DERMATITE ALÉRGICA A PICADA DE PULGA – RELATO DE CASO NASCIMENTO, Viviane1; MARTINS, Danieli² Palavras-Chave: Dermatite; Pulga; Caninos. Introdução A Dermatite Alérgica a Picada de Pulga (DAPP) é considerada a doença alérgica mais comum na rotina dermatológica, podendo corresponder até 90% dos casos nos pacientes felinos com prurido e a 40% no caso dos caninos. A alergia a picada de pulga é a desordem cutânea mais comum de cães e gatos nas regiões com clima quente e úmido a moderado (WILLEMSE, 1998). Embora as pulgas estejam presentes comumente durante todo o ano, a doença usualmente começa durante o verão e gradualmente tende a ser um problema perene. A alergia é raramente encontrada em animais com menos de seis meses de idade (MEDLEAU, 2003). O prurido é uma característica proeminente da doença, e as alterações secundárias associadas com autotraumatismo são comuns. Sabe-se que o padrão de exposição às pulgas influencia o desenvolvimento da doença, tal como a idade do animal à primeira exposição e a existência subjacente de atopia (WILLEMSE, 1998). Assim, o objetivo deste trabalho foi relatar um caso de DAPP em uma fêmea canina, sob parâmetros clínicos e evolução do quadro. Material e Métodos Foi atendida no Hospital Veterinário da Universidade de Cruz Alta (HV UNICRUZ) uma fêmea canina, da raça Bulldog Inglês, com 11 meses de idade e pesando 20 kg. O animal vivia em apartamento, tendo contato com outros animais, pois mora numa fazenda. A proprietária relatou que o animal apresentava lesões na região lombosacra dorsolombar há cerca de duas semanas que cursavam com alopecia, sendo que estas evoluíram para lesões pruriginosas, liquenificação, crostas e hiperpigmentação (figura 1 e 2). 1 Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Cruz Alta/RS. [email protected], ² Professora da Universidade de Cruz Alta, UNICRUZ, RS. A paciente já havia passado por tratamento com outro médico veterinário que havia diagnosticado DAPP e foi feito tratamento com antifúngico cetoconazol xampu tópico, porem as lesões continuaram evoluindo. Ao exame clínico, foram observadas áreas de liquenificação, regiões alopécicas e coceira. Não foi observada a presença de ectoparasitas (pulgas). A paciente estava inquieta e durante o exame clinico apresentou irritação e prurido. Desta forma, foi solicitado hemograma e foi coletado pelos de uma dessas regiões para cultura para dermatofitose para então poder ser apresentado o diagnostico definitivo de DAPP. Figura 1 e 2: Lesões com aspecto alopécico e hiperpigmentadas. Resultados e discussão A cultura resultou em negativo para dermatofitose e o hemograma resultou em Anemia normocítica normocrômica porque o hematócrito está diminuído, consequentemente hemoglobina e eritrócitos estão baixos. O VCM está normal sendo então normocítica e o CHCM está normal classificando normocrômica. Tendo a presença de Metarrubrícitos, ela é classificada como regenerativa porque se tem resposta medular. A paciente apresentou linfocitose podendo ser devido ao aumento de cortisol, estresse. Segundo Dunn, 2001; a infestação de cães com a pulga felina Ctenocephalis felis pode resultar em uma hipersensibilidade à saliva das pulgas mediada por reações de hipersensibilidade dos tipos I ou IV, pode-se observar uma erupção primaria com pápulas particularmente no dorso caudal. Já Willemse, 2002; salienta que depois de uma picada de pulga, os locais das picadas anteriores são observados como vergões papulares. O ato de coçar, provocado pelo prurido, poderá resultar em alopecia. Nos casos graves, poderá haver envolvimento das axilas, virilhas, pescoço e orelhas (WILLEMSE, 2002). Alguns sinais clínicos adicionais desta doença no cão podem ser anemia, eosinofilia, perda de peso ou de condição corporal e infecção por Dipylidium caninum (por ingestão de pulgas contaminadas com a forma larvar do céstode). Em geral, os sintomas tendem a piorar com a idade, iniciando-se mais cedo na estação, persistindo por mais tempo, e/ou apresentando de forma progressiva maior intensidade. Alguns animais podem comportar-se como portadores assintomáticos de um pequeno ou grande número de pulgas. A paciente apresentou lesões pruriginosas, liquenificação, crostas e hiperpigmentação. O histórico, bem como os achados clínicos e a presença de pulgas ou suas sujidades são altamente sugestivas quanto ao diagnostico (DUNN, 2001). Normalmente o diagnostico é feito pelos testes alérgicos (intradérmico ou sorológico), reação positiva ao teste cutâneo comparado ao antígeno de pulga ou titulo sérico de anticorpos IgE anti-pulga positivo é altamente sugestivo, porem há possibilidades de resultado falso-negativo (MEDLEAU, 2003). De acordo com Bevier, 2004; muitos cães que são alérgicos à picada da pulga tem poucas pulgas à sua superfície, porque a sua atividade de limpeza remove estes ectoparasitas e os indícios da sua presença. Como tal, este autor aconselha a não se abandonar o diagnóstico de DAPP se o animal não apresentar pulgas na altura do exame. Sendo assim, o diagnostico da paciente foi baseado nas lesões, histórico e demais exames feitos, mas não foi realizado o teste alérgico. Quanto ao tratamento é imprescindível o controle de pulgas, que devem ser tratados com produtos compostos por fipronil ou imidocloprid que devem ser aplicados na nuca do animal, são especialmente eficazes quando utilizados em intervalos de 3 a 4 semanas (MEDLEAU, 2003). Em ambientes muito infestados tratar o local onde os animais de estimação permanecem a maior parte do tempo. Ambiente interno com inseticida adulticida e regulador de crescimento do inseto, tal como metopreno, piriproxifen (MEDLEAU, 2003). Medleau, 2003 recomenda para auxilio na cura do prurido o uso de glicocorticoide tal como prednisona ou prednisolona, se ocorrer contaminação bacteriana secundaria utilizar antibiótico sistêmico por no mínimo quatro semanas. Willemse, 2002 concorda e salienta que é necessário tratamento por toda a vida do paciente com anti - histamínicos para controle da alergia. No caso da paciente do relato o tratamento feito foi com peróxido de benzoila 2,5% uso tópico (shampoo) realizado um banho por semana, por 1 mês e uso de fipronil spray na nuca a cada quinze dias de uso contínuo, para controle de pulgas. A paciente retornou em 30 dias e ao exame clínico foi constatado que não existiam mais lesões pela picada da pulga e as áreas antes alopécicas estavam com pelos novamente, foi realizado novo hemograma que resultou em parâmetros normais para a espécie. O prognostico segundo Medleau, 2003 é bom caso se realize rigoroso controle de pulgas, portanto manter a aplicação do antipulgas e controle de ambiente é de suma importância para o bem estar do animal. Conclusão Sendo a dermatite alérgica que mais acomete cães na rotina médico veterinária, causada pela picada da pulga do gato, sem predisposição racial ou idade, e podendo levar a quadros mais graves e até a uma contaminação bacteriana secundaria se não tratada da maneira correta, é importante a conscientização dos proprietários sobre o controle de pulgas do paciente acometido e do ambiente em que vivem para que o animal possa ter uma melhor qualidade de vida. Referências Bibliográficas BEVIER, D.E. (2004). Flea allergy dermatitis. In K.L. Campbell (Ed.), Small animal dermatology secrets. Philadelphia, Pennsylvania, USA: Hanley & Belfus, pp. 208-213. DUNN, John K. Tratado de Medicina de Pequenos Animais / John K. Dunn – São Paulo: Roca, 2001. MEDLEAU, Linda. Dermatologia de Pequenos Animais: atlas colorido e guia terapêutico / Linda Medleau; Keith A. Hnilica. São Paulo: Roca, 2003. MUELLER, Ralf S. Dermatologia para o Clínico de Pequenos Animais / Ralf S. Mueller – São Paulo: Roca, 2003. WILLEMSE; Tom. Dermatologia Clínica de cães e gatos. 2ªEdição Editora Manole ltda., 1998. ANEXO 1 – Hemograma do dia da consulta da paciente. ANEXO 2 – Hemograma da segunda reconsulta da paciente, 1 mês depois do inicio do tratamento.