CONTEXTUALIDADE, PLURALIDADE,ECUMENICIDADE: ESBOÇO DE UMA TEOLOGIA INTERCULTURAL Célio Juliano B. Trindade 1, Prof. Dr. Roberto E. Zwestzch 2, 1 Estudante bacharelado em Teologia faculdades EST 2 Professor de Teologia Prática e Missiologia da Faculdades EST Introdução Este artigo intenciona discutir a interculturalidade a partir da teologia, em especial, da teologia latino-americana. Busca refletir sobre os fundamentos, as características e as posturas metodológicas de uma teologia intercultural ainda em construção. Começaremos refletindo sobre os alicerces em que está assentada a teologia cristã ocidental, sua concepção de verdade e as fontes destas. Em seguida, refletiremos como esta teologia se tornou o aspecto “espiritual” da cultura ocidental e como isto influenciou o modo desta cultura se relacionar com as outras. Buscaremos traçar as características e as posturas metodológicas de uma teologia intercultural a partir dos programas de filosofia intercultural de Josef Estermann e Raúl Fornet–Betancourt e, por fim, esboçaremos um possível itinerário do para se chegar ao que seja uma teologia intercultural. Referências: A CARTA de Pero Vaz de Caminha: a íntegra da certidão de nascimento do Brasil. Osasco: Banco Bradesco S.A., 2000. BECKA, Michelle. Interculturalidade no pensamento de Raúl Fornet-Betancourt. São Leopoldo: Nova Harmonia, 2010. ESTERMANN, Josef. Filosofia andina: estudio intercultural de la sabiduría autóctona andina. Quito: Ediciones Abya-Yala, 1998. ESTERMANN, Josef. Teología Andina: el tejido diverso de la fe indígena : Tomo I. La Paz: ISEAT, Plural Editores, 2006. ESTERMANN, Josef. Teología Andina: el tejido diverso de la fe indígena : Tomo II. La Paz: ISEAT, Plural Editores, 2006. FERRATER MORA, José. Dicionário de filosofia. São Paulo: Loyola, 2000 FORNET-BETANCOURT, Raúl. 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Percebemos também que grupos humanos tão próximos geograficamente e culturalmente guardam nas “entrelinhas” de seu modo de ser diferentes cosmovisões que, não raras as vezes, levaram a disputas fratricidas. Se as relações humanas são, em último caso, relações culturais, a questão da interculturalidade levanta a pergunta pela maneira como as culturas se comportam em relação ao diferente. Pois, seres humanos se constituem como tal na e através da cultura. As trocas de experiências, as disputas por territórios, a aquisição de riquezas, a partilha de saberes são determinadas pela forma de como uma determinada cultura entende e se relaciona com outra cultura. Neste sentido, a interculturalidade aparece, conforme apontaremos neste artigo, como mais uma alternativa de interpretação e de análise das relações culturais consideradas na perspectiva de relações interculturais que possibilitem a construção de uma sociedade fundamentada na solidariedade e na fraternidade, em vista do sonho da oikoumene humana. •O artigo propõem a ideia de que a teologia cristã ocidental tem sua origem no modelo apologético que marcou o inicio do cristianismo ocidental. Além disso, a teologia cristã influenciou de modo determinante a cultura europeia. E assim, esta influencia é percebida pelo no modo com que a cultura ocidental europeia se relacionou com as outras culturas ao longo da história. Embora pode se dizer seja inerente às culturas humanas olharem o mundo a partir da sua cosmovisão, no mundo ocidental se construiu uma ideia de supremacia cultural muito particular. Esta concepção de superioridade da cultura ocidental tem, de alguma forma , influencia nas bases epistemológicas da teologia que constitui a visão religiosa europeia. O cristianismo com a ideia de revelação divina articulada com a filosofia grega determinou o substrato “espiritual” da civilização ocidental. Deste modo, se articulou uma concepção de revelação cristã de conteúdo religiosocultural. A cultura ocidental se fundamenta na verdade de fé cristã. Catequizar e civilizar era o vento que empurrou as caravelas europeias nos mares do atlântico sul. •Não obstante isso, a partir da segunda metade do século XX, se opera na teologia cristã um movimento critico a esta teologia europeia. As chamadas “teologias contextuais” irromperam uma importante vertente critica à tradição teológica cristã. Um exemplo disso é a Teologia da libertação latino-americana. Todo este movimento está na base da reflexão intercultural na teologia. Assim, a teologia intercultural é a busca de estabelecer a teologia cristã em outras bases epistemológicas que rompa com o modelo de conhecimento fundamentada na tradição europeia. Este artigo busca apontar as posturas e as características que correspondem ao modelo intercultural em Teologia. Baseado na concepção de interculturalidade de Raul Fornet-Betancourt e na pesquisa de Josef Estermann sobre filosofia Andina chegamos à critica e na práxis libertadora como posturas interculturais, pois, levam ao compromisso solidário com as culturas historicamente oprimidas e apontam os limites da cultura hegemônica e , enquanto características, temos a contextualidade, a pluralidade e a ecumenicidade como fundamento de um novo jeito de pensar a teologia. BOLSA FAPERGS