouvir-se dizer de indivíduos pertencentes a certos grupos familiares mais coesos e organizados, que fulano é bem um Silva Cavalcanti, que beltrano é bem um Lins de Albuquerque, ou que sicrano é bem um Azeredo Pimentel, o que demonstra o caráter identificador que a família imprime ao indivíduo. Louvando-se no estudo do conteúdo é da organização da cultura, Abraham Kardiner emprega o conceito de "estrutura da personalidade básica", precisamente para designar "a constelação das carac22) LiD.ton, Ralph )(ézjco. Cultura 11 PersonaUdad (Fondo de Cultura EconÔmica), ~ITUAÇAO FAMILIAR E ENTREVISTA AB,P.f4 rísticas pessoais que se tornam coerentes com a série total das instituições compreendidas dentro de determinada cultura". 23 Baseando-se na observação de indivíduos formados em nossa própria cultura, concluem os antropólogos que o contato com as instítuições no período formativo do indivíduo produz nêle um tipo de condicionamento que, através do tempo, fixa certo tipo de personalidade. Cada família, portanto, deve ser estudada em têrmos de sua configuração cultural dominante, isto é, das regras, dos principios. valôres e sentimentos tàcitamente aprovados, os quais motivam o comportamento social do indivíduo e o integram em padrões distintos. Compreendida a configuração dominante, é possível portanto interpretar as idéias, as atitudes, os sentimentos, as crenças e os valôres morais básicos que dão à determinada família características que a definem e identificam. A análise do conteúdo cultural da situação familiar envolve, por conseguinte, o estudo do padrão, de valôres da família, em relação com a cultura da sociedade de que seja parte. Padrão de vida - O padrão de vida familiar, refletindo atitudes e valôres nas relações pessoais, dentro e fora do grupo, muito importa no estudo da família. ~sse padrão, que não deve ser confundido com o nível de vida, mede a posição da família na sociedade com que se articula, incluindo todos os ideais, interêsses, hábitos e atitudes que acham expressão na vida do lar. É êle determinado não só pelo padrão geral da comunidade, como pelos contatos e associação dos membros do grupo e, sobretudo, pela educação e nível de instrução dos pais. 1!:sse padrão pode ser designado de acôrdo com a predominância dos interêsses e valôres e da filosofia de vida que orientem o' comportamento do grupo familiar. Encontram-se, assim, famílias cujo padrão de vida é predominantemente econômico, não só porque o nível de aspirações está colocado no confôrto material, como porque a valoração das coisasda vida faz-se, sobretudo, eIP- tênnos d~l'e<:eit e despesa; Ot,ltras famílias há cujo padrão de vida poderia. dE!lnominar-se estético, social, religioso ou político, conforme a dominância .:la) Kardiner, Abraham mica), Méxioo ~ El 'individuo y su sociedad (Fondo de CUltura.' E'oOnô" . . . ... A.B.P./4 srrUAçAO F~ E ENTREV1STA 59 dos interêsses e o modo de interpretar a vida, aquêles e êste em têrmos relacionados esencialmentecom a arte, a sociedade, a religião ou a política. Será como que a tt~posição, para o grupo da família. da classificação de Spranger do indivíduo. Atitudes e valôres - As atitudes nas inter-relações pessoais da vida familiar refletem a filosofia que dirige a conduta dos pais em relação aos filhos, de que resultará uma organização familiar democrática, autocrática ou anárquica. Os valôres dominantes, a posição ético-filosófica indicativa do rumo dos interêsses, a harmonia ou os conflitos culturais são outros tantos aspectos da maior importância, quando se pretenda analisar determinada situação familiar. Conclusões - A análise da situação familiar configura-se, pois, como proveitosa e útil à compreensão dos fatôres externos e experiências prévias na manifestação da conduta do indivíduo, e, necessária para ajudá-lo a reorganizar o próprio comportamento e atitudes, ao descobrir um nôvo significado nessas fôrças e exeperiências do passado. Admitimos, com Carl Rogers, "a presença no organismo humano de uma fôrça espontânea, capaz de integrar e reorientar a conduta, em virtude da existência no sujeito de uma originalidade básica". 24 Não há, pois, um determinismo irreversível nas influências sócioculturais sôbre a formação do caráter. O indivíduo humano não recebe passivamente essas influências; a elas também reage com as suas peculiaridades de temperamento e constituição. Ademais, "pela compreensão (insight) criadora e ordenadora do próprio organismo",25 o homem pode conscientemente superar as próprias deficiências, reestruturar o caráter e modificar as atitudes. A entrevista surge como procedimento científico indispensável à coleta de dados significativos para descobrir as respostas apropriadas ao tema objeto de nossa indagação. Realizada com fins de orientação profissional, ela deve considerar os fatôres que prefiguram a situação familiar, cuja análise permite compreender a influência dos motivos, interêsses, aversões e aspirações que formam o substrato dos problemas pertinentes à teoria do ajustamento profissional. :&4 e :&5) Rogers, CarI Boston, 1961. On Becoming a Person, Houghton Nifflin Company,