Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 O USO DE COLEÇÕES ENTOMOLÓGICAS COMO FERRAMENTA DE ENSINO NA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL Adriana Couto Pereira (Campus Palmas - IFPR) "Professor não é o que ensina, mas o que desperta no aluno a vontade de aprender" (Jean Piaget) Resumo Aulas práticas são essenciais na aprendizagem de Ciências, pois a boa formação dos estudantes passa por experiências que transcendem o campo teórico e despertam nos alunos a curiosidade e o interesse de investigação dos componentes da natureza. Para que a abordagem prática tenha sucesso é necessário construir uma interação didática em sintonia com os conceitos e modelos científicos, de modo que a ciência seja percebida em um contexto social e cultural. Este trabalho aborda a construção e o uso de coleções entomológicas como recurso didático na Educação Básica, discutindo os principais trabalhos publicados a respeito nos últimos anos. Conclui-se que é necessária a capacitação dos docentes interessados em trabalhar com essa ferramenta, tanto para a coleta quanto para a divulgação dos resultados obtidos, e aponta-se a possibilidade da aproximação entre a Academia e a Escola Básica para que tal capacitação possa ser realizada a contento. Palavras-chave: Biodiversidade, Educação, Ensino de Ciências, Entomologia, Insetos, Material Didático. 1. Introdução Insetos são o grupo dominante de organismos na Terra, tanto em termos de diversidade taxonômica (mais de 50% de todas as espécies descritas) quanto de função ecológica (WILSON 1992). Essa enorme diversidade representa uma variedade equivalente de adaptações a diversas condições ambientais. A utilização de aulas práticas é constantemente mencionada como alternativa para superar a tradição livresca na qual está pautado o ensino de Ciências Naturais no Brasil (SILVA e PEIXOTO 2003), tendo em vista que, com esse recurso, o aluno entra em contato com o objeto de estudo e pode se tornar sujeito ativo no processo de aprendizagem (KRASILCHICK 2008). Aulas práticas são essenciais na aprendizagem de Ciências, uma vez que a boa formação dos estudantes passa por experiências que transcendem o campo teórico e despertam nos alunos a curiosidade e o interesse de investigação dos diferentes componentes 4437 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 da natureza (FRIEDRICHSEN et al. 2003). Entretanto, para que a abordagem prática no ensino tenha sucesso é necessário construir uma interação didática em sintonia com os conceitos e modelos científicos, de modo que a ciência seja percebida em um contexto social e cultural (ABD-EL-KHALICK e LEDERMAN 2000). O estudo dos insetos permeia o conteúdo abordado em diversas disciplinas presentes na matriz curricular da Educação Básica (BRASIL 1998). Diversas aulas práticas propostas em livros didáticos utilizam insetos como recurso didático. O uso de coleções entomológicas no ensino de Biologia na escola de Ensino Médio, além de se configurar em material de baixo custo, tem a potencialidade de tornar as aulas mais atraentes e motivadoras, especialmente considerando a escassez de material biológico para a realização de aulas práticas na maioria dos estabelecimentos de ensino do Brasil (MATOS et al. 2009). Este estudo pretende analisar a utilização de coleções entomológicas por escolas de Educação Básica no Brasil. Para tanto, foram utilizados trabalhos publicados em revistas científicas e/ou Anais de eventos, durante os últimos seis anos, buscando-se a maior variedade possível em abrangência geográfica do território nacional. 2. O estudo da biodiversidade na Educação Básica De acordo com RICKLEFS (1996), a biodiversidade reflete um amplo conjunto de processos locais, regionais e históricos, e eventos que operam em uma hierarquia de escalas espaciais e temporais. Deste modo, a compreensão dos padrões de diversidade das espécies requer a consideração da história da região e a interação, principalmente, com estudos ecológicos, de sistemática, bionomia, evolução e biogeografia. Muitos livros abordam a forma como os insetos afetam outras espécies (inclusive humanos) e parâmetros ecológicos de diversas maneiras. A capacidade de responder rapidamente às mudanças ambientais faz dos insetos úteis bioindicadores e potenciais reguladores das condições do ecossistema. Além disso, frequentemente competem com humanos pelos recursos presentes no ambiente ou atuam como vetores para doença (SCHOWALTER 2006). Em função dessas importâncias e proximidade dos insetos com o homem, é necessário conhecer e despertar o interesse dos alunos de Biologia por esses animais. BUZZI (2010) divide os insetos em três categorias, em sua relação com o homem: úteis (dos quais se extraem algum produto, como cera, seda ou mel; de interesse médico; polinizadores; de interesse alimentício; de interesse agronômico; de valor estético e de valor científico), nocivos (de interesse agronômico; de interesse médico; prejudiciais a produtos armazenados; venenosos e parasitos) e nulos, que embora não causem benefício ou malefício ao homem, são 4438 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 de extrema importância nas cadeias alimentares de diversos outros animais. Insetos servem também como modelo em áreas da evolução, ecologia, comportamento, anatomia, fisiologia, bioquímica e genética (GULLAN e CRANSTON 2012). Contudo, o estudo dos insetos deve se justificar por si só, uma vez que são animais extremamente bem sucedidos, encontrados em todos os tipos de ecossistemas naturais e modificados, e a mera curiosidade a respeito de sua identidade e modo de vida já justificaria o estudo (GULLAN e CRANSTON 2012). JOLIVET e VERMA (2005) também ressaltam o aspecto fascinante do grupo, principalmente por sua enorme diversidade, incríveis adaptações a diferentes habitat e diversos padrões de vida, apontando que mesmo em turmas avançadas de Entomologia e em livros textos, tais aspectos permanecem relativamente ignorados. O estudo da biodiversidade é orientado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que menciona como o conhecimento da estrutura molecular da vida, dos mecanismos de perpetuação, diferenciação das espécies e diversificação intraespecífica, da importância da biodiversidade para a vida no planeta são alguns dos elementos essenciais para um posicionamento criterioso relativo ao conjunto das construções e intervenções humanas no mundo contemporâneo (Brasil, 1999). Ainda segundo os PCNs, as observações diretas nas aulas de zoologia na sala de aula ou aulas de campo, bem como os trabalhos práticos, constituem atividades básicas para uma resposta eficiente no aprendizado de ciências. No Paraná, as Diretrizes Curriculares para a Educação (DCEs) do Estado indicam que, ao utilizar a experimentação durante o processo pedagógico, é necessário considerar seus aspectos éticos e possíveis danos causados à biodiversidade (Paraná 2008). As DCEs lembram, ainda, que a experimentação deve estar sempre amparada pelos dispositivos legais em vigência, apontando a Lei Estadual 14037/03 (Código Estadual de Proteção aos Animais), a Lei de Biossegurança, a Política Nacional da Biodiversidade e as Resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). Contudo, o documento paranaense não discorre a respeito do conteúdo de tais dispositivos. 3. Coleções entomológicas Coleções são valiosas tanto no aspecto prático quanto auxiliando avanços teóricos no conhecimento científico (DANKS 1991). As coleções biológicas, entre elas a entomológica, se mantidas de maneira adequada, podem durar por centenas de anos, perpetuando a história da biodiversidade. Podem ser utilizadas como fonte de informações para diversos campos da ciência que retornarão em benefícios à sociedade a curto, médio e longo prazo, como biogeografia, biologia pesqueira, conservação e manejo de recursos naturais, bioquímica, 4439 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 biotecnologia, ecologia, evolução, genética, medicina, toxicologia, mudanças climáticas globais, legislação, entre outras (BUZZI 2010). Dentre os benefícios da coleção entomológica, citam-se: reconhecimento de espécies e elaboração de chaves para identificá-las; melhor documentação sobre extinção e alterações de distribuição de espécies; análise e monitoramento a longo prazo de mudanças ambientais; descoberta de novos recursos biológicos, direcionando melhor a pesquisa por genes, agentes biocontroladores e espécies potencialmente úteis para a humanidade; subsídio a políticos, legisladores, técnicos e tomadores de decisão no estabelecimento de prioridades em políticas conservacionistas e de manejo de recursos naturais sustentáveis; possibilidade de acesso imediato ao conhecimento sistemático para a resolução de problemas; fornecem subsídios científicos para o entendimento dos processos de especiação, extinção e adaptação que produziram a atual diversidade da vida, entre outros (DANKS 1991). As coleções são ainda testemunhos da fauna de áreas protegidas, de áreas impactadas ou mesmo em via de desaparecimento e, portanto, são a base para pesquisas em biodiversidade, sistemática e evolução (PAPAVERO 1994). Coleções entomológicas podem ser organizadas segundo duas abordagens diferentes, de acordo com sua finalidade: Coleção científica é aquela voltada para fins de pesquisa. Conservam material da forma mais permanente possível, apresentando eventualmente espécimes coletados há mais de um século. Tais coleções são consideradas patrimônio nacional e internacional (PAPAVERO 1994), e constituem ferramenta imprescindível para a pesquisa em diversos níveis e assuntos (ecologia, taxonomia, sistemática, agronomia, entre outros). Por seu caráter científico, as coleções entomológicas trazem em seu âmago um valor inestimável, estando sujeitas internacionalmente à ética científica de preservação o que obriga seus responsáveis à procura e à proposição de soluções que tornem viável seu acesso às comunidades científicas e leigas. Particularmente, coleções regionais provêm informações básicas a respeito das comunidades bióticas locais (DANKS 1983). Coleção didática é aquela que encerra material destinado ao uso no ensino, em demonstrações para discentes e treinamentos para técnicos e pessoas que atuarão no manuseio de insetos e montagem de coleções científicas. É o tipo de coleção presente em instituições vinculadas ao ensino, pois despertam o interesse dos estudantes no material de estudo. Coleções didáticas são objeto de renovação permanente, pois graças ao manuseio constante de seus exemplares, é alto o índice de destruição e o material deve ser reposto sempre que possível. Esse tipo de 4440 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 coleção, ao contrário da científica, pode conter material montado de forma imperfeita, com dados incompletos de procedência ou até parcialmente danificado (PAPAVERO 1994). Como material didático para a escola de Educação Básica, coleções entomológicas se configuram em material de baixo custo, com a potencialidade de tornar as aulas mais atraentes e motivadoras, além de contribuir para diminuir as características repulsivas associadas comumente aos insetos (SANTOS e SOUTO 2011), que frequentemente são lembrados apenas como seres causadores de doenças e outros prejuízos (COSTA NETO e PACHECO 2004). Para uma coleção cumprir fielmente com sua proposta, é muito importante que sejam observados os procedimentos adequados para a montagem e a conservação dos insetos. Se partes estiverem danificadas ou difíceis de serem visualizadas, raramente será possível uma identificação mais precisa do espécime coletado (ALMEIDA et al 2003). Praticamente todos os livros que tratam do estudo da entomologia trazem uma unidade ou um capítulo sobre coleta e conservação de insetos (GALLO 2002; GULLAN e CRANSTON 2008; BUZZI 2010; TRIPLEHORN e JOHNSON 2011; RAFAEL 2012). Além desse aporte teórico, existem também diversas obras com enfoque específico no assunto (PAPAVERO 1994; ALMEIDA 2003; AZEVEDO FILHO e PRATES JÚNIOR 2005). 4. Estratégias e estudos de caso A aula experimental é um espaço de organização, discussão e reflexão a partir de modelos que reproduzem o real. Uma vez que reproduz os mecanismos sociais, por mais simples que seja a experiência, ela se torna rica ao revelar as contradições entre o pensamento do aluno, o limite de validade das hipóteses levantadas e o conhecimento científico (PARANÁ 2008). Tratando dos processos biológicos, a experimentação pode contribuir para o estudo da biodiversidade a partir de um conceito mais amplo. Neste caso, a Biologia abrange um universo conceitual que se fundamenta na concepção evolutiva e entende os seres vivos além do contexto da classificação e do funcionamento de suas estruturas orgânicas. Estes conhecimentos biológicos envolvem as relações ecológicas, as transformações evolutivas e a variabilidade genética, e podem ser estudados a partir de modelos que procuram interpretar o real, nas aulas experimentais (PARANÁ 2008). Diversos artigos a respeito do uso de coleções entomológicas para o estudo da biodiversidade em escolas de Ensino Básico têm sido publicados nos últimos anos. Grande parte desses artigos, contudo, seguem a metodologia de Estudo de Caso, descrevendo coletas realizadas em determinada instituição ou comparando o aprendizado de alunos de determinada turma/escola antes e depois da prática. 4441 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 DIAS et al (2012) descrevem sua prática em um artigo pobremente escrito, apontando o auxílio de um entomólogo funcionário do INPA na orientação e prática dos procedimentos de coleta. O trabalho relata a coleta de insetos de oito ordens diferentes para a construção de um "insetário" (sic), concluindo com a percepção dos fundamentos científicos e tecnológicos dos processos produtivos e a ampliação dos conhecimentos a respeito do tema. LOURINDO et al. (2012) conduziram um projeto no município de Parintins (AM) visando a capacitação de discentes do curso técnico em Agropecuária, pois "para a implantação de uma coleção entomológica torna-se imprescindível mão de obra qualificada para manipular os espécimes, além de garantir o bom gerenciamento do acervo" recém-criado do campus do Instituto Federal da Amazônia (IFAM) no município. O trabalho aponta a coleta de 368 exemplares, pertencentes a 12 ordens e 59 famílias de insetos, com o uso de diversas estratégias de coleta, e conclui indicando o sucesso na capacitação dos discentes envolvidos bem como no aprimoramento da qualidade da coleção didática do Instituto, a ser utilizada como recurso pedagógico nas turmas futuras do curso. Ainda em 2012, BORTOLINI et al. propõem uma análise quantitativa em uma abordagem expost-facto. As autoras realizaram um projeto relacionado ao assunto no município de Palmas, Paraná. Em seu trabalho, foram analisadas as concepções prévias dos estudantes acerca dos insetos por meio de um questionário (pré-teste). Em um segundo momento, os alunos envolvidos assistiram a três aulas de 50 minutos sobre insetos, e foram levados a campo para a realização de coletas com o uso de diversos tipos de armadilhas e rede entomológica. Ao final da etapa de coleta, foi aplicado um novo questionário (pós-teste) para comparação entre o conhecimento prévio (senso comum) e o construído durante o projeto. O trabalho analisa as diversas respostas e conclui indicando a coleção como um recurso eficiente para o ensino de entomologia no ensino médio, onde 75% dos alunos participantes manifestaram avanço cognitivo após sua utilização. Também indica que a coleção, uma vez construída, torna-se recurso didático facilmente adaptável para utilização em outros conteúdos no ensino de Ciências. Um projeto similar foi conduzido por SANTOS e SOUTO (2011), com alunos de ensino fundamental. A análise ex-post-facto também indicou um avanço cognitivo em 75% dos alunos participantes. Em sua metodologia, os autores propõem uma aula teórica e duas aulas práticas, e indicam que a montagem da caixa entomológica permitiu a vivência da manipulação de insetos de verdade, aumentando a percepção de detalhes e melhorando a capacidade de reconhecimento de um inseto, quando comparado a outros animais. O trabalho indica ainda a carência dos livros didáticos na abordagem da relação entre a posição 4442 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 específica das estruturas corporais e suas funções nos organismos, pois a relação entre estrutura e morfologia não foi compreendida intuitivamente entre os estudantes, aspecto este aprimorado após a prática. LEAL et al (2011) desenvolveram seu projeto em Mandaguari, com alunos de 6ª série (7º ano) de diversas escolas do município. O trabalho apresenta erros fundamentais de execução (afirmando, por exemplo, que insetos possuem sangue) que demonstram o despreparo da equipe executora. Em sua metodologia, propõe uma análise prévia do conhecimento sobre o assunto e a posterior coleta e montagem da coleção. Por fim, o trabalho conclui indicando pontos positivos em seu desenvolvimento, incluindo os novos conhecimentos obtidos pelos alunos na área da entomologia e a interação entre a turma, a direção da escola, os docentes e os estagiários participantes do projeto. Em 2011, no município de Ivinhema (MS), foi desenvolvido um trabalho com coleções entomológicas com alunos de 8º ano (MORI 2012). Os insetos foram coletados com armadilhas de bandeja colorida, armadilhas de cheiro e rede entomológica, mas o artigo indica o insucesso da coleta com armadilhas, uma vez que o material resultante se encontrava danificado, apresentando ausência de pernas, asas e antenas. O material coletado com rede entomológica foi descrito como estando em melhores condições. Esse material foi organizado em caixas de camisa e triado em nível de ordem e família. O resultado final mostrou-se positivo, tendo o projeto cumprido os objetivos de iniciar a coleção da escola e de fomentar nos alunos o interesse pelo estudo dos insetos. BORGES et al. (2010) apresentam um levantamento do material disponível no Colégio Gonzaga, em Pelotas (RS). O trabalho indica a existência, no estabelecimento, de uma coleção composta por 308 exemplares de diversas ordens. Em sua discussão, os autores indicam a grande quantidade de Lepidoptera coletada, superando o número do grupo mais esperado, Coleoptera. Essa discrepância tenta ser explicada pelas condições climáticas do entorno, que supostamente indicariam maior facilidade de adaptação do grupo mais coletado em detrimento do outro. Outra hipótese seria a estação do ano em que as coletas aconteceram, sendo que o artigo aponta que "quando chega o inverno estes animais [Lepidoptera] estão na fase de ovo ou larva, chamando menos atenção". Não existe referência para apoiar tal raciocínio, o que é compreensível, pois tal hipótese é um enorme equívoco. O estudo aponta ainda a grande atratividade que o grupo Lepidoptera exerce sobre os alunos, chamando a atenção com suas asas tipicamente grandes e coloridas; tal hipótese parece muito mais plausível e deveria estar como primeira explicação. 4443 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 No que se refere à estrutura do laboratório de Ciências/Biologia, ORVATTI e BUENO (2012) ressaltam a necessidade de um espaço adequado para o desenvolvimento de atividades práticas pelos alunos, e comentam que a atenção dedicada a esse local pela direção e pelo corpo docente indicam a importância dada às Ciências Naturais dentro do currículo escolar, bem como a abordagem didática que lhe é atribuída. A proposta desse trabalho consistiu em organizar e recuperar o material didático disponível, inclusive a coleção entomológica. A coleta foi realizada inicialmente por alunos do período noturno, que não se empenharam muito e acabaram trazendo um número insuficiente de exemplares. As autoras então coletaram mais e montaram o "insetário" (sic) sem a ajuda dos demais discentes. O trabalho discorre sobre a falta de um profissional treinado para o cuidado e manutenção do material disponível. Sobre a coleção, a atividade foi citada como exemplo de material prático que pode ser obtido sem muitos recursos, devendo ser elaborado cuidadosamente para garantir a qualidade dos exemplares expostos. TAFFAREL (2012) desenvolve a proposta de criação de museus escolares utilizando animais taxidermizados, além de insetos. Em seu trabalho, o autor aponta a preferência (observada empiricamente) dos alunos sobre os animais montados a seco, ao invés daqueles conservados em meio líquido, que em geral despertam sensações de asco e nojo. O autor aponta, ainda, as vantagens e desvantagens de ambas as técnicas de conservação. Também é indicada, no mesmo trabalho, a importância da exposição de exemplares em diversas fases de vida, bem como da ambientação dos exemplares, apresentando inclusive pupas, ovos, ninhos, etc. Além da proposta da construção e apresentação de coleções, alguns trabalhos também têm orientado novas metodologias no ensino da Entomologia. MATOS et al. (2009) descrevem o desenvolvimento e a utilização de modelos didáticos entomológicos, criados por universitários, alunos da disciplina Entomologia Geral da UFRPE, com o uso de diversos materiais (massa epoxi, biscuit, arame, alfinetes, etc). O trabalho aponta a massa epóxi e o biscuit como os materiais mais adequados para a elaboração desse tipo de modelo, e indica que o material criado pode ser utilizado em diversos tipos de atividades no Ensino Básico, difundindo o conhecimento e desenvolvendo a criatividade dos alunos. Mais recentemente, LIRA JÚNIOR (2013) propõe a construção de um material pedagógico com enfoque piagetiano, buscando eliminar a zona de conforto e provocar a problematização e a reflexão do aluno. Sua proposta inclui um cladograma simplificado dos invertebrados (adequado para o nível médio, porém a figura contém quadros explicativos em inglês), uma chave para identificação das principais ordens de insetos adultos, adaptada de ZUCCHI (2005) e um embasamento teórico simples para fomentar a discussão. Não há abordagem 4444 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 aprofundada sobre a morfologia interna ou fisiologia dos insetos. O material, sempre direcionado ao professor, é interessante e abrangente, embora um pouco superficial, e traz diversas referências de livros e sites para o aprofundamento do docente interessado em aprimorar sua prática. 5. Apontamentos finais Conforme o exposto acima, diversos docentes têm manifestado interesse na Entomologia como atividade didática e de introdução à pesquisa para seus alunos de ensino fundamental e médio. Uma característica significativa a ser observada após o exposto é que, apesar da heterogeneidade (especialmente no que se refere à qualidade) dos trabalhos analisados, todos apresentam em suas conclusões elementos indicativos do retorno positivo ao se trabalhar o conteúdo de Entomologia com o uso de coleções entomológicas na Educação Básica. Os artigos são simples e muitas vezes publicados apenas em eventos locais, pois há poucas publicações qualificadas interessadas em estudos de caso não muito abrangentes, mas pode-se apontar também a pouca fluência de seus autores na escrita de artigos científicos. Os procedimentos parecem ser mal explicados, com embasamento apenas em livros-texto e eventualmente nota-se o emprego de termos inadequados, como "insetário", ao invés do correto "coleção entomológica" ou ainda "coleção de insetos". Os artigos analisados indicam, em suas introduções, que a justificativa em se debruçar sobre o estudo dos insetos se dá em nível antropocêntrico, quase exclusivamente por sua importância econômica/médica para o ser humano. Conforme exposto acima, uma abordagem mais ecológica, situando os insetos como parte integrante do todo, demonstrando seus aspectos mais incríveis e maravilhosos, tais como sua organização social, a ampla variedade de habitat por eles ocupados e sua variabilidade que permite a ocupação desses habitat, entre diversos outros aspectos que poderiam ser citados, estaria muito mais de acordo com a própria proposta de estudo da biodiversidade indicada nos PCNs. Os trabalhos não são unânimes ao apontar a forma de desenvolver o conteúdo "Insetos" com os alunos. Alguns propõem metodologias alternativas, incentivando o docente a ir além do livro didático, o que é uma postura geralmente saudável. Contudo, seria interessante saber quais metodologias didáticas são efetivamente desenvolvidas ao longo das atividades. Muitos estudos aqui analisados não deixam claro como acontecem as aulas em que se utilizam as coleções entomológicas, se há o auxílio teórico do livro didático, ou de alguma outra metodologia de apoio para o professor. 4445 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Além disso, pode-se observar que não é indicado o destino final das coleções preparadas ao longo dos trabalhos de nível fundamental e médio. DANKS (1991) aponta que coleções sem a manutenção adequada se deterioram; coleções consideradas "órfãs" ou abandonadas, seja por motivo de mudanças nas políticas da instituição de ensino ou pela aposentadoria ou morte da pessoa responsável por elas, podem ser resgatadas por outras instituições. Para que tal procedimento aconteça, é necessário que as coleções apresentem um nível de qualidade técnica capaz de assegurar a validade do material, uma vez que a instituição recebedora pode não apresentar interesse em espécimes danificados ou preservados de maneira inadequada. Assim, conclui-se apontando a necessidade da capacitação continuada de docentes da Educação Básica interessados em trabalhar com coleções entomológicas. Deve haver uma aproximação da Academia (uma vez que as coleções entomológicas mais representativas costumam localizar-se em Instituições de Ensino Superior) e a Educação Básica, que pode ser benéfica a ambas as partes. Sugere-se que essa aproximação possa acontecer através de intervenções diretas, como cursos de capacitação, seminários, encontros, ou indireta, sob a forma de publicações de artigos de divulgação científica, criação de aplicativos, cursos em educação à distância ou outras mídias de leitura interessante e acessível aos docentes de ensino fundamental e médio. Referências ABD-EL-KHALICK, F. e LEDERMAN, N. 2000. "Improving science teachers’ conceptions of nature of science: A critical review of the literature." International Journal of Science Education, 22(7), 665-701. ALMEIDA, L. M. et al. 2003. Manual de coleta, conservação, montagem e identificação de insetos. Ribeirão Preto: Holos. AZEVEDO FILHO, W. S. e PRATES JÚNIOR, P. H. S. 2005. Técnicas de coleta e identificação de insetos. 2.ed. Porto Alegre: EDIPUCRS. BORGES, N. A. et al. 2010. "Levantamento do acervo entomológico do laboratório de biologia do Colégio Gonzaga." XIX Congresso de Iniciação Científica da UFPEL, Pelotas. 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