PRO.GIN.003 - CÂNCER DE ENDOMÉTRIO

Propaganda
SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
Tipo do Documento:
PROTOCOLO CLÍNICO
Título do Documento:
Câncer de endométrio
I.
AUTORES

Raquel Cavalcante de Vasconcelos

Francisco das Chagas Medeiros
PRO.GIN.003 Página 1/5
Emissão: 01/03/2015
Revisão Nº: 01 – 10/01/2017
II. INTRODUÇÃO
O Câncer de endométrio, nos Estados Unidos, é o câncer pélvico feminino mais comum. No
Brasil, o câncer de corpo de útero perde em número de casos apenas para o câncer de colo uterino,
sendo o segundo tumor pélvico mais comum. A incidência aproximada do câncer endometrial é de
aproximadamente 6 a 8 casos por 100.000 mulheres por ano, com pico de incidência em mulheres na
década de 55 a 65 anos. Embora, possa ocorrer em mulheres pré-menopausa, ou seja, com menos de
50 anos, em 25% dos casos e em 5% dos casos em mulheres com idade inferior a 40 anos.
III. FATORES DE RISCO
O Câncer de endométrio possui uma relação com a alta exposição isolada ao estrogênio.
Acredita-se que o estímulo hormonal de estrogênio sem oposição (da progesterona), seja endógeno
ou exógeno, cause alterações proliferativas no tecido endometrial, provocando uma hiperplasia que
pode evoluir para uma neoplasia maligna. (Tabela 1)
FATORES DE RISCO PARA O CÂNCER DE ENDOMÉTRIO
Hiperestrogenismo
(endógeno ou exógeno)
Obesidade
Hipertensão arterial
Nuliparidade
Síndrome do câncer de cólon-retal nãopolipóide hereditário
Câncer de mama ou ovário prévio
Pólipos e hiperplasias endometriais
Diabetes mellitus
Estados anovulatórios
(Ex: Síndrome dos ovários policísticos)
Hiperadrenocortisolismo
Menarca precoce
Menopausa tardia
Uso de Tamoxifeno
Cor branca
Irradiação pélvica
Hipotireoidismo
Tabela 1. Fatores de risco para desenvolvimento do Câncer de Endométrio.
Existem casos de cânceres de endométrio que não possuem receptores hormonais, não tendo,
portanto, fenômenos hiperplásicos. Este tipo de tumor ocorre em idosas sem hiperestrogenismo,
relacionando-se com a baixa imunidade da faixa etária.
1
SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
Tipo do Documento:
PROTOCOLO CLÍNICO
Título do Documento:
Câncer de endométrio
PRO.GIN.003 Página 2/5
Emissão: 01/03/2015
Revisão Nº: 01 – 10/01/2017
IV. PREVENÇÃO
Há evidências de que a terapia com progesterona possa reduzir a possibilidade de carcinoma
endometrial em mulheres com ciclos anovulatórios, assim como em pacientes pós-menopausa que
recebem terapia de reposição estrogênica.
A detecção e a terapia adequada dos precursores da doença (hiperplasia com atipia e
carcinoma in situ de endométrio) impedem o desenvolvimento subsequente do carcinoma endometrial.
De modo geral, a prevenção do Câncer de Endométrio pode ser classificada em prevenção
primária e secundária. (Tabela 2)
PREVENÇÃO PRIMÁRIA
Combate à obesidade
Tratamento de ciclos anovulatórios
Terapia de reposição hormonal adequada
no climatério
PREVENÇÃO SECUNDÁRIA
Avaliação periódica de pacientes
assintomáticas de alto risco
Ultrassonografia transvaginal na menopausa
Detecção de lesões precursoras em mulheres
com sangramento uterino anormal
Tabela 2. Prevenção primária e secundária do Câncer de Endométrio.
V. CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA
A maioria dos carcinomas endometriais são adenocarcinomas. Eles podem ser classificados
como endometrióides e não-endometrióides. (Tabela 3)
ADENOCARCINOMA ENDOMETRIÓIDE
O adenocarcinoma endometrióide típico é o mais comum (57 a 80% dos casos). As células são
geralmente cilíndricas com núcleos mantendo a orientação basal, portanto, semelhantes a glândulas
normais. A agressividade do tumor é influenciada pelo padrão de crescimento de áreas sólidas, pela
presença de atipia nuclear e pela presença de diferenciação escamosa. O grau histológico é
considerado um bom indicador de agressividade em relação à invasão do miométrio, metástases e
resposta à terapêutica. De forma geral, os endometrióides apresentam prognóstico melhor.
ADENOCARCINOMA NÃO-ENDOMETRIÓIDE
Os tumores não-endometrióides são de pior prognóstico do que os endometrióides e são
menos comuns. O Carcinoma Mucinoso corresponde a cerca de 5% dos carcinomas endometriais. As
células com mucina intracitoplasmática compõem mais de 50% do tumor. Esse tipo apresenta bom
prognóstico, semelhante ao do carcinoma endometrióide. O Carcinoma Papilar Seroso representa 3 a
4% das neoplasias malignas do endométrio. É composto por células de padrão tubário, com alto grau
de atipia nuclear, arquitetura complexa e necrose proeminente. Comporta-se agressivamente,
2
SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
Tipo do Documento:
PROTOCOLO CLÍNICO
Título do Documento:
Câncer de endométrio
PRO.GIN.003 Página 3/5
Emissão: 01/03/2015
Revisão Nº: 01 – 10/01/2017
promovendo metástases via linfática e hematogênica já no momento do diagnóstico, comprometendo
precocemente o miométrio.
O Carcinoma de células claras ocorre em menos de 5% dos casos. Compõem-se de células
com núcleos extremamente atípicos e citoplasma abundante e claro. Seu comportamento é agressivo,
tendendo a comprometer o espaço perivascular linfático e invadir o miométrio. O Carcinoma Misto é
composto por 2 ou mais componentes não escamo-celulares com cada um ocupando 10% do tumor.
O Carcinoma Indiferenciado é bastante raro, não possui diferenciação glandular, escamosa ou
sarcomatosa. Caracteriza-se por um prognóstico muito desfavorável.
CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DOS TUMORES ENDOMETRIAIS
Adenocarcinoma endometrióide
Adenocarcinoma não-endometrióide
Endometrióide típico
Carcinoma mucinoso
Adenoacantoma
Carcinoma papilar seroso
Carcinoma adenoescamoso
Carcinoma de células claras
Carcinoma papilífero
Carcinoma misto
Carcinoma indiferenciado
Tabela 3. Classificação histológica dos tumores endometriais (Adaptação de Berek-Hacker, 2000).
VI. ACHADOS CLÍNICOS
Cerca de 40% das mulheres com sangramento vaginal anormal pós-menopausa terão um
câncer do trato reprodutivo e na grande maioria é o câncer endometrial. Portanto, diante de um quadro
de sangramento anormal deve ser considerado que ele é causado por um câncer, até que se prove o
contrário. A estenose cervical pode provocar a formação de hematometra (acúmulo de sangue na
cavidade endometrial) ou piometra (secreção purulenta), que são bastante sugestivos de carcinoma
endometrial. A dor não é um sintoma comum, mas pode haver leves cólicas uterinas. O exame
abdominal pode revelar massa amolecida na região hipogástrica, devido a um aumento do volume
uterino. Em doença avançada, pode ocorrer distensão abdominal secundária à ascite e linfonodos
palpáveis na região ilíaca, decorrentes de metástases. A citologia vaginal é positiva em 40-80% dos
casos, devido a extensão do tumor do endométrio até o colo do útero. (Tabela 4)
3
SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
Tipo do Documento:
PROTOCOLO CLÍNICO
Título do Documento:
Câncer de endométrio
PRO.GIN.003 Página 4/5
Emissão: 01/03/2015
Revisão Nº: 01 – 10/01/2017
Achados Clínicos em Paciente com Câncer de Endométrio
Corrimento vaginal anormal (90%)
Leucorréia (10%)
Sangramento anormal (80%)
Massa palpável
Tabela 4. Achados Clínicos em Pacientes com Câncer de Endométrio.
VII. DIAGNÓSTICO
O diagnóstico definitivo do câncer endometrial é realizado pelo exame histológico (biópsia), que
pode ser realizado através da histeroscopia (padrão-ouro), curetagem uterina, biópsia aspirativa e
ultrassonografia transvaginal. (Tabela 5)
Circunstâncias de Indicação de Biópsia do Endométrio
Pré-menopausa: Obesidade extrema, anovulação crônica, sangramento anormal.
Pós-menopausa: Obesidade extrema, sangramento uterino, piometra, endométrio> 4 mm,
presença de células endometriais na citologia vaginal.
Tabela 5. Circunstâncias de Indicação de Biópsia do Endométrio.
VIII.ESTADIAMENTO
O estadiamento do Câncer de Endométrio é cirúrgico e tem importância para a escolha do
tratamento. O sistema de estadiamento inclui características histológicas (tipo histológico, grau de
diferenciação celular, profundidade de invasão miometrial, invasão linfovascular, extensão cervical), e
extensão da doença além do útero (anexos uterinos, cavidade peritoneal, linfonodos, outros órgãos).
Os locais de metástases mais comuns são pulmão e vagina.
IX. TRATAMENTO
O tratamento pode ser clínico, em casos selecionados, em extremos de idade (pacientes muito
jovens ou muito idosas), utilizando-se de altas doses de progestágeno.
O tratamento cirúrgico baseia-se na histerectomia e anexectomia bilateral e cirurgia de
estadiamento. Pode ser necessário o tratamento complementar com radioterapia.
O tratamento das recidivas depende da localização, do volume tumoral e das terapias
anteriormente administradas.
X. PROGNÓSTICO
Tumores maiores de 5 cm, idade superior a 51 anos e pós-menopausa estão associados à
piora da sobrevida. Em tumores restritos ao corpo uterino (estágio I) a sobrevida em 5 anos é de 7090%. Em tumores que invadem a cérvice (estágio II) a frequência cai para 60%. Nos Tumores regionais
4
SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE
Tipo do Documento:
PROTOCOLO CLÍNICO
Título do Documento:
Câncer de endométrio
PRO.GIN.003 Página 5/5
Emissão: 01/03/2015
Revisão Nº: 01 – 10/01/2017
que invadem a pelve (estágio III) a sobrevida em 5 anos é de 40%. Na doença pélvica avançada ou
com metástase à distância (estágio IV) é <10%. Tumores com indiferenciação histológica, penetração
miometrial profunda, com ausência de receptores para estrogênio e progesterona são os de pior
prognóstico.
XI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. JONES III; HOWARD W.; WENTZ, Anne Colston; BURNETT, Lunnie S. Novak Tratado de
Ginecologia. 11 ª Edição. Editora Guanabara, 1999.
2. FREITAS, F; MENKE, C H; RIVOIRE, W A; PASSOS, E P. Rotinas em Ginecologia. 5ª Edição.
Editora Artmed S. A., 2006; 31:352.
3. WAY, L W; DOHERTY, G M. Cirurgia Diagnóstico e Tratamento. 11ª Edição. Editora
Guanabara Koogan, 2004; 42:928.
4. BRAUNVALD, E; FAUCI, A S.; KASPER, D L.; HAUSER, S L.; LONGO, D L.; JAMESON, J. L.
Medicina Interna. 15ª Edição, Volume I. Editora Mc Graw Hill, 2002; 97:662.
5. PESSINI, A.S. Lesões precursoras do câncer de endométrio. Tratado de Ginecologia da
FEBRASGO, 2000.
6. JR, Lawrence M. Tierney; McPHEE, Stephen J.; PAPADAKIS, Maxine A., CURRENT. Medical
Diagnosis & Treatment – CMDT. 43ª Edition. LANGE Medical Books/Mc Graw Hill, 2004;
17:704.
7. BURKE, T.W., TORTOLERO-LUNA, G.; MALPICA, A., et al. Endometrial hyperplasia and
endometrial cancer. Obstetrics and Gynecology Clinics 23: 411-456,1996.
8. MEDEIROS, F. C.; ALMEIDA, F. M. L.; FILHO, M. O. Manual de Ginecologia da MaternidadeEscola Assis Chateaubriand. Editora UFC/Departamento de Saúde Materno-Infantil,
Maternidade-Escola Assis Chateaubriand, 2004; 25:150.
9. HERNANDEZ, E. Endometrial carcinoma: a primer for the generalist. Obst Gynecol North
Am 2001; 28:743.
10. Mariani, A. et al. Surgical stage I endometrial cancer: predictors of distant failure and
death. Gynecol Oncol 2002; 87:274.
11. Kinkel, K et al. Radiologic staging in patients with endometrial cancer: a meta-analysis.
Radiology 1999; 212:711.
12. Rose, P.G. Endometrial carcinoma. N England J Med 1996; 335:640.
5
Download