Ações de Saúde Publica no combate a malaria na Vila Céu do Mapia RELATO DE DANIEL LOPEZ, responsável pelo trabalho. Desde começo de 2006 decidimos iniciar uma campanha de combate à malaria em vista dos numerosos casos da doença por nos registrados. Juntamos as forcas do Intituto CEFLURIS, a AMVCM e os Guardiões da Floresta e fizemos um apelo aos fardados e aos amigos. Pedimos que nos ajudem com a arrecadação obtida com os trabalhos de igreja feitos especialmente para esse motivo. Padrinho Alfredo se encarregou pessoalmente de explicar nossa situação precária e fazer o apelo. Durante suas ultimas viagens lembrou e relembrou aos irmãos, da responsabilidade que todos temos com o povo que habita no Mapia e nas comunidades do Juruá. Afortunadamente os membros de nossa congregação responderam muito bem a ajuda solicitada, embora não foi com a celeridade que a circunstancia exigia, pois demoramos cinco meses ate completar a primeira parcela. Hoje estamos bem adiantados com parte do maquinário e os inseticidas comprados, e um mês e quinze dias de ações continuas no combate ao mosquito transmissor. Pela minha parte e representando os Guardiões da Floresta como diretor de Saúde e Meio Ambiente, me dediquei a elaborar, coordenar e executar o projeto. James Silva dos Santos e Rodrigo Oliveira da Silva são os operadores do maquinário e responsáveis, junto comigo, do sucesso das ações em que estamos empenhados. Nos últimos quatro anos o serviço governamental de controle a malaria, SUCAM, foi minguando em qualidade e freqüência, não por incapacidade dos operários e sim pela falta de verbas e interesse por parte dos governantes. O resultado é que desde o ano passado a malaria tem tomado de conta da região amazônica de forma alarmante e o incremento de mosquitos é assustador. Em dezembro do ano passado tivemos uma media de oito a onze casos diários de malaria que foi se agravando durante o mês de janeiro. Foi a partir de aí que tomamos a iniciativa de elaborar este projeto. O primeiro que fizemos foi montar o laboratório de exames do plasmódio. Com a ajuda do pessoal do Prato Raso, que emprestaram o microscópio, voltamos a fazer funcionar o laboratório do antigo Centro de Saúde. Reativos e medicação foram cedidos pela Sucam de Boca do Acre e o resto do material foi por mim providenciado. Nos meses seguintes fiz a pesquisa nas casas que vendem produtos para saúde publica onde tive uma noção do material que precisava e pude fazer o orçamento geral. Este primeiro orçamento apresentei ao Padrinho Alfredo que prontamente traçou o planejamento geral onde combinamos que eu ia me dedicar a coordenação e execução do projeto e ele ia cuidar da parte administrativa. Em fim de maio estavam feitos todos os contatos com os fornecedores, em junho se realizou a compra e em julho fui buscar o material. O dia 20 de julho nos começamos oficialmente a pulverização e fumigação da Vila Céu do Mapia. METODOLOGIA O sistema que estamos praticando esta fundamentado nestes pontos: 1. Controle do mosquito transmissor 2. Laboratório de analises 3. Medicação CONTROLE DO MOSQUITO O controle do mosquito transmissor é uma das ações básicas a desenvolver. O mosquito do gênero anofeles é nativo desta região, costuma atacar preferentemente ao amanhecer e ao entardecer, se picar um ser de sangue quente (animal ou humano) que tenha malaria, se contamina com o plasmódio e a sua vês transmite este parasita a toda pessoa que picar. O objetivo é diminuir drasticamente a quantidade de mosquitos anofelinos. Para isso desenvolvemos três ações: o FUMIGACAO: Empregamos a termonebulizacao para produzir uma fumaça que mata os insetos alados ao contato. Usamos a maquina termofog K 10 em este serviço que nebuliza (fumaça produzida sem combustão) uma mistura de óleo vegetal com uma combinação de inseticida piretroide, que tem o poder de matar instantaneamente na hora do contato com o mosquito. Cabe ressaltar que substituímos o veículo aonde se dissolve o inseticida por uma mistura de óleo de soja com óleo M 11, ambos isentos de sustâncias tóxicas. Antigamente se empregava o óleo diesel, combustível com ingredientes cancerígenos no preparo da solução. Dividimos a Vila em 17 bairros ou setores de trabalho onde passamos a fumaça todas as noites e repetimos com a máxima freqüência possível considerando que só temos duas maquinas e cada setor representa um período diário de serviço. o PULVERIZACAO: Aplicamos um inseticida piretroide de efeito prolongado para aplicar nas paredes das casas, banheiros e locais de possível criadouro de carapanas. O efeito residual garante uma ação de um mês e tem forte efeito para todos os insetos (baratas, formigas, cupins, mosquitos, aranhas, etc.). Os operários usam equipamento de segurança e empregamos as técnicas de ensinadas pela Sucam durante a aplicação. o LARVICIDA: Por ultimo estamos aplicando um larvicida de ultima geração, atóxico para seres humanos, peixes, plantas e outros animais. É um inseticida biológico preparado à base de uma linhagem não esporogenica da bactéria Bacillus thuringiensis variedade israelensis que se dispersa pela superfície das águas aonde há suspeita de criadouro de mosquitos. A larva ingere a bactéria e poucas horas após a ingestão, acontece a paralisia do intestino médio e, na maioria das vezes, a morte da larva ocorre em menos de 24 horas. As avaliações toxicológicas e de segurança permitem considerar este produto altamente seguro para humanos e para o meio ambiente. FREQUENCIA: A freqüência no uso da fumaça leva em conta a quantidade de maquinas (dois), os bairros a quantidade de casas e a distancia (são 17 bairros e 257 construções). Também consideramos a quantidade de casos de malaria e a repetência. Em resumo tem bairros onde temos passado ate quatro vezes e outros onde ainda não temos passado (bairros distantes onde não teve nenhum caso de malaria). O inseticida residual será aplicado duas vezes com um intervalo de mês e meio entre aplicações. Ate este momento temos borrifado 216 casas faltando somente alguns locais distantes e os “rebeldes”, isto é, as casas dos moradores que por motivos injustificados não deixam passar o veneno. A freqüência do uso do larvicida vai ser dada pela experiência que vamos colher. É a primeira vez que estamos usando este larvicida biológico e de acordo ao resultado veremos a necessidade de repetir. Consideramos então, que desenvolvendo estas três ações básicas garantimos uma diminuição considerável dos mosquitos transmissores. No ano 2000 desenvolvemos este programa durante um ano e tivemos quatro anos de tranqüilidade sem a doença. Lamentavelmente por falta de recursos não pudemos continuar com o programa. SANEAMENTO Para completar a eficácia do controle ao anofelino acrescentamos a fiscalização no sentido de higiene e saneamento de todas as moradas do Céu do Mapia. Águas potáveis, águas para limpeza, entradas e saídas, caixas de gordura, banheiros, privadas e fossas. Lixo, limpeza das moradas e dos quintais. Fontes de águas, córregos, lugares baixos e encharcados, plantas acumuladoras de água, como as bromélias. Objetos, latas e qualquer coisa que possa servir como criadouro de mosquitos é fiscalizado, corrigido e aplicado o inseticida ou o larvicida de acordo ao caso. Temos consciência de que o êxito do programa depende de todos os moradores, colaborando com a higiene e o saneamento, facilitando as ações das pessoas encarregadas da borrifacao e denunciando os possíveis criadouros de carapanas MOSQUITEIROS: Outro dos aspectos simples e importantes no programa é o uso do mosquiteiro. Ainda não temos o material, mas a idéia seria confeccionar aqui mesmo, na casa de costura, mosquiteiros para o uso das pessoas que vem de fora com a doença e vem tratar-se aqui. É costume dos ribeirinhos, quando vem sanar aqui, trazerem toda a família, e geralmente acompanham um ou dois parentes com suspeita de estar com malaria. Estas pessoas se transformam no foco de contagio, pois geralmente vem sem mosquiteiro. Se estas pessoas ficarem protegidas pelo mosquiteiro nas horas em que o anofelino habitua sair, evitaremos de forma simples que se espalhe a doença. Embora nos moremos numa área endêmica, a maior parte das epidemias de malaria que tivemos foram produzidas pela chegada de gente contaminada em outras áreas. LABORATORIO DE ANALISES Este é outro dos esteios básicos para construir nossa defesa. O laboratório de analises esta montado numa sala do Centro de Saúde Sebastião Mota de Melo, pelo momento conta com os meios e os reativos suficientes somente para o exame do plasmódio da malaria, mas estamos pedindo um convenio com a Funasa para participar do curso de microscopia que será oferecido proximamente e que trata de todas as parasitoses conhecidas no amazonas (leishmanioses, hanseníase, tuberculose, filariase e todos os parasitos intestinais). O exame laboratorial da malaria é fundamental para, com rapidez, determinar o tipo do plasmódio que adoece o paciente. Uma vez feito o diagnostico é medicado, seja para vivax ou falciparum e acompanha-se o caso ate a recuperação. O sucesso do combate a malaria radica na rapidez com que se processem estas ações, pois com isto evitasse que a doença se espalhe a outras pessoas. As experiências anteriores nos mostram que os grandes problemas de malaria que tivemos se originavam justamente na falta de um diagnostico preciso e eficiente e uma medicação imediata. MEDICAMENTOS Neste momento contamos com sete medicamentos alopáticos de comprovada eficácia no tratamento da malaria. Consideramos também os medicamentos preventivos produzidos aqui mesmo pelo pessoal de Medicina da Floresta. Durante a convalescença do paciente incentivamos o uso de plantas depurativas e protetoras do fígado, dietas leves e ricas em ferro, como também damos uma atenção especial a crianças, idosos e pessoas debilitadas, casos estes em que a malaria pode chegar a ser mortal. Não desprezamos nenhum medicamento fitoterapeutico, ou dos chamados naturais, mas sem duvida, os medicamentos alopáticos se destacam por ter uma ação mais rápida e isto é fundamental quando se precisa de urgência como no caso duma epidemia. PRIMEIROS RESULTADOS Durante os meses de inverno tivemos uma media de dois a três casos diários de malaria chegando a quatro nos dias posteriores ao festival. Desde faz uns dez dias não tivemos mas nenhum caso na vila Céu do Mapia, dos dezesseis exames feitos durante esses dias, quinze foram negativos e so teve um caso de um morador do meio do igarape A Vila Céu do Mapia esta localizada na confluência dos igarapés Mapia e Repartição, dentro da Floresta Nacional Mapia-Purus, no município de Pauini do estado do Amazonas. PRESTAÇÃO DE CONTAS DAS AÇÕES DE COMBATE A MALARIA RECEITAS Venda de óleo diesel (conta com Wilson) Doação da AMVCM Entregue.... cheque em10/06/2006 100 lts de óleo em 8/05/2006 100 lts de óleo em 20/06/2006 50 lts de óleo em 26/08/2006 Entregue... cheque em 26/08/2006 Entregue... cheque em 26/08/2006 2.345,00 750,00 290,00 Conta com Jaime ( conta IDA/CEFLURIS “IGREJA”) Entregue...... Através de Carlinhos Entregue...... dep ch BB 081400 12/junho Transferência c/ DJ Casabranca... larvicida Transferência c/DJ Casabranca... óleo M11 1.000,00 5.845,00 1.170,00 1.800,00 ..................... 9.815,00 Doação de mil euros feita na Europa entregue ao Pd Alfredo dos quais 1600 reais foram entregues por Capareli e depositados na minha conta. Doações diversas Liliana...... Uma caixa de óleo de soja Cooperativa.... 20 litros de diesel Carlos César... Uma caixa de óleo de soja DESPESAS 1. Compras com a Chemical: Larvicida Óleo M 11 100,00 nota n 0451 4600,00 nota n 0455 1170,00 nota tal por receber 1800,00 nota tal por receber ............................. 7670,00 2. Compras diversas: Nota n 001015...................... 20,00 Nota n 00234........................ 130,00 Nota n 00751........................ 22,00 3. Despesas de viagens: Viagem maio: 15 dias Mapia-RB-Mapia Transp. Fluvial.... 300,00 Transp, terres.... 200,00 Hospedagem..... 300,00 Comida.............. 160,00 ........................... 960,00 Viagem junho: 10 dias Mapia-RB-Mapia Transp. Fluvial.... 300,00 Transp. Terre.... 200,00 Hospedagem.... 200,00 Comida.... 160,00 .......................... 860,00 Viagem julho: 7 dias Mapia-Boca-Mapia Transp. Fluvial... 300,00 Hospedagem... H.floresta... c/Jaime Comida... 105,00 ......................... 405,00 Viagem 26 de agosto: 5 dias Mapia-Boca-Mapia Transp. Fluvial... 310,00 Motorista.......... 100,00 Carregadores... 40,00 H. Floresta... 40,00 ......................... 490,00 4. Salários Coordenação maio............ Coordenação junho .......... Coordenação julho............ Operários 20 jul-20 agosto Coordenação agosto…….. 800,00 500,00 800,00 1200,00 800,00 ........................ 4.100,00 5. Ajuda de custo para o Laboratório 100 lts óleo diesel maio/junho/julho Telefone, traslados, etc. ........................ Para o Laboratório 100 lts óleo diesel agosto/setembro 6. Combustíveis 200,00 50 lts de gasolina nota tal de julho ........................ 160,00