Universidade Paulista – UNIP Medicina Veterinária Disciplina de Anatomia Descritiva das Vísceras dos Animais Domésticos Aula proferida pelo Prof. MSc. Marcelo Fernandes de Souza Castro Transcrição: Profª. MSc. Ana Paula Grabner Órgãos linfáticos Órgãos linfáticos estão associados ao aparelho cardiovascular e têm ampla participação na defesa do organismo. Anatomicamente, são considerados como órgãos linfáticos o timo, o baço, os linfonodos e as tonsilas. Os vasos linfáticos têm um importante papel, também, no retorno de macromoléculas e líquido (linfa) desde o espaço intersticial em direção ao sistema sanguíneo. Os capilares linfáticos têm a capacidade de captar macromoléculas que ficam impedidas de penetrar nos capilares sanguíneos. Assim, estes capilares linfáticos, que se originam nos tecidos como pequenos vasos com fundo cego, captam estas macromoléculas, bem como fluido excedente proveniente do meio intersticial, e conduzem este conteúdo, agora denominado como linfa, em direção ao coração; possuem, portanto, um fluxo centrípeto, assim como o das veias. Para que a captação das macromoléculas seja possível, a histologia dos capilares linfáticos difere dos capilares venosos: nos linfáticos, há ampla presença de fenestras em suas paredes, permitindo assim a passagem mais eficiente de substâncias dos tecidos em direção a estes vasos. Assim como no sistema sanguíneo, os capilares linfáticos vão se unindo para formar vasos cada vez maiores (mas que, ainda assim, são muito reduzidos em diâmetro quando comparado aos grandes vasos sanguíneos). Estes grandes vasos linfáticos podem ser vistos macroscopicamente no animal. São os principais: - Ducto torácico: que drena a linfa proveniente dos membros pélvicos, abdome, parte do tórax e, em geral, membros torácicos. - Ductos traqueais: que drenam a linfa proveniente da cabeça, pescoço e parte cranial do tórax. Estes grandes vasos linfáticos se abrem em grandes veias, devolvendo a linfa ao sistema sanguíneo. O ponto de abertura destes ductos é variável, ocorrendo em geral na veia cava cranial ou na veia braquiocefálica. Independentemente do ponto de abertura, o destino final desta linfa é a veia cava cranial, que a conduz, juntamente com o sangue, ao átrio direito do coração. Devido à capacidade dos vasos linfáticos na condução de macromoléculas (entre elas, bactérias ou células tumorais), são necessários “filtros” ao longo do percurso, para que componentes nocivos sejam destruídos antes de ganharem a circulação sanguínea. Estes “filtros” são denominados linfonodos, e serão mais bem descritos a seguir. Linfonodos: Os linfonodos nada mais são do que aglomerados de células de defesa (principalmente linfócitos). A linfa adentra os linfonodos por vasos linfáticos aferentes e, após a atuação dos linfócitos sobre o seu conteúdo, deixa os mesmos por meio de vasos linfáticos eferentes. Ao longo do corpo do animal, existem aglomerados de linfonodos com função de filtrar a linfa proveniente de uma área específica do corpo: chamam-se linfocentros. O estudo dos linfocentros é muito importante ao clínico porque, ao perceber alteração (aumento de volume) de um determinado linfocentro, conhecendo a sua área de drenagem específica, o veterinário é capaz de saber que parte do corpo está acometida por alteração patológica que desencadeie resposta inflamatória. A seguir, estão listados os principais linfocentros, sua localização, bem como a área específica de drenagem da linfa relativa a cada um deles. Linfocentros que drenam a cabeça: - Parotídeo: localizado rostralmente ao pavilhão auricular. Área de drenagem: região superficial (do osso à pele) da cabeça, até o dorso do nariz - Mandibular: localizado ventralmente, lateral à mandíbula (sempre palpável em pequenos animais); em grandes animais, ventralmente à mandíbula. Área de drenagem: região superficial da parte ventral da cabeça, cavidade oral e a porção mais rostral da cavidade nasal. - Retrofaríngeo: subdividido em lateral e medial, é palpável em eqüinos. Área de drenagem: parte profunda da cabeça (final da cavidade nasal, faringe, laringe, região craniana). Linfocentros que drenam a região cervical: - Cervical superficial: localizado cranialmente à escápula (e por isso chamado na clínica de pré-escapular), mais facilmente palpável em bovinos que em pequenos animais. Área de drenagem: musculatura, subcutâneo e pele da região do pescoço, além da região lateral do ombro. - Cervical profundo: localizado junto das vísceras cervicais, particularmente em proximidade com o esôfago. Área de drenagem: vísceras cervicais (traquéia, esôfago). Linfocentro que drena o membro torácico: - Axilar: localizado caudalmente à articulação do ombro. Área de drenagem: todo o membro torácico (exceto a região lateral do ombro) e região peitoral (incluindo as mamas torácicas). Linfocentros que drenam a região torácica: - Mediastínico: localizado em proximidade com a base do coração, no mediastino. Área de drenagem: áreas ventral e lateral da cavidade torácica, esôfago torácico, pleura, pericárdio. - Traqueobrônquico: localizados ao redor da traquéia, brônquios principais e brônquio traqueal (para os animais que o possuem). Área de drenagem: pulmões, traquéia e brônquios. Linfocentros que drenam a região abdominal: - Hepático: localizado em proximidade com o fígado. Área de drenagem: fígado. - Celíaco: em proximidade com a artéria celíaca e seus ramos. Área de drenagem: estômago, baço e pâncreas, principalmente. - Mesentérico cranial: localizado em proximidade com a artéria mesentérica cranial. Área de drenagem: a maior parte das alças intestinais, do duodeno ao cólon. - Aorticorrenal: localizado entre a aorta e os rins. Área de drenagem: rins, glândula adrenal e região lombar. - Mesentérico caudal: localizado em proximidade com a artéria mesentérica caudal. Área de drenagem: final do cólon e reto. Linfocentros que drenam a pelve e membro pélvico (resumidamente): - Inguinal: Área de drenagem: parte ventral de abdome (inclusive mamas) e pelve, além do início da parte medial da coxa. - Ílio-lombar: Área de drenagem: região dorsal de abdome e pelve, região glútea. Linfocentro que drena o membro pélvico: - Poplíteo: localizado caudalmente à articulação do joelho; palpável em pequenos animais. Área de drenagem: membro pélvico, principalmente joelho e região distal do membro. Tonsilas: São aglomerados de células de defesa, assim como os linfonodos (portanto, têm função semelhante de defesa). Porém, não há chegada de vasos linfáticos a elas; sua atuação se dá por contato direto com substâncias advindas dos tratos respiratório e digestório. O principal exemplo deste tipo de tecido linfóide é a tonsila palatina, localizada na faringe e popularmente conhecida por amídala. Timo: É um órgão muito desenvolvido nos fetos, se estendendo desde a laringe até a base do coração. Este órgão sofre degeneração ao longo da vida do animal, e costuma desaparecer anatomicamente nos animais mais velhos. Esta regressão se dá sempre da região cranial em direção à região caudal; portanto, a última parte a desaparecer é a torácica. A função do timo é de maturação de linfócitos T. Baço: É um órgão abdominal localizado em proximidade com o estômago (ventrículo) dos animais, acompanhando a curvatura maior do estômago e, portanto, localizado no antímero esquerdo do corpo. Nos ruminantes, devido ao grande volume do estômago, o baço fica restrito à porção mais dorsal do abdome; nos demais animais, se estende desde a região dorsal até a região ventral. Anatomicamente, baço e estômago ficam unidos pelo ligamento gastrolienal (ou gastroesplênico). É um órgão parenquimatoso que atua como reservatório de sangue para o organismo, além de exercer grande função de defesa. Sua forma varia de acordo com a espécie animal: falciforme no eqüino, alongado (em forma de língua) nos ruminantes, “em forma de halteres” no cão. Em alguns animais (p. ex. ruminantes) os vasos sanguíneos para o baço penetram o órgão e apenas posteriormente se ramificam, dentro do órgão. Para os demais animais, os vasos percorrem o exterior do órgão, e apenas seus ramos penetram o parênquima. Esta diferença anatômica dificulta a cirurgia, no segundo caso.