Piranômetro Ana Paula Vitorino Vieira¹ [email protected] Andresa Borgert Wopereis [email protected] Andrey Rogério Abreu [email protected] Paula Bueno dos Santos [email protected] Wagner Luiz Langer Costa [email protected] Alunos do Curso Técnico de Meteorologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina Ministério da Educação Av. Mauro Ramos, 950, Centro, Florianópolis, Santa Catarina Resumo: Este artigo apresenta o desenvolvimento de um piranômetro, que utilizando componentes de baixo custo, mensura a radiação solar, energia proveniente do Sol. A radiação afeta direta ou indiretamente os processos físicos que ocorrem na atmosfera, de maneira que sua mensuração é importante para diversos setores. Na construção do sensor meteorológico foi reutilizada a base de um piranômetro e acoplado um sensor fotodiodo, que, por meio de um leitor de tensão elétrica programável, transforma a leitura de tensão em W/m². Após os testes, foi concluído que o sensor apresenta semelhança com o brilho solar, mas não corresponde a intensidade de Irradiância. Palavras-chave: Piranômetro. Sensor. Radiação. Fotodiodo. Abstract: Abstract: This paper presents the development of a pyranometer, which measure the solar radiation, using components of low cost, energy from the Sun. This radiation affects directly or indirectly the physical processes that occur in the atmosphere, in a way that the measurement radiation is important to many sectors. In the construction of meteorological sensor, it was reused the base of a pyranometer and a photodiode sensor was coupled, through a programmable portable voltage, which transforms the voltage in W / m². After the tests, it was concluded that the sensor presents likeness to solar brightness, but isn’t correspond the Irradiance intensity. Key Words: Piranometer. Sensor. Radiation. Photodiode. 2 Fundamentação teórica comprimento de onda e com a velocidade de propagação, ou pela energia contida em um fóton de radiação. Os conjuntos de freqüências e comprimentos de ondas de forma ordenada denominam-se espectro eletromagnético. A intensidade de radiação, ou Radiância é a principal grandeza radiativa. Desta, determina-se outra grandeza, a Densidade de Fluxo de Radiação, importante por representar a quantidade de energia radiante proveniente de todas as direções, que passa em certo plano na unidade de tempo e área. No Sistema Internacional (SI) a unidade de densidade de fluxo de radiação é apresentada em W/m². Pode-se distinguir entre a densidade de fluxo emitido por uma superfície, a Emitância Radiante, e a densidade de fluxo incidente na mesma, de termo Irradiância. A determinação desta última é o tipo de intensidade que o nosso sensor mensurará. 2.1 Radiação 2.1.1 Radiação global “Radiação, ou energia radiante, é à energia que se propaga sem a necessidade de um meio material. O termo radiação é igualmente aplicado para designar o próprio processo desse tipo de energia” (VAREJÃOSILVA-2006, p.188). Apresenta-se em forma de ondas eletromagnéticas e se propagam no espaço em velocidades altíssimas, e no vácuo sua velocidade é da ordem de 300.000 km/s. A radiação pode ser caracterizada por uma freqüência, relacionada com o A densidade do fluxo de energia radiante incidente sobre a Terra é chamada de Irradiância Global, a qual apresenta duas componentes: a) irradiância direta - provém diretamente do disco solar, atinge a superfície planetária “sem sofrer” desvios na atmosfera; b) irradiância difusa - a que sofre desvios durante sua trajetória, resultante do espalhamento da atmosfera. 1 Introdução Este artigo apresenta o desenvolvimento de um sensor que detecta a Radiação Solar Global, o qual é chamado piranômetro, desenvolvido com materiais de baixo custo. A mensuração da radiação é de suma importância para a sociedade. Na agricultura, evita perdas na plantação devido à exposição das plantas a radiação, podendo alterar nos processos de fotossíntese. Na meteorologia auxilia na previsão e estudos de casos, por afetar direta ou indiretamente os processos físicos que ocorrem na atmosfera. Na área da saúde, o fluxo de radiação incidente é base para se estimar o Índice Ultravioleta, pois a excessiva exposição a estes raios é prejudicial à saúde. Além disso, a radiação solar é uma fonte de energia renovável. 2.2 Piranômetro Piranômetros são sensores utilizados para realizar a mensuração da radiação, sobre uma superfície plana horizontal. Essa é feita a partir da densidade do fluxo de radiação global, ou somente direta ou difusa, em comprimentos de ondas, que vão desde o ultravioleta ao infravermelho do espectro eletromagnético. Os piranômetros geram sinais elétricos do tipo analógico, os quais são transformados pelo sistema em unidade de radiação (W/m²). Os elementos sensores variam de fotodiodos a termopilhas diferenciais. 2.3 Sensores meteorológicos Devido às diversas aplicações da energia solar, é desejável medi-la com equipamentos confiáveis e em maior número de localidades. Esses equipamentos são caros e muitas vezes, não são calibrados e expostos à manutenção periódica. Inúmeros são os instrumentos desenvolvidos para a medida da radiação solar. Esses instrumentos têm denominações especiais, de acordo com sua finalidade. Além do piranômetro com sensor fotodiodo há: actinógrafos ou piranógrafos e piranômetros com outros princípios de funcionamento. -actinógrafo ou piranográfo é um elemento sensível à radiação global, possui uma placa de metal montada horizontalmente, constituída de outras três placas, uma negra no centro e duas brancas laterais. Este conjunto é conhecido como bimetálico; a parte sensível do aparelho é protegida de poeiras, umidade e precipitação por uma semiesfera de vidro. -piranômetro mede a radiação solar global ou a radiação difusa. Para medir a radiação difusa um anteparo especial é acoplado ao piranômetro a fim de evitar que a radiação solar direta atinja o elemento sensível do instrumento. Tem como princípio de funcionamento o diferente aquecimento da superfície branca e preta, detectado por junções termoelétricas. Essas junções produzem uma corrente elétrica, quando submetida à ação da radiação, que é registrada em um potenciógrafo ou em totalizador integrador digital. 3 Metodologia 3.1 Descrição técnica O sensor proposto neste artigo é utilizado para mensuração da Irradiância Solar Global, o qual possui como elemento sensor um fotodiodo. Fotodiodos são dispositivos eletrônicos fotossensíveis, ou seja, que alteram suas características mediante a incidência de luz, e convertem os sinais óticos em sinais elétricos. A Figura 1 ilustra a aparência física do componente. FIGURA 1 – Fotodiodo Os fotodiodos são constituídos de maneira análoga aos diodos de junção. A junção PN é polarizada inversamente e, portanto, circula uma corrente no diodo, a corrente de saturação, composta de portadores minoritários, isto é, elétrons no tipo P e buracos no tipo N. Quando um feixe luminoso incide na função, são quebradas ligações covalentes, aumentando a concentração de portadores minoritários e conseqüentemente, gera-se uma diferença de potencial. Existem vários tipos de fotodiodo, cada um trabalha numa escala diferente. Com uso de um multímetro, registraram-se as variações de tensão, em simulações de variações da luminosidade, de modo rápido, o que mostra a sensibilidade do sensor, que deve ficar totalmente isolado, para evitar que a ação do tempo danifique o mesmo. 3.2 Construção e teste do projeto Na fase inicial da construção do instrumento, foi utilizada a carcaça de alumínio maciça de um piranômetro que já apresentava defeitos no seu sensor, a qual foi serrada e nela inseriu-se o fotodiodo, devidamente vedado com silicone. A figura 2 ilustra o protótipo. FIGURA 2- Protótipo O protótipo foi posto na estação meteorológica automática do IFSC, e foi analisado seu comportamento tanto em dias de céu claro, em sua maioria, quanto na presença de nebulosidade. Utilizou-se a mesma programação do antigo sensor de radiação da estação, mas não se converteu a unidade, registrando apenas a tensão. Nos primeiros testes, o sensor comportou-se como o esperado, mas logo apareceram os primeiros problemas, como falta de vedação da carcaça, seguido de curto-circuito. Em seguida, houve trocas de fotodiodo, tanto pela escala ser desconhecida e gerar tensão contínua, desligando ao fim do dia, e por ultrapassar a escala de tensão do Datalogger, de 2500 mV, ou possivelmente ser um fotodiodo regulador de tensão. No quarto teste utilizou-se um fotodiodo proveniente de um drive de disquete, o qual foi inserido no piranômetro, e posto para teste novamente na estação. Na análise dos dados, observou-se aparência coerente com a luminosidade dos dias. Ao comparar o gráfico do actinógrafo e o sensor, este gerava maiores tensões no período em que houve maior radiação. 3.3 Resultados Após a construção do aparato e a realização dos testes, ao analisar os resultados obtidos com o protótipo, constatou-se que o mesmo mostrou semelhança com as horas de brilho solar. Pois, ao comparar os picos de radiação do gráfico do actinógrafo com o sensor, nos picos de radiação expressos em calorias marcados pelo actinógrafo, o sensor gerava alguns dos seus maiores valores de tensão, sendo o períodos em que houve maior radiação incidente. As figuras 3, 4 e 5 mostram os resultados, em condições de céu claro, encoberto e nublado, respectivamente. Há também registro de aumento de tensão gerada e diminuição no registro de calorias do gráfico do actinógrafo, que marca disparidades. Ao comparar a intensidade de radiação incidente, através dos valores de tensão com as calorias do actinógrafo, conforme a figura 6, em dia de céu claro, há uma linearidade principalmente nas primeiras horas do dia. Porém quando o fluxo de radiação incidente aumenta a linearidade já não permanece constante. Isso pode ser observado através da figura 7, que mostra a corelação entre caloria e tensão. FIGURA 3 – Irradiância dia 05/11/09 (céu claro) FIGURA 6 – Linearidade dia 05/11/09 FIGURA 4 – Irradiância dia 08/11/09 (céu encoberto) FIGURA 7 – Co-relação do dia 05/11/09 FIGURA 5 – Irradiância dia 12/11/09 (céu nublado) Nos dias de céu nublado e encoberto, o sensor não apresenta as mesmas variações de intensidade registradas pelo actinógrafo, conforme 1500 Tensão (mV) a figura 8, que demonstra a má corelação entre caloria e tensão. Isso se deve a possibilidade de interferências externas, como umidade e temperatura, causadas pela má vedação do sensor, ou por sua estrutura apresentar dificuldades em dissipar o calor. 1250 1000 750 500 Hora (h) FIGURA 9 – Declínio da Tensão “Teste 5” 3.4 Programação e resultados finais FIGURA 8 – Co-relação do dia 12/11/09 A relação apresentada pela figura 6 é importante para achar o multiplicador, número essencial à programação, que transforma o valor de tensão para o valor correspondente à variável. Foi encontrado o valor de 0,036 como multiplicador. Ao analisar se a temperatura interfere na tensão gerada pelo sensor, foi feito um quinto teste com um pano escuro e úmido, para averiguar se ele continuava gerando uma tensão alta. Aguardaram-se dois minutos e foi retirado o pano. Analisando o gráfico da tensão gerada no momento percebe-se que há um declínio acentuado, exatamente na hora dos testes. Entretanto, a temperatura interfere pelo fato de o sensor não alcançar os 500 mV, que é sua tensão dada como inicial observada no gráfico da figura 9. Utilizou-se para a leitura de tensão do sensor o instrumento Datalogger CR10X, que lê e armazena em tempo determinado a variação de tensão gerada pelo sensor. Para a determinação do tempo de leitura e armazenamento de dados no Datalogger utilizou-se o software LoggerNet . O sensor foi conectado na entrada analógica diferencial, por ser mais sensível e diminuir as interferências externas, já que a corrente elétrica que circula no sensor é muito pequena. Programou-se a mensuração a cada 10 segundos, e armazenamento da média lida em 5 minutos, 1 hora e 24 horas. No armazenamento dos dados de 24hs, programou-se para que armazenasse também a radiação total obtida. Utilizando os dados de tensão (mV) do piranômetro e as calorias (cal/cm².min) do gráfico do actinógrafo, de mesmo dia, obteve-se mediante gráficos Caloria/Tensão, já mostrados no item 3.3, o multiplicador para converter sinais de tensão na unidade de radiação. O multiplicador como já foi mencionado ficou sendo 0,036, resultante do gráfico da figura 6, que apresentou maior linearidade na área do gráfico, que entre as relações feitas, é o que mais se aproximou de 1, por seu R². Por meio do instrumento de leitura de tensão, que permanece na EAU, obtiveram-se os valores de tensão gerados pela diferença de potencial do sensor. Foi utilizada a mesma programação do antigo sensor de radiação da Estação Automática do IFSC. Trocou-se apenas o multiplicador, e o offset, conforme a programação: ;{CR10X} *Table 1 Program 01: 10 Execution Interval (seconds) 12: Volt (Diff) (P2) 1: 1 Reps 2: 23 25 mV 60 Hz Rejection Range 3: 3 DIFF Channel 4: 6 Loc [ radiacao ] 5:0 .036 Mult 6: ‐54.27 Offset 13: If (X<=>F) (P89) 1: 6 X Loc [radiacao] 2: 4 < ; 3: 0 F 4: 30 Then Do 14: Z=F x 10^n (P30) 1: 0 F 2: 0 n, Exponent of 10 3: 6 Z Loc [ radiacao ] 15: End (P95) 16: Z=X*F (P37) 1: 6 X Loc [ radiacao ] 2: 0.00001 F 3: 7 Z Loc [ RADtotal ] para a mensuração da radiação. A tensão gerada pelo sensor é apresenta semelhança com as calorias do actinógrafo apenas em dias de céu claro. Após as 10 horas da manhã, quando a radiação começa a aumentar de forma significativa, o sensor apresenta problemas ou devido ao aquecimento de sua carcaça, pois no quinto teste, percebeu-se que há interferência da temperatura na tensão gerada, o que indica que pode haver dificuldades do sensor em dissipar o calor. Ou por haver interferência da umidade, já que ao passar dos dias, e principalmente em dias de céu nubaldo e encoberto, as co-relações entre valores de caloria e tensão ficaram mais dispersas. Por apresentar certa linearidade em relação ao brilho solar, comparando tensão e caloria por hora, o piranômetro acompanha as horas de sol gerando tensões. Sugere-se para projetos futuros, utilizar um termistor, para diminuir a tensão gerada pelo calor, tendo, enfim a tensão gerada apenas pelo fluxo de luz incidente. 5 Referências VAREJÃO – SILVA, Mário Adelmo. Meteorologia e climatologia. Recife, PE: Versão Digital, n.2, 2006. VIANELLO, Rubens Leite; ALVES, Adil Rainier. Meteorologia básica e aplicações. Viçosa: UFV, 2000. QUADRO 1 - Programação do datalogger 4 Conclusão Concluiu-se que o sensor não atende às características necessárias FUENTES, Márcia Vedromila; CÂNDIDO, Sérgio Pereira. Técnica de observações meteorológicas. Florianópolis, 2009. Apostila – Curso Técnico de Meteorologia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina. IAC. Aviônicos II. Rio de Janeiro, 2003. Apostila – Curso de Mecânica em Manutenção Aeronáutica, Instituto de Aviação Civil. GTA/UFRJ - Grupo de teleinformática e automação. Fotodiodos. Disponível em: http://www.gta.ufrj.br/grad/01_1/foto/fot odiodo2.htm Acesso em: 09/11/2009.