ANÁLISE MATEMÁTICA II Acetatos de Ana Matos Séries de Potências DMAT Séries de Potências As séries de potências são uma generalização da noção de polinómio. Definição: Sendo x uma variável e a , chama-se série de potências centrada em a (série de potências em torno de a ou série de potências de x a), a qualquer série da forma an x a n, n 0 ou seja a0 a1 x a an x a n onde a n é uma sucessão real (cujos termos se designam por coeficientes da série de potências). Em particular, chama-se série de potências de x a qualquer série da forma anxn, n 0 ou seja a0 a1x a2x2 anxn Ao conjunto dos valores reais que, substituídos na série de potências, originam uma série numérica convergente chama-se domínio de convergência da série de potências. Observação: Uma série de potências é uma função de x, cujo domínio é o conjunto dos valores reais que, substituídos em x, originam uma série numérica convergente (o domínio de convergência da série). Ana Matos - AMII 13/14 Séries Pot. - 1 Exemplo Importante (série de potências geométrica): O intervalo 1, 1 é o domínio de convergência da série xn x 1 xn x2 n 0 Mais, para qualquer x 1, 1 , 1 xn 1 n 0 A série n 0 x x n define a função e só neste intervalo, apesar de 1 1 x . 1 1 x em 1, 1 , estar definida em \ 1 . Raio de convergência e intervalo de convergência O domínio de convergência de uma série de potências centrada em a nunca é vazio. De facto, an a a n a0 0 0 0 a0. n 0 Portanto, a pertence ao domínio de convergência da série (e fa a 0 ). Mais, o domínio de uma série de potências centrada em a é sempre um intervalo centrado em a. Ana Matos - AMII 13/14 Séries Pot. - 2 Para uma série de potências centrada em a, é satisfeita exactamente uma das seguintes alternativas: 1. a série de potências é convergente apenas em a; 2. existe um número real R 0 tal que a série de potências é absolutamente convergente para os valores de x tais que |x a| R e diverge para |x a| R; 3. a série é absolutamente convergente para todo o x Definição: Seja a x n 0 n torno de a e considere-se R (com R 0, se lim n |a n | a n . uma série de potências em 1 lim n |a n | e R , se lim n |a n | 0). A este valor R chama-se raio de convergência da série de potências. O intervalo a R, a R designa-se por intervalo de convergência da série. Proposição: Seja R o raio de convergência duma série de potências centrada em a. Então se R se R a R, a se R x . 0, a série é convergente apenas em a. , a série é absolutamente convergente em R e divergente em ,a R a R, . a série é absolutamente convergente para todo o Ana Matos - AMII 13/14 Séries Pot. - 3 Nota 1: A proposição nada afirma sobre a convergência da série nos extremos do intervalo de convergência. É necessário estudar, para a série em causa, o que se passa em cada um dos extremos do intervalo. Nota 2: Frequentemente, o domínio de convergência da série de potências é designado por intervalo de convergência . Não é esta a convenção que fazemos. Proposição: O raio de convergência de uma série de potências n a x a , de coeficientes diferentes de zero, é igual a n n 0 lim aann1 , desde que este limite exista. Exemplo (série exponencial): A série de potências n 0 xn n! 1 x x2 2! é absolutamente convergente em x3 3! xn n! . (Veremos que a soma desta série é e x , para qualquer x Ana Matos - AMII 13/14 . Séries Pot. - 4 Operações com séries de potência n n Proposição: Sejam f x a x e g x b x n n n 0 0 duas séries de potência de x, com raios de convergência não nulos, e R o raio de convergência da primeira série. Se k é um número real e N um um número natural, então: 1. f kx 2. f x N n 0 n anknxn, nN a x , n 0 para |kx| R; para |x N | R; 3. f x g x a n 0 n domínios de convergência; b n x n , na intersecção dos 4. f x g x a n 0 n domínios de convergência. b n x n , na intersecção dos Observação 1: Saliente-se que as operações acima podem mudar o intervalo de convergência e que nos extremos a convergência terá que ser estudada directamente. Observação 2: Resultados análogos aos anteriores são válidos para séries de potências de x a. Ana Matos - AMII 13/14 Séries Pot. - 5 Derivação e integração de séries de potências Um intervalo da forma a vizinhança de a. ,a , com 0, diz-se uma Definição: Uma função f diz-se analítica num ponto a, do seu domínio, se f é a soma de uma série de potências de a, nalguma vizinhança de a. Isto é, se existe uma sucessão a n tal que, para algum fx an x a n, x a ,a 0, . n 0 Exemplo: A função f x 1 1 x é analítica em 0. Proposição: Considere-se a série de potências n a x 0 n a n, com raio de convergência R, e a série que se obtém derivando-a termo a termo: n an x a n 1 a1 2a 2 x a n an x a n 1 n 1 Então: 1. as duas séries têm o mesmo raio de convergência R; 2. se R 0, a função fx an x a R e n an x a n n 0 é derivável no intervalo a R, a f x n 1 . n 1 Ana Matos - AMII 13/14 Séries Pot. - 6 Nota: Os domínios de convergência das duas séries podem ser diferentes, em virtude dos seus comportamentos nos extremos. Corolário: Uma função definida por uma série de potências de x a, com raio R 0, é indefinidamente derivável em a R, a R e as suas derivadas calculam-se derivando sucessivamente as séries termo a termo. Exemplo: Mostre que a função 1 1 x 2 é analítica em 0 (desenvolva-a em série de potências de x). Corolário: Seja a x n 0 n raio de convergência R 0. a Então, a função definida em a n uma série de potências, com R, a an x fx R por a n n 0 é primitivável neste intervalo e Pf x P an x n 0 a n an n 0 x a n n 1 1 C, com C uma constante real. Ou seja, uma função definida por uma série de potências de x a, com raio R 0, é primitivável em a R, a R e as suas primitivas obtêm-se primitivando a série termo a termo. Ana Matos - AMII 13/14 Séries Pot. - 7 Exemplo: No intervalo ln x 1, 1 , 1 1 n n 0 Para x xn 1 . n 1 1, obtém-se a série 1 n 0 n n 1 1 (a série harmónica alternada) que é simplesmente convergente. Daqui pode-se justificar que a soma da série harmónica alternada é ln 2 . Ana Matos - AMII 13/14 Séries Pot. - 8 Série de Taylor e série de Mac-Laurin Definição: Seja f uma função indefinidamente diferenciável a . Chama-se série de Taylor de f no ponto a à série de potências f n 0 n a n! x a n isto é a fa f a x f a a 2! x a f 2 n a n! x a n Chama série de Mac-Laurin de f à série de Taylor de f em a 0, isto é, a f n 0 n 0 n x n! ou seja f0 f 0 x f f 0 2 x 2! n 0 n x n! Exemplos Importantes: 1. A série de Mac-Laurin de e x é n 0 xn n! Ana Matos - AMII 13/14 1 x x2 2! x3 3! xn n! Séries Pot. - 9 2. A série de Mac-Laurin de sen x é 3 x5 x x 1 3! 5! isto é 1 n 0 2n x 2n 1 2n 1 ! n n 1 ! x 2n 3. A série de Mac-Laurin de cos x é 2 x4 1 x 1 2! 4! isto é n 1 x 2n 2n ! 1 n 2n x 2n ! n 0 Observação: O facto de podermos escrever a série de Taylor de uma função num ponto não garante que a função seja soma dessa série, mesmo no intervalo de convergência da série. Por exemplo, a função fx e 1 x2 0 é indefinidamente diferenciável em Pode-se provar que, em x ordem, existem e são 0. se x 0 se x 0 . \ 0 . 0, as suas derivadas, de qualquer A função f apenas se anula em 0, pelo que não é igual à soma da sua série de Mac-Laurin num intervalo centrado em 0. Ana Matos - AMII 13/14 Séries Pot. - 10 Definição: Diz-se que uma função f é desenvolvível em série de Taylor num ponto a se f é soma da sua série de Taylor nalgum intervalo centrado em a. Proposição: Seja f uma função indefinidamente diferenciável num intervalo aberto I, centrado em a, e R n x o resto de ordem n do seu polinómio de Taylor em a. Então, f é soma da sua série de Taylor em a, no intervalo I, sse lim R n x x 0, n I. Proposição: (C. Suf. de Desenvolvimento em Série de Taylor) Seja f uma função indefinidamente diferenciável no intervalo a R, a R , para a qual existe uma constante M tal que n x a R,a R 0 : |f n x | M. Então, neste intervalo, f é soma da série de Taylor no ponto a, isto é, f fx n 0 n a n! x a n, x a R, a R. Nota: Para aplicar esta proposição temos que majorar f e todas as suas derivadas, em a Ana Matos - AMII 13/14 R, a R , pela mesma constante. Séries Pot. - 11 Exemplos Importantes: Para qualquer x sen x cos x ex n 0 1 n 2n 1 ! n 0 1 n 2n ! 1 n 0 n! xn x 2n x 2n 1 x3 3! x 1 x2 2! 1 x2 2! x , x5 5! 1 x4 4! x3 3! 1 n x 2n 1 2n 1 ! n x 2n 2n ! xn n! Em particular, 1 . n! e n 0 Teorema (unicidade do desenvolv. em série de potências): Se f x n a x 0 n a n , nalgum intervalo aberto centrado em a, então essa série coincide com a série de Taylor de f em a. Isto é, para qualquer n 0, an f n a . n! Observação 1: Este Teorema garante que, caso uma função seja soma de uma série de potências (num intevalo aberto), então essa série coincide com a sua série de Taylor. Ana Matos - AMII 13/14 Séries Pot. - 12 Para cada uma das funções do exemplo anterior, determinou-se a série de Taylor da função e provou-se, pela condição suficiente de desenvolvimento em série de Taylor, que a função é igual à soma da série; este processo é, em geral, trabalhoso. Tem-se agora uma alternativa que, frequentemente, permite obter, de um modo muito mais simples, o desenvolvimento de uma função em série de Taylor num ponto a: mostra-se que a função é soma uma certa série de pontências de x a (num intervalo aberto centrado em a), a partir de desenvolvimentos conhecidos e/ou dos resultados sobre derivação e integração de séries; aplica-se o teorema da unicidade do desenvolvimento em série de potências para garantir que essa série é a série de Taylor da função no ponto a. Exemplos: 1. O desenvolvimento em série de Mac-Laurin de xn 1 x xn x2 , x 1 1 x é 1, 1 . n 0 2. O desenvolvimento em série de Mac-Laurin de ln x 1 n 0 Ana Matos - AMII 13/14 n xn 1 , n 1 x 1 é 1, 1 . Séries Pot. - 13 Aplicação das séries de potências à primitivação Muitas funções, embora sejam primitiváveis, não podem ser primitivadas recorrendo às técnicas já dadas: primitivas imediatas, primitivação por partes e primitivação por substituição. Diz-se que f é uma função elementar se pode ser obtida por um número finito de operações de adição, multiplicação, divisão e composição, a partir de funções polinomiais, exponenciais, logarítmicas e trigonométricas, directas ou inversas. A função e x2 é uma função elementar. Pode-se provar que a sua primitiva não é elementar, pelo que não pode ser obtida, pelos métodos referidos, a partir de funções elementares. Da primitivação de séries de potências e do desenvolvimento ex n 0 xn , n! em conclui-se que Pe x2 n 0 1 n x 2n 1 n! 2n 1 C, com C constante real. Ana Matos - AMII 13/14 Séries Pot. - 14 Desenvolvimentos Fundamentais Recordem-se alguns desenvolvimentos indispensáveis: 1 1 x ex sen x cos x n 1 xn 1 xn n 0 n! 1 1 x n n 0 1 n 0 1 n x 2n 2n ! Ana Matos - AMII 13/14 x x2 x2 2! x3 x3 3! x 2n 1 2n 1 ! x2 2! x 1; , em ; x3 3! x 1 , para 1 x5 5! x4 4! x7 7! x6 6! , em ; , em . Séries Pot. - 15